ISSN 1514-3465
Análise longitudinal do nível de atividade física de pacientes em hemodiálise
Longitudinal Analysis of the Level of Physical Activity of Patients under Hemodialysis
Análisis longitudinal del nivel de actividad física de pacientes en hemodiálisis
Anthony Matteo Brezolin Pedrotti*
anthonympredotti@hotmail.comThais Severo Dutra**
thais.severo@hotmail.com
Cleide Dejaira Martins Vieira***
cleidedmvieira@gmail.com
Moane Marchesan Krug****
moane.krug@unijui.edu.br
Marilia de Rosso Krug
+mkrug@unicruz.edu.br
Rodrigo de Rosso Krug
++rkrug@unicruz.edu.br
Juliedy Waldow Kupske
+++juliedykupske@hotmail.com
*Bacharel em Educação Física (UNICRUZ)
**Fisioterapeuta (UNICRUZ)
Aluna do Programa de Pós-Graduação
em Atenção Integral à Saúde (UNICRUZ/UNIJUI/URI Erechim)
***Fisioterapeuta (UNICRUZ)
Mestre em Atenção Integral à Saúde (UNICRUZ/UNIJUI/URI Erechim)
****Doutora em Educação Física (UFSC)
Coordenadora do Programa de Residência Multiprofissional
em Saúde da Família UNIJUÍ/FUMSSAR
Professora adjunta da UNIJUI
+Doutora em Educação Física (UFSC)
Coordenadora do Programa de Residência Multiprofissional
em Saúde da Família UNIJUÍ/FUMSSAR
Professora adjunta da UNIJUI
++Doutor em Ciências Médicas (UFSC)
Professor do Programa de Pós-Graduação em Atenção Integral á Saúde (PPGAIS).
+++Doutoranda em Ciências do Movimento humano (UFRGS)
Mestre em Atenção Integral á Saúde (UNIJUÍ/UNICRUZ)
(Brasil)
Recepção: 17/01/2023 - Aceitação: 04/06/2023
1ª Revisão: 29/03/2023 - 2ª Revisão: 01/06/2023
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Citação sugerida
: Pedrotti, AMB, Dutra, TS, Vieira, CDM, Krug, MM, Krug, MR, Krug, RR, e Kupske, JW (2023). Análise longitudinal do nível de atividade física de pacientes em hemodiálise. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(302), 129-144. https://doi.org/10.46642/efd.v28i302.3836
Resumo
A doença renal crônica (DRC) se caracteriza pela perda da capacidade de filtração do sangue e de manter a homeostase devido à perda progressiva da função dos néfrons. A atividade física é importante para minimizaras consequências associadas a patologia e ao tratamento. Desta forma, o presente estudo teve como objetivo verificar os fatores associados a permanecer ativo fisicamente no período de 2018 a 2020 de pacientes em hemodiálise (HD). Tratou-se de um estudo longitudinal retrospectivo com 91pacientes em hemodiálise na Clínica Renal do Hospital São Vicente de Paulo do município de Cruz Alta/RS. Foram analisados: o nível de atividade física (utilizando pedômetro), características sociodemográficas e de saúde (através de um questionário fechado), aptidão cardiorrespiratória, força de preensão manual, resistência muscular localizada de membros inferiores, independência funcional, depressão e o nível de atividade física (NAF). Para verificar os fatores associados ao nível de atividade física foi utilizado Teste Exato de Fisher com p≤0,05. Como resultado desse estudo, verificou-se que indivíduos com maior grau de escolaridade, sem depressão, independentes nas atividades de vida diária (AVDs) e que não apresentam fragilidade possuíram maior NAF. Concluiu-se que o NAF se relaciona diretamente com os fatores citados; além disso, ressaltou a importância da atividade física e de um programa de treinamento físico para doentes renais visando a promoção da saúde e a disposição da equipe profissional de divulgá-lo para que os pacientes se sintam motivados.
Unitermos: Diálise renal. Exercício físico. Monitores de aptidão física. Estudos longitudinais.
