Inclusão de crianças com paralisia cerebral em escolas municipais sob a ótica da equipe escolar


Inclusão de crianças com paralisia cerebral em escolas municipais sob a ótica da equipe escolar

Inclusion of children with cerebral palsy in schools under the perspective of school team

Inclusión de niños con parálisis cerebral en escuelas municipales según la mirada del equipo escolar

 

Priscila Correia da Silva Ferraz

pris_correia@hotmail.com

 

Fisioterapeuta (Universidade Católica de Salvador, Bahia – UCSal - Bahia)

Especialista em Fisioterapia Pediátrica e Neonatal (Faculdade Adventista da Bahia – IAENE)

Mestre em Bioenergia (Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC)

Docente Assistente da Faculdade de Tecnologia

e Ciências e Faculdade Social da Bahia (Salvador, Bahia)

(Brasil)

 

Recepção: 02/12/2017 - Aceitação: 16/12/2017

1ª Revisão: 14/12/2017 - 2ª Revisão: 14/12/2017

Resumo

    Introdução: Pessoas com deficiências estão propensas a dificuldades educacionais, culturais e sociais, sendo a inclusão educacional uma estratégia fundamental para torná-las integradas à vida social, econômica e política, assegurando o respeito aos seus direitos no âmbito da sociedade. Objetivo: Analisar de que forma a equipe escolar das escolas municipais de Salvador-Ba estão capacitados para inclusão de crianças com paralisia cerebral no processo pedagógico-educacional. Materiais e métodos: Trata-se de um estudo transversal com abordagem descritiva realizado em 12 escolas municipais da cidade de Salvador-Ba. Os dados foram colhidos mediante entrevistas semiestruturadas com os professores das respectivas instituições, cujas questões abordadas no instrumento de coleta se referiram à organização e capacitação dos educadores referente ao processo de inclusão escolar de crianças com Paralisia Cerebral. Resultados: Os professores que participaram do estudo não entendiam sobre a patologia e relataram não terem sido capacitadas lhe darem com o processo de inclusão de crianças com PC em seus projetos pedagógicos. Além disso as escolas analisadas não apresentaram instalações físicas adequadas para recepcionar e garantir a manutenção dos alunos portadores de PC nas respectivas instituições. Conclusão: As escolas analisadas não se mostraram preparadas fisicamente e pedagogicamente para admitir as crianças com PC. Faz-se necessário implementar ações direcionadas a educação inclusiva e adequação do ambiente escolar para favorecer a autonomia e o desenvolvimento dos alunos tanto portadores de PC quanto aqueles portadores de deficiências.

    Unitermos: Inclusão educacional. Saúde da criança. Paralisia cerebral.

 

Abstract

    Introduction: Disabled people are prone to difficulties educational, cultural and social, educational inclusion is a key strategy to make them integrated into the social, economic and political life, ensuring respect for their rights in the society. Objective: To analyze how the school staff of public schools in Salvador-Ba are qualified for inclusion of children with cerebral palsy in teaching-educational process. Materials and methods: This was a cross-sectional study with descriptive approach conducted in 12 municipal schools in the city of Salvador, Bahia. Data were collected through semi-structured interviews with the teachers of the respective institutions, whose questions you approach the collection instrument referred to the organization and training of educators relating to the inclusion of children with Cerebral Palsy process. Results and discussion: The teachers who participated in the study did not understand about the disease and reported that they had not been trained to give you the process of inclusion of children with CP in their educational projects. Also the schools studied did not present adequate physical facilities to receive and ensure the maintenance of students with PC in the respective institutions. Final thoughts: The schools analyzed were not prepared physically and educationally to admit children with CP. It is necessary to implement actions aimed at inclusive education and adapting the school environment to promote autonomy and the development of students both CP patients and those with other disabilities.

    Keywords: Mainstreaming. Child health. Cerebral palsy.

