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ISSN 1514-3465

 

A atividade física como fator protetivo para a vulnerabilidade

clínico-funcional de idosas da comunidade. Estudo transversal

Physical Activity as a Protective Factor to the Clinical-Functional

Vulnerability in Dwelling Older Women. Cross-Sectional Study

La actividad física como factor protector de la vulnerabilidad clínico-funcional

de mujeres mayores de la comunidad. Estudio transversal

 

Luis Fernando Ferreira*

proffernandof@gmail.com

Arielle Rosa de Oliveira**

ariellerosadeoliveira@gmail.com

Maria Laura Schiefelbein***

marialaura.mlsch@gmail.com

Eduardo Garcia+

eduardogarcia@ufcspa.edu.br

Luis Henrique Telles da Rosa++

luisr@ufcspa.edu.br

 

*Atualmente é pós-doutorando do PPG-Medicina: Hepatologia

pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)

Pesquisador visitante na School of Electronics, Electrical Engineering

and Computer Science da Queens University of Belfast (Irlanda do Norte, Reino Unido) 

Graduado em Educação Física pela Faculdade Cenecista de Osório

com Mestrado e Doutorado (2022) em Ciências da reabilitação pela UFCSPA

Membro do Grupo de Estudos em Reabilitação (GEReab)

e do Grupo de Pesquisas do Fígado, ambos da UFCSPA

Membro fundador do Grupo de Estudos em Reabilitação (GEReab-UFCSPA)

**Graduada em Fisioterapia pelo Centro Universitário Metodista do Sul-IPA

Especialista em Fisioterapia Dermatofuncional

Mestre e Doutoranda em Ciências da Reabilitação pela UFCSPA

Pós-Graduada em Fisioterapia Dermatofuncional pelo FISEPE-RS

Atualmente é professora universitária da disciplina de fisioterapia dermatofuncional

das Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT) e Faculdade Sogipa

***Fisioterapeuta graduada pela UFCSPA

Doutoranda em Ciências da Reabilitação pela UFCSPA

Mestre em Ciências da Reabilitação na UFCSPA

Membro efetiva do Grupo de Pesquisa em Análise de Movimento

e Reabilitação Neuromuscular (GNeR)

e do Grupo de Estudos em Fisioterapia Traumato-Ortopédica (GEFITO)

Especialização em Fisioterapia Esportiva pela Fisio Work

+Graduado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Residência medica em Pneumologia - UFCSPA

Especializado em Geriatria (PUCRS)

MBA em Gestáo Hospitalar 2009 (IBGEN)

Doutorado em Medicina (Pneumologia) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul 

Atualmente é médico pneumologista - Irmandade

da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre

Coordenador médico do Ambulatorio de Pneumologia do Pavilhão Pereira Filho (ISCMPA).

Professor adjunto do Departamento de Medicina Interna da UFCSPA

++Graduado em Educação Física pela Universidade de Cruz Alta

Graduado em Fisioterapia pela Universidade Federal de Santa Maria

Mestrado em Salud Publica - Universidad Nacional de Rosario

Doutorado em Gerontologia Biomédica

pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2007)

Atualmente é docente pela UFCSPA

(Brasil)

 

Recepción: 19/04/2023 - Aceptación: 13/01/2024

1ª Revisión: 02/06/2023 - 2ª Revisión: 08/01/2024

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Cita sugerida: Ferreira, L.F., Oliveira, A.R. de, Schiefelbein, M.L., Garcia, E., e Rosa, L.H.T. da (2024). A atividade física como fator protetivo para a vulnerabilidade clínico-funcional de idosas da comunidade. Estudo transversal. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(311), 58-70. https://doi.org/10.46642/efd.v29i311.3970

 

Resumo

    Introdução: O envelhecimento populacional vem sendo cada vez mais amplo e impactante na sociedade. Portanto, as pesquisas da área do envelhecimento devem dar conta de observar os declínios inerentes a essa condição, quantificando os riscos e desenvolvendo estratégias de combate a eles, e manutenção da vida saudável. Objetivo: Estratificar o risco de vulnerabilidade em mulheres idosas praticantes de atividades físicas, quando comparadas a mulheres idosas sedentárias. Métodos: Estudo transversal, que incluiu 105 mulheres idosas, residentes na comunidade, na cidade de Porto Alegre. Elas foram divididas em dois grupos: 42 em grupo controle (GC) (sedentárias), e 63 em grupo treino (GT) (incluídas em programas de treinamento físico). Elas foram avaliadas quanto ao seu índice de vulnerabilidade clínico funcional. Resultados: Ambos os grupos apresentaram homogeneidade quanto à idade, peso e estatura. Quanto à estratificação do risco de vulnerabilidade clínico funcional, houve diferença estatisticamente significativa, favorável ao GT (p=0,021). 52% de GC apresentou baixa vulnerabilidade, contra 70% de GT. Ainda 38% de GC e 24% de GT apresentaram nível aumentado de vulnerabilidade. Por final, 9,5% de GC apresentou alto risco, contra 3% de GT. Conclusão: Sugere-se que estar inserido em um programa de treinamento físico regular é fator protetivo para a vulnerabilidade clínico-funcional, diminuindo a chance de vulnerabilidade em um terço, quando comparado a indivíduos sedentários.

