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ISSN 1514-3465

 

Dor, nível de atividade física e comportamento 

sedentário em estudantes de fisioterapia

Pain, Physical Activity Level and Sedentary Behavior in Physiotherapy Students

Dolor, nivel de actividad física y comportamiento sedentario en estudiantes de fisioterapia

 

Samira Lobo Lopes*

samiralobo@discente.ufj.edu.br

Marianne Lucena da Silva**

marianne.lucena@ufj.edu.br

Eduardo Vignoto Fernandes***

eduardovignoto@ufj.edu.br

Katiane da Costa Cunha+

katianefisio@yahoo.com.br

Luiz Fernando Gouvêa-e-Silva++

lfgouvea@ufj.edu.br

 

*Graduanda em Fisioterapia

Universidade Federal de Jataí (UFJ), Jataí, Goiás

Discente do Programa de Iniciação

à Pesquisa Científica, Tecnológica e em Inovação

Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa Morfofuncional na Saúde e Doença

**Graduada em Fisioterapia, Universidade Paulista

Mestre em Educação Física, Universidade de Brasília, Brasília

Doutora em Ciências e Tecnologias em Saúde pela Universidade de Brasília

Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa Morfofuncional na Saúde e Doença

Professora da Universidade Federal de Jataí

***Graduado em Educação Física

Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, Paraná

Mestre e Doutor em Patologia Experimental pela UEL

Vice-líder do Grupo de Estudo e Pesquisa Morfofuncional na Saúde e Doença

Professor da Universidade Federal de Jataí, Jataí, Goiás

+Graduada em Fisioterapia

Universidade do Estado do Pará (UEPA), Belém, Pará

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano

Universidade da Amazônia, Belém, Pará

Doutorado em Psicologia (Teoria e Pesquisa do Comportamento) (UEPA)

Professora da Universidade do Estado do Pará, Marabá, Pará

++Graduado em Educação Física

pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, Minas Gerais

Mestre em Genética e Bioquímica (UFU)

Doutor em Doenças Tropicais pela Universidade Federal do Pará, Belém, Pará

Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa Morfofuncional na Saúde e Doença

Professor da Universidade Federal de Jataí, Jataí, Goiás

(Brasil)

 

Recepção: 09/02/2023 - Aceitação: 05/03/2023

1ª Revisão: 22/02/2023 - 2ª Revisão: 02/03/2023

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Lopes, S.L., Silva, M.L. da, Fernandes, E.V., Cunha, K. da C., e Gouvea-e-Silva, L.F. (2023). Dor, nível de atividade física e comportamento sedentário em estudantes de fisioterapia. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(298), 102-124. https://doi.org/10.46642/efd.v27i298.3866

 

Resumo

    Introdução: O universitário é exposto a uma rotina hipocinética, estressante e com elevado comportamento sedentário (CS), que propicia a dor. Objetivo: Analisar a ocorrência de dor e sua relação com o nível de atividade física (NAF) e CS em estudantes de fisioterapia. Método: Estudo descritivo, transversal e quantitativo, com 64 estudantes, da Universidade Federal de Jataí, Jataí, Goiás, Brasil. A coleta de dados foi realizada entre maio/2021 e fevereiro/2022, por meio de formulário eletrônico contendo informações sociodemográficas, hábitos diários, NAF, CS, ocorrência e intensidade da dor. Os dados foram analisados por estatística descritiva e inferencial, adotando-se p<0,05. Resultados: Notou-se predominância de mulheres (90,6%), faixa etária de 18-27 anos (93,8%), solteiros (82,8%) e residentes com pais (54,6%). Todos os participantes relataram algum local de dor, sendo a média 6,81±3,85 locais, com intensidade média da dor de 1,50±0,38. As regiões das costas inferior (87,5%), cervical (73,4%) e costas superior (71,9%) foram os principais locais de dor. A maioria dos universitários eram ativos (59,4%) e possuíam um tempo sentado ≤400 minutos (73,4%). Para o tempo de tela na semana, predominou o uso do celular/videogame (57,8%) e computador/similar (54,7%) por >4h. Quando analisada a associação dos locais e intensidade para dor com as características sociodemográficas, dos hábitos, NAF e CS não se notou significância (p>0,05). Conclusão: Conclui-se que o NAF e o CS não se associaram com a dor, contudo todos os universitários apresentaram pelo menos um local para dor e as regiões mais acometidas foram as da coluna vertebral.

    Unitermos: Estudantes. Dor. Exercício físico. Comportamento sedentário.

