ISSN 1514-3465
Efeitos do treinamento de força na saúde de crianças e adolescentes
Effects of Strength Training on Health of Children and Adolescents
Efectos del entrenamiento de fuerza en la salud de niños y adolescentes
Thiago Medeiros da Costa Daniele*
thiago.daniele@unifor.br
Caio Vieira Nunes**
caiovnunes@gmail.com
José Anderson Nascimento Saraiva**
andersonsaraivaprof@gmail.com
Larissa Oliveira Nascimento**
larissa.nascimento201923@gmail.com
Ralciney Márcio Carvalho Barbosa***
ralciney@unifor.br
Diane Nocrato Esmeraldo Rebouças+
dianenocrato@unifor.br
Mônica Helena Neves Pereira Pinheiro++
monicapereira@unifor.br
Nilson Vieira Pinto+++
nilsonvieira@ifce.edu.br
*Pós-doutor em Ciências Médicas
Docente do Curso de Graduação em Educação Física
e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC)
Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
**Discente do Curso de Graduação em Educação Física da UNIFOR
***Mestre em Educação Física e Desporto de UNIFOR - Fundação Edson Queiroz
Docente do Curso de Graduação em Educação Física da UNIFOR
+Mestre em Saúde Coletiva
Docente do Curso de Graduação em Educação Física da UNIFOR
++Mestre em Educação Física
Docente do Curso de Graduação em Educação Física da UNIFOR
+++Pós-doutor em Saúde Coletiva e Professor
do Mestrado Profissional em Educação Física (ProEF)
e do Programa de Pós-graduação
em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT)
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)
(Brasil)
Recepção: 14/05/2023 - Aceitação: 08/07/2023
1ª Revisão: 27/06/2023 - 2ª Revisão: 05/07/2023
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Citação sugerida
: Daniele, TMC, Nunes, CV, Saraiva, JAN, Nascimento, LO, Barbosa, RMC, Rebouças, DNE, Pinheiro, MHNP, e Pinto, NV (2023). Efeitos do treinamento de força na saúde de crianças e adolescentes. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(304), 173-191. https://doi.org/10.46642/efd.v28i304.4044
Resumo
O uso do treinamento de força como ferramenta pedagógica para a melhora da saúde e qualidade de vida é bastante conhecido. Contudo, sua aplicação com crianças e adolescentes ainda gera discussões. Dessa forma, este estudo tem como objetivo analisar a produção científica sobre os efeitos do treinamento de resistência na saúde de crianças e adolescentes. Trata-se uma revisão integrativa realizada nas bases eletrônicas PubMED, Scielo, Science Direct e Google Acadêmico, com estudos originais e de revisão publicados entre 2013 e 2023. Foram selecionados 15 estudos de revisão e 10 artigos originais. Os resultados apontam a melhora da aptidão física relacionada à saúde, controle de distúrbios metabólicos e da obesidade infanto-juvenil, efeito cardioprotetor, promotor da saúde mental e de hábitos saudáveis. Destaca-se a exígua produção científica com crianças e com populações infanto-juvenis com necessidades específicas (intelectual, emocional e física), evidencia-se a necessidade de um acompanhamento profissional qualificado e a relevância da inserção do treinamento de resistência no ambiente escolar. Conclui-se que o treinamento de resistência, quando supervisionado por um profissional adequado, é capaz de promover a melhora da saúde e da qualidade de vida em crianças e adolescentes, influindo na saúde física, metabólica e mental através da adoção de hábitos saudáveis.
Unitermos:
Saúde da criança. Saúde do adolescente. Exercício físico. Promoção da saúde.