    Unitermos: Idoso. Atividade física. Sedentarismo. Índice de vulnerabilidade clínico-funcional.

 

Abstract

    Background: Population aging has been increasingly and impacting on society. Therefore, research in the area of ​​aging must be able to observe the declines inherent to this condition, quantifying the risks and developing strategies to combat them, and maintain a healthy life. Purpose: Stratify the risk of vulnerability in older women who practice physical activities, when compared to sedentary older women. Method: Cross-sectional study, which included 105 older women, living in the community, in the city of Porto Alegre. They were divided into two groups: 42 in a control group, sedentary, and 63 in a training group, included in physical training programs. They were assessed for their clinical functional vulnerability index. Results: Both groups were homogeneous in age, weight and height. As for the stratification of the risk of functional clinical vulnerability, there was a statistically significant difference, favorable to the TG (p=0.021). 52% of CG showed low vulnerability, against 70% of GT. Still 38% of CG and 24% of GT showed an increased level of vulnerability. Finally, 9.5% of CG had a high risk, compared to only 3% of GT. Conclusion: Being in a regular physical training program is a protective factor for clinical-functional vulnerability, decreasing the chance of vulnerability by one third, when compared to sedentary individuals.

    Keywords: Aged. Physical activity. Sedentary. Clinical-functional vulnerability index.

 

Resumen

    Introducción: El envejecimiento de la población es cada vez más generalizado y tiene un impacto en la sociedad. Por tanto, la investigación en el área del envejecimiento debe poder observar los deterioros inherentes a esta condición, cuantificar los riesgos y desarrollar estrategias para combatirlos y mantener una vida saludable. Objetivo: Estratificar el riesgo de vulnerabilidad en mujeres mayores que practican actividades físicas, en comparación con mujeres mayores sedentarias. Métodos: Estudio transversal, que incluyó 105 mujeres mayores, residentes en la comunidad, en la ciudad de Porto Alegre. Fueron divididos en dos grupos: 42 en el grupo de control (CG) (sedentario) y 63 en el grupo de entrenamiento (GT) (incluido en programas de entrenamiento físico). Fueron evaluadas por su índice de vulnerabilidad clínico-funcional. Resultados: Ambos grupos fueron homogéneos en cuanto a edad, peso y talla. En cuanto a la estratificación del riesgo de vulnerabilidad clínica funcional, hubo diferencia estadísticamente significativa, favorable al GT (p=0,021). El 52% de GC mostró vulnerabilidad baja, en comparación con el 70% de GT. Aún así, el 38% de los GC y el 24% de los GT mostraron un mayor nivel de vulnerabilidad. Finalmente, el 9,5% de los GC presentaron riesgo alto, frente al 3% de los GT. Conclusión: Se sugiere que ser parte de un programa regular de entrenamiento físico es un factor protector de la vulnerabilidad clínico-funcional, reduciendo en un tercio la probabilidad de vulnerabilidad, en comparación con sujetos sedentarios.

    Palabras clave: Persona mayor. Actividad física. Estilo de vida sedentario. Índice de vulnerabilidad clínico-funcional.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 311, Abr. (2024)


 

Introdução 

 

    O envelhecimento populacional vem sendo um tema cada vez mais abordado na literatura científica, uma vez que a população envelhece rapidamente, principalmente no Brasil (Ferreira, de Oliveira, Schiefelbein, Garcia, e da Rosa, 2022). Dentre as abordagens, pode-se perceber que uma grande preocupação é conhecer a forma como a população envelhece, ou seja, se o indivíduo continua tendo qualidade de vida em sua fase idosa, ou se somente está envelhecendo e sendo abarcado pelos efeitos deletérios inerentes a esse processo. (Alexandre, Duarte, Santos, e Lebrão, 2018)

