ISSN 1514-3465
Efeito dos exercícios hipopressivos em mulheres com diástase abdominal
Effect of Hypopressive Exercises in Women with Abdominal Diastasis
Efecto de los ejercicios hipopresivos en mujeres con diástasis abdominal
Oriele Maria Meurer
*orielem@gmail.com
Patrícia Steinbrener
*patricia_steinbrener@hotmail.com
Matheus Gonçalves Cavassin
**matheuscavassin@gmail.com
Luciara Nunes Severo
+luseveroedfis@yahoo.com.br
Débora Tavares de Resende e Silva
++debora.silva@uffs.edu.br
Josiano Guilherme Puhle
+++josiano.guilherme@unoesc.edu.br
*Graduada em Educação Física
pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC)
São Miguel do Oeste/SC
**Discente do curso de Enfermagem
da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
Chapecó/SC
+Mestre em Ensino em Saúde
Docente da UNOESC
++Doutora em Ciências (Patologia Geral)
Docente da UFFS
+++Mestre em Ciências Biomédicas
Docente da UNOESC
(Brasil)
Recepção: 01/05/2023 - Aceitação: 27/11/2023
1ª Revisão: 2310/2023 - 2ª Revisão: 22/11/2023
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Citação sugerida
: Meurer, O.M., Steinbrener, P., Cavassin, M.G., Severo, L.N., Silva, D.T. de R. e, e Puhle, J.G. (2023). Efeito do método hipopressivo em mulheres com diástase abdominal. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(307), 84-97. https://doi.org/10.46642/efd.v28i307.4024
Resumo
A diástase dos músculos reto abdominais (DMRA) gera disfunções posturais no pré e pós parto, bem como fraqueza muscular na região endopélvica e outras condições de saúde que afetam no curto ou longo prazo a qualidade de vida das mulheres. Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar os efeitos dos Exercícios Hipopressivos (EH) sobre a DMRA de mulheres. Este estudo possui uma abordagem quantitativa, de caráter descritivo e comparativo, foi composto por 11 mulheres, com idade média de 34,27±6,60 anos, diagnosticadas com diástase abdominal pós-parto e praticantes dos EH há pelo menos 3 meses. As diferenças estatísticas entre os conjuntos de valores dos diferentes tratamentos foram determinadas usando o Teste T de Student, juntamente com o Teste D de Cohen. O software utilizado para as análises foi o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) Constatou-se a redução de medidas abdominais, nas regiões supra umbilical (79,55±9,23 - 75,55±8,82, p<0,001 – d=0,443), umbilical (86,73±9,65 - 81,18±9,74, p=0,001 – d=0,572) e infra umbilical (86,73±9,65 - 81,18±9,74, p=0,002 – d=0,457). Também foi possível evidenciar diminuição referente a distância entre os múculos reto abdominais, nas regiões supra umbilical (3,54±1,47 - 2,55±1,24, p=0,045 – d=0,728), umbilical (4,45±1,50 - 2,81±1,10, p=0,002 – d=1,246) e infra umbilical (3,86±1,34 - 2,91±1,38, p=0,050 – d=0,698). Conclui-se que os EH são eficazes na redução de medidas abdominais, bem como para o fechamento da diástase abdominal. Os profissionais de Educação Física necessitam conhecer o método atuando na prevenção, diagnóstico e tratamento da DMRA.
Unitermos:
Gravidez. Ginástica Hipopressiva. Diástase. Pós-parto.
Abstract
Diastasis of the rectus abdominis muscles (RAMD) generates postural dysfunctions in the pre- and postpartum period, as well as muscle weakness in the endopelvic region and other health conditions that affect women's quality of life in the short or long term. In this context, the present study aimed to evaluate the effects of Hypopressive Exercises (HE) on DMRA in women. This study has a quantitative approach, of a descriptive and comparative nature, it was composed of 11 women, with an average age of 34.27±6.60 years, diagnosed with postpartum abdominal diastasis and practicing EH for at least 3 months. Statistical differences between sets of values from different treatments were determined using Student's T Test, together with Cohen's D Test. The software used for the analyzes was the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). A reduction in abdominal measurements was noted in the supra umbilical regions (79.55±9.23 - 75.55±8.82, p<0.001 – d=0.443), umbilical (86.73±9.65 - 81.18±9.74, p=0.001 – d=0.572) and infra umbilical (86.73±9.65 - 81.18±9.74, p=0.002 – d=0.457). It was also possible to evidence a decrease in the distance between the rectus abdominis muscles, in the supra umbilical (3.54±1.47 - 2.55±1.24, p=0.045 – d=0.728), umbilical (4.45± 1.50 - 2.81±1.10, p=0.002 – d=1.246) and infra umbilical (3.86±1.34 - 2.91±1.38, p=0.050 – d=0.698). It is concluded that EH are effective in reducing abdominal measurements, as well as closing abdominal diastasis. Physical Education professionals need to know the method used to prevent, diagnose and treat DMRA.
