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ISSN 1514-3465

 

Efeito do uso de palmares na assimetria de força da braçada

 no nado crawl. Um estudo com nadadores recreacionais

Effect of Hand Paddles on the Arm Force Asymmetry during Front 

Crawl Swimming. A Study with Recreational Swimmers

Efecto del uso de manoplas sobre la asimetría de la fuerza de 

brazada en nado crol. Un estudio con nadadores recreativos

 

Ingrid Thaiane Soares Batista*

ingrid_hand@hotmail.com

Lara Elena Gomes**

lara.gomes@ufsc.br

 

*Graduada em Bacharelado e Licenciatura em Educação Física

Mestra em Educação Física pela Universidade Federal do Vale do São Francisco

Professora do Colégio Estadual de Casa Nova, Casa Nova, Bahia

**Graduada em Educação Física e mestrado e doutorado

em Ciências do Movimento Humano

pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Professora do Departamento de Educação Física

da Universidade Federal de Santa Catarina

(Brasil)

 

Recepção: 08/02/2023 - Aceitação: 20/06/2023

1ª Revisão: 28/02/2023 - 2ª Revisão: 16/06/2023

 

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Citação sugerida: Batista, I.T.S., e Gomes, L.E. (2023). Efeito do uso de palmares na assimetria de força da braçada no nado crawl. Um estudo com nadadores recreacionais. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(302), 96-111. https://doi.org/10.46642/efd.v28i302.3862

 

Resumo

    Enquanto a assimetria de força na braçada no nado crawl poderia prejudicar o desempenho, o uso de palmares é sugerido para reduzir essa diferença de força. Assim, o objetivo do estudo foi avaliar a assimetria de força dos membros superiores em nadadores recreacionais com palmares de diferentes formas e áreas e sem a utilização do implemento. Oito nadadores recreacionais realizaram 2 tentativas máximas de 10 segundos de nado estacionário em cada situação experimental (com palmar pequeno côncavo, médio côncavo, médio plano e sem palmar) enquanto as suas ações foram gravadas com uma câmera. As forças máximas dos primeiros 5 ciclos foram determinadas para as braçadas forte e fraca e para os membros dominante e não-dominante. Por meio de estatística paramétrica, a repetibilidade da força máxima e do índice de simetria determinado a partir da dominância lateral foi constatada sem e com palmares, mas não foi observado efeito da área e da forma de palmares sobre a assimetria de força. Contudo, quando os resultados individuais foram analisados, a assimetria de força variou entre as condições diferentemente para os participantes. Portanto, a assimetria de força dos membros superiores pode ser avaliada com o teste de nado estacionário realizado sem e com palmar a partir da dominância lateral, o que também permite uma melhor análise do que a assimetria estimada a partir das braçadas forte e fraca. Logo, o uso de palmares pode diminuir a assimetria de força, mas a escolha do palmar deve ser conduzida individualmente.

    Unitermos: Natação. Esporte. Biomecânica.

 

Abstract

    While arm force asymmetry during crawl swimming could limit performance, the use of hand paddles is suggested reducing this force difference. Thus the purpose of this study was to evaluate the upper limbs force asymmetry of recreational swimmers without and with different shapes and areas of hand paddles. Eight recreational swimmers performed 2 all-out 10 seconds tethered swimming at each experimental situation (with small concave, concave medium, flat medium hand paddles and without hand paddles) while their actions were recorded with a camera. The maximum force of the first 5 cycles were determined for stronger and weaker sides and for dominant and nom-dominant sides. Using parametric statistics, repeatability of the maximum force and symmetry index calculated from handednesswas noted without and with hand paddles, but there was no effect of hand paddles area and shape on the force asymmetry. However, when individual results were analysed, the force asymmetry varied among the conditions in a different way for the participants. Therefore, upper limbs force asymmetry estimated from handednessmay be evaluated through tethered swimming conducted without and with hand paddles, which allows a better analysis than asymmetry estimated from stronger and weaker sides. Thus the use of hand paddles may decrease force asymmetry, but the choice of the hand paddles should be made individually.