 

    Existem diversas formas de se avaliar e quantificar a qualidade deste envelhecimento, seja de forma subjetiva, como os instrumentos de percepção subjetiva de qualidade de vida (SF-36, WHOQoL-Old, entre outros) (Power, Quinn, e Schmidt, 2005), ou de forma objetiva, como instrumentos que avaliam funcionalidade e independência (Escalas de Lawton-Brody, de Barthel, de Katz, entre outros). (Duarte, Andrade, e Lebrão, 2007; Lawton, e Brody, 1969; Mahoney, e Barthel, 1965)

 

    Faz-se importante, portanto, que a área da saúde possa quantificar a modulação do envelhecimento, e as características deste processo, seja na clínica, seja na pesquisa (Cruz-Jentoft et al., 2019). É de vital relevância, por exemplo, que se conheça a etiologia do envelhecimento, a fim de caracterizar o déficit nas funções do indivíduo, e se esse possível, entender se esse déficit traz ou não algum tipo de vulnerabilidade. O reconhecimento do idoso vulnerável não é só importante para o indivíduo, como é fundamental para a criação de políticas públicas de proteção ao indivíduo idoso. (Barbosa-Silva, Bielemann, Gonzalez, e Menezes, 2016; Beaudart, Zaaria, Pasleau, Reginster, e Bruyère, 2017; OMS, 2015)

 

    Dentre os instrumentos para a quantificação da vulnerabilidade destaca-se, nos últimos anos, a avaliação do Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional (IVCF), por ser um instrumento multidimensional, que aborda diversos indicadores de saúde e de qualidade de vida do indivíduo. Este instrumento, produzido pelo núcleo de geriatria e gerontologia da UFMG, trata dos indicadores da vida da pessoa idosa, como a autopercepção de saúde, a capacidade para atividades da vida diária, o humor, a mobilidade, a comunicação e as comorbidades. Esse instrumento é validado para identificação rápida do idoso frágil, de acordo com Moraes et al. (2016). Portanto, o objetivo deste trabalho foi estratificar o risco de vulnerabilidade em mulheres idosas praticantes de atividades físicas, quando comparadas a mulheres idosas sedentárias.

 

Métodos 

 

Caracterização do estudo 

 

    Estudo analítico, observacional e de corte transversal.

 

Aspectos Éticos 

 

    Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisas com seres humanos da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, sob o número de parecer 1.553.242. Todos os indivíduos leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

 

População e amostra 

 

    A população constituída de mulheres idosas com idade igual ou superior a 60 anos, residentes no Rio Grande do Sul, Brasil, recrutadas por meio de busca ativa de residentes no município de Porto Alegre que se adequaram aos critérios estabelecidos no projeto.A busca se deu por divulgação em redes sociais, além de panfletos distribuídos em locais de grande concentração do público alvo, como parques e praças da cidade. Os indivíduos interessados entraram em contato pelo telefone e/ ou e-mail disponibilizados pelos autores, que então marcavam a avaliação.

 

    Os indivíduos incluídos foram divididos em dois grupos: (1) O Grupo Controle (GC), composto por 42 idosas sedentárias há pelo menos 12 semanas. (2) O Grupo Treinadas (GT), composto por 63 idosas praticantes de treinamento com ênfase em exercícios de força ou cardiorrespiratórios há pelo menos 12 semanas, de duas a cinco vezes por semana, segundo recomendações do American College of Sports Medicine (ACSM). (Chodzko-Zajko et al., 2009)

 

    Os critérios de exclusão foram:déficit cognitivo, indicado pela não obtenção da pontuação mínima no instrumento Mini Exame do Estado Mental (MMSE), indicando assim, incapacidade de executar as avaliações ou preencher os questionários, estar em processos pós-operatório ou tratamento fisioterápico.

 

    Além disso, para caracterização dos idosos autodeclarados sedentários (GC), foi aplicado o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) (Matsudo et al., 2001), e excluídos os indivíduos não caracterizados como sedentários. Por final, aqueles indivíduos que não foram capazes de completar alguma das avaliações propostas, seja por incapacidade física, cognitiva, ou porque o avaliador julgou que a continuidade poria o paciente em risco, foram excluídos, e aparecem como “exclusões por dados incompletos”. As exclusões se encontram na Figura 1.

