ISSN 1514-3465
Indicadores multidimensionais do potencial esportivo de jovens nadadores
Multidimensional Indicators of the Sporting Potential of Young Swimmers
Indicadores multidimensionales del potencial deportivo de jóvenes nadadores
Renato Melo Ferreira*
renato.mf@hotmail.com
Emerson Filipino Coelho**
emersoncoelho@hotmail.com
Luciano Miranda***
lujumm@yahoo.com.br
Carlos Henrique Vargas Pereira+
carloshvpereira@yahoo.com.br
Délio Mendes Dias++
delio.cmjf@hotmail.com
Flávio Garcia de Oliveira++
flaviogo71@hotmail.com
Francisco Zacaron Werneck+++
franciscozacaron@yahoo.com.br
*Mestrado e Doutorado em Ciências do Esporte
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Atualmente é Professor Associado II da Escola de Educação Física
da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
Coordenador do Laboratório de Atividades Aquáticas (LAQUA)
**Graduado em Educação Física
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Mestre em Psicofisiologia do Exercício (UGF)
Doutorado e Pós-doutorado em Ciências
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ);
Atualmente é Professor Associado da Escola
de Educação Física da EEF-UFOP
Membro do Laboratório de Estudos e Pesquisas
do Exercício e Esporte (LABESPEE)
e do Grupo de Estudos do Jovem Atleta (GEJA).
***Licenciado em Educação Física pela UFJF
Pós-Graduado em Metodologia do Ensino Superior
pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora/MG
Mestre em Educação Física pela UFJF
Área de Concentração: Exercício e Esporte. Doutorando na
Faculdade de Educação Física e Desporto da UFJF
Professor efetivo no Colégio Militar de Juiz de Fora/MG
Coordenador da Educação Física do 6º ano do Ensino Fundamental
do Colégio Militar de Juiz de Fora/MG
Coordenador do Projeto Atletas de Ouro
do Colégio Militar de Juiz de Fora/MG
Colaborador do Projeto Atletas de Ouro.
+Mestre no Programa de Letras - Centro Universitário
UniAcademia - Juiz de Fora, MG, Área de concentração em Literatura Brasileira,
com linha de pesquisa Literatura Brasileira enfoques transdisciplinares
e transmidiáticos. Especialização em Treinamento Desportivo
de Alto Nível pela Universidade Norte do Paraná
Educação Física pela Universidade Gama Filho
Professor de Educação Física - Colégio Militar de Juiz de Fora
Colaborador do Projeto Atletas de Ouro
++Mestrado em Educação UFJF
CES Centro de Ensino Superior Juiz de Fora
Colaborador do Projeto Atletas de Ouro
++Mestrado em Educação UFJF. Colégio Militar de Juiz de Fora.
Colaborador do Projeto Atletas de Ouro
+++Mestrado em Educação Física pela Universidade Gama Filho
Doutorado em Ciências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Atualmente é Professor Adjunto IV da Escola de Educação Física da UFOP
Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas do Exercício e Esporte
(LABESPEE) e Líder do Grupo de Estudos do Jovem Atleta (GEJA)
Idealizador do Projeto Atletas de Ouro
(Brasil)
Recepção: 14/04/2023 - Aceitação: 05/06/2023
1ª Revisão: 11/05/2023 - 2ª Revisão: 03/06/2023
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Citação sugerida
: Ferreira, RM, Coelho, EF, Miranda, L., Pereira, CHV, Dias, DM, Oliveira, FG. e Werneck, FZ (2023). Indicadores multidimensionais do potencial esportivo de jovens nadadores. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(302), 112-128. https://doi.org/10.46642/efd.v28i302.3963
Resumo
Introdução: O desempenho esportivo na natação de jovens atletas é um fenômeno determinado por inúmeros fatores. Dessa forma, têm-se empregado de abordagem multidimensional, com a intenção de analisar o maior número de informações para traçar, da melhor forma possível, o potencial de jovens nadadores. Objetivo: Avaliar as características antropométricas, físico-motoras, psicossociais, maturacionais de jovens atletas de natação masculino de um colégio militar e comparar com escolares não atletas. Métodos: A amostra foi composta por 366 escolares do sexo masculino, com idade entre 12 e 17 anos, os quais foram divididos em dois grupos: Jovens Atletas de Natação (n=18) e Não Atletas (n=348). Uma bateria de testes para avaliação de indicadores multidimensionais do potencial esportivo foi aplicada. Resultados e conclusão: Os jovens nadadores apresentaram menor percentual de gordura, maior desempenho físico-motor, melhores indicadores psicológicos e maior estatura adulta prevista comparados aos escolares não atletas. Tais resultados podem servir como suporte para professores-treinadores no processo de identificação, seleção e desenvolvimento de jovens nadadores no nível escolar.