    Keywords: Swimming. Sport. Biomechanics.

 

Resumen

    Si bien la asimetría de la fuerza de brazada en nado crol podría afectar el rendimiento, se sugiere el uso de manoplas para reducir esta diferencia en la fuerza. Así, el objetivo del estudio fue evaluar la asimetría de fuerza de los miembros superiores en nadadores recreativos con manoplas de diferentes formas y tamaños y sin el uso del implemento. Ocho nadadores recreativos realizaron 2 intentos máximos de 10 segundos de nado estacionario en cada situación experimental (pequeño cóncavo, mediano cóncavo, mediano plano y no palmar) mientras sus acciones eran registradas con en video. Se determinaron las fuerzas máximas de los primeros 5 ciclos para los golpes fuertes y débiles y para las extremidades dominantes y no dominantes. Mediante estadística paramétrica se verificó la repetibilidad de fuerza máxima e índice de simetría determinado a partir de la dominancia lateral con y sin palmas, pero no se observó efecto del tamaño y forma de las palmas sobre la asimetría de fuerza. Pero al analizar los resultados individuales, la asimetría de fuerza varió según las condiciones de manera diferente para los participantes. Consecuentemente, la asimetría de fuerza de miembros superiores puede ser evaluada con el test de nado estacionario realizado sin y con manoplas a partir de la dominancia lateral, lo que también permite un mejor análisis que la asimetría estimada a partir de las brazadas fuertes y débiles. Por lo tanto, el uso de manoplas puede reducir la asimetría de la fuerza, pero la elección del implemento debe realizarse individualmente.

    Palabras clave: Natación. Deporte. Biomecánica.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 302, Jul. (2023)


 

Introdução 

 

    O desempenho na natação pode ser descrito como a capacidade de nadar uma determinada distância no menor tempo possível (Morouço et al., 2015) e, para isso, o nadador necessita maximizar as forças propulsivas enquanto reduz as forças resistivas (Psycharakis et al., 2021). Por sua vez, a propulsão, no nado crawl, é obtida, principalmente, a partir das forças geradas pelo membro superior (Morouço et al., 2015). Contudo, a contribuição dos lados dominante e não-dominante para a propulsão pode não ser a mesma (Psycharakis et al., 2021), e essa diferença poderia afetar a técnica e a posição do corpo, aumentando as forças resistivas (Sanders et al., 2011; Sanders, 2013). Dessa forma, o efeito de assimetrias cinemáticas e cinéticas sobre o desempenho de nadadores vem recebendo bastante atenção (Carvalho et al., 2019; Cohen et al., 2020; Psycharakis et al., 2021), mas há ainda muitas lacunas que precisam ser investigadas. (Amaro et al., 2017; Psycharakis et al., 2021)

 

    Dos Santos et al. (2013), por meio do teste de nado estacionário, identificaram o lado da braçada forte e o fraco e, assim, observaram que nadadores com melhores desempenhos apresentam uma menor assimetria do que nadadores com desempenhos inferiores. Já Psycharakis et al. (2021), além de verificar os lados forte e fraco com o teste de nado estacionário, também avaliaram a dominância lateral (se destro ou canhoto) e notaram que o lado dominante nem sempre coincide com o lado da braçada forte, além de que a quantidade de assimetria não parece ser associada com o nível de desempenho. Nessa mesma linha, Morouço et al. (2015) também destacaram que a assimetria de força pode ser observada na maioria dos nadadores e sugeriram que um certo grau de assimetria não prejudicaria o desempenho. Diferentemente, Carvalho et al. (2019), quando compararam seus resultados com os achados de Morouço et al. (2015), pontuaram que nadadores de elite apresentam uma maior simetria que nadadores com desempenhos inferiores.

