ISSN 1514-3465
A prática do calejamento na perspectiva de praticantes de karatê
The Practice of Hardening from the Perspective of Karate Practitioners
La práctica de la callosidad desde la perspectiva de los practicantes de karate
Mateus de Castro Cesar*
mateus_castro_93@hotmail.com
Marcelo Alberto de Oliveira**
marcelo.alberto@usp.br
Thabata Castelo Branco Telles***
ttelles@ipmaia.pt
Kazuo Kawano Nagamine
+kazuo@famerp.br
Victor Lage
++victorlage@unb.br
*Bacharel em Educação Física
pela Faculdade de Educação Física da
Universidade de Brasília (FEF/UnB)
**Doutorando em Educação
pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP)
Mestre em Ciências pela Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE-USP)
Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Pesquisador Bolsista da CAPES. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa
em Aspectos Socioculturais e Pedagógicos do Esporte (GEPESPE-USP)
Professor conteudista da Faculdade Unina
Atuou como professor substituto
na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
Na Universidade de Tsukuba (Japão)
cursou Desenvolvimento Internacional através do Esporte
Faixa Preta 1º Dan de Karate Shotokan
***Docente no Instituto Politécnico da Maia - IPMAIA, em Portugal
Psicóloga pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP-Brasil),
pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP-Portugal)
e pelo Ministère de l'Enseignement Supérieur et de la Recherche (França),
com certificação EuroPsy pela European Federation
of Psychologists Associations (EFPA)
Pós-doutorado em Educação Física e Esporte
na Universidade de São Paulo (EEFERP)
em colaboração com o Institut des Sciences du Sport-Santé (I3SP)
Université de Paris, França - financiamentos: PNPD/CAPES e FAPESP
Possui graduação em Psicologia (UNIFOR/CNPq)
Mestrado em Psicologia (UNIFOR/FUNCAP)
Doutora em Ciências: Psicologia (FFCLRP-USP/FAPESP)
+Possui graduação em Educação Física
pela Faculdade de Educação Física de Santo André
Doutorado em Ciências da Saúde
pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto
Atualmente é docente na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto,
no Curso de Medicina (FAMERP)
Diretor Adjunto de Alunos FAMERP
Vice-Chefe do Departamento de Epidemiologia e Saúde Coletiva (DESC)
Coordenador do Laboratório de Atividade Física e Saúde (LAFIS)
Coordenador do Grupo de Estudos de Atividade Física e Saúde
Coordenador do Curso de Pós Graduação Lato Sensu
em Fisiologia do Exercício, Professor e orientador credenciado
do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e Saúde (FAMERP)
Membro da Comissão Técnica ITKF
(International Traditional Karate Federation)
e JKA (The Japan Karate Association - Brasil)
++Graduado em Educação Física
pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar-SP)
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação
em Educação (Área de Metodologia do Ensino) pela UFSCar
Doutor em Ciências da Saúde (Área de Medicina e Ciências Correlatas)
pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP)
Atualmente é docente na Faculdade de Educação Física
da Universidade de Brasília (FEF/UnB)
Membro do Laboratório de Pesquisa em Treinamento de Força (LPTF)
e Laboratório de Pesquisa em Análise do Desempenho Esportivo (LADESP)
(Brasil)
Recepção: 20/10/2022 - Aceitação: 12/06/2023
1ª Revisão: 27/03/2023 - 2ª Revisão: 06/06/2023
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Citação sugerida
: César, M. de C., Oliveira, M.A. de, Telles, T.C.B., Nagamine, K.K., e Lage, V. (2023). A prática do calejamento na perspectiva de praticantes de karatê. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(302), 74-95. https://doi.org/10.46642/efd.v28i302.3706
Resumo
O calejamento é um método de treino inserido dentro do Hojo Undo, ou exercícios complementares. O objetivo deste estudo foi buscar compreender o fenômeno da prática do treino de calejamento no karatê a partir de faixas pretas (ou Senseis). A pesquisa foi qualitativa e de abordagem transversal, os dados foram coletados por entrevista semiestruturada, transcritas na íntegra e analisadas com base na fenomenologia existencial. Foram construídas três categorias: i) Aperfeiçoar-se para o combate; ii) Calejamento para a saúde; iii) Calejamento como parte do treino e da vida. Os relatos dos voluntários mostraram que o calejamento é visto como importante para a saúde e para o combate, algo intrínseco ao karatê, e que pode ser transferido para outras experiências, fora do treinamento no dojo.
Unitermos
: Karatê. Calejamento. Artes Marciais. Fenomenologia.
Abstract
Hardening is a training method inserted within Hojo Undo, or complementary exercises. The objective of this study was to seek to understand the phenomenon of the practice of callus training in karate from the black belts (or Senseis). The research was qualitative and had a cross-sectional approach, data were collected through semi-structured interviews, transcribed in full and analyzed based on existential phenomenology. Three categories were built: i) Perfecting oneself for combat; ii) Hardening for health; iii) Hardening as part of training and life. The volunteers’ reports showed that hardening is seen as important for health and combat, something intrinsic to karate, and that it can be transferred to other experiences, outside of training in the dojo.
Keywords:
Karate. Hardening. Martial arts. Phenomenology.
Resumen
La callosidad es un método de entrenamiento inserto dentro de Hojo Undo, o ejercicios complementarios. El objetivo de este estudio fue buscar comprender el fenómeno de la práctica del entrenamiento de la callosidad en karate desde cinturones negros (o Senseis). La investigación fue cualitativa y tuvo un enfoque transversal; los datos fueron recolectados a través de entrevistas semiestructuradas, transcritas en su totalidad y analizadas a partir de la fenomenología existencial. Se construyeron tres categorías: i) Perfeccionamiento para el combate; ii) Llamamiento a la salud; iii) La vocación como parte de la formación y de la vida. Los informes de los voluntarios mostraron que los callos se consideran importantes para la salud y el combate, algo intrínseco al karate, y que se pueden transferir a otras experiencias, fuera del entrenamiento en el dojo.
Palabras clave
: Karate. Callosidad. Artes marciales. Fenomenología.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 302, Jul. (2023)
Introdução
Segundo McCarthy (1987), a origem das artes marciais no continente asiático está atrelada a um processo de difusão baseado especialmente na tradição oral, remetendo-se, não raro, à figura do monge indiano (ou, segundo algumas fontes, persa) Bodhidharma (ou, em japonês, Daruma Tashi), que teria visitado o mosteiro budista de Shaolin, em Henan, entre os anos de 520 e 527. Nessa esteira, o wushu (武術, literalmente, “arte de guerra”), atribuído pela tradição a Bodhidharma, teria sido fundamental para a formação das diversas lutas de que se tem conhecimento, hoje, em países próximos à China (Karatê, taekwondo, muay-thai, dentre outras). (Antunes, e Mendonça, 2016; Apolloni, e Aguiar, 2021; Reis-Júnior, 2019)
Por outro lado, há autores que defendem que os esportes de combate e artes marciais asiáticas se enquadram como tradições inventadas1 (Antunes, 2016, 2019; Antunes, e Mendonça, 2016; Bowman, 2021; Green, 2010; Guttmann, e Thompson, 2001; Moenig, e Kim, 2016). Além do mais, “para entender a tradição que está por trás da maioria deles, não é preciso retroceder mais do que até o início do século XIX” (Muller Junior, e Sonoda-Nunes, 2020, p. 72). Alguns pesquisadores também discordam em relação à continuidade na história dos esportes. (Darbon, 2014; Elias, e Dunning, 1992; Gumbrecht, 2007; Guttmann, 1978; Guttmann, e Thompson, 2001; Holt, 2017)
Segundo Sciascio (2019, p. 19), “descrever e narrar a respeito da verdadeira história do Karatê é uma tarefa relativamente difícil, uma vez que estabelecer uma gênese absolutamente correta esbarra na ausência de documentos escritos”. Essa luta surge no cenário asiático como reflexo do encontro cultural que envolveu não somente o Japão, mas diferentes nacionalidades. O “Berço do Karatê”, como é conhecida a ilha de Okinawa, localiza-se entre a China, Taiwan e Japão, sendo historicamente rota de passagem de diversas embarcações2. Todavia, são necessárias mais pesquisas para afirmar com precisão o tempo e o espaço em que o Karatê se originou, especialmente fazendo o uso de fontes primárias.
