Flávio Avelino Bezerra*

flavioavelino1991@gmail.com

Jéssica Martins Felix**

jessicafelix141315@gmail.com

Ritchele Diego de Almeida Freitas***

ritchelearthur@gmail.com

Caio Vinícius da Silva+

caioviniciusgba@hotmail.com

Maiara Alves Nascimento Araújo++

maiaraanascimento13@gmail.com

João Antonio Silva Araújo+++

joaooaaraujo@gmail.com

*Bacharel em Educação Física

da Escola de Ensino Superior do Agreste Paraibano (EESAP)

Voluntário no Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde e Deficiência (GPSADE)

da Faculdade EESAP, Buarabira, Paraíba

**Bacharela em Educação Física da Escola de EESAP

Voluntário no Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde e Deficiência (GPSADE)

da Faculdade EESAP, Guarabira, Paraíba

***Bacharel em Educação Física da Escola de EESAP

+Biólogo pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA-CE)

Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente

pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Docente da Escola de Ensino Superior do Agreste Paraibano (EESAP)

Pesquisador colaborador do Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde

e Deficiência (GPSADE) da Faculdade EESAP, Guarabira, Paraíba

++Fonoaudióloga pelo Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ)

Especialização em Fonoaudiologia Hospitalar e Disfagia

pelo Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ)

Especialização em Avaliação em Saúde Aplicada à Vigilância

pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Mestre em Ciências da Reabilitação

pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Docente da Escola de Ensino Superior do Agreste Paraibano (EESAP)

Pesquisadora colaboradora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde

e Deficiência (GPSADE) da Faculdade EESAP, Guarabira, Paraíba

+++Fisioterapeuta pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Especialização em Aprendizagem Motora

pela Universidade de São Paulo (USP)

MBA em Gestão do Ensino Superior

pela Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL)

Mestre em Ciências da Reabilitação

pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

com estágio de docência e pesquisa

na Universidad Autónoma de Manizales (UAM), Colômbia

Docente da Escola de Ensino Superior do Agreste Paraibano (EESAP).

Fundador e coordenador do Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde

e Deficiência (GPSADE) da Faculdade EESAP, Guarabira, Paraíba

(Brasil)

Recepção: 07/04/2023 - Aceitação: 29/07/2023

1ª Revisão: 29/04/2023 - 2ª Revisão: 26/07/2023

Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

Citação sugerida: Bezerra, F.A., Felix, J.M., Freitas, R.D. de A., Silva, C.V. da, Araújo, M.A.N., e Araújo, J.A.A. (2023). A importância da Educação Física no desenvolvimento motor infantil: uma revisão integrativa. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(306), 192-207. https://doi.org/10.46642/efd.v28i306.3952

 

Resumo

    O desenvolvimento motor é um processo contínuo caracterizado por mudanças no comportamento motor que são aperfeiçoadas ao longo da vida. A Educação Física pode melhorar o desenvolvimento motor, psicológico, social e cultural de crianças em idade escolar. O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão crítica da literatura a fim de se identificar e descrever a importância da Educação Física no desenvolvimento motor na infância. Trata-se de um estudo bibliográfico do tipo revisão integrativa da literatura. Foram exploradas as bases de dados Pubmed, Scielo e Lilacs entre agosto e novembro de 2021 aplicando-se os seguintes descritores cruzados entre si por meio dos operadores booleanos “AND” e “OR”: Educação Física; Desenvolvimento Infantil; Habilidades Motoras. Foram encontrados 68 estudos. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 12 artigos acadêmicos, sendo 10 estudos de campo, uma pesquisa transversal e um estudo de caso. A literatura atual destaca a importância do profissional de Educação Física no desenvolvimento motor infantil, participando de forma positiva para aquisição e refinamento do desempenho motor, da maturidade cognitiva, de habilidades motoras básicas e fundamentais, motricidade fina e grossa, coordenação motora, equilíbrio e aptidão física.

    Unitermos: Educação Física. Desenvolvimento infantil. Habilidades motoras.