 

Figura 1. Fluxograma de recrutamento

Figura 1. Fluxograma de recrutamento

Legenda: n – Número de indivíduos; MEEM – Mini exame do estado mental (minimental); 

IPAQ – Questionário internacional de atividades físicas. Fonte: Dados de pesquisa

 

Procedimentos para coleta de dados 

 

    A coleta de dados foi executada por pesquisadores previamente treinados, no laboratório de fisioterapia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

 

Dados coletados 

 

    Este artigo trata-se de um desdobramento do projeto Envelhecer Saudável, desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Reabilitação da Universidade Federal de Ciências da Saúde Porto Alegre (GEReab/ UFCSPA), que contou com diversas avaliações, incluindo a avaliação do IVCF, cujos resultados são demonstrados neste estudo.

 

    Assim, todos os indivíduos foram submetidos à avaliação do risco do vulnerabilidade clínico-funcional, através do instrumento IVCF. Além disso, foi aplicada uma anamnese de dados sociais.Os pontos de corte adotados foram os descritos por Moraes et al. (2016), sendo: de 0 a 6 pontos, baixa vulnerabilidade clínico-funcional; de 7 a 14, risco aumentado e; mais do que 15 pontos, alto risco.

 

Análise estatística 

 

    As variáveis foram analisadas sobre sua normalidade utilizando o teste de Kolmogorov-Smirnov. Variáveis quantitativas são descritas em médias e desvio-padrão. A análise quantitativa foi avaliada através do teste Anova One-Way, com o post-hoc de Tukey. O nível de significância considerado foi de 5% (p<0,05). Os dados foram analisados no programa estatístico SPSS para Windows, versão 17.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, USA).

 

Resultados 

 

    A constituição final dos grupos foi de 42 idosas no GC e 63 no GT. Como pode ser visto na Tabela 1, não houve diferenças entre os grupos em relação a idade, peso, estatura e Índice de Massa Corporal (IMC), o que demonstra homogeneidade dos grupos.

 

Tabela 1. Características gerais da amostra

Características - média ± dp

Grupo controle

Grupo treinadas

p

Idade (anos)

71,92±12,38

70,61±6,53

0,417

Peso (Kg)

68,44±16,75

67,08±11,02

0,251

Estatura (cm)

152,4±6,12

154,7±7,03

0,284

IMC (Kg/m²)

29,36±6,49

28,03±4,20

0,171

Legenda: dp – desvio padrão; p – significância estatística através do teste Anova One-Way, com post hoc de Tukey; 

Kg: quilogramas; cm: centímetros; IMC: índice de massa corporal. Fonte: Dados de pesquisa

 

    Foi encontrada diferença estatisticamente significativa na estratificação do risco de vulnerabilidade clínico-funcional, conforme demonstra o Gráfico 1, o que deixa claro que o fato da mulher idosa estar sedentária é fator de risco para essa variável. No GC quase uma em cada dez idosas apresentou alto riso de vulnerabilidade, enquanto uma em cada trinta de GT apresentaram o mesmo risco. Além disso, em GC somente pouco mais da metade dos indivíduos analisados encontram-se em uma faixa completamente fora de risco. Em GT esse dado pula para mais de dois terços da amostra.

 

Gráfico 1. Estratificação do risco de vulnerabilidade clínico-funcional

Gráfico 1. Estratificação do risco de vulnerabilidade clínico-funcional

Dados demonstrados em frequências absolutas (amostra) e relativas (percentual); 

p – significância estatística através do teste Anova One-Way, com post hoc de Tukey. Fonte: Dados de pesquisa

 

Discussão 

 

    Existem diversos estudos que demonstram que durante o processo de envelhecimento há uma perda das proteínas contráteis (componentes intramusculares), sendo substituídas por tecido conjuntivo e adiposo (Cruz-Jentoft et al., 2014; Tyrovolas et al., 2016; Zhang, Zou et al., 2021). Isso explica, parcialmente, porque mulheres idosas sedentárias e treinadas têm características de peso e IMC semelhantes, embora os indivíduos treinados, provavelmente, tenham uma maior constituição física de massa muscular, e não de tecido conjuntivo.

 

    Também é importante ressaltar que o melhor resultado na característica funcional do GT não somente pode ser explicado por uma maior quantidade e volume de fibras musculares. Em um programa de treinamento físico, de qualquer natureza, mais do que ganho de volume intrassarcomeral, há um maior recrutamento de fibras musculares, fazendo com que as placas motoras, mesmo que em igual quantidade, sejam mais eficazes, demonstrando uma maior capacidade de produção de força e de capacidade funcional. Isso também pode explicar que, apesar de peso e IMC serem semelhantes entre GT e GC, os resultados de funcionalidade foram significativamente maiores em GT. (Beaudart et al., 2017; Laurence, e Michel, 2017; Vasconcelos et al., 2016)

 

    Já sobre a diferença estatisticamente significativa entre GT e GC no instrumento IVCF, podem haver diversas explicações, por este instrumento ser multidimensional, como foi dito anteriormente. Vale lembrar que os resultados de GT foram melhores do que os de GC em todos os domínios do IVCF: (I) autopercepção de saúde, (II) capacidade para atividades da vida diária, (III) humor, (IV) mobilidade, (V) comunicação e (VI) comorbidades.

