ISSN 1514-3465
Análise do mando de campo nos clássicos estaduais presentes em campeonatos
brasileiros. Estudo na série A de futebol masculino de 2018 a 2022
Analysis of the Field Command in the State Classics Present in Brazilian
Championships. Study in Serie A Men's Soccer from 2018 to 2022
Análisis del dominio de campo en los clásicos estatales presentes en los campeonatos
brasileños. Estudio en la Serie A de fútbol masculino de 2018 a 2022
Gabriel Orenga Sandoval*
g216386@dac.unicamp.br
Rodrigo Baldi Gonçalves**
r205486@dac.unicamp.br
Alcides José Scaglia***
alcides.scaglia@gmail.com
*Bacharel em Ciências do Esporte pela Faculdade de Ciências Aplicadas
da Universidade Estadual de Campinas (FCA/UNICAMP)
Durante a graduação, realizou duas Iniciações Científicas
Atualmente é mestrando em Educação Física e Sociedade
pela Faculdade de Educação Física da FEF/UNICAMP
Integrante do Laboratório de Estudos em Pedagogia do Esporte (LEPE)
**Bacharel em Ciências do Esporte pela FCA/UNICAMP
Durante a graduação, realizou duas Iniciações Científicas
Atualmente é mestrando em Biodinâmica do Movimento
e Esporte pela FEF/UNICAMP
Integrante do Laboratório de Biomecânica e Instrumentação (LABIN)
e Laboratório de Estudos em Pedagogia do Esporte (LEPE).
***Livre Docente em Pedagogia do Esporte e Pedagogia do Jogo
pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Doutor em Pedagogia do Movimento pela UNICAMP
Mestre em Pedagogia do Esporte pela UNICAMP
Licenciado em Educação Física pela UNICAMP
Bacharel em Educação Física pela UNICAMP
Atualmente é professor associado (M.S.5.1)
na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA-UNICAMP)
no curso de Ciências do Esporte da UNICAMP
Co-responsável pelas pesquisas do LEPE
(Laboratório de Estudos em Pedagogia do Esporte)
Líder do grupo de pesquisa LEPE-FUT
Docente pleno no programa de pós-graduação, mestrado e doutorado
da Faculdade de Educação Física (FEF) da UNICAMP
(Brasil)
Recepción: 08/02/2023 - Aceptación: 15/05/2023
1ª Revisión: 22/03/2023 - 2ª Revisión: 12/05/2023
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Cita sugerida
: Sandoval, G.O., Gonçalves, R.B., e Scaglia, A.J. (2023). Análise do mando de campo nos clássicos estaduais presentes em campeonatos brasileiros. A série A de futebol masculino de 2018 a 2022. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(301), 121-130. https://doi.org/10.46642/efd.v28i301.3863
Resumo
O presente artigo busca compreender a implicação do resultado em clássico (vitória, empate ou derrota) e sua relação com mando de campo levando em conta os três jogos posteriores, sabendo que clássico são jogos tradicionais entre equipes da mesma região. Para isto, analisou-se todos os clássicos no Campeonatos Brasileiros de 2018 a 2022. O objetivo do trabalho se pautou em observar os seguintes aspectos: resultado do clássico (vitória do mandante; empate ou vitória do visitante) e os pontos conquistados no clássico pelo mandante e visitante nos três jogos posteriores ao clássico, analisando a situação (mandante ou visitante), resultado do jogo (vitória, empate ou derrota) e os pontos conquistados do time que foi mandante e visitante do clássico. Os dados obtidos para a realização do estudo foram retirados do site Globo Esporte) e sua tabulação foi organizada no Software Microsoft Excel 2021. Primeiramente, observa-se que o mandante tem melhor aproveitamento nos clássicos com 44,44% de vitórias, seguido por 29,41% de empates e, por fim, 26,14% de vitórias do visitante. De modo geral, ganhar o clássico não significa uma promessa de vitória nos três jogos seguintes, neste campeonato. Contudo, perder o clássico na condição de mandante, prospera, na média, um desempenho pior em jogos posteriores.
Unitermos:
Futebol. Mando de campo. Campeonato brasileiro.