 

Abstract

    Motor development is a continuous process characterized by changes in motor behavior that are perfected throughout life. Physical Education can improve the motor, psychological, social and cultural development of school-aged children. The objective of this work was to carry out a critical review of the literature in order to identify and describe the importance of Physical Education in motor development in childhood. This is a bibliographic study of the integrative literature review type. The Pubmed, Scielo and Lilacs databases were explored between August and November 2021 by applying the following descriptors crossed with each other through the Boolean operators “AND” and “OR”: Physical Education; Child development; Motor Skills. 68 studies were found. After applying the inclusion and exclusion criteria, 12 academic articles were selected, including 10 field studies, a cross-sectional survey and a case study. Current literature highlights the importance of Physical Education professionals in children's motor development, positively participating in the acquisition and refinement of motor performance, cognitive maturity, basic and fundamental motor skills, fine and gross motor skills, motor coordination, balance and physical aptitude.

    Keywords: Physical Education. Child development. Motor skills.

 

Resumen

    El desarrollo motor es un proceso continuo caracterizado por cambios en el comportamiento motor que mejoran a lo largo de la vida. La Educación Física puede mejorar el desarrollo motor, psicológico, social y cultural de los niños en edad escolar. El objetivo de este trabajo fue realizar una revisión crítica de la literatura con el fin de identificar y describir la importancia de la Educación Física en el desarrollo motor en la infancia. Se trata de un estudio bibliográfico del tipo revisión integradora de la literatura. Se exploraron las bases de datos Pubmed, Scielo y Lilacs entre agosto y noviembre de 2021, aplicando los siguientes descriptores cruzados entre sí mediante los operadores booleanos “AND” y “OR”: Educación Física, Desarrollo infantil, Habilidades motoras. Se encontraron 68 estudios. Luego de aplicar los criterios de inclusión y exclusión, se seleccionaron 12 artículos académicos, incluyendo 10 estudios de campo, una investigación transversal y un estudio de caso. La literatura actual destaca la importancia del profesional de Educación Física en el desarrollo motor de los niños, participando de manera positiva en la adquisición y perfeccionamiento del desempeño motor, madurez cognitiva, motricidad básica y fundamental, motricidad fina y gruesa, coordinación motriz, equilibrio y aptitud física.

    Palabras clave: Educación Física. Desarrollo infantil. Habilidades motoras.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 306, Nov. (2023)

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Introdução 

 

    O desenvolvimento motor é um processo contínuo, que ocorre desde o nascimento até a morte e é caracterizado por mudanças no comportamento motor, tanto na postura quanto nos movimentos, que são aperfeiçoadas ao longo de toda vida (Gallahue, Ozmun, e Goodway, 2013). A aquisição de habilidades motoras ocorre em etapas e segue uma sequência específica em concordância com a idade, como rastejar (após dois meses), sentar-se (entre seis e sete meses), engatinhar (por volta dos nove meses), realizar ortostatismo (aproximadamente um ano) e deambular (entre 14 e 18 meses) (Costa et al., 2021). Este processo de desenvolvimento é composto por quatro fases: (1) reflexa, compreendida desde o útero até o primeiro ano de vida; (2) rudimentar, do nascimento aos dois anos; (3) fundamental, dos dois aos sete anos e (4) especializada, a partir dos sete anos de idade até por volta dos 14. (Gallahue, Ozmun, e Goodway, 2013)

 

    Na fase reflexa acontecem os primeiros movimentos realizados pelo ser humano. São movimentos involuntários comandados subcorticalmente e são a base para os movimentos motores reflexos, ou seja, reações automáticas desencadeadas por estímulos. Na fase rudimentar os movimentos são determinados de forma maturacional e caracterizam-se por uma sequência de aparecimento previsível. A fase fundamental é marcada por movimentos voluntários mais específicos havendo uma constante exploração e experimentação da capacidade motora. Na fase especializada as habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas fundamentais são progressivamente refinadas, combinadas e elaboradas para o uso em situações crescentemente exigentes. (Gallahue, Ozmun, e Goodwar, 2013)

 

    É durante a primeira infância que as habilidades mais importantes são adquiridas, tais como as habilidades motoras grossas (movimentos com a utilização de vários músculos em todo o corpo) e finas (movimentos de precisão, controle, coordenação e destreza dos membros superiores) (Gallahue, e Donnelly, 2008). Habilidades motoras fundamentais podem até ser aprendidas e adquiridas naturalmente nos estágios inicial e elementar sem a oferta de prática estruturada e informação apropriada. Isso acontece através da participação nos diversos jogos e brincadeiras de caráter predominantemente lúdico vivenciados pelas crianças, descobrindo assim novas possibilidades de movimento, bem como pela simples maturação do sistema nervoso central. (Gallahue, e Donnelly, 2008)

 

    Entretanto, é fundamental que se ofereça à criança um ambiente diversificado em situações que propiciem vivências de atividades motoras, como relata o estudo de Silva Filho (2019) com relação ao impacto do ambiente na participação de crianças em contextos como casa, escola e comunidade e como intervenções focadas nos fatores ambientais melhoram os níveis de envolvimento destas crianças em diversas atividades e situações da vida.