 

    Barbosa, e Andries Júnior (2011), além de observar a assimetria de força entre os lados forte e fraco da braçada com o teste de nado estacionário, notaram que o uso de palmares pode diminuir a assimetria. Contudo, quando esses autores avaliaram o efeito de diferentes áreas de palmares (pequeno, médio, grande, extragrande) sobre a assimetria, o resultado variou entre os nadadores, indicando que cada caso deveria ser analisado individualmente para definir a área do palmar que implicaria em uma menor assimetria quando comparado ao nado sem o implemento. Apesar do resultado interessante, o estudo não incluiu a análise da dominância lateral, o que poderia ter contribuído com a discussão dos achados, já que o lado dominante nem sempre coincide com o lado da braçada mais forte (Psycharakis et al., 2021).

 

    Considerando que (i) nadadores recreacionais costumam usar palmares (Matos et al., 2013), mas os estudos encontrados, em sua maioria, foram conduzidos com nadadores competitivos, e que (ii) talvez, nadadores recreacionais podem apresentar uma maior assimetria de força que nadadores competitivos com base nos achados de Carvalho et al. (2019) e dos Santos et al. (2013), é possível pensar que o uso de palmares poderia ser benéfico para nadadores recreacionais com o intuito de diminuir a assimetria. Ainda, a maioria dos trabalhos, que avaliou o uso de palmares, investigou o efeito agudo do aumento da área gerada pelo implemento (Barbosa et al., 2013; Tsunokawa et al., 2019), apesar de haver palmares com diferentes formas, por exemplo, planos e côncavos, o que poderia, talvez, afetar a força propulsiva gerada ao longo da braçada (Ito, 2006). Desse modo, o objetivo do presente estudo foi avaliar a assimetria de força dos membros superiores em nadadores recreacionais com palmares de diferentes formas e áreas e sem a utilização do implemento.

 

Métodos 

 

Participantes 

 

    Neste estudo, participaram oito nadadores do sexo masculino (26,25 ± 3,37 anos de idade; 81,17 ± 15,32 kg de massa corporal; 1,79 ± 0,07 m de estatura; 0,016 ± 0,0013 m² de área das mãos e 31,43 ± 3,14 s de desempenho nos 50 metros livre). Todos preenchiam os critérios de inclusão: (a) ter, no mínimo, 18 anos de idade; (b) ser nadador recreacional com aulas de natação de 2 a 4 vezes por semana sob a orientação de um profissional de Educação Física há pelo menos 3 meses de forma ininterrupta; (c) estar familiarizado com os palmares que seriam utilizados no estudo; (d) estar familiarizado com o nado estacionário (todos já haviam participado de um estudo anterior com sessões de familiarização, além de testes de nado estacionário); (e) não apresentar lesão ou qualquer outra restrição que pudesse afetar o desempenho nos testes e 3 meses antes da participação no estudo. A presente pesquisa recebeu aprovação do Comitê de Ética local (CAAE 61437916.5.0000.5196), assim como todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

 

Coleta de dados 

 

    Os participantes foram instruídos a evitar exercícios físicos vigorosos 24 horas antes da avaliação. Inicialmente, os nadadores responderam o Inventário de Dominância Lateral de Edimburgo (Oldfield, 1971). Já o experimento ocorreu em uma piscina de 25 metros, com temperatura média da água e do ambiente de 28°C e 35°C, respetivamente. Primeiro, realizaram um aquecimento de 500 metros (200 metros nado crawl, 200 metros braço de crawl e 100 metros solto) e, após, fizeram duas tentativas máximas de 10 segundos de nado estacionário com nado crawl em cada situação experimental: sem palmar, com palmar pequeno côncavo (217 cm²), com palmar médio côncavo (264 cm²) e com palmar médio plano (264 cm²) (Figura 1). As situações experimentais foram estabelecidas de maneira aleatória. Entre as tentativas e as situações experimentais, foi dado um intervalo de 4 minutos, em que os nadadores foram orientados a nadar 100 metros solto sem implemento e tiveram o restante do tempo para se recuperarem passivamente. Essa medida foi tomada para atenuar qualquer possibilidade do palmar influenciar a sensibilidade dos nadadores nos testes seguintes e para evitar o efeito de fadiga, possibilitando a ressíntese de ATP-CP. (Barbosa, e Andries Júnior, 2011; Barbosa et al., 2013)