 

Resumen

    Introducción: Las personas con discapacidades son propensas a dificultades educativas, culturales y sociales, siendo la inclusión educativa una estrategia fundamental para hacerlas integradas a la vida social, económica y política, asegurando el respeto de sus derechos en el ámbito de la sociedad. Objetivo: Analizar de qué forma el equipo escolar de las escuelas municipales de Salvador-Ba está capacitado para la inclusión de niños con parálisis cerebral en el proceso pedagógico-educativo. Materiales y métodos: Se trata de un estudio transversal con enfoque descriptivo realizado en 12 escuelas municipales de la ciudad de Salvador-Ba. Los datos fueron recolectados mediante entrevistas semiestructuradas con los profesores de las respectivas instituciones, cuyas cuestiones abordadas en el instrumento de recolección se refirieron a la organización y capacitación de los educadores referente al proceso de inclusión escolar de niños con Parálisis Cerebral. Resultados: Los profesores que participaron del estudio no entendían sobre la patología y mencionaron que no habían sido capacitados para brindar proceso de inclusión de niños con PC en sus proyectos pedagógicos. Además, las escuelas analizadas no presentaron instalaciones físicas adecuadas para recibir y garantizar el mantenimiento de los alumnos portadores de PC en las respectivas instituciones. Conclusión: Las escuelas analizadas no se mostraron preparadas física y pedagógicamente para admitir a los niños con PC. Se hace necesario implementar acciones dirigidas a la educación inclusiva y adecuación del ambiente escolar para favorecer la autonomía y el desarrollo de los alumnos tanto portadores de PC como aquellos con otras discapacidades.

    Palabras clave: Inclusión educativa. Salud del niño. Parálisis cerebral.

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 22, Núm. 235, Dic. (2017)


 

Introdução

 

    A Paralisia Cerebral (PC) é um distúrbio sensorial e neuromotor causado por uma lesão cerebral, a qual perturba o desenvolvimento normal do cérebro. O distúrbio do cérebro é estacionário, mas o comprometimento dos movimentos é progressivo quando não se faz tratamento. (Levitt, 2001). O Núcleo de Apoio a Crianças com Paralisia Cerebral (NACPC), (Guimarães, 2005), define PC como encefalopatia estática ou distúrbio não progressivo da postura e do movimento, muitas vezes associando-se às anormalidades na visão, fala e intelecto, podendo ser acompanhada de crises convulsivas, resultantes de um defeito ou lesão durante o desenvolvimento encefálico da criança (da gravidez ao período de lactação). Para Bobath (1990), a PC se constitui como uma desordem do movimento e da postura devido a um defeito ou lesão do cérebro imaturo.

 

    Pessoas com deficiências estão passíveis de sofrerem certo nível de dificuldades, em maior ou menor grau, educacionais, culturais e sociais do meio em que vivem. Nas escolas, por exemplo, pode-se observar isto pela ausência de adaptações adequadas aos alunos especiais. A Lei 4.024/61 que trata da Educação de Excepcionais, afirma que o processo educacional deve enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade. (Carvalho, 1997). Nesse sentido, acredita-se que a melhor forma de integrar pessoas com os mais variados graus de deficiências, sejam elas físicas ou mentais, é por meio de estratégias inclusivas no meio social do qual fazem parte. (Barbosa, Cezario y Bento, 2009)

 

    A inclusão social é um processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade através de transformações sejam nos ambientes físicos ou nas dimensões intelectuais das pessoas, e, portanto, também, do próprio portador de deficiências. (Blanco, 2005). Para o Ministério da educação (MEC) o processo de inclusão é o movimento mais amplo e de natureza diferente ao da integração de alunos com deficiência ou de outros com necessidades educacionais especiais. Na inclusão, o centro da atenção é transformar a educação comum para eliminar as barreiras que limitam a aprendizagem e participação de numerosos alunos e alunas.

 

    O princípio fundamental da escola inclusiva consiste em que todas as pessoas devam aprender juntas, independente das suas dificuldades ou diferenças. Escolas inclusivas necessitam reconhecer e responder as necessidades diversificadas de seus educandos, assegurando educação de qualidade para todos, mediante currículos apropriados, mudanças organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos e parcerias comunitárias. (Batista, 2004).

 

    Logo, a inclusão educacional de crianças com Paralisia Cerebral significa torná-las participantes da vida social, econômica e política, assegurando o respeito aos seus direitos no âmbito da sociedade, pelo Estado e pelo Poder Público. Diante do exposto, a presente pesquisa poderá auxiliar na identificação de necessidades de readequação de escolas municipais que possam contribuir para a inclusão das crianças com PC, o que certamente irá repercutir em uma abordagem escolar mais digna, respeitosa e com maior potencial para contribuir com a qualidade de vidas essas crianças.

 

    Dessa maneira, esse estudo teve como objetivos descrever o perfil de crianças com PC assistidas em 12 escolas municipais de Salvador-Ba e analisar com os profissionais das respectivas escolas se organizam para incluir crianças portadoras da patologia, no processo pedagógico-educacional.

