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ISSN 1514-3465

 

A Educação Física no cenário pós-COVID-19. Uma revisão de literatura

Physical Education in the Post-COVID-19 Scenario. A Literature Review

La Educación Física en el escenario post-COVID-19. Una revisión de la literatura

 

Paulo Roberto da Silva Dias Júnior*

juniorfuncional@gmail.com

Vanderson da Costa Silva*

vandsilva2019@icloud.com

Leonardo Pereira da Cunha*

leonardocunhapersonal@gmail.com

Deodato Alves Ferreira Filho**

deodatovolei@yahoo.com.br

Iberico Alves Fontes+

ibericoalves@hotmail.com

Anderson da Silva Souza++

andedesportes@gmail.com

 

*Bacharelado em Educação Física

Universidade de Vassouras

**Mestrado em cognição social

Universidade Católica de Petrópolis

Docente dos cursos de Educação Física e Psicologia

+Doutorando em Ciências do Exercício e do Esporte

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ;

Docente nos cursos de Educação Física e Medicina

Universidade de Vassouras

++Mestrado em Ciências da Educação

Universidad Americana de Asunción

Docente do Curso de Educação Física

Universidade de Vassouras

Docente de Educação Física - SEEDUC

Estado do Rio de Janeiro

(Brasil)

 

Recepción: 17/05/2023 - Aceptación: 17/02/2024

1ª Revisión: 01/01/2024 - 2ª Revisión: 14/02/2024

 

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Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Cita sugerida: Dias Júnior, R.R. da S., Silva, V.C. da, Cunha, L.P. da, Ferreira Filho, D.A., Fontes, I.A., y Souza, A. da S. (2024). A Educação Física no cenário pós-COVID-19. Uma revisão de literatura. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(313), 179-194. https://doi.org/10.46642/efd.v29i313.4051

 

Resumo

    A inatividade física somada ao distanciamento social imposto pela COVID-19 trouxe mudanças de comportamento na população brasileira que já vivenciava graves índices de sedentarismo. O presente estudo tem como objetivo identificar a importância da Educação Física no contexto atual para o condicionamento do corpo e a manutenção da saúde física e mental no cenário pós-COVID-19. Para tanto, foi realizada uma revisão de literatura por meio de busca ativa de artigos indexados nas bases de dados SciELO e Google Acadêmico durante os meses de março e abril de 2023. O presente estudo teve como questão norteadora: Qual a importância da Educação Física no Cenário pós-COVID-19? Com o presente estudo pode-se comprovar que os níveis de atividade física diminuíram durante a pandemia, agravando a saúde de uma maneira geral e aumentando o grupo de risco. Diante disso conclui-se que o profissional de Educação Física apresenta um papel fundamental na busca por melhora deste cenário, tanto em âmbito pessoal, com a modernização e qualificação na prestação de serviço, quanto no âmbito social, pressionando os órgãos públicos a criarem e conservarem espaços destinados a prática de atividade física.

    Palavras chave: Educação Física. Pós-COVID-19. Qualidade de vida. Saúde.

 

Abstract

    Physical inactivity added to the social distancing imposed by COVID-19 brought behavioral changes in the Brazilian population that was already experiencing severe rates of sedentary lifestyle. The present study aimed to identify the importance of Physical Education in the current context for the conditioning of the body and the maintenance of physical and mental health in the Post-COVID-19 scenario. To this end, a literature review was performed through an active search of articles indexed in the SciELO databases during the months of March and April 2023. The present study had as guiding question: What is the importance of Physical Education in the Post-COVID-19 Scenario? With the present study, it can be proven that the levels of physical activity decreased during the pandemic, worsening health in general and increasing the risk group. Given this, it is concluded that the Physical Education professional presented a fundamental role in the search for improvement of this scenario, both in the personal sphere, with the modernization and qualification in the provision of service, and in the social scope, pressuring the public agencies to create and conserve spaces for the practice of physical activity.

    Keywords: Physical Education. Post-COVID-19. Quality of life. Health.

