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ISSN 1514-3465

 

A importância da atividade física na saúde mental em

estudantes do ensino superior. Revisão de literatura

The Importance of Physical Activity on Mental Health

in Higher Education Students. Literature Review

La importancia de la actividad física en la salud mental de

estudiantes de educación superior. Revisión de la literatura

 

Lilia Jarina Almeida Martins dos Santos*

liliamartins.lm@gmail.com

Manuela Havena Rosendo Lopes**

havenarosendo@gmail.com

Henrique Souza Nascimento***
psiheriquenascimento@gmail.com

Yesica Nunez Pumariega+

yesicapumariega@hotmail.com

Catalina Dominga Pumariega Torres++

catalinapumariega@gmail.com

Ramón Nunez Cardenas+++

ramonncardenas@yahoo.com

 

*Graduada em Educação Física.
Universidade Federal de Rondônia, UNIR

**Mestre em Psicologia pela UNIR

Especialista em psicomotricidade e desenvolvimento humano

Graduada em Educação Física Licenciatura pela UNIR

Graduanda em Educação Física Bacharel

Participa de projetos de pesquisa da UNIR

***Psicólogo no Centro de Estimulação Infantil - NEUROKIND Rondônia

Especialista em Neuropsicologia (CFP)

Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (FASA)

Docente do curso de Psicologia

do Centro Universitário São Lucas (UNISL/AFYA)

+Licenciada e Mestre em Psicologia pela UNIR

Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pela FASA

Atualmente é doutoranda em Psicologia Clínica

pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

Docente do Ensino Superior no Centro Universitário UNIFAEMA

Coordena o Curso de Psicologia da UNIFAEMA

++Graduada em Pedagogia pela Associação de Ensino Superior da Amazônia

Foi instrutor II no SENAI - Departamento Regional de Rondônia

Especialista em Educação Profissional e Tecnológica

e Gestão-Supervisão e Orientação Escolar

+++Graduado em Licenciatura plena de Educação Física

pelo Instituto Superior Pedagógico Juan Marinello (Cuba)

com Revalidação do Título Em Licenciatura Plena Em Educação Física

pela Universidade Federal de Santa Maria

Mestrado em Educação Física com Revalidação do Título de Mestre

pela Universidade Federal de Minas Gerais

Doutorado em Biologia Experimental

pela Fundação Universidade Federal de Rondônia

Atualmente é professor da Universidade Federal de Rondônia (Associado I)

(Brasil)

 

Recepção: 03/05/2022 - Aceitação: 24/07/2023

1ª Revisão: 16/07/2023 - 2ª Revisão: 20/07/2023

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Santos, L.J.A.M. dos, Lopes, M.H.R., Nascimento, H.S., Pumariega, Y.N., Torres, C.D.P., e Cardenas, R.N. (2023). A importância da atividade física na saúde mental em estudantes do ensino superior. Revisão de literatura. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(305), 130-144. https://doi.org/10.46642/efd.v28i305.3478

 

Resumo

    A prática de Atividade Física (AF) regular pode auxiliar na melhora da qualidade de vida e do bem-estar do indivíduo deprimido e ansioso. Nesse contexto, buscou-se identificar e descrever os achados atuais em relação a ação da AF sobre a saúde mental da população universitária. Trata-se de uma revisão de literatura, com seleção de artigos nas plataformas de pesquisa eletrônica. Para o estudo foram selecionados 7 estudos primários, que pesquisaram a prática de AF e a prevalência de distúrbios mentais (sintomas de ansiedade e depressivos) em alunos do ensino superior. Os resultados mostraram que, 6 dos 7 estudos evidenciaram em seus resultados a relação existente entre AF e sintomas de ansiedade e depressão nos estudantes de ensino superior. A partir dos dados, aponta-se que estudantes universitários têm maior prevalência de desenvolver algum tipo de transtorno mental, devido ao seu estilo de vida acadêmica. Praticantes de atividades físicas, apresentam menores índices de desenvolver algum tipo de transtorno mental, enquanto nos menos ativos, ocorre o inverso.