 

    Sendo assim, é pertinente compreender e destacar o papel da Educação Física Escolar (EFE) no desenvolvimento motor infantil. A EFE é determinante e influente nos aspectos motores e cognitivos das crianças, promovendo hábitos de vida saudável e otimizando o processo de desenvolvimento (Bernate, 2021), além de enaltecer a concepção e o aumento da aptidão física relacionada à saúde, amplia o tempo de atividade física e transmite conhecimentos sobre o exercício físico. (Devide, 2007; Oliveira, 2019)

 

    Diante do exposto e considerando que as quatro fases do desenvolvimento motor devem ser interpretadas cautelosamente, tendo em vista que variações ocorrem na infância, destaca-se a contribuição da EFE, pois ela pode oportunizar experiências através da realização das habilidades motoras, além de melhorar o desenvolvimento motor, psicológico, social e cultural de crianças em idade escolar.

 

    O objetivo foi identificar a importância da Educação Física no desenvolvimento motor de crianças por meio de uma revisão crítica da literatura.

 

Metodologia 

 

    Trata-se de um estudo bibliográfico do tipo revisão integrativa da literatura que tomou como embasamento a pergunta norteadora “qual a importância da Educação Física para o desenvolvimento motor das crianças?”. Para a realização desta pesquisa foram realizadas as seguintes etapas: (1) Buscas: foram exploradas as bases de dados Pubmed, Scielo e Lilacs entre os meses de agosto e novembro do ano de 2021 aplicando-se os seguintes descritores cruzados entre si por meio dos operadores booleanos “AND” e “OR”: Educação Física AND Desenvolvimento Infantil AND Habilidades Motoras; Educação Física AND Desenvolvimento Infantil OR Habilidades Motoras; Educação Física OR Desenvolvimento Infantil AND Habilidades Motoras; (2) Seleção: para este estudo foram definidos os seguintes critérios de inclusão: artigos que abordassem o papel da Educação Física para o desenvolvimento motor e as habilidades motoras na infância; estudos publicados no período de 2016 a 2021, e que fossem caracterizados como estudos qualitativos ou quantitativos, observacionais ou ensaios clínicos. Os critérios de exclusão estabelecidos foram: artigos de revisão, monografias, dissertações e teses publicados anteriormente ao ano de 2016 e que estivessem em idiomas diferentes de português, inglês ou espanhol, que não abordassem o tema principal da pesquisa e os que não estivessem disponíveis na íntegra; (3) Inclusão: seleção dos estudos que irão compor o relatório final de estudo.

 

Resultados 

 

    Como resultado da fase de buscas, foram encontrados 68 artigos a partir dos descritores em Ciências da Saúde cruzados entre si por operadores boleados. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, conforme citado na metodologia, foram incluídos neste estudo 12 artigos acadêmicos assim distribuídos nas bases de dados selecionadas: PubMed: um artigo, Scielo: um artigo, Lilacs: 10 artigos, resultado da fase de seleção. Estas informações podem ser melhor identificadas na Figura 1 a seguir.

 

Fonte: Dados da pesquisa (2021)

 

    Da fase de inclusão, os resultados obtidos foram 12 artigos selecionados para esta revisão integrativa, sendo dois do ano de 2016, um do ano de 2017, um do ano de 2018, três são do ano de 2019, quatro do ano 2020 e um do ano de 2021. Quanto ao local de desenvolvimento dos estudos, 10 artigos são brasileiros, um é de Cuba e um de Costa Rica. Com relação ao delineamento da pesquisa, 10 são estudos de campo, um é pesquisa transversal e um é estudo de caso. Todas as informações sobre os autores, ano de publicação, objetivos, delineamento de estudo, amostra, país de origem, instrumentos utilizados e principais resultados dos artigos utilizados nesta pesquisa estão descritas nos Quadros 1 e 2.