 

Resumen

    La inactividad física combinada con el distanciamiento social impuesto por el COVID-19 trajo cambios de comportamiento en la población brasileña, que ya experimentaba graves índices de sedentarismo. El presente estudio tiene como objetivo identificar la importancia de la Educación Física en el contexto actual para acondicionar el cuerpo y mantener la salud física y mental en el escenario post-COVID-19. Para ello, se realizó una revisión de la literatura a través de una búsqueda activa de artículos indexados en las bases de datos SciELO y Google Académico durante los meses de marzo y abril de 2023. La pregunta orientadora de este estudio fue: ¿Qué importancia tiene la Educación Física en el escenario post-COVID-19? Con el presente estudio se puede comprobar que los niveles de actividad física disminuyeron durante la pandemia, empeorando la salud en general y aumentando el grupo de riesgo. Ante esto, se puede concluir que el profesional de Educación Física juega un papel fundamental en la búsqueda de superación en este escenario, tanto a nivel personal, con actualización y calificación en la prestación de servicios, como a nivel social, presionando a los organismos públicos para crear y conservar espacios destinados a la actividad física.

    Palabras clave: Educación Física. Post-COVID-19. Calidad de vida. Salud.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 313, Jun. (2024)


 

Introdução 

 

    A chegada da pandemia da COVID-19, doença causada por um novo coronavírus chamado SARS-CoV2 (Severe Acute Respiratory Syndrome), trouxe diversas mudanças de comportamento na população mundial. Dentre elas, pode-se apontar a diminuição à níveis baixíssimos ou até mesmo a completa ausência de atividade física na rotina de adultos e crianças, levando ao agravamento do quadro de sedentarismo e trazendo graves consequências à saúde da população. (Santana et al., 2021)

 

    Segundo a Organização Mundial de Saúde, o primeiro registro sobre essa nova doença, foi em 31 de dezembro de 2019, quando surgiram casos de uma “pneumonia viral” em Wuhan, China. Na América Latina, o primeiro caso registrado foi em São Paulo, Brasil, no dia 26 de fevereiro de 2020. (Bezerra, 2020)

 

    Em resposta ao avanço da pandemia, a maioria dos governos mundiais, em todas as suas esferas (Federais, Estaduais e Municipais), optaram pelo chamado “lockdown”, forma de confinamento das pessoas ou distanciamento social, com diferentes graus de restrição e locomoção da população. Obviamente, como toda medida drástica, a adoção do isolamento não trouxe apenas repercussões positivas, como a diminuição do contágio específico da doença, mas também consequências negativas, como prejuízos à diversas áreas da saúde física e mental da população. (Antunes, 2006)

 

    Segundo Nascimento et al. (2021) a realização de atividades físicas destaca-se como coadjuvante no tratamento e controle da ansiedade e estresse, na melhora da imunidade, no controle dos níveis de pressão sanguínea, nas funções cardiorrespiratórias e ajuda a manter a sensação de bem-estar pós-pandemia.

 

    Em suma, a prática de exercícios físicos de forma regular traz consigo benefícios fisiológicos, como a melhora no desempenho musculoesquelético, a melhora do humor, auxilia na redução de hormônios como adrenalina e cortisol e entre outros. Além disso, atividades físicas foram e ainda são indicadas, especialmente para os indivíduos que sofreram sequelas da COVID-19 e necessitam passar pelo processo de reabilitação. (Santana et al., 2021)

 

    Neste contexto, justifica-se a importância do tema, para a formação do autor e para novas discussões sobre a prática da atividade física e a atuação do profissional de educação física no contexto pós-pandemia, sendo essencial para a saúde, além de necessário na rotina de todos os indivíduos, pois exercitar-se faz bem ao condicionamento geral, através da manutenção da saúde física e mental. (Antunes, 2006)

 

    Diante da magnitude dessa doença, a vida da maioria da população mundial sofreu mudanças bruscas e são essas alterações que intrigam e são um material fundamental para estudos que serão ou já estão sendo criados. Mesmo diante de um tema tão recente, a complexidade dos desdobramentos e a urgência na busca de soluções, mesmo que momentâneas, fez com que estudiosos se debruçassem sobre o assunto.