Keywords:
Pregnancy. Hypopressive Gymnastics. Diastasis. Postpartum.
Resumen
La diástasis de los músculos rectos del abdomen (RAMD) genera disfunciones posturales en el pre y posparto, así como debilidad muscular en la región endopélvica y otras condiciones de salud que afectan la calidad de vida de la mujer a corto o largo plazo. En este contexto, el presente estudio tuvo como objetivo evaluar los efectos de los ejercicios hipopresivos (HE) sobre DMRA en mujeres. Tiene un enfoque cuantitativo, de carácter descriptivo y comparativo, compuesto por 11 mujeres, con edad promedio de 34,27±6,60 años, diagnosticadas con diástasis abdominal posparto y practicando HE desde hace mínimo 3 meses. Las diferencias estadísticas entre conjuntos de valores de diferentes tratamientos se determinaron mediante la Prueba T de Student, junto con la Prueba D de Cohen. El software utilizado para los análisis fue el Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), se observó una reducción en las medidas abdominales en las regiones supra umbilicales (79,55±9,23 - 75,55±8,82, p<0,001 – d=0,443), umbilical ( 86,73±9,65 - 81,18±9,74, p=0,001 – d=0,572) e infraumbilical (86,73±9,65 - 81,18±9, 74, p=0,002 – d=0,457). También se pudo evidenciar una disminución en la distancia entre los músculos rectos del abdomen, en el supraumbilical (3,54±1,47 - 2,55±1,24, p=0,045 – d=0,728), umbilical (4,45±1,50 - 2,81±1,10, p =0,002 – d=1,246) e infraumbilical (3.86±1.34 - 2.91±1.38, p=0,050 – d=0,698). Se concluye que los HE son efectivos para reducir las medidas abdominales, así como para cerrar la diástasis abdominal. Los profesionales de la Educación Física necesitan conocer el método utilizado para prevenir, diagnosticar y tratar la DMRA.
Palabras clave:
Embarazo. Gimnasia Hipopresiva. Diástasis. Posparto.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 307, Dic. (2023)
Introdução
A diástase do músculos reto abdominais (DMRA) acomete a linha alba, região central do abdômen, a qual separa os músculos reto abdominais. A linha alba é composta de tecido conjuntivo (aponeurose) advinda dos músculos reto abdominais. Ela origina-se no processo xifóide, passa pela frente do abdome, e insere-se no púbis, porção inferior. (Pitangui et al., 2016a)
Os músculos da região abdominal desempenham importante papel para a estabilidade do tronco, funções importantes para a postura e pelve, junto a um conjunto de músculos que envolvem o core. Nesse sentido, a DMRA, pode acarretar disfunções posturais como lombalgias durante o período gravídico, bem como após o parto. Ainda, a DMRA pode ocasionar fraqueza dos músculos pélvicos, diminuição da autoestima e condições de saúde das mulheres durante e após o período gestacional, podendo no médio e longo prazo, afetarem a sua qualidade de vida. (Pitangui et al., 2016a; Teixeira et al., 2021)
Mulheres são o público mais afetado pela diástase, visto que os casos mais ocorrentes são durante o período gestacional. Cerca de 20 centímetros (cm) dos retos abdominais sofrem um estiramento extremo a partir do terceiro mês de gestação, provocando a diástase dos retos abdominais. Cerca de 66% a 78,3% das mulheres sofrem DMRAdurante a gravidez. Estudos apontam a diástase como patologia a partir de 1 cm para região supra umbilical, 2,7 cm para região umbilical e 0,9 cm para região infraumbilical. (Rodrigues et al., 2021)