    Unitermos: Atividade física. Saúde mental. Ensino Superior.

 

Abstract

    The regular practice of Physical Activity (PA) can help improve the quality of life and well-being of individuals dealing with depression and anxiety. In this context, we sought to identify and describe the current findings regarding the impact of PA on the mental health of college students. This is a literature review, with the selection of articles from electronic research platforms. For the study, 7 primary studies were selected, which investigated the practice of PA and the prevalence of mental disorders (anxiety and depressive symptoms) among university students. The results showed that 6 out of 7 studies evidenced a relationship between PA and anxiety and depression symptoms in college students. Based on the data, it is suggested that college students have a higher prevalence of developing some type of mental disorder due to their academic lifestyle. Those who engage in physical activities show lower rates of developing mental disorders, while the opposite occurs in less active individuals.

    Keywords: Physical activity. Mental health. Higher Education.

 

Resumen

    La práctica de Actividad Física (AF) regular puede ayudar a mejorar la calidad de vida y el bienestar de personas deprimidas y ansiosas. En este contexto, buscamos identificar y describir los hallazgos actuales sobre la acción de la AF en la salud mental de la población universitaria. Se trata de una revisión de la literatura, con una selección de artículos sobre plataformas electrónicas de investigación. Para el estudio se seleccionaron 7 estudios primarios, que investigaron la práctica de la AF y la prevalencia de trastornos mentales (síntomas de ansiedad y depresión) en estudiantes de educación superior. Los resultados arrojaron que 6 de los 7 estudios evidenciaron en sus resultados la relación entre la AF y los síntomas de ansiedad y depresión en estudiantes de educación superior. De los datos se señala que los estudiantes universitarios tienen mayor prevalencia de desarrollar algún tipo de trastorno mental, debido a su estilo de vida académico. Los practicantes de actividades físicas tienen menores índices de desarrollar algún tipo de trastorno mental, mientras que en los menos activos ocurre lo contrario.

    Palabras clave: Actividad física. Salud mental. Educación Superior.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 305, Oct. (2023)


 

Introdução 

 

    As palavras "exercício" e "Atividade Física" (AF) são comumente utilizadas para se referir ao mesmo significado, porém, não são sinônimos. O exercício físico, embora esteja inserido na AF, refere-se a ela quando realizado de modo planejado, estruturado e visando melhorar e/ou manter a aptidão física. A AF, sendo mais ampla, engloba todo e qualquer movimento em que o gasto energético seja maior do que em repouso, como andar, varrer a casa, tirar o pó etc. (Caspersen, Powell, e Christenson, 1985)

 

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social (Brasil, 1946). Neste estudo, adotou-se como parâmetros para atividades físicas e exercícios físicos atividades com intensidades moderadas e vigorosas, conforme as recomendações da OMS, que preconiza para adultos (18-64 anos) de 150 a 300 minutos por semana de AF (aeróbica) com intensidade moderada, ou de 75 a 150 minutos de AF (aeróbica) vigorosa, considerando tempos mínimos necessários para trazer benefícios à saúde. Para ganhos adicionais, dependendo dos resultados esperados, recomenda-se realizar atividades de fortalecimento muscular em pelo menos 2 dias na semana. (OMS, 2020; Brasil, 2021)

 

    Quando realizado de forma regular, o exercício físico traz inúmeros benefícios ao praticante. Em indivíduos adultos, promove vantagens como a diminuição da mortalidade por diversas causas, além de auxiliar na saúde mental com a redução dos sintomas de depressão, ansiedade e estresse. (OMS, 2020; Brasil, 2021)

 

    Segundo Sanchotene et al. (2020, p. 03), "[...] A prática habitual de atividade física se caracteriza como um importante componente do estilo de vida associado à promoção da saúde". Os autores afirmam ainda que, apesar dos indícios dos benefícios proporcionados pela prática de AF de forma regular (Bárcena, Ortiz, e Gutiérrez, 2006), ainda há um número expressivo da população que não cumpre com os requisitos mínimos propostos pela OMS.