 

Figura 1. Palmares usados no estudo

Figura 1. Palmares usados no estudo

Fonte: Autoras

 

    Os participantes foram instruídos a executar as tentativas nas quatro condições avaliadas nadando crawl de forma completa (braçada e pernada), gerando a máxima força possível ao longo dos 10 segundos e sem inspirar. O início e o fim das tentativas foram sinalizados por um sinal sonoro. Para o registro da força, foi utilizada uma célula de carga, previamente calibrada, com um condicionador de sinais (Miotool Fisio; 2000 Hz) conectado a um notebook (DELL Inspiron 14). Uma extremidade da célula de carga foi presa no bloco de partida da piscina, enquanto a outra extremidade estava presa a um cabo de aço rígido de 5 metros de comprimento, o qual terminava em um cinto ajustável ao redor da cintura do participante. Além disso, foi avaliada a exatidão de medida da célula de carga com pesos conhecidos, diferentes dos utilizados na calibração, para determinar o coeficiente de determinação, o qual foi 0,99.

 

    Em todas tentativas, o plano sagital dos nadadores foi gravado com uma câmera (GoPro3+ silver edition; 60 Hz) dentro da água fixada na parede com uma distância de 3 m do participante. Para alinhar os dados de força e os vídeos, foi utilizado um sistema eletrônico de sincronização que, quando acionado, fornecia um sinal elétrico observado no software Miograph e um sinal luminoso observado na câmera.

 

Tratamento dos dados 

 

    A análise da força foi realizada no software Matlab (versão R2009b), em que o sinal de força foi suavizado com um filtro digital Butterworth passa baixa de quarta ordem com uma frequência de corte estabelecida com análise residual (Winter, 2005) e, devido ao efeito inercial de extensão do cabo, foi eliminado o primeiro segundo após o início do teste (Barbosa, e Andries Júnior, 2011; Barbosa et al., 2013). Como o cabo apresentava um pequeno ângulo com a superfície da água (8°), os dados foram corrigidos calculando a componente horizontal da força com uma relação trigonométrica. A partir disso, foi determinada a força máxima (pico da força) nas braçadas dos primeiros 5 ciclos (Morouço et al., 2015; Ruiz-Navarro et al., 2019), e as médias das forças das braçadas ímpares e pares foram calculadas.

 

    Com base nos vídeos analisados com o software Dvideow (Figueroa et al., 2003) e alinhando os dados de força com as gravações dos vídeos, foi determinado o lado de cada braçada, ou seja, se lado direito ou esquerdo, permitindo identificar as braçadas fortes e fracas. Como em outros estudos (dos Santos et al., 2013; Morouço et al., 2015; Psycharakis et al., 2021), mesmo com o teste de nado estacionário realizado com nado crawl completo (braçada e pernada), o pico da força foi associado à braçada, e a pernada foi permitida para favorecer uma melhor posição horizontal do corpo na água.

 

    A partir da média dos picos das forças das braçadas dos primeiros 5 ciclos (Morouço et al., 2015), foi determinado o índice de simetria (Herzog et al., 1989) considerando os resultados para as braçadas fortes e fracas, além dos resultados conforme a dominância lateral, sendo assumido como simétrico quando o índice estivesse entre -10 e 10% como em outros trabalhos (Carvalho et al., 2019; Morouço et al., 2015; Psycharakis et al., 2021):

 

IS (%)=(X1-X2)/(1/2(X1+X2))×100

 

    Em que,

IS (%) é o índice de simetria;

 

X1 (N) é a média dos picos de força do lado da braçada forte ou do membro dominante;

 

X2 (N) é a média dos picos de força do lado da braçada fraca ou do membro não-dominante.