Abstract
Chronic kidney disease (CKD) is characterized by the loss of the blood's ability to filter and maintain homeostasis due to the progressive loss of nephron function. Physical activity is important to minimize the consequences associated with pathology and treatment. Thus, the present study aims to verify the factors associated with remaining physically active in the period from 2018 to 2020 of patients on hemodialysis (HD). This was a retrospective longitudinal study with 91 hemodialysis patients at the Renal Clinic of Hospital São Vicente de Paulo in the city of Cruz Alta/RS. The following were analyzed: the level of physical activity (using a pedometer), sociodemographic and health characteristics (using a closed questionnaire), cardiorespiratory fitness, handgrip strength, localized muscle resistance of the lower limbs, functional independence, depression and activity level physics (ALP). To verify the factors associated with the level of physical activity, Fisher's Exact Test was used with p≤0.05. As a result of this study, it was found that individuals with a higher level of education, without depression, independent in activities of daily living (ADLs) and who do not present frailty had higher ALP. It was concluded that the ALP is directly related to the mentioned factors; in addition, it highlighted the importance of physical activity and a physical training program for kidney patients aiming at health promotion and the willingness of the professional team to disseminate it so that patients feel motivated.
Keywords: Renal dialysis. Physical exercise. Physical fitness monitors. Longitudinal studies.
Resumen
La enfermedad renal crónica (ERC) se caracteriza por la pérdida de la capacidad de filtrar la sangre y mantener la homeostasis debido a la pérdida progresiva de la función de las nefronas. La actividad física es importante para minimizar consecuencias asociadas a la patología y al tratamiento. Así, el presente estudio tuvo como objetivo verificar los factores asociados a la permanencia físicamente activa entre 2018 y 2020 de pacientes en hemodiálisis. Estudio longitudinal retrospectivo con 91 pacientes en hemodiálisis en la Clínica Renal del Hospital São Vicente de Paulo en la ciudad de Cruz Alta/RS. Se analizaron: el nivel de actividad física (mediante podómetro), características sociodemográficas y de salud (a través de un cuestionario cerrado), aptitud cardiorrespiratoria, fuerza de prensión manual, resistencia muscular localizada de los miembros inferiores, independencia funcional, depresión y nivel de actividad física (NAF). Para verificar los factores asociados al nivel de actividad física se utilizó la Prueba Exacta de Fisher con p≤0,05. Como resultado de este estudio, se encontró que los individuos con mayor nivel de educación, sin depresión, que son independientes en las actividades de la vida diaria (AVD) y que no son frágiles tenían un NAF más alto. Se concluyó que el NAF está directamente relacionado con los factores mencionados; además, se destacó la importancia de la actividad física y un programa de entrenamiento físico para pacientes renales con el objetivo de la promoción de la salud y la disposición del equipo profesional para difundirlo para que los pacientes se sientan motivados.
Palabras clave:
Diálisis renal. Ejercicio físico. Monitores de aptitud física. Estudios longitudinales.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 302, Jul. (2023)
Introdução
A doença renal crônica (DRC) se caracteriza pela perda da capacidade de filtração do sangue em níveis que não é possível manter a homeostase (Kusumota et al., 2004) devido à perda progressiva da função dos néfrons (Guyton, e Hall, 2006).
Por atingir altas taxas de prevalência e morbimortalidade, a DRC é entendida como um desafio de saúde pública no panorama mundial, trazendo grande impacto socioeconômico (Jha et al., 2013). Dentre os altos gastos com essa patologia podemos mencionar o seu tratamento, conhecidos como terapias renais substitutivas (TRS) (Karatas, Canacki, e Turkmen, 2018), sendo o tratamento hemodialítico o mais utilizado (Pretto et al., 2020), removendo as substâncias tóxicas e líquidos em excesso nos tecidos e no sangue. (Oh et al., 2019)
Entretanto, a hemodiálise (HD) se associa ao mau estado nutricional, devido à alimentação insuficiente, ao hipercatabolismo devido à resistência à insulina, a acidose metabólica e inflamações e a perda de nutrientes durante o procedimento (Silva et al., 2018). Além do mais, a HD e a DRC afetam diretamente a qualidade de vida causando limitações e prejudicando a saúde funcional, mental e física, como diminuição da massa muscular e fragilidade (Kamijo et al., 2018), transtornos depressivos (Khan et al., 2019) e redução da qualidade do sono. (Ren et al., 2019)
Uma alternativa não farmacológica eficaz para atenuar os desfechos deletérios associadas a patologia e ao tratamento é a atividade física (AF), estudos apontam que em pacientes em HD o NAF está diretamente associado a maiores escores na qualidade de vida e menor dependência nas atividades instrumentais e básicas da vida diária (Fukushima et al., 2018; Silveira et al. 2021, Paim et al. 2022). No entanto, a maioria dos indivíduos acaba sendo inativo fisicamente. (Daltrozo et al., 2014)
Conhecer os fatores que contribuem para a prática regular de exercícios físicos se torna importante para propor estratégias eficientes para esta população (Silveira et al., 2021; Paim et al. 2022). A partir deste contexto, o presente estudo tem como objetivo verificar os fatores associados a permanecer ativo fisicamente no período de 2018 a 2020 de pacientes em HD.