 

    Estudos como o de Paniccia et al. (2017) demonstram que é constante o adoecimento da saúde mental relacionado ao transtorno de depressão, ansiedade e estresse, que pode iniciar ainda no período da infância e/ou da adolescência. Um dos fatores citados pelos autores que levam a esse adoecimento pode ser o fato do jovem estar em processo de formação da identidade, o que pode ocasionar um momento de turbulência emocional durante essa fase. Dessa forma, esse tipo de quadro também tem se mostrado frequente em jovens ingressantes do ensino superior. (Boumosleh, e Jaalouk, 2017; Fernandes et al., 2018a; Fernandes et al., 2018b; Leão et al., 2018; Lun et al., 2018)

 

    A depressão é uma condição de saúde mental que se manifesta por meio de sintomas como falta de vontade, tristeza persistente, humor deprimido e perda de interesse em atividades anteriormente prazerosas (Vignola, e Tucci, 2014; APA, 2014). Essa sintomatologia pode ser vivenciada em diferentes fases da vida, variando em sua intensidade e duração, o que pode determinar se ela é considerada como uma resposta emocional normal ou uma condição patológica. A depressão pode afetar significativamente o funcionamento diário, o bem-estar emocional e o relacionamento interpessoal do indivíduo.

 

    A ansiedade é uma resposta emocional natural e adaptativa do ser humano diante de situações percebidas como ameaçadoras, porém, quando se torna excessiva e persistente, pode se manifestar como um transtorno de ansiedade. Diversos fatores podem contribuir para o desenvolvimento desse transtorno, incluindo predisposição genética, desequilíbrios neurobiológicos, eventos estressantes, traumas e condições de saúde mental preexistentes. Os principais sintomas da ansiedade abrangem sentimentos intensos de medo, angústia e preocupações excessivas sobre o futuro, acompanhados por inquietação, irritabilidade, tensão muscular, insônia e dificuldade de concentração. (Apóstolo, Mendes, e Azeredo, 2006)

 

    O estresse é uma resposta natural do organismo frente a fatores estressores, que podem ser eventos internos ou externos, não programados e não esperados. Esses eventos desencadeiam uma série de reações fisiológicas e psicológicas, incluindo tensão, irritabilidade, agitação, tristeza, dificuldade em relaxar e impaciência, entre outros sintomas (Vignola, e Tucci, 2014). É importante ressaltar que nem sempre o estresse é prejudicial, pois em níveis moderados pode ser benéfico, preparando o indivíduo para enfrentar desafios e situações adversas.

 

    O estresse só é considerado um transtorno mental quando ocorre em intensidade e frequência excessivas, impactando negativamente a qualidade de vida e o bem-estar emocional do indivíduo. Nesses casos, o estresse pode levar ao desenvolvimento de problemas de saúde física e mental, prejudicar o desempenho acadêmico e profissional, além de afetar as relações pessoais e sociais. Diversos fatores podem influenciar a manifestação e a intensidade do estresse, como predisposição genética, experiências de vida, ambiente socioeconômico, suporte social e habilidades de enfrentamento. (Vignola, e Tucci, 2014)

 

    Considerando o contexto universitário, foram identificadas altas taxas de prevalência de ansiedade (Leão et al., 2018; Santos, e Simões, 2020; Toti, Bastos, e Rodrigues, 2019; Silva et al., 2021; Beneton et al., 2021; Barros et al., 2022). No âmbito nacional, 58,36% dos universitários apresentaram dificuldade emocional em função de sintomas ansiosos (Fonaprace, 2016). Na área de saúde, vários estudos investigaram índices de ansiedade nessa população-alvo. Azevedo et al. (2021) encontraram alto nível de ansiedade nos estudantes da área de saúde, equivalente a 45% do total dos alunos.