Abstract
This article seeks to understand the implication of the result in a classic (win, draw or defeat) and its relationship with field command taking into account the three subsequent games, knowing that classic is considered games of teams of the same region. For this, all derbies in the Brazilian Championships from 2018 to 2022 were analyzed. The objective of the work was based on observing the following aspects: result of the derby (home win; draw or away win) and the points won in the derby by the home and away in the three games after the derby, analyzing the situation (home or away), result of the game (win, draw or defeat) and the points won by the team that was home and away from the derby. The data obtained for the study were taken from the Globo Esporte website and their tabulation was organized in Microsoft Excel 2021 Software and the score in Software Microsoft Excel. Firstly, it is observed that the home team has better performance in the classics with 44.44% of victories, followed by 29.41% of draws and, finally, 26.14% of the visitor's victories. In general, winning the classic does not mean a promise of victory in the next three games, in this championship. However, losing the classic in the condition of principal, prospers, on average, a worse performance in later games.
Keywords:
Soccer. Field command. Brazilian championship.
Resumen
Este artículo busca comprender la implicación del resultado en un clásico (victoria, empate o derrota) y su relación con el dominio de campo teniendo en cuenta los tres juegos posteriores, sabiendo que los clásicos son juegos tradicionales entre equipos de una misma región. Para ello, se analizaron todos los clásicos del Campeonato Brasileño de 2018 a 2022. El objetivo del trabajo se basó en observar los siguientes aspectos: resultado del partido (victoria local, empate o victoria visitante) y los puntos conquistados en la ida y la vuelta en los tres partidos posteriores al clásico, analizando la situación (de local o de visitante), el resultado del partido (victoria, empate o derrota) y los puntos obtenidos por el equipo que estuvo en casa y de visitante del clásico. Los datos obtenidos para la realización del estudio se tomaron del sitio web de Globo Esporte) y su tabulación se organizó en el software Microsoft Excel 2021. En primer lugar, se observa que el equipo local tiene mejor desempeño en los clásicos con un 44,44% de victorias, seguido por un 29,41% de empates y, por último, un 26,14% de victorias de los visitantes. En general, ganar el clásico no significa una promesa de victoria en los próximos tres partidos, en este campeonato. Sin embargo, al perder el clásico en la condición de principal, determina, en promedio, un peor desempeño en los juegos posteriores.
Palabras clave
: Fútbol. Dominio del campo. Campeonato brasilero.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 301, Jun. (2023)
Introdução
A partir dos aspectos econômicos, sociais, políticos e antropológicos, o futebol, possui um impacto relevante na sociedade brasileira, através de seu apelo em, desperta diversas emoções em toda comunidade envolvida seja, torcedores, jogadores, gestores e jornalistas (Ratton, e Morais, 2011). Emoção que floresce em jogos considerados clássicos, presentes nas ligas do Brasil e do mundo, por exemplo: Ranges x Celtic, na Escócia, Boca Juniors x River Plate, na Argentina, Bayern München x Borussia Dortmund, na Alemanha (Contissa, 2023). No Brasil, foco deste trabalho há diversos clássicos devido a regionalização do futebol.
‘Clássico é clássico e vice-versa’. A icônica frase que é referenciada a Jardel, ex-jogador de futebol, remete, pode-se entender, a um aspecto dos clássicos: sua incomparabilidade. Ao dizer que ‘clássico é clássico’, supõe-se que clássico não é outra coisa senão ele próprio. Por isso, compará-lo a outros jogos, sob esta ótica, parece incipiente, já que não há semelhança, mas, aparentemente, um agravo na imprevisibilidade que esse jogo tem - algo inerente para Freire (2002) e Scaglia et al. (2021) ao fenômeno jogo.
A peculiaridade que falava o ex-jogador pode se remeter à tradição que há por trás destes jogos. Ribeiro, e Urrutia (2012) diferenciam o clássico de jogos regionais pelo fato de, apesar de ambos os tipos de jogos alocarem-se na mesma região, o clássico apresenta um fator determinante: a rivalidade que foi construída historicamente entre duas equipes, ou seja, justamente essa tradição que circunda a disputa deste jogo. Dessa maneira, são considerados os mais importantes e mais mobilizadores jogos e, por isso, são aguardados com muita expectativa por torcedores.