Métodos
Tratou-se de um estudo que foi de natureza descritiva e analítica, com delineamento longitudinal. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob parecer substanciado Nº 4.171.948 e cumpriu todos os princípios éticos de acordo com a Resolução Nº 466 de 2012, do Conselho Nacional de Saúde. Foram estudados, retrospectivamente e longitudinalmente pacientes com DRC em HD. A população alvo do estudo foram todos os 91 pacientes da Clínica Renal do Hospital São Vicente de Paulo do município de Cruz Alta/RS. Todos os participantes do estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e foi garantida a confidencialidade das informações, a participação voluntária e a possibilidade de deixar o estudo a qualquer momento, sem necessidade de justificativa.
Foram incluídos no estudo pacientes que aceitaram voluntariamente e que estavam em tratamento hemodialítico a mais de três meses e excluídos os pacientes que estavam internados durante o período da coleta de dados.Os instrumentos foram aplicados individualmente pelos bolsistas e voluntários do projeto que foram devidamente treinados. As características sociodemográficas e de saúde foram avaliadas por meio de questionário fechado com as seguintes variáveis: Sexo (masculino e feminino); idade em anos; escolaridade em anos de estudo; tempo de HD em meses de tratamento.
O nível de atividade física foi calculado utilizando Monitor de Atividade OMRON modelo HJA-310. Para avaliação foi utilizada a seguinte classificação, inativo fisicamente (>7100 passos diários) e ativos fisicamente (≤7100 passos diários). Os pacientes foram avaliados em dois momentos diferentes: NAF em dia de tratamento hemodialítico (primeiras 24 horas de uso do aparelho) e NAF em dia sem tratamento (últimas 24 horas de uso do aparelho). O nível de atividade física no lazer foi avaliado de forma longitudinal (manteve-se inativo fisicamente; passou a ser inativo fisicamente; passou a ser ativo fisicamente; manteve-se ativo fisicamente).
Os componentes da aptidão física foram avaliados por:
Aptidão Cardiorrespiratória - Teste de seis minutos de caminhada (American Thoracic Society, 2002). Os pacientes foram instruídos a caminhar o mais rápido possível pelo tempo de seis minutos, verificando a distância percorrida nesse tempo;
Força de preensão manual - Dinamometria. O teste foi realizado em três tentativas. O período de recuperação entre as medidas foi de um minuto. A melhor marca das três tentativas foi utilizada como medida (Bohannon, 2008);
Resistência muscular localizada de membros inferiores; Teste de senta e levanta (TSL) (Jones, Rikli, e Beam, 1999). O teste consiste em o paciente sentar e levantar durante 30 segundos, sendo registrado o número máximo de repetições.
Independência funcional no que se refere à realização das atividades instrumentais. O instrumento utilizado foi o Índice Lawton-Brody. Foram seguidos os pontos de corte sugeridos por Azeredo, e Matos (2003), na qual foi convertida a escala em três grupos na mesma proporção e consideraram os seguintes pontos de corte: 0-5 significa dependência grave ou total; de 6-11 moderada dependência; de 12-16 ligeira dependência ou independente. Foi avaliado também de forma longitudinal (manteve-se dependente; passou a ser dependente; passou a ser independente; manteve-se independente).
Independência funcional do sujeito para a realização de dez atividades básicas de vida diária. Foi utilizado o Índice de Barthel utilizando os seguintes pontos de corte: Totalmente dependente (100 pontos), dependência leve (99 - 76 pontos), dependência moderada (75 a 51 pontos), dependência severa (50 a 26 pontos) e dependência total (25 a menos pontos), na qual foram agrupados e considerados parcialmente dependentes os grupos com escores de dependência leve, moderada e severa (Mahoney, e Barthel, 1965). Foi avaliado também de forma longitudinal (manteve-se dependente; passou a ser dependente; passou a ser independente; manteve-se independente).
