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ISSN 1514-3465

 

Análise do nível de sonolência e qualidade de sono em praticantes de natação

e desistentes. Estudo durante a pandemia de COVID-19 em uma academia

Analyze of Sleepiness Level and Sleep Quality for Swimmers 

and Dropouts. Study During the COVID-19 Pandemic at a Gym

Análisis del nivel de somnolencia y calidad del sueño en nadadores 

y desertores. Estudio durante la pandemia de COVID-19 en un gimnasio

 

Vitória Oliveira Silva da Silva*

silvadasilva.vi@gmail.com

Jéssica Silvestre Cesconetto**

jessica_cesconeto@hotmail.com

Luciano Acordi da Silva***

luciano_acordi@unesc.net

 

*Mestranda em Ciências da Saúde - PPGCS

Formada em Educação Física pela Universidade do Extremo Sul Catarinense

**Formada em Educação Física na Universidade do Extremo Sul Catarinense.

***Doutor em Ciências da Saúde formado em Educação Física

pela Universidade do Extremo Sul Catarinense e professor Universitário

(Brasil)

 

Recepção: 12/01/2023 - Aceitação: 23/08/2023

1ª Revisão: 03/03/2023 - 2ª Revisão: 15/08/2023

 

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Citação sugerida: Silva, V.O.S. da, Cesconeto, J.S., e Silva, L.A. da (2023). Análise do nível de sonolência e qualidade de sono em praticantes de natação e desistentes. Estudo durante a pandemia de COVID-19 em uma academia. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(305), 101-113. https://doi.org/10.46642/efd.v28i305.3831

 

Resumo

    Continuar na prática habitual de atividade física como a natação, pode representar uma estratégia válida para manutenção da qualidade de sono desses indivíduos ativos.Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi comparar o nível de sonolência e sono em sujeitos praticantes de natação e desistentes, em tempos de COVID-19. A amostra foi composta de 22 adultos, com faixa etária de idade entre 31 a 45 anos, sendo separados em grupo praticantes (n=12) de natação e grupo desistentes (n=10). Os resultados apontaram que sujeitos praticantes de natação, durante a pandemia de COVID-19, apresentaram menores níveis de sonolência (6,44±2,35 escores) e melhor de sono (4,44±0,75 escores) quando comparado com sujeitos desistentes (11±2,31escores; 9.22±2,05 escores). Em relação ao percentual, observaram-se uma diferença nos níveis de 41% na sonolência e 51% no sono de sujeitos praticantes, quando comparados com desistentes. Conclui-se que os praticantes de natação que permaneceram ativos durante a pandemia, apresentam melhores níveis de sono e sonolência do que desistentes.

    Unitermos: Qualidade de sono. Atividades aquáticas. Coronavírus SARS-CoV-2.

 

Abstract

    Continuing with the usual practice of physical activity, such as swimming, may represent a valid strategy to maintain the quality of sleep in these active individuals. Therefore, the objective of the present study was to compare the level of drowsiness and sleep in swimmers and non-swimmers in times of COVID-19. The sample consisted of 22 adults, aged between 31 and 45 years, being separated into swimming practitioners group (n=12) and dropout group (n=10). The results indicate that swimming subjects, during the COVID-19 pandemic, have lower levels of sleepiness (6.44±2.35 scores) and better sleep (4.44±0.75 scores) when compared to dropout subjects (11±2.31 scores; 9.22±2.05 scores). In relation to the percentage, there is a difference in the levels of 41% in sleepiness and 51% in sleep of practitioners, when compared with dropouts. It is concluded that swimmers who remained active during the pandemic have better levels of sleep and drowsiness than dropouts.

    Keywords: Sleep quality. Water activities. Coronavirus SARS-CoV-2.

 

Resumen

    Continuar con la práctica habitual de actividad física, como la natación, puede representar una estrategia válida para mantener la calidad del sueño de estos individuos activos, por lo que el objetivo del presente estudio fue comparar el nivel de somnolencia y sueño en sujetos que practican natación. y los que abandonan, en tiempos de COVID-19. La muestra estuvo compuesta por 22 adultos, con edades entre 31 y 45 años, separados en un grupo de natación (n=12) y un grupo de abandono (n=10). Los resultados mostraron que los sujetos que practicaban natación durante la pandemia de COVID-19, tenían niveles más bajos de somnolencia (6,44±2,35 puntos) y mejor sueño (4,44±0,75 puntos) en comparación con los sujetos que abandonaron (11±2,31 puntos; 9,22±2,05 puntos). En relación al porcentaje, hubo una diferencia en los niveles de 41% en somnolencia y 51% en sueño en los sujetos practicantes, en comparación con los desertores. Se concluye que los nadadores que permanecieron activos durante la pandemia tuvieron mejores niveles de sueño y somnolencia que los que abandonaron.