 

Abstract

    Introduction: University students are exposed to a hypokinetic, stressful routine with high sedentary behavior (SB), which leads to pain. Objective: To analyze the occurrence of pain and its relationship with the physical activity level (PAL) and SB in physiotherapy students. Method: Descriptive, cross-sectional and quantitative study, with 64 students, from the Federal University of Jataí, Jataí, Goiás, Brazil. Data collection was performed between May/2021 and February/2022, using an electronic form containing sociodemographic information, daily habits, PAL, SB, occurrence and intensity of pain. Data were analyzed using descriptive and inferential statistics, adopting p<0.05. Results: There was a predominance of women (90.6%), aged 18-27 years (93.8%), single (82.8%) and residents with parents (54.6%). All participants reported some location of pain, with an average of 6.81±3.85 locations, with an average pain intensity of 1.50±0.38. The regions of the lower back (87.5%), cervical (73.4%) and upper back (71.9%) were the main sites of pain. Most college students were active (59.4%) and had a sitting time ≤400 minutes (73.4%). For screen time during the week, mobile phone/video game use (57.8%) and computer/similar (54.7%) for >4h predominated. When analyzing the association of pain locations and intensity with sociodemographic characteristics, habits, PAL and SB, no significance was noted (p>0.05). Conclusion: It is concluded that PAL and SB were not associated with pain, however all university students had at least one site for pain and the most affected regions were the spine.

    Keywords: Students. Pain. Exercise. Sedentary behavior.

 

Resumen

    Introducción: Los estudiantes universitarios están expuestos a una rutina hipocinética, estresante y con alto comportamiento sedentario (CS), lo que produce dolor. Objetivo: Analizar la ocurrencia de dolor y su relación con el nivel de actividad física (NAF) y CS en estudiantes de fisioterapia. Método: Estudio descriptivo, transversal y cuantitativo, con 64 estudiantes, de la Universidad Federal de Jataí, Brasil. La recolección de datos se realizó entre mayo/2021 y febrero/2022, utilizando un formulario electrónico que contiene información sociodemográfica, hábitos diarios, NAF, CS, ocurrencia e intensidad del dolor. Los datos fueron analizados mediante estadística descriptiva e inferencial, adoptando p<0,05. Resultados: Hubo predominio de mujeres (90,6%), de 18 a 27 años (93,8%), solteros (82,8%) y residentes con padres (54,6%). Todos los participantes relataron alguna localización del dolor, con media de 6,81±3,85 localizaciones, intensidad media del dolor de 1,50±0,38. Las regiones de la espalda baja (87,5%), cervical (73,4%) y espalda alta (71,9%) fueron los principales sitios de dolor. La mayoría de los estudiantes universitarios eran activos (59,4%) y tenían un tiempo sentado ≤400 minutos (73,4 %). Para el tiempo frente a la pantalla semanalmente, predominó el uso de teléfono móvil/videojuegos (57,8%) y computadora/similar (54,7%) por >4h. Al analizar la asociación de la localización e intensidad del dolor con las características sociodemográficas, hábitos, NAF y CS, no se observó significación (p>0,05). Conclusión: Se concluye que NAF y CS no se asociaron con dolor, sin embargo todos los universitarios presentaron al menos un sitio de dolor y las regiones más afectadas fueron la columna vertebral.

    Palabras clave: Estudiante. Dolor. Ejercicio físico. Comportamiento sedentario.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 298, Mar. (2023)


 

Introdução 

 

    A grande demanda de estudos faz com que o universitário deixe de buscar um estilo de vida saudável, como ter momentos de lazer e para a prática de atividade física, contribuindo para uma rotina sedentária e estressante que está associada com o aparecimento da dor (Toscano et al., 2016; Bulow et al., 2019; Dzakpasu et al., 2021; Eloi, Quemelo, e Sousa, 2022). Nesse sentido, nota-se que o estudante que passa mais de 7 horas do dia sentado, está associado com a piora da funcionalidade quando comparado ao estudante que passa um tempo menor sentado (Eloi, Quemelo, e Sousa, 2022). Assim como, um maior tempo de uso do computador tem sido associado com a piora da dor no pescoço e ombro (Dzakpasu et al., 2021; Guimarães et al., 2022). Em contrapartida, a diminuição do tempo sentado mostrou ter influência na diminuição da dor lombar, pescoço e ombro. (Dzakpasu et al., 2021)

 

