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ISSN 1514-3465

 

O funcionamento e gestão das academias de 

ginástica durante a pandemia da COVID-19

Functioning and Management of the Gyms During the COVID-19 Pandemic

El funcionamiento y la gestión de gimnasios durante la pandemia de COVID-19

 

Marilia de Rosso Krug*

mkrug@unicruz.edu.br

Andressa Rubia Heemann**

arheemann@gmail.com

Eduardo Tanuri Pascotini***

dudatanuri@hotmail.com

Juliedy Waldow Krupski+

juliedykupske@gmail.com.br

Rodrigo de Rosso Krug++

rkrug@unicruz.edu.br

 

*Graduada em Educação Física

pela Universidade Federal de Pelotas

Mestrado em Ciência do Movimento Humano

pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Doutorado em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde pela UFSM

Docente e coordenadora do curso de Educação Física Bacharelado

da Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ)

Docente permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu

em Atenção Integral a Saúde da UNICRUZ em associação ampla

com a Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ)

e Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

URI/Erechim – PPGAIS/UNICRUZ/UNIJUÍ/URI

**Acadêmica do Curso de Educação Física Licenciatura da UNICRUZ

Técnica em Mecatrônica pelo Colégio Evangélico de Panambi-RS

Bolsista do Programa de Iniciação a docência PIBID/UNICRUZ

Bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Cientifica

da Universidade de Cruz Alta - PIBIC/UNICRUZ

***Graduação em Educação Física pela UNICRUZ

Graduação em Fisioterapia pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

Especialização em Ciências do Movimento Humano pela UNICRUZ

Especialização em Fisioterapia Traumato-Ortopédica (Uningá)

Mestrado em Farmacologia pela UFSM

Doutorado em Bioquímica pela UFSM

Professor do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul)

+Doutoranda em Ciências do Movimento Humano

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCMH/UFRGS)

Mestre em Atenção Integral a Saúde (UNICRUZ/UNIJUÍ/URI)

Especialista em Saúde da Família/Residência Multiprofissional (UNIJUÍ/FUMSSAR)

Bacharel e Licenciada em Educação Física pela UNIJUÍ

Integrante do GERON - Grupo de Pesquisa em Gerontologia (UFRGS)

++Licenciado pleno em Educação Física (UNICRUZ)

Mestre em Ciências do Movimento Humano (UDESC)

Doutor em Ciências Médicas (UFSC)

Professor Adjunto I dos Cursos de Educação Física

Bacharelado e Licenciatura da Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ)

Professor do Programa de Pós-Graduação em Atenção Integral á Saúde (PPGAIS)

Editor-chefe da Revista Biomotriz/UNICRUZ

Líder do Grupo de Extensão e Pesquisa

em Educação Física (GEPEF/UNICRUZ)

(Brasil)

 

Recepción: 05/05/2022 - Aceptación: 20/05/2023

1ª Revisión: 22/03/2023 - 2ª Revisión: 15/05/2023

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Cita sugerida: Krug, M. de R., Heemann, A.R., Pascotini, E.T., Kupske, J.W., e Krug, R. de R. (2023). O funcionamento e gestão das academias de ginástica durante a pandemia da COVID-19. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(301), 20-38. https://doi.org/10.46642/efd.v28i301.3482

 

Resumo

    O presente estudo teve como objetivo analisar as dificuldades e desafios de gestores e profissionais de academias de ginástica, de um município do estado do Rio Grande do Sul, para o atendimento aos seus clientes, em tempos de pandemia da COVID-19. Participaram deste estudo, descritivo, um proprietário e um profissional de Educação Física de quatro academias, totalizando oito participantes, que atuaram com a modalidade de musculação e mantiveram as atividades durante o período da pandemia. O instrumento de recolha de dados foram dois questionários (um para os proprietários e outro para os professores), realizados pelo Google Forms, com questões abertas e fechadas que versou sobre: as dificuldades enfrentadas, as mudanças necessárias e os sentimentos que ficaram. Os dados foram interpretados por meio da análise de conteúdo. Na categoria das dificuldades enfrentadas foram encontradas: financeira, educacional e saúde. As mudanças necessárias citadas foram: as metodológicas, psicológicas, humanas e materiais. Os sentimentos que ficaram foram: valorização, desafio, impotência e desamparo. Após analisar os dados foi possível concluir que houve grandes dificuldades enfrentadas tanto pelos proprietários quanto pelos profissionais, principalmente a dificuldade financeira, mas também foi um período em que ambos se sentiram valorizados pela profissão que exerciam. Realizaram mudanças e se reinventaram para se manterem.

    Palavras chave: COVID-19. Academias. Educação Física. Saúde. Pandemia.