    Palabras clave: Calidad del sueño. Actividades acuáticas. Coronavirus SARS-CoV-2.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 305, Oct. (2023)


 

Introdução 

 

    Sabe-se que saúde pode ser entendida como um estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doenças (Assunção et al., 2022). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais especificamente, a saúde mental tem sido definida como um estado de bem-estar completo, no qual o indivíduo realiza suas próprias ações, podendo lidar com o estresse normal da vida e paralelamente trabalhar com produtividade, sendo capaz de viver em sociedade de maneira harmônica. (WHO, 2022)

 

    Todavia, na pandemia de COVID-19, alterações comportamentais no trabalho e na sociedade impulsionam a deterioração da saúde mental em virtude do isolamento forçado, do distanciamento social e do medo da morte (Lima et al., 2020; Duarte et al., 2020). Conforme a OMS (2020), ficar em casa era a melhor solução para se proteger nesse período. Em consequência disso, surgem as angústias, as ansiedades, as tristezas, o estresse, entre outras sensações, que quando descontrolados, podem culminar em transtornos de sono e sonolência, prejudicando diretamente a saúde mental. (Prandini et al., 2022)

 

    Sabe-se que a qualidade do sono apresenta uma função biológica fundamental na consolidação da memória, na restauração de energias vitais e na saúde mental (Reimão, 1996; Ferrara, e Gennaro, 2001). Em um levantamento epidemiológico realizado na cidade de São Paulo foi constatado que 28% das pessoas fisicamente ativas e 72% entre os sedentários se queixavam de problemas de sono (Mello et al., 2000). Problematizando, os distúrbios de sono e sonolência são considerados atualmente um problema de saúde pública, pois, afetam 12% da população mundial e estão correlacionados com diversos tipos de acidentes, alterações significativas de comportamento e diminuição da qualidade de vida. (Mikkelsen et al., 2017; Bertolazi et al., 2009)

 

    Partindo disso, sobre os efeitos do exercício físico e as alterações na qualidade do sono nas pessoas, a literatura sugere efeitos positivos modulados pelo sistema de neurotransmissão adenosinérgico e secreção de hormônio de crescimento (Mikkelsen et al., 2017; Martins, et al., 2001; Shephard, e Bouchard, 1995), e negativos modulados pela liberação de cortisol, atraso de melatonina e tireotropina (Jackson et al., 2022; Driver et al., 2000; Youngstedt et al., 1997). Estes efeitos antagônicos provavelmente estão relacionados as intensidades, durações, frequências, modelos e cargas emocionais que os praticantes são submetidos em relação aos diferentes programas de exercícios físicos. (Jackson et al., 2022)

 

    Estudos envolvendo especificamente modalidades, como natação e corrida têm apontado que a prática desses esportes tem melhorado positivamente a saúde mental de jovens e adultos (Castanhel et al., 2019; Doyenart et al., 2020). Vale destacar, que a prática de natação e hidroginástica tem efeitos psicológicos, que interferem positivamente na saúde mental reduzindo ansiedade, estresse e depressão (Silva et al., 2019; Doyenart et al., 2023). Contudo, os efeitos da prática de natação sobre a qualidade do sono e sonolência em sujeitos praticantes e desistentes em época de pandemia,não tem sido encontrado na literatura.

 

    Sendo assim esta pesquisa se justifica pela necessidade de investigar os efeitos desta prática sobre estes escores em sujeitos praticantes e desistentes em época de pandemia. Desta forma, é intrigante questionar se sujeitos praticantes de natação apresentam melhores níveis de sono e sonolência quando comparado com desistentes em época de pandemia de COVID-19.

 

    Nesse sentido, o presente estudo busca comparar o nível de sonolência e sono de sujeitos praticantes de natação e desistentes, em tempos de pandemia. Tem-se como hipótese que a manutenção da prática de natação pode influenciar positivamente estes escores.

 

Metodologia 

 

Comitê de ética 

 

    O presente estudo foi desenvolvido de acordo com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde 466/12 e submetido para apreciação no Comitê de Ética local (CAAE:64548422.8.0000.0119). Todos os participantes assinaram um termo de consentimento antes de preencher o questionário da pesquisa.