São considerados também jogos regionais pelo fato de o futebol brasileiro iniciar seu desenvolvimento de maneira 'estadualista', ou seja, sob a organização de torneios separadamente em cada estado que culminou, em consequência, em uma construção intraurbana dos confrontos, fazendo com que as rivalidades fossem criadas entre clubes da mesma região, diferentemente do contexto europeu que herdava e acentuava uma rivalidade entre cidades. Dessa maneira, mesmo com o desenvolvimento do futebol brasileiro, ao criar campeonatos de nível nacional, além de participar de torneios continentais e mundiais, as rivalidades permaneceram como elementos civilizadores de torcedores/as de futebol, já que, além da herança que se obtém, os campeonatos estaduais dominam relativa parcela do calendário ainda nos dias atuais. (Mascarenhas, 2005)
Um exemplo dessa diferença são as constituições dos clássicos na Espanha e no México. Com mais ou menos fatores políticos que influenciam a magnitude do jogo, os clássicos, nesses locais, são forjados entre equipes de relativa distância. Barcelona e Real Madrid incorporam uma discussão que envolve a defesa e a recusa da emancipação de uma região do país, por exemplo. Chivas e América é um clássico disputado por duas equipes sediadas em países com mais de 100 quilômetros de distância. Ou seja, há uma diferença relativa no que concerne a emergência da rivalidade entre equipes de futebol no Brasil em detrimento a outros países. (Garcia, 2011)
Em função disso, estudos são realizados para compreender todo o envoltório de um clássico. Moraes, Bastos, e Rocco Junior (2019), por exemplo, buscaram entender como foi tratada pela mídia o estabelecimento das torcidas únicas nos clássicos paulistas. Em virtude da violência que circundavam esses jogos, foi determinada que somente a torcida do mandante poderia acompanhar o jogo no estádio em território paulista, o que acarretou uma quantidade maior de público e venda maior de ingressos para essas equipes.
Diversos estudos ancoram-se na violência para se discutir a colocação do clássico na sociedade. Dias, Silva, e Ribeiro (2021) ressaltaram estes elementos no que tange a ida e o envolvimentos de torcedoras com o clássico entre Ceará e Fortaleza. Dentro de diversos fatores, a violência - que permeia todo o futebol brasileiro - se mostra, para mulheres, não somente em São Paulo, um fator determinante para titubear-se para acompanhar o clássico regional.
Violência essa que pode ser vista em campo também. Bresque (2020) identificou a virilidade como um fator preponderante não somente do futebol gaúcho em comparação ao resto da forma que se prática o esporte no Brasil, mas também especificamente do clássico entre Grêmio e Internacional. É nítido, segundo ele, uma relação causal: o vencedor é visto, obrigatoriamente, pela mídia e pelo senso comum, como aquele que guerreou mais para merecer o triunfo, enxergando o corpo do ponto de vista físico unicamente e o local do jogo, como um campo de batalha.
Tendo em vista essas peculiaridades, o estudo, nos Campeonatos Brasileiros da Série A entre 2018 e 2022 - já que foram as últimas cinco edições do torneio -, vislumbra a compreensão do resultado e dos desdobramentos que o clássico entre equipes do mesmo estado promove, sabendo que o termo clássico evoca na literatura, automaticamente, a limitação geográfica no que tange o estado que os times estão situados (Bresque, 2020; Dias, Silva, e Ribeiro, 2021; Garcia, 2011; Mascarenhas, 2005; Moraes, Bastos, e Rocco Junior, 2019). Assim sendo, abarca-se primeiramente entender se os vencedores dos clássicos se dão com mais frequência entre mandantes ou visitantes. Posteriormente a isso, foi objetivada a compreensão do desdobramento que esse jogo teve, para isso, buscou-se analisar o aproveitamento das equipes mandantes (que venceram e perderam), dos visitantes (que venceram e perderam), além daquelas que empataram, no que tange os 3 jogos que sucederam os clássicos. Nessa ótica, o estudo de Gilovich, Vallone, e Tversky (1985), ao estudar a validação da ‘mão quente’ no basquetebol - que não se confirma, segundo os autores -, nos servem de embasamento.
Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivo: (i) entender de que maneira o resultado no clássico (vitória, empate e derrota) se relaciona com o mando de campo no que tange o Campeonato Brasileiro de Futebol entre 2018 e 2022; e (ii) analisar os resultados posteriores a esses clássicos, buscando um entendimento do efeito que o clássico tem em relação ao desempenho que sucede esse jogo.