 

Materiais e métodos

 

    Trata-se de um estudo transversal com abordagem descritiva realizado no período de abril a maio de 2011, com crianças de ambos os sexos e com idade entre 2 a 12 anos, diagnosticadas com PC e assistidas em escolas municipais da cidade de Salvador-Ba.

 

    A seleção das escolas teve como critérios possuir crianças com diagnóstico de Paralisia Cerebral, com faixa etária entre 2 a 12 anos e estarem regularmente matriculadas no ano de 2011. Assim, inicialmente foram selecionadas 18 escolas. Entretanto, considerando como critérios de exclusão aquelas escolas onde existiam crianças com diagnóstico de PC associado a outras patologias, que não frequentavam regularmente a escola e as que os gestores se recusaram a participarem da pesquisa, exclui-se seis, totalizando, portanto, 12 escolas para compor o universo da presente pesquisa.

 

    O processo de seleção das escolas iniciou-se com a identificação e obtenção de uma lista prévia das unidades que atendiam aos critérios de inclusão mediante informantes-chave Secretaria Municipal de Educação (SME). A escolha das escolas teve como critérios adicionais a localização e facilidade de acesso com relação aos gestores. Com isso, a partir do processo de identificação inicial foram realizados contatos de articulação para agendamentos de visitas, a fim de apresentar o projeto de pesquisa aos gestores escolares, e, desse modo, obter a anuência institucional para a realização das entrevistas com os professores e a coleta das informações relativas às crianças, a partir das fichas de cadastro individuais, disponibilizadas pelas respectivas escolas. A escolha dos professores para realização das entrevistas se deu pelo fato de estarem diretamente vinculados ao processo pedagógico dos alunos.

 

    Os dados foram obtidos mediante a consulta às fichas cadastrais das crianças e entrevista estruturadas. Na consulta ao perfil das crianças nas fichas cadastrais foram consideradas as variáveis sexo, faixa etária, responsável pela criança, Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM), realização de Atividades de Vida Diária (AVD’s), alterações visuais, comunicação e frequência escolar.

 

    Nas entrevistas estruturadas aplicou-se um formulário produzido pelos autores, o qual dispunha de questões sobre o entendimento da patologia, a capacitação dos educadores referente a inclusão escolar de crianças com PC, a inclusão das crianças nos projetos pedagógicos, a adequação do ambiente escolar, o relacionamento com colegas e funcionários, a aceitação das crianças pelos colegas e, por fim, a relação da equipe multiprofissional versus escola.

 

    Os dados foram analisados quantitativamente conforme estatística descritiva e processados com auxílio do programa Microsoft Excel versão 2010.

 

    O estudo foi submetido ao Comitê de Ética (CEP) da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) de Salvador-Ba e aprovado através do protocolo 3224/2011. Todos os participantes do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) respeitando a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

 

Resultados

 

    Na Tabela 1 se encontram ilustradas as principais características das crianças matriculadas nas escolas avaliadas. Verifica-se que houve predominância do sexo masculino com 7 (58%) crianças em relação ao sexo feminino com 5 (42%) crianças. Das 12 crianças, duas (17%) enquadraram-se na faixa etária de 2 a 3 anos, três (25%) de 4 a 6 anos, cinco (42%) de 7 a 9 anos e duas (17%) de 10 a 12 anos. Referente ao grau de parentesco dos responsáveis pelas crianças, nove (75%) eram de primeiro grau, dois (17%) de segundo grau e 1 (08%) não consanguíneo.

 

Tabela 1. Características das crianças com Paralisia Cerebral assistidas em escolas municipais de Salvador-Ba, 2011

Categorias de análise

N = 12

%

Sexo

 

 

Masculino

7

58

Feminino

5

42

Faixa Etária

 

 

2 a 3 anos

2

17

4 a 6 anos

3

25

7 a 9 anos

5

42

10 a 12 anos

2

17

Responsável pela criança

 

 

1º Grau (pai e mãe)

9

75

2º Grau (irmãos, avô e avó)

2

17

3º Grau (primos e tios)

0

0

Não consanguíneo

1

08

DNPM

 

 

Atrasado

12

100

Ideal

0

0

Avançado para a idade

0

0

Realiza AVD’s

 

 

Ativo

5

42

Assistido

1

08

Ativo-assistido

6

50

Possui alterações visuais

 

 

Sim

1

08

Não

11

92

Comunicação

 

 

Verbaliza

9

75

Gesticula apenas

3

25

Não se comunica

0

0

Fonte: Elaborada pela autora, 2011

 

    Quanto ao Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) todas as crianças (100%) apresentaram atraso e nenhuma tinha desenvolvimento ideal e/ou avançado para a respectiva idade.