 

Abstract

    The objective of this study is to analyze the difficulties and challenges of managers and professionals of gymnastics academies, from a municipality in the state of Rio Grande do Sul, for the care of their clients, in times of the COVID-19 pandemic. An owner and a Physical Education professional from four academies will participate in this descriptive study, totaling eight participants, who will perform with a bodybuilding modality and maintain the activities during the pandemic period. The data collection instrument consists of two questionnaires (one for the owners and the other for the teachers), made using Google Forms, with open and dated questions that deal with: the difficulties faced, the necessary changes and the feelings that were expressed. The data are interpreted by means of content analysis. In the category of difficulties faced were found: financial, educational and health. The necessary changes mentioned above are: methodological, psychological, human and material. The feelings that remained were: appreciation, challenge, impotence and helplessness.: valorization, challenge, impotence and helplessness. After analyzing the data, it was possible to conclude that there were great difficulties faced by both the owners and the professionals, mainly due to financial difficulties, but it was also a period in which both felt valued by the profession they exercised. They will carry out changes and reinvent themselves to maintain themselves.

    Keywords: COVID-19. Gyms. Physical Education. Health. Pandemic.

 

Resumen

    El presente estudio tuvo como objetivo analizar las dificultades y desafíos de gerentes y profesionales de gimnasios, en un municipio del estado de Rio Grande do Sul, para atender a sus clientes, en tiempos de la pandemia de COVID-19. Participaron de este estudio descriptivo, un propietario y un profesional de Educación Física de cuatro gimnasios, totalizando ocho participantes, que trabajaban con la modalidad de musculación y mantuvieron actividades durante el período de pandemia. Los instrumentos de recolección de datos fueron dos cuestionarios (uno para los propietarios y otro para los docentes), realizados a través de Google Forms, con preguntas abiertas y cerradas que trataban: las dificultades enfrentadas, los cambios necesarios y los sentimientos que resultaron. Los datos fueron interpretados a través del análisis de contenido; en la categoría de las dificultades enfrentadas, se encontraron las siguientes: financiera, educativa y de salud. Los cambios necesarios citados fueron: metodológicos, psicológicos, humanos y materiales. Los sentimientos que quedaron fueron: aprecio, desafío, impotencia y desamparo. Después del análisis de los datos, fue posible concluir que hubo grandes dificultades enfrentadas tanto por los propietarios como por los profesionales, principalmente la dificultad financiera, pero también fue un período en el que ambos se sintieron valorados por la profesión que ejercían. Realizaron cambios y se reinventaron para mantenerse.

    Palabras clave: COVID-19. Gimnasios. Educación Física. Salud. Pandemia.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 301, Jun. (2023)


 

Introdução 

 

    O mundo viveu uma pandemia, que agora é endêmica, causada por um vírus descoberto em dezembro de 2019 na China, conhecido como COVID-19. De acordo com o Ministério da Saúde – MS (MS, 2021a), a COVID-19 é uma infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, potencialmente grave, de elevada transmissibilidade e de distribuição global.

 

    Até dezembro de 2021, encontrou-se registros de mais de 616 mil mortes no Brasil. Para reduzir estes registros a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021), tomou medidas drásticas, entre elas, o isolamento social, o qual foi acatado por diversos países, incluindo o Brasil. Em 22 de abril de 2020 foi aprovada pelo MS a recomendação nº 027que tratava sobre o isolamento social, tendo como justificativa que o enfrentamento à pandemia estava sendo mais efetiva em países que atenderam as orientações da OMS (MS, 2021b).

 

Imagem 1. As academias permaneceram fechadas durante o isolamento social 

devido à pandemia do COVID-19, causando enormes prejuízos financeiros

Imagem 1. As academias permaneceram fechadas durante o isolamento social devido à pandemia do COVID-19, causando enormes prejuízos financeiros

Fonte: Criador de imagens de Bing

 

    A partir da recomendação nº 27, do MS, apenas os serviços essenciais poderiam continuar seus atendimentos durante o isolamento social, fato que impossibilitou a abertura das academias de ginástica, já que elas não foram consideradas como serviços essenciais (MS, 2020). Situação esta que mudou a partir do Decreto nº 10.344, de maio de 2020, que recomendou que as academias passassem a ser consideradas como serviço essencial, possibilitando que retornassem aos atendimentos presenciais, ficando, no entanto, a critério de cada estado a decisão de permitir ou não a abertura das academias. (MS, 2021a)

 

    O governador do estado do Rio Grande do Sul apoiou a decisão de abertura das academias salientando que vivíamos em um momento crítico da pandemia e que os profissionais de Educação Física (EF) teriam a responsabilidade de promover efetivamente a saúde das pessoas através da prática do exercício físico. A decisão do governo do estado, no entanto, foi de que cada município decidiria sua cogestão. (Rio Grande do Sul - RS, 2020)

 

    No município onde o presente estudo foi realizado a decisão foi de manter as academias impedidas de realizarem as atividades presenciais. Nesse sentido, as mesmas tiveram que criar novas estratégias de gestão, se reinventando. Este fato ocorreu em outros estados como mostra o estudo de Araújo-Junior et al. (2020) realizado em Maceió que também estava na mesma situação. Os referidos autores relataram as mudanças no cenário fitness com a pandemia, e como estas tiveram que se reinventar buscando alternativas como aplicativos, redes sociais e a inserção do treinamento online em grande massa.