Não apenas a força muscular está associada aos desvios posturais, bem como a saúde emocional como uma aliada nesse processo. Pessoas ansiosas, estressadas ou em situações de abalo emocional tendem a gerar uma resposta sensorial negativa, refletindo nas funções motoras e consequentemente na sua postura (Sanz Riestra, 2021). Complementando que “o controle postural depende das informações sensoriais disponíveis para que ações motoras sejam desencadeadas”. (Moreira et al., 2013, p. 1)
Um método de exercícios bastante comentado na atualidade, mas que ainda é desconhecido por muitos profissionais da área da saúde para a melhora da diástase abdominal é o Método Hipopressivo (MH), também comhecido como Exercícios Hipopressivos (EH) (Schuster et al., 2011; Sanz Riestra, 2021). O MH foidesenvolvido na década de 1980 por Marcel Caufriez, com o intuito de promover o fortalecimento da musculatura abdominal e do assoalho pélvico no período pós-parto. Por meio de técnicas posturais e sistêmicas, envolve a ativação de diversos grupos musculares antagonistas ao diafragma, melhorando sua ativação muscular, exercendo importante função na diminuição da pressão intratorácica e intra-abdominal. (Franchi, e Rahmeier, 2016)
Com a prática dos EH, gera-se uma pressão negativa na cavidade abdominal através da aspiração diafragmática e abertura das costelas inferiores, ocorrendo uma ativação muscular juntamente com a fáscia abdominal, conectada também à fáscia endopélvica, diferente dos exercícios abdominais tradicionais, queocasionam aumento da pressão intra-abdominal, podendo aumentar a diástase ou causar prejuízos a região perineal (Franchi e Rahmeier, 2016). Neste sentido, percebendo os benefícios da prática do método, o presente estudo teve como objetivo avaliar os efeitos dos EH sobre a DMRA de mulheres.
Metodologia
Amostra e população
Este estudo possui abordagem quantitativa, de caráter descritivo e comparativo. É composto por 11 mulheres, com média de idade em 34,27±6,60 anos, diagnosticadas com DMRA e praticantes dos EH há pelo menos 3 meses, provenientes do Estúdio Epro Diástase, sito à Avenida Sul Brasil, Edifício Policlínica, sala 402, no Município de Maravilha - Santa Catarina, sob responsabilidade técnica da Profissional de Educação Física Patrícia Steinbrener, CREF nº 031535-G/SC.Vale ressaltar que todas as participantes da pesquisa, no momento de início dos EH já haviam saído do período puerpério, ou seja, todas as mulheres iniciaram os EH 8 semanas após o seu parto.
Coleta de dados
O presente estudo possuí aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Oeste de Santa Catarina (CAAE nº 71010223.0.0000.5367). Inicialmente entrou-se em contato com a responsável pelo Estúdio Epro Diástase, a Profissional de Educação Física Patrícia Steinbrener, para explicar o intuito da pesquisa. Após isto, a profissional citada entrou em contato com suas pacientes praticantes do método hipopressivo online, levantando nomes e interessadas em participar do estudo. Na sequência, com os Termos de Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE) assinados, após o aceite foram coletados os dados das fichas de avaliação das pacientes, com seus dados pessoais e medidas, onde obteve-se as informações necessárias para a realização da pesquisa.
Destaca-se que, assim como a aplicação do método, a coleta dos dados pessoais, bem como a realização das avaliações referentes a diástase abdominal, com medidas e testes de competência perineal e abdominal foram todas coletadas pela Profissional de Educação Física Patrícia Steinbrener, a qual é Especialista em diástase abdominal e licenciada para a aplicação do método pela escola Hipopressivo Brasil.