    Como observado, o comportamento sedentário elevado também contribui para a diminuição do nível de atividade física (NAF) (Couto et al., 2019). Por outro lado, a prática de exercício físico se tem demonstrado como um fator positivo na redução dor. (Raposo, Ramos, e Lúcia Cruz, 2021)

 

Imagem 1. Um maior tempo de uso do computador tem sido associado com a piora da dor no pescoço e ombro

Imagem 1. Um maior tempo de uso do computador tem sido associado com a piora da dor no pescoço e ombro

Fonte: Pixabay.com

 

    Nesse sentido, embora alguns estudos apontem que o aumento do NAF esteja associado com o aumento do relato da dor (Silva et al., 2017; Jones et al., 1993) e que alunos treinados têm maior probabilidade de sentirem dores nas costas (Kędra et al., 2017). Gałczyk et al. (2021) destacam um aumento na intensidade de dor cervical com a diminuição do NAF. Além disso, a inatividade física está relacionada a maiores chances de queixas musculoesqueléticos crônicas (Holth et al., 2008). Assim, o presente estudo tem como objetivo analisar a ocorrência de dor e sua relação com o nível de atividade física e comportamento sedentário em estudantes de fisioterapia.

 

Métodos 

 

    O estudo se caracteriza como descritivo, transversal e quantitativo, realizado com estudantes matriculados no curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Jataí (UFJ), Jataí, Goiás, Brasil.

 

    A amostra foi estimada usando um simulador de tamanho de amostra (G*Power®, versão 3.1.9.4; Instituto de Psicologia Experimental em Dusseldorf, Alemanha), com erros do tipo I e II definidos como α = 0,05, β = 0,05, respectivamente, para obter um tamanho de efeito igual a 0,30. O cálculo determinou a coleta de dados de 35 participantes, equivalente a 18,5% do total de acadêmicos de Fisioterapia (n = 190).

 

    Nesse sentido, participaram do estudo 64 universitários, a partir dos seguintes critérios: critério de inclusão - discentes matriculados e cursando o curso Fisioterapia da UFJ, de ambos os sexos; critério de exclusão - discentes com idade inferior a 18 anos e o não preenchimento adequado dos formulários/instrumentos da pesquisa.

 

    O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (parecer: 3.969.378), bem como todos os participantes receberam orientações sobre o estudo e deram o consentimento de forma on-line, por meio do termo de consentimento livre e esclarecido.

 

    A coleta de dados foi realizada de maio de 2021 a fevereiro de 2022, momento em que as aulas estavam on-line (remotas), devido a pandemia pelo COVID-19. Para tanto, utilizou-se um formulário do aplicativo Google Forms®. Este formulário era constituído pelos seguintes instrumentos: informações sociodemográficas (sexo, idade, cor de pele, estado civil, vínculo empregatício, carga horária no vínculo empregatício, local de residência e com quem reside), de hábitos (tabagismo, etilismo e consumo semanal de bebida alcoólica) e sobre o curso (ano de ingresso e período do curso que está cursando); Diagrama de Corlett para a avaliação da dor; o Questionário Internacional de Atividade Física, versão curta (IPAQ); e informações sobre o comportamento sedentário.

 

    Para a avaliação da ocorrência e intensidade da dor foi utilizado o Diagrama de Corlett, construído e validado por Corlett, e Bishop (1976) e adaptado para a utilização no Brasil por Lida (1990). Ele é utilizado para avaliar a presença, localização e intensidade de dor relacionada a algum distúrbio osteomuscular. O Diagrama de Corlett apresenta ao participante uma figura ilustrativa do corpo humano com 27 regiões relacionadas à presença e intensidade de dor ou desconforto osteomuscular. A intensidade é assinalada de 1 a 5, onde 1 representa nenhuma dor e 5 a dor/desconforto intolerável.

 

    O IPAQ é um instrumento validado nacionalmente e com a vantagem de sua versão curta ser prática e possibilitar a verificação de grupos maiores de participantes. O seu preenchimento permite observar a frequência e duração da atividade física. Estas atividades físicas são relacionadas com a caminhada e atividades de intensidade moderada e de intensidade vigorosa (Matsudo et al., 2001). Além disso, foi possível obter o tempo sentado durante a semana e final de semana. No presente estudo se utilizou a média destes tempos.