 

    Sobre a realização de AVD’s, cinco crianças (42%) realizavam ativamente, uma (08%) de forma assistida e seis (50%) de forma ativo-assistida. Dessas, apenas 1 (08%) apresentou alteração visual e 11 (92%) não apresentaram. No quesito comunicação da criança, nove (75%) conseguiam verbalizar e três (25%) apenas gesticulavam.

 

    A seguir, na Tabela 2, encontram-se sistematizados os dados relativos às questões abordadas no processo de inclusão das crianças diagnosticadas com PC segundo a percepção dos professores.

 

Tabela 2.Percepção dos professores sobre o processo de inclusão de crianças com Paralisia Cerebral em escolas municipais de Salvador-Ba

Categorias de análise

N = 12

%

Entendimento sobre a patologia

 

 

Sim

0

0

Não

12

100

Existência de capacitação de funcionários

 

 

Sim

0

0

Não

12

100

Inclusão das crianças no projeto pedagógico

 

 

Sim

12

100

Não

0

0

Adequação do ambiente escolar

 

 

Sim

0

0

Não

12

100

Relacionamento com colegas e funcionários

 

 

Bom

12

100

Razoável

0

0

Ruim

0

0

Aceitação das crianças pelos colegas

 

 

Bom

8

67

Razoável

4

33

Ruim

0

0

Relação equipe multiprofissional de saúde versus escola

 

 

Sim

4

33

Não

8

67

Fonte: Elaborada pela autora, 2011

 

    Os resultados evidenciaram que todos os professores das escolas válidas não entendiam sobre a patologia e relataram não terem sido capacitadas para lidar com o processo pedagógica das crianças, embora incluíssem eu seus projetos pedagógicos. Entretanto, foi unanimidade entre eles que a infraestrutura do ambiente escolar não atende às necessidades da equipe escolar no processo de inclusão de crianças deficientes, o que confere certo desafio para adequação da rotina pedagógica às crianças com PC.

 

    No que diz respeito ao relacionamento da criança com os colegas e funcionários, todos referiram que as crianças apresentam um bom relacionamento. Já em relação à aceitação pelos colegas, oito (67%) crianças tiveram boa aceitação e quatro (33%) tiveram aceitação razoável. Das 12 instituições investigadas, quatro (33%) possuíam alguma articulação com equipe multiprofissional de saúde e oito (67%) não possuíam.

 

Discussão

 

    A análise dos formulários aplicados a professores possibilitou uma melhor leitura a respeito da inclusão escolar dos alunos com PC. Os resultados mostraram que as escolas apresentavam uma falta de preparo dos educadores para incluir essas crianças no projeto pedagógico educacional.

 

    No que concerne ao perfil das crianças desse estudo 58% eram do sexo masculino com maior frequência de idade variando entre 7 a 9 anos. O estudo de Lima et al. (2006), descreveu a prevalência de meninos com problemas neurológicos e dificuldades de aprendizagem quando comparados às meninas, numa proporção de 6:1. Este predomínio do sexo masculino tem sido explicado por hipóteses genéticas, anatômicas, de especialização hemisférica e devido a causas sociais, dependendo da população estudada. (Barbosa, 2009). Discordando dos achados, Mancini et al. (2002) demonstrou em seu estudo que 55% das crianças com Paralisia Cerebral eram do gênero feminino com idade de 3 a 8 anos.

 

    Ferreira (2007) em estudo realizado com 27 crianças, constatou que 100% destas tinham como responsável parente de 1º grau. O que se repetiu na presente pesquisa com mais da metade de crianças nesta situação (75%).

 

    No que diz respeito ao desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) das crianças investigadas, todas apresentaram atraso. Gallardo (2000) afirma que este atraso se deve ao déficit apresentado na área de equilíbrio, pois a ineficiência no equilíbrio afeta a construção do esquema corporal e, como consequência, a perda da consciência de algumas partes do corpo. Rosa Neto (2002) concordou que é possível que o atraso no desenvolvimento do esquema corporal possa ser responsável pelo déficit da organização espacial. Alterações na percepção espacial acarretam dificuldades desde a movimentação da criança até problemas na aprendizagem escolar.

 

    Referente às AVD’s, observou-se que a metade das crianças as realizou de forma ativo-assistida. Mancini et al.(2002) afirmou que mesmo na presença de distúrbios e limitações motoras, as crianças com PC tendem a desempenhar atividades funcionais de sua rotina diária em uma sequência semelhante à das crianças com desenvolvimento normal.