 

Amostra e detalhamento 

 

    A amostra inicialmente foi composta de 267 clientes de uma academia da cidade, sendo que 202 eram ativos e 63 não ativos. A partir disso em contato com o setor de vendas da academia foi selecionado de acordo com critérios abaixo os participantes que possivelmente iriam participar do grupo amostral, divididos em grupo praticantes e desistentes de natação. Partindo disso a amostra foi composta de 22 adultos, com faixa etária de idade entre 31 a 45 anos, sendo separados em grupo praticante (n=12) de natação e grupo desistente (n=10), durante a pandemia de COVID-19. No total foram entregues 20 questionários para o grupo de praticante de natação e 14 para o grupo de desistentes. Destes retornaram 22 que foram incluídos na amostra do estudo.

 

    Em relação ao detalhamento, o grupo praticante permaneceu fisicamente ativo realizando a prática de natação durante a pandemia de COVID-19, parando apenas durante o lockdown (16 de março a 22 de abril). O grupo desistente parou de se exercitar no início do lockdown e até o presente momento da entrega dos questionários (19/10/2020), não tinham retornado para academia, e nem se exercitado de maneira voluntaria de acordo com o preenchimento dos questionários. Tecnicamente, os praticantes de natação percorriam um volume de treinamento entre 500 e 1000 metros por aula e foram considerados de nível intermediário, pelo professor. As rotinas de aulas aconteciam duas vezes por semana com duração de durante 45 minutos sendo prioritariamente exercícios aeróbios.

 

Critério de inclusão e exclusão 

 

    Foram excluídos do estudo sujeitos que praticavam hidroginástica, aquathon, hidrobike e clientes com menos de seis meses de prática de natação. Foram inclusos sujeitos com idade entre 31 a 45 anos, praticantes de natação, que frequentavam a academia pelo menos seis meses, com uma frequência mínima de duas vezes por semana. Todos os participantes do estudo declararam que não fizeram atividade físicas orientadas fora da academia, nem tão pouco outro tipo de intervenção que pudesse influenciar na qualidade do sono e bem estar.

 

Entrega dos questionários 

 

    Os questionários foram disponibilizados para o grupo de praticantes de natação no final de suas respectivas aulas, sendo entregue pelo pesquisador, com ajuda do departamento de vendas. Para o grupo desistente foi enviado por e-mail e depois confirmando via Whatsapp. No total foram enviados 20 e-mails e mensagens para os desistentes. Obtendo-se o retorno de 14. Sendo que destes, quatro relataram que no momento não poderiam participar da pesquisa. A data de entrega ocorreu entre dias 19/10/2020 a 23/11/2020.

 

Instrumentos de pesquisa 

Escala de Qualidade Sono de Pittsburgh (PSQI) 

 

    Sendo validado para população brasileira (Bertolazi et al., 2011), este instrumento é um questionário auto avaliado que permite avaliar a qualidade do sono e os distúrbios do sono. Os pontos avaliados são compostos por sete componentes que geram uma pontuação global, sendo estes: qualidade subjetiva do sono, latência do sono, duração do sono, eficiência habitual do sono, distúrbios do sono, uso de medicação para dormir e disfunção (Buysse et al., 1989), variando de zero a três pontos cada componente. São 19 perguntas categorizadas nos sete componentes. A soma das pontuações para esses sete componentes rende uma pontuação global, que varia de 0 a 21, onde a maior pontuação indica pior qualidade do sono. Um PSQI global com pontuação maior que cinco indica grandes dificuldades em pelo menos dois componentes ou dificuldades moderadas em mais de três componentes.

 

Escala de sonolência de EPWORTH (ESS-BR) 

 

    Para avaliar os níveis de sonolência foi aplicado a ESS-BR, que foi idealizada com a base em observações relacionadas a natureza e a ocorrência da sonolência diurna excessiva (Johns, 2000), e validado para população brasileira (Bertolazi et al., 2009). Esta escala é autoaplicável, sendo que a mesma avalia a probabilidade de adormecer em oito situações envolvendo atividades diárias, os escores das questões vão de zero a três, onde o zero (nenhuma chance de cochilar), o um (pequena chance de cochilar), o dois (moderada chance de cochilar) e o três (alta chance de cochilar). O escore global varia de 0 a 24, sendo que os escores acima de 10 sugerem o diagnóstico de sonolência excessiva diurna (SDE).