Unitermos:
Natação. Jovens atletas. Escolares. Talento esportivo.
Abstract
Introduction: Sports performance in swimming by young athletes is a phenomenon determined by numerous factors. Thus, a multidimensional approach has been used, with the intention of analyzing as much information as possible to outline, in the best possible way, the potential of young swimmers. Objective: To evaluate the anthropometric, physical-motor, psychosocial and maturational characteristics of young male swimming athletes from a military school and compare with non-athlete students. Methods: The sample consisted of 366 male students, aged between 12 and 17 years old, who were divided into two groups: Young Swimming Athletes (n=18) and Non-Athletes (n=348). A battery of tests for evaluating multidimensional indicators of sporting potential was applied. Results and Conclusion: Young swimmers had a lower percentage of fat, greater physical-motor performance, better psychological indicators and higher predicted adult height compared to non-athlete schoolchildren. Such results can serve as support for teacher-coaches in the process of identification, selection and development of young swimmers at school level.
Keywords:
Swimming. Young athletes. Schoolchildren. Sports talent.
Resumen
Introducción: El rendimiento deportivo en natación de los jóvenes deportistas es un fenómeno determinado por numerosos factores. Así, se ha utilizado un enfoque multidimensional, con la intención de analizar la mayor cantidad de información posible para perfilar, de la mejor manera posible, el potencial de los jóvenes nadadores. Objetivo: Evaluar las características antropométricas, físico-motoras, psicosociales y madurativas de jóvenes nadadores varones de una escuela militar y compararlos con alumnos no deportistas. Métodos: La muestra estuvo compuesta por 366 estudiantes varones, con edades entre 12 y 17 años, que fueron divididos en dos grupos: Jóvenes Atletas de Natación (n=18) y No Atletas (n=348). Se aplicó una batería de pruebas para evaluar indicadores multidimensionales de potencial deportivo. Resultados y conclusión: Los jóvenes nadadores presentaron menor porcentaje de grasa, mayor rendimiento físico-motor, mejores indicadores psicológicos y mayor estatura adulta predicha en comparación con los escolares no deportistas. Tales resultados pueden servir de apoyo a los profesores-entrenadores en el proceso de identificación, selección y desarrollo de jóvenes nadadores a nivel escolar.
Palabras clave
: Natación. Deportistas jóvenes. Escolares. Talento deportivo.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 302, Jul. (2023)
Introdução
A natação é uma modalidade esportiva individual, cíclica e que demanda técnica, já que o deslocamento na água deve ocorrer com a menor resistência possível, e, ainda, requer força, resistência e coordenação motora (Maglischo, 2010). Quando analisamos as competições, as provas oficias variam desde os 50 metros, predominantemente anaeróbicas, até provas de 1500 metros, com maior característica aeróbica, onde os atletas utilizam de diferentes estratégias para obter o melhor resultado possível (Oliveira et al., 2019; Wądrzyk, Staszkiewicz, e Strzała, 2022). Ao direcionar o foco para o processo de identificação, seleção e treinamento de novos talentos esportivos na natação, os treinadores estão incumbidos na difícil tarefa de estabelecer quais critérios, multidimensionais, os permitam aplicar da melhor forma possível este conhecimento na prática. (Rees et al., 2016; Hogan et al., 2021; Rozi, Setijono, e Kusnanik, 2020)
O desempenho esportivo na natação de jovens atletas é um fenômeno determinado por alguns fatores, como os biomecânicos (Wirth et al., 2022), antropométricos (Ferraz et al., 2020), sociais e familiares (Maciel et al., 2021) e os maturacionais que são de importante relevância, já que há influência deste nas características antropométricas e físico-motoras, o que gera interferência no rendimento esportivo (Miranda et al., 2019; Vieira et al., 2022). Por isso, tais aspectos são normalmente utilizados como critérios de detecção, seleção e promoção de talentos esportivos (Hogan et al., 2021). As qualidades físicas são determinantes para a seleção de jovens nadadores, de tal modo que a relação entre a data de nascimento, a maturação e o desempenho esportivo demandam estudos científicos.