Análise antropométrica
A coleta das medidas abdominais foram coletadas pela profissional Patrícia Steinbrener antes das alunas iniciarem a prática do método, bem como a realização da avaliação de diástase abdominal, competência e funcionalidade abdominal e perineal. A medida de perimetria supra e infra umbilical foi realizada três dedos acima e abaixo da cicatriz umbilical (4,5 cm), a medida umbilical na linha do umbigo. Estimou-se o valor de 1,5 cm para cada dedo. (Pitangui et al 2016b)
Análise da diástase, competência e funcionalidade abdominal
Para a avaliação da diástase dos músculos reto abdominais foi utilizado o protocolo de polpas digitais. Nele, pede-se para a avaliada deitar em decúbito dorsal e elevar o tronco até que as espinhas das escápulas fiquem fora do solo, facilitando a análise da linha alba do abdômen. Utilizando-se do método de palpação a avaliadora mensura o afastamento dos músculos reto abdominais, medindo com o com o paquímetro (Tramontina®) 150 mm e acurácia de 0,05 mm, nas regiões supra umbilical, infra umbilical e umbilical. Considera-se a presença de diástase se a distância for superior a 3 cm. (Pitangui et al 2016b)
Para a avaliação de competência abdominal, na mesma posição, pede-se para a paciente colocar uma das mãos logo abaixo do umbigo e realizar uma tosse seca. Observa-se se o seu abdômen se contrai ou se eleva durante a expiração (tosse), classificando-o em competente ou incompetente. Foram 3 oportunidades para ver se o dedo subia mais e quanto. Se não subir na expiração (tosse) é competente, se subir é classificado como incompetente, ou seja, a cintura abdominal não está funcionando corretamente, contendo a pressão gerada pela tosse, e vice-versa. (Chicaiza, Areválo, e Ninabanda, 2016)
Para o teste de funcionalidade da parede abdominal, coloca-se novamente os dedos na linha alba (entre os músculos reto abdominais) e solicita-se que o indivíduo eleve a cabeça. Se nesse movimento a parede abdominal não expulsar os dedos para fora ou o movimento for mínimo, considera-se uma parede funcional. Se expulsava os dedos é avaliada como não funcional, ou seja, a pressão abdominal interna não é contida pela linha alba. (Rial, 2015)
Para o teste da competência perineal avaliou-se se o pavimento pélvico era competente antes de um esforço. Solicita-se à paciente que esteja com atenção ao seu pavimento pélvico, especificamente ao seu ânus e que realize uma tosse seca. Questiona-se se a pessoa percebe que se eleva, desce ou não percebeu nada no pavimento pélvico. Realizam-se três repetições com pausas entre elas de alguns segundos para assegurar a tomada de consciência. Se a paciente relatar que se eleva, anota-se na ficha de avaliação que é competente, se descer registra-se que não é competente. A posição para avaliação destes testes foi padronizada em decúbito dorsal, braços relaxados e ao lado do corpo, joelhos flexionados e pés apoiados no chão. (Rial, 2015; Chicaiza, Areválo, e Ninabanda, 2016)
Protocolo de Intervenção
Seguindo o protocolo citado por Rial, e Pinsach (2012), o método aplicado pela profissional de Educação Física Patrícia Steinbrener ocorreu de maneira online, modalidade que ela adota na maioria dos seus atendimentos, porém a análise antropométrica e avaliação funcional destas alunas foram presenciais. Essas aulas ocorreram uma vez na semana, com duração de 30 minutos e intervenções diárias de 5 minutos durante 6 dias, totalizando 60 minutos de atividades semanais, durante uma média de 3,27±1,14 meses. Os 5 minutos diários eram de responsabilidade de cada aluna praticar em casa, orientadas a praticar determinadas posturas, preferencialmente em jejum e com a bexiga vazia, para melhor realização do método.
As aulas ficavam gravadas para que as alunas pudessem rever os comandos e posturas posterior a aula online. Como forma de cobrar a aplicação da técnica e obter resultados consideráveis, a profissional solicitava uma espécie de “tema de casa” para suas alunas, onde deveriam fazer um vídeo realizando o método. Estes vídeos também serviam para a profissional avaliar a evolução das alunas e/ou realizar correções. A cada dois meses, aproximadamente, foram coletadas novas medidas das alunas e realizado novo registro fotográfico, permitindo avaliar a evolução.
O protocolo dos EH trabalha a respiração na sua forma correta, utilizando a região torácica na inalação e exalação do ar, mantendo a coluna em crescimento axial (para frente e para cima). Com a prática da técnica, tende-se a desenvolver uma postura mais ereta e a respirar corretamente, expandindo o tórax e não o abdômen. (Scarpelini et al., 2014)
Também, com a execução da aspiração (vacum) abdominal, trabalha-se a liberação do diafragma, provocando uma diminuição da pressão intra-abdominal. A aspiração diafragmática deve ser executada após uma inalação e uma exalação completa, seguida de apneia, sendo assim, as vísceras são “sugadas” para trás e para cima, assim como a pelve e os órgãos que a compõem. Com a prática executada corretamente, gera-se o fortalecimento da região lombar, abdominal, pélvica e da bacia, visto que a respiração é controlada, a postura deve ser mantida e os músculos de regiões específicas são ativados em momentos distintos. (Scarpelini et al., 2014)
O protocolo foi composto por 12 posições realizadas em sequência, onde cada praticante ficava em média 30 segundos em cada, conforme Imagem 1.