Análise estatística 

 

    Valores de média e desvio-padrão foram adotados para descrever os resultados dos testes. Para verificar se a assimetria de força dos membros superiores de nadadores recreacionais poderia ser avaliada com o teste de nado estacionário realizado sem e com palmar, foi avaliada a repetibilidade da média da força máxima e do índice de simetria das braçadas forte e fraca e dos membros dominante e não-dominante, considerando os resultados das duas tentativas de nado estacionário para cada situação (sem palmar, com palmar pequeno côncavo, com palmar médio côncavo e com palmar médio plano). A repetibilidade foi verificada por meio do alfa de Cronbach (Field, 2009) e do coeficiente de correlação intraclasse (CCI) junto com o seu intervalo de confiança (Koo, e Li, 2016) e com a precisão de medida avaliada com o erro padrão estimado. (Denegar, e Ball, 1993)

 

    A repetibilidade da média da força máxima seria constatada a partir de um alfa de Cronbach maior que 0,70 com base em Field (2009) e um CCI igual ou maior que 0,75, indicando, no mínimo, uma boa repetibilidade (Koo, e Li, 2016). Nestes casos, o resultadoda média da força máxima do primeiro teste seria empregado para verificar o efeito da área e da forma dos palmares sobre o índice de simetria; caso contrário, seria adotada a média dos resultados dos dois testes. Esse procedimento foi adotado com base na repetibilidade da média da força máxima, porque o índice de simetria é determinado com uma equação que tem como dados de entrada os resultados da média da força máxima. Assim, há uma propagação de erros de medida na combinação das variáveis empregadas no cálculo do índice. Em outras palavras, é esperado que o índice de simetria apresente uma repetibilidade inferior à média da força máxima.

 

    Como a ANOVA é considerada um teste robusto e pode lidar com violações moderadas de normalidade (Sawyer, 2009), assim como o uso de estatística paramétrica parece ser mais adequado para amostras pequenas (Hopkins et al., 2009), duas ANOVAs one-way para medidas repetidas foram conduzidas para verificar se havia efeito da área (sem palmar X palmar pequeno côncavo X palmar médio côncavo) e da forma do palmar (sem palmar X palmar médio côncavo X palmar médio plano) sobre o índice de simetria. A esfericidade dos dados foi avaliada com o teste de Mauchly e o tamanho do efeito para a ANOVA foi reportado com base no eta parcial ao quadrado, η² (Iacobucci et al., 2023). O nível de significância adotado foi de 5% para todos os procedimentos estatísticos, os quais foram realizados no software SPSS (versão 22.0 for Windows).

 

Resultados 

 

    Primeiramente, foi constatada a repetibilidade da média da força máxima das braçadas forte e fraca e dos membros dominante e não-dominante obtida com o teste de nado estacionário sem e com palmares (Tabela 1). Assim, o resultado da primeira tentativa de cada situação experimental foi empregado para a análise subsequente. Além disso, a Tabela 1 ilustra que, em todas as situações experimentais, a repetibilidade do índice de simetria foi constatada quando o índice foi determinado com a média das forças máximas dos membros dominante e não-dominante.