Nos últimos anos, têm-se empregado uma abordagem multidimensional do talento esportivo, com a intenção de analisar o maior número de informações para traçar, da melhor forma possível, o perfil de jovens nadadores, determinar o seu potencial e predizer o desempenho esportivo futuro (Rees et al., 2016; Hogan et al., 2021; Rozi, Setijono, e Kusnanik, 2020). Werneck, Coelho, e Ferreira (2020) apontam que o processo de treinamento a longo prazo, fundamental para o sucesso esportivo, deve estar ancorado a partir de uma bateria de testes que subsidia um mapeamento sistematizado de indicadores multidimensionais do potencial esportivo, e que este processo deve se iniciar desde os anos escolares.
Neste estudo, considera-se jovem nadador como o escolar que realiza treinamentos de natação de forma estruturada e periódica, para além das aulas de Educação Física, sob a orientação de um treinador e que compete pelo menos em um evento por ano. Faz parte da atribuição do professor de Educação Física escolar analisar e otimizar o potencial esportivo dos seus alunos, necessitando de estabelecer critérios para apurar aqueles alunos que irão representar a escola em competições. Jovens atletas, na maioria das vezes, são mais altos, fortes, rápidos, resistentes e apresentam maturação biológica avançada quando comparados a população não atleta, o que se torna mais latente ao se analisar o nível de uma competição (Malina et al., 2015, Miranda et al., 2019; Miranda et al., 2020). Contudo, há pouca informação sobre o potencial esportivo de escolares brasileiros. A partir do supracitado, o objetivo foi avaliar as características antropométricas, físico-motoras, psicossociais e maturacionais de jovens atletas de natação masculino de um colégio militar, bem como comparar com escolares não atletas.
Métodos
Participantes
A população deste estudo é composta de escolares inseridos dentro do Sistema Colégio Militar do Brasil. A amostra, por conveniência, foi selecionada dentro do Colégio Militar de Juiz de Fora (CMJF) o qual atende por ano aproximadamente 900 discentes entre o Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e Ensino Médio. A maior parte dos alunos são filhos de militares das Forças Armadas, porém também existem estudantes oriundos do meio civil, via concurso público. 366 escolares do sexo masculino, com idade entre 12 e 17 anos, participaram deste estudo e foram divididos em dois grupos: 1) Jovens atletas de natação (n=18), aqueles que além de participarem das aulas de Educação Física escolar, realizavam treinamento sistematizado de natação em horário extracurricular e participam de competições regulares; 2) Não atletas (n=348), escolares que apenas faziam as aulas de Educação Física escolar. Os critérios de inclusão foram: sexo masculino, idade de 12 a 17 anos, estar apto fisicamente, estar matriculado e regularmente frequentando as aulas e estar presente no dia da coleta dos dados. Foram excluídos os alunos que se recusaram a participar.
Este estudo é parte integrante do “Projeto Atletas de Ouro®: Avaliação Multidimensional e Longitudinal do Potencial Esportivo de Jovens Atletas”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto (CAAE: 32959814.4.1001.5150). Trata-se de um delineamento longitudinal misto, em que os alunos foram submetidos a uma bateria de testes durante o horário de aula de Educação Física em três dias distintos. Tal bateria de testes é parte integrante da avaliação anual da Educação Física escolar no CMJF (Werneck, Coelho, y Miranda, 2022), sendo utilizada anteriormente em outros estudos em diferentes modalidades esportivas, como o basquete (Bizerra et al., 2022), ginástica de trampolim (Oliveira et al., 2021) e futebol (Paula et al., 2021).
