Bullying na Educação Física escolar: percepção de professores de escolas públicas

Bullying in school Physical Education: perception of teachers of public schools

Bullying en la Educación Física escolar: percepción de profesores de escuelas públicas

 

Maurílio Barbosa da Silva*

maubsilva82@gmail.com

Kessiane Fernandes Nascimento**

kessianefn@hotmail.com

Heraldo Simões Ferreira***

heraldo.simoes@uece.br

Gardênia Coelho Viana****

gardenia_viana@hotmail.com

Livia Gomes Castelo Branco*****

liviagomes1992@gmail.com

Daniele da Silva Nascimento******

danysilvan@hotmail.com

Kaique Sudério Pereira*******

kaiquesuderio@gmail.com

 

*Graduado em Educação Física pela Faculdade Terra Nordeste (FATENE)

Especialista em Gestão e coordenação escolar pela PLUS

Agente de Combate à Endemias

**Mestra em Educação pela Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Professora na FATENE e na rede pública de ensino de Fortaleza-CE

Integrante do GEPEFE.

***Doutor em Saúde Coletiva pela UECE. Professor Adjunto da UECE

Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física Escolar (GEPEFE)

****Especialista em Psicomotricidade pela Faculdade Lourenço Filho (FLF)

Especialista em Educação Física Escolar pela Universidade Veiga de Almeida

Professora na rede privada de ensino de Fortaleza-CE. Integrante do GEPEFE

*****Licenciada em Educação Física pela UECE

Professora na rede pública de ensino de Fortaleza-CE. Integrante do GEPEFE

******Especialista em Educação Física Escolar pela UECE

Professora na rede pública de ensino de Fortaleza-CE. Integrante do GEPEFE

*******Cursando Licenciatura em Educação Física na UECE

Integrante do GEPEFE

(Brasil)

 

Recepção: 28/04/2018 - Aceitação: 04/05/2019

1ª Revisão: 11/04/2019 - 2ª Revisão: 16/04/2019

 

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

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Resumo

    Na escola, assim como na sociedade, a violência está arraigada, tornando-se a primeira um espelho da segunda. Dentre os vários tipos de violência existe um peculiar, muitas vezes ignorado, denominado bullying,em que se usa a superioridade física, intelectual ou financeira para se sobrepor a outra pessoa ou grupo. O objetivo deste trabalho foi caracterizar o bullying nas aulas de Educação Física com base na percepção de professores de escolas públicas. Para isso, foi realizado um estudo de caráter quantitativo, com a aplicação de um questionário para33 professores de escolas públicas municipais da cidade de Fortaleza - CE. Os resultados revelaram que existem práticas de bullying nas aulas de Educação Física em uma frequência considerável; que os motivos para as agressões estão vinculadas a exigências de proximidade da aparência física a padrões estéticos e ao baixo desempenho motor; que as vítimas de bullying reagem permanecendo nas aulas com medo e/ou tristeza, ou afastam-se das atividades; e que a reação dos professores tem se direcionado à conversas particulares com os envolvidos ou realização de atividades pedagógicas coletivas visando esclarecer sobre o tema. Conclui-se que este fenômeno precisa ser investigado nos contextos específicos em que se desenvolvem para que, por intermédio de profissionais esclarecidos e comprometidos, seja possível contribuir no desenvolvimento de atitudes positivas entre as pessoas, a fim de garantir que a disciplina de Educação Física cumpra sua função pedagógica satisfatoriamente.

    Unitermos: Educação Física escolar. Bullying. Professor.

 

Abstract

    In school, as in society, violence is ingrained, becoming the first a mirror of the second. Among the various types of violence there is a peculiar, often overlooked, named bullying, in which physical, intellectual or financial superiority is used to overlap another person or group. The objective of this work was to characterize bullying in Physical Education classes based on the perception of public school teachers. For this, a quantitative study was carried out, with the application of a questionnaire to 33 teachers from municipal public schools in the city of Fortaleza - CE. The results revealed that there are bullying practices in Physical Education classes at a considerable frequency; that the reasons for the aggressions are linked to requirements of proximity of the physical appearance to esthetic standards and the low motor performance; that victims of bullying react by remaining in class with fear and / or sadness, or move away from activities; and that the reaction of the teachers has been directed to the private conversations with the involved ones or realization of collective pedagogic activities aiming to clarify on the subject. It is concluded that this phenomenon needs to be investigated in the specific contexts in which they are developed so that, through enlightened and committed professionals, it is possible to contribute to the development of positive attitudes among the people, in order to ensure that the discipline of Physical Education fulfills pedagogical function satisfactorily.