Abstract
The use of strength training as a pedagogical tool for improving health and quality of life is well known. However, its application with children and adolescents is still questionable by the scientific community. Thus, this study aims to analyze the scientific production on the effects of resistance training on the health of children and adolescents. This is an integrative review carried out in the electronic databases PubMED, Scielo, Science Direct and Google Scholar, with original and review studies published between 2013 and 2023. 15 review studies and 10 original articles were selected. The results point to an improvement in physical fitness related to health, control of metabolic disorders and childhood obesity, cardioprotective effect and promotion of mental health and healthy habits. It highlights the meager scientific production with children and children and youth populations with specific needs, highlights the need for qualified professional monitoring and the importance of inserting resistance training in the school environment. It is concluded that resistance training, when supervised by an adequate professional, can promote the improvement of health and quality of life in children and adolescents, influencing physical, metabolic and mental health through the adoption of healthy habits.
Keywords
: Child health. Adolescent health. Physical exercise. Health promotion.
Resumen
Es bien conocido el uso del entrenamiento de fuerza como herramienta pedagógica para mejorar la salud y la calidad de vida. Sin embargo, su aplicación con niños y adolescentes aún genera discusiones. Así, este estudio tiene como objetivo analizar la producción científica sobre los efectos del entrenamiento de resistencia en la salud de niños y adolescentes. Se trata de una revisión integradora realizada en las bases de datos electrónicas PubMED, Scielo, Science Direct y Google Scholar, con estudios originales y de revisión publicados entre 2013 y 2023. Se seleccionaron 15 estudios de revisión y 10 artículos originales. Los resultados apuntan a una mejora de la condición física relacionada con la salud, control de trastornos metabólicos y obesidad infantil, efecto cardioprotector, promoción de la salud mental y hábitos saludables. Se destaca la escasa producción científica con poblaciones infantiles y juveniles con necesidades específicas (intelectuales, emocionales y físicas), así como la necesidad de un seguimiento profesional calificado y la importancia de insertar el entrenamiento de resistencia en el ámbito escolar. Se concluye que el entrenamiento de resistencia, cuando supervisado por un profesional adecuado, es capaz de promover la mejora de la salud y la calidad de vida de niños y adolescentes, influyendo en la salud física, metabólica y mental a través de la adopción de hábitos saludables.
Palabras clave
: Salud infantil. Salud adolescente. Ejercicio físico. Promoción de la salud.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 304, Sep. (2023)
Introdução
O treinamento de força (TF), popularmente conhecido como musculação, não se limita apenas ao levantamento de pesos em máquinas, comumente realizado em academias de ginástica, podendo, também ser conduzido em diferentes locais, para diversos públicos e com vários objetivos (Prestes et al., 2016). Nesse contexto, entende-se que, além dos aparelhos de musculação, há outras formas de oferecer resistência a um exercício físico, como, por exemplo, o uso do peso do próprio corpo, de elásticos, faixas, pesos livres, água e até mesmo a ação da gravidade.
Estudos recentes apontam a necessidade de práticas de intervenção voltadas para a promoção da saúde em crianças e adolescentes, em vista do elevado número de crianças e jovens obesos e sedentários, sendo o exercício físico uma estratégia de extrema efetividade para alcançar melhoras nos níveis de saúde e bem-estar dessa população. (Bull et al., 2020; Chaput et al., 2020; Cerqueira, e Corrêa Junior, 2022)
Vale ressaltar que no decorrer histórico da prescrição e da periodização do TF em crianças e adolescentes, algumas mudanças pedagógicas foram sendo admitidas (Faigenbaum et al., 2009). Uma dessas mudanças se refere à implementação de atividades lúdicas para a promoção da saúde, como o uso de movimentos calistênicos (Stricker et al., 2020) ou exercícios aeróbios intermitentes de alta intensidade. (Cerqueira, e Corrêa Junior, 2022)
Estudos prévios destacam que indivíduos considerados obesos já na infância e na adolescência, ao permanecerem nessa condição na idade adulta, estarão mais propensos a complicações neurometabólicas e endócrinas, resultando no desenvolvimento de doenças, podendo desencadear diversas comorbidades. (Chaput et al., 2020; Ptomey et al., 2022)
Nessa perspectiva, o TF, realizado com crianças e adolescentes, tem sido relacionado ao aumento de massa muscular, a redução do tecido adiposo, a neuroplasticidade efetora, a reabilitação pós-traumática, a melhora da força e da resistência muscular, bem como da aptidão aeróbica e, consequentemente, melhora da qualidade de vida, capacidade funcional e redução de diversas disfunções corporais. (González-Gross, e Meléndez, 2013; Santos et al., 2021; Stricker et al., 2020; Pereira, e Pinto, 2021)
Ademais, constata-se um crescente número de crianças e adolescentes buscando atividades físicas e esportivas que envolvam capacidades motoras de força e resistência, entretanto, diante dos agravos oriundos do sedentarismo e do excesso de peso, faz-se imperativo ampliar os estudos sobre os efeitos do TF para essa população, possibilitando um maior entendimento sobre a prescrição e o acompanhamento das rotinas de exercícios físicos. (Faigenbaum et al., 2009; Legerlotz, 2020; Lesinski et al., 2016; Myers et al., 2017; Pereira, e Pinto, 2021)
Desta forma, este artigo de revisão tem como objetivo analisar a produção científica na última década sobre os efeitos do treinamento de força na saúde de crianças e adolescentes.