 

    Nessa perspectiva, torna-se necessário buscar na literatura existente a base para discutir a relação entre a saúde mental e os estudantes universitários. Diante disso, refletir sobre a saúde mental de universitários é importante, pois é de suma relevância a necessidade de repensar a transição entre a educação básica e o ensino superior, a fim de que essas mudanças não impactem negativamente na saúde mental dos estudantes.

 

    O trabalho se justifica pela relevância de se pensar em mecanismos de apoio, como a contribuição da AF em conjunto com o suporte de tratamento psicológico para os estudantes do ensino superior. Assim, o objetivo deste trabalho é identificar e descrever os achados atuais em relação à ação da AF sobre a saúde mental da população universitária.

 

Metodologia 

 

    O estudo possui caráter qualitativo, o qual enfatiza a compreensão e interpretação aprofundada dos fenômenos investigados. É definido como exploratório, uma vez que busca obter uma visão mais completa e abrangente do objeto de estudo. A abordagem deste estudo é descritiva, pois se preocupa em apresentar e descrever os aspectos relevantes da temática, contribuindo para a geração de um retrato detalhado e compreensível do fenômeno em questão. Foi desenvolvido a partir de uma revisão bibliográfica, uma vez que tem como objetivo a análise do tema com base em autores atuais que discorrem sobre a temática (Costa, e Costa, 2019). Dessa forma, o estudo busca, por meio da convergência dessas características metodológicas, fornecer uma contribuição valiosa ao campo de conhecimento, promovendo o avanço do entendimento sobre o tema abordado.

 

    A revisão bibliográfica baseou-se em materiais coletados em plataformas de pesquisa eletrônicas, como Scielo, Public Library of Science, Pubmed, entre outros. Para a seção de discussão do trabalho, foram utilizados os artigos indexados no Portal Periódicos da Capes. As delimitações para seleção dos artigos foram: artigos publicados entre 2018 e 2022, revisados por pares, utilizando os booleanos "AND" nas plataformas de pesquisa, com os descritores "atividade física", "saúde mental" e "ensino superior".

 

Figura 1. Diagrama do processo de seleção dos artigos

Figura 1. Diagrama do processo de seleção dos artigos

Fonte: Elaborado pelos autores

 

    Nos Periódicos da Capes, foram identificados 2.951 materiais, e, após aplicar os filtros mencionados anteriormente, o número foi reduzido para 597. A partir da leitura dos títulos e temas, foram selecionados 32 artigos, e, após a leitura dos trabalhos completos, 16 se mostraram acessíveis e elegíveis. Registros adicionais foram obtidos de outras bases de dados eletrônicas, como a Pubmed, onde, aplicando o filtro de ano de publicação (2020 a 2022) e excluindo artigos não relacionados ao tema, foram obtidos 1.439 resultados. Após a leitura dos títulos, foram excluídos 1.423, restando 15 artigos para análise. Quando avaliados os resumos, foram selecionados 6 estudos para análise do texto completo.

 

    A amostra final foi de 22 artigos, os quais foram excluídos 15, levando em consideração que o critério de exclusão foram: revisões de literatura; público-alvo além de estudantes universitários, chegando ao número final de 7 artigos para utilização na presente pesquisa.

 

Resultado e discussão 

 

Quadro 1. Síntese das evidências do estudo

Autor/ano

título

Público-alvo

Intervenção

Objetivos

Resultados

Leão et al. (2018). Prevalência e Fatores Associados à Depressão e Ansiedade entre Estudantes Universitários da Área da Saúde de um Grande Centro Urbano do Nordeste do Brasil

(Estudo 1)

Estudantes maiores de 18 anos dos cursos da área da saúde

(n = 476).

