Atividade física, envelhecimento e moda: estudo de campo com mulheres que frequentam academia de ginástica

Physical activity, aging and fashion: field study with women that work out in a fitness center

Actividad física, envejecimiento y moda: estudio de campo con mujeres que asisten a un gimnasio

 

Claudia Schemes*

claudias@feevale.br

Laura Schemes Prodanov**

lauraprodanov@yahoo.com.br

Cassiane Sidekun***

cassianesidekun@gmail.com

 

*Dra. em História, professora e pesquisadora dos cursos de História e Moda

e do PPG Processos e Manifestações Culturais

da Universidade Feevale (Novo Hamburgo, RS)

**Mestra em Indústria Criativa, bacharel em Moda

pela Universidade Feevale (Novo Hamburgo, RS)

***Bacharel em Moda pela Universidade Feevale (Novo Hamburgo, RS)

(Brasil)

 

Recepção: 17/05/2018 - Aceitação: 06/10/2018

1ª Revisão: 23/08/2018 - 2ª Revisão: 02/10/2018

 

Resumo

    A população com mais de 65 anos vem crescendo no Brasil e no mundo e as sociedades estão enfrentando problemas que antes eram inexistentes, como o aumento dos frequentadores idosos nas academias de ginástica. Nesse artigo temos como objetivo entender quais são as necessidades, dentro do âmbito da moda, de mulheres idosas que praticam atividades físicas em uma academia. Para isso, foi realizada uma pesquisa de campo, através do uso de questionário, com 20 mulheres que praticam atividades físicas regulares em uma academia de ginástica na cidade de Novo Hamburgo/RS/Brasil. Os principais resultados da pesquisa foram que poucas mulheres sentem dificuldade em realizar movimentos e se consideram saudáveis fisicamente, sendo que a maioria prefere roupas básicas, discretas, confortáveis e que se podem comprar prontas e não têm interesse em tecidos com tecnologia. Com essas informações é possível entendermos um pouco melhor quais são as necessidades e preferências do público idoso em relação às roupas destinadas às atividades físicas.

    Unitermos: Idosas. Atividade física. Academia. Moda.

 

Abstract

    The population over 65 years of age has been growing in Brazil and in the world, and societies are facing problems that were previously non-existent, such as the increase of elderly people in gyms. In this article we aim to understand the needs within the fashion field of elderly women who practice physical activities in a fitness center. For this, a field survey was conducted through the use of a questionnaire, with 20 women practicing regular physical activities in a gym in the city of Novo Hamburgo / RS / Brazil. The main results of the research were that few women find it difficult to perform movements and consider themselves physically healthy, and most prefer basic clothes, discreet, comfortable and that can be bought ready and have no interest in fabrics with technology. With this information it is possible to understand somewhat better the needs and preferences of the elderly in relation to the clothes intended for physical activities.

    Keywords: Elderly. Physical activity. Fitness center. Fashion.

 

Resumen

    La población que supera los 65 años viene creciendo en Brasil y en el mundo y las sociedades están enfrentando problemas que antes eran inexistentes, como el aumento de las personas mayores que asisten a los gimnasios. En este artículo tenemos como objetivo entender cuáles son las necesidades, dentro del ámbito de la moda, de mujeres mayores que practican actividades físicas en un gimnasio. Para ello, se realizó una encuesta de campo, a través del uso de un cuestionario, con 20 mujeres que realizan actividades físicas regulares en un gimnasio en la ciudad de Novo Hamburgo, Río Grande do Sul, Brasil. Los principales resultados de la investigación fueron que pocas mujeres sienten dificultad en realizar movimientos y se consideran sanas físicamente, siendo que la mayoría prefiere ropa básica, discreta, cómoda y que se pueda comprar ya lista y no tiene interés en indumentaria con tecnología. Con esas informaciones es posible entender un poco mejor cuáles son las necesidades y preferencias del público de personas mayores en relación a las ropas destinadas a las actividades físicas.