 

Autores/ano	Objetivo	Delineamento do estudo	Amostra	País de origem
Rocha et al. (2016)	Analisar o desempenho motor e a maturidade cognitiva de pré-escolares de Maringá (PR) em função da idade.	Estudo de campo	n = 89 (crianças de ambos os sexos, com idades de 04 e 05 anos)	Brasil
França et al. (2016)	Verificar o desenvolvimento motor das habilidades motoras fundamentais de crianças do 3º e 5º ano do Ensino Fundamental, que tiveram aulas de Educação Física desde o 1º ano do ensino fundamental com profissional da área.	Estudo de campo	n = 23 (crianças de ambos os sexos, com idade entre 8 e 10 anos)	Brasil
Silva et al. (2017)	Avaliar efeitos de um programa de intervenção em escolares de oito a dez anos da rede pública de ensino do município de Matinhos-PR, Brasil.	Estudo de campo	n = 91 (crianças de ambos os sexos)	Brasil
Tella et al. (2018)	Investigar a influência do nível socioeconômico e da escolaridade materna no desenvolvimento linguístico, motor e cognitivo do bebê.	Estudo de campo	n = 85 (bebês de ambos os sexos)	Brasil
Ota et al. (2019)	Determinar os efeitos de uma intervenção pedagógica da Educação Física sobre a coordenação motora de crianças de 5-6 anos de uma escola de Educação Infantil.	Estudo de campo	n = 36 (crianças de ambos os sexos com idade entre 5 e 6 anos)	Brasil
Cortez et al. (2019)	Avaliar e comparar habilidades motoras de crianças com baixo e alto desempenho escolar, segundo percepção do professor em sala de aula.	Estudo de campo	Escolares entre 6 e 11 anos	Brasil
Saraiva et al. (2019)	Analisar o nível de coordenação motora (CM) e de aptidão física (ApF), assim como a relação entre estas variáveis, em crianças do 9 aos 14 anos de idade.	Estudo de campo	n = 738 (crianças; 400 meninos e 338 meninas)	Brasil
Queiroz et al. (2020)	Comparar a Competência Motora (CM) de pré-escolares em dois diferentes anos e identificar o efeito de fatores contextuais (tipo de escola e renda)	Estudo transversal repetido	n = 552 (crianças; 299 meninos e 253 meninas)	Brasil
Caruzzo et al. (2020)	Investigar a associação entre desempenho motor, maturidade cognitiva e aspectos sociodemográficos em crianças pré-escolares paranaenses.	Estudo de campo	n = 6.278 (crianças de ambos os sexos, com idades entre três anos a cinco anos)	Brasil
Martinez (2020)	Avaliar o efeito de um programa que utilizou estratégias pedagógicas para habilidades motoras grossas e finas de aprendizagem por meio da Educação Física em alunos com deficiência auditiva.	Estudo de campo	n = 15 (9 meninos; 6 meninas)	Brasil
Castro et al. (2020)	Determinar o efeito de uma intervenção motora baseada no método de descoberta guiada sobre os padrões básicos de movimento de uma criança típica	Estudo de caso	n = 1 (menino de 9 anos)	Costa Rica
Zamora et al. (2021)	Desenvolver capacidades motoras básicas nas crianças no sexto ano de vida ou em idade pré-escolar, criando um ambiente de ensino, baseado numa experiência com crianças no sexto ano de vida que frequentam Círculos Infantis na Ilha da Juventude	Estudo de campo	n = 22 (crianças de ambos os sexos)	Cuba
Fonte: Dados da pesquisa (2021)

 