Analise estatística 

 

    Os dados foram analisados utilizando o teste t Student para amostras independentes com o objetivo de comparar as médias dos praticantes e desistentes dos dois grupos. Quando necessário, utilizou-se o teste de ANCOVA para correção das variáveis de confusão. Foram considerados resultados estatisticamente significativos para valores de p<0,05. Para análise qualitativa foi utilizado os pontos de coorte de referência das ferramentas.

 

Resultados 

 

Caracterização da amostra 

 

    A Tabela 1 mostra que o grupo de desistentes possuem dez sujeitos, sendo eles sete mulheres (M) e três homens (H) com a idade média de 38±7 anos, sendo que, quatro deles tomam medicamentos e nenhum é fumante. O grupo praticante de natação, contém doze sujeitos, sendo dez M e dois H, com idade média de 39±4 anos, sendo que, cinco deles tomam medicamentos e nenhum é fumante. Os medicamentos utilizados são de uso contínuo para doenças crônicas. Como limitações não foram contabilizados.

 

Tabela 1. Caracterização da amostra

 

Desistentes

Praticantes de natação

Idade (anos)

 38±7

39±4

Sujeitos

10

12

Sexo

7M/3H

10M/2H

Medicamentos

4

5

Fumantes

0

0

Fonte: Dados da pesquisa

 

Escores de sono 

 

    De acordo com a Figura 1, observou-se que os escores de qualidade de sono em sujeitos praticantes de natação durante o período de pandemia de COVID-19 foram melhores (4,44±0,75 escores), e estatisticamente significativos (p=0,039), quando comparados ao grupo desistente (9,22±2,05 escores). O grupo praticante apresentou os valores de escore de qualidade do sono, 51% menor do que os desistentes. Apontou-se que qualitativamente o escore médio do grupo praticante foi de “boa qualidade de sono” enquanto que do grupo desistente foi de “qualidade ruim de sono” de acordo com valores referenciais.

 

Figura 1. Níveis da qualidade de sono segundo a Escala de Qualidade de Sono Pittsburgh

Figura 1. Níveis da qualidade de sono segundo a Escala de Qualidade de Sono Pittsburgh

Fonte: Dados da pesquisa

 

Escores de sonolência 

 

    De acordo com a Figura 2, pôde-se observar que os escores de sonolência em sujeitos praticantes de natação durante o período de pandemia de COVID-19 foram melhores (6,44±2,35 escores) e estatisticamente significativos (p=0,046), quando comparados ao grupo desistente (11±2,31 escores). O grupo praticante apresentou os valores de escores de sonolência, 41% menores do que os desistentes. Observou-se que qualitativamente o escore médio do grupo praticante foi de “ausência de sonolência” enquanto que do grupo desistente foi de “sonolência leve”.

 

Figura 2. Níveis de sonolência segundo a Escala de Sonolência de Epworth (ESS-BR)

Figura 2. Níveis de sonolência segundo a Escala de Sonolência de Epworth (ESS-BR)

Fonte: Dados da pesquisa

 

Discussão 

 

    Na atualidade a prática de exercício físico regular é visto como ferramenta não farmacológicas, que ajuda no controle do sono e consequentemente na sonolência melhorando a saúde mental das pessoas (Torres, 2023; Assunção et al., 2022). O objetivo do presente estudo foi comparar o nível de sono e sonolência de sujeitos praticantes de natação e desistentes em tempos de pandemia. Os resultados sugerem que praticantes de natação durante o período de pandemia de COVID-19, quando comparado com os desistentes apresentam melhores níveis de sono e sonolência, o que consequentemente influencia positivamente na saúde mental.

 

    É fato que a falta de sono provoca prejuízos substanciais na saúde mental (Horne et al., 1983; Ellenbogen et al., 2005; Assunção et al., 2022). Os níveis encontrados do presente estudo em relação à qualidade de sono (Figura 1), nos praticantes de natação foram menores (51%) quando comparados ao grupo desistente. Isso equivale a uma boa qualidade de sono. Um estudo desenvolvido por Steffens et al. (2011) com um grupo composto somente por mulheres, mostrou que a prática de caminhada proporcionou uma melhora significativa na qualidade do sono. Entretanto, outro estudo realizado por Buman et al. (2014), demonstrou que a prática de diversos modelos de exercícios físicos não melhorou a qualidade do sono, quando comparado com não praticantes. Segundo Martins et al. (2001), indivíduos que praticam atividades físicas diárias em excesso, com alta intensidade ou longa duração, sem um período adequado de recuperação podem sofrer de problemas de sono. Todavia, Silva et al. (2021), demonstraram que praticantes de hidroginástica, melhoraram a qualidade do sono quando comparado com não praticantes. Sendo assim, nossos resultados confirmaram que a prática de natação pode melhorar a qualidade do sono. Isso pode ser explicado em função de um efeito fisiológico que a prática de exercícios físicos tem sobre o sono, repercutindo em aumento das ondas lentas e melhoria do sono REM beneficiando um sono mais reparador (Vieira et al., 2011; Viegas, 2010; Ropke et al., 2018). Nesta direção, a prática de exercício físico regular é recomendada pela Associação Americana de Sono para promover um sono adequado. (Araújo et al., 2014)