    Palabras clave: Mujeres mayores. Actividad física. Gimnasio. Moda.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 245, Oct. (2018)


 

Introdução

 

    A população com mais de 60 anos de idade vem crescendo no mundo todo, e o Brasil não é exceção. Entretanto, observamos que a sociedade não está complemente preparada para acolher estes sujeitos idosos nas suas mais diversas áreas.

 

    A área da saúde é uma das mais desafiadas, necessitando, cada vez mais, olhar com atenção para este público. O setor turístico vem oferecendo cada vez mais produtos para os idosos, da mesma forma que o setor imobiliário, enfim, cada área está procurando se adequar a esta nova realidade. A área da moda busca constantemente inovação em seus produtos e ampliação de seus públicos consumidores, entretanto, somente nos últimos anos os idosos passaram a ser considerados como compradores potenciais.

 

    A participação da população com mais de 65 anos aumentará para aproximadamente 20% da população total do Brasil em 2050, uma proporção mais alta do que a encontrada hoje em qualquer país europeu (Wong; Carvalho, 2006). Já, para a ONU (2017), a previsão média da expectativa de vida vai ser de 76 anos entre 2045 e 2050, nos países desenvolvidos, sendo esse envelhecimento uma conquista do desenvolvimento e uma das maiores conquistas da humanidade.

 

    Por outro lado, dentro do setor da moda, Ballstaedt (2007) afirma que pesquisas revelaram esse ser um segmento pouco explorado, com consumidoras que têm comportamentos, estilos de vida e necessidades específicas e são poucas as pesquisas de produtos de vestuário para a população idosa, visto que grande parte das empresas não se preocupam com estes usuários.

 

    O desenvolvimento que possibilitou esse aumento da população mais velha só foi possível por conta dos avanços da medicina, e as atividades físicas adequadamente orientadas possuem um grande potencial auxiliador para a longevidade, pois comprovadamente tornam o organismo menos propenso a contrair doenças, promovendo uma série de benefícios para os idosos, principalmente proporcionando uma melhora das atividades praticadas no cotidiano (Teixeira, 2007).

 

    Ainda que iniciada tardiamente, aos 70 e 80 anos, por sujeitos sedentários, a atividade física pode ser positiva, também mostrando benefícios para doenças crônicas já instaladas, prevenindo e recuperando algumas das eventuais perdas motoras decorrentes do envelhecimento. As vantagens da prática de exercícios para idosos depende de como se processa o envelhecimento e da rotina de exercícios físicos praticados (Caromano, 2006).

 

    O exercício físico deve estar centrado na melhoria da saúde, e não somente no físico, como muitas vezes observamos entre jovens e adultos. Esse fator se deve não só pela saúde ser cada vez mais valiosa para os idosos, mas também através de estudos que mostram que o homem ganha peso até os 65 anos de idade e a mulher até os 75 anos (Souza, 2007).

 

    O corpo muda nessa fase da vida e as variáveis antropométricas sofrem modificações em decorrência do envelhecimento, devido, principalmente, a perda progressiva de massa magra, aumento da proporção de gordura corpórea, decréscimo de estatura, aumento na gordura abdominal, diminuição da quantidade de água no organismo, etc. (Souza, 2007; Gonçalves, Tomaz, 2007; Rebelatto, 2006). Os passos tornam-se mais curtos e lentos e o tronco tende a flexionar-se para proporcionar estabilidade (Guimarães; Farinatti, 2005). Com todas essas mudanças corporais e de saúde, se faz cada vez mais necessário o aumento de atividades físicas praticadas por pessoas idosas.

 

    A idosa deve ser compreendida na sua individualidade, com suas devidas particularidades, pois “uma das características principais do envelhecimento é sua heterogeneidade” (Garces, 2012, p. 31). Preocupações e inquietudes com o físico podem afetar algumas, apesar da maturidade adquirida durante a sua existência. Neste ponto, observa-se que pode existir uma preocupação em relação à imagem dos seus corpos, com sentimento de rejeição devido ao padrão imposto pela sociedade: “há uma certa influência da beleza difundida pela mídia, por meio de modelos e atrizes jovens de silhuetas anoréxicas, que conseguiram tirar a tranquilidade das idosas, levando-as a sair de casa para fazer caminhadas ou procurar por aulas de ginásticas” (Ormezzano, 2006, p. 241). Salienta-se que cobiçar um corpo idealizado só condena quem o incorpora, visto que, o ideal sempre tende a ser restrito e quase inatingível.