Metodologia
Para realização desta pesquisa adotou o método quantitativo, visando a estruturação de dados e posteriormente sua análise. Desta maneira, a aplicação da quantificação na coleta e tratamento. Portanto, tais recursos são utilizados para representar um grande conjunto de dados, através de números significativos. (Richardson, 1999; Mattar, 2001; Chan, 2003)
Sendo assim, a amostra se fundamentou nas cinco últimas competições (2018, 2019, 2020, 2021 e 2022). Os dados obtidos para a realização do estudo foram retirados do site Globo Esporte (ge.globo.com). Posteriormente, foi realizada uma tabulação dos resultados no Software Microsoft Excel 2021 e para a sumarização utilizou-se o software Power Bi.
A fim de realizar o estudo, se propôs a coletar os dados do período de 2018 a 2022 referente aos clássicos disputados no Campeonato Brasileiro Série A. Sendo assim, foram considerados clássicos os seguintes jogos: Atlético-GO x Goiás; Bahia x Vitória; Ceará x Fortaleza; Atlético-MG x Cruzeiro; América-MG x Atlético-MG; América-MG x Cruzeiro; Flamengo x Fluminense; Flamengo x Vasco da Gama; Flamengo x Botafogo; Fluminense x Botafogo; Fluminense x Vasco da Gama; Botafogo x Vasco da Gama; Corinthians x Palmeiras; Corinthians x Santos; Corinthians x São Paulo; Palmeiras x São Paulo; Santos x São Paulo; Palmeiras x Santos; Athlético-PR x Coritiba; Paraná x Athlético-PR Grêmio x Internacional; Grêmio x Juventude; Internacional x Juventude e Avaí x Chapecoense.
Observou-se os seguintes aspectos, resultado do clássico (vitória do mandante; empate ou vitória do visitante), pontos conquistados no clássico pelo mandante e visitante; nos três jogos posteriores ao clássico analisou, situação (mandante ou visitante), resultado do jogo (vitória, empate ou derrota) e pontos conquistados do time que foi mandante e visitante do clássico.
Resultados
Após a obtenção dos dados dos campeonatos brasileiros série A dos anos 2018, 2019, 2020, 2021 e 2022, além da marcação dos jogos considerados como clássicos, foram realizadas algumas análises que serão discutidas na sequência. Em todas as análises, se considera a evolução do desempenho das equipes nos três jogos posteriores ao clássico.
Primeiramente, foram quantificados ao todo 151 clássicos, neste período proposto pelo estudo. Por anos, em 2018 houveram 36 clássicos, em 2019, por sua vez, 32, 2020 possui 33, 2021, 24 e, por fim, 2022, 26 clássicos. Como pode ser visto no Gráfico 1, os mandantes apresentavam um melhor aproveitamento quando se compara com os visitantes. Dessa maneira, apresenta 44,44% de vitórias dos mandantes, enquanto os visitantes têm 26,14%, além de 29,41% de empates.
Apesar de as equipes mandantes sagrarem-se mais vitoriosas, o Gráfico 2, ao mostrar os vencedores por ano, explicita uma tendência às equipes mandantes reduzirem seu império de vitórias, além de as equipes visitantes apresentarem uma quantidade de vitórias em crescimento no último ano.
Contextualizado o resultado imediato dos clássicos, a próxima análise relevante é verificar, de modo geral, como as equipes evoluem, em termos de resultado, após os clássicos. Dessa forma, investigou-se o aproveitamento delas nos 3 jogos que sucedem os clássicos. Assim sendo, na tabela 1 é possível enxergar a classificação das equipes em clássicos (se foi mandante ou visitante, assim como se perdeu, ganhou ou empatou) atrelado a seu aproveitamento, média da pontuação por jogo e nos três jogos.