 

    A partir das mudanças supracitadas foi necessário pensar novas formas de gestão. Segundo Melo, e Sila (2013) a preparação do profissional de Educação Física (EF) para desenvolver competências fundamentais para assumir, dentre tantos postos de trabalho possíveis, os da Gestão Esportiva, já vem sendo desenvolvida nesta área.

 

    Silva em 2003 já apontava para o papel dos responsáveis pela formação profissional o atendimento das demandas surgidas pelas novas necessidades da sociedade e do mercado de trabalho. A autora destaca, entre vários pontos, a necessidade do profissional de EF assumir um papel de empreendedor, tomando para si o gerenciamento de seu desenvolvimento no mercado de trabalho. (Silva, 2003)

 

    Ainda que a gestão de academias não seja realizada, exclusivamente, por profissionais formados em EF, a identificação dos saberes e habilidades necessárias para o exercício dessa função a partir do depoimento de quem a exerce e discutidos à luz da literatura da área da Administração, pode trazer importantes subsídios para o aprimoramento da formação profissional inicial ou continuada em Educação Física. (Melo, e Sila, 2013)

 

    Muitos esforços foram realizados para manter as pessoas ativas fisicamente. Na cidade de Wuhan, China, epicentro inicial da doença, o governo local recomendou a população manter-se fisicamente ativa em casa (Chen et al., 2020). O American College Sports of Medicine (ACSM), logo após a OMS decretar pandemia, reuniu em sua página na Internet um vasto material sobre dicas para manter-se fisicamente ativo. (ACSM, 2020)

 

    Ovando et al. (2021) salienta que indivíduos ativos fisicamente, por períodos prolongados são mais aptos fisicamente com relação à saúde e que o exercício regular instituído causa impacto positivo na aptidão física relacionada a saúde.

 

    Nesse sentido e considerando que as formas como os profissionais se reinventaram, para continuarem no mercado de trabalho, podem ser importantes subsídios para reorientar os currículos dos cursos de Educação Física Bacharelado, bem como para nortear outras academias, tendo em vista que este período de restrições, ainda, pode continuar por um longo tempo, busca-se com este estudo analisar as dificuldades e desafios de gestores e profissionais de academias de ginástica, de um município do estado do Rio Grande do Sul, para o atendimento aos seus clientes, em tempos de pandemia da COVID-19.

 

Métodos 

 

    A pesquisa caracterizou-se como qualitativa exploratória. O estudo foi desenvolvido no município Panambi, situado na região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul – RS que atuam com a modalidade de musculação.

 

    Todos os proprietários das oito academias de musculação existentes em 2021 no município de Panambi-RS que mantiveram suas atividades laborais no período da pandemia (2020 e 2021) foram contatados e convidados para participarem do estudo. Destas apenas quatro aceitaram, representando 50% do total. Desta forma, a amostra foi composta por oito (8) participantes o proprietário e um profissional de Educação Física de cada academia.

 

    Os instrumentos de pesquisa foram dois questionários enviados no mês de agosto de 2021, realizados pelo Google Forms, com questões abertas e fechadas, elaborado a partir de uma matriz de análise. Um foi aplicado aos proprietários das academias e o outro com os profissionais. Os proprietários foram questionados sobre as principais mudanças necessárias devido a pandemia e a demanda que ela exigiu, desde a gestão até a prescrição de treinamentos e os sentimentos que ficaram. Já os profissionais responderam questões que se referiam a como conseguiram se manter na área e os métodos de treinamento utilizados e os sentimentos que ficaram.

 

    Os dados foram interpretados a partir da análise de conteúdo, considerando suas três etapas: a pré-análise, onde foi realizada a organização e seleção do material para a construção dos indicadores; a exploração do material, onde foi realizada a leitura, codificação e escolha das categorias; e, a análise, onde ocorreu a descrição e a interpretação dos dados. (Bardin, 2011)

 

    Para preservação das identidades foi atribuído nomes fictícios aos participantes, sendo as designações de “P”, para os proprietários, seguidos dos números 1 a 4 e “PEF” para os Profissionais de Educação Física, seguidos dos números de 1 a 4.

 

    O projeto foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa, parecer nº 5.001.534. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

 

Resultados e discussões 

 

    Dos quatro proprietários das academias dois eram do sexo masculino e dois do sexo feminino, com idade entre 31 e 43 anos e dos quatro profissionais dois eram do sexo masculino e dois do sexo feminino, com idade entre 24 e 32 anos, todos formados em Educação Física Bacharelado.

 

    Os resultados do presente são semelhantes aos obtidos por Santana et al. (2012); de acordo com o referido autor, no Brasil, 69,23% dos gestores são do sexo masculinos e 90% de todos os gestores apresentam ensino superior completo na área da Educação Física.