 

    Outro parâmetro avaliado no presente estudo foi a sonolência que é definida pela Classificação Internacional dos Transtornos do Sono, como a incapacidade de se manter acordado e alerta durante os principais períodos do dia, impactando diretamente a qualidade de vida dos sujeitos (Stores, 2007; Morrison, e Riha, 2012). Neste estudo, os resultados (Figura 2) apontaram que praticantes de natação durante a pandemia de COVID-19, apresentaram menores níveis de sonolência (41%), quando comparados com desistentes. Harma et al. (1988) submeteram mulheres a um programa de exercícios envolvendo natação com frequência semanal de duas vezes e encontrarão melhoras na sonolência significativas após termino do programa, quando comparadas com um grupo controle que não se exercitavam. Conforme Kline et al. (2012) o exercício aeróbio proporciona melhora da fragmentação do sono, com regressão da sonolência diurna excessiva. Os resultados do presente estudo corroboram com Ambrósio, e Geib (2008), o qual relata que indivíduos sedentários têm a chance de apresentar sonolência aumentada em 60%, quando comparados aos que praticam exercício físico.

 

    Atualmente a prática de natação é recomendada para a saúde, lazer e desempenho sendo inúmeros os benefícios propostos na literatura para seus praticantes (Castanhel et al., 2019; Silva et al., 2019; Jackson et al., 2022). Diferente de outros esportes realizados fora da água, a natação possui um controle respiratório forçado, uma posição corporal horizontalizada e um recrutamento muscular sistêmico (de ambos os membros e tronco) de maior complexidade. Estudos prévios têm demonstrado melhoria na saúde mental em idosos, adultos e crianças, submetidos a prática de exercícios dentro da água. (Silva et al., 2019; Medeiros et al., 2018; Silva et al., 2017)

 

    Especificamente em relação às atividades aquáticas, a literatura descreve rotas fisiológicas (modulação do eixo HPA e neurotransmissores) e psicológicas (distração, auto eficácia e autoestima), moduladas pelos exercícios na água, que tem explicado em partes estes ajustes na saúde mental (Jackson et al., 2022; Moreira et al., 2021; Silva et al., 2019; Mikkelsen et al., 2017). Além disso, afirmamos que a natação especificamente, apresenta componentes como ludicidade, imersão corporal, distração e alta complexidade motora que por sua vez ajudam o cérebro a desligar, distrair e relaxar melhorando assim o sono a sonolência pós atividade (Moreira et al., 2021; Silva et al., 2019). Outra possível explicação para a melhoria do sono/sonolência, está relacionada ao recrutamento muscular esquelético induzido pela natação melhorando as concentrações sanguíneas de miocinas neurotróficas derivadas do cérebro, fator este que foi encontrado para melhorar a qualidade do sono em animais. (Tan et al., 2020)

 

    Em relação às limitações do presente estudo cabe citar alguns pontos: (i) O modelo transversal, que não nos permite descobrir como estava a saúde mental dos participantes antes da intervenção. Para este desfecho, sugerimos estudos longitudinais com comparações pré e pós intragrupos; (ii) O tamanho amostral reduzido dos grupos. Sugerimos grupos maiores e com mais faixas etárias envolvidas e estratificadas; (iii) A falta da quantificação de parâmetros de adaptação ao treinamento, uma vez que estes resultados evidenciaram as adaptações crônicas corporais importantes que podem ajudar a explicar melhoria dos escores de saúde mental.

 

Conclusão 

 

    Conclui-se que praticantes da natação durante a pandemia de COVID-19, quando comparados com desistentes, apresentam níveis melhores de sono e sonolência.Como contribuição principal, apontamos que a prática de natação em adultos durante a pandemia,contribuiu para manutenção positiva de uma boa qualidade de sono, e que sujeitos desistentes apresentam piores níveis de sono/sonolência quando comparados aos praticantes.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 305, Oct. (2023)