Hoje o Karatê é amplamente praticado ao redor do mundo, estimando 10 milhões de praticantes (IOC, 2021)(Brasil, 2018; Oliveira et al., 2019). Neste contexto, ao longo do século XX a modalidade passou por inúmeras transformações - inicialmente passando por um processo de introdução nas escolas de Okinawa (Pucineli, 2017; Sanches, 2021), depois por um processo de adaptação à cultura Japonesa em Tóquio (Japão) e mais recentemente obtendo características esportivas as quais, não raro, guiadas pelo sonho olímpico. (Figueiredo, 2006; Frosi, e Mazo, 2011; Oliveira et al., 2018, 2019; Oliveira, 2021)
Existem na atualidade diversas escolas (ou estilos), mas para este estudo, destacam-se duas: o Karatê Uechi-ryu3 e o Karatê Kyokushin4. Esses estilos de Karatê são popularmente conhecidos, na medida em que fazem uso da prática do calejamento5, os quais estão inseridos nos métodos de treino nomeados como Hojo Undo ou “exercícios complementares”6, onde o praticante se expõe conscientemente a técnicas de percussão em diferentes regiões do corpo (Clarke, 2009). Um exemplo comum é o kote kitae, que envolve percussão condicionada na região do antebraço. (Toth, 2007)
Quando buscamos treinamentos eficientes para o fortalecimento dos membros superiores e inferiores, estamos falando em hojo undō (auxílio de treino). Trata-se de um conjunto de exercícios e técnicas objetivando o condicionamento físico em sua expressão mais ampla de especialização física. Nele encontra-se o junbi undō, que é a preparação física que antecede o treinamento, e os exercícios de calejamento de braços e pernas realizados em dupla, chamados ude tanren e kote kitai; também há os exercícios de força com pesos muito especializados como o chi ishi (um cabo de madeira com um peso na extremidade), sashi ishi (pesos individuais para as mãos), kongōken (longa barra metálica, unida em um formado quase elíptica), makiage giku (peso suspenso por cordel) nigiri gami (jarro de cerâmica), tan (halter) e tetsu geta (sandálias de ferro); e finalmente os aparelhos para impacto como o jari bako (balde ou similar com areia grossa ou pedrinhas arredondadas), kakite bikei (poste articulado), makiwara (palha enrolada), tō (feixe de bambu) e ude kitae (poste fixo) (Clarke, 2009 apud Sanches, 2021, pp. 471-472).
Nesta conjuntura, muito embora se esclareça o conceito do calejamento, o praticante de Karatê desses estilos acaba por ter uma compreensão particular e não menos interessante para ser discutida, uma vez que as percepções e significados projetados sobre esse tipo de método de treinamento ilumina variáveis como resiliência, superação, autocontrole, disciplina, dentre outros. Diante disso, percebe-se a necessidade de se entender os efeitos do calejamento na percepção de praticantes de Karatê. Portanto, indaga-se: como é a compreensão de praticantes de Karatê sobre o calejamento?
Neste sentido, o objetivo deste estudo foi compreender o fenômeno da prática do calejamento a partir dos faixas pretas (ou Senseis) de Karatê.
Metodologia
Participantes
A amostra foi selecionada de forma convencional e por efeito bola de neve. Os critérios de inclusão foram os estilos de Karatê praticados: Uechi-ryu e Kyokushin; graduação no Karatê igual ou superior ao 1º grau (Dan) e praticarem o treino de calejamento há pelo menos 1 ano. As entrevistas foram efetuadas pela plataforma virtual de comunicação Google Meet e gravadas e transcritas na íntegra.
Foram entrevistados ao todo dezoito karatekas residentes no Brasil7, sendo nove Senseis do estilo Kyokushin (um 1º Dan, cinco 2º Dan, dois 3º Dan e um 5º Dan) e nove do estilo Uechi-ryu (três 1º Dan, dois 2º Dan, três 5º Dan e um 6º Dan). A participação na pesquisa foi de caráter voluntário, os participantes assinaram Termo de consentimento livre e esclarecido.
Instrumento
A coleta de dados ocorreu por meio de entrevista semiestruturada com questionário de caracterização dos sujeitos (perguntas fechadas) e investigação sobre o fenômeno de interesse (perguntas abertas), sendo realizada entre 18 de setembro de 2020 e 02 de abril de 2021. Os nomes dos sujeitos são fictícios, mantendo-se apenas o gênero, estilo e graduação no Karatê.
Análise dos dados
Após a coleta das entrevistas, procedeu-se para a transcrição integral dos discursos, e foram empregadas a análise dos discursos e a construção da “matriz nomotética” (Lage, e Gonçalves Junior, 2007, p. 35). A metodologia adotada foi de inspiração fenomenológica, modalidade fenômeno situado, onde aos entrevistados foi proposta a pergunta: O que é isto o calejamento para você? Deixando-os falar livremente e sem interrupções, e gravando seus discursos com o uso de telefone celular.
A modalidade fenômeno situado busca uma compreensão particular (por parte dos sujeitos) daquilo que se estuda, a partir da linguística, e não necessita de pressupostos estabelecidos, uma vez que não tem a intenção de chegar a princípios ou leis, (Moreno et al., 2004), uma das formas de obter tal compreensão é por meio de uma entrevista.
Segundo Edmund Husserl (2008), o uso da proposição “isto” situa diretamente o objeto ao tempo presente, ao isto-aqui, ou seja, da perspectiva imediata da consciência, determinando a sua significação no tempo em questão. É importante ressaltar também, que fenômeno é tudo que está presente à consciência, tendo para esta uma significação. Para Maria Bicudo (2009), o processo da intersubjetividade se dá através das relações dialéticas ser-humano-mundo, relações estas que podem se manifestar de diferentes formas, entre esta, a linguagem, visto que a “coisa”, do ponto de visto fenomenológico não é tida como sendo em si, mas passível da percepção dos sujeitos que interagem com ela.
Bicudo (2009) considera que Edmund Husserl (1859-1938) estuda os fenômenos a partir de um nexo subjetivo-intersubjetivo-objetivo, ou seja, as relações são explicadas a partir das percepções, mas também há vários critérios necessários para elas (relações) se darem, sendo a linguagem, a história, as tradições, a comunidade alguns destes elementos. A própria autora ainda acrescenta que esse método procura investigar a manifestação das coisas tal como ela se dá a partir das percepções do interlocutor e como ele explica essa percepção, através da sua fala e linguagem, pois estas são articuladas pela inteligibilidade.
Após a transcrição integral dos discursos, foram aplicadas as seguintes metodologias, conforme descritas por Lage et al. (2016):
Identificação das Unidades de Significado e Redução Fenomenológica: levantamento das asserções contidas dentro dos discursos, que foram significativas para o objeto de pesquisa, que se tornam as Unidades de Significado.
Organização das Categorias: neste momento foram percebidas convergências e divergências dentro de cada discurso, estabelecendo, após isso, categorias estruturais, agrupando as Unidades de Significado dentro das categorias, de forma a classificá-las, mas vale observar que, como o estudo tem inspirações fenomenológicas, tais categorias são criadas no decorrer da coleta de dados.