 

    O tempo de gestão dos proprietários variou de cinco a 23 anos e tempo de serviço dos profissionais de três a nove anos. Três dos proprietários possuíam especialização, nas áreas da saúde e qualidade de vida (P2), gestão no esporte (P1) e fisiologia do exercício (P4). Já entre os PEF somente dois possuíam especialização, sendo elas: gestão no esporte (PEF1) e nutrição esportiva (PEF3). Importante destacar que os profissionais além de gestores do seu negócio também atuavam como instrutor ou personal trainer em seus estabelecimentos. Com relação a busca por cursos de especialização, na área de gestão, os resultados do presente estudo concordam com os obtidos por Santana et al. (2012), encontrou apenas 14% dos gestores com especialização em Administração/Marketing.

 

    De acordo com Santana et al. (2012), com as academias atendendo, a cada dia, maior público, com maior volume de receitas, investimentos e aumento da competitividade, as práticas administrativas e de gestão de negócios exigem gestores com uma qualificação não apenas técnica e específica da área de Educação Física, mas outras competências que são encontradas nas escolas de negócios e administração.

 

    Os resultados do presente estudo serão analisados a partir de três categorias: a) dificuldades enfrentadas pelos proprietários e profissionais das academias; b) mudanças/adaptações realizadas; e, c) sentimentos que ficaram. Na Tabela 1 encontram-se os resultados obtidos em cada uma das categorias.

 

Tabela 1. Dificuldades enfrentadas, mudanças realizadas 

e sentimentos que ficaram. Rio Grande do Sul, Brasil, 2021

Categorias

Proprietários

Profissionais de EF

Dificuldades enfrentadas

Financeiras

Financeira

Redução do número de alunos

Uso de máscaras

Falta da vacina

Manter distanciamento do aluno

Mudanças/adaptações realizadas

Diminuição do quadro de funcionários

Utilização de ferramentas online, aulas por aplicativo

Redução do tempo de aula

Elaboração de lives e vídeo aulas

Revisão da política de valores

Organização de novos protocolos de aula

Fornecimento de kits de higiene pessoal

Sentimentos que ficaram

Valorização

Necessidade de apoio psicológico

Desafio

Valorização

Impotência

Renovação

Desamparo

Desvalorização

Insegurança

Desamparo

Fonte: Os autores

 

Dificuldades enfrentadas pelos proprietários e profissionais das academias de ginástica 

 

    Observando os resultados apresentados na Tabela 1, no que se refere as dificuldades encontradas, nota-se que a maior delas foi a financeira, citada por todos os participantes do estudo, tanto entre os gestores/proprietários quanto entre os profissionais. Esta dificuldade financeira foi resultado da necessidade de redução do número de aulas e do número de alunos o que repercutiu em uma redução de salário dos profissionais, já que recebem por aulas dada.

 

    Para o enfrentamento das dificuldades financeiras os proprietários tiveram que “cortar custos”. Sendo, desta forma, os profissionais os mais afetados pois neste corte de custos, pois ocorreram demissões, redução de carga horária de trabalho e como consequência redução de salário. Outra atitude tomada pelos proprietários para driblar a crise financeira foi a revisão da política de valores, reduzindo os valores dos planos e a renegociação das dívidas da academia junto aos bancos financiadores. De acordo com os proprietários teve momentos em que não foi possível realizar o pagamento de diversas contas: os proprietários P1 e P2 descreveram a situação:

    […] os meses que ficamos inteiramente fechados prejudicaram, pois, a maioria das contas é constante e não houve abatimento daqueles meses, nos outros trabalhamos sempre de forma a tentar recuperar um pouco, e sempre que estávamos perto de atingir o que era necessário, fechava novamente ou se aumentavam as restrições. (P1)

 

    […] os alunos tinham planos anuais, e as mensalidades acabaram entrando todos os meses normalmente, com as condições que depois eles teriam direito de recuperar todas as aulas, isso afetou um pouco o financeiro na volta da academia, onde já havia sido pago os meses.[…] no momento que tivemos que fechar as academias os bancos também fizeram um congelamento das parcelas, e voltaram somente quando as academias puderam retornar as atividades. (P2)

    Essas dificuldades que surgiram inesperadamente como consequência da COVID-19, traz à tona a realidade de empreendedores brasileiros, que estavam com seu negócio projetado, mas tiveram um contratempo nos seus planejamentos. A readequação de valores para manter seus clientes, além dos bancos congelar parcelas afetaram o pagamento das contas, as quais não houve congelamento para compensar, abalando o fluxo do caixa, e os proprietários das academias tiveram que buscar alternativas para manterem seu negócio.