Metodologia
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, caracterizada pela síntese de um conhecimento científico e proposta de direcionamentos para a condução clínica, social ou epistemológica de uma situação analisada. (Beyea, e Nicoll, 1998)
O percurso metodológico desta revisão integrativa balizou-se por seis etapas: 1) definição da questão de pesquisa; 2) busca na literatura científica; 3) categorização das pesquisas mapeadas; 4) avaliação dos resultados; 5) interpretação dos resultados; e 6) apresentação dos resultados da revisão integrativa. (Pinto, e Pereira, 2021)
Foram utilizadas as bibliotecas virtuais Public Medline (PubMED), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Science Direct e Google Acadêmico. Fez-se uso de operadores booleanos AND e OR para a busca das publicações. Neste mapeamento, utilizou-se a combinação de descritores exatos e sinonímias validados no sítio da DECs (Descritores em Ciências da Saúde), conforme apresentado detalhadamente na Tabela 1.
Tabela 1. Descritores e operadores booleanos utilizados por base de dados
Base
de dados |
Descritores
|
PubMed |
“Children” OR “adolescents”
OR “Youth” OR “Child” AND Resistance training” OR “Strength
training” OR “Weightlifting” |
Scielo |
“Crianças” OR
“adolescentes” OR “jovens” AND “treino de resistência” OR
“treino de força” OR “levantamento de peso” |
Science
Direct |
“Children” OR “adolescents”
OR “youth” AND “Resistance training” OR “strength training”
OR “weightlifting” |
Google
Acadêmico |
“Crianças” OR
“adolescentes” OR “jovens” AND “treino de resistência” OR
“treino de força” OR “levantamento de peso” |
Fonte: Elaboração própria
Foram considerados como critérios de inclusão: (a) estudos que avaliem o TF em crianças e em adolescentes, considerando a idade cronológica menor ou igual a 18 anos; (b) publicados entre janeiro de 2013 a janeiro de 2023; (c) disponibilidade nos idiomas portugueses ou inglês; (d) estudos originais, revisões e meta-análises; (e) e que estejam disponíveis na íntegra.
Foram excluídos desta revisão resumos, teses, dissertações, monografias, artigos duplicados, incompletos, pesquisas publicadas fora do período de investigação proposto, experimentos com animais e artigos que não estabelecem relação direta com o objetivo deste estudo.
Na trajetória analítica introdutória desta revisão integrativa foi realizada uma triagem nas bases de dados científicos dos artigos para categorização deste mapeamento, sendo eliminados os estudos que não se relacionavam com a temática em questão e/ou atendessem aos critérios de inclusão previamente estabelecidos (Figura 1). Em sequência, tomou-se o mapeamento como base para avaliação e interpretação dos resultados e consequente apresentação e discussão destes. De um total de 13.765 estudos mapeados, apenas 25 artigos atenderam aos critérios de inclusão e por sua vez, foram analisados na íntegra.