 

    O presente estudo tem como objetivo identificar a importância da Educação Física no contexto atual para o condicionamento do corpo e a manutenção da saúde física e mental no cenário pós-COVID-19.

 

Metodologia 

 

    O presente artigo trata-se de uma revisão de literatura, que segundo Gil (2011) consiste na síntese rigorosa de resultados relevantes do tema, de modo que os profissionais tenham conhecimento das melhores práticas descritas em literatura.

 

    O presente estudo tem como questão norteadora: a importância da Educação Física no Cenário pós-COVID-19.

 

    Para elaboração do manuscrito foi realizada uma pesquisa nas bases de dados SciELO (Scientific Eletronic Library Online) e Google Acadêmico. As palavras chaves utilizadas nas buscas foram “Educação Física”, “Pós-COVID-19”, “ Qualidade de vida” e “ Saúde”.

 

    Foram selecionados os artigos com as seguintes características: estudos clínicos, de caso e aleatorizados, estudos de revisão relacionados com o tema e estudos publicados no idioma português. Foram excluídos da pesquisa cartas ao editor, publicações repetidas e artigos que abordavam outros aspectos que não estavam relacionados sobre a temática.

 

    A segunda etapa consistiu em uma leitura interpretativa dos artigos, com a finalidade de extrair dos textos temas de interesse para a pesquisa e interpretá-los a partir do objetivo proposto. A coleta de dados e análise foi feita por meio de uma pesquisa exploratória, seletiva, analítica e interpretativa. Os aspectos éticos foram preservados, mantendo a autenticidade dos autores pesquisados, bem como as devidas citações e referências.

 

    Assim, a seleção criteriosa dos artigos foi feita com base em três filtros: o primeiro foi para a seleção inicial dos estudos por meio da aplicação de critérios de inclusão e de exclusão preestabelecidos; o segundo filtro se deu por intermédio da leitura dos títulos e dos resumos dos artigos previamente selecionados, excluindo-se as duplicações; o terceiro filtro foi realizado mediante a leitura crítica dos artigos selecionados na etapa anterior, refinando segundo critérios de qualidade e permanecendo somente aquelas publicações cujos dados apresentaram relevância para a presente pesquisa, sendo assim incluídos para a análise final. (Nunes et al., 2016)

 

    Após a leitura, as publicações selecionadas foram submetidas ao fichamento. A Figura 1 demonstra o fluxograma de seleção e de inclusão dos artigos na revisão de literatura.

 

Figura 1. Fluxograma

Figura 1. Fluxograma

Fonte: Elaborado pelos autores

 

Resultados 

 

    Utilizando-se os critérios de inclusão e exclusão descritos acima, foram selecionadas onze publicações utilizadas para análise e o desenvolvimento do estudo. Na Tabela 1 são apresentados os dados, em forma resumida, dos artigos selecionados, indicando os autores e ano do estudo, objetivo, metodologia e conclusão.

 

Tabela 1. Artigos selecionados

Autores / Ano

Objetivo

Metodologia

Conclusão

Rodrigues et al.

2020

Analisar os fatores associados à prática de atividade física durante o distanciamento social induzido pela pandemia da COVID-19.

Estudo observacional do tipo transversal

A prática de atividades físicas durante o período de distanciamento social está associada aos determinantes sociais.

Marson

2021

Apresentar e indicar aos leitores da REF/JPE, a leitura o estudo de revisão sistemática de Woods et al., publicado em um periódico internacional sobre as implicações de mecanismos celulares, efeitos do envelhecimento, nutrição adequada e atividade física regular no contexto da COVID-19.

Revisão bibliográfica

A COVID-19 afeta, principalmente, os sistemas respiratórioeimunológico.

Silva et al.

2021

Analisar mudanças na prevalência de inatividade física e comportamento sedentário de acordo com correlatos durante a pandemia da COVID-19 entre adultos brasileiros.