 

    Apenas um pequeno grupo apresentou alteração visual, conforme os dados apresentados. Esse resultado confronta o estudo feito por Brasileiro e Moreira, em 2008, onde foi detectado que grande parte das crianças (59,3%) apresentou déficits visuais. Maranhão (2005) afirmou que na PC é comum a ocorrência de déficits visuais, e que cerca de 40% das crianças têm anormalidades como miopia, defeito no campo visual e cegueira cortical.

 

    Os dados obtidos nessa pesquisa relacionados à comunicação da criança, revelou que 75% falavam e 25% gesticulavam, concordando com os achados do estudo de Brasileiro e Moreira (2008) em que a comunicação e expressão oral e gestual estiveram presentes em 25% (8) de forma leve e em 15,6% (5) moderada respectivamente.

 

    Vygotski (2000) afirmou que a criança antes de controlar o próprio comportamento, primeiramente controla o ambiente com o auxílio da fala, permitindo, nesse sentido, novas relações com o meio e, consequentemente, uma nova organização do próprio pensamento. A criação, dessa forma caracteristicamente humana de comportamento, produz, mais tarde, o intelecto, constituindo, assim, a base do trabalho produtivo: a forma especificamente humana no uso dos instrumentos.

 

    As evidências do nosso estudo demonstraram que todos os professores não tinham o entendimento da patologia nem receberam capacitação para inclusão dessas crianças em sala de aula. Cidade e Freitas (1997) afirmaram que é importante o professor ter os conhecimentos básicos relativos ao seu aluno a saber: tipo de deficiência, idade em que apareceu a deficiência, se foi repentina ou gradativa, se é transitória ou permanente, as funções e as estruturas que estão prejudicadas. Além disso, que esse educador conheça os diferentes aspectos do desenvolvimento humano; biológico (físicos, sensoriais, neurológicos); cognitivo; motor; interação social e afetivo-emocional. Em concordância, Melo e Martins (2007) concluíram em seu estudo que a maioria dos professores das escolas regulares possuem poucos conhecimentos específicos, bem como poucas experiências pedagógicas com alunos com Paralisia Cerebral.

 

    Segundo os resultados desse estudo, em todas as escolas investigadas houve ausência de instalações físicas adequadas para recepcionar e manter na instituição os alunos portadores de PC, o que fere o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), 1990, em seu Art. 53: "A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, assegurando-lhes igualdade de condições para o acesso e permanência na escola." O estudo de Prado e Marostega (2001) revelou que apenas 20% das escolas brasileiras oferecem condições adequadas para a entrada e a circulação de pessoas com mobilidade reduzida.

 

    No presente estudo foi identificado uma boa aceitação das crianças pelos colegas (67%). Batista e Enumo (2004) relataram em seu estudo que a dificuldade de estabelecer contato social desses alunos pode ser deduzida a partir da análise dos dados sobre quem e como iniciava esses contatos: a maior parte dos contatos foi iniciada pelos colegas (63%), que se aproximavam e tocavam ou iniciavam o diálogo.

 

    Observou-se nesse estudo um bom relacionamento entre a criança com PC, colegas e funcionários das instituições. Tezani (2004) evidenciaram que os pais de crianças com PC participavam da vida escolar dos filhos e afirmavam que não tinham vontade de mudá-los de escola por terem um bom relacionamento entre os colegas e funcionários.

 

    Das doze escolas investigadas, apenas quatro possuíam articulação com equipe multiprofissional de saúde. Sobre este aspecto, Melo e Martins (2007) ressaltaram indigência de articulação com instituições especializadas, uma vez que essas instituições possuem experiência com essa questão, podendo contribuir com conhecimentos e recursos específicos diretamente no processo de planejamento e implantação de medidas, no contexto educacional inclusivo, que viabilizem tanto os materiais e equipamentos necessários, quanto consultorias aos integrantes das escolas regulares, através de parcerias. Além disso, Mancini et al. (2002) afirmou que as crianças portadoras de Paralisia Cerebral necessitam de acompanhamento periódico com médico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psicólogo, os quais possibilitarão a essas crianças uma potencialização no seu desenvolvimento acadêmico-social. 