    Keywords: School Physical Education. Bullying. Teacher.

 

Resumen

    En la escuela, así como en la sociedad, la violencia está arraigada, convirtiéndose la primera en un espejo de la segunda. Entre los diversos tipos de violencia existe una peculiar, muchas veces ignorada, llamada bullying, en la que se usa la superioridad física, intelectual o económica para colocarse por sobre otra persona o grupo. El objetivo de este trabajo fue caracterizar el bullying en las clases de Educación Física con base en la percepción de profesores de escuelas públicas. Para ello, se realizó un estudio de carácter cuantitativo, con la aplicación de un cuestionario para 33 profesores de escuelas públicas municipales de la ciudad de Fortaleza, Ceará. Los resultados revelaron que existen prácticas de bullying en las clases de Educación Física en una frecuencia considerable; que los motivos de las agresiones están vinculados a las exigencias de proximidad de la apariencia física, a modelos estéticos y al bajo rendimiento motor; que las víctimas de bullying reaccionan permaneciendo en las aulas con miedo y/o tristeza, o se alejan de las actividades; y que la reacción de los profesores se orienta a conversaciones privadas con los involucrados o realización de actividades pedagógicas colectivas para esclarecer sobre el tema. Se concluye que este fenómeno necesita ser investigado en los contextos específicos en que se desarrollan para que, por intermedio de profesionales esclarecidos y comprometidos, sea posible contribuir en el desarrollo de actitudes positivas entre las personas, a fin de garantizar que la disciplina de Educación Física cumpla su función pedagógica satisfactoriamente.

    Palabras clave: Educación Física escolar. Bullying. Profesor.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 253, Jun. (2019)


 

Introdução

 

    Na escola, assim como na sociedade, a violência é um problema social constante. Pelo fato da escola pertencer a determinado contexto social, ela acaba se tornando um espelho da sociedade em que está inserida. Portanto, há um tipo de violência peculiar, muitas vezes ignorado pela comunidade escolar, chamado de bullying. O bullying é uma palavra de origem inglesa que tem como raiz o termo bull, utilizada em muitos países para definir o desejo deliberado e consciente de maltratar outra pessoa e colocá-la sob tensão; termo este, que conceitua os comportamentos agressivos e antissociais. (Fante, 2005)

 

    Segundo Rolim (2011) o termo bullying é utilizado para designar a agressão com atos repetidos físicos, psicológicos, intencionais, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa ou grupos incapazes de se defender. Silva (2015) em seu livro Mentes Perigosas afirma que o termo bullying qualifica os comportamentos agressivos no âmbito escolar, tanto de meninos quanto de meninas. Entre esses comportamentos, os que mais se destacam são agressões, assédios e ações desrespeitosas, todas realizadas de maneira recorrente e intencional por parte dos agressores.

 

    Rolim (2011) destaca que chamamos de bullying: a ameaça, a tirania, a opressão, a intimidação, a humilhação, o atraso e o maltrato, a exclusão de um grupo. Moreira (2010) compara o bullying com o assédio moral, muito frequente nas relações entre trabalhadores e empregadores que tem como característica a exposição a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas, sendo encontrada nas relações dentro da escola.

 

    A violência se manifesta de diversas formas no ambiente escolar, algumas afetam os professores, outras aos funcionários e na sua maioria aos alunos em diversas faixas etárias. O bullying é uma prática de violência, aparentemente sem motivo que, segundo Fante (2005), é um fenômeno complexo, de difícil identificação, principalmente por manifestar-se muitas vezes de maneira sutil e velada pelos envolvidos nesse fenômeno. Além disso, as vítimas do bullying, segundo as pesquisas de Ferreira e Tavares (2009), acostumadas com essa situação, acabam sofrendo caladas e se recolhendo em todas as atividades, com medo de serem expostas e ridicularizadas. Já os agressores, possuem em sua personalidade, traços de desrespeito e maldade e, na maioria das vezes, essas características estão associadas a um perigoso poder de liderança adquirido por meio da força física ou de intenso assédio psicológico (Silva, 2015).