Autores/ano	Instrumentos utilizados	Principais resultados
Rocha et al. (2016)	Bateria de Avaliação do Movimento para Crianças (MABC-2) e Escala de Maturidade Mental Colúmbia	Em geral, os pré-escolares apresentaram índices satisfatórios na classificação motora e cognitiva e há uma interação significativa entre estas variáveis.
França et al. (2016)	TGMD-2 (Test of Gross Motor Development-II)	As crianças do 3º e 5º ano do ensino fundamental apresentam desenvolvimento motor inferior ao esperado para as respectivas idades cronológicas para as habilidades avaliadas.
Silva et al. (2017)	Programa de intervenção semanal da Educação Física	Verificou-se que o Grupo Experimental (GE) apresentou aumento significativo comparado ao momento de avaliação, fato não observado entre crianças do Grupo Controle (GC). Houve elevação significativa das médias na reavaliação no GC e no GE, contudo, o GE apresentou diferenças significativas em relação ao GC nas dimensões Motricidade Fina e Equilíbrio.
Tella et al. (2018)	Escalas Bayley de Desenvolvimento Infantil	Foi observada uma associação positiva entre o nível socioeconômico e o desempenho dos lactentes nas escalas de linguagem e desenvolvimento motor.
Ota et al. (2019)	Körperkoordination Test für Kinder (KTK)	O grupo experimental apresentou avanços estatisticamente significativos na coordenação motora, quando comparado ao grupo controle.
Cortez et al. (2019)	Programa de intervenção semanal da Educação Física	A média da idade cronológica foi semelhante entre os grupos, entretanto a média da idade motora geral foi menor no baixo desempenho escolar.
Saraiva et al. (2019)	FITNESSGRAM	Houve associação positiva entre estas variáveis, tendo as crianças com melhor coordenação motora apresentando um nível de aptidão física também elevado.
Queiroz et al. (2020)	Test of Gross Motor Development – 2	Houve uma diminuição na Competência Motora (CM) da população pré-escolar após dois anos e que as variáveis contextuais (tipo de escola e renda) são importantes para o desenvolvimento da CM.
Caruzzo et al. (2020)	Escala de Maturidade Mental Colúmbia, teste Movement Assessment Battery for Children - 2	Os fatores sociodemográficos não se mostraram intervenientes no desempenho motor. A maturidade cognitiva superior em crianças na primeira infância atua como fator de proteção à baixa proficiência motora e que os fatores sociodemográficos da família não se associaram ao desempenho motor e a maturidade cognitiva dos pré-escolares.
Martinez (2020)	Programa de Educação Física aplicado em 40 sessões, durante cinco meses	A participação por cinco meses em um programa de Educação Física influencia positivamente a coordenação de habilidades motoras grossas e finas em alunos com deficiência auditiva.
Castro et al. (2020)	Avaliação de Padrões Básicos de Movimento	Houve melhora no percentual de mudança em quatro dos padrões locomotivos entre 33,33% e 300%; nos padrões manipulativos entre 37,5% e 900%; bem como melhora de 50% no total de habilidades locomotivas e 85,18% no total de habilidades manipulativas.
Zamora et al. (2021)	Desenvolveu um método de ensino voltado às capacidades motoras básicas	O meio múltiplo para o desenvolvimento das habilidades motoras básicas nas crianças no sexto ano de vida demonstrou que não só contribui para a melhoria do desenvolvimento das habilidades motoras básicas, mas também para o desenvolvimento da criatividade através da solução de situações reais.

Fonte: Dados da pesquisa (2021)

 

Discussão 

 

    A fim de encontrar evidências científicas que corroboram para a compreensão do papel da Educação Física no desenvolvimento motor na infância, um processo vital resultante da interação entre os fenômenos de crescimento, maturação e aprendizagem, várias pesquisas têm sido realizadas.

 

    Um estudo analisou o desempenho motor e a maturidade cognitiva de pré-escolares, através dos instrumentos Bateria de Avaliação do Movimento para Crianças (MABC-2) (Henderson, Sugden, e Barnett, 2007) e Escala de Maturidade Mental Colúmbia (Burgemeister et al., 1977) e os resultados apontaram que este público apresenta índices satisfatórios na classificação motora e cognitiva havendo inclusive uma interação significativa entre estas variáveis, o que sugere a importância da disciplina de Educação Física para os alunos. (Rocha et al., 2016)

 

    Uma outra pesquisa utilizou o Instrumento de Avaliação de Padrões Básicos de Movimento para investigar o efeito da intervenção motora sobre os padrões básicos de movimento de uma criança típica de nove anos de idade, concluiu que a intervenção motora pode ser uma ferramenta útil para melhorar as habilidades motoras básicas em crianças (Castro, Víquez, e Aguilar, 2020), reafirmando um outro estudo que desenvolveu um método de ensino voltado às capacidades motoras básicas como caminhar, correr, saltar e lançar entre crianças de seis anos e concluiu que não somente estas habilidades foram melhoradas como também a criatividade através da solução de situações reais. (Zamora et al., 2020)

 

    Ainda nesta perspectiva, foi verificado o desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais de crianças do 3º e 5º anos do Ensino Fundamental com acesso às aulas de Educação Física desde o 1º ano. Todas as crianças foram filmadas realizando os subtestes locomotor e controle de objeto do TGMD-2 (Test of Gross Motor Development-II) (Ulrich, 2000) e os resultados destacaram a participação do profissional desta área, pois pode garantir a proficiência motora esperada para as respectivas idades cronológicas destas crianças. (França et al., 2016)