Fragilidade. Foi utilizado o questionário de Edmonton Frail Scale de acordo com os pontos de cortes sugeridos no estudo de Fabricio-Wehbe et al. (2013). Foi avaliado também de forma longitudinal (manteve-se frágil; passou a ser frágil; passou a ser não frágil; manteve-se não frágil).
Depressão. Foi utilizado para coleta dos dados desta variável o Inventário de Depressão de Beck. As categorias são: depressão mínima (0-13), depressão leve (14-19), depressão moderada (20-28) e depressão severa (29-63) (Beck et al., 1996). Foi avaliado também de forma longitudinal (manteve-se depressivo; passou a ser depressivo; passou a ser não depressivo; manteve-se não depressivo).
Os dados quantitativos foram analisados por meio de estatística descritiva, utilizando o programa Stata 11.0, sendo as variáveis numéricas descritas em função de suas médias e desvio padrão, e as variáveis categóricas através de porcentagem. Para verificar os fatores associados ao nível de atividade física (manteve-se inativo fisicamente; passou a ser inativo fisicamente; passou a ser ativo fisicamente; manteve-se ativo fisicamente) no período de três anos (2018 a 2020) foi utilizado teste Exato de Fisher. O nível de significância adotado foi de 5%.
Resultados
A Tabela 1 apresenta as variáveis sociodemográficas e de saúde de 61 pacientes em HD, no ano de 2018, primeiro ano da coleta de dados. Verifica-se que os pacientes possuem média de idade de 57,65 ± 57,22 anos e estavam em tratamento hemodialítico há 58,72 ± 15,63 meses, são predominantemente do sexo masculino (60,7%) e possuem ensino fundamental incompleto (27,9%).
Tabela 1. Características sociodemográficas e de saúde de pacientes
com IRC em HD. Cruz Alta, Rio Grande do Sul, Brasil, 2018 (n=61)
Variáveis |
Média |
Desvio
padrão |
Idade
em anos |
57,65 |
±
57,22 |
Tempo
de hemodiálise em meses |
58,72 |
±
15,63 |
|
N |
% |
Sexo Masculino Feminino |
37 24 |
60,7 39,3 |
Escolaridade Analfabeto Fundamental
Incompleto Fundamental
Completo Médio
Completo Superior
Completo Não
informou |
6 17 16 9 8 5 |
9,8 27,9 26,2 14,8 13,1 8,2 |
Fonte: Dados de pesquisa
Na Tabela 2, verifica-se na análise longitudinal do nível de atividade física nos anos de 2018 a 2020 que independente de ser dia de HD, ou dia contrário os pacientes se mantiveram inativos fisicamente, 70% e 77,5%, respectivamente. Observa-se também que mesmo somando a atividade física dos pacientes nos dois momentos, eles se mantiveram inativos fisicamente (65,0%).
Tabela 2. Análise longitudinal do nível de atividade física medido pelo número de passos em
diferentes dias em pacientes em HD. Cruz Alta, Rio Grande do Sul, Brasil, 2018 e 2020
Nível de atividade física em dia
de HD |
f |
% |
2018 (n=61) Inativo
fisicamente Ativo fisicamente |
51 10 |
83,6 16,4 |
2020 (n=40) Inativo
fisicamente Ativo fisicamente |
34 6 |
85,0 15,0 |
*Análise
longitudinal (n=40) Manteve-se ativo
fisicamente Passou a ser ativo
fisicamente Passou a ser
inativo fisicamente Manteve-se inativo
fisicamente |
2 6 28 |
5,0 10,5 15,0 70,0 |
Nível de atividade física em dia
contrário a HD |
F |
% |
2018 (n=61) Inativo
fisicamente Ativo fisicamente |
52 9 |
85,2 14,8 |
2020 (n=40) Inativo
fisicamente Ativo fisicamente |
37 3 |
92,5 |
*Análise
longitudinal (n=40) Manteve-se ativo
fisicamente Passou a ser ativo
fisicamente Passou a ser
inativo fisicamente Manteve-se inativo
fisicamente |
0 6 31 |
0,0 7,5 15,0 77,5 |
Nível de atividade física somando
os dois dias |
F |
% |
2018 (n=61) Inativo
fisicamente Ativo fisicamente |
41 20 |
67,2 32,8 |
2020 (n=40) Inativo
fisicamente Ativo fisicamente |
35 5 |
87,5 |
*Análise
longitudinal (n=40) Manteve-se ativo
fisicamente Passou a ser ativo
fisicamente Passou a ser
inativo fisicamente Manteve-se inativo
fisicamente |
1 9 26 |
2,5 10,0 22,5 65,0 |
Legenda: f=Frequência absoluta; %=Frequência relativa; *p>0,115; **p=0,545; ***p>0,155.