Para classificação do seu conteúdo, os artigos foram agrupados em duas categorias temáticas (estudos de revisão e artigos originais). As variáveis selecionadas para os estudos de revisão foram: autor; ano de publicação; tipo de estudo; amostra (crianças e/ou adolescentes); base de dados utilizada; período de análise e principais achados. Para os artigos originais foram utilizadas: autor; ano de publicação; amostra (crianças e/ou adolescentes); faixa etária; sexo; protocolo de treinamento e principais achados.
A seguir serão apresentados os resultados das análises dos estudos selecionados, evidenciando as atuais discussões sobre os efeitos do treinamento resistido na saúde de crianças e adolescentes e relacionando-as com as principais referências autorais sobre a temática na atualidade.
Resultados
A busca investigativa com os descritores selecionados identificou inicialmente um total de 13.765 estudos. Destes, foram excluídos os estudos incompletos, capítulos de livros, estudos com dados secundários, duplicados, aqueles que não eram nas línguas inglesa ou portuguesa, que estavam fora do período selecionado (2013-2023) e que não estavam no escopo da presente revisão. Após uma cuidadosa triagem, foram recrutados 82 artigos que foram lidos na íntegra. Destes, foram selecionados 25 artigos para compor esta revisão integrativa, sendo excluídos 57 artigos por não atender aos critérios de inclusão deste estudo. A Figura 1 descreve detalhadamente o processo de identificação, triagem, análise dos artigos e seleção dos estudos.
Foram selecionados 25 artigos, destes, 15 (60%) estudos de revisão (revisões de literatura, narrativa, bibliográfica, clínica, sistemática e meta-análises), apresentados detalhadamente na Tabela 2 e 10 artigos originais (40%), apresentados na Tabela 3. Em relação ao idioma, 15 estudos (60%) foram publicados na língua inglesa e 10 (40%) na língua portuguesa. Nesta análise, pode-se identificar uma maior produção científica na língua inglesa em relação aos estudos de revisão (10 estudos em inglês vs. 5 estudos em português), algo que não ocorreu em relação aos artigos originais (5 estudos em inglês e 5 estudos em português).
Tabela 2. Estudos de revisão
Autor (ano) |
Tipo de estudo |
Amostra |
Base de dados |
Período de análise |
Principais achados |
Perfeito
et al. (2013) |
Revisão
de literatura analítica |
Crianças
e adolescentes |
MedLine,
Scielo e PubMed |
2012 |
• Estratégia segura quando sistematizada corretamente. • Estimula a síntese do hormônio do crescimento (GH),
favorecendo o desenvolvimento de crianças e adolescentes. |
Schranz et al. (2013) |
Revisão sistemática e Meta-análise |
Crianças e adolescentes obesos e com sobrepeso |
Medline, Embase, Scopus, Web of Science, SPORTdiscus,
CINAHL, PsycINFO, Cochrane library e ProQuest |
2013 |
• Melhora a força, aptidão física e a composição
corporal. |
Lima
et al. (2014) |
Revisão bibliográfica de caráter qualitativo |
Crianças
e adolescentes |
Portal de Periódicos CAPES, Scielo, BVS, Google Acadêmico,
e MedLine |
1889-2013 |
• Necessidade de sistematizar de acordo com a
individualidade biológica e a maturação do praticante. |
Lesinski
et al. (2016) |
Revisão sistemática e meta-análise |
Atletas
Adolescentes |
PubMed e Web of Science |
1985-2015 |
• Melhora a força e o salto vertical em atletas
adolescentes. |
Moran
et al. (2017) |
Meta-análise |
Crianças e adolescentes atletas de gênero masculino (10-18
anos) |
PubMed, Google acadêmico, Sport discuss, MedLine, CINAHL e
Science direct |
Sem
restrição de data |
• Os níveis de força estão relacionados ao estado de
maturação dos jovens. |
Zwolski