 

    Uma pandemia afeta a vida de todas as pessoas. Gama Neto (2020) em seu estudo fala sobre como uma pandemia afeta a economia da população, com relatos de pandemias já existentes anteriormente onde veio à tona a questão financeira da população. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPEA (IPEA, 2021) trouxe dados que apontam que os impactos conhecidos da pandemia de COVID-19 em 2020 no Brasil foram fortes, não apenas em comparação às séries históricas do próprio país, mas também no contexto internacional. Segundo os indicadores, o Brasil e outros países latino-americanos estão entre os mais atingidos do mundo em perdas de vidas e de empregos.

 

    Murphy, Nort, e Strong (2020) reforçam que as medidas para conter a dissipação da doença impactam diretamente na economia do país. De acordo com os referidos autores, empresas de diversos portes e setores foram forçadas a fechar suas portas e/ou funcionar de forma remota. O que aconteceu com a maioria das academias, não só no Rio Grande do Sul, mas em vários lugares do mundo. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE, as academias estão no grupo de atividades mais afetadas pela crise sanitária no Brasil, metade delas está com dívidas em atraso. (Sebrae, 2021)

 

    De acordo com Araújo-Junior et al. (2020), as academias de ginástica tem sido fortemente afetadas pela crise da COVID-19, pois priorizam o seu funcionamento na dependência de um ambiente físico. Almeida, Moares, e Reis (2021) citam que o faturamento dos pequenos empresários teve queda de 69% em referência a uma semana normal de meses anteriores, o que revela que tais negócios são extremamente sensíveis à crises globais.

 

    Uma vez que esta crise teve repercussão mundial, é relevante notarmos que, em outras nações, os impactos observados neste estudo foram semelhantes. Em uma pesquisa realizada na cidade de La Plata, na Argentina, em 35 academias mostrou que menos de 50% dos alunos retornaram aos estabelecimentos após os planos de reabertura em setembro de 2020, estendendo os impactos econômicos desta situação, mesmo após o retorno à presencialidade. (Ochoteco, 2021)

 

    Abalando a economia da população, uma das alternativas procuradas foram os programas oferecidos pelo governo para auxiliar nas despesas dos afetados pela pandemia. Segundo Trovão (2020), o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (MP nº 936) ordena perdas graduais aos trabalhadores formais. As perdas são tão maiores quanto maiores forem os salários e maiores forem os cortes de salário e jornada. As estimativas de Welle et al. (2020), e Trovão (2020) afirmam que o auxílio emergencial é insuficiente para compensar as perdas sofridas pelos trabalhadores formais nesse período de crise.

 

Mudanças/adaptações realizadas durante a pandemia 

 

    Em relação as mudanças/adaptações realizadas para o enfrentamento da pandemia, se observou que elas aconteceram de forma semelhante para os proprietários, tanto no momento em que as academias ficaram fechadas quanto no momento em que foram abertas, pois não poderiam funcionar da mesma forma que antes. Muitos alunos cancelaram seus contratos por medo de contágio e nem todos aderiram as aulas online ou por aplicativos. Esta redução levou os proprietários a revisão da política de valores e consequentemente a redução do quadro de profissionais.

 

    Os profissionais que se mantiveram no seu emprego tiveram que se atualizar e buscar alternativas de trabalho. Aprenderam a utilizar aplicativos online, elaboram vídeos aula e lives e reestruturaram os protocolos de treinamento, adequando as necessidades do momento focando mais em saúde e qualidade de vida. Das quatro academias estudadas, três delas utilizaram vídeos e lives nas redes sociais, para manterem seus alunos ativos. Um dos participantes do estudo destacou que o uso de plataformas digitais foi algo que promoveu apenas o aumento no consumo e não na demanda como podemos observar pela sua fala:

    […] foram utilizados os recursos digitais, porém acredito que o aumento não foi na demanda e sim no consumo. Àquela regra de proporção de quando aumento no consumo se aumenta proporcionalmente a demanda não ocorre nas redes sociais, pois diariamente são produzidos milhares de conteúdos de diversas fontes e sobre diversos temas. (P2)

    O uso de ferramentas online está se tornando comum, e cada dia mais as pessoas estão buscando por praticidade e adequação a sua rotina. Muitas vezes, ter um aplicativo se torna mais fácil a prática de exercícios físicos, pois não é preciso ir até a academia para praticar, além de poder adequar no melhor horário do seu dia. Por isso, os profissionais de hoje, devem se atualizar, fornecendo esse tipo de trabalho com acompanhamento individualizado para seus clientes, oportunizando uma prática responsável a quem procura.