Construção dos Resultados: nesta última fase é buscada uma compreensão do fenômeno a partir da estrutura da Matriz Nomotética.
De acordo com Lage, e Gonçalves Júnior (2007), a matriz nomotética é um movimento que se propõe, a partir do individual, a compreender de forma mais generalizada as proposições, organizando estas em categorias. A estrutura da matriz é composta por uma coluna à esquerda onde são expostas as categorias, que foram construídas com base nas asserções dos voluntários, e estes também estão dispostos na matriz em colunas, de acordo com a ordem que foi realizada cada entrevista, sendo identificados em algarismos romanos. A matriz possibilitou a realização da Construção dos Resultados, última fase desta pesquisa, que prima pelo desvelar de uma perspectiva de compreensão do fenômeno Karatê a partir daqueles que o vivenciam, os “Senseis”.
Vale também ressaltar que no estudo qualitativo os critérios de seleção são com fins de pertinência e não de representatividade estatística (Lage et al., 2016), sendo que o principal intuito foi de melhor compreensão do fenômeno, e não uma generalização.
Resultados e discussões
Nesta última fase buscou-se uma compreensão geral dos discursos baseando-se nos dados da matriz, que são fragmentos dos discursos, ou unidades de significado (em algarismos arábicos) feitos quando os voluntários respondiam às perguntas abertas, seguindo a metodologia de Lage, e Gonçalves Júnior (2007). Neste tipo de análise também é possível encontrar proposições convergentes e (ou) divergentes, mas nesse caso foram encontradas apenas convergências. Foram construídas três categorias as quais foram os objetivos específicos deste estudo, a saber: i) Aperfeiçoar-se para o combate; ii) Calejamento para a saúde; e iii) Calejamento como parte do treino e da vida, conforme apresentada no Quadro 1.
Quadro 1. Matriz nomotética
Sujeitos / Categorias |
I |
II |
III |
IV |
V |
VI |
VII |
VIII |
IX |
X |
XI |
XII |
XIII |
XIV |
XV |
XVI |
XVII |
XVIII |
a.
Aperfeiçoar-se para o combate |
1;
3; 4; 5; 6; 8 |
13;
5; 6 |
13;
4 |
2 |
12 |
26 |
24;
6; 9 |
13;
5 |
28;
10 |
24 |
2 |
3 |
23 |
3 |
23 |
3 |
24;
6 |
12 |
b.
Calejamento para a saúde |
7 |
24 |
2 |
1 |
3 |
14 |
13;
5; 8; 10 |
24;
6 |
13;
5 |
13 |
1 |
12 |
|
2 |
1 |
1 |
1 |
|
c.
Calejamento como parte do treino e da vida |
29 |
|
|
3 |
4 |
35;
7 |
7 |
|
46;
7; 9; 11 |
|
3 |
|
1 |
1 |
|
2 |
35 |
|
Fonte: Datos de pesquisa
a. Aperfeiçoar-se para o combate
Nesta primeira categoria, foram analisadas asserções que associam o calejamento com o ganho de performance no combate, totalizando 43.
Sensei Camila (II - 1, 3 e 5) destaca a importância do calejamento para o ganho de rendimento em um combate, pois é “um jeito de fortalecer o corpo inteiro [...] aprender a controlar” e ajuda “a criar força, a criar resistência, equilíbrio [...] ‘pra’ alto rendimento”. Aqui, portanto, ela destaca a importância do controle integral do lutador ao praticar o calejamento. Sensei Carlos Rodolfo (IV - 2) faz a seguinte afirmação:
Por exemplo, o meu mestre falava o seguinte,
“primeiro você tem que aprender a apanhar, “pra” depois aprender a bater”, então [...] sempre, você tem que trabalhar sua paciência, tem que saber o momento certo, de contra golpear, como bater, então não é simplesmente você sair batendo e lutando, batendo igual um doido, e também não é bater, é lutar, então você tem que se concentrar, tem que saber assimilar os golpes, pra depois você poder aplicar.
De acordo com o ponto de vista do Sensei Carlos Rodolfo, o primeiro passo para aprender a lutar é, portanto, receber o golpe e assimilá-lo, isto é, suportá-lo, o que remete à ideia do termo Osu, que se relaciona com o conceito do Karatê se esforçar ao máximo todo momento, independente das condições. (Frosi, 2012)
Em aulas de Karatê fora do perímetro do Japão os termos “Ossu” ou “Osu” são utilizados erroneamente quando pronunciados como “Oss” ou “Uss”, e são utilizados em situações que vão desde um cumprimento informal até “eu ouço e obedeço”. Além disso, o termo “Oss” também é comum ser encontrado como “Ossu” (exclamação) ou “Osu” (verbo que dependendo do contexto pode ter o sentido de “empurrar”). (Green, 2010)
Mello (2017), sugere que a redução de ansiedade pode vir através da elevação da autoconfiança de um atleta quando este cumpre metas objetivas ao longo de seu treinamento e sente que elas o fazem progredir no seu desempenho, essas metas não necessariamente implicam em vencer uma competição, mas progredir na sua performance de alguma forma que seja mensurável. A questão da quantificação, proposto por Allen Guttmann (1978), está amplamente inserida nos esportes modernos, pois ela ajuda a ter um parâmetro da eficiência atingida ou não dentro desse meio (Durães et al., 2015). Neste contexto, acontece também o autoconhecimento, “na medida em que, com o passar do tempo, o praticante vai se conhecendo mais, testando seus limites e explorando suas fraquezas, ao mesmo tempo em que aprende com a prática juntamente com a série de rituais que a compõem” (Oliveira, 2020, p. 53). Sensei Iago Luís Igari (III - 1, 3 e 4) relata que o calejamento:
Nada mais é do que condicionar o corpo ‘pra’ suportar um golpe, um ataque do adversário, [...] mas também envolve o elemento, psicologicamente, então, o ato, então, o calejamento é mais psicológico do que físico, [...] se eu já experimentei essa dor antes, se eu sei como ela é, se não for algo estranho na hora da competição, então pra mim vai ser tranquilo, eu vou conseguir receber essa pancada, não vou dizer, assim, não sentir dor, mas, sem demonstrar reação, ‘né’? [...] pensando no momento que o atleta, ele perde essa concentração porque ele sentiu uma dor, aí já é o começo da derrota.
Vale também destacar a questão da resiliência, que está intimamente ligada a fatores de proteção (como foco, motivação e confiança), que são aqueles que levam uma pessoa à melhor tomada de decisão possível perante fatores de estresse, que podem ser vistos como obstáculos diante do objetivo de um praticante ou até mesmo atleta. (Pires et al., 2019)
Pensando do ponto de vista de um lutador, a vivência da prática tende a levar o indivíduo cada vez mais a se conectar somente ao tempo presente, tanto no treino quanto na competição, levando este a desenvolver a concentração (Telles, 2018). A incorporação das técnicas corporais específicas a partir desse movimentar-se (Oliveira, e Zimmermann, 2019; Zimmermann, 2010), faz com que os corpos dos lutadores estejam preparados para um futuro adversário e, ao fazê-lo, o corpo do lutador une o passado, o presente e o futuro(Spencer, 2009). Sensei João Antônio Igari (I - 6) afirma que:
O Kyokushin usava muita mão, muito dedo, calejamento[...] e eu sentia muita dor, ‘né’? Canela por exemplo né, eu batia canela com canela, não era acostumado a isso daí, ‘né’? [...] em 97, aí eu tava, eu fiquei vendo, uns japoneses que eles treinavam depois do treino, batendo em... “num” saco, aí eu fui lá e perguntei, eu falei ‘pra que é isso?’ ‘né’? Aí ele falou assim “ó, isso aí pra, deixar ‘né’? Primeiramente, para matar o nervo, as terminações nervosas, para você perder um pouquinho da sensibilidade, da terminação nervosa, ‘pra’ você não sentir mais dor.
