Carina Bianca de Menezes Nascimento*
carina.menezes.nasc@gmail.com

Rogério Cruz de Oliveira**

rogerio.cruz@unifesp.br

*Professora da Rede Municipal de Educação de Bertioga-SP

Mestre em Ciências no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar

em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo - Campus Baixada Santista

Membro Pesquisadora do Grupo de Estudo e Pesquisa Sociocultural em Educação Física
**Doutor em Educação Física. Professor Associado

da Universidade Federal de São Paulo - Campus Baixada Santista

Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências da Saúde

Departamento de Ciências do Movimento Humano

Curso de Educação Física. Líder do Grupo de Estudo

e Pesquisa Sociocultural em Educação Física

Tutor do PET-Educação Física

(Brasil)

Recepção: 05/05/2023 - Aceitação: 27/07/2023

1ª Revisão: 30/05/2023 - 2ª Revisão: 24/07/2023

Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

Citação sugerida: Nascimento, C.B. de M. y Oliveira, R.C. de (2023). Compreensão de saúde e sua relação com a zumba sob a ótica de suas praticantes. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(304), 103-118. https://doi.org/10.46642/efd.v28i304.4027

 

Resumo

    O objetivo do estudo consistiu em analisar a compreensão de saúde e sua relação com a zumba sob a ótica de suas praticantes. A pesquisa é descritiva e foi desenvolvida a partir da abordagem qualitativa. O estudo contou com a participação de 20 mulheres praticantes de zumba, as quais responderam a uma entrevista semiestruturada. Os dados foram analisados por categorias não apriorísticas. Como resultado, a compreensão de saúde e sua relação com a zumba estiveram associadas ao cuidado de si. Assim, conclui-se que a prática da dança lhes oportunizou a experiência do contato, a inserção num grupo e tempo de sociabilidade que, estas também consideraram relevantes quanto aos benefícios de sua saúde.

    Unitermos: Promoção de saúde. Prática corporal. Dança.

 

Abstract

    The objective of this study was to analyze the comprehension of health and its relation to zumba from practitioner’s perspectives. The descriptive research with a qualitative approach were developed. Twenty women zumba practitioners participated as volunteers and answered a semi structured interview. The data was analyzed by non-a priori categories. As a result, the comprehension of health and its relation to zumba were aligned to the self-care. Thus, we concluded that the practice of dance allowed them the experience of contact, the group insertion, and a sociability time, equally relevant the health benefits.

    Keywords: Health promotion. Body practices. Dance.

 

Resumen

    El objetivo de este estudio fue analizar la comprensión de la salud y su relación con el zumba desde la perspectiva de los practicantes. Se desarrolló la investigación descriptiva con un enfoque cualitativo. Veinte mujeres practicantes de zumba participaron como voluntarias y respondieron una entrevista semiestructurada. Los datos fueron analizados por categorías no apriorísticas. Como resultado, la comprensión de la salud y su relación con zumba se alinearon al autocuidado. Así, concluimos que la práctica de la danza les permitió la experiencia de contacto, la inserción grupal y un tiempo de sociabilidad, igualmente relevantes a los beneficios para la salud.

    Palabras clave: Promoción de la salud. Prácticas corporales. Baile.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 304, Sep. (2023)

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Introdução 

 

    Hui, Chui, e Woo (2009) afirmam que a dança pode gerar benefícios à saúde nos aspectos da saúde física e psicológica, além da socialização. Em tempo, os autores ressaltam que a dança pode ser vista de modo muito mais complexo, ampliada à promoção de saúde e cuidado, atentando para autoafirmação, autoexpressão, benefícios físicos, a afetividade, cognição, criatividade, habilidades motoras, expressão de emoções e sentimentos, comunicação e interação. Silva, Martins, e Mendes (2012) entendem a dança como uma atividade que promove efeitos benéficos no que tange o combate ao estresse, o estímulo e a oxigenação do cérebro, reforço de grupos musculares e articulações, flexibilidade, equilíbrio e postura, além do convívio social. Já para De Nadai (2011), a dança é um produto histórico, na qual a expressão criada por meio dela depende da ação humana e se constrói de modo subjetivo, uma vez que cada indivíduo tem uma forma de ser, de se expressar e de se movimentar.