 

    Em relação as prescrições um dos profissionais relatou:

    […] nos meses em que estivemos completamente fechados, houve apenas algumas prescrições de treinos que foram passadas diretamente para cada aluno via aplicativo da academia. Nos meses de restrições, quando foram suspensas as aulas coletivas, e o treino na musculação ocorria de uma forma um pouco mais distante, voltamos a utilizar a ficha de treino e aumentamos a independência de cada aluno sobre seu treino. (PEF1)

    Cabe ressaltar, que os treinamentos por aplicativos aumentaram, como já citado, e que a necessidade de se reinventar surgiu nessa pandemia, alterando a forma de trabalho de muitos profissionais que poderiam atender apenas de forma online com consultorias e métodos afins. Araújo-Junior et al.(2020) reforçam que para conter a disseminação da doença e as incertezas que afetaram as grandes e pequenas empresas do mundo ftness, fizeram com que o meio digital ganhasse força no setor. E as novas tecnologias têm contribuído para atender as necessidades dos clientes, o que permite tais empresas inovarem, atuarem em novos modelos de negócios e atingirem maiores amplitudes. (Carvalho, Silva, e Oliveira, 2022; Raiol, 2020)

 

    Ochoteco (2021), ainda em seu estudo na Argentina, também observou que 80% das academias estudadas admitiram que pretendem continuar com seus programas de atendimentos e consultorias para o exercício físico de forma online, após as suas instalações em função do período pandêmico. Seguindo essa tendência mundial, em Bogotá, na Colômbia, um clube de treinamento físico e desportivo, desenvolveu um sistema de treinamento para ser realizado de forma virtual, o Reto 15D.

 

    O Reto 15D é um programa de treinamento por rotinas, realizado de forma virtual por profissionais de Educação Física. Ele tem a duração de 15 dias, onde os usuários, através de uma plataforma virtual, realizam as atividades em casa com o acompanhamento destes profissionais. (Martínez, Peñuela, e Lozano, 2021)

 

    No entanto, essa “nova” forma de trabalhar afetou os clientes das academias e os profissionais, pois a utilização de aplicativos de treinamento e treinos online sem a presença do profissional, pode gerar mais autonomia aos praticantes, mas a prática de exercícios físicos sem supervisão pode ser um risco, principalmente quando o público alvo são pessoas idosas e com doenças crônicas degenerativas o que exige uma atenção especial em relação a execução e intensidade do esforço. (Murphy, Nort e Strong (2020)

 

    Nesse sentido, para manter as atividades, o ambiente exige das organizações uma resposta rápida frente aos acontecimentos, além da reconfiguração, redirecionamento, transformação, formatação e integração nas diversas atividades que compõem a construção de estratégias (Murphy, Nort e Strong (2020). Aveni (2020) relata que muitas empresas se tornaram ativas na pandemia com teletrabalho.

 

    Almeida, Morais, e Reis (2021) salientam que os empresários de academias de ginástica e seus consumidores destacam que a pandemia foi um meio para o setor aperfeiçoar o modo de ofertar o serviço por intermédio da adição de novos hábitos e necessidades de consumo que poderão apontar novas rotinas e tendências pós-pandemia.

 

    Para Bertevello (2006), encontra-se no Brasil diferentes modelos de gestão de academias, respeitando o local em que se situam e de acordo também com o poder aquisitivo de seus praticantes e isso contribuiu para uma maior profissionalização e tornando-se importante inclusive para a geração de emprego e para a atividade econômica do país. Por este motivo, a profissionalização dos gestores se tornaram peças vitais no processo da administração destas organizações e, entre os conhecimentos de um gestor qualificado, estão as atividades de marketing, vendas, conhecimentos fiscais e de tributação, gerência de recursos humanos, gerência de instalações e supervisão de outros segmentos (Bastos, Fagnani, e Mazzei, 2011)

 

    Araújo Junior et al. (2020) demonstram o grande engajamento que as ferramentas online proporcionaram para as academias, tipos distintos de postagens, sendo a maioria realizada na rede social Instagram/Facebook totalizando 85% das postagens, as outras ficaram divididas entre o aplicativo Zoom e aplicativo próprio da academia, quantidade de visualizações foi registrado um total de 35.612 visualizações.

 

    No estudo realizado pela prestadora de consultoria especializada App Annie (2020) em maio de 2020 no Brasil, praticamente no início da pandemia, foi informado que o número de downloads de aplicativos fitness aumentou em 3,2 milhões por semana, resultando em um aumento na demanda de treinamentos online da população.

 

    A literatura recente tem referenciado a utilização de novas tecnologias de informação e comunicação para transmitir mensagens sobre a importância da atividade física para a saúde e qualidade de vida das pessoas. Entender como empregar mensagens sobre atividade física e saúde de maneira eficaz, utilizando tecnologias de informação e comunicação, bem como qual o conteúdo a ser elaborado, pode ser um importante passo para otimizar conteúdos direcionados aos subgrupos que utilizam os serviços das academias de ginástica. (Wilianson et al., 2020)

 

    Destaca-se que a preocupação do mercado fitness em fazer uma aproximação do off-line (estrutura física) com o online (tecnologias virtuais) já vem sendo identificada há alguns anos. Resultados da pesquisa anual do ACSM com profissionais da área do fitness, sobre tendências de consumo, apontam a wearable technology (tecnologia vestível, em uma tradução literal) como primeira colocada para 2020 num ranking com vinte tendências, isso desde que entrou na lista em 2016 (excetuando 2018, terceiro lugar) e, recentemente foram incluídas outras terminologias como: online training e mobile exercise apps, mostrando uma tendência de crescimento nesse mercado. (Thompson, 2020)