Uma das causas da perda da sensação de dor é quando há alguma interferência nos receptores que geram impulsos para o sistema nervoso que, no caso do calejamento, são as terminações nervosas localizadas na derme, como os corpúsculos de Paccini e os corpúsculos de Meissner, responsáveis pelo tato (Moayedi, e Davis, 2013). Neste contexto, “a dor é uma presença constante na vida de atletas profissionais. Resultado do uso do corpo em seu limite a dor deixa de ser um sinal de alerta para ser uma condição permanente indicando altos níveis de demanda física e emocional” (Rubio et al., 2018, p. 30). Pode-se sugerir que praticantes inexperientes podem superestimara sua própria capacidade de sofrimento; e que, pela experiência adquirida pela idade e participação nos treinamentos (ou competições), sua sensibilidade à dor diminua. (Aguilar Gómez, 2023)
Sensei Rubens (XIII - 2) enxerga a prática do calejamento como uma forma de aprimoramento das capacidades de defesa no combate, pois o Karatê Kyokushin “visa muito a canela, muito os antebraços, para se defender dos golpes…”, seguindo na mesma linha de raciocínio, o Sensei Rogério (XVII - 2, 4) afirma que ele “calejava o antebraço para uma questão de defesa (...) e a minha tíbia mesmo (...) então eu sempre tive a percepção de suportar mais o impacto…”.
Desta forma, a apreensão desta categoria relaciona-se ao relato dos Senseis compreenderem que o calejamento contribui para torná-los melhores lutadores, pelo controle da dor, da ansiedade e do aprimoramento, principalmente da capacidade de defesa.
b. Calejamento para a saúde
Nesta categoria, os Senseis discorreram sobre a interferência do calejamento na saúde, identificaram-se 28 asserções nesta categoria, com presença no discurso de todos os entrevistados. Sensei Walter (VII - 10) afirma, que é possível:
Usar essa técnica de treinamento de calejamento
‘pra’ saúde, é… da pressão arterial e osteoporose, porque ele tem muito a ver, o treinamento de calejamento com a saúde óssea e saúde cardiovascular, mas isso aí é um outro… uma outra coisa que exige mais estudos científicos ‘né’?.
Sensei Tales (X - 1 e 3) relata compreender o calejamento como um:
Somatório, de aquisição de músculo, de treino das fibras musculares, de treino do… do sistema ósseo, ‘pra’ é… absorver, na verdade, ‘né’? [...] então se você faz um treino no qual você recebe pressão, contato ‘né’? É… não precisa ser de alta intensidade, mas ao longo do tempo, com consistência, o seu osso tende a gerar estruturas que são mais resistentes a esses impactos, nesses locais, e aí com relação a massa muscular, também você adquiriria massa muscular, ‘né’? [...] e junto com isso tudo, a respiração, ‘né’? Que é um treino, é… é… você também tem que “tá” com a respiração adequada nesse momento, então quando você somaria tudo isso pela consistência ao longo do tempo, eu entendo que você tem a… absorção.
O Karatê Uechi-ryu, por ensinar o praticante a trabalhar a respiração abdominal ou diafragmática durante o treino do Sanchin, kata básico do estilo (que inclusive é trabalhado também dentro do calejamento, através de sua variação que é o Sanchin Kitae) (Mistry, 2015), pode vir a trazer uma série de benefícios, como melhora da pressão arterial e melhor oxigenação dos tecidos (Kulur et al., 2009). Nas artes marciais, os músculos e ossos das mãos devem ser constantemente estimulados para serem “fortes” para reduzir o risco de lesões. (Wąsik et al., 2022; Zemková, 2018)
Neste pensamento, como citado anteriormente por Zamarioli (2015), que trata calejamento como sendo sinônimo de fortalecimento, muitos Senseis também o tratam como tal, como é o caso de Sensei Guilherme (V - 3) em sua fala que teve a oportunidade de:
Conhecer o Karatê Uechi-ryu quando criança e poder me maravilhar com aquele tipo de treinamento, [...] e querer praticar para ficar forte…” e o Sensei Ivan (VI - 1 e 4) onde ele diz: “Para mim é uma técnica de fortalecimento do corpo [...] e é inclusive o que diferencia ele, da… de vários outros estilos de Karatê do… esse fortalecimento do corpo.
Já na questão da saúde óssea, além dos dois Senseis Walther e Tales, o Sensei João Antônio (I - 7) acrescenta:
A mão era muito fraca então eu quebrei, já, acho… 18, 19 vezes, os dedos da mão socando, então… eu tive que bater muito ‘né’? Makiwara8, no saco de areia, “pra” fortalecer a mão, “pra” fortalecer o seiken, porque eu achava que meus dedos ‘né?’ Eles eram fracos, porque treinei muito tempo, quando treinava Shotokan, com luva, e essa amortecida, esse não bater em algo mais consistente, ‘né’? É... Faz com que você não ganhe essa densidade óssea, e aí eu falei ‘vou treinar’.
Com relação ao uso do makiwara, muito embora Sensei João Antônio deixe claro sua satisfação em utilizá-lo, é preciso levarmos em consideração outros efeitos dessa prática como, por exemplo, patologias associadas a vibração e a completa falta de método na utilização, o que pode gerar complicações em elos do segmento superior9 do corpo (Souza, 2002)(Souza, 2002). Compreender a interação entre as contribuições do sistema de energia, gasto total de energia e potência metabólica com ações técnicas executadas pelos praticantes fornece informações valiosas para ajustar programas de treinamento (Franchini, 2023). Sensei Márcio (XVI - 1) relata que durante o treino:
Você vai batendo na canela, naquele saco com areia, você vai criando micro fissuras, e essas microfissuras, elas vão cicatrizando, o corpo vai mandar mais sinal para lá, vai mandar cálcio, e elas ficam com uma camada um pouco mais rígida, mais calcificada ‘né’? Eu fui fazer uma radiografia da canela uma vez, e o cara perguntou se eu tinha sofrido algum acidente, porque havia gerado uma camada mais grossa de cálcio.
E o Sensei Raione (XIV - 2) afirma que:
Um pequeno calo vai se criando de acordo com o impacto, isso é bem notado em um aluno iniciante, no começo ele reclama de bater no saco de pancada, mas com pouco tempo de treino (...) então essa pequena calcificação que vai criando ali no osso, e vai deixando ele mais firme, mais forte.
Todos os Senseis entrevistados, portanto, consideram o calejamento como algo positivo para a saúde, como o ganho de massa óssea, no auxílio da pressão arterial e até mesmo em relação ao ganho de massa muscular. A palavra “fortalecimento” é também vista como sinônimo do termo.
Nesta conjuntura, não somente o Karatê (Cavedon et al., 2023)(Cavedon et al., 2023), mas outras artes marciais podem apresentar benefícios para os ossos. Praticantes de meia idade de Ving Tsun, uma arte marcial chinesa, possuem uma densidade mineral óssea significativamente maior que outras pessoas de sua faixa etária na região do antebraço, área esta que é bastante suscetível a impacto devido às características da modalidade (Fong et al., 2013), isto talvez seja possível pela melhora na osteogênese que pode vir a ser causada pela prática de exercícios físicos (Maillane-Vanegas et al., 2020). O Judo (Drid et al., 2021)e o Muay Thai(Costa et al., 2018) também apresentam benefícios para a saúde a partir de sua prática, dado que contribuem para a melhora da composição corporal, densidade mineral óssea e conteúdo mineral ósseo. (Costa et al., 2018; Drid et al., 2021)
c. Calejamento como parte do treino e da vida
Esta categoria apresentou um total de 19 asserções que discorrem acerca do calejamento ser uma parte integrante de algo maior que o treinamento em si mesmo.