Inquérito retrospectivo online

A prevalência de inatividade física e de comportamento sedentário aumentou em todos os subgrupos da população brasileira durante a pandemia da COVID-19.

Botero et al.

2021

Investigar o impacto da pandemia de coronavírus 2019 sobre o nível de atividade física e comportamento sedentário entre brasileiros com idade ≥18 anos.

Uma pesquisa on-line foi distribuída por meio de mídias sociais entre 5 e 17 de maio de 2020.

A idade, a presença de doenças crônicas e a inatividade física antes do isolamento social tiveram maior risco de impacto na redução do nível de atividade física e maior tempo sentado durante a pandemia de coronavírus 2019.

Malta et al.

2020

Descrever as mudanças nos estilos de vida, quanto ao consumo de tabaco, bebidas alcoólicas, alimentação e atividade física, no período de restrição social consequente à pandemia da COVID-19.

Estudo transversal

Houve uma piora dos estilos de vida e aumento de comportamentos de risco à saúde.

Carvalho et al.

2021

Discutir o “novo normal” na atividade física e saúde, por meio de texto em caráter ensaístico.

Estudo transversal

O “novo normal”, reforça a necessidade de redução de iniquidades com o objetivo de ampliar possibilidades de construção de modos de vida saudável nos quais a atividade física estará incluída.

Loch et al.

2020

Sustentar a posição a respeito da urgência da aproximação da formação em EF com o campo da Saúde Coletiva, bem como apresentar algumas proposições para que ela, de fato, aconteça.

Revisão Bibliográfica

Defendemos assim uma formação que favoreça uma visão mais ampliada da saúde, que possibilite que profissionais e professores compreendam a relação potencial entre a EF e a saúde, mas que ao mesmo tempo reconheçam que a atividade física não é uma panaceia e que a saúde humana tem muitos outros determinantes e condicionantes.

Martinez et al.

2020

Avaliar as mudanças nos hábitos dos participantes brasileiros praticantes de atividades físicas em relação às suas práticas, devido às medidas de distanciamento social durante a epidemia COVID-19 em 2020.

Estudo transversal

Os indivíduos que praticavam atividades físicas relataram que o distanciamento social teve alta influência em suas práticas. Além disso, as mudanças destes hábitos são associadas com altos níveis de precária saúde mental.

Raiol

2020

Explicar os motivos pelos quais a prática regular de exercícios físicos não deve ser interrompida durante a pandemia e os efeitos benéficos proporcionados pelos exercícios físicos na saúde física e mental das pessoas em Distanciamento Social.

Estudo transversal

Durante o DistanciamentoSocial, os Exercícios Físicos devem ser realizados em casa ou em locais ao ar-livre sem aglomerações.

Crochemore-Silva et al.

2020

Descrever a prática de atividade física de lazer (AFL) em meio a pandemia do COVID-19 em cidade do Rio Grande do Sul, avaliando desigualdades entre os sexos e grupos de escolaridade e diferenças de acordo com o nível de distanciamento social.

Estudo descritivo de corte transversal

Não houve diferença na atividade física de lazer de acordo com níveis de distanciamento social.

Szwaecwald et al.

2020

Investigar as mudanças nos estilos de vida e nas condições de saúde durante a pandemia de COVID-19.

Estudo de corte transversal

O inquérito online possibilitou conhecer as condições de saúde da população durante a pandemia. A similaridade dos indicadores com os obtidos em pesquisas tradicionais permitiu validar as estimativas médias.

Fonte: Elaborado pelos autores

 

Discussão 

 

    Segundo Rodrigues et al. (2020) com a pandemia da COVID-19, ocorreram grandes transformações no estilo de vida das pessoas devido as medidas restritivas, como a orientação para que as pessoas ficassem em casa, considerando ser uma maneira das alternativas para conter o avanço do vírus e minimizar as ocorrências relacionados a transmissão da COVID-19.

 

    A opinião acima complementa a de Marson et al. (2021), que entende que a ausência de um programa de imunização revela a apreensão e destaca o impacto que a situação produziu na população, seja na saúde mental ou física. Deste modo, a necessidade da manutenção de uma rotina regular de exercícios físicos tem surgido como alternativa para manter a saúde física e mental das pessoas no cenário da pós-COVID-19.