 

    A influência do nível socioeconômico (NSE) e da escolaridade materna no desenvolvimento linguístico, motor e cognitivo de 444 lactentes entre seis e nove meses de idade selecionados em um bairro de baixo NSE na zona oeste de São Paulo, Brasil, foi investigada utilizando-se a Escala Bayley de Desenvolvimento Infantil (Bayley, 2006). Um questionário também foi administrado para coletar dados sobre o background socioeconômico das famílias das crianças participantes. Foi observada uma associação positiva entre NSE e o desempenho dos lactentes nas escalas de linguagem e desenvolvimento motor. Adicionalmente, maior educação materna esteve associada a escores mais altos nas escalas de desenvolvimento linguístico e cognitivo. (Tella et al., 2018)

 

    Estudiosos compararam a competência motora (CM) de pré-escolares em dois diferentes anos e identificaram o efeito de fatores contextuais (tipo de escola e renda). Duas amostras representativas de crianças (três a cinco anos) da cidade do Recife foram avaliadas em dois momentos: nos anos de 2010 (282 crianças; 151 meninos e 131 meninas) e 2012 (270 crianças; 148 meninos e 122 meninas). A avaliação da CM foi realizada com o Test of Gross Motor Development – 2 (Ulrich, 2000). Foi identificada uma superioridade nas habilidades locomotoras, de controle de objetos e no quociente motor geral para as crianças analisadas em 2010 e o tipo de escola e renda aumentaram o tamanho do efeito das diferenças nas habilidades de controle de objetos e no quociente motor geral (Queiroz et al., 2020). Também através da associação entre desempenho motor, maturidade cognitiva e aspectos sociodemográficos em 357 pré-escolares paranaenses de três e meio a cinco anos de idade, foram utilizados a Escala de Maturidade Mental Colúmbia (Burgemeister et al., 1977), teste Movement Assessment Battery for Children – 2 (Henderson, Sugden, e Barnett, 2007) e uma ficha de dados sociodemográficos. Os fatores sociodemográficos não se mostraram intervenientes no desempenho motor (DM). A maturidade cognitiva (MC) superior em crianças na primeira infância atua como fator de proteção à baixa proficiência motora e que os fatores sociodemográficos da família não se associaram ao DM e a MC dos pré-escolares. (Caruzzo et al., 2020)

 

    Em relação à coordenação motora, foram pesquisados os efeitos de uma intervenção pedagógica da Educação Física sobre crianças com idades entre cinco e seis anos separadas em grupo experimental (n=10) e grupo controle (n=25). O grupo experimental realizou dez sessões de atividades motoras lúdicas, durante 60 minutos cada, uma vez por semana, em espaço destinado a movimentação corporal. No início e término da intervenção todos os participantes foram avaliados pelo Körperkoordination Test für Kinder – KTK (Kiphard, e Schilling, 1974). Os resultados acusaram que o grupo experimental obteve avanços estatisticamente significativos na coordenação motora, quando comparado ao grupo controle. (Ota et al., 2019)

 

    As habilidades motoras grossas e finas de alunos com deficiência auditiva foram avaliadas através de uma amostra composta por quinze estudantes com diagnóstico de deficiência auditiva, com idade de 7,7 ± 0,3 anos (meninos n = 9 e meninas n = 6), que participaram de um programa de Educação Física aplicado em 40 sessões, durante cinco meses e os resultados revelaram uma influência positiva destes profissionais no desempenho motor de crianças com deficiência auditiva. (Martínez, 2020)

 

    Outras pesquisas também investigaram a motricidade fina e o equilíbrio a partir de um programa de intervenção semanal da Educação Física entre escolares com faixa etária entre oito e dez anos, matriculados da rede pública de ensino do interior do Paraná (Brasil) e apontaram avanços nos aspectos testados. (Cortez, Ferreira, e Bella; 2029; Silva et al., 2019)

 