Sensei Ivan (VI - 3, 5 e 7) dentre as definições da categoria anterior (onde também havia definido que o calejamento é algo que diferencia o Karatê Uechi-ryu de outros estilos), define o treino de calejamento como algo que está intrínseco ao seu estilo:
Bom
… não pretendo me envolver em nenhum combate, mas faz parte do estilo que eu adotei, de treinamento, de Karatê Uechi-ryu, e é uma das partes fundamentais desse estilo [...] faz parte do estilo ‘né’? [...] é uma parte integrante do nosso estilo, o Uechi-ryu, não tem como você praticar o Uechi-ryu sem fazer algum tipo, em algum grau, o treino de calejamento.
De forma muito semelhante, Sensei Bruno (XI - 3) trata o treino de calejamento da seguinte forma:
E eu chutei a coxa de um
… de um graduado lá, não lembro se era faixa preta ou marrom, com toda a minha força, e eu machuquei o pé, então todas as coisinhas que eu presenciei naquele primeiro dia eu falei “cara, isso aqui é […] é outro nível de arte marcial”, e o Sensei Rubens (XIII - 1) ainda acrescenta que “para mim, que sou praticante de arte marcial de contato, o calejamento ele é essencial ‘né’? (...) digo pelo meu estilo ‘né’?
Já o Sensei Carlos (IV - 3), faz uma asserção em relação à sua vida, declarando que: “...o Karatê faz parte da minha vida, eu preciso treinar, sinto vontade de treinar, sinto vontade de… do Kote kitae10, do Ashi kitae11, do Sanchin kitae12, isso faz parte da minha vida...”. De acordo com a filosofia epicurista, o corpo, na sua condição de conhecer, é capaz de julgar a verdade ou falsidade das coisas a partir do âmbito dos sentimentos, além disso ele também é uma das principais ferramentas da ética, que é o que ensina o ser humano a buscar, e a deixar de buscar, para se ter uma vida feliz; portanto, algo que é bom para a saúde, tem também relação com a felicidade. (Tamura, e Laurenti, 2017)
Segundo o antropólogo David Schneider (1918-1995), que considera cultura como sistemas simbólicos, ou seja, compreende diferentes unidades de categorias (ou “coisas” culturais) e regras sobre as relações e os comportamentos dos indivíduos (Laraia, 1986). Sensei Rogério (XVII - 3 e 5) declara que:
O Kyokushin já tem como tradição (...) a questão do calejamento, isso já faz parte da cultura ‘né’? (…) e ainda mais conhecendo a história (...) então o que me levou a praticar o calejamento, primeiro foi a cultura dentro da própria arte marcial.
Além do mais, os rituais comumente executados nas rotinas de treinamento do Karatê contribuem com o reforço da tradição, muito embora essa tradição tenha sido construída por uma necessidade ímpar, oriunda de um contexto histórico particular. (Oliveira, 2020)
Alguns Senseis também levam o treino, não só do calejamento, como também do Karatê para a vida, como é o caso do Sensei Matheus (IX- 4 e 6) quando ele afirma que:
O kote kitae, ele não é só uma prática, […] não tem um fim, só na questão de você deixar seu corpo mais forte, ‘né?’ Ele vai além disso, ele é um exercício de… de superação, que a gente leva ‘pra’ vida [...] Então quando ele começa, por ele mesmo, perceber que consegue superar seus limites, uma coisa que antes ele não fazia, ele consegue passar a fazer, e isso dá confiança, [...] ele leva “pra” tudo, então, uma entrevista de trabalho, que ele poderia ir mais receoso, ele vai mais confiante, porque ele é mais confiante.
Neste contexto, os ensinamentos oriundos dos árduos treinamentos físicos, aliado ao aspecto ético e moral da arte marcial, podem ser ecoados para longe do dojo, na medida em que o espaço não é limitante, melhor dizendo, o diálogo com o outro e com o mundo vai além do dojo (Oliveira, 2020). O calejamento envolve uma combinação complexa e variável de técnicas corporais reflexivas, endurecendo o corpo do lutador para que ele possa suportar os rigores da modalidade (Spencer, 2009). Além dele há também o Sensei Walther (VII -7) que diz o seguinte:
E esse detalhe mental que eu já falei até, se você, é… mantém isso no seu corpo, na sua… na sua vida, você fica mais, é… corajoso de enfrentar, é… outros adversários, porque o efeito da pancada começou com a mais forte, “pra” você, é… de repente é… encarar uma outra… um outro adversário na sua vida, interessante falar isso de vida, porque existe uma… é natural ‘né’? Até outro foco de estudo, aquele que você desenvolve dentro das artes marciais, da academia, sem querer, naturalmente, você leva “pro” dia a dia, na vida, então como você, é… dentro da academia,’cê’ treina, pega um… um aluno, ou adversário mais forte, e você treina com ele, frente a frente, no mesmo nível, isso te dá uma fortaleza interior, que… que você pode, é… transferir isso “pra” sua vida, é… no dia a dia, sabe? Na… na… no trabalho, na rua, te deixa mais, é… com mais coragem de enfrentar os… os obstáculos, ‘né’? Porque você já tem aquilo desenvolvido em você, porque você sentiu que você superou uma coisa que… que mentalmente é… para outras pessoas ainda coisa… assim… é uma coisa que 'num'... não existe aquilo, mas você treinou e conquistou aquilo, então te deixa mais forte.
Portanto, para os dois Senseis, pode-se dizer que o calejamento é um elemento que pode ser levado para ajudar a superar diferentes obstáculos fora do Karatê, o que leva a relacioná-lo com o Do (caminho)13, ou seja, se estende até as práticas cotidianas, não fragmentando tal prática com a vida.
As artes marciais japonesas reconhecem a tradição baseada no conceito de “Do”, uma vez que possui o significado de autoaperfeiçoamento. Se trata de um termo derivado do taoísmo, mas que foi incorporado ao Karate pelo Sensei Gichin Funakoshi (1868-1957), um confuciano. Tradicionalmente entendido, o Karate é um sistema educacional ligado à filosofia social confuciana14. Em tal arte marcial, vencer em torneios não é tão importante quanto o domínio de um ser humano (Cynarski, 2019) . Também pode ser entendido simplesmente como uma disciplina, a qual faz parte de um grupo maior de disciplinas marciais - Karatê, Judo, Iaido, Kyudo, Aikido, dentre outras - originalmente orientadas pela Dai Nippon Butokukai. (Butokukai, 2018; Ferreira et al., 2022; Tsukuba, 2021)
Conclusões
A busca pela compreensão sobre o fenômeno da prática do calejamento a partir dos faixas pretas de Karatê permitiu a construção de três categorias, as quais descrevem o fenômeno enquanto possibilidade de aperfeiçoar-se para o combate, contribuir para torná-los melhores lutadores, desenvolver o controle sobre a dor, a ansiedade e aprimorar suas capacidades de defesa.
Outra percepção sobre esta prática é sua relação com a saúde, na qual os Senseis discorreram sobre a interferência do calejamento na saúde, como o ganho de massa óssea, no auxílio da pressão arterial e até mesmo em relação ao ganho de massa muscular.
Por fim, o calejamento foi relatado como parte do treino e da vida dos Senseis, contribui com o reforço da tradição, envoltos em aspectos éticos e morais da arte marcial e aliado aos ensinamentos oriundos dos árduos treinamentos físicos, auxilia na superação de obstáculos do cotidiano, o que leva a relacioná-lo com o Do (caminho), não se fragmentando da vida.