Questionário sociodemográfico; BAI e BDI.

Estimar a prevalência e os fatores associados à depressão e ansiedade entre estudantes universitários da área da saúde de um Centro Universitário no Nordeste do Brasil.

 

87,8% realizam AF e 12,2% não praticam AF; Prevalências de depressão e ansiedade foram de 28,6% e 36,1%, respectivamente.

He (2022). Atividade física no tratamento da depressão em estudantes universitários

(Estudo 2)

36 estudantes de 4 universidades diagnosticados com depressão.

Implementação de prescrição de exercícios no grupo experimental.

Explorar o efeito da prescrição de exercícios físicos no tratamento da depressão em

estudantes universitários.

Verificou-se diferença estatisticamente significativa nos escores da HAM-D entre os grupos observação e controle na primeira semana (P<0,01).

Mendes et al. (2021). Atividade física e sintomas de ansiedade e depressão entre estudantes de medicina durante a pandemia

(Estudo 3)

(n = 218).

Questionário IPAQ, BAI, BDI, PSQUI.

Comparar grupos de estudantes de medicina que praticam diferentes níveis de atividade física durante a pandemia, com relação aos sintomas de ansiedade e depressão, qualidade do sono e AF.

Pequeno Tamanho de Efeito para sintomas de depressão e diferenças significativas para sintomas de ansiedade. Houve tendência de significância para o comportamento sedentário nos dias de semana.

Maximiano et al. (2020). Nível de atividade física, depressão e ansiedade de estudantes de graduação em Educação Física

(Estudo 4)

150 alunos do curso de Educação Física de uma instituição de ensino particular de Muriaé/Minas Gerais.

Questionário sociodemográfico; IPAQ, BAI e BDI.

Avaliar sintomas de depressão e ansiedade e relacioná-los com o nível de AF em alunos de graduação em educação física.

18% baixo, 20% moderado e 60% alto nível de AF. 76% categorizados com mínimo de sintomas depressivos e 65% apresentaram níveis moderados de ansiedade.

Cahuas, He, Zhanga, e Chen, (2019). Relação de atividade física e sono com depressão em universitários

(Estudo 5)

1143 estudantes de uma universidade pública em Pequim.

Questionário IPAQ, CES-D e PSQUI.

Analisar a relação entre AF, sono e depressão

entre estudantes universitários e diferenças de gênero na AF, sono e depressão.

Atividade física vigorosa e variáveis de sono predizem significativamente

níveis de depressão para a amostra geral.

 

Grasdalsmoen, Eriksen, Lønning, e Sivertsen (2020). Exercício físico, problemas de saúde mental,

e tentativas de suicídio em estudantes universitários

(Estudo 6)

Estudantes que participaram do SHoT (Students’ Health and Wellbeing Study) com universitários de 18 a 35 anos, com coleta de dados em 2018 na Noruega.

(n = 50.054).

O sofrimento psíquico foi avaliado usando o Hopkins

Lista de verificação de sintomas (HSCL-25).

 

Examinar a associação entre frequência, intensidade e duração do exercício físico e problemas de saúde mental.

 

Mulheres com

baixos níveis de AF com maior probabilidade de marcarem alto no HSCL-25, e depressão auto notificada, em comparação com as mulheres que se exercitam quase todos os dias. Tamanhos de efeito mais fortes para

homens.

Zhang et al. (2021). Efeitos longitudinais de motivação e atividade física em sintomas depressivos entre estudantes universitários

(Estudo 7)

1004 estudantes universitários chineses.

Questionário CES-D, EQV e Escala de AF do tempo de lazer.

Examinar as relações longitudinais da motivação AF

com AF de lazer e sintomas depressivos entre estudantes universitários ao longo de um ano acadêmico.

Modelos de regressão

indicaram competências percebidas e os valores de tarefa em relação à AF foram preditores significativos de sintomas depressivos.

Fonte: Elaborado pelos autores

 

    