Tabela 1. Aproveitamento, média de pontos por jogo e nos três jogos das cinco classes de times
(mandantes vencedores e perdedores, visitantes vencedores e perdedores e os que empataram)
|
Aproveitamento |
Média de pontuação por jogo |
Média de pontuação nos três jogos |
Mandante vitorioso |
49,18% |
1,48 |
4,43 |
Mandante perdedor |
41,39% |
1,24 |
3,73 |
Visitante vitorioso |
47,22% |
1,42 |
4,25 |
Visitante perdedor |
45,26% |
1,36 |
4,07 |
Empate |
49,63% |
1,5 |
4,47 |
Fonte: Dados da pesquisa
Atrelado a isso, buscou-se escancarar o aproveitamento das equipes no que tange cada um dos jogos posteriores ao clássico. Ou seja, utilizando da mesma classificação das equipes em clássico, atrelou-se o aproveitamento em média em cada um dos jogos, estabelecendo, a partir disso, uma classificação entre a classe das equipes com melhor e pior aproveitamento.
Tabela 2. Aproveitamento das classes de equipes em cada jogos que sucederam os clássicos
|
1° jogo |
2° jogo |
3° jogo |
Mandante vitorioso |
44,83% (4°) |
55,67% (1°) |
47,78% (1°) |
Mandante perdedor |
35,00% (5°) |
45,00% (4°) |
44,17% (3°) |
Visitante vitorioso |
49,17% (3°) |
53,33% (2°) |
39,17% (4°) |
Visitante perdedor |
56,65% (1°) |
41,87% (5°) |
37,93% (5°) |
Empate |
54,07% (2°) |
48,52% (3°) |
46,30% (2°) |
Fonte: Dados da pesquisa
Nesse sentido, é nítido, no Gráfico 3, como não há linearidade no desempenho das equipes, fazendo com os times vencedores tenham, em média, desempenho inferior às equipes que empataram, além de apresentarem, por vezes, desempenho inferior em comparação às equipes derrotadas.
Discussão
Primeiramente, o mandante tem melhor aproveitamento nos clássicos com 44,44% de vitórias, seguido por 29,41% de empates e, por fim, 26,14% de vitórias do visitante. A partir disso, os clássicos parecem corroborar com os estudos que objetivam um entendimento sobre uma possível vantagem a quem joga em casa. Shikida, Carraro, e Araújo Junior (2018) chegaram à conclusão de que em clássicos do Sul, como Grêmio x Internacional, o mando de campo tem determinante influencia. Nesse sentido, Silva (2004) concluiu que ser mandante no Campeonato Brasileiro de 2003, sabendo que há diferença na quantidade de times em comparação com os campeonatos que são analisados, representava 68,76% de chance maior de ganhar. Añon, Torezzan, e Scaglia (2019) apresentam que dados das 5 grandes ligas da Europa vão na mesma direção: o mandante tem vantagem em relação ao visitante, sendo a menor na Liga Alemão (58,4%). Moreira e colaboradores (2016), analisando os campeonatos brasileiros entre 2011 e 2014, chega a uma consideração parecida: os treinadores devem se atentar ao mando de campo, uma vez que ele influencia o resultado final. Silva, Medeiros, e Silva (2010) encontram dados semelhantes, mas ressaltam: ser mandante possibilita maior vantagem às melhores equipes do que as que não se destacam.
Num contexto mais específico, Costa (2019) reverbera que as cinco principais equipes do campeonato português não apresentam diferenças significativas em seu desempenho sendo mandante ou visitante. As dessemelhanças nos aspectos observados foram na quantidade de ações registradas (maior como mandante) e nas diferentes zonas do campo em que elas ocorreram. Portanto, a equipe que joga em casa seus jogos tende a ter predomínio das ações e consequentemente buscar mais o gol, comparado ao seu adversário.
É necessário destacar, todavia, que 44,44% de aproveitamento por parte do mandante não se aproxima da chance que destaca Silva (2004) de 68,76% no Campeonato Brasileiro de 2003, tampouco da vantagem que essas equipes apresentam em campeonatos europeu, como afirma Añon, Torrezan, e Scaglia (2019), permitindo-nos inferir, há uma peculiaridade do clássico em relação ao restante dos jogos do campeonato.
O recorte, porém, dos dois últimos anos (2021 e 2022) pode apresentar uma razão para a redução do sucesso dos mandantes, uma vez que o aproveitamento dos donos de casa neste período é de 46,8% sendo aproximado pelos 44,88% do visitante. Essa tendência de mudança fica nítida no Gráfico 2 que apresenta o decréscimo de vitórias que os mandantes têm tido ao longo das temporadas, acarretando, no último ano da pesquisa, no dobro de vitórias de visitantes (14 contra 7 de mandantes).