 

    Segundo dados coletados pela Fiocruz (2020), antes mesmo da pandemia, apenas 35,5% da amostra coletada realizava atividade física dentro dos níveis indicados pela OMS. Portanto, é preciso ter em mente que a pandemia apenas agravou uma situação que já era preocupante, ou seja, é preciso um debate urgente e necessário sobre a condição de saúde da população brasileira.

 

    De acordo com a pesquisa da Fiocruz (2020), durante a quarentena, caiu dos 35,5% para 16% o número de pessoas que praticavam, ao menos, 150 (cento e cinquenta) minutos semanais de atividade física.

 

    Note-se, que essa queda está alinhada com as informações obtidas em outras três pesquisas realizadas por autores brasileiros, cada uma com as suas devidas proporções de tempo, amostra e nomenclatura. De acordo com Silva et al. (2021) e Botero et al. (2021) houve um aumento na inatividade física de 26% e 50%, respectivamente na amostra analisada. Já Malta (2020) demonstra que caiu de 30,1% para 12% o número de adultos que atendiam as recomendações mínimas de atividade física.

 

    Caspersen et al. (1985) que a atividade física pode ser entendida como qualquer movimento corporal, produzido pela musculatura esquelética, que resulta em gasto energético, tendo componentes e determinantes de ordem biopsicossocial, cultural e comportamental, podendo ser exemplificada por jogos, lutas, danças, esportes, exercícios físicos, atividades laborais e deslocamentos. Afirmam também que a ausência de atividade física pode ser definida por sedentarismo.

 

    Segundo Antunes et al. (2006) estudos epidemiológicos validam que pessoas sedentárias tem maior risco de serem atacados por distúrbios mentais que pessoas moderadamente ativas, demonstrando que a participação em programas de exercício físico beneficiam as funções cognitivas.

 

    Carvalho (2021) relata que uma característica individual, física ou comportamental, agregada com uma maior probabilidade de avanço de determinadas patologias é um “fator de risco”. Malta (2020) destaca que a diminuição da prática de atividade física e o aumento do comportamento sedentário, medido pelo tempo dedicado à televisão, tablets e computadores, são observados em diversos estudos. Ele ressalta que essa redução na atividade física pode levar a uma rápida deterioração da saúde cardiovascular e aumentar o risco de morte prematura em populações suscetíveis a doenças cardíacas.

 

    Atrelado a isso o Conselho Federal de Educação Física reafirma incessantemente em caráter primordial, que o exercício do profissional de Educação Física, tange a prevenção de doenças, a promoção e a recuperação da saúde da população. Dessa forma, constatando a importância social desses profissionais, no contexto da prevenção de riscos e diminuição dos efeitos danosos à saúde provenientes da pandemia da COVID-19. (Carvalho, 2021)

 

    Nesta perspectiva, em seus estudos Loch (2020) descreve que em dezembro de 2021, o Ministério da Saúde publicou uma portaria que, dentre outros, modificou a Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais (OPM) do Sistema Único de Saúde - SUS. O documento também inclui o Profissional de Educação Física (CBO 2241) dentre as categorias atuantes na reabilitação pós-COVID-19.

 

    Segundo Martinez (2020) após ter superado o coronavírus, a recomendação geral da Organização Mundial da Saúde é de pelo menos 150 minutos de exercícios aeróbicos leves a moderado por semana, além de duas sessões semanais de treinamento de força, como a musculação. A atividade física é fundamental para paciente pós-COVID-19. Complementando, estudo realizado por Carvalho (2021) mostram que o coronavírus traz desdobramentos na saúde até um ano após o seu contágio. Neste contexto, a pessoa que se mantém ativa, com uma boa alimentação, atividade física regular de média a baixa intensidade e um bom sono, tende a diminuir em até 60% os efeitos pós-COVID.