Procedimentos
A coleta de dados seguiu a seguinte ordem, no primeiro dia, no horário de aula de Educação Física, os questionários foram aplicados no auditório da escola, sob a supervisão dos pesquisadores. No segundo dia, foi realizada a coleta dos testes físico-motores no ginásio da escola, com duração aproximada de 90 minutos. Já no terceiro e último dia, foi realizado o teste aeróbico. Foi considerada a idade cronológica decimal tendo como base a data da coleta dos dados. Por fim, é importante frisar que houve explicação verbal e demonstração da realização de cada um dos testes pelos professores do CMJF e equipe do Projeto Atletas de Ouro®, devidamente treinados e experientes na aplicação deste protocolo de testes, já adotados em outros estudos. (Miranda et al., 2019; Ribeiro Junior et al., 2019)
Indicadores antropométricos
A massa corporal foi realizada através de uma balança digital (Welmy, Brasil) com precisão de 0,05 kg; a estatura necessitou de uma fita métrica (Sanny, Brasil) que foi fixada na parede, e tem sua precisão em milímetros; a envergadura e altura sentado contou com um estadiômetro portátil (Sanny, Brasil) preso a um banco e, por fim, foram realizadas a medida de três dobras cutâneas (tríceps, subescapular e perna), com um adipômetro científico (Sanny, Brasil). O comprimento de membros inferiores foi calculado levando em conta a diferença entre a estatura e a altura sentado. O índice de massa corporal foi determinado pela equação: massa corporal (kg)/estatura ao quadrado (m²). O percentual de gordura corporal foi estabelecido por meio do método de Slaughter e colaboradores, conforme descrito por Cerqueira, e Marins (2020a).
Indicadores físico-motores
Em relação aos indicadores físico-motores, os seguintes testes foram realizados:
Flexibilidade: Teste de sentar e alcançar por meio do banco de Wells (Sany, Brasil), com o apoio dos pés na marca de 23 cm. Foi realizado três tentativas e considerado o maior valor.
Força explosiva dos membros inferiores: Teste de salto vertical com contramovimento (CMJ), utilizando um tapete de contato (Multi-Sprint Full®, Hidrofit, Brasil).
Força explosiva de membros superiores: Teste arremesso de medicine ball (bola de 2 kg), sendo registrado o melhor resultado. (Cerqueira, e Marins, 2020b)
Força isométrica máxima: Teste de força de preensão manual, foi utilizado dinamômetro manual (Jamar®). Foram realizadas três tentativas com a mão dominante, sendo considerado o melhor resultado. (Fernandes, e Marins, 2011)
Velocidade de deslocamento, corrida de 20 metros: Tempo obtido em sprint máximo, medido por células fotoelétricas (Multi-Sprint Full®, Hidrofit, Brasil) (Cerqueira, e Marins, 2020b). Ainda se registrou o tempo na marca de 10 metros.
Resistência aeróbica: Teste de corrida vai-e-vem de 20 metros (Léger et al., 1988). O ritmo foi estabelecido por sinal sonoro, iniciou-se com velocidade de 8,5 km/h, sendo acrescido 0,5 km/h a cada 1 minuto. O consumo máximo de oxigênio [VO2máx relativo (ml/kg/min)] foi estimado pela equação: 31,025 + 3,238*V - 3,248*I + 0,1536*V*I, onde V: velocidade em km/h do último estágio alcançado e I: idade em anos.
Indicadores psicossociais
Alguns instrumentos psicométricos foram utilizados para se avaliar os indicadores psicológicos, sendo eles: Habilidades de coping - Athletic Coping Skills Inventory-28, na versão em português (ACSI-28BR) (Miranda et al., 2018). A orientação esportiva foi avaliada pelo Sport Orientation Questionnaire (SOQ), utilizando a versão traduzida e validada no Brasil por Gallegos et al. (2002). Para a avaliação da competência percebida foi aplicada uma escala adaptada por Werneck, Coelho, e Ferreira (2020). Apoio familiar - Fator 1 do IFATE (Silva, e Fleith, 2010); e para a avaliação dos aspectos intangíveis do potencial esportivo foi utilizada uma escala por Werneck, Coelho, e Ferreira (2020). Esta avaliação do potencial esportivo dos escolares foi feita pelos professores do CMJF.
Indicadores maturacionais
Avaliou-se a maturação biológica por meio do percentual atingido da estatura adulta prevista (%EAP) e pela idade prevista do pico de velocidade de crescimento em estatura (PVC). O %EAP foi calculado através do método Khamis, e Roche (1994), que usa a idade cronológica, estatura atual e massa corporal do voluntário, além da estatura dos pais biológicos. A partir de dados, por idade e sexo, as classificações do estágio maturacional foram obtidas (atrasado, normomaturo ou avançado). A idade prevista do PVC foi calculada pelo método proposto por Mirwald et al. (2002), com base no Maturity Offset (MO) - distância em anos que o avaliado se encontra do PVC.