 

    Considerou-se ativo o participante que alcançou, pelo menos, 150 minutos de atividade física moderada e/ou vigorosa na semana (Brazil, 2021), e inativo o participante que realizou um tempo inferior. O tempo de prática da atividade física semanal foi obtido pela soma do tempo gasto para a atividade moderada (tempo de atividade semanal = dias da semana x tempo gasto por dia) e atividade vigorosa (tempo de atividade semanal = dias da semana x tempo gasto por dia) na semana. O comportamento sedentário foi avaliado pelo tempo de tela (até 4 horas ou mais), durante os dias da semana e no final de semana, referente ao uso da televisão (TV), videogame/celular e computador/similar. (Grøntved, e Hu, 2011)

 

    Os dados foram organizados e apresentados com recursos da estatística descritiva (média, desvio padrão, mínimo, máximo, frequência absoluta e relativa). Posteriormente foi realizada a associação da dor com o nível de atividade física, comportamento sedentário, variáveis sociodemográficas e sobre o curso, pelo teste Exato de Fisher e pela regressão logística simples. O programa BioEstat 5.3 foi utilizado, adotando-se p<0,05.

 

Resultados 

 

    Na Tabela 1 se encontram as informações referentes as características sociodemográficas, dos hábitos e sobre o curso dos acadêmicos. Ressalta-se que a média de idade dos participantes foi de 22,61±5,01 anos.

 

Tabela 1. Distribuição dos acadêmicos do curso de Fisioterapia 

quanto as características sociodemográficas, dos hábitos e do curso

Variáveis

n/%

Sexo

Masculino

6/9,4

Feminino

58/90,6

Faixa etária (anos)

18 a 27

60/93,8

28 a 37

2/3,0

38 a 47

1/1,6

48 a 57

1/1,6

Cor de pele

Amarelo

3/4,7

Branco

22/34,3

Indígena

1/1,6

Pardo

32/50,0

Preto

6/9,4

Estado civil

Casado/união estável

8/12,5

Divorciado

3/4,7

Solteiro

53/82,8

Trabalhando

Sim

22/34,4

Não

42/65,6

Carga horária no serviço

6 horas

13/59,1

>6 horas

9/40,9

Tabagismo

Sim

2/3,1

Não

62/96,9

Etilismo

Sim

34/53,1

Não

30/46,9

Consumo de bebida

<3 vezes na semana

31/91,2

3 vezes na semana

2/5,9

Não informado

1/5,9

Ano de ingresso

<2020

42/65,6

2020

22/34,4

Período do curso

1º e 2º períodos

22/34,4

3º e 4º períodos

11/17,2

5º e 6º períodos

10/15,6

7º e 8º períodos

16/25,0

9º e 10º períodos

5/7,8

Residência

Jataí

52/81,3

Outro município

12/18,7

Como reside

Com familiares (outros)

11/17,2

Com familiares (pais)

35/54,6

Pensionato (sozinho no quarto)

1/1,6

República (sozinho no quarto)

6/9,4

Sozinho

9/14,1

Outro

2/3,1

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Em relação à dor, todos os universitários apresentaram dor em algum local do corpo (média de 6,81±3,85 locais; mínimo – 1 local; máximo – 22 locais), sendo assinaladas 436 ocorrências de dores. A intensidade média da dor foi de 1,50±0,38. Na Tabela 2 é apresentada a intensidade e a ocorrência de dor nas diversas partes do corpo. Ressalta-se que a costas inferior (n=56; 87,5%), cervical (n=47; 73,4%), costas superior (n=46; 71,9%), pescoço (n=42; 65,6%) e costas média (n=36; 56,3%) foram os cinco locais de maior ocorrência para a dor.

 

Tabela 2. Distribuição das regiões do corpo em relação a intensidade

e ocorrência da dor nos acadêmicos do curso de Fisioterapia

Regiões do corpo

Pescoço

Intensidade (média±dp)

2,13±1,08

Ocorrência de dor (n/%)

42/65,6

Cervical

Intensidade (média±dp)

2,28±1,09

Ocorrência de dor (n/%)

47/73,4

Costas superior

Intensidade (média±dp)

2,33±1,13

Ocorrência de dor (n/%)

46/71,9

Costas média

Intensidade (média±dp)

1,98±1,06

Ocorrência de dor (n/%)

36/56,3

Costas inferior

Intensidade (média±dp)

2,44±0,89

Ocorrência de dor (n/%)

56/87,5

Bacia

Intensidade (média±dp)

1,47±0,80

Ocorrência de dor (n/%)

20/31,3

Ombro esquerdo

Intensidade (média±dp)

1,44±0,73

Ocorrência de dor (n/%)

21/32,8

Ombro direito

Intensidade (média±dp)

1,55±0,89

Ocorrência de dor (n/%)

23/35,9

Braço esquerdo

Intensidade (média±dp)