 

    O corpo, após uma determinada idade, revela alterações no organismo devido à longevidade, demandando atenção dos profissionais das mais diversas áreas para melhor suprir suas necessidades e desejos. As funções orgânicas tendem a variar de um organismo para outro: “trata-se de um processo caracterizado por alterações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas [...]. Tais alterações são naturais e degenerativas, acontecendo em maior ou menor grau de acordo com características genéticas e estilo de vida individual” (Brunelli et al., 2012, p. 13).

 

    Existem particularidades correlacionadas ao processo de envelhecimento, tais como problemas advindos do sistema musculoesquelético, diminuição gradativa de altura (um ou dois centímetros por década) e aumento de peso e índice de massa corpórea. Para minimizar os efeitos degenerativos, a participação em programas de exercício físico é fundamental, levando a combater a osteoartrose, que pode conduzir à perda da capacidade de produção da força muscular, acabando por acelerar o processo de desgaste articular, afetando a capacidade de locomoção (Carpes; Wiest, 2012).

 

    A partir deste cenário busca-se, com esta pesquisa entender quais são as necessidades, dentro do âmbito da moda, de mulheres idosas que praticam atividades físicas dentro de uma academia.

 

Ergonomia, conforto e moda

 

    Ergonomia, conforto e moda são três assuntos distintos que podem ou não se encontrar. A moda pode se fazer valer dos conceitos de ergonomia e conforto, mas não precisa, necessariamente, dos mesmos para existir, e vice e versa, os conceitos de ergonomia e conforto podem ser utilizados nos mais variados assuntos, sendo um deles a moda. Quando trabalhamos com esses três conceitos em conjunto, conseguimos alcançar o objetivo de criar uma moda com maior usabilidade para as pessoas que a vestem. Esse objetivo se faz bastante necessário quando falamos de moda para pessoas com mais de 60 anos, que estão envelhecendo e prezam cada vez mais por roupas que funcionem conforme seu estilo de vida e necessidades.

 

    Visto que o indivíduo contemporâneo superestima a aparência e a utiliza como fator decisório ao vestir-se, a moda, enquanto movimento sociocultural e elemento comunicativo, tem o poder de fomentar inúmeras discussões relevantes para a sociedade. Esses aspectos são fundamentais na fabricação de uma roupa confortável, pois o indivíduo moderno tem poder de compra e informação acerca do que gosta de consumir.

 

    Conforme Dorfles (1979), a moda não é apenas um dos mais importantes fenômenos sociais – e econômicos – do nosso tempo, é também um dos padrões mais seguros para medir as motivações psicológicas, psicanalíticas e socioeconômicas da modernidade. E é também uma das depositárias daquele estilo e daquela maneira que numa determinada época guia e orienta o design aplicado ao vestuário, às decorações, aos tecidos, aos objetos de mobiliário. É portanto, um dos mais sensíveis indicadores daquele peculiar gosto da época.

 

    Através do corpo o vestuário encontra seu objetivo principal, fundamentando a utilidade da moda. Vilaça e Góes (1998) afirmam que o homem nasce com a pele muito frágil, necessitando de uma proteção artificial de natureza física para lhe proteger e, principalmente simbólica, pois é nesse meio que se processam as significações individuais e comunitárias.

 

    No âmbito projetual, a moda estuda os critérios necessários para adaptar os produtos de vestuário às necessidades humanas. A essas necessidades são dedicadas pesquisas que integram cada vez mais especialidades, como a ergonomia. A International Ergonomics Association (IEA) define a ergonomia como a disciplina científica preocupada com o entendimento das interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema, e a profissão que aplica teorias, princípios, dados e métodos para projetar de modo a otimizar o bem-estar humano e a performance geral do sistema.