 

Tabela 1. Resultado da repetibilidade, em que SP é sem palmar, PPC é palmar pequeno côncavo, PMC é palmar médio côncavo, PMP é palmar médio plano, CCI é o coeficiente de correlação intraclasse e IC é o intervalo de confiança de 95% do CCI (n = 8)

 

CCI

α de Cronbach

Erro padrão

SP

Forte

0,79; p = 0,006; IC: 0,26-0,95

0,88

26,41

Fraca

0,69; p = 0,02; IC: 0,04-0,93

0,82

29,35

Índice de simetria

0,26; p = 0,250; IC:-0,49-0,79

0,41

15,90

Dominante

0,79; p = 0,006; IC: 0,26-0,95

0,88

27,40

Não-dominante

0,75, p = 0,01; IC 0,16-0,94

0,86

28,46

Índice de simetria

0,65; p = 0,029; IC:-0,03-0,92

0,79

15,72

PPC

Forte

0,86, p = 0,002; IC 0,45-0,97

0,92

22,60

Fraca

0,93, p< 0,001; IC 0,69-0,99

0,96

21,69

Índice de simetria

0,79; p = 0,006; IC:0,25-0,95

0,88

15,53

Dominante

0,86, p = 0,001; IC 0,45-0,97

0,92

22,59

Não-dominante

0,93, p< 0,001; IC 0,70-0,99

0,97

22,63

Índice de simetria

0,83; p = 0,003; IC:0,36-0,96

0,91

15,58

PMC

Forte

0,86, p = 0,001; IC 0,46-0,97

0,93

27,79

Fraca

0,90, p = 0,001; IC 0,57-0,98

0,95

24,74

Índice de simetria

0,18; p = 0,327; IC:-0,56-0,75

0,30

24,65

Dominante

0,90, p = 0,001; IC 0,57-0,98

0,95

22,72

Não-dominante

0,88, p = 0,001; IC 0,51-0,97

0,94

31,36

Índice de simetria

0,60; p = 0,045; IC:-0,01-0,90

0,75

24,08

PMP

Forte

0,83, p = 0,003; IC 0,34-0,96

0,91

29,13

Fraca

0,89, p = 0,001; IC 0,56-0,98

0,94

26,04

Índice de simetria

0,77; p = 0,008; IC:0,21-0,95

0,87

28,18

Dominante

0,84, p = 0,002; IC 0,40-0,97

0,91

27,31

Não-dominante

0,87, p = 0,001; IC 0,54-0,98

0,94

30,37

Índice de simetria

0,80; p = 0,005; IC:0,30-0,96

0,89

31,15

Fonte: Autoras

 

    A Tabela 2 mostra que o índice de simetria não foi afetado pela área dos palmares (determinado com as braçadas forte e fraca: F(2, 14) = 0,15, p = 0,862, η2 = 0,02; determinado com os membros dominante e não-dominante: F(2, 14) = 0,21, p = 0,813, η2 = 0,03) e nem pela forma dos palmares (determinado com as braçadas forte e fraca: F(2, 14) = 0,69, p = 0,519, η2 = 0,09; determinado com os membros dominante e não-dominante: F(2, 14) = 0,60, p = 0,563, η2 = 0,08). Contudo, quando os resultados individuais foram analisados, foi possível notar que o índice de simetria variou entre as condições diferentemente para os participantes (Figura 2). É importante destacar que o Inventário aplicado apontou que todos os nadadores tinham o membro direito como dominante, uma vez que responderam que preferem usar a mão direita em todas atividades descritas no Inventário. Entretanto, nem todos tiveram a braçada direita como a mais forte (Figura 2b).

 

Tabela 2. Média (desvio-padrão) da força máxima das braçadas forte e fraca e dos membros dominante e não-dominante para cada condição, em que IS é índice de simetria, SP é sem palmar, PPC é palmar pequeno côncavo, PMC é palmar médio côncavo, PMP é palmar médio plano (n = 8)

 

SP

PPC

PMC

PMP

Forte

241,98 (61,69)

257,79 (60,19)

261,73 (64,16)

282,44 (71,86)

Fraca

169,42 (54,87)

195,22 (95,24)

206,40 (92,23)

193,15 (77,93)

IS

36,34 (14,86)

36,64 (40,26)

31,16 (34,88)

42,89 (26,87)

Dominante

235,05 (65,54)