Análise estatística
Os dados foram descritos em termos de média e desvio-padrão. Para testar diferenças entre os jovens atletas de natação e os não atletas utilizou-se o teste t de Student para amostras independentes. O d de Cohen foi utilizado para e avaliar o tamanho do efeito (TE), com a seguinte classificação: pequeno < 0,50; moderado 0,50-0,79; grande ≥ 0,80 (Cohen, 1992). Em todas as análises, foi utilizado o software IBM SPSS versão 24.0 (IBM Corporation, Armonk, NY), com p≤0,05 para significância estatística.
Resultados
Inicialmente, ao considerar a média de idade entre os atletas e não atletas, observou-se não haver diferença estatisticamente significante (14,2±1,8 vs. 14,3±1,9 anos, respectivamente; p=0,84). Ao analisar das variáveis antropométricas (Tabela 1), é possível perceber que os resultados não possuem diferença significativa de atletas para não atletas, em relação à massa corporal, estatura e envergadura. Contudo, ao analisar o percentual de gordura, percebe-se que os atletas apresentam um valor menor de percentual de gordura comparados aos não atletas (p=0,02; d=0.50, moderado)
Tabela 1. Valores descritivos das variáveis antropométricas analisadas,
com média e desvio-padrão entre os jovens atletas de natação e não atletas
Indicadores |
Atletas (n=18) |
Não
Atletas (n=348) |
p-valor |
d |
||
Média |
DP |
Média |
DP |
|||
Massa
corporal (kg) |
57,9 |
11,4 |
58,7 |
14,9 |
0,82 |
0,05 |
Estatura
(cm) |
166,7 |
10,1 |
164,7 |
11,0 |
0,47 |
0,18 |
Envergadura
(cm) |
173,3 |
12,2 |
167,8 |
12,0 |
0,06 |
0,46 |
Gordura
corporal (%) |
14,6 |
6,7 |
18,6 |
8,0 |
0,02* |
0,50 |
*Diferença estatisticamente significante p≤0,05; d = Tamanho do efeito. Fonte: Dados de pesquisa
Ao direcionar o olhar para os resultados relativos às características físico-motoras (Tabela 2), verificou-se que os jovens atletas são mais fortes na preensão manual, saltam mais alto verticalmente, arremessam a medicine ball mais longe, são mais rápidos nos 10 e 20 metros e percorrem maior distância no teste de resistência, apresentando maior VO2máx que os não atletas. As variáveis que possuem tamanho do efeito moderado foram, força de preensão manual (d=0,52), salto vertical contramovimento (d=0,45), arremesso de medicine ball (d=0,45), tempo da corrida de 10 metros (d=0,59) e o tempo da corrida de 20 metros (d=0,57). Já o VO2máx (d=1,52) e distância percorrida (d=1,39) apresentaram tamanho do efeito elevado.
Tabela 2. Valores descritivos das variáveis físico-motor analisadas com
média e desvio-padrão entre os jovens atletas de natação e não atletas
Indicadores |
Atletas (n=18) |
Não
Atletas (n=348) |
p-valor |
d |
||
Média |
DP |
Média |
DP |
|||
Força
de preensão manual |
36,6 |
10,0 |
31,8 |
9,2 |
0,03* |
0,52 |
Salto
vertical (cm) |
29,8 |
4,2 |
26,8 |
6,6 |
0,01* |
0,45 |
Arremesso
medicine ball (m) |
5,0 |
1,0 |
4,5 |
1,1 |
0,04* |
0,45 |
Flexibilidade
(cm) |
26,2 |
6,4 |
22,8 |
8,4 |
0,06 |
0,40 |
Tempo
da corrida 10 m (s) |
1,8 |
0,6 |
1,9 |
0,17 |
0,001* |
0,59 |
Tempo
da corrida 20 m (s) |
3,4 |
0,2 |
3,6 |
0,35 |
0,002* |
0,57 |
VO2máx
(ml/kg/min) |
51,8 |
4,6 |
44,8 |
4,6 |
<0,001* |
1,52 |
Distância
percorrida (m) |
1474,6 |
445,7 |
963,7 |
366,9 |
<0,001* |
1,39 |
*Diferença estatisticamente significante p≤0,05; d = Tamanho do efeito. Fonte: Dados de pesquisa
A Tabela 3, apresenta às variáveis relacionadas as características psicossociais, observa-se que os nadadores obtiveram índices maiores em todas as variáveis. As variáveis aspectos intangíveis (d=0,69), competência percebida (d=0,71), vencedor (d=0,75), habilidades de coping (d=0,59) e apoio familiar (d=0,75) tiveram tamanho do efeito moderado. Já o aspecto relativo a determinação (d=0,88) e Competitivo (d=1,50, o tamanho do efeito foi elevado.