 

    Quando se lida com o primeiro campo de avaliação do IVCF, a autopercepção de saúde, pode-se observar que, neste estudo, idosos sedentários tem uma visão e perspectiva piores sobre sua própria saúde (Silva Neto et al., 2016). Segundo diversos autores (Elsawy, e Higgins, 2011; Laurence, e Michel, 2017; Li et al., 2017), a autopercepção sobre a qualidade de vida pode indicar traços de alterações de humor – o que é o terceiro campo de avaliação do IVCF -, comuns às doenças psicossomáticas, como a depressão. Segundo Cadore et al. (2013; 2014), a atividade física tem efeito benéfico sobre os sintomas da depressão. Tendo essas duas últimas informações, e observando-as em perspectiva, pode-se inferir que o simples fato de o idoso estar incluído em um programa de atividade física já o faz ter uma percepção diferente sobre sua própria saúde, mesmo que não haja diferença de fato.

 

    O segundo e o quarto campos de avaliação do IVCF, a capacidade para atividades da vida diária e a mobilidade, estão fortemente relacionadas às capacidades funcionais do idoso. Ora, o objetivo da inclusão deste indivíduo em um programa de atividades físicas sempre – ou quase sempre – visa melhorar as capacidades do indivíduo para as atividades da vida diária, o que impactará diretamente na sua qualidade de vida. A funcionalidade é hoje considerada como a base para a vida saudável (Chen, Wu, Chen, Ho, e Chung, 2018). Segundo diversos autores (Cruz-Jentoft et al., 2019; Ferreira, Scariot, e da Rosa, 2023; Karsten et al., 2019; Teng et al., 2021), um indivíduo é considerado saudável quando tem capacidade para desempenhar atividades da vida diária, gerindo sua própria vida de forma independente e autônoma, ainda que tenha doenças.

 

    Sobre o quinto campo, as comunicações, pode-se observar que, segundo os autores originais do IVCF, a inclusão de idosos em programas de atividades físicas fazem com que ele precise estimular a fala e a audição – as duas valências avaliadas por esse campo do IVCF -, fazendo com que ele melhore, ou pelo menos evite maiores declínios sobre esses indicadores.

 

    O último campo deste instrumento, que trata das comorbidades, dá conta de polipatologias, polifarmácia e internação nos últimos meses. Esses dados devem ser explicados à luz de alguns autores. Segundo diversos autores (Cruz-Jentoft et al., 2019; Ferreira et al., 2022; Ferreira et al., 2023; Petermann-Rocha et al., 2021; Wu et al., 2021; Zhang, Zhang et al., 2021; Zhang, Zou et al., 2021), o exercício físico pode reduzir as incidências de hipertensão arterial sistêmica, diabetes melitus, cardiopatias, osteoporose, artropatias, entre outras, fazendo com que a utilização de medicamentos para estas patologias seja reduzida também. Somente isso já explicaria o baixo índice de pontuação nos idosos ativos desta pesquisa.

 

Conclusão 

 

    Após a análise dos dados é possível sugerir que, para essa amostra, estar inserido em um programa de treinamento físico regular é fator protetivo para a vulnerabilidade clínico-funcional, diminuindo a chance de vulnerabilidade em um terço, quando comparado a indivíduos sedentários.

 

Limitações e estudos futuros 

 

    As limitações deste estudo residem em a amostra ser composta somente de mulheres, e não ter havido controle sobre a progressão dos programas de treinamento. Assim, aconselhamos que novos estudos possam ser realizados abordando este tema, preferencialmente de forma longitudinal, podendo assim inferir causa e efeito, e com amostras maiores e mais heterogêneas.

 

Agradecimentos 

 

    Os autores agradecem o apoio e o suporte técnico e logístico ao Grupo de Estudos em Reabilitação (GEReab) e a Liga de Geriatria e Gerontologia (LiGGe), ambos da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), ao Banco de Alimentos do Rio Grande do Sul e à Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 311, Abr. (2024)