1,06±0,30

Ocorrência de dor (n/%)

3/4,7

Braço direito

Intensidade (média±dp)

1,14±0,50

Ocorrência de dor (n/%)

6/9,4

Cotovelo esquerdo

Intensidade (média±dp)

1,08±0,27

Ocorrência de dor (n/%)

5/7,8

Cotovelo direito

Intensidade (média±dp)

1,11±0,40

Ocorrência de dor (n/%)

5/7,8

Antebraço esquerdo

Intensidade (média±dp)

1,13±0,49

Ocorrência de dor (n/%)

5/7,8

Antebraço direito

Intensidade (média±dp)

1,16±0,57

Ocorrência de dor (n/%)

5/7,8

Punho esquerdo

Intensidade (média±dp)

1,33±0,69

Ocorrência de dor (n/%)

15/23,4

Punho direito

Intensidade (média±dp)

1,59±0,87

Ocorrência de dor (n/%)

25/39,1

Mão esquerda

Intensidade (média±dp)

1,22±0,58

Ocorrência de dor (n/%)

10/15,6

Mão direita

Intensidade (média±dp)

1,34±0,70

Ocorrência de dor (n/%)

15/23,4

Coxa esquerda

Intensidade (média±dp)

1,13±0,49

Ocorrência de dor (n/%)

5/7,8

Coxa direita

Intensidade (média±dp)

1,13±0,49

Ocorrência de dor (n/%)

5/7,8

Joelho/perna/pé esquerdo

Intensidade (média±dp)

1,45±0,82

Ocorrência de dor (n/%)

20/31,3

Joelho/perna/pé direito

Intensidade (média±dp)

1,45±0,80

Ocorrência de dor (n/%)

21/32,8

Nota: dp – desvio padrão. Fonte: Dados da pesquisa

 

    As variáveis do comportamento sedentário e o nível de atividade física são observadas na Tabela 3. Quando comparado o tempo de televisão (p=0,1582), celular/videogame (p=1,0) e computador/similar (p=0,0008) na semana com o final de semana, notou-se diminuição do uso >4 horas somente para o computador/similar (54,7% vs. 25,0%).

 

Tabela 3. Distribuição dos acadêmicos do curso de Fisioterapia 

quanto ao nível de atividade física e comportamento sedentário

Variáveis

n/%

Nível de atividade física

Ativo (≥150 minutos)

38/59,4

Inativo (<150 minutos)

26/40,6

Tempo sentado

400 minutos

47/73,4

>400 minutos

17/26,6

Tempo de televisão na semana

4 horas

45/70,3

>4 horas

2/3,1

Não tem

17/26,6

Tempo de televisão no final de semana

4 horas

40/62,5

>4 horas

7/10,9

Não tem

17/26,6

Tempo de celular/videogame na semana

4 horas

22/34,4

>4 horas

37/57,8

Não tem

5/7,8

Tempo de celular/videogame no final de semana

4 horas

21/32,8

>4 horas

38/59,4

Não tem

5/7,8

Tempo de computador/similar na semana

4 horas

25/39,1

>4 horas

35/54,7

Não tem

4/6,2

Tempo de computador/similar no final de semana

4 horas

43/67,2

>4 horas

16/25,0

Não tem

5/7,8

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Quando observada a associação entre a quantidade de ocorrência e da intensidade da dor com o sexo, idade, tabagismo, etilismo, tipo de pessoa com quem reside, ano de ingresso na universidade, ano de vínculo com o curso, nível de atividade física e variáveis do comportamento sedentário, não se notou significância (p>0,05; Tabela 4).

 

Tabela 4. Associação da dor com as variáveis sociodemográficas, do curso, nível de 

atividade física e comportamento sedentário dos acadêmicos do curso de Fisioterapia

Variáveis

Quantidade de ocorrência da dor

Intensidade da dor

<7

(n/%)

7

(n/%)

p

<1,5

(n/%)