 

Fonte: NightCafé Creator (#Efdeportes)

 

    Já para Reis (2013), a experiência do dançar possibilita que as pessoas se transportem para um mundo de sensações resultantes dos efeitos cinestésicos do próprio ato de dançar. Para o autor, a indução de vivências com música, canto, movimento e de situações com o grupo, possibilitam a experiência e a transformação de estados internos do indivíduo. Já em Saraiva (2005), a dança pode ser caracterizada como um fenômeno que surge na consciência e que propicia a quem dança uma experiência singular, atrelada ao corpo em movimento, dando vida a uma forma dinâmica e única, possibilitando, em seu empirismo, que estas sejam criadas e recriadas, exprimindo a subjetividade e objetividade de cada um.

 

    Em relação à Zumba, Ljubojevic, Jakovljević, e Poprzen (2014) apresentam-na como uma prática corporal caracterizada como uma mistura de dança e ginástica, na qual se fazem presentes coreografias a partir de ritmos latino-americanos. Para Donath, Roth, Hohn, Zahner, e Faude (2014), a modalidade recebeu muitos adeptos devido ao conjunto de elementos presentes no estilo, no qual contempla um treino de equilíbrio, resistência e força. Os autores constataram ainda, que, possivelmente, a Zumba contribua para adaptações neuromusculares que aumentem a estabilidade do tronco e o equilíbrio. Para Domene, Moir, Pummell, e Easton (2016), a Zumba, assim como a Salsa, tem o potencial de promover melhoras na saúde física dos praticantes, o que também foi encontrado em Barranco-Ruiz, e Villa-González (2020), quando investigaram mulheres sedentárias. Em Vendramin et al. (2016), a modalidade pode ser considerada uma atividade física que promove melhoras na capacidade física. Já em Palacios, Palacios, Matsuda, Pérez, González, e Oquendo (2021), a prática de Zumba combinada com Tae Bo, promoveu diminuição de massa corporal e melhoria da função cardíaca em mulheres com obesidade.

 

    Em Nascimento, e Oliveira (2020), mulheres relataram que a aproximação à Zumba se deu, predominantemente, pelo círculo familiar/amizades e por iniciativa própria. Entretanto, no mesmo estudo, a permanência se deu por razões associadas ao prazer e autocuidado.

 

    Frente a isso, o objetivo do estudo é: analisar a compreensão de saúde e sua relação com a zumba sob a ótica de suas praticantes.

 

Método 

 

    Trata-se de uma pesquisa descritiva, que, segundo Triviños (2009) possui foco no conhecer. Para Thomas, Nelson, e Silverman (2012), é um tipo de pesquisa que estuda o status de um fato ou fenômeno. No caso deste estudo, o status da compreensão de saúde e sua relação com a zumba para mulheres praticantes da modalidade. A abordagem qualitativa está baseada em Minayo (1994), para a qual se atenta a descrever uma realidade que não pode ser quantificada.

 

    Para fins deste estudo, o “significado” será compreendido na esteira de Abbagnano (2007), para o qual não pode ser compreendido naquilo que se denota, mas no sentido que lhe é conotado, de modo a entender que, nos significados de saúde atribuídos pelas mulheres praticantes de Zumba reside a subjetividade, a vivência que experienciaram nessa prática caracterizando assim, o sentido literal dado por elas.

    

    O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (CAAE nº 98537218.2.0000.5505). Todas as voluntárias assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

 

    Participaram do estudo 20 mulheres entre 31 e 66 anos de idade. Os critérios de inclusão consistiram em: praticantes de Zumba há, no mínimo, 1 ano, e; frequência de, no mínimo, uma vez por semana. O critério de exclusão adotado considerou o seguinte aspecto: voluntárias com prática corporal concomitante à Zumba.

 

    O recrutamento das participantes foi feito de forma pessoal num estúdio de dança situado na cidade de Santos-SP. Após aprovação da proprietária, as participantes foram abordadas de modo individual por meio de uma conversa informal, na qual o teor era convidar à participação no estudo e disponibilizar o TCLE.

 

    A produção dos dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas. Para Triviños (2009), essa ferramenta parte de certos questionamentos básicos para possibilitar ao pesquisador a obtenção de respostas que compreendam o problema da pesquisa. No contexto deste estudo fizemos dois questionamentos: 1) “O que é saúde para você?”, e; 2) “Em sua opinião, existe relação entre Zumba e saúde? Justifique”.