 

    A partir do bem-estar do ser humano, pensa-se logo em conforto, e considerando o conforto no vestuário temos a definição de Medeiros(2007), dizendo que o conforto pode ser definido como um estado de harmonia física e mental, e no vestuário três aspectos interagem nas questões: físico – aquela relacionada às sensações provocadas pelo contato do tecido com a pele e do ajuste da confecção ao corpo e seus movimentos. Fisiológico – ligado à interferência do vestuário nos mecanismos do metabolismo do corpo, em especial o termorregulador, e o psicológico – função de fatores relacionados à estética, aparência, situação, meio social e cultural. Com isso, entendemos que conforto é uma sensação subjetiva que pode variar de pessoas, de situações, de localização e de tempos (Iida, 2005).

 

    Dentre os agentes que envolvem a vida cotidiana, o vestuário e tudo o mais que os acompanham, como tecido, aviamentos, acessórios e a tecnologia de modo geral, deveriam respeitar as funções anatômicas, fisiológicas e psicológicas, garantindo, assim, a saúde do indivíduo.

 

    Embora nem todas as indústrias e profissionais da moda ligados a elas tenham como interesse principal vestir dignamente todos os corpos, acreditamos que a modelagem ergonômica deveria ser sua prioridade, pois os produtos ligados ao vestuário podem ser lucrativos e, ao mesmo tempo, sintonizados com o conforto.

 

    Grave (2010) reforça que para o desenvolvimento do estudo ergonômico, a concentração é dedicada aos sistemas músculo esquelético, nervoso, ligamentar e articular, sendo este último o mais afetado pelo uso impróprio de peças do vestuário.

 

    Quando vestimos uma roupa, interagimos com ações e movimentos em resposta a nossos pensamentos e sentimentos, fazendo dessa roupa uma extensão do nosso próprio corpo. Por isso o interior das roupas atualmente é tão importante quanto seu exterior e o vestuário está além da qualidade do produto, indo da estética ao conforto.

 

    A partir dos conceitos de ergonomia e conforto criamos um questionário para conhecermos as necessidades das idosas em relação ao vestuário utilizado nas academias de ginástica.

 

Métodos e resultados

 

    A metodologia utilizada nesta pesquisa foi, quanto à natureza, uma pesquisa aplicada, quanto aos objetivos foi exploratória e quanto aos procedimentos foi bibliográfica e de campo através de um questionário composto de perguntas fechadas e aplicado em todas as 20 mulheres acima de 60 anos, matriculadas em uma academia de ginástica na cidade de Novo Hamburgo/RS/Brasil. Foi explicado às participantes que as mesmas poderiam marcar mais de uma opção em suas respostas. Os resultados serão apresentados em forma de gráfico a seguir.

 

 

Figura 1. Idade das entrevistadas

 

    A respeito da idade, 8 pesquisadas possuem de 60 a 65 anos, 10 de 66 a 70 anos, uma de 71 a 75 anos e duas de 76 a 80 anos. Ou seja, a maioria das entrevistadas, 86% compreende a faixa dos 60 aos 70 anos.

 

Figura 2. Modalidade de exercício

 

    Quanto a modalidade que praticam na academia, 17 disseram que fazem musculação, 10 fazem Zumba – um tipo de dança latina criado na Colômbia na década de 1990 -8 caminhada, 7 Pilates, 2 ioga e 2 marcaram a opção ‘outras’, sendo que uma explicou que pratica outro tipo de dança e uma pratica corrida. Este resultado sugere que as idosas de hoje buscam atividades que até alguns anos atrás não eram comuns para esta faixa etária, como musculação, por exemplo, que estava mais associada aos jovens. A Zumba, que foi a segunda modalidade mais citada, também surpreende em função de ser um tipo de dança que não pode ser caracterizada como calma ou mais leve, características comumente associada às atividades físicas para idosos. É importante destacar, também, que estas mulheres praticam mais de uma atividade física.