1,5

(n/%)

p

Sexo

Masculino

4/11,1

2/7,1

0,6880

3/7,9

3/11,5

0,6800

Feminino

32/88,9

26/92,9

35/92,1

23/88,5

Idade

<23 anos

23/63,9

16/57,1

0,6145

22/57,9

17/65,4

0,6088

23 anos

13/36,1

12/42,9

16/42,1

9/34,6

Tabagismo

Sim

1/2,8

1/3,6

1,0

1/2,6

1/3,8

1,0

Não

35/97,2

27/96,4

37/97,4

25/96,2

Etilismo

Sim

17/47,2

17/60,7

0,3213

18/47,4

16/61,5

0,3140

Não

19/52,8

11/39,3

20/52,6

10/38,5

Moradia

Com os pais

21/58,3

14/50,0

0,6147

23/60,5

12/46,2

0,3113

Sem os pais

15/41,7

14/50,0

15/39,5

14/53,8

Ano ingresso

<2020

22/61,1

20/71,4

0,4363

24/63,2

18/69,2

0,7894

2020

14/38,9

8/28,6

14/36,8

8/30,8

Ano do curso

1º - 2º

18/50,0

15/53,6

0,8059

19/50,0

14/53,8

0,8035

3º - 5º

18/50,0

13/46,4

19/50,0

12/46,2

Nível de atividade física

Ativo

24/66,7

14/50,0

0,2073

24/63,2

14/53,8

0,6049

Inativo

12/33,3

14/50,0

14/36,8

12/46,2

Tempo sentado

400 minutos

27/75,0

20/71,4

0,7818

31/81,6

16/61,5

0,0905

>400 minutos

9/25,0

8/28,6

7/18,4

10/38,5

Tempo de televisão na semana

4 horas

29/96,7

16/94,1

1,0

28/96,6

17/94,4

1,0

>4 horas

1/3,3

1/5,9

1/3,4

1/5,6

Tempo de televisão no final de semana

4 horas

27/90,0

13/76,5

0,3955

24/82,8

16/88,9

0,6918

>4 horas

3/10,0

4/23,5

5/17,2

2/11,1

Tempo de celular/videogame na semana

4 horas

13/39,4

9/34,6

0,7898

13/37,1

9/37,5

1,0

>4 horas

20/60,6

17/65,4

22/62,9

15/62,5

Tempo de celular/videogame no final de semana

4 horas

14/42,4

7/26,9

0,2780

14/40,0

7/29,2

0,4229

>4 horas

19/57,6

19/73,1

21/60,0

17/70,8

Tempo de computador/similar na semana

4 horas

16/47,1

9/34,6

0,4303

18/50,0

7/29,2

0,1207

>4 horas

18/52,9

17/65,4

18/50,0

17/70,8

Tempo de computador/similar no final de semana

4 horas

25/73,5

18/72,0

1,0

29/80,6

14/60,9

0,1352

>4 horas

9/26,5

7/28,0

7/19,4

9/39,1

Fonte: Dados da pesquisa

 

    A regressão logística realizada entre a quantidade de locais e da intensidade percebida da dor com o sexo, idade, etilismo, tabagismo, moradia, ano de ingresso, ano do curso, nível de atividade física e variáveis do comportamento sedentário não apresentaram associação significativa (p>0,05).

 

Discussão 

 

    O presente estudo teve como objetivo analisar a ocorrência de dor e relacioná-la com o nível de atividade física e o comportamento sedentário em estudantes do curso de Fisioterapia da UFJ. Em relação à dor, todos os universitários relataram sentir dor em pelo menos um local do corpo, sendo a média de 6,81±3,85 locais e para a intensidade a média foi de 1,50±0,38. Assim, ressalta-se a prevalência elevada de dor em universitários. (Yücel, e Torun, 2016; Cervantes-Soto et al., 2019; Wong et al., 2021)

 

    Os estudantes apresentam altos índices de dor, sendo a coluna vertebral a região do corpo mais afetada (Morais et al., 2019), principalmente o pescoço e a região lombar (Harutunian et al., 2011; Bazan, e Ladera, 2019; Cervantes-Soto et al., 2019). Neste estudo, os estudantes de fisioterapia relataram as regiões da coluna vertebral (costas inferior, cervical, costas superior, pescoço e costas média) como locais mais acometidos e de maior intensidade para a dor.

 

    A postura durante o uso do computador apresenta associação significativa com a dor cervical, pois os estudantes passam quase 5 horas por dia nesta postura (Chiu et al., 2002), bem como posturas inadequadas favorecem a dor muscular (Díaz Caballero, Gomez Palencia, e Díaz Cárdenas, 2010). Nesse sentido, e com a finalidade de diminuir a intensidade da dor, pausas durante o uso do computador podem minimizar essa dor. (Chiu et al., 2002)

 

    A coluna vertebral quando sai do seu eixo anatômico, se flexionando ou estendendo, os músculos, ligamentos e tendões são mais solicitados e ficam responsáveis pela manutenção da postura ereta, e não mais só as vértebras (Ballikaya, Kara, e Özçakar, 2022). O estudante de fisioterapia, além da postura para o estudo, adota postura estática para a realização de diversas técnicas e, muitas vezes, essas posturas solicitam uma força muscular elevada e são mantidas por longos períodos de tempo (Jackson, e Liles, 1994), o que pode gerar desconforto e dor.