Análise estatística
As diferenças estatísticas entre os conjuntos de valores do antes e depois dos EHforam determinadas usando o Teste T de Student para amostras dependentes e posteiormente foi realizada a análise de tamanho de efeito por meio do Teste de D de Cohen.Também foi utilizada a análise descritiva para os componentes categóricos. O software utilizado para as análises foi o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).
Resultados e discussão
A pesquisa contou com a participação de 11 mulheres, na qual a média de idade foi de 34,27±6,60 anos. Com relação à diástase abdominal, a distância entre os retos abdominais foi dada em centímetros (cm), onde a média entre elas na avaliação pré protocolo dos EH ficou em 4,45±1,50 cm, o que caracteriza a existência de diástase abdominal.
Foi possível averiguar a caracterização gestacional, a funcionalidade abdominal, e a perimetria abdominal, conforme tabelas a seguir, bem como a média em centímetros da diástase abdominal das mulheres no pré protocolo de intervenção.
Tabela 1. Caracterização Gestacional
Nº
de Gestações |
Porcentagem
(%) |
Amostra
(n) |
1 |
18,18 |
2 |
2 |
54,55 |
6 |
3 |
27,27 |
3 |
Tipo
de Parto |
||
Cesariana |
84,62 |
11 |
Normal |
15,38 |
2 |
Nota: Dados expressos em média, número (n) e porcentagem (%). Fonte: Dados de pesquisa
Dentre as mulheres do estudo, mais da metade (54,55%) vivenciaram duas gestações e todas passaram por cirurgia de cesariana (84,62%), sendo que duas delas também tiveram a experiência do parto normal (15,38%). Dados que revelam a gestação como principal causa para a diástase abdominal, indo de encontro com os achados de Juez e autores (2019).
Tabela 2. Avaliação Funcional
Caracterização |
Porcentagem
(%) |
Amostra
(n) |
Competência
Perineal SOBE |
100 |
11 |
Competência
Abdominal EMPURRA |
100 |
11 |
Tipo
de Diástase |
||
Supra
Umbilical |
19,05 |
4 |
Umbilical |
52,38 |
11 |
Infra
Umbilical |
28,57 |
6 |
Função |
||
Funcional |
90,91 |
10 |
Disfuncional |
9,09 |
1 |
Nota: Dados expressos em média, número (n) e porcentagem (%). Fonte: Dados de pesquisa
Com relação à competência perineal, todas as mulheres (100%) apresentaram controle muscular de períneo ao realizar o teste de sentar e tossir, onde sentiram a região subir e não descer ao realizarem o teste. Por outro lado, no teste de competência abdominal todas elas (100%) não mantiveram o controle muscular do abdômen ao realizarem o teste de deitar e tossir, empurrando-o para cima e não mantendo-o neutro ou contraindo.
O tipo de diástase que prevaleceu foi na região umbilical com 52,38% das mulheres, seguida da diástase infra umbilical, com 28,57% das mulheres apresentando afastamento dos retos abdominais nessa região e 19,05% com diástase supra umbilical.
No teste de função abdominal, 90,91% das mulheres apresentaram diástase funcional e 9,09% delas apresentou diástase disfuncional. Neste último caso a disfunção ocorre, pois as fibras musculares entre os retos abdominais se rompem, e com o esforço as vísceras ultrapassam a linha alba e ocorre uma saliência acima da linha central do abdômen, perdendo a função de estabilidade e sustentação das vísceras.