Dentre as limitações do estudo pode-se citar a amostra composta apenas por praticantes do Brasil e apenas os estilos Uechi-ryu e Kyokushin. Estudos futuros devem abordar outros estilos de Karatê que envolvem a prática do calejamento, bem como investigar possíveis relações entre os níveis de experiência (graduações no estilo) e entre os gêneros e culturas.
Notas
Essas tradições modernas são muitas vezes criadas por quem está no poder para atender às suas necessidades e, portanto, é interessante analisar como e por que razões essas tradições são produzidas (Schiltz, 2006). Desde a década de 1970 existem estudos na literatura científica sobre tradições inventadas e orientalismo nas artes marciais asiáticas (Bowman, 2019).
Por lá aportaram pessoas de diferentes culturas ao longo da história humana. Além disso, o fato de Okinawa ter uma íntima relação com a origem do Karatê faz deste lugar atraente, uma vez que praticantes de diversos lugares do mundo são anualmente atraídos pela ilha, muito embora a região também desperte a curiosidade para outros elementos como o clima, praias, culinária, música, dança, etc. (Fuente, 2021; Fuente, e Niehaus, 2020; Kebbe, 2021; Kerr, 2000; Røkkum, 2006; Santos, 2021)(Fuente, 2021; Kerr, 2000)
O Karatê estilo Uechi-ryu foi fundado por Kanbun Uechi (1877-1948), nascido em Okinawa, mas que se mudou para a China no ano de 1897, onde treinou com o mestre Chou Tsu Ho (1874-1926), ou Shushiwa, do Japonês, um estilo de Kung Fu conhecido como Pan Gai Noon durante 10 anos, quando então começou a lecionar artes marciais na província de Nonsoue, na China até 1910, retornando em seguida para Okinawa, voltando a ensinar seu estilo em 1924 (McCarthy, 1987).
O Karatê estilo Kyokushin, foi fundado por Masutatsu Oyama (1923-1994), nascido na Coreia, e que começa a estudar artes marciais quando muda-se para a Manchúria, na China, e que depois migra para o Japão aos 13 anos de idade, onde lá pratica dois estilos de Karatê: o Shotokan e o Goju-ryu, além de viajar por várias partes do mundo para lutar contra praticantes de diferentes estilos (destacando o Muay Thai e o Wrestling), e em 1954 abre seu dojo em Tóquio (Costa et al., 2017).
O termo “calejamento” não possui uma definição exata em inglês. Para tanto, na literatura pode-se encontrá-lo associado a “hardening”, “bone hardening”, “body callusing”, “forging”, “forge”, “discipline”, “train”, “bone mineralization”, “body conditioning”, “bone conditioning”, “bones callosities”, “bone deformities”, “conditioning”. Em japonês pode estar associado a “kitae” (
Os exercícios complementares são aqueles que não estão situados dentro daqueles que são considerados os três pilares do Karatê, que são o kihon, o kata e o kumite. O kihon são os fundamentos do Karatê, ou seja, as técnicas básicas de ataque e defesa, já o kata significa, literalmente, forma, onde são executados movimentos pré-estabelecidos através de uma luta imaginária, e o kumite que é feito com um parceiro, onde é feita a união das técnicas de combate, com a estratégia e a esquiva (Frosi, e Oliveira, 2019).
Parte deste texto foi publicado anteriormente na forma de Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Educação Física, intitulado “O fenômeno do calejamento na perspectiva dos praticantes de Karatê no Distrito Federal”, Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (Cesar, 2020).
Normalmente encontrado na maioria dos dojos de Karate, o makiwara é um tradicional material de treinamento. Caracteriza-se por ser um poste plano, geralmente uma tábua de madeira, a qual é fincada num plano e possui uma parte forrada em sua parte superior - podendo ser uma corda amarrada (os tradicionais) ou um material emborrachado (os modernos).
Pode-se compreender como segmento superior diferentes ossos e articulações, os quais são rodeados por tecidos moles. Além disso, podem ser entendidos por elementos elásticos, isto é, músculos, tendões e nervos, estando dispostos sobre os ossos. Aqui formam um sistema de alavancas que permitem movimentos de preensão. Tal mecanismo é capaz de armazenar energia cinética e potencial (Souza, 2002).
Kitae: do japonês,
“Ashi”: do japonês, pernas, portanto calejamento de membros inferiores.
Calejamento de tronco e membros executados pelo praticante, enquanto realiza o Sanchin kata, um dos kata básicos da modalidade.
Miklos (2010) define caminho, dentro do budismo, como um processo contemplativo de descobertas e amadurecimento de um praticante, é importante ressaltar que este processo surge no momento em si, ou seja, no aqui e agora.
O confucionismo se refere em mandarim de rujia, uma antiga corrente de pensamento, traduzida como ruismo. Destacando-se os seguintes temas: “a importância de determinados preceitos morais, as práticas cerimoniais e seu papel na ordem social e a busca de uma ‘governança pela virtude’” (Reis-Júnior et al., 2019, p. 285).
Referências
Aguilar Gómez, A. (2023). Percepción de la capacidad de sufrimiento y disfrute en corredores de maratón. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(298), 43-67. https://doi.org/10.46642/efd.v27i298.3763
Antunes, M.M. (2016). Uma breve reflexão sobre a história e as funcionalidades das artes marciais na contemporaneidade. In M.M. Antunes, e J.J.G. de Almeida (Eds.), Artes marciais, lutas e esportes de combate na perspectiva da educação física: reflexões e possibilidades (1st ed., pp. 15-42). Editora CRV.
Antunes, M.M. (2019). Eric Hobsbawm: a invenção das tradições. In Reflexões sobre corpo, esporte e sociedade (1st ed.). Editorial Autografia.
Antunes, M.M., e Mendonça, S. (2016). O senso comum sobre a origem das artes marciais orientais: o mito de Bodhidharma. In Artes marciais, lutas e esportes de combate na perspectiva da educação física: reflexões e possibilidades (1st ed., pp. 135-158). Editora CRV.
Apolloni, R.W., e Aguiar, J.O. (2021). Hipótese de leitura da narrativa marcial sobre a “destruição do mosteiro de Shaolin” em 1736. REVER: Revista de Estudos da Religião, 21(3), 157-174. https://doi.org/10.23925/1677-1222.2021vol21i3a10
Bicudo, M.A.V. (2009). Pesquisa qualitativa: significados e a razão que a sustenta. Revista Pesquisa Qualitativa, 1(1), 7-26. https://editora.sepq.org.br/rpq/article/view/7
Bowman, P. (2019). Deconstructing martial arts (1st. ed.). Cardiff University Press. https://doi.org/https://doi.org/10.18573/book1
Bowman, P. (2021). The Invention of Martial Arts: Popular Culture between Asia and America. Oxford University Press.
Butokukai, T.D.N. (2018). History and Philosophy. The Dai Nippon Butoku Kai. http://www.dnbk.org/history.cfm
Cavedon, V., Milanese, C., Sacristani, F., e Zancanaro, C. (2023). Body Composition in Karate: A Dual-Energy X-ray Absorptiometry Study. Applied Sciences (Switzerland), 13(559). https://doi.org/10.3390/app13010559
Cesar, M. de C. (2020). O fenômeno do calejamento na perspectiva dos praticantes de Karatê no Distrito Federal. In UnB. Universidade de Brasília - UnB.
Clarke, M. (2009). The art of hojo undo power training for traditional karate. YMAA Publication Center.