Tabela 3. Valores descritivos das variáveis psicossociais analisadas com
média e desvio-padrão entre os jovens atletas de natação e não atletas
Indicadores |
Atletas (n=18) |
Não
Atletas (n=348) |
p-valor |
d |
||
Média |
DP |
Média |
DP |
|||
Aspectos
intangíveis |
31,2 |
10,2 |
25,3 |
8,6 |
0,02* |
0,69 |
Competência
percebida |
7,3 |
1,8 |
6,1 |
1,7 |
0,003* |
0,71 |
Competitivo |
4,7 |
0,3 |
3,5 |
0,8 |
<0,001* |
1,50 |
Vencedor |
4,0 |
0,5 |
3,4 |
0,8 |
0,02* |
0,75 |
Determinado |
4,5 |
0,4 |
3,8 |
0,8 |
0,02* |
0,88 |
Habilidades
de coping |
12,2 |
2,7 |
10,5 |
2,9 |
<0,01* |
0,59 |
Apoio
familiar |
29,2 |
8,5 |
23,3 |
7,9 |
0,002* |
0,75 |
*Diferença estatisticamente significante p≤0,05; d = Tamanho do efeito. Fonte: Dados de pesquisa
Por fim, em relação aos aspectos maturacionais, observados na Tabela 4, os jovens atletas evidenciaram maior estatura predita em comparação aos não atletas. Ademais, não houve diferenças significativas entre os grupos em relação ao pico de velocidade de crescimento (timing) e no percentual da estatura adulta atingida (status). A variável estatura adulta prevista (d=0,52) apresentou um tamanho do efeito moderado.
Tabela 4. Valores descritivos das variáveis maturacionais analisadas com
média e desvio-padrão entre os jovens atletas de natação e não atletas
Indicadores |
Atletas (n=18) |
Não
Atletas (n=348) |
p-valor |
d |
||
Média |
DP |
Média |
DP |
|||
EAP
(cm) |
180,1 |
6,9 |
176,8 |
6,4 |
0,04* |
0,52 |
Idade
PVC (anos) |
13,7 |
0,8 |
13,9 |
0,6 |
0,15 |
0,33 |
EAP
(%) |
92,5 |
5,4 |
93,0 |
5,8 |
0,71 |
0,09 |
EAP - Estatura adulta prevista, PVC - idade prevista do pico de velocidade de crescimento em estatura.
*Diferença estatisticamente significante p≤0,05. d = Tamanho do efeito. Fonte: Dados de pesquisa
Discussão
O objetivo foi avaliar as características antropométricas, físico-motoras, psicossociais e maturacionais de jovens atletas de natação masculino de um colégio militar e comparar com escolares não atletas. De forma geral, os resultados nos permitem afirmar que os jovens nadadores apresentam diferenças para com os escolares não atletas em relação as variáveis avaliadas, como por exemplo, percentual de gordura, força de membros superiores e inferiores, velocidade, resistência, habilidades de coping e apoio familiar, estatura altura predita e aspectos intangíveis do potencial esportivo, segundo a avaliação dos seus professores.