Tabela 3. Medidas de Perimetria Abdominal antes e depois do método hipopressivo
Medida |
Pré
(cm) |
Pós
(cm) |
Significância (p) |
Tamanho
de efeito (d) |
Supra
Umbilical |
79,55±9,23 |
75,55±8,82 |
<0,001 |
0,443 |
Umbilical |
86,73±9,65 |
81,18±9,74 |
0,001 |
0,572 |
Infra
Umbilical |
89,18±9,58 |
84,82±9,50 |
0,002 |
0,457 |
Nota: Dados expressos em média e desvio padrão (±). Nível de significância (p) por meio do
Teste T pareado. Tamanho de efeito (d) por meio do teste D de Cohen. Fonte: Dados de pesquisa
As medidas de perimetria abdominal diminuíram em todas as regiões avaliadas quando comparadas às medidas pré e pós protocolo de intervenção. Na região supra umbilical a redução de medidas foi de 4 cm (79,55±9,23 - 75,55±8,82, p<0,001 – d=0,443). Na linha umbilical, a redução média de medidas chegou a 5 cm (86,73±9,65 - 81,18±9,74, p=0,001 - d=0,572). Por último na região infra umbilical obteve-se redução média de 5 cm de medidas (89,18±9,58 - 84,82±9,50, p=0,002 - d=0,457). Os dados representam diferenças estatísticamente significantes na comparação da médias, concomitantemente à um tamanho de efeito médio, enfatizando a eficácia dos EH para a redução de medidas abdominais.
Tabela 4. Distância entre os músculos reto abdominais antes e depois dos EH
Medida |
Pré (cm) |
Pós (cm) |
Significância (p) |
Tamanho de efeito (d) |
Supra Umbilical |
3,54±1,47 |
2,55±1,24 |
0,045 |
0,728 |
Umbilical |
4,45±1,50 |
2,81±1,10 |
0,002 |
1,246 |
3,86±1,34 |
2,91±1,38 |
0,050 |
0,698 |
Nota: Dados expressos em média e desvio padrão (±). Nível de significância (p) por meio do
Teste T pareado. Tamanho de efeito (d) por meio do teste D de Cohen. Fonte: Dados de pesquisa
Referente a análise da DMRA, foi possível constatar diminuição na distância entre os múculos após os EH, em todas as medidas, a saber: Supra Umbilical (3,54±1,47 - 2,55±1,24, p=0,045 – d=0,728), Umbilical (4,45±1,50 - 2,81±1,10, p=0,002 – d=1,246) e Infra Umbilical (3,86±1,34 - 2,91±1,38, p=0,050 – d=0,698). Os presentes resultados denotam diferença significantiva entre a comparação de todas as médias, porém em relação ao tamanho do efeito conclui-se que as medidas Infra e Supra umbilicais possuem médio efeito, enquanto a medida Umbilical apresenta grande efeito.
Os resultados encontrados mostram que a gestação é um fator bastante influente no aparecimento da diástase abdominalem mulheres, visto que os músculos abdominais e endo pélvicos sofrem uma distensão para acomodar a nova vida que está em desenvolvimento e levar a gestação a termo, como também a forte influência de alterações hormonais durante toda a gravidez (Schuster et al., 2011; Juez et al., 2019; Espíndola, Souza, e Sá, 2021). Por mais que em muitos casos a redução das medidas e da DMRA pode ser atribuída à involução natural que ocorre em uma elevada porcentagem de mulheres no pós-parto (Jiménez et al., 2021) o presente estudo selecionou somente mulheres que haviam saído do período puerpério, justificando ainda mais a eficácia dos EH.
Foi por experienciar a diástase abdominal na vida de muitas mulheres no pós parto e conhecer suas causas e consequências, que Marcel Caufriez desenvolveu na década de 80 o MH , no intuito de diminuir a pressão intra-abdominal e devolver a força muscular da região abdominal e endopélvica de suas pacientes, fugindo dos exercícios abdominais tradicionais, os quais, segundo ele, aumentam a pressão intra-abdominal, visto que a fraqueza muscular faz a mulher empurrar o abdômen e assoalho pélvico, ao invés de contraí-lo ou mantê-lo neutro. (Franchi, e Rahmeier, 2016)
Analisando as medidas corporais das mulheres deste estudo, pode-se observar a redução de medidas abdominais nas linhas supra umbilical (4 cm), umbilical (5 cm) e infra umbilical (5 cm) em um curto prazo (3,27±1,14 meses), enfatizando que os EH é eficaz na redução de medidas de circunferência abdominal. Os benefícios aqui percebidos corroboram com o estudo de Dantas, e Rodrigues (2020), as quais conduziram os EH no puerpério imediato de mulheres com diagnóstico de diástase abdominal. Os resultados mostram os EH como sendo eficiente para a redução de medidas de circunferência abdominal, bem como melhora do tônus muscular e consequente diminuição da diástase abdominal e perimetria.