 

    A pandemia do novo coronavírus gerou um aumento na preocupação com saúde e bem-estar. Durante o isolamento social, muitos consumidores recorreram à internet em busca de produtos que passassem a sensação de conforto e segurança. De acordo com uma pesquisa realizada pela McKinsey & Company (2022), 68% dos participantes passaram a priorizar a saúde depois do início da quarentena. Essa cultura de “autocuidado” também repercutiu na prática habitual de exercícios físicos. Afinal, a priorização de atividades físicas pós-pandemia está relacionada à preocupação das pessoas em manter um bom condicionamento. Portanto, a prática de se movimentar em casa foi a solução encontrada por muitos diante do fechamento das academias. (Rodrigues et al., 2020)

 

    Diante disso, Raiol (2020) destaca que o treinamento online surgiu como uma possível solução para o isolamento na pandemia, tendo em vista a necessidade de manutenção da atividade física. Ainda segundo o autor, esse nicho se destaca pela flexibilidade, por permitir treinos individuais ou coletivos, com conteúdo gravado com diversos tipos de atividades e para todas as idades.

 

    Complementando Silva et al. (2021) define o treino online como uma ferramenta que permite o desenvolvimento das habilidades com a prática de exercícios, trazendo benefícios para a saúde e de acordo com as particularidades/especificidades de cada pessoa. Para suprir a distância física, o uso de questionários ou da avaliação por vídeo chamada é uma ótima forma de identificar o histórico do aluno, suas características e as necessidades individuais, além de servir para minimizar riscos que podem surgir, como de movimentos inadequados e lesões.

 

    Com tudo isso em mente, segundo Raiol (2020) mesmo no cenário pós-pandemia houve um crescente nível de interesse em relação ao treinamento online. A Educação Física em suas diferentes formas e expressões corporais, tem ganhado adeptos para a prática de exercícios físicos em suas mais variadas formas. Inclusive, além das pessoas que adaptaram os seus treinos outdoor para o indoor, também se observa um considerável número de indivíduos que passaram a realizar atividade física durante a pandemia e a pós-pandemia como uma forma de diminuir a ansiedade, o estresse e manter o corpo ativo.

 

    Em seus estudos Szwaecwald et al. (2020) relataram que segundo uma publicação do Fórum Econômico Mundial, o mercado de aplicativos fitness registrou um aumento de 48,8% entre 2019 e 2020.O segmento continuará promissor, pois, estima-se ainda um crescimento de 17% a 17,6% para os próximos cinco anos.

 

    Logo, Crochemore-Silva (2020) afirma que essa crescente priorização de atividades físicas tem impulsionado o mercado e criado tendências para o setor. A mais forte delas está voltada para a utilização de tecnologias vestíveis (wearables), considerada a incorporação de dispositivos inteligentes em roupas, calçados e acessórios. O exemplo mais clássico que temos é o relógio inteligente. Em geral, esse dispositivo é usado para monitorar a saúde e o desempenho do usuário durante a prática de exercícios físicos. 

 

    Todos os estudos analisados destacaram a importância dada a atividade física na vida de todos os indivíduos. Em graus e circunstâncias específicas, a prática de exercício se demonstrou fundamental para a saúde física e mental das pessoas no pós-COVID.

 

    Para corroborar o assunto, Carvalho (2021), no artigo intitulado “O novo normal na atividade física: pandemias e uberização”, relatou que vivemos atualmente dois cenários, o do pós-COVID-19 e o da inatividade física, com profissionais flexibilizando e informalizando suas jornadas, no movimento intitulado uberização da atividade física, que segundo os autores, é extremamente preocupante para a classe.

 

    Sendo assim, Crochemore-Silva (2020) ressalta que principalmente nos momentos difíceis, é preciso tirar as lições e aproveitar as oportunidades. O coronavírus trouxe muitas mortes, medo e insegurança, mas também demonstrou claramente a importância de se cuidar, mental e fisicamente. Segundo o autor, o que em um primeiro momento parecia ser um desastre, pode e deve ser encarado como uma excelente oportunidade para os profissionais se destacarem e se especializarem, seja no campo físico ou seja no campo mental.