et al. (2017) |
Revisão
clínica (nível 4) |
Adolescentes |
PubMed
e Sport discuss |
1982-2016 |
• Ferramenta útil na redução de lesões. |
Antunes,
e Bertolo (2017) |
Revisão
bibliográfica |
Crianças
e adolescentes |
Foram consultados livros, dissertações, teses e periódicos |
Sem
restrição de data |
• Previne e reduz a obesidade infantil. |
Klepper
et al. (2019) |
Revisão
sistemática |
Crianças e adolescentes com artrite idiopática juvenil |
Medline, PubMed, CINAHL e web ofscience |
1995-2018 |
• Melhora a amplitude de movimento e a capacidade
funcional dos praticantes. |
Coelho
et al. (2021) |
Revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados
controlados |
Adolescentes |
Ensaios clínicos randomizados e controlados realizados em
indivíduos de 10-19 anos |
Sem
restrição de data |
• Eficaz na redução da pressão arterial em adolescentes
com sobrepeso e obesidade. |
Pinto,
e Pereira (2021) |
Revisão
integrativa |
Crianças
e adolescentes |
BVS,
PubMed e SCIELO |
2010-2020 |
• Melhora da aptidão física, da composição corporal e
das variáveis bioquímicas. |
Barahona-Fuentes
et al. (2021) |
Revisão
sistemática |
Adolescentes |
WoS, Scopus, SPORT Discus, PubMed e MEDLINE |
2010-2020 |
• Reduz os níveis de estresse, ansiedade, depressão em
adolescentes. |
Pierce
et al. (2022) |
Revisão
narrativa |
Crianças
e adolescentes |
Levantamento
bibliográfico |
Sem
restrição de data |
• Efeitos positivos para a aptidão física relacionada à
saúde. |
Ribeiro
et al. (2022) |
Revisão sistemática e Meta-análise |
Adolescentes |
Web of Science, Scopus, PubMed e Science Direct |
Sem
restrição de data |
• Melhora da força muscular e da aptidão aeróbica. •
Redução da obesidade. |
Duncombe et al. (2022) |
Revisão sistemática e Meta-análise |
Crianças
e adolescentes |
Medline, Embase, CINAHL, SPORT Discus e Web of Science |
Sem
restrição de data |
• Melhora da saúde e do bem-estar. |
Leister
et al. (2022) |
Revisão
sistemática |
Crianças
com síndrome metabólica |
PubMed
e Web of Science |
Sem
restrição de data |
• Ferramenta efetiva para o controle da síndrome metabólica
em crianças. |
Fonte: Elaboração própria
Tabela 3. Artigos originais
Autor (ano) |
Amostra |
Faixa etária/sexo |
Protocolo de treinamento |
Principais achados |
Meylan
et al. (2014) |
38
adolescentes |
11-15
anos/masculino |
8 semanas de TF/2 vezes por semana. |
Melhora da força muscular, velocidade e potência dos
praticantes. |
Miranda
et al. (2014) |
16 adolescentes
com sobrepeso |
16 anos/masculino |
1
sessão de TF com 30 minutos. |
O
TF pode prevenir as alterações autonômicas que estão associadas ao
aumento do peso corporal e conferir efeito protetor ao sistema
cardiovascular. |
Monteiro
et al. (2015) |
19 adolescentes
obesos |
12-17 anos/ambos |
16
semanas de treinamento concorrente, 3 sessões por semana, 60 minutos
por sessão (TF/30 minutos, TA/30 minutos). |
Houve
diminuição da gordura corporal, aumento da massa magra e conteúdo
mineral ósseo de adolescentes do gênero masculino; já no grupo
feminino não houve diferença. |
Assunção
et al. (2016) |
45
adolescentes não treinados |
13-15
anos/ambos |
9 semanas de TF/2 vezes por semana. |
Os protocolos com alta carga e baixa repetição e carga
moderada e alta repetição, podem ser prescritos para melhorar a aptidão
muscular em adolescentes destreinados sem prejuízos para a saúde. |
Seron
et al. (2017) |
15 adolescentes com síndrome de Down |
12
a 18 anos/ambos |
12 semanas de TF/2 vezes por semana; 50 minutos por sessão. |
Promoveu o aumento na ventilação
máxima, redução da frequência cardíaca submáxima e melhora
da eficiência cardíaca. |
Macêdo (2014) |