254,26 (60,15)

254,86 (68,19)

275,94 (66,65)

Não-dominante

176,34 (59,66)

198,74 (97,73)

213,26 (93,45)

199,66 (89,59)

IS

29,66 (26,91)

33,89 (42,92)

25,94 (39,69)

38,92 (33,07)

Fonte: Autoras

 

Figura 2. Índice de simetria dos participantes para cada condição (n = 8), determinado (a) com as braçadas forte e fraca e (b) com os membros dominante e não-dominante. As linhas tracejadas delimitam a zona adotada como simétrica, entre -10 e 10%

Figura 2. Índice de simetria dos participantes para cada condição (n = 8), determinado (a) com as braçadas forte e fraca e (b) com os membros dominante e não-dominante. As linhas tracejadas delimitam a zona adotada como simétrica, entre -10 e 10%

Fonte: Autoras

 

Discussão 

 

    Foi constatada a repetibilidade da média da força máxima das braçadas forte e fraca e dos membros dominante e não-dominante sem palmar, com palmar pequeno côncavo, com palmar médio côncavo e com palmar médio plano, porém o índice de simetria determinado a partir das braçadas forte e fraca não apresentou repetibilidade sem palmar e com palmar médio côncavo, enquanto que o índice determinado a partir dos membros dominante e não-dominante apresentou repetibilidade em todas as situações experimentais com alfa de Cronbach maior que 0,70 e um CCI indicando moderada à boa repetibilidade (Tabela 1). Dessa maneira, a assimetria de força dos membros superiores de nadadores recreacionais pode ser avaliada com o teste de nado estacionário realizado sem e com palmar se verificada por meio da média das forças máximas dos membros dominante e não-dominante. Esse resultado reforça a aplicabilidade do teste de nado estacionário como meio de avaliação, inclusive para nadadores recreacionais.

 

    Apesar do teste de nado estacionário apresentar repetibilidade para nadadores competitivos (Dopsaj et al., 2003) e recreacionais (Gomes et al., 2018) para determinadas variáveis como a força média de todo o teste, não foram encontrados estudos sobre repetibilidade da média da força máxima das braçadas usadas para avaliar a assimetria de força dos membros superiores e nem do índice de simetria. Mesmo assim, a avaliação da assimetria vem sendo realizada (Barbosa, e Andries Júnior, 2011; Carvalho et al., 2019; dos Santos et al., 2013; Morouço et al., 2015; Psycharakis et al., 2021). Apesar de algumas diferenças, como os participantes dos estudos (nadadores competitivos versus recreacionais), o presente trabalho permite questionar ou refletir sobre os achados daqueles que avaliaram a assimetria de força a partir das braçadas forte e fraca, enquanto pode ajudar a sustentar uma parte dos métodos adotados por quem apresenta o índice de simetria avaliado a partir da média das forças máximas dos membros dominante e não-dominante.

 

    Nesta pesquisa, todos os nadadores apresentaram o lado direito como dominante conforme o Inventário aplicado, porém alguns tiveram a braçada esquerda mais forte que a direita, o que pode ser observado pelos valores negativos do índice de simetria em algumas condições (Figura 2b). Assim, a análise da assimetria com os valores das braçadas forte e fraca (Figura 2a) acaba limitando a avaliação (Psycharakis et al., 2021), por não permitir identificar, com o valor do índice de simetria, quais são os lados ou membros forte e fraco e se estes se mantêm nas diferentes condições (sem palmar, com palmar pequeno ou médio, plano ou côncavo). Isso pode ser observado nos resultados dos participantes 1, 3 e 7 (Figura 2a x Figura 2b). Por exemplo, conforme a Figura 2b, o nadador 7 apresenta a braçada esquerda (não-dominante) mais forte que a direita (dominante) em todas as condições, com exceção quando nada com palmar médio plano. Tal análise é inviabilizada a partir da Figura 2a.