 

    Com base nos dados desse estudo com relação à organização física e pedagógica das escolas municipais investigadas, foi possível constatar que estas não estão preparadas fisicamente e pedagogicamente para admitir as crianças com Paralisia Cerebral. Os professores não estão capacitados para incluí-las no processo pedagógico-educacional, por conseguinte, necessitam implementar ações efetivas direcionadas a educação inclusiva como, adequar o ambiente escolar, de modo a favorecer a autonomia e o desenvolvimento dos alunos não só com Paralisia Cerebral, bem como a todos alunos portadores de deficiências.

 

    As principais limitações foi o tempo reduzido para a coleta, devido a burocracia enfrentada para acesso às instituições. Além disso, reitera-se os contratempos na coleta dos dados em decorrência de uma greve nas escolas municipais e o difícil acesso geográfico de alguns bairros no qual estas estão localizadas.

 

    Novos estudos são necessários com um recorte amostral mais extenso, sobretudo que aprofundem a visão dos professores e inclua também os gestores sobre o processo de inclusão de crianças com Paralisia Cerebral no ambiente escolar.

 

Referências

 

    Barbosa, C. P., Cezario, A. C. F., y Bento, N. D. (2009). Análise do preparo do professor de educação física em atuar com crianças do ensino fundamental vítimas de paralisia cerebral visando inclusão escolar. Revista Saúde e Pesquisa, 2(3), 301-309.

    Batista, M. W., y Enumo, S. R. F. (2004). Inclusão escolar e deficiência mental: análise da interação social entre companheiros. Estudos de Psicologia, 9(1), 101-111.

    Blanco, R. (2005). Ensaios Pedagógicos – Construindo escolas Inclusivas. Brasília: MEC, SEESP.

    Bobath, B. (1971). Motor development effects on general development and application to the treatment of cerebral palsy. Physiotherapy, 57(11), 526-532.

    Brasileiro, I. C., y Moreira, T. M. M. (2008). Prevalência de alterações funcionais corpóreas em crianças com paralisia cerebral, Fortaleza, Ceará, 2006. Acta fisiátrica, 15(1), 37 – 41.

    Carvalho, R. E. (1997). A nova LDB e a educação especial. 3 ed. Rio de Janeiro: WVA.

    Cidade, R. E. y Freitas, P. S. (1997). Noções sobre Educação Física e esportes para pessoas portadoras de deficiência. Uberlândia: Breda.

    Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA -Lei nº 8.069, de 13.07.1990 atualizada.

    Ferreira, H. B. G. (2007). Aspectos familiares envolvidos no desenvolvimento de crianças com paralisia cerebral. Ribeirão preto.

    Gallardo, J. S. P. (2000). Educação física: contribuições à formação profissional. Ijuí: Unijuí.

    Guimarães, P. (2005). Caminhos e Conquistas na Paralisia Cerebral: Uma Ação Interdisciplinar Pela Vida. Núcleo de atendimento à criança com paralisia cerebral. Salvador: NACPC.

    Levitt, S. (2001). O tratamento da Paralisia Cerebral e do retardo motor. São Paulo: Manole.

    Lima, R. F., Mello, R. J. L., Massoni, I., y Ciasca, S. M (2006). Dificuldades de aprendizagem: queixas escolares e diagnósticos em um Serviço de Neurologia Infantil. Revista Neurociências, 14(4), 185-190.

    Mancini, M. C., Fiuza, P. M., Rebelo, J. M., Magalhães, L. C., Coelho, Z. A. C., Paixão, M. L. et al. (2002). Comparação do desempenho de atividades funcionais em crianças com desenvolvimento normal e crianças com paralisia cerebral. Arquivos de Neuro-psiquiatria, 60(2-B), 446-452.

    Maranhão, M. V. (2005). Anestesia e paralisia cerebral. Rev Bras Anestesiol., 55(6), 680-702.

    Melo, F. R. L.V., y Martins, L. A. R. (2007). Acolhendo e atuando com alunos com que apresentam paralisia cerebral na classe regular: a organização da escola. Rev. Bras. Ed. Esp., 13 (1), 111-130.

    Neto, F. R. (2002). Manual de avaliação motora. Porto Alegre: Artmed.

    Prado, A. M. C. C., y Marostega, V. L. (2001). A Inclusão do Portador de Necessidades Especiais em Âmbito Social e Escolar. Revista do centro de educação especial, 1(17), 90.

    Tezani, T. C. R. (2004). Os caminhos para a construção da escola inclusiva: a relação entre a gestão escolar e o processo de inclusão. São Carlos: UFSCar.

    Vygotski, L. S. (2000). A Construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes.


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 22, Núm. 235, Dic. (2017)