 

    Com o consentimento das voluntárias todas as entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas para um arquivo digital para análise. A produção de dados ocorreu nos meses de janeiro e fevereiro de 2019.

 

    A análise de dados se deu por categorias não-apriorísticas, que, para Campos (2004), se formam no contato com o material analisado. Neste caso, o discurso das voluntárias sobre os significados de saúde e sua relação com a zumba. A elaboração das categorias obedeceu ao que Campos (2004) denominou de frequenciamento (argumentos comuns às respostas) e relevância implícita (argumentos pertinentes à problemática do estudo).

 

    Este estudo é um recorte dos principais resultados de uma dissertação de mestrado defendida em 2020.

 

Resultados 

 

    Quando questionadas sobre o significado de saúde, as respostas das voluntárias puderam ser interpretadas em duas categorias de análise:

1. Disposição e bem-estar entre corpo e mente (Quadro 1): disposição para executar suas tarefas diárias, trabalho, atividade física e outras ações, de modo a não se sentirem cansadas, nem apresentarem limitações diante disso, sem dores e com autossatisfação;

2. Cuidados com a alimentação e atividades físicas (Quadro 2): ênfase nos aspectos relacionados aos cuidados com o corpo e com uma alimentação regrada, contribuindo para maior disposição nas atividades cotidianas.

V	ID	EZ	Respostas
1	66	8	“Saúde é você estar bem mentalmente, psicologicamente, gostando de si próprio, cuidando da sua saúde com cuidados básicos, que precisa haver, principalmente quando se é mulher, que tem várias coisas que você precisa fazer durante toda a vida [...] é mas a saúde para mim tem que ser completa, não é olhar só a cabeça, só o pé, tem quem olhar a pessoa por completo. Manter seu corpo e sua mente saudáveis, por completo”
2	40	1	“Saúde é você estar com os seus exames em dia.A tua força de vontade, a tua alquimia, teu perfeito equilíbrio, para mim isso é bem-estar”
3	53	6	“Você se sentir bem, seu bem-estar físico e interior. Você sentindo bem no seu interior, a sua saúde vai. Não adianta você cuidar só da sua aparência e esquecer do seu interior. Você estando bem consigo mesmo, você... tudo bem que tem a parte que você tem que tratar da saúde, a parte clínica vai. É um conjunto, se a tua parte clínica tiver boa, se o emocional tiver bom, você tem saúde”
4	38	5	“Saúde é aquilo que te faz bem, tanto físico como emocional. Então você poder caminhar sem dor, poder subir uma escada sem dor, porque o seu corpo já está previamente preparado para isso, condicionado que seja pela dança, é saúde”
5	35	3	“É você estar bem fisicamente, mentalmente, com qualidade de vida né. É você estar bem. Tendo os exames em dia, não ter alterações nos seus exames de sangue, para mim isso é saúde”
6	64	8	“É você estar bem com o seu corpo, você saber o que está errado e o que está certo. A partir do momento que tu estou dançando e não estou sentindo nada, é sinal que eu estou bem de saúde, do meu ponto de vista”
7	61	6	“Saúde é você se sentir bem, não ter dores, eu tenho um problema de artrose no joelho, mas a dança não me atrapalha, não me impede, por isso que eu uso o tênis da dança para não ter aquele problema de ficar prendendo o pé, por conta das articulações”
8	44	1	“Saúde é bem-estar”
9	36	3	“Saúde eu acho que é nosso bem-estar, a maneira como a gente se sente, como nós estamos levando a vida. Acho que é isso”
10	47	8	“Saúde para mim é você estar bem não só fisicamente, mas com a sua cabeça em paz e no equilíbrio. Conseguir esse bem-estar, eu considero como saúde”
11	41	5	“É mental também, psicológico, porque hoje em dia quando você não está bem psicologicamente, tudo vem à tona. Então para mim saúde é muita coisa. Tudo para mim é, se eu vou comer eu me preocupo com a saúde, se eu não estou bem, estou muito estressada, ataca minha saúde. Então, eu acho que são coisas muito ligadas”
12	43	3	“Saúde é mente e corpo. A saúde, ela é um conjunto: eu defino corpo são, mente sã. Exatamente essa frase que define saúde para mim. Então, eu estando com a minha mente sã, eu consigo transportar isso pro meu corpo”
13	47	5	“[...]é você ter disposição [...]é exatamente disposição para fazer, você realizar suas atividades, você realmente ter uma vida equilibrada porque isso acaba refletindo na tua saúde física, mental, espiritual, eu acho que a saúde para mim é isso... É você ter equilíbrio nas suas emoções”
14	58	5	“Saúde é tudo. Você ter disposição para fazer as coisas, fazer uma dança, um trabalho, uma caminhada”
15	31	2	“Saúde para mim é você ter qualidade de vida, você conseguir fazer as coisas do dia a dia, sem se cansar, ou ter algum tipo de limitação e ter os exames em dia né. Não ter problemas com pressão, colesterol, essas coisas. E conseguir viver a vida assim bem, até um pouco acima do peso ou não, mas conseguir levar a vida de uma forma normal, tendo pique pro dia a dia”