    No que concerne à coordenação motora (CM) e de aptidão física (ApF), um estudo averiguou a relação entre estas variáveis em um público de 738 crianças entre nove e 14 anos de idade (400 meninos e 338 meninas), provenientes dos 21 estabelecimentos de ensino fundamental da rede pública de uma cidade do norte de Portugal. A CM foi avaliada através de testes de equilíbrio à retaguarda, saltos laterais, saltos monopedais e transferências laterais, enquanto para a ApF foi aplicada a bateria do FITNESSGRAM (Plowman et al., 2010), constituída pelos testes de corrida vai e vem, força abdominal, flexão do tronco, flexões de braços e extensão do tronco. Foi observada uma associação positiva entre estas variáveis, o que reforça a importância do envolvimento das crianças e adolescentes em atividades planejadas e apropriadas ao desenvolvimento de habilidades motoras que constituem as bases para um nível saudável de aptidão física. (Saraiva, e Lopes, 2019)

 

    A falta de atividades motoras dentro das escolas de ensino infantil pode estar contribuindo para as suspeitas de atrasos do desenvolvimento motor, sendo necessários novos estudos, com intervenção motora e acompanhamento do crescimento e desenvolvimento dessas crianças, pois a atuação do professor de Educação Física na primeira etapa da Educação Básica poderá influenciar positivamente na aquisição de habilidades motoras grossas. (Siqueira et al., 2019)

 

Conclusão 

 

    Diante do exposto, é possível observar que a literatura atual destaca o papel do profissional da Educação Física no desenvolvimento motor infantil, participando de forma positiva para a aquisição e refinamento do desempenho motor e maturidade cognitiva de crianças em idade escolar, bem como de habilidades motoras básicas e fundamentais, motricidade fina e grossa, coordenação motora, equilíbrio e aptidão física. Assim, é importante que exista uma maior inserção deste profissional nas escolas brasileiras, aumentando a oferta destas aulas a crianças em pleno processo de desenvolvimento motor.

 

Referências 

 

Bayley, N. (2006). Bayley scales of infant and toddler development (3rd ed.). Pearson.

 

Bernate, J. (2021). Physical Education and its contribution to the comprehensive development of motor skills. Podium (Pinar Río), 16(2), 643-661. https://podium.upr.edu.cu/index.php/podium/article/view/957/

 

Burgemeister, B.B., Blum, L.H., e Lorge, I. (1977). Escala de maturidade mental Colúmbia, Manual de aplicação. Editora Psicopedagógica Ltda.

 

Caruzzo, N.M., Santos, V.P., Belem, I.C., Contreira, A.R., Fiorese, L., e Vieira, J.L.L. (2020). Associação entre desempenho motor, maturidade cognitiva e aspectos sociodemográficos em crianças pré-escolares. J Phys Educ., 31, e3174. https://doi.org/10.4025/jphyseduc.v31i1.3174

 

Castro, M.M., Víquez, R.A., e Aguilar, S.B. (2020). Efecto de una intervención motriz basada en el método de descubrimiento guiado sobre los patrones básicos de movimiento de un niño de 9 años: estudio de caso. MHSalud, 17(1). http://dx.doi.org/10.15359/mhs.17-1.3

 

Cortez, G.M.V., Ferreira, H.H.M., e Bella, G.P. (2019). Comparative study between school and motor performance in children aged 6 to 11 years according to teachers’ perceptions. Fisioter Mov., 32(e003212). https://doi.org/10.1590/1980-5918.032.AO12

 

Costa, A.C.R.V., Ferraz, N.N., e Berezovsky, A. (2021). Cognitive, motor, and visual development in healthy children in the first 42 months of life. Arq. Bras. Oftalmol., 84(5), 436-441. https://doi.org/10.5935/0004-2749.20210068

 

Devide, F.P. (2007). Educação Física, Qualidade de Vida e Saúde: campos de intersecção e reflexões sobre a intervenção. Movimento, 8(2), 77-84. https://doi.org/10.22456/1982-8918.2644

 

França, E.F., Ferreira, B.M.A., Braga, P.L.G., e Silva, A.I. (2016). Avaliação motora de alunos do ensino fundamental de uma escola de São Miguel Paulista-SP. HU Revista. 42(4), 283-290. https://periodicos.ufjf.br/index.php/hurevista/article/view/2568

 

Gallahue, D.L., e Donnelly, F.C. (2008). Educação física desenvolvimentista para todas as crianças. Phorte Editora.

 

Gallahue, D.L., Ozmun, J.C., e Goodway, J.D. (2013). Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos (7ª ed.). Phorte Editora.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 306, Nov. (2023)