34 adolescentes
sedentários |
15-18
anos/masculino |
20
minutos de exercício de força (5 exercícios, 3 séries de 12 repetições
a 60% de 1RM). |
O
comportamento cardiovascular e autonômico cardíaco em adolescentes
sedentários, em resposta ao exercício de força não sofre influência
do sobrepeso corporal. |
Rosa
Santos et al. (2020) |
122
adolescentes |
13-16 anos/ambos |
12 semanas de TF/2 vezes por semana. |
Previne o desenvolvimento de Doenças Crônico não-transmissíveis
e auxilia na melhora da saúde dos praticantes. |
Neto et al. (2020) |
10 adolescentes |
15-17
anos/masculino |
10 semanas de TF/3 vezes por semana. |
Melhora nos níveis de força e redução no percentual de
gordura. |
Pereira, e Pinto
(2021) |
132 adolescentes |
13-17 anos/ambos |
60 sessões de TF/3 vezes por semana; 60 minutos por sessão. |
Ampliou a aptidão física relacionada á saúde,
especialmente musculoesquelética, todavia, revelou a necessidade de uma
melhor sistematização para a melhora da saúde cardiovascular. |
Mendonça et al.
(2022) |
75 Adolescentes |
13-19 anos/ambos |
12
semanas de treinamento contínuo de intensidade moderada combinado com
TF vs. treinamento intervalado de alta intensidade combinado com TF. |
Ampliou a aptidão muscular e cardiorrespiratória e reduziu
o percentual de gordura corporal, não observando diferenças
significativas entre os protocolos de treinamento. |
Legenda: TF: Treinamento de força; TA: Treinamento aeróbico; RM: Repetição máxima.
Fonte: Elaboração própria
De acordo com os estudos selecionados, pode-se identificar que o TF não promoveu efeitos deletérios para a saúde das crianças e adolescentes avaliados. Todavia, ficou evidenciada a necessidade da prescrição e periodização adequada dos treinos, considerando o desenvolvimento motor e cognitivo dessa população. Tais considerações ressaltam a importância de uma orientação profissional qualificada a fim de promover a utilização dos estímulos adequados às necessidades de cada faixa etária. (Neto et al., 2020; Assunção et al., 2016)
No que concerne à prescrição adequada do TF ao desenvolvimento motor das crianças e adolescentes, os estudos apontaram a melhora da velocidade, força, resistência e da potência muscular, bem como da capacidade aeróbica, contribuindo para a melhora do rendimento nos mais diversos esportes, bem como para a diminuição do risco de lesões. Sendo o TF um componente complementar efetivo não apenas para a saúde, mas também para o fortalecimento de habilidades motoras no esporte. (Klepper et al., 2019; Lesinski et al., 2016; Perfeito et al., 2013; Meylan et al. 2014; Macêdo, 2014; Neto et al., 2020; Mendonça et al., 2022)
De modo interessante, Assunção et al. (2016) mostraram que a desempenho muscular em adolescentes destreinados pode ser treinado através de protocolos com alta carga e baixa repetição e com carga moderada e alta repetição, sem prejuízos para a saúde.
Importante relatar que os estudos são enfáticos ao afirmarem que o TF não traz risco ao crescimento ósseo e a maturação sexual e que seu índice de lesões é menor que o dos esportes comumente praticados em idade escolar. (Lima et al., 2014; Zwolski et al., 2017; Perfeito et al. 2013; Monteiro et al., 2015)
Nesta perspectiva, a revisão integrativa conduzida por Pinto, e Pereira (2021) destacou a melhora da aptidão física relacionada à saúde, a redução dos riscos de doenças hipocinéticas e de lesões articulares; como também foi encontrada a melhora do perfil glicêmico e lipídico dos praticantes. Não obstante, Leister et al. (2022) consideram o TF uma ferramenta clinicamente efetiva para o controle/melhora dos distúrbios metabólicos.