V: identificação da voluntária; ID: idade da voluntária; 

EZ (em anos): experiência na Zumba. Fonte: Dados da pesquisa.

 

V	ID	EZ	Resposta
16	49	2,5	“Olha, saúde para mim é o seguinte: eu levanto bem, faço uma alimentação super balanceada, minha alimentação é muito balanceada. Eu não como frituras e todas as minhas taxas, estão todas em dia. Para minha idade, eu acredito que eu estou no ápice da minha saúde. Nunca estive tão bem. Passei por três partos e eu mantenho o meu peso há 20 anos, o mesmo peso há 20 anos. Então eu acho que a saúde para mim é o mais importante. Mantenho uma alimentação regrada, mais a dança [...] então eu acho que é o equilíbrio perfeito”
17	52	6	“Saúde é você manter seu corpo, a sua mente bem, porque a dança me proporciona uma mente muito boa e um corpo também. Então ter saúde é você se manter numa atividade física, você se alimentar bem, e tudo isso contribuir. Um corpo que não tem problemas metabólicos. A saúde é o corpo físico principalmente. E a dança, a atividade física é o que proporciona isso. É um conjunto que ajuda a equilibrar. Saúde é você além de estar bem consigo mesma”
18	47	1	“Saúde eu acho que é isso, resistência, é o que me faltava”
19	43	5	“Para mim saúde é assim, a gente tem que se cuidar. Saúde é importante, a gente tem que se cuidar, manter o peso, evitar comer muitos doces, mas isso eu não evito na verdade porque eu gosto de comer mesmo. Mas faço Zumba para saúde porque eu acho que faz bem”
20	64	6	“É o essencial. É o essencial para envelhecer com qualidade de vida. Isso também foi um dos objetivos de eu procurar esse exercício, a Zumba, e depois pensar em ter outros complementares”

V: identificação da voluntária; ID: idade da voluntária; 

EZ (em anos): experiência na Zumba. Fonte: Dados da pesquisa

 

    Sobre a relação entre Zumba e saúde todas voluntárias responderam positivamente. Ao justificarem a existência dessa relação,as respostas puderam ser interpretadas em três categorias de análise, quais são:

1. Melhora na parte física e mental (Quadro 3): evidenciaram a melhora no condicionamento físico, quadro clínico de saúde, relaxamento, disposição corporal e mental, emagrecimento, melhora de hábitos alimentares e a desenvoltura na dança;

2. Percepção de cuidados consigo própria (Quadro 4): colocaram-se de modo muito subjetivo, considerando terem maior sensibilidade, menor desinibição, revigoramento e autoconfiança. Também relacionaram a melhora na questão do humor e de se sentirem mais bonitas;

3. Bem-estar (Quadro 5): expuseram os benefícios quanto à condição física, revigoramento, relaxamento, alegria e os resultados positivos em exames clínicos.