Costa, J.M. da, Santos, L.C., e Rezende, A. (2017). História e filosofia de uma luta: primeiras aproximações ao Karatê Kyokushin Oyama. Pensar a Prática, 20(1), 172-181. https://doi.org/10.5216/rpp.v20i1.42134
Costa Júnior, P. (2015). Efeitos de duas modalidades esportivas de combate na saúde óssea de adolescentes: análise transversal e longitudinal [Dissertação, Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia. UNESP]. https://repositorio.unesp.br/handle/11449/134225
Costa, P., Franchini, E., Ciccotti Saraiva, B.T., Gobbo, L.A., Casonatto, J., Fernandes, R.A., e Christofaro, D.G. (2018). Effect of grappling and striking combat sports on pre-adolescent bone mineral. Medicina Dello Sport, 71(1), 65-74. https://doi.org/10.23736/S0025-7826.18.03215-5
Cynarski, W.J. (2019). General canon of the philosophy of karate and taekwondo. Ido Movement for Culture, 19(3), 24-32. https://doi.org/10.14589/ido.19.3.3
Darbon, S. (2014). Les fondements du système sportif: Essai d’anthropologie historique. Éditions L'Harmattan.
Drid, P., Franchini, E., Lopes-Silva, JP, Fukuda, DH, Wells, AJ, Lakicevic, N., Bianco, A., Paoli, A., Milovancev, A., Roklicer, R., e Trivic, T. (2021). Health implications of judo training. Sustainability (Switzerland), 13(11403). https://doi.org/10.3390/su132011403
Durães, G.M., Lessa-Júnior, A., e Monteiro-Júnior, R.S. (2015). A lógica do esporte moderno segundo Allen Guttmann. Revista Norte Mineira de Educação Física - RENEF, 5(6). https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/renef/article/view/652/651
Elias, N., e Dunning, E. (1992). A busca da excitação. In M. M. A. Silva (Ed.), Memória e sociedade. DIFEL Editoral.
Ferreira, H.S., Lopes, J.C., Barroso-Júnior, F.S., Oliveira, M.A. de, Frosi, T.O., Reis-Júnior, C.A.B. dos, e Sonoda-Nunes, R.J. (2022). Artes marciais e educação física escolar: o budō como conteúdo pedagógico. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(289), 26-41. https://doi.org/10.46642/EFD.V27I289.3068
Figueiredo, A.A.A. (2006). A institucionalização do Karate: os modelos organizacionais do Karate em Portugal [Tese, Doutor em Motricidade Humana. Universidade Técnica de Lisboa]. http://dx.doi.org/10.13140/RG.2.2.35741.00484
Fong, SSM, Guo, X., Cheung, APM, Jo, ATL, Lui, GKW, Mo, DKC, Ng, SSM, e Tsang, WWN (2013). Elder Chinese Martial Art Practitioners Have Higher Radial Bone Strength, Hand-Grip Strength, and Better Standing Balance Control. ISRN Rehabilitation, 1-6. https://doi.org/10.1155/2013/185090
Franchini, E. (2023). Energy System Contributions during Olympic Combat Sports: A Narrative Review. Metabolites, 13(2), 297. https://doi.org/10.3390/metabo13020297
Frosi, T.O. (2012). Uma história do karate-do no Rio Grande do Sul: de arte marcial a prática esportiva [Tese, Ciências do Movimento Humano. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS]. https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/63142
Frosi, T.O., e Mazo, J.Z. (2011). Repensando a história do karate contada no Brasil. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 25(2), 297-312. https://doi.org/10.1590/S1807-55092011000200011
Frosi, T.O., e Oliveira, M.A. de (2019). O Bushido na prática: o caso da educação em valores no Karate Shotokan. In Bushido e artes marciais: contribuições para a educação contemporânea (1st ed., pp. 115-132). Editora CRV. https://www.researchgate.net/publication/336409377
Fuente, E.G. de la (2021). Recentering the Cartographies of Karate: artial Arts Tourism in Okinawa. Ido Movement for Culture: Journal of Martial Arts Anthropology, 21(3), 51-66. https://doi.org/10.14589/ido.21.3.8
Fuente, E.G. de la, e Niehaus, A. (2020). From Olympic Sport to UNESCO Intangible Cultural Heritage: Okinawa Karate Between Local, National, and International Identities in Contemporary Japan. In P. Seong-Yong, e R. Seok-Yeol (Eds.), Traditional martial arts: as intangible cultural heritage (pp. 39-51). UNESCO - ICHCAP and ICM. https://www.researchgate.net/publication/344905876
Garcia, J. (2017). Experimentações, Kung Fu e Produção de Diferença e Repetição em Educação. Instituto Federal de Educação, Ciência y Tecnologia Sul-rio-grandense - IFSul. http://omp.ifsul.edu.br/index.php/repositorioinstitucional/catalog/book/89
Green, T.A. (2010). Invented traditions. In T.A. Green, e J.R. Svinth (Eds.), Martial arts of the world: encyclopedia of history and innovation. ABC-CLIO.
Gumbrecht, H.U. (2007). Elogio da beleza atlética. Editora Companhia das Letras.
Guttmann, A. (1978). From ritual to record: the nature of modern sports. Columbia University.
Guttmann, A., e Thompson, L. (2001). Japanese sports: a history. University of Hawai'i Press.
Holt, R. (2017). Allen Guttmann’s Alter Ego: Sébastien Darbon and the Definition of “Sport.” Journal of Sport History, 44(1), 58-63. http://dx.doi.org/10.5406/jsporthistory.44.1.0058
Husserl, E. (2008). A crise da humanidade européia e a filosofia (3ª ed.). EdiPUCRS.
IOC, I.O.C. (2021). World Karate Federation. IOC. https://olympics.com/ioc/world-karate-federation
Kebbe, V.H. (2021). Leituras Avançadas - Okinawa. Associação Cultura e Esportiva Nipo-Brasileira de São Carlos - ACENB.
Kerr, G.H. (2000). Okinawa - The History of an Island People. TUTTLE.
Kulur, A.B., Haleagrahara, N., Adhikary, P., e Jeganathan, P. (2009). Efeito da respiração diafragmática sobre a variabilidade da frequência cardíaca na doença cardíaca isquêmica com diabete. Arq. Bras. Cardiol, 92(6), 457-463. https://doi.org/10.1590/S0066-782X2009000600008
Lage, V., e Gonçalves Junior, L. (2007). Karatê-Do como própria vida. Motriz. Journal of Physical Education. UNESP, 33-42. https://doi.org/10.5016/578
Lage, V., Silva, D.R. da, Progiante, F.A., Silva, J.V.I., e Monteiro, L. (2016). As lutas na educação física escolar: perspectivas discentes de catanduva e região. Corpo e Movimento: Educação Física, 7(1), 09-16.
Laraia, R. de B. (1986). Cultura: um Conceito Antropológico (14th ed.). Editora Zahar.
Maillane-Vanegas, S., Agostinete, RR, Lynch, KR, Ito, IH, Luiz-de-Marco, R., Rodrigues-Junior, MA, Turi-Lynch, BC, e Fernandes, RA (2020). Bone Mineral Density and Sports Participation. Journal of Clinical Densitometry, 23(2), 294-302. https://doi.org/10.1016/j.jocd.2018.05.041
McCarthy, P. (1987). Classical Kata of Okinawan Karate. Black Belt Communications.
Mello, D.D. (2017). A redução do estado de ansiedade dos cobradores de pênalti no futebol. Universidade de São Paulo [Tese de Doutorado. Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de Sao Paulo]. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/39/39133/tde-08062017-143825
Miklos, C. (2010). A Arte Zen e o Caminho do Vazio: uma investigação sobre o conceito zen-budista de Não-Eu na criação de arte [Tese de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes, Universidade Federal Fluminense - UFF]. https://app.uff.br/riuff/handle/1/19977
Mistry, P.B. (2015). Sanchin Three Batlles: The Anatomy and Physiology of Sanchin Kata (1st ed.). Notion Press.