Poder-se-ia supor que os efeitos da pandemia teriam afetado os resultados finais dos clássicos, uma vez que a torcida, busca apoiar seu time com mais ênfase nesses jogos, não pôde estar presente em decorrência dos jogos com portões fechados, principalmente em 2020. Entretanto, em 2022, momento em que houve uma normalização nesse sentido, os números apresentaram com mais destaque a supremacia dos visitantes, descartando tal hipótese.
Uma outra via de explicação pode ser o comportamento dos visitantes nesses tipos de jogos. Sabendo tanto que há uma chance maior de o mandante vencer (Moreira e colaboradores, 2016; Silva, 2004; Silva, Medeiros, e Silva, 2010) quanto a necessidade de um bom resultado em clássico para se manter o emprego, uma vez que o futebol brasileiro é permeado de uma alta rotatividade de treinadores (Wipel et al., 2016), os treinadores podem investir em uma defesa mais fechada, buscando, em contra-ataques, a vitória.
Em relação aos jogos posteriores ao clássico, é possível notar que as equipes com melhor aproveitamento são as que empatam, seguida pelo mandante que vence o clássico. Os times que conseguem o empate têm um desempenho regular ao longo dos três jogos, tendo entre 55% e 45% de aproveitamento. Como Da Silva, Medeiros, e da Silva (2010) demonstra, os empates não têm relação direta com o mando de campo, implicando a ideia de que sua ocorrência está vinculada mais ao nível das equipes que se confrontam do que ao local em que se joga, o que faz com que, no clássico, haja uma vinculação com um alto nível das equipes, uma vez que elas, posteriormente, apresentarão os melhores resultados.
O mandante vencedor, por outro lado, apresenta uma dinâmica diferente. Seu primeiro jogo após o clássico, em média, tem baixo aproveitamento (44,83%), podendo estar relacionado ao fato de, após o clássico como mandante, jogar o jogo seguinte como visitante e, por conseguinte, ter menos chances de vitória. Nos outros 2 jogos, todavia, apresenta o melhor desempenho em comparação com as outras equipes, ressaltando como os mandantes que vencem os clássicos, em média, são bons times.
O pior desempenho posterior ao clássico fica a cargo do mandante que perde seu jogo decisivo. Tendo apenas 41,39% de aproveitamento em seus jogos, e sendo, por isso, a única equipe que não atinge 4 pontos, em média, nos 3 jogos, pode-se concluir que o mandante que sai derrotado, mesmo com toda a probabilidade de vencer seu jogo, realmente é uma equipe não só com um desempenho abaixo das demais no campeonato, mas também, joga dois dos três jogos posteriores fora de casa, indicando uma dificuldade maior, uma vez que Silva, e Moreira (2008) anunciam que, em comparação com qualquer outro torneio nacional, o brasileiro é aquele com mais chance do mandante vencer.
Os visitantes - tanto perdedores quanto vencedores - apresentam situações opostas. As equipes que vencem sem ser mandantes, apresenta um bom desempenho nos 2 primeiros jogos após o clássico, porém, tem uma queda, em média, que, em consequência, acarreta uma queda de seu rendimento final, todavia, mesmo assim, tem um aproveitamento próximo ao mandante que vence e às equipes que empataram. O que faz sentido quando nota-se os resultados de Silva, e Moreira (2008): a vantagem de se jogar em casa é considerável mais no Brasil do que em outras ligas, o que implica uma necessidade do vencedor como visitante ser um bom time e ter um bom desempenho posterior.
Em oposição, o visitante que perde o clássico tem um percurso peculiar nos três jogos posteriores, em média. Apresenta o melhor aproveitamento entre todas as classes de equipes no 1° jogo após o clássico, uma vez que, provavelmente jogue em casa, mas também, busca uma recuperação em relação à derrota, corroborando com os resultados de Silva, e Moreira (2008) que indica uma considerável vantagem no Campeonato Brasileiro para quem joga em casa. Por outro lado, nos 2 últimos jogos tem os piores rendimentos, o que nos implica pensar que seu desempenho retoma a normalidade depois de uma busca pela recuperação no jogo que sucede imediatamente o clássico.