 

    Como expõe Botero (2021), a prática esportiva (seja profissional ou recreativa) demanda estrutura emocional e mental, exigindo do profissional de Educação Física, um conhecimento dessa disciplina, que deveria ser lecionada e praticada nas universidades e congressos, pois se não há o domínio das individualidades de cada um, jamais poderá ser entregue um serviço adequado e personalizado.

Ainda, de acordo com o autor supracitado, o que não pode, é um profissional se adequar ao mundo moderno - com avanços na tecnologia - e na primeira oportunidade, voltar a fazer tudo como antigamente. A pandemia demonstrou que é possível prestar uma assistência à distância, desde que todos os cuidados sejam tomados.

 

    Nessa mesma linha, ressalta-se o estudo realizado por Loch et al. (2020), que relata a falta de conhecimento e preparo dos profissionais de Educação Física frente a pandemia, o que enfraqueceu o movimento. Assim, é preciso que haja uma preocupação com uma formação mais completa, mas também que exista um olhar mais aberto com os serviços públicos de saúde.

 

    Conforme Martinez et al. (2020), uma importante lição trazida pela COVID-19, é que locações externas, como parques, quadras esportivas, playgrounds e outros espaços públicos abertos são essenciais para promover a saúde da população, devendo haver políticas públicas nesse sentido.

 

    Loch et al. (2020) destaca que é impossível negar que o mundo digital veio para ficar e o profissional da Educação Física que não estiver disposto a encarar isso, infelizmente ficará no passado. Sendo assim, no cenário pós-COVID-19 o profissional atuante no ramo da atividade física, que desejar não apenas se destacar, mas também sobreviver, precisará mesclar esses dois mundos e estar presente de alguma forma no mundo virtual (aula online, divulgação por meio de mídias sociais), mesmo que o seu objetivo seja manter a prestação de serviço unicamente presencial.

 

    Neste contexto, a pandemia mostrou para todos a importância dos cuidados com a saúde, em especial, portanto, o que se quer dizer, é que a pandemia abriu os olhos de muita gente para a importância de cuidar da saúde, trazendo ao mercado do esporte a pessoas de todos os níveis, gostos e situações, indivíduos que demandam serviços diferentes e em circunstâncias particulares. Assim, com uma demanda maior, a oferta também precisa ser maior.

 

Conclusão 

 

    A partir do estudo realizado, pode-se concluir que a atividade física é fundamental para paciente pós-COVID-19. Assim, com o momento pós-pandemia, os exercícios estão cada vez mais indicados para amenizar os efeitos causados pelo coronavírus. Por meio das evidências científicas, pode-se considerar que a atividade física melhora os níveis de ansiedade e depressão, bem como os transtornos mentais desencadeados pelo isolamento. Isso acontece em virtude do aumento de endorfina e serotonina que por sua vez atuam melhorando a autoimagem, e reduzindo o surgimento de outros transtornos que podem se desenvolver no período pandêmico. (Baroni Araújo et al., 2022)

 

    Com base na literatura revisada e discutida, constatou-se os principais efeitos e benefícios da prática de atividades físicas no processo de reabilitação pós-COVID-19. Nesse quesito, destaca-se a prevenção de agravos, prevenção de comorbidades e complicações das sequelas desencadeadas pelo coronavírus, bem como melhora no desempenho musculoesquelético, melhora do humor, auxílio na redução de hormônios como adrenalina e cortisol e entre outros. (Baroni Araújo et al., 2022)

 

    O cenário da atividade física é extremamente promissor, com cada vez mais pessoas entendendo a importância de se exercitar. A pandemia e o distanciamento social trouxeram grandes mudanças em nossas vidas, como a sedimentação da tecnologia e um olhar mais atento para a saúde.

 

    Verificou-se que há poucas pesquisas e artigos publicados mostrando a importância da atividade física no cenário pós-COVID. Por fim, espera-se que este trabalho desperte interesse e incentive a realização de novos estudos na área da Saúde, que abordem em específico “A Educação Física no cenário pós-COVID-19”.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 313, Jun. (2024)