Ao analisarmos jovens nadadores, percebe-se que há correlação positiva entre variáveis antropométricas, como estatura, massa magra e envergadura e desempenho esportivo em diferentes distâncias (Ferraz et al., 2020). Contudo, nossos resultados não apresentaram diferença significativa em nenhuma destas três variáveis supracitadas, quando comparados com os não atletas (Tabela 1). Giraldo (2014) aponta relação direta entre a envergadura e altura, com a primeira maior que a segunda, pois este é um fator relevante para um nadador, devido a sua relação hidrodinâmica. Ombros mais largos que quadril e baixo nível de tecido adiposo também são variáveis a considerar quando se avaliam características antropométricas. Ao analisar especificamente nossos resultados relativos ao percentual de gordura, observou-se que houve diferença significativa, com tamanho do efeito moderado, ao comparar os jovens nadadores com os escolares não atletas (Tabela 1). Almeida-Neto et al. (2020), e Barbosa (2022) apontam relação entre força e potência muscular de membros superiores em jovens nadadores com o aumento de massa magra e menor percentual de gordura. Reforça-se que, mesmo com a não diferença em relação a massa corporal, o menor percentual de gordura pode ser devido ao efeito do treinamento, refletindo em aumento da força e potência muscular, já que nossos resultados também evidenciaram diferenças significativas das variáveis físico-motoras, as quais também são passíveis de mudança com o treinamento.
Ao considerar o desempenho físico-motor, os atletas de natação foram melhores em todos os testes, exceto a flexibilidade. Treinadores de diferentes modalidades esportivas creditam o sucesso desportivo a inúmeros fatores, contudo as variáveis físico-motoras são relatadas, na maioria das vezes, como as mais determinantes para a obtenção do êxito esportivo (Hogan et al., 2021; Aguiar et al., 2022). A força de preensão manual apresenta relação com a eficiência do nado peito, em qualquer uma das distâncias oficiais (50, 100 ou 200 metros) (Véliz, Cid, e Rodríguez, 2020). Destaca-se ainda que é um importante aspecto quando se relaciona com a identificação de talentos motores em escolares (Miranda et al., 2019). Assim como para a preensão manual, o arremesso de medicine ball foi identificado por Miranda et al. (2019), como um preditor de talento esportivo para de seleção de jovens atletas. Para além, Barbosa (2022) aponta que há correlação direta entre a força e potência dos membros superiores com determinadas distâncias na natação, como em provas de 50 metros.
Quanto a força explosiva de membros inferiores, sua avaliação é essencial para a natação, em especial, na saída e viradas, assim como na força propulsiva de pernas (Maglischo, 2010). Véliz, Cid, e Rodríguez (2020) identificaram correlação positiva entre o salto contramovimento e a prova de 100 metros costas, as quais o componente do nado submerso é muito latente, e a prova de 200 metros medley, a qual necessita da propulsão de pernas em diferentes nados. Ademais, os resultados do presente estudo apresentaram diferença significativa, com tamanho de efeito moderado, na corrida de velocidade de 10 e 20 metros ao comparar os jovens nadadores com os não atletas. Miranda et al. (2019) identificaram diferenças em relação as velocidades de 20 metros ao se relacionar com o talento motor de jovens escolares. Na natação competitiva, há diferentes distâncias a serem percorridas, como em provas de velocidade (50 e 100 metros), e provas em que há a predominância maior da capacidade aeróbica (provas de 800 e 1500 metros) (Maglischo, 2010). Os resultados do presente estudo apontam que o VO2máx e a distância percorrida tiveram diferença significativa, como tamanho do efeito elevado, na comparação dos grupos. A resistência aeróbica, para nadadores, é uma variável fundamental para o êxito em competições, apresentando relação direta com o tipo de treinamento realizado (Xingyu, Zan, e Chao, 2023). Uma possível explicação para que a maioria dos resultados dos indicadores físico-motores apresentassem diferenças significativas pode estar relacionado aos efeitos causados pelo treinamento aos jovens nadadores, quando comparados aos não atletas.
No que concerne aos aspectos psicossociais, os jovens nadadores apresentaram diferenças significativas, com tamanho do efeito de moderado a elevado, em todas as variáveis. Com a intenção de controlar os efeitos deletérios do estresse e ansiedade é de suma importância que o jovem atleta tenha a habilidade de gerenciar o estresse por meio de técnicas de relaxamento, além disso, o apoio de familiares e treinadores se torna fundamental para o sucesso esportivo (Ferreira, e Moraes, 2012; Liang et al., 2021, Vieira et al., 2021). Sobreira et al. (2019) apontam que os meninos de alto potencial esportivo apresentam, entre suas principais características psicológicas, que a habilidade coping é uma das variáveis mais importantes para o potencial esportivo de jovens. Por fim, ao analisar a natação, especificamente, Haase (2021) afirma que há necessidade de se estabelecer um arcabouço de habilidades mentais, em conjunto com o apoio familiar, com a intenção de diminuir os fatores psicológicos prejudiciais que estão envolvidos no processo treinamento-competição de jovens atletas.