V	ID	EZ	Respostas
2	40	1	“Com certeza tem, é uma atividade física tão importante quanto outras. Quanto um esporte, como uma dinâmica mais rápida, como qualquer outra modalidade”
4	38	5	“Sim, bem coerente essa relação. Sim, melhorou tanto minha saúde física quanto emocional. Eu passei por um pequeno processo de depressão e me ajudou muito, a eu evoluir, não precisei de medicação para sair disso, emagreci vinte quilos com saúde e enfim, hoje eu não consigo ficar sem dançar”
5	35	3	“[...] quando eu faço meus exames sempre está tudo bem. Então eu acho que com qualidade de vida, com certeza tem relação para minha saúde física e mental. Eu melhorei a questão física, questão de movimento com o corpo mesmo né, respiração, me senti bem mesmo. Com a cabeça também, parece que você esquece dos problemas na hora que você está dançando”
7	61	6	“Eu acho que o lance do emagrecimento também, e da saúde de uma maneira geral. E acho que uma coisa puxa a outra, aí comecei a fazer a Zumba e comecei a cuidar melhor da minha alimentação também, mudei bem a minha alimentação. Ah, e claro, o condicionamento”
8	44	1	“Hoje eu sou uma pessoa totalmente diferente, sou uma pessoa com mais disposição... em termos físicos tá. E até mesmo para minha saúde em si, em termos da perda de peso, me auxiliou em uma série de situações para minha vida e para minha saúde”
11	41	5	“Em primeiro lugar, quando você faz uma atividade física, você queima calorias [...] você perde peso ou você ganha massa magra, músculo. Então, aí você tá bem. Que nem eu, no meu caso, eu tô diabética, então a atividade física, a Zumba fez com que os níveis de glicose ficassem na medida que tem que estar”
12	43	3	“É saúde, porque [...] a gente tem um grupo de amizade muito legal e isso libera coisa legal de química, de felicidade, alegrias, a gente ri, a gente dança, a gente transpira, libera sais, é todo um conjunto. Não só do movimento do corpo, mas sim para a mente”
13	47	5	“Melhora todo um quadro clínico [...] os exames laboratoriais por exemplo, ela tem uma melhora significativa na questão de pressão, açúcar [...] ela melhora a questão física em relação ao emagrecimento. Na questão emocional, ela tem um peso significativo também nessa questão do humor, da autoconfiança”
16	49	2,5	“Acho que só contribuiu para minha saúde física e mental. Eu acho assim, todo mundo devia praticar, porque não só melhora a sua qualidade emocional como a sua parte física”
18	47	1	“Existe muita relação, saúde mental, saúde física, faz bem pro físico, faz bem para respiração, para resistência, pros músculos também”
19	43	5	“Eu acho que tem relação, lógico. Eu acho que mexe o corpo, é atividade física, eu acho que faz bem pro corpo e para alma na verdade. Eu acho que Zumba junta essas duas coisas, para o psicológico e para o físico”

V: identificação da voluntária; ID: idade da voluntária; 

EZ (em anos): experiência na Zumba. Fonte: Dados da pesquisa

 

V	ID	EZ	Resposta
1	66	8	“Da própria pessoa tendo mais sensibilidade para com as outras pessoas, você se sente bonita, se sente agradável, e a gente se percebe mais[...] te dá outras vertentes, como muitas amizades, pessoas que se achegam mais perto de você, você se sente desinibida”
9	36	3	“[...] se você começa, se você inicia uma atividade física que você gosta, que você se identifica, que é no meu caso a Zumba, você vai querer melhorar sempre, e isso também está interligado a alimentação, a você ficar bem na saúde”
14	58	5	“Eu acho que é por isso que a Zumba me ajudou a melhorar meu estado de saúde”
15	31	2	“Porque as vezes a pessoa sai do sedentarismo pela dança, pela Zumba, vou falar assim, que é mais agradável de fazer do que outros tipos de exercício. Envolve também diversão, envolve saúde e isso faz com que a pessoa continue [...] e isso com certeza a longo prazo tem relação com saúde sim”
20	64	6	“[...] partir do momento que eu sinto que o meu corpo tá envelhecendo, minha musculatura tá envelhecendo, até o exercício mental de decorar a coreografia, tudo isso faz com que eu tenha uma qualidade de vida. E eu percebi que pessoas na minha idade caem com facilidade, hoje o meu reflexo já é outro. Eu já tenho reflexo por conta de que na Zumba, a gente vai para frente, vai para trás, gira. Isso tudo faz com que eu tenha saúde, uma qualidade, não é?”