 

    O bullying ocorre em todas as escolas independentemente do turno escolar, área de localização - urbana ou rural, tamanho da escola ou da cidade, série cursada e natureza da escola (pública ou privada), assim relata Fante (2005). Durante as aulas de Educação Física escolar há bastante interação física, e a exigência de que o aluno utilize as capacidades psicomotoras, afetivas e cognitivas para realizar as atividades propostas. Desta forma, os alunos menos habilidosos são facilmente identificados, tornando-se alvos fáceis para perseguições, discriminações, exclusões das atividades, intimidações e comentários maldosos.

 

    Com base nestas informações, esta pesquisa teve como objetivo caracterizar o bullying nas aulas de Educação Física com base na percepção de professores de escolas públicas.

 

Métodos

 

    O presente estudo de caráter exploratório apresenta delineamento transversal, e se constituiu a partir da abordagem quantitativa. Em um estudo quantitativo as informações são demonstradas em números, e a análise utiliza técnicas estatísticas. (Rodrigues, 2007)

 

    Participaram dessa pesquisa 33 professores de Educação Física da rede pública municipal de ensino de Fortaleza, cidade do estado do Ceará-Brasil, atuantes nos anos finais do ensino fundamental, ou seja, do 6º ao 9º ano, durante o ano letivo de 2018.

 

    Para a coleta de dados foi utilizado um questionário composto por cinco questões de múltipla escolha de caráter objetivo. Anterior às questões havia um fragmento de texto que continha a definição de bullying, com base em Rolim (2011), conforme citado anteriormente neste ensaio, que norteou a compreensão dos participantes para responder às questões subsequentes. O instrumento foi elaborado na ferramenta Formulários Google e encaminhado para um grupo privado composto por 98 professores de Educação Física da rede pública de ensino de Fortaleza, por meio da rede social WhatsApp, ficando disponível para preenchimento por três dias.

 

    Os dados coletados se encontram a seguir apresentados em tabelas e foram analisados por meio de estatística descritiva simples.

 

Resultados

 

    Ao serem questionados se já haviam identificado alguma situação de bullying nas aulas de Educação Física houve unanimidade na resposta afirmativa. Em seguida, foi solicitado que indicassem a frequência com que presenciavam tais situações, para isso,as opções foram compostas por uma escala de Likert que continha cinco itens: ‘sempre’, ‘muitas vezes’, ‘às vezes’, ‘poucas vezes’ e ‘nunca’. A maioria das respostas, 48,5%, indicou a opção ‘às vezes’, seguido de ‘muitas vezes’, que obteve 33,3%.

 

    A questão seguinte buscou identificar os motivos que, na percepção dos professores, levavam à práticas agressivas de bullying pelos alunos. Conforme apresentado na tabela 1, o perfil estético de beleza determinado midiaticamente, bem como o baixo nível de desempenho motor na realização das atividades propostas durante as aulas apareceram como motivos mais fortes para o desencadeamento de atitudes agressivas.

 

Tabela 1. Motivos para a prática das agressões

Motivo

%

A vítima ter um corpo “fora dos padrões” estéticos

72,7%

A vítima ter baixo desempenho motor nas atividades propostas na aula

72,7%

Discriminação pela cor da pele, religião ou opção sexual da vítima

39,4%

O prazer do agressor em demonstrar superioridade

18,2

Outro

3%

Fonte: Dados da pesquisa

 

    A pergunta subsequente solicitou informação com relação à reação das vítimas perante os ataques dos agressores. Conforme apresentado na tabela 2, a maioria dos professores percebe que seus alunos, apesar de manifestarem tristeza ou medo, permanecem nas atividades. Esta reação foi seguida, em quantidade, da reação de afastar-se das aulas de Educação Física.

 

Tabela 2. Reação das vítimas perante as agressões

Reação

%

Manifestam tristeza ou medo, mas continuam participando das atividades

63,6%

Recusam-se a participar das aulas de Educação Física

51,5%

Isolam-se dos colegas

27,3%

Tornam-se agressivos também

27,3%

Recusam-se a retornar à escola

3%

Nada muda em seu comportamento

3%

Outro

3%

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Por fim, no último questionamento os professores foram solicitados a indicar suas próprias atitudes diante de casos de bullying em suas aulas. A conversa em particular com os envolvidos foi a opção que obteve maior indicação, seguido da preparação de uma intervenção pedagógica coletiva com a turma para abordar o assunto.