Fonte: Dados de pesquisa
Conforme os resultados da Tabela 3, na análise longitudinal os fatores associados a se manter fisicamente ativos, foram à escolaridade (p=0,028), a depressão (p=0,036), a capacidade funcional para as atividades instrumentais da vida diária (p=0,047) e a ausência de fragilidade (p=0,042).
Tabela 3. Fatores associados a se manter ativo fisicamente em pacientes
em HD. Cruz Alta, Rio Grande do Sul, Brasil, 2018 e 2020 (n=40)
Variáveis |
Análise longitudinal do nível de
atividade física |
p |
|||
Manteve-se ativo fisicamente f (%) |
Passou a ser ativo fisicamente f (%) |
Passou a ser inativo fisicamente f (%) |
Manteve-se inativo fisicamente f (%) |
||
Sexo Masculino Feminino |
5
(27,8) 13
(72,2) |
4
(44,4) 5
(55,6) |
1
(25,0) 3
(75,0) |
6
(66,7) 3
(33,3) |
0,060 |
Idade 18
a 39 anos 40
a 59 anos 60
anos ou mais |
6
(33,3) 8
(44,4) 4
(22,2) |
2
(22,2) 4
(44,4) 3
(33,3) |
0
(0,0) 1
(25,0) 3
(75,0) |
0
(0,0) 4
(44,4) 5
(55,6) |
0,283 |
Tempo de HD Até
12 meses 13
a 36 meses Acima
de 36 meses |
5
(27,8) 4
(22,2) 9
(50,0) |
3
(33,3) 1
(11,1) 5
(55,6) |
4
(100,0) 0
(0,0) 0
(0,0) |
1
(11,1) 3
(33,3) 5
(55,6) |
0,139 |
Escolaridade Fundamental
Incompleta Fundamental
Completa Médio
Completo Superior
Completo |
4
(22,2) 3
(16,7) 6
(33,3) 5
(27,8) |
0
(0,0) 4
(44,4) 4
(44,4) 1
(11,1) 0
(0,0) |
1
(25,0) 0
(0,0) 0
(0,0) 1
(25,0) |
1
(11,1) 5
(55,6) 0
(0,0) 0
(0,0) |
0,028* |
Depressão Depressão Leve Depressão
Moderada Depressão Severa Nenhuma Depressão |
0
(0,0) |
1
(11,1) 0
(0,0) 0
(0,0) 8
(88,9) |
1
(25,0) 0
(0,0) 0
(0,0) 4
(75,0) |
2
(22,2) 2
(22,2) 0
(0,0) 5
(55,6) |
0,036* |
ABVD Dependente Independente |
3
(16,7) 15
(83,3) |
1
(11,1) 8
(88,9) |
2
(50,0) 2
(50,0) |
4
(44,4) 5
(55,6) |
0,204 |
AIVD Independente |
6
(33,3) 12
(66,7) |
2
(22,2) 7
(77,8) |
4
(100,0) 0
(0,0) |
6
(66,7) 3
(33,3) |
0,047* |
Fragilidade Aparententemente
Vulnerável Fragilidade Leve Fragilidade Severa |
16
(88,9) 2
(11,1) 0
(0,0) 0
(0,0) |
6
(66,7) 1
(11,1) 1
(11,1) 1
(11,1) |
1
(25,0) 1
(25,0) 2
(50,0) 0 |
5
(55,6) 2
(22,2) 2
(22,2) 0
(0,0) |
0,042* |
Legenda: HD=Hemodiálise; ABVD=Atividades Básicas da Vida diária; AIVD=Atividades Instrumentais
da Vida diária, Nº=Número. *=p≤0,05 para teste Exato de Fisher. Fonte: Dados de pesquisa
Discussão
Observou-se neste estudo, que os pacientes apresentaram baixo nível de atividade física. Os fatores associados ao maior nível de atividade física foi a maior escolaridade, ausência de sintomas depressivos e fragilidade, e a independência para as atividades instrumentais da vida diária. O estudo de Araújo Filho et al. (2016) com 108 pacientes de uma clínica no Recife/PE verificou por meio do Questionário Internacional de Atividade Física que 77,7% dos pacientes eram inativos fisicamente. No estudo realizado por Cecconello et al. (2021), foi verificado em pacientes renais de uma clínica de Hemodiálise da região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul, por meio de pedômetros, que o nível de atividade física foi baixo, tendo como mediana 2.690 passos por dia. De acordo com Tudor-Locke (2011) seriam necessários aproximadamente 5.500 passos diários ou 4.600 passos/dia em média semanal para o indivíduo ser considerado não-sedentário.