 

    Não foi encontrado efeito da área e da forma dos palmares sobre a assimetria de força dos membros superiores (Tabela 2). Contudo, como Barbosa, e Andries Júnior (2011) notaram, quando os resultados individuais são analisados (Figura 2b), é possível observar que o uso de palmares pode diminuir a assimetria de força. Para os participantes 3, 4, 5 e 7, o palmar pequeno côncavo diminuiu a assimetria, sendo simétrico para os nadadores 3 e 5. Para os participantes 1 e 8, o palmar médio côncavo diminuiu a assimetria, sendo simétrico para o 8. Já para o participante 2, a assimetria reduziu com o palmar médio plano. Somente o nadador 6 apresentou menor assimetria sem palmar. Esses resultados reforçam a necessidade da análise individual para escolher o palmar, considerando diferentes áreas e formas, com o intuito de usar o implemento para diminuir assimetria de força dos membros superiores, uma vez que a assimetria poderia afetar a técnica e a posição do corpo, aumentando as forças resistivas (Sanders et al., 2011; Sanders, 2013). Por outro lado, é ainda necessário compreender o efeito da quantidade de assimetria sobre o desempenho para entender a relação entre esses dois fatores e auxiliar melhor professores e treinadores de natação.

 

    Como limitações, não foi verificado o lado que os participantes adotam para inspirar enquanto nadam, o que poderia afetar o índice de simetria, mesmo quando os nadadores não inspiram (Cohen et al., 2020; Psycharakis et al., 2021). Em outras palavras, alguém identificado como destro pelo Inventário poderia ter a braçada esquerda mais forte por estar acostumado e/ou preferir respirar para o lado esquerdo. No entanto, essa hipótese necessita ser investigada.

 

    O nado estacionário também apresenta restrições, tais como a força medida poderia ser diferente da força numa condição livre, e o cabo é preso na cintura, o que não representa o efeito das ações propulsivas na aceleração do centro de massa (Sanders et al., 2012). Apesar disso, o teste de nado estacionário é reconhecido (Sanders et al., 2012; Amaro et al., 2017) e adotado (Barbosa, e Andries Júnior, 2011; Carvalho et al., 2019; dos Santos et al., 2013; Morouço et al., 2015; Psycharakis et al., 2021) para avaliar a assimetria de força dos membros superiores.

 

    Para superar essas limitações e aprofundar o estudo sobre a assimetria na natação, além de analisar o lado da respiração, sensores de pressão (Bartolomeu et al., 2022; Tsunokawa et al., 2019) poderiam ser empregados para avaliar a assimetria de força sem e com palmares, assim como avaliar a atividade muscular com eletromiografia de ambos os lados do corpo (Kwok et al., 2023). Como palmares podem não ser usados unicamente no nado crawl (Telles et al., 2017), também seria interessante avaliar a assimetria em outros nados (Bartolomeu et al., 2022), analisar o efeito de outros palmares de diferentes áreas e formas disponíveis no mercado, além de incluir um grupo amplo de nadadores, de recreacionais a competitivos, para entender melhor a relação entre nível de desempenho e assimetria.

 

Conclusões 

 

    O presente estudo constatou a repetibilidade da força máxima das braçadas utilizadas para avaliar a assimetria de força dos membros superiores no nado crawl sem e com palmares de diferentes áreas e formas, além da repetibilidade do índice de simetria determinado a partir da dominância lateral. Também foi possível notar que esse índice apresenta um resultado que permite uma análise mais aprofundada do que o índice estimado com as braçadas dos lados forte e fraco. A partir disso, pôde ser observado que o uso de palmares de diferentes áreas e formas pode diminuir a assimetria de força, mas a escolha do palmar deve ser conduzida com uma avaliação individual para cada nadador. Ao mesmo tempo, é necessário compreender melhor o efeito da quantidade de assimetria sobre o desempenho.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 302, Jul. (2023)