 

Tabela 3. Reação dos professores diante da ocorrência de agressões

Reação

%

Conversa com os envolvidos em particular

87,9%

Prepara uma atividade pedagógica coletiva para tratar o tema com a turma

42,4%

Convida os pais/responsáveis dos alunos agressores para falar do comportamento

24,2%

Encaminha os envolvidos para os gestores resolverem

24,2%

Retira o agressor das atividades da disciplina

12,1%

Outros

3%

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Os resultados apresentados se encontram analisados a seguir por meio da exposição de estudos comparativos e de posicionamentos de autores diversos sobre cada assunto abordado.

 

Discussão

 

    Conforme apresentado nos resultados, a prática de bullying acontece com grande frequência nas aulas de Educação Física, fato revelado na percepção dos professores participantes desta pesquisa. Esta informação possui relevância não apenas pelo fato desta disciplina ser um momento de intervenção pedagógica onde os estudantes deveriam aprender conceitos, vivenciar experiências motoras prazerosas e assumir uma postura respeitosa perante a diversidade entre eles, mas, sobretudo, devido às consequências, muitas vezes desastrosas, que as vítimas carregam consigo ao longo da vida.

 

    Alguns estudos têm achados que corroboram os dados encontrados nesta pesquisa. Bonfim et al. (2012), em seu estudo que enfocou 140 alunos na cidade de Guará – DF, encontraram a incidência de que 28% dos entrevistados eram vítimas de maus tratos recorrentes no ambiente escolar.No estudo de Vianna, Souza e Reis (2015), com 49 alunos do ensino médio, também foi confirmada a ocorrência de bullying entre os mesmos, que consideraram ser legítima a ação do professor no estabelecimento de direitos e obrigações nas aulas para controlar os comportamentos desviantes. Em pesquisa realizada por Lamas, Freitas e Barbosa (2013), com 443 estudantes do quarto ao nono ano do ensino fundamental, de 17 escolas públicas municipais de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, encontrou-se que as práticas agressivas ocorrem com maior frequência durante as aulas (33,3%).

 

    Com relação aos motivos apresentados como desencadeadores das ações agressivas, este estudo revelou que o distanciamento da aparência física de perfis estéticos padronizados e baixos desempenhos motores na participação das atividades propostas são os principais motivos para a prática de bullying nestas aulas, segundo a percepção dos professores participantes. Quanto a isto, Carvalho, Trufem e Paula (2009) constataram em seu estudo com adolescentes que os motivos para a prática de bullying são diversos, variando de acordo com o perfil de agressores, vítimas e expectadores. Devido a isto, torna-se pouco efetiva a elaboração de modelos de combate do fenômeno, uma vez que ele deve ser analisado no contexto em que se manifesta.

 

    Em uma pesquisa realizada por Sabino (2010) com professores, concluiu-se que é mais comum durante as aulas de Educação Física haver rejeição de alunos menos habilidosos em seu desempenho motor e a liderança de indivíduos fisicamente mais fortes sobre os demais. Um dos professores entrevistados afirmou utilizar a estratégia de aplicar jogos cooperativos visando promover a socialização e participação de todos, procurando assim, evitar a aplicação de jogos competitivos, onde a vontade de vencer facilita a segregação de alunos com habilidades motoras diferentes. Neste mesmo estudo foi possível identificar o pátio escolar/quadra como local predominante das agressões.

 

    A prática exclusiva de atividades esportivas com o intuito de obter ótimos desempenhos pode ser um fator que leva a situações de desrespeito e hostilidade. Neste sentido, a abordagem do professor poderá fazer muita diferença. Cabe destacar o cuidado em esclarecer que o problema não está em trabalhar os esportes nas aulas de Educação Física, mas na ênfase que se dá ao resultado das competições. Desta forma, o professor pode tratar questões como saber vencer e perder respeitando o adversário, ser ético e justo em situações de jogo, a torcer como meio de estimular seu time, e não como meio de ofender e desestruturar o adversário, entre outras possibilidades.