 

Figura 3. Mudanças corporais

 

    Em relação às mudanças na estrutura corporal com o envelhecimento, 12 informaram que perceberam uma diminuição da altura, 10 a variação de peso, 3 a deformação dos ossos e 4 disseram que aumentou a gordura na cintura, dores na lombar, desgaste nas articulações e artrose. Apenas uma das entrevistadas disse que não sentia nenhuma mudança na sua estrutura corporal devido ao envelhecimento.

 

Figura 4. Dificuldade de movimentação

 

    A respeito de uma possível dificuldade na hora de movimentar-se e de vestirem-se, 17 entrevistadas disseram que não apresentam nenhum problema, sentindo-se saudáveis. Outras 3 falaram que possuem dificuldade na utilização dos braços, 2 apresentaram dificuldade na utilização das pernas e apenas uma marcou a opção ‘outras’, onde descreveu que possui dificuldade na hora de se agachar. Ou seja, a grande maioria das entrevistadas não possui nenhuma dificuldade na hora de se movimentar, o que vem ao encontro das respostas da questão anterior, pois a maioria das mulheres não tiveram mudança corporal significativa.

 

Figura 5. Tempo de uso do vestuário

 

    A partir da pergunta 5 o foco da pesquisa. Do assunto corpo, passamos para a moda. A pergunta era: por quanto tempo você usa suas roupas? 17 delas marcaram a opção ‘até cansar delas’, enquanto 4 falaram que usam suas roupas até se desgastarem e outras 2 marcaram a opção ‘outra’, uma explicando que usa suas roupas até comprar outras, e que nesse momento aproveita para doar as antigas e não acumular, e outra entrevistada ainda explicou que costuma customizar suas roupas para mudar a cara da peça, e assim aumentar sua vida útil dentro do seu armário.

 

Figura 6. Combinação de roupas

 

    Sobre o tipo de combinação de roupa que elas normalmente usam, a resposta foi unânime, enquanto 18 falaram que preferem usar calça e blusa, apenas 6 falaram que usam vestido normalmente, e somente uma falou que prefere usar saia e blusa. Esse resultado foi possível pois muitas das entrevistadas marcaram mais de uma opção, assim como em algumas das outras questões. Podemos imaginar que a preferência pelo uso da calça e da blusa se dá, possivelmente, por uma questão de conforto.

 

Figura 7. Estilo de roupa

 

    Na pergunta 7 questionamos qual o estilo de roupa que elas usam. Nessa resposta também várias entrevistadas marcaram mais de uma opção, dando o seguinte resultado: 15 consideram que são básicas, 7 se encaixam no estilo clássicas, enquanto apenas uma disse que possui estilo esportivo, uma disse que se considera extravagante/criativa, mas sinalizou que somente às vezes, uma marcou a opção ‘na moda’, e outra optou pela resposta ‘outra’, na qual disse que considera que seu estilo é aconchegante, explicando que prefere o uso de malha.

 

Figura 8. Tipo de consumo

 

    Quando questionadas de que maneira compram suas roupas, 14 falaram que compram elas prontas e não fazem alterações e 7 que também compram elas prontas, mas que fazem alterações depois da compra. Nenhuma optou pela opção de mandar fazer roupas sob medida.

 

Figura 9. Roupas prontas

 

    Sobre as roupas prontas, questionamos se as entrevistadas notam algum problema com elas e 14 falaram que não possuem nenhum problema, 4 que acham os preços altos, 2 que não conseguem se ajustar aos tamanhos disponíveis e apenas uma disse que acha os estilos inadequados. Com as respostas dessa pergunta, juntamente com a anterior, notamos que as mulheres não possuem problema em comprar roupas prontas, pois essa é a opção que a maioria delas escolhe.

 

Figura 10. Características das roupas

 

    Quando as mulheres consomem roupas prontas, as principais características que elas procuram são o vestir bem, com 18 opções marcadas, flexibilidade, com 7, facilidade de manutenção, que 4 entrevistadas marcaram, moda, com 3, preço com 2 e a opção ‘outras’ com apenas 1, que explicou que procura sempre pelo conforto na hora de comprar peças de roupa.