Ao analisar às características maturacionais, somente foi identificado que os jovens nadadores têm maior estatura predita, não sendo observadas diferenças em relação ao timing e status da maturação somática, ou seja, a idade do PVC e ao %EAP, entre os grupos. Vieira et al. (2022) com o objetivo de caracterizar a maturação somática de jovens nadadores com o desempenho esportivo, avaliaram 252 jovens nadadores em uma competição estadual, e verificaram que, no masculino, há relação direta e positiva entre a maturação somática e o desempenho esportivo. Malina et al. (2015) aponta em relação entre maturação e esporte infanto-juvenil, o qual favorece a seleção de atletas biologicamente avançados em detrimento dos atrasados. A maturação biológica é uma das possíveis causas de um fenômeno denominado como o efeito da idade relativa no esporte, que tende a privilegiar os atletas nascidos nos primeiros meses do ano de seleção (Werneck et al., 2017). A combinação entre a data de nascimento do atleta e o status de maturação pode acarretar vantagens, sobretudo em relação ao tamanho corporal dos atletas. Portanto, é necessário cautela no processo de seleção de jovens atletas, já que tais vantagens, podem ser apenas passageiras.
Sugere-se que a maturação biológica deva ser monitorada durante as fases de desenvolvimento do jovem atleta. Dessa forma, se torna fundamental que o profissional de educação física consiga, a partir de ferramentas de fácil acesso e previamente validadas, avaliar a maturação do atleta. Sob esta perspectiva, o software BioFit® - Avaliação da Maturação Biológica do Projeto Atletas de Ouro® permite a emissão de laudo individualizado diretamente da internet. Tal ferramenta possui tutorial explicativo sobre como utilizar, e como interpretar os resultados. Por meio do software, disponível gratuitamente na web (https://labespee.ufop.br/atletas-de-ouro) (Werneck, Coelho, e Ferreira, 2020) é possível estimar o status de maturação biológica e a idade do pico de velocidade em estatura, além de prever a estatura do jovem aos 18 anos.
Os resultados do presente estudo possibilitaram uma caracterização do perfil de jovens nadadores do sexo masculino de nível escolar que podem servir de base para os professores de Educação Física no estabelecimento de critérios de performance motora e na orientação esportiva de seus alunos-atletas. Sob o ponto de vista prático, o estudo mostra que jovens atletas são um grupo seleto com características, capacidades e habilidades diferentes da população não atleta, seja pelo efeito do treino ou devido a constituição genética. As diferenças não encontradas no tamanho corporal e na maturação biológica poderiam ser explicadas pelo nível competitivo dos atletas, pois tais diferenças acentuam-se em maiores níveis competitivos (Malina et al., 2015). Cabe ao professor desenvolver os seus alunos-atletas no limite de seus potenciais. Algumas limitações podem ser apontadas, como: 1) Não foi controlada a motivação na execução dos testes físico-motores; 2) Os dados se restringem nadadores de nível escolar e escolares do sexo masculino. Não foram coletadas informações especificas para nadadores, como flexibilidade de tornozelo e habilidades específicas na água, sugerindo cautela na interpretação dos resultados encontrados. Novos estudos devem se atentar ao progresso do potencial esportivo dos escolares, a aderência a prática esportiva e ao programa de treinamento.
Conclusões
Conclui-se que os jovens nadadores do sexo masculino do colégio militar apresentam menor percentual de gordura, maior desempenho físico-motor, melhores indicadores psicológicos, maior estatura adulta prevista e possuem maior potencial esportivo segundo a opinião de seus professores quando comparados aos escolares não atletas. Tais resultados podem servir como suporte para professores-treinadores no processo de identificação, seleção e desenvolvimento de jovens nadadores no nível escolar.
Financiamento:
O presente trabalho foi realizado com apoio da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), por meio de editais de Auxílio ao Pesquisador.
Agradecimentos:
Agradecemos o apoio da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), ao Colégio Militar de Juiz de Fora (CMJF) e a todos que contribuíram na coleta dos dados.
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