 

    Quando as academias reabriram tanto os alunos quanto os profissionais tiveram que ter uma preocupação dobrada com a higiene, uso de álcool gel e máscaras. Com relação a estas adaptações os profissionais relataram:

    […] acredito que houve momentos em que as mudanças foram importantes, como restringir o número de pessoas de forma concomitante na academia. O uso do álcool em gel e da higienização já era uma prática nossa na academia que somente acabou sendo acentuada, já o uso de luvas prescrito inicialmente como essencial era um erro enorme e sabidamente foram excluídos dos decretos seguintes. O uso da máscara durante o treino ainda é algo questionável e eu acredito que, após a segunda dose da vacina deveria ser opcional. Sabe-se que ela representa uma perda na capacidade cardiorrespiratória […]. […] acredito que o uso da máscara não só atrapalhe nesse quesito como espanta do ambiente muitas das pessoas que mais precisariam treinar nesse momento, como cardiopatas e asmáticos, por exemplo. (P1)

 

    […] os protocolos vieram para trazer segurança aos que saíram de suas casas nessa época de pandemia, mesmo que de certa forma tenha mudado muito o cotidiano, ainda proporcionou proteção para não afetar ainda mais a vida das pessoas. (P2)

 

    […] apesar do desconforto do uso das máscaras foi necessário para o momento, porém, agora com as vacinas, a vida esta voltando ao normal, e seu uso poderia passar de obrigatório a opcional, mantendo os hábitos de higiene como a utilização do álcool 70% e lavar as mãos com frequência. (P3)

    Observa-se pelos relatos dos participantes do estudo, que com todo o assolamento da pandemia, houve a necessidade de mudanças, tais como: a necessidade do uso dos kits de higiene e protocolos de segurança, que, mesmo sendo algo necessário para a proteção das pessoas, provocava sensações de incomodo principalmente pelo uso das máscaras, pois ela dificultava o contato com os alunos e os prejudicava, principalmente quando tinham que realizar atividades mais pesadas.

 

    Alguns estudos reforçam o prejuízo que o uso de máscaras pode causar. Segundo Cabral (2020), o uso das máscaras priva o acesso aos recursos linguísticos importantes e essa camada extra de proteção gera alguns efeitos colaterais como a perda da expressividade causada pela movimentação dos órgãos fonoarticulatórios.

 

    De acordo com o autor supracitado, as máscaras causam uma atenuação na frequência da fala que são responsáveis pela discriminação de vários fonemas, afetando principalmente quem tem alguma deficiência auditiva. Garcia (2020) destaca que o uso de máscaras por pessoas assintomáticas não é recomendado, pois não há evidência de sua efetividade para redução da transmissão e ainda o uso da máscara representa a falsa sensação de proteção, fazendo que as pessoas não tomem os cuidados necessários que são reconhecidamente mais efetivos.

 

Os sentimentos que ficaram 

 

    Analisando os sentimentos que ficaram, observou-se mais sentimentos negativos que positivos. Os pontos positivos foram a necessidade de se reinventar trazendo desafio e a valorização, pelo fato de as pessoas passarem a dar mais importância para a área da Educação Física, e os negativos, além da sensação de impotência e insegurança, também a desvalorização e desamparo que sentiram, principalmente por parte dos conselhos federais e regionais de Educação Física que os representam, das mídias e do governo que simplesmente não deram a devida importância aos profissionais e só ao exercício, dando a população a ideia de que pode-se buscar uma prática de exercícios físicos sem auxilio, não se dando conta dos riscos que a prática do exercício físico sem acompanhamento pode trazer. Estes resultados podem ser observados pelos extratos a seguir:

    […] desamparado, pelo sistema e principalmente pelo conselho da nossa classe. Entendi que era um momento propício para que as maiores autoridades confirmassem a importância do nosso trabalho para a saúde da população. Mas isso foi negligenciado nas grandes mídias, nosso ambiente de trabalho foi deturpado por várias pesquisas que relatavam os riscos de contágio nas academias, se defendeu demais os treinos desacompanhados, o que futuramente vai gerar graves riscos de lesões e desconhecimentos que poderão ser sentidos por mais de uma geração. Resumindo em um momento que todos poderiam nos ver como parte da solução, como saúde e qualidade de vida, nossa própria classe e conselho pensaram mais em se prevenir, em estética e treinos em casa, sobressaindo àqueles que tem ferramentas de marketing e nunca se prepararam para ser profissionais de saúde, mas apenas “personal trainer de corpos sarados”. (P2)

 

    […] desamparado, pelo sistema e principalmente pelo CREF, nosso conselho que deveria ter aproveitado o momento para ter exigido direitos mínimos para trabalhadores da saúde, que nós somos, e pelo nosso conselho que nada fez em relação ao aumento do desemprego na nossa área, tornando muitos dos funcionários em empreendedores bem no meio da maior crise de saúde de toda uma geração. (PEF1)

    Os proprietários sofreram muito na pandemia para exercer seus trabalhos, na maioria dos momentos foram desamparados, não tinham como trabalhar com as academias fechadas, e perderam muitos alunos para os treinamentos por aplicativos gratuitos e sem acompanhamento. Em uma fase em que deveria se valorizar o trabalho deles, pois a prática de exercícios físicos melhora a saúde, e isso foi muito evidenciado.