Nesta trajetória, evidenciou-se ainda que o TF é uma importante ferramenta terapêutica no tratamento da obesidade infanto-juvenil, auxiliando no controle da pressão arterial (efeito cardioprotetor), reduzindo a gordura corporal, a circunferência da cintura e o índice de massa corporal, como também, auxiliando no desenvolvimento de hábitos saudáveis, os quais possibilitam um aumento nas chances dessas crianças e adolescentes em se tornarem adultos fisicamente mais ativos, contribuindo para a adesão e aderência do exercício físico na vida adulta, proporcionando um envelhecimento mais saudável e com maior qualidade de vida. (Antunes, e Bertolo, 2017; Seron et al., 2017); Coelho et al., 2021; Miranda et al., 2014; Monteiro et al., 2015; Pinto, e Pereira, 2021; Ribeiro et al., 2022; Rosa Santos et al., 2020; Pereira, e Pinto, 2021; Schranz et al., 2013)
Ademais, entende-se que os resultados oriundos do TF, não são apenas atrelados ao desenvolvimento físico das crianças e adolescentes, mas, também, ao desenvolvimento mental, cognitivo e social, que repercutem na maturação sexual, aceitação corporal e a autoafirmação dos jovens na sociedade. (Meylan et al., 2014; Moran et al., 2017)
É interessante constatar que o uso do TF no ambiente escolar ainda não é habitualmente realizado nas escolas brasileiras, mesmo diante de alguns resultados significativos (Pereira, e Pinto, 2021), sendo capaz de promover inúmeros benefícios e ampliar a motivação dos escolares podendo ser um fator de grande adesão na prática de exercícios físicos nesta faixa etária. (Duncombe et al., 2022; Pinto, e Pereira, 2021)
Ampliando a discussão sobre a relevância da inclusão do TF na escola, Barahona-Fuentes et al. (2021) têm discutido resultados significativos na redução dos níveis de ansiedade e depressão em adolescentes.
Discussão
Em uma trajetória analítica com vistas à promoção da saúde na infância e na juventude através do TF, este estudo de revisão traz à tona o predomínio de publicações em inglês, bem como uma maior produção científica de estudos de revisão no período investigado, não sendo possível identificar uma diferença no número de publicações ao longo dos anos. Entretanto, mesmo com a expressão de estudos de revisão, ainda não se percebe, com amplitude e segurança, o percurso pedagógico necessário na aplicação do TF em crianças e adolescentes, sugerindo a necessidade de mais estudos originais.
Todavia, os estudos selecionados para esta revisão integrativa são unânimes em afirmar que o TF quando realizado regularmente e com acompanhamento profissional adequado, promove efeitos positivos na aptidão física relacionada à saúde, no controle de distúrbios metabólicos e da obesidade infanto-juvenil, com efeito cardioprotetor e com desenvolvimento mental, cognitivo e social, promovendo hábitos saudáveis e contribuindo para a adesão e aderência do exercício físico ao longo de sua trajetória de vida.
Ademais, sinaliza para a relevância da prática do TF nas escolas, destacando que, embora ainda pouco explorada nas escolas brasileiras, já se tem identificado resultados positivos na melhora da aptidão física relacionada à saúde, bem como, na maior adesão na prática de exercícios físicos nesta faixa etária. (Duncombe et al., 2022; Pinto, e Pereira, 2021)
Vale destacar que foi evidenciado um número expressivo de artigos que avaliaram o sobrepeso e a obesidade infanto-juvenil com a prática do TF. Nesse sentido, foi apontado que quando sistematizado, o TF pode reduzir significativamente o percentual de gordura corporal em adolescentes com sobrepeso e/ou obesidade, sendo uma ferramenta não farmacológica e efetiva para a melhora da saúde, qualidade de vida e adesão à prática de exercícios físicos. (Antunes, e Bertolo, 2017; Coelho et al., 2021; Miranda et al., 2014; Monteiro et al., 2015; Ribeiro et al., 2022; Rosa Santos et al., 2020; Pereira, e Pinto, 2021; Schranz et al., 2013; Lesinski et al., 2016; Macêdo, 2014; Neto et al., 2020; Mendonça et al., 2022)
Corroborando, Souza et al. (2022) relataram a importância da necessidade de implementações de programas relacionados à promoção da prática de atividade física na adolescência diante do elevado número de jovens fisicamente sedentários.