Moayedi, M., e Davis, K. D. (2013). Theories of pain: From specificity to gate control. Journal of Neurophysiology, 109(1), 5-12. https://doi.org/10.1152/jn.00457.2012
Moenig, U., e Kim, M. (2016). The invention of taekwondo tradition, 1945-1972: When mythology becomes “history.” Acta Koreana, 19(2), 131-164. https://doi.org/l 0.18399/acta.2016.19.2.006
Moreno, R.L.R., Jorge, M.S.B., e Garcia, M.L.P. (2004). Fenomenologia-fenômeno situado: opção metodológica para investigar o humano na área da saúde. Esc Anna Nery Rev Enferm, 8(3), 348-353. https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=127718062004
Muller Junior, I.L., e Sonoda-Nunes, R.J. (2020). Muay Thai - o jogo do poder. Revista da ALESDE - Associación Latinoamericano de Estudos Socioculturales del Deporte, 12(2), 58-76. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.5380/jlasss.v12i2.72384
Oliveira, M.A. de (2020). O karatê: rituais, tradições e significados a partir da percepção de mestres e alunos [Dissertação de Mestrado. Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo]. https://doi.org/10.11606/D.39.2020.tde-13052021-145905
Oliveira, M.A. de (2021, August). Estreia do caratê nos Jogos Olímpicos é um convite a esse rico universo. Folha de São Paulo. https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2021/08/estreia-do-carate-nos-jogos-olimpicos-e-um-convite-a-esse-rico-universo.shtml
Oliveira, M.A. de, Frosi, T.O., Sonoda-Nunes, R.J., Pimenta, T.F. da F., Reis-Junior, C.A.B. dos, e Amstel, N.A. van (2018). De “mãos vazias” a “mãos com luvas”: uma análise sociológica sobre o Karate e os Jogos Olímpicos. Olimpianos - Journal of Olympic Studies, 2(1), 324-342. https://doi.org/https://doi.org/10.30937/2526-6314.v2n1.id40
Oliveira, M.A. de, Telles, T.C.B., e Barreira, C.R.A. (2019). De Okinawa aos Jogos Olímpicos: o Karate. In K. Rubio (Ed.), Do Pós ao Neo Olimpismo: esporte e movimento olímpico no século XXI (1st ed., pp. 327-347). Képos.
Oliveira, M.A. de, e Zimmermann, A.C. (2019). Karate, repetição e autoconhecimento: aproximações com a fenomenologia. VII Congresso ABRAPESP de Psicologia do Esporte. https://www.researchgate.net/publication/335777176
Pires, D.A., Lima, P.A., e Penna, E.M. (2019). Resiliência em atletas de Artes Marciais Mistas: Relação entre estressores e fatores psicológicos de proteção. Cuadernos de Psicología del Deporte, 19(2), 243-255. https://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1578-84232019000200019
Pucineli, F.A. (2017). Modernização do Karate: Gichin Funakoshi e as Tecnologias Políticas do Corpo [Dissertaçao, Pós-Graduação em Desenvolvimento Humano e Tecnologias. Universidade Estadual Paulista, UNESP]. http://hdl.handle.net/11449/150951
Reis-Júnior, C.A.B. dos (2019). Processos de institucionalização do Wushu na Era Maoísta: considerações a partir da análise de manuais elaborados pela comissão de esportes e cultura física da república popular da China entre 1958 e 1963 [Tese, Programa de Pós-Graduação em Educação Física. Universidade Federal do Paraná]. https://hdl.handle.net/1884/63530
Reis-Júnior, C.A.B. dos, Jinxiang, D., e Capraro, A.M. (2019). Considerações acerca de representações de práticas corporais nas obras confucianas. Registro dos ritos e Discursos. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 41(3), 284-289. https://doi.org/10.1016/j.rbce.2018.03.035
Røkkum, A. (2006). Nature, Ritual, and Society in Japan’s Ryukyu Islands. Routledge.
Rubio, K., Lima, L.T., e Costa, M.R.L. (2018). Quando a dor não faz parte do uniforme: os necessários cuidados com atletas e cuidadores no processo de reabilitação. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, 8(2). https://doi.org/10.31501/rbpe.v8i2.9531
Sanches, E.J. (2021). Ikken Hissatsu: as origens do karate-do (1st ed.). Kaygangue Ltda.
Santos, G.O.B. dos (2021). O karatê entre o Japão e Okinawa: as disputas na construção e afirmação da identidade okinawana por meio do karatê [Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em História. Faculdade de História, Universidade Federal de Goiás]. https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/11134
Schiltz, M. (2006). The creation of the myth of ‘traditional japanese’ karate under the pressure of prewar nationalism [Master Tesis. Katholieke Universiteit Leuven]. https://sfdojo.be/wp-content/uploads/2014/05/Master-thesis-KUL.pdf
Sciascio, J.H. de M.S. (2019). Contribuições das Tecnologias para o Karate Brasileiro: aspectos da gênese, escolarização ao Brasil contemporâneo [Tese, Doutorado Pós-Graduação em Desenvolvimento Humano e Tecnologias. Universidade Estadual Paulista - UNESP]. http://hdl.handle.net/11449/191014
Sousa, E. (2014). A verdade sobre o Calejamento que ninguém lhe contou... Karate Paramoti. https://karateparamoti.blogspot.com/2014/04/a-verdade-sobre-o-calejamento-que.html
Souza, V.A. de (2002). Análise de impacto e risco de lesões no segmento superior associadas a execução da técnica de gyaku tsuki sobre makiwara por praticantes de karate do estilo shotokan [Tese, Mestre em Engenharia. Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul]. https://lume.ufrgs.br/handle/10183/3462
Spencer, D.C. (2009). Habit(us), body techniques and body callusing: An ethnography of mixed martial arts. Body and Society, 15(4), 119-143. https://doi.org/10.1177/1357034X09347224
Tamura, T.T., e Laurenti, C. (2017). Um diálogo entre Epicuro e Skinner. Perspectivas em Análises do Comportamento, 8(2), 186-199. https://doi.org/10.18761/PAC.2016.050
Telles, T.C.B. (2018). Corpo a corpo: um estudo fenomenológico no karate, na capoeira e no MMA [Tesis de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo]. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59142/tde-06072021-102912/en.php
Toth, R. (2007). Historias de la Meibukan Gojyu Ryu Karate según Yagi Meitatsu. Revista de Artes Marciales Asiáticas, 2(3), 76-89. http://dx.doi.org/10.18002/rama.v2i3.320
Tsukuba, T.B.S.L. at the U. of. (2021). What is Budo? Budo World: The Martial Ways of Japan. https://budo-world.taiiku.tsukuba.ac.jp/en/2017/02/02/武道とは/
Wąsik, J., Bajkowski, D., Shan, G., Podstawski, R., e Cynarski, W.J. (2022). The Influence of the Practiced Karate Style on the Dexterity and Strength of the Hand. Applied Sciences, 12(8), 3811. https://doi.org/10.3390/app12083811
Zamarioli, D. (2015). Implicações Cênicas de um Corpo Cênico-Marcial. Anais da Semana Acadêmica do Curso de Teatro, 1(1), 42-53. https://seer.ufsj.edu.br/anais_cotea/article/view/1233
Zemková, E. (2018). Science and practice of core stability and strength testing. Physical Activity Review, 6, 181-193. https://doi.org/10.16926/par.2018.06.23
Zimmermann, A.C. (2010). Ensaio sobre o movimento humano: jogo e expressividade [Tese, Doutorado em Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação. Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina]. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/93812
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 302, Jul. (2023)