 

    Dentre os estudantes de fisioterapia da UFJ, 40,6% deles foram classificados como inativos para a prática de atividade física. A prevalência nacional de inatividade física é de 15,82% (Brasil, 2021). Já em estudos com universitários, nota-se uma frequência de inatividade que vai de 14,3 a 31,2% (Leão et al., 2018; Rodrigues, Cheik, e Mayer, 2008; Fontes, e Vianna, 2009). Assim, observa-se que a maioria dos universitários praticam atividade física, bem como se nota a associação positiva da inatividade física com o sexo feminino, maior tempo de ingresso, morar com a família (Fontes, e Vianna, 2009), falta de tempo e cansaço. (Arzu, Tuzun, e Eker, 2006)

 

    Além da atividade física, o comportamento sedentário também impacta sobre a saúde (Chau et al., 2013; Roggio et al., 2021) e a mortalidade (Katzmarzyk et al., 2019). Lourenço et al. (2016) apontam que 8 em cada 10 universitários estão expostos a um comportamento sedentário negativo, ou seja, 56,1% dos universitários usam o computador para o estudo e lazer por mais de 2 horas, a prevalência do uso de televisão foi de 30,3% e videogame foi de 3,8%. Além disso, os autores notaram associação positiva entre o tempo de comportamento sedentário e o tempo de ingresso na universidade. De maneira análoga, outro estudo encontrou que os universitários passam cerca de 458,6 min/dia em comportamento sedentário (61,4% do tempo válido no dia). Sendo este tempo maior em estudantes de medicina, quando comparado com os estudantes de fisioterapia. (Oyeyemi et al., 2017)

 

    Os estudantes de fisioterapia apresentam um tempo sentado de 420 minutos por dia (Matusiak-Wieczorek et al., 2020). Já os estudantes de um mestrado em Fisioterapia passam pelo menos 640 minutos sentados em suas atividades acadêmicas (Smetaniuk et al., 2017). Por fim, chama-se a atenção para a associação observada entre o maior tempo de comportamento sedentário com os universitários de idade mais avançada (Oyeyemi et al., 2017). No presente estudo, ressalta-se que apenas 26,6% passam mais de 400 minutos por dia sentados em suas atividades. Contudo, durante a semana 54,7% e 57,8% dos universitários utilizam o computador/similar ou celular/videogame por mais de 4 horas por dia, respectivamente.

 

    No presente estudo não foi observado associação significativa da quantidade de locais e da intensidade da dor com o sexo e a idade. Contudo, estudos observaram maior sensibilidade para a dor em mulheres (Rodríguez-Nogueira et al., 2021) e em participantes com a idade acima de 47 anos. (Wandner et al., 2012)

 

    A presença da dor crônica foi associada a fumantes e ex-fumantes, em contrapartida o consumo moderado de álcool representou um fator protetor para o surgimento de dor crônica (Sá et al., 2009). Nesse sentido, Almeida et al. (2008) relatam que existe a contribuição do tabaco para o aparecimento da lombalgia, mesmo sendo ex-fumantes, por outro lado, não foi encontrado associação entre o consumo excessivo de álcool e a dor. No presente estudo não foi notado esse tipo de associação, possivelmente por 96,9% dos participantes não serem tabagista. Por outro lado, 53,1% da amostra eram etilistas, contudo, faziam um consumo menor que três vezes por semana (91,2%).

 

    Apesar de não haver diferença significativa, a lombalgia foi mais relatada nos estudantes do último ano (57,5%) em relação aos do primeiro ano de faculdade (32,5%) (Aggarwal et al., 2013). No presente estudo, também sem associação significativa, os estudantes de fisioterapia mais recentes no curso, em relação aos com mais tempo, apresentaram mais locais e maior intensidade de dor.