Observou-se, que no período deste estudo os pacientes mantiveram-se inativos fisicamente (65%). A HD ocorre, geralmente, durante quatro horas por dia, três vezes na semana, ocasionando muitas restrições (câimbras, náuseas, dor e fraqueza muscular, cansaço, indisposição, etc.) e uma limitação das atividades da vida diária (Cigarroa et al., 2016) tendendo a realizarem menos atividade física nos dias de HD (Oliveira et al., 2018).Esses fatores acabam reduzindo o NAF dos indivíduos, e tornando-os, em sua maioria, inativos fisicamente (Daltrozo et al., 2014). A inatividade física pode acarretar problemas nos pacientes, como a ocorrência de sintomas depressivos (Cavalcanti et al., 2014), diminuição do bem-estar e da função emocional (Medina et al., 2010). Além disso, indivíduos com DRC apresentam pior desempenho em testes funcionais e são mais inativos fisicamente, quando comparados com a população sem a presença da patologia. (Medeiros et al., 2002)
Os fatores associados a se manter fisicamente ativo dos pacientes em HD foi à escolaridade (p=0,028), a depressão (p=0,036), AIVD (p=0,047) e fragilidade (p=0,042).O presente estudo verificou que pacientes com menor escolaridade tendem a ser menos ativos fisicamente. Pacientes com menor nível de escolaridade relataram mais queixas de sintomas, fadiga, dor, baixa qualidade do sono, insatisfação sexual, menor bem-estar emocional, além de perceberem pior sua saúde em geral (Cordeiro et al., 2009) e ter pior adaptação as consequências do tratamento. (Castro et al., 2003)
Foi possível verificar neste estudo que indivíduos mais ativos fisicamente, eram menos suscetíveis ao desenvolvimento da fragilidade.Este é um resultado importante, visto que a fragilidade está diretamente associada à DRC, aproximadamente 47,66% dos pacientes apresentam fragilidade e 44,85% apresentam pré-fragilidade (Gesualdo et al., 2020). Além disso, conforme reduz à taxa de filtração glomerular, maiores são as chances do desenvolvimento da patologia (Klaric, 2016). O estudo realizado por Kang et al. (2017) dividiu pacientes renais em três grupos de acordo com o grau de exercício regular: grupo inativo, grupo intermediário e grupo ativo, e os autores observaram que conforme aumentava o NAF, menor era a proporção de pacientes com fragilidade.
Fragilidade é um síndrome clínica que se caracteriza pela diminuição da força energética e performance, o que acarreta em declínio de múltiplos sistemas fisiológicos e orgânicos, gerando maior vulnerabilidade e limitação da capacidade de manutenção da homeostase no indivíduo (Morley et al., 2013). Neste sentido, pacientes mais ativos fisicamente terão probabilidade maior te possuir melhor força energética e performance devido a melhor funcionamento do sistema fisiológico e orgânico.