 

Figura 11. Preferência de roupa de academia

 

    As duas últimas perguntas foram direcionadas para as roupas para academia. A penúltima pergunta foi sobre o que elas procuram na hora de adquirir uma roupa para academia e 21 disseram que o principal, para elas, é conforto, 3 procuram por estilo e beleza e 2 apenas escolhem pelo preço.

 

    O conforto é visto como a prioridade em uma roupa, posto que, caso o vestuário não esteja de acordo com o tipo corporal do indivíduo e não houver a sensação de aconchego, irá comprometer negativamente quaisquer outras qualidades do produto, afinal, como salienta Grave (2010), o ato de vestir não é restritamente apenas agasalhar, embelezar ou proteger, mas também, é de preservar a saúde. Desta forma, o conforto é uma das principais características levadas em consideração pelo consumidor na decisão da compra de um determinado produto.

 

Figura 12. Roupa com tecnologia

 

    E, por último, questionamos se elas estariam dispostas a comprar uma roupa de ginástica que possuísse tecnologia que libera cápsulas com perfume e medicamento, pagando mais caro por ela. O resultado foi que 10 falaram que não estariam dispostas a comprar, 8 talvez, explicando que depende do cheiro, do preço e do medicamento e três falaram que comprariam, porém uma ainda explicou que só compraria se fosse comprovadamente saudável. Consideramos, então, que não existe um grande interesse por esse tipo de tecnologia aplicado ao público mais velho.

 

Conclusões

 

    Através da pesquisa, podemos concluir que, mesmo as mulheres que praticam atividade física e frequentam uma academia, elas ainda sentem que a mudança/aumento de peso é um dos maiores problemas relacionados ao envelhecimento. Entretanto, provavelmente por serem mulheres ativas, poucas sentem dificuldade em realizar movimentos e se consideram saudáveis fisicamente.

 

    Em relação as roupas que estas mulheres usam para praticarem as atividades físicas, observamos que a maioria consome peças novas antes do desgaste das antigas, apesar de muitas vezes considerarem os preços das mesmas altos e fica claro que o mais importante é o conforto e que o preço não influencia muito na hora de realizar essa compra, além disso as mulheres pesquisadas não apresentaram grande interesse em materiais tecnológicos e inovadores.

 

    Sobre estilo, as respostas informam que elas usam peças de vestuário consideradas ‘seguras’, não apostando em modismos e detalhes extravagantes. O que pode ser comprovado com o fato de calça e blusa serem as peças mais usadas, pois esta também é uma combinação considerada certeira, com pouco espaço para o que muitas vezes pode ser considerado um equívoco dentro da moda.

 

    Há alguns anos, observamos que muitas pessoas estão vivendo sua fase madura de maneira completamente diferente da esperada. Pessoas com mais de 60 anos, e algumas com bem mais idade, têm se mostrado satisfeitos com a vida madura e, gozando de uma boa saúde, buscam por novas experiências para tornar essa fase mais interessante e ativa, como as atividades físicas em academias de ginástica. São os chamados “novos velhos” que vivem sua “bela velhice” (Goldenberg, 2013) transformando a sociedade e mudando antigos estereótipos.

 

    Esta nova concepção de envelhecimento não é acompanhado pela indústria da moda, que prioriza as roupas para mulheres jovens e com o biótipo magro, o que pode ser facilmente comprovado quando olhamos uma revista feminina ou os desfiles das principais semanas de moda pelo mundo.

 

    Dentro desta perspectiva de aumento do número de idosos e, consequentemente, aumento de demanda por produtos apropriados para sua idade, consideramos relevante investigar quais são os principais problemas encontrados pelo público de mulheres idosas em relação ao seu vestuário para uso em academias. Ao mesmo tempo, deve-se esclarecer que esta pesquisa foi realizada em uma academia de porte médio, sendo que o perfil de escolaridade das entrevistadas é de ensino médio e superior e o status socioeconômico alto, o que não permite que esgotemos o assunto, entretanto, acreditamos que os resultados apresentados podem ser indicadores importantes destas novas demandas.

 

Referências

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 245, Oct. (2018)