Ainda, o estudo condizido por Wojcik et al. (2023), referente a utilização dos EH durante 5 semanas, mostra resultados positivos na redução das medidas de circunceferência abdominal de mulheres não atletas, indo de encontro com os achados da presente pesquisa. Porém os mesmos não identificaram diferenças na análise da postura sagital lombo-pélvica, após os EH.
Também foi possível constatar no presente estudo, reduções significativas da DMRA em todas as regiões avaliadas. Corroborando ao resultados, o estudo conduzido por Franchi, e Rahmeier (2016), que submeteram duas puérperas a duas sessões dos EH, no qual obtiveram-se as reduções da DMRA supra e infra umbilical. Os autores destacam ainda que o método é um recurso com custo acessível e fácil de ser praticado, podendo ser executado de forma precoce nas alterações geradas pela gestação e parto.
Arranz-Martín et al. (2022), salientam que embora não tenham sido encontradas diferenças significativas referente a diminuição de medidas ao comparar as distâncias em repouso e durante os EH nos músculos reto abdominais, os EH poderiam melhorar a resposta à tração da linha alba sem aumentar a distância entre os múculos. Porém Jiménez et al. (2021) evidenciaram que em seu programa de EH, com duração de 4 semanas, sendo realizadas 3 sessões por semana, as mulheres apresentaram resultados positivos para a redução da diástase pós-parto, evidenciando e corroborando com os resultados observados na presente pesquisa.
A funcionalidade abdominal é o controle muscular da região abdominal, sendo assim, com a volta do tônus muscular, a região abdominal volta a exercer sua função. De encontro aos benefícios dos EH aqui abordados, um estudo conduzido por Espíndola, Souza, e Sá (2021), sobre os EH na recuperação funcional da diástase abdominal em puérperas, apresentou resultados positivos na recuperação muscular abdominal, destacando ainda que o método é uma boa opção não invasiva para o tratamento de diástase abdominal no puerpério.
É nesse contexto que os EH se apresentam positivos e efetivos. Por trabalhar a respiração, juntamente com posturas específicas, tendo o indivíduo que manter um nível de concentração e consciência corporal elevados, os resultados positivos para o organismo tendem a surgir se praticados com constância. Dentre os benefícios do método estão a regulação da pressão intra-abdominal e consequente diminuição da circunferência abdominal, fortalecimento dos músculos abdominais, do assoalho pélvico, bacia e lombar, melhora dos sintomas de ansiedade e depressão, bem como efetiva resposta para correção postural. (Hollanda, 2019; Juez et al., 2019)
Conclusão
A partir dos resultados encontrados na presente pesquisa, é possível destacar os EH como sendo um método eficaz na redução de medidas abdominais e, mostra-se positivo na diminuição da DMRA. Para além disso, os músculos abdominais possuem função estabilizadora no corpo, e a prática do método apresenta resultados para todos os músculos que envolvem a região central do organismo, sendo assim, os EH, intrinsecamente, traz muitos benefícios para quem realiza a sua prática.
Nesse sentido, percebendo os inúmeros benefícios dos EH, sugere-se que cada vez mais profissionais da área da saúde busquem conhecer o método, visto que ele surgiu como um tratamento para o fortalecimento muscular abdominal e endopélvico, onde descobriu-se um caráter terapêutico e vários outros benefícios.
Os Profissionais de Educação Física, além de promotores da saúde física e mental, atuam na reabilitação de disfunções patológicas, como é o caso da diástase abdominal. Sendo assim, necessitam estar em constante busca de conhecimento. A diástase abdominal ainda é um assunto pouco abordado nas academias. Como abordado nesse estudo, as mulheres são o público mais acometido por ela, porém o diagnóstico raramente é conhecido se não houver algum agravante que a faça ser detectada, como a perda urinária, por exemplo. No intuito de conscientizar esses profissionais sobre a importância da avaliação de DMRA antes de iniciar um programa de treinamento físico que essa pesquisa foi proposta, evitando que os casos positivos se agravem e tragam outras consequências, visto a importância da força muscular na região abdominal e sua função para o organismo como um todo.
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