Neste contexto, entende-se que o sobrepeso e a obesidade podem acarretar diversas doenças cardiometabólicas, comprometendo significativamente a saúde destas crianças e adolescentes, podendo torná-las adultos e idosos com diversas comorbidades. (Huang et al., 2013)
Entre as inquietações comumente discutidas com o TF estão a maturação e o crescimento ósseo de crianças e adolescentes submetidos ao treino com cargas externas. Nesse contexto, Weineck (2005) aponta que a maturação e o crescimento do indivíduo desenvolvem uma tensão progressiva nos elementos estruturais do corpo, ressaltando que o TF potencializa a adaptação neuromuscular e, consequentemente, a resposta positiva do corpo a essas mudanças significativas na fase de crescimento.
Corroborando, entre os artigos selecionados nesta revisão, Perfeito et al. (2013) evidenciaram que o TF em crianças e adolescentes estimula a síntese do hormônio do crescimento (GH), favorecendo a maturação e o crescimento corporal. Não obstante, Monteiro et al. (2015) destacaram o aumento da massa magra e do conteúdo mineral ósseo em adolescentes.
Ressalta-se nesta revisão integrativa, o estudo de Seron et al. (2017) que traz uma perspectiva de investigação inovadora do TF em adolescentes com síndrome de Down, demonstrando o aumento na ventilação máxima, a redução da frequência cardíaca submáxima e a melhora da eficiência cardíaca em um protocolo de TF desenvolvido durante 12 semanas.
Diante disso, sugere-se que novos estudos com crianças e adolescentes com necessidades específicas possam ser realizados com vistas a novas reflexões sobre a prática do exercício físico resistido e a inserção de práticas pedagógicas inclusivas e assertivas a essa população.
Outro ponto de destaque entre os estudos selecionados nesta revisão refere-se ao comportamento social e a saúde mental promovidos pela prática regular de TF (Barahona-Fuentes et al. 2021; Duncombe et al. 2022). Nesta trajetória, Lubans et al. (2016) discutem os benefícios da prática regular de atividade física na saúde mental e cognitiva em adolescentes. Estes achados refletem para além da saúde física geralmente associada as práticas com sobrecarga e evidenciam que as relações socioafetivas também são estabelecidas e desenvolvidas com esta prática.
Entre as limitações deste estudo de revisão destacam-se o predomínio de artigos originais e estudos de revisão com adolescentes e consequentemente o baixo número artigos originais que investigam os efeitos do TF em crianças, artigos originais com uma baixa amostra e a necessidade de um maior rigor metodológico nos protocolos de treinamento utilizados.
Por fim, sugere-se que os resultados desta revisão possam ser amplamente discutidos entre os profissionais e pesquisadores do TF e que estes, inspirem a produção de novas investigações e evidências sobre o TF em crianças e adolescentes, configurando um cenário qualificado e seguro a todos os praticantes.
Conclusão
Este estudo de revisão evidenciou que a prática regular e com o acompanhamento profissional adequado do treinamento de força em crianças e adolescentes, proporciona efeitos positivos na aptidão física relacionada à saúde, no controle de obesidade infanto-juvenil, com efeito cardioprotetor, capaz de favorecer a maturação e o crescimento corporal e promover saúde mental, através das relações afetivo-sociais que se estabelecem.
Destaca a relevância desta prática nas aulas de Educação Física nas escolas, como uma estratégia de motivação e adesão aos hábitos saudáveis e a necessidade de estudos com crianças e com populações infanto-juvenis com necessidades específicas, no intuito de ampliar a o reconhecimento pedagógico assertivo e inclusivo em todas as faixas etárias.
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