 

    A tratar sobre a reação das vítimas, este estudo encontrou que os alunos permanecem nas atividades com sensação de medo e/ou tristeza ou evadem as aulas desta disciplina. Considerando que a Educação Física é uma disciplina curricular obrigatória (Lei 10.793, Brasil, 2003), considera-se duplamente grave a ausência dos estudantes nestas aulas, primeiro por tratar de conteúdos relevantes que compõem o currículo escolar e contribuem para a formação da cidadania, segundo, por ser um momento de interação social pedagogicamente orientado em que se faz propício o ensino de valores humanos de respeito e valorização das diferenças.

 

    No estudo de Zequinão et al. (2016) foi apontado que muitas das vítimas não contaram a ninguém sobre as agressões sofridas, bem como não tiveram ninguém que os defendessem. Isto ocorre por medo de novos ataques ainda mais impiedosos ou mesmo pela crença de que ninguém poderá ajudar.

 

    No estudo de Lopes (2005), percebeu-se uma maior propensão a sofrerem com depressão e baixa autoestima futuramente as pessoas que sofrem bullying quando crianças. O mesmo autor destaca ainda a maior probabilidade de crianças agressivas tornarem-se adultos que apresentam problemas associados a comportamentos antissociais e desequilíbrios associados à perda de oportunidades, como a instabilidade no trabalho e relacionamentos afetivos pouco duradouros.

 

    As consequências são tão graves que acabam levando a outros sintomas com o passar do tempo onde o indivíduo pode adquirir vários tipos de transtornos. Silva (2015) menciona também problemas psicossomáticos, transtorno de pânico, depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada, além de poder agravar problemas preexistentes, devido à continuidade da exposição às situações estressoras a que a vítima é submetida. Esta autora alerta que nos casos mais graves, podem ser observados quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio.

 

    Em um estudo semelhante a este, realizado na cidade de Fortaleza-CE, Rolim (2011) pesquisou 70 professores da rede pública municipal com a finalidade de conhecer suas opiniões acerca da violência nestas instituições, os dados encontrados demonstraram que os professores não estão preparados adequadamente para lidar com os atos violentos de seus alunos, bem como orientá-los no sentido de conviver pacificamente com seus semelhantes, principalmente no contexto escolar. Dentre os problemas encontrados por Rolim estão o currículo defasado e a centralização nas decisões de órgãos superiores. Ainda com base no mesmo estudo, foi possível identificar pelos alunos que os profissionais da escola sejam eles professores ou outros profissionais, sempre intervêm nas relações de conflito no âmbito escolar demonstrando um interesse em enfrentar todo e qualquer tipo de violência na escola, tornando a indisciplina controlável. (Rolim, 2011)

 

    Faz-se conveniente ressaltar que somente intervenções educativas por parte dos professores não garantem necessariamente que as práticas de bullying sejam abolidas deste contexto educacional, afinal, a relação entre ensino e aprendizagem não se processa em uma lógica cartesiana de causalidade. Há fatores mais abrangentes que incidem direta e/ou indiretamente sobre esta questão, como aspectos culturais, econômicos, políticos, sociais, entre outros que não estão aqui abordados por não terem sido elencados como foco deste estudo.

 

Conclusão

 

    Tendo como base as respostas coletadas, percebe-se que o bullying está presente em todas as aulas dos professores abordados, com maior ou menor frequência. Dentre os motivos alegados como desencadeadores das agressões receberam destaque não estar “de acordo” com padrões de beleza, e não obter desempenho motor satisfatório para a prática das atividades propostas em aula. As vítimas, em sua maioria, demostram tristeza ou medo, mas permanecem na aula, enquanto outras, na mesma situação, se recusam até mesmo a participar.

 

    Os professores têm tido atitudes semelhantes em sua maioria, apostando como primeiro passo para o combate ao bullying a conversa particular com os envolvidos, seguido da realização de atividades pedagógicas coletivas abordando e esclarecendo toda a turma.

 

    Nenhum tipo de violência deve ser naturalizado ou banalizado. Acredita-se, portanto, que as aulas de Educação Física, por intermédio de profissionais esclarecidos e comprometidos, podem constituir um importante colaborador para o desenvolvimento de atitudes positivas entre as pessoas. Por isso, a compreensão de elementos que caracterizam este fenômeno é necessária para a criação de estratégias que visem promover a diminuição desta prática de violência.

 

Referências

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 253, Jun. (2019)