V: identificação da voluntária; ID: idade da voluntária; 

EZ (em anos): experiência na Zumba. Fonte: Dados da pesquisa

 

V	ID	EZ	Resposta
3	53	6	“É bom fazer qualquer atividade física, inclusive a Zumba para se jogar mesmo [...] Eu acho que tanto a Zumba quanto o esporte são para isso, são para você ter a determinação. Você vai se fortalecendo”
6	64	8	“É uma terapia para mim. Eu me desligo. [...] Tudo que refere assim em dança, agito, eu gosto, eu me sinto bem [...] O bem-estar é um dos benefícios maiores para minha saúde”
10	47	8	“Mas quando eu começo a fazer aula, eu revigoro totalmente, eu saio de lá outra pessoa, como se nada daquilo que eu tivesse sentindo [...] é um momento de troca de energia, momento de você extravasar e, sei lá, é muito bom”
17	52	6	“Foi a injeção de energia. De repente você arruma vinte pessoas de uma vez na dança, porque acaba tendo uma relação [...] você acaba tendo mais afinidade com um do que com outro, mas ali ajudou bastante porque cada um conta seus problemas, daí você vê que não é só você que tem problemas. Eu conheci inclusive na dança, pessoas que tiveram o mesmo problema que eu, e eu vi que estavam bem, então foi um incentivo”

V: identificação da voluntária; ID: idade da voluntária; 

EZ (em anos): experiência na Zumba. Fonte: Dados da pesquisa

 

Discussão 

 

    A prática da Zumba revelou que, para as mulheres deste estudo, os significados de saúde estão relacionados ao cuidar de si. Para Pich (2016), as práticas corporais são uma esfera do cuidar de si. O cuidado de si é inerente da ação perante o outro e tem origem na complexidade das relações, entendendo que, o sujeito só pode reconhecer-se mediante outro sujeito. (Liberman, Lima, Maximino, e Carvalho, 2017)

 

    Nos relatos,foi observado que a percepção das voluntárias esteve atrelada às mudanças significativas em sua rotina, adotando melhora de hábitos alimentares, alegria, disposição, sociabilidade e integração ao grupo social. Tais evidências se aproximam das ideias de Pich (2016), para o qual o sujeito coincide com a verdade do seu corpo.

 

    Os dados corroboram com Triana, Isidori, e Perea (2023), para as quais a prática de dança possui efeitos benéficos ligados à melhoria da saúde integral ao longo de toda a vida. As autoras afirmam ainda que se trata de uma prática adaptável e apropriada a todas as faixas-etárias, não havendo contraindicação. Assim, não se aplicando somente a vida cotidiana, mas também em cenários de atuação profissional. Como exemplo, no estudo de Caballero, Sánchez, Martínez, e Ramírez (2021), médicos residentes em Pediatria com Síndrome de Burnout melhoraram seu bem-estar no trabalho após intervenção com Zumba durante 10 semanas (frequência de 2 horas semanais).

 

    De acordo com Mallmann, e Barreto (2004), a experiência de dançar possibilita também o estímulo à inteligência e colabora de modo benéfico com o corpo do sujeito. Marbá, Silva, e Guimarães (2016) entendem que, por meio da dança, há pressupostos que vão além do exercício físico, pois nessa prática corporal, há elementos que colaboram para as relações humanas e sociais.

 

    No caso das voluntárias deste estudo, a disposição e o bem-estar se sobrepujaram às questões relacionadas ao corpo físico, embora não tenha sido um elemento dispensável. Para elas é muito importante ter disposição para executar suas tarefas diárias, seu trabalho, a atividade física e outras ações, sem se sentirem cansadas, nem apresentarem limitações diante disso, sem dores e com autosatisfação em seu cotidiano. Também houve alinhamento com a percepção de se sentirem mais bonitas, alegres e desinibidas em relação à prática corporal. De certo, a dança fez parte desse processo, no qual elas tomaram consciência do que são capazes de fazer por si mesmas. Essa colocação é elucidada pelas voluntárias quando se manifestam sobre a vivência nessa prática.

 

    Schwengber (2009) entende que as práticas corporais contemporâneas não se enquadram a mera ação de dar contornos físicos e promover habilidades, mas sobretudo, como substanciais nos processos de produções identitárias na constituição dos sujeitos. Nesse sentido, também foi evidenciada a sociabilidade e o modo como a convivência com outras mulheres foi benéfica, fortalecendo o que afirmou Carvalho (2006), ao se referir à práticas corporais como eixo de ação, construção e fortalecimento dos vínculos sociais. Além disso, nas experiências vividas através das práticas e no reconhecimento de outros modos de viver, é possível se perceber no ambiente, se conhecer, fazer e se sentir melhor sobre o que nos afeta e afeta os outros (Carvalho, e Mendes, 2019). Ademais, foi possível observar que o convívio social relatado pelas praticantes de Zumba, principalmente no período após a sua aposentadoria, possibilitou-as estabelecer novas relações de amizade, que lhes geraram bem-estar e propiciaram benefícios para sua saúde mental.