 

    Este desamparo levou os profissionais a refletirem sobre sua estabilidade no emprego, sentiram-se perdidos e inseguros, tendo que recorrer ao apoio psicológico para enfrentamento deste momento atípico de suas vidas. De acordo com profissionais, depender de um emprego em uma academia pode ser limitante e sem segurança. Mas também citaram um sentimento positivo de valorização e importância atribuída pela comunidade para a saúde, pelo fato de ser visto como essencial e o sentimento de se reinventar e se readequar em uma situação ainda não presenciada.

 

    Destaca-se que, quando os profissionais citam a desvalorização estão se referindo, também, a não terem sido considerados como grupo prioritário para receberem a vacina. Em março de 2020 a classe da Educação Física foi vista como parte dos trabalhadores do grupo de saúde, mas no momento de receber a vacina, isto foi desconsiderado, conforme podemos observar pelo oficio emitido pelo Conselho Regional de Educação Física do Estado do Rio Grande do Sul - CREF/RS (ofício Circular Nº 57/2021/SVS/MS):

    trabalhadores dos demais estabelecimentos de serviços de interesse à saúde (exemplos: academias de ginástica, clubes, salão de beleza, clínica de estética, óticas, estúdios de tatuagem e estabelecimentos de saúde animal) não estão contemplados nos grupos prioritários elencados inicialmente para a vacinação. (CREF/RS, 2021, p. 02)

    Uma nota emitida pela Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde – SBAFS, que publicou no Facebook, no dia 14 de maio de 2020 se posicionando de maneira contrária à reabertura das academias (SBAFS, 2020), também foi apontada pelos profissionais como desvalorização da classe como profissionais de saúde.

 

    Também pode-se verificar, de acordo com o MS, que no início da pandemia, as academias ficaram no grupo de não essenciais (MS, 2021a), mantendo-se fechadas por meses, e por mais que as falas eram de incentivo a prática de atividades físicas, as ações iam contra. Mesmo com a mudança no decreto, as academias já estavam fechadas a meses, e já haviam sido afetadas.

 

    Por sua parte, a Associação Brasileira de Academias (ACAD, 2021) apoia totalmente a reabertura, tanto que criou uma cartilha falando sobre quão importante o exercício é no combate a COVID-19 e as consequências que ele trouxe a população, relatando que, as academias são parte da solução e não do problema.

 

    Por fim, os sentimentos que ficaram, foram principalmente da falta de apoio, desamparo, causando sensação de impotência, insegurança e desvalorização, já que os que nos representam ficaram contra a atuação nesse momento que a atividade física ajudaria tanto na saúde corporal como psicológica.

 

    Analisando os relatos tanto dos proprietários quanto dos profissionais fica nítido que ambos sofreram com a pandemia, principalmente na parte financeira, onde ficaram desamparados e tiveram que buscar estratégias de sustento fora do ambiente de trabalho.

 

Conclusão 

 

    Após analisar os dados e considerando o objetivo do estudo, foi possível concluir que tanto os proprietários quanto os profissionais das academias enfrentaram muitas dificuldades, sendo a financeira a principal delas. Esta dificuldade os levou a se reinventarem em vários aspectos, uns positivos e outros não tão bons como redução de salários dos professores, fazendo que estes tivessem que fazer uso dos recursos do governo, entre outros. Medida esta que gerou sentimentos de insegurança na estabilidade de seu trabalho entre os profissionais.

 

    As estratégias dos proprietários para driblar este momento difícil foi reduzir a carga horária dos funcionários o que repercutiu diretamente na vida dos profissionais, congelaram contas e fizeram empréstimos. Já os profissionais passaram a buscar novas formas de trabalhar como utilização de ferramentas online, organização de novos protocolos de aula, lives e vídeos aula.

 

    Para os proprietários e profissionais, acreditamos que os sentimentos relatados os acompanham até hoje, pois as academias ainda não retornaram as condições de antes da pandemia. Falta mais divulgação da importância da atividade física como fator preventivo e de reabilitação.

 

    Essa pandemia trouxe, apesar dos momentos difíceis para a área da Educação Física, momentos de estudos e comprovações sobre quão importante é o exercício físico para todos. Agora é o momento de todos os profissionais e proprietários se reinventarem e se atualizarem para esse novo mundo, pós-pandemia, para que saibam como trabalhar em novas situações que possam surgir.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 301, Jun. (2023)