Outro resultado importante deste estudo é a relação entre a independência funcional e o nível de atividade física. As complicações médicas relacionadas à inatividade prolongada desempenham um papel importante em expor os pacientes a um elevado risco de distrofia muscular, e em algumas vezes ocasionando a redução da capacidade funcional (Johansen et al., 2003). O estudo realizado por Brenner, e Bohart (2008) demonstrou-se que entre 19 pacientes dialíticos, os que relataram níveis mais elevados de atividade por questionário eram mais suscetíveis a ter melhor capacidade física em comparação com os que relataram menos atividade. Com relação às atividades funcionais de vida diária, um estudo (Coelho et al., 2008), ao comparar pacientes renais crônicos e sem comprometimento da função renal, verificou que com relação ao TC6, o primeiro apresentou uma distância de caminhada significativamente menor quando comparado ao segundo, isso se relacionou com o aumento da pressão arterial média, frequência respiratória final, oximetria de pulso final e escala de Borg, confirmando assim, a piora na realização de atividades funcionais de vida diária. Outro estudo (Mercer et al., 2002), ao analisar 22 pacientes dialíticos, verificou que uma alternativa para melhorar a atividade da capacidade funcional relacionada à vida diária é a reabilitação com exercícios de baixo volume.
A análise da depressão dos pacientes, neste estudo, constatou que os pacientes que se mantiveram ativos fisicamente tinham em sua grande maioria nenhum grau de depressão, diferente dos indivíduos que se mantiveram inativos, que foram constatados casos de depressão leve e moderada. Em nenhum dos grupos analisados foi encontrado nível de depressão severa.Indivíduos em hemodiálise são mais suscetíveis à sintomas depressivos, Costa, e Coutinho (2014), ao analisarem uma amostra de 50 pacientes com DRC em terapia hemodialítica, verificaram que 20% dos participantes apresentaram nível de depressão. No estudo de Pretto et al. (2020), ao analisarem 183 pacientes hemodialíticos, verificaram 67,6% pacientes com indicativos de depressão, se mostraram inativos fisicamente e 56,4% dos pacientes com indicativos de depressão, necessitavam de auxílio no dia a dia.
O programa de treinamento de resistência elaborado por Frih et al. (2017) examinou os efeitos em resultados fisiológicos e psicológicos de pacientes do sexo masculino em hemodiálise, os pacientes foram divididos aleatoriamente em dois grupos: grupo controle, não submetidos ao treinamento (n=20) e grupo intervenção, submetidos ao treinamento (n=21). Ainda de acordo com o autor, foi possível através deste estudo, concluir que o grupo intervenção teve aumento significativo na capacidade física, além de ter uma diminuição significativa nos escores da escala de ansiedade e depressão comparado aos pacientes do grupo controle. Resultados semelhantes foram encontrados no estudo de Rhee et al. (2019), que relatou uma diminuição dos escores do Inventário de Depressão de Beck em pacientes que foram submetidos a um protocolo de treinamento físico com exercício aeróbico utilizando bicicleta ergométrica e exercício anaeróbio com elásticos, com duração de 6 meses.
Neste sentido, os achados deste estudo são justificados pelo fato de que pacientes em HD estão sujeitos a um cotidiano restrito e monótono, que favorece a sensação de incapacidade e tristeza, que são sentimentos correlacionados a depressão. Além disso, a depressão leva a diminuição da imunidade e dos cuidados pessoais. Em contrapartida, a prática de atividades físicas estimula o cuidado pessoal e gera a produção de hormônios que proporcionam a sensação de bem-estar e pode tornar o ambiente de HD mais acolhedor.
O presente estudo apresenta algumas limitações, entre elas o viés de seleção da amostra de forma intencional, e o número de perdas durante o seguimento (óbitos e recusas). Contudo, cabe destacar que este é um estudo de coorte, sendo um ponto forte deste estudo o método que foi utilizado.
Conclusão
Conclui-se que no período do estudo os pacientes se mantiveram inativos fisicamente (65%). Os fatores que se associaram ao maior nível de atividade física em pacientes renais foram: maior nível de escolaridade, ausência de depressão e fragilidade e independência para as atividades instrumentais da vida diária.
Este estudo foi importante para comparar o NAF de pacientes renais crônicos durante três anos e analisar importantes aspectos para uma melhor qualidade de vida e capacidade física. Além disso,ressalta a importância da atividade física e de um programa de atividade física para doentes renais, para promoção da saúde. Porém, de maneira geral, pacientes dialíticos possuem um baixo NAF, o que muitas vezes acaba comprometendo seu dia a dia.
Sendo assim, é importante que pacientes renais crônicos se disponham aos atendimentos nas clínicas de profissionais de Educação Física e fisioterapeutas. Além disso, é necessária a divulgação e incentivo vindo da equipe da clínica para que isso aconteça com o maior número de pacientes possível.
Agradecimento
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 302, Jul. (2023)