 

    Em relação a associação da dor com o nível de atividade física, ressalta-se que os adultos que passam menos tempo sentado e fazem alguma atividade física, de intensidade moderada a vigorosa, usufruem de benefícios para a saúde (Piercy et al., 2018; Haskell et al., 2007). Nesse contexto, aqueles que realizam <30 minutos de atividade física relatam mais locais de dor do que aqueles que fazem atividade física de 30-60 minutos (Grasdalsmoen et al., 2020). Assim, um maior nível de atividade física está associado com a menor prevalência de dor. (Brondani et al., 2018; Grasdalsmoen et al., 2020)

 

    Quando avaliada a relação da atividade física com a dor lombar, foi notada uma relação positiva da atividade física intensa ou pouca com a dor (Heneweer, Vanhees, e Picavet, 2009; Heneweer et al., 2011; Pina et al., 2022). Por outro lado, Bakker et al. (2009) não encontraram relação da atividade física intensa com a dor. No presente estudo foi observado que a maioria dos participantes são ativos, contudo não foi notado associação significativa com a dor, apenas se salienta a maior frequência de universitários inativos para mais locais e maior intensidade de dor.

 

    Chau et al. (2013) e Katzmarzyk et al. (2019) apontam que cada uma hora adicional de tempo sentado está associada com o aumento de 2% no risco de mortalidade e que esse risco é menor quando associado a atividade física, a qual se mostrou eficiente na diminuição dos fatores deletérios causados pelo tempo sentado. O desconforto no mobiliário e a inatividade física foram fatores apontados pelos universitários como causadores dores nas costas (Gomes-Neto, Sampaio, e Santos, 2016), ou seja, existe uma relação entre o local de estudo, a postura e a presença da dor lombar (Aggarwal et al., 2013) ou do tempo sentado com a dor cervical (Cagnie et al., 2007). Por outro lado, Bakker et al. (2009) e Chen et al. (2009) não encontraram associação entre tempo sentado e a dor. No presente estudo, um pouco mais de um quarto da amostra apresentou o tempo sentado >400 minutos, contudo sem associação significativa com a quantidade de locais e a intensidade da dor, mas se ressalta a maior frequência de universitários com mais locais e maior intensidade de dor para este referido tempo sentado.

 

    Outro fator importante para a saúde e a dor é o tempo de tela, pois o tempo prolongado assistindo televisão, aproximadamente 4 horas, mostrou ter relação com alto risco de mortalidade na população geral (Sun et al., 2015). Além disso, Tremblay et al. (2011) apontam que períodos inferiores a 2 horas por dia de comportamento sedentário, incluindo tempo sentado ou de tela, foram associados positivamente com a saúde.

 

    Nesse sentido, estudantes que utilizam por mais que 6 horas por dia o celular, quando comparados com quem usam por até 5 horas, tiveram mais dor musculoesquelética (Morais et al., 2019), ou seja, o uso de celular tem relação significativa com a presença da dor (Alsalameh et al., 2019). Além do celular, o tempo prolongado do uso do computador pode ser um fator agravador da dor no pescoço e ombro (Ming, Närhi, e Siivola, 2004). No estudo de Silva et al. (2016), não foi encontrado associação entre a dor e o uso do computador isolado, porém quando somado com o uso de outros equipamentos eletrônicos, como os jogos, contribuiu para o aparecimento da dor cervical e toracolombar. Já Chen et al. (2009), não encontraram associação entre o tempo de televisão ou videogame, mais de 2 horas ou 4,5 horas, com a dor lombar.

 

    No presente estudo, notou-se predominância de >4 horas de uso do recurso eletrônico durante a semana para o computador/similar e celular/videogame, já a televisão ficou em até 4 horas de uso. Já para o final de semana o único que alcançou mais de 4 horas de uso foi o celular/videogame. Ressalta-se que não foi notada associação das variáveis analisadas do tempo de tela com a quantidade de locais e a intensidade da dor em estudantes de fisioterapia.

 

    Por fim, entende-se que o presente estudo apresenta um número pequeno de participantes, o que limita suas inferências. Além disso, o uso do questionário eletrônico pode favorecer interpretações equivocadas no seu preenchimento. Desta forma, sugere-se que sejam feitos mais estudos para o levantamento dos fatores de risco para o aparecimento da dor em universitários.

 

Conclusão 

 

    Conclui-se, conforme método proposto, que não foi encontrado relação significativa da dor com o nível de atividade física e o comportamento sedentário em estudantes de Fisioterapia. Entretanto, todos os estudantes universitários relataram sentir dor em pelo menos um local do corpo, sendo as regiões da coluna vertebral os locais mais afetados.

 

    A maioria dos participantes foi considerada ativa e apenas um quarto dos estudantes apresentaram o tempo sentado maior do que 400 minutos. Por outro lado, durante a semana predominou o tempo de tela elevado (>4 h) para o uso do computador/similar e celular/videogame.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 298, Mar. (2023)