A partir destas explanações, de fato, observou-se que, de modo geral, vitórias em clássicos não representam uma possibilidade maior de vitória nas três partidas posteriores neste campeonato. Isso se confirma com o fato de as equipes que empataram seus clássicos, posteriormente, conseguiram marcar mais pontos - por menor que seja a diferença - em relação às que tiveram vitórias em clássicos. Por outro lado, as equipes vitoriosas em seus clássicos, apresentaram, tanto percentualmente quanto em valores totais, um número menor de derrotas em relação às outras.
Somado a isso, o melhor desempenho imediatamente ao clássico é de responsabilidade do visitante que foi derrotado, indicando que uma derrota em clássico pode provocar uma necessidade de recuperação em algumas equipes. Não se nota, porém, esse resultado nos mandantes derrotados, uma vez que, supõe-se que a derrota em casa escancara o baixo desempenho destas equipes e, por conseguinte, a dificuldade de se reerguerem. Pode-se interpretar, em via oposta, uma derrota em casa em um clássico afunda os ânimos e faz as equipes dificilmente apresentarem poder de recuperação nos jogos que se sucedem, devido ao clássico, obviamente, é um jogo com um peso distinto.
Entretanto, mostra-se necessário registrar que o estudo apresentou algumas limitações, dentre elas, a dificuldade de prever a intenção de cada equipe no momento em que se joga o clássico, já que, por exemplo, pode ter objetivos em outras competições e poupar jogadores, influenciando no desempenho da equipe. Somado a isso, uma sobreposição de clássicos na análise dos três jogos posteriores pode ter acontecido, apesar da improbabilidade de a tabela ser construída com clássicos próximos dada a magnitude deste jogo, como demonstrou Ribeiro, e Urrutia (2012) em uma proposta de construção da tabela do Campeonato Brasileiro. Por fim, cabe investigações posteriores relacionadas ao tema, como por exemplo a influência da lotação dos estádios nesses jogos ou a colocação na tabela de cada um dos times antes e depois do clássico, ou seja, entender o nível de cada equipe para jogar o clássico.
Conclusão
Sabendo que o objetivo do presente estudo se vinculava a quantificar o número de vitórias de mandantes, visitantes e empates em clássicos estaduais jogados no Campeonato Brasileiro de Futebol entre 2018 e 2022, além de analisar o desempenho nos três (3) jogos posteriores ao clássico, entendendo se havia uma mudança no aproveitamento após o clássico, foi possível obter dados interessantes. Primeiramente, observou-se que os mandantes ganham mais clássicos que os visitantes (44,44% de aproveitamento contra 26,14%), porém, somado a isso, é possível enxergar que os mandantes, ao longo dos anos tiveram seu aproveitamento reduzido, acarretando, em 2022, a ultrapassagem de vitórias de mandantes. Este estudo realizado em anos posteriores pode apresentar uma aproximação no que tange às vitórias de visitantes.
Em acréscimo, o desempenho das equipes nos três jogos posteriores fundamenta um melhor aproveitamento das equipes que empataram. Além disso, no 1° jogo pós-clássico o melhor desempenho é da equipe visitante que saiu derrotada da partida, porém, os 2 últimos são marcados por, em média, o pior aproveitamento. Em geral, o mandante que perde o seu clássico tem o pior aproveitamento na soma das 3 rodadas, o que demonstra que perder um clássico em casa certifica o baixo desempenho das equipes.
Portanto, a partir dos dados apresentados, conclui-se que os visitantes vêm ganhando mais clássico que o mandante, porém, em geral, os donos de casa ainda têm melhor aproveitamento. Além disso, vencer o clássico, tanto em casa quanto fora, não garante o melhor aproveitamento nos 3 jogos posteriores, porém, ser derrotado em casa propicia, em média, o pior desempenho possível nos jogos posteriores.
Agradecimento
Ao Prof. Dr. Leonardo Tomazzeli Duarte pelas recomendações dadas ao longo do trabalho.
Referências
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Bresque, G.A. (2020). Virilidade e produto midiático: o Grenal como diferenciador do futebol gaúcho. [Dissertação Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade Federal de Pelotas]. http://www.guaiaca.ufpel.edu.br/handle/prefix/5405http://www.guaiaca.ufpel.edu.br/handle/prefix/5405
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