 

    Apesar deste estudo não se apropriar das questões envoltas às pessoas idosas, para Garcia, Glitz, Cestaro, Paz, Dias, e Braz (2009), por meio da dança é possível que as pessoas nessa faixa etária retomem suas ações e se desvinculem de certo isolamento em decorrência da aposentadoria, o que contribui para sua independência social, melhorando sua condição de modo geral em reflexo à sua saúde.Assim, é possível ampliar a compreensão para os benefícios à saúde física, notado em Pérez, Tejero, Pérez, Guerrero, e Pérez (2020), que trabalharam a zumba com um grupo de idosos não institucionalizados e concluíram que o programa contribuiu para o aumento da força, flexibilidade e nível de atividade física dessas pessoas.

 

    Nesse contexto, os resultados se alinham à Paiva, Franco, e Coelho Filho (2023), que, ao investigarem os significados das danças de salão para seus praticantes, incluindo a Zumba, encontraram menções às capacidades físicas, momento de prazer, terapia, diversão e socialização, bem como o estudo de Barranco-Ruiz, Paz-Viteri, e Villa-González (2020), que encontraram benefícios significativos à qualidade de vida de mulheres sedentárias após intervenção com zumba.

 

Conclusão 

 

    Neste estudo, as mulheres praticantes de Zumba revelaram significados de saúde associados ao cuidado de si. A prática da dança lhes oportunizou a experiência do contato, a inserção num grupo e tempo de sociabilidade que, estas também consideraram relevantes quanto aos benefícios de sua saúde.

 

    Nessa esteira, pode-se compreender que a Zumba pode ser uma modalidade de dança que contemple características que agreguem e possibilitem o desenvolvimento de novas relações sociais, bem-estar e melhora da saúde, que, concebida de forma ampla, se atenta as mais diversas demandas e necessidades das pessoas viverem bem o seu cotidiano.

 

    Desse modo, infere-se que o universo das práticas corporais é grávido de significados mais amplos, sendo esta, uma pista a ser investigada no horizonte de outras práticas e espaços.

 

Referências 

 

Abbagnano, N. (2007). Dicionário de Filosofia (5ª ed.). Editora Martins Fontes.

 

Barranco-Ruiz, Y., e Villa-González, E. (2020). Health-related physical fitness benefits in sedentary women employees after an exercise intervention with zumba fitness®. International Journal Environmental Research and Public Health, 17(8), 2632. https://doi.org/10.3390/ijerph17082632

 

Barranco-Ruiz, Y., Paz-Viteri, e Villa-González, E. (2020). Dance Fitness Classes Improve the Health-Related Quality of Life in Sedentary Women. International Journal Environmental Research and Public Health, 17(11), 3771. https://doi.org/10.3390/ijerph17113771

 

Caballero, Z.E.C., Sánchez, L.E.G., Martínez, G.J., e Ramírez, M.N.M. (2021). Implementación de una actividad física en residentes de pediatría y síndrome de Burnout. Pediatria, 48(1), 31-36. https://doi.org/10.31698/ped.48012021006

 

Campos, J.G.C. (2004). Método de análise de conteúdo: ferramenta para a análise de dados qualitativos no campo da saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, 5(57), 611-614. https://doi.org/10.1590/S0034-71672004000500019

 

Carvalho, Y.M. (2006). Promoção da saúde, práticas corporais e atenção básica. Revista Saúde Família, 2(7), 33-45. https://repositorio.usp.br/item/002297931

 

Carvalho, Y.M., e Mendes, V.M. (2019). Corpo & Cuidado. Hucitec Editora.

 

De Nadai, C.C. (2011). Modos organizativos em dança: designs que se materializam enquanto o corpo dança. Revista Científica/FAP, 7(1), 153-166. https://doi.org/10.33871/19805071.2011.7.1.1533

 

Domene, P.A., Moir, H.J., Pummell, E., e Easton, C. (2016). Salsa dance and Zumba fitness: acute responses during community-based classes. Journal of Sport and Health Science, 5(2),190-196. https://doi.org/10.1016/j.jshs.2015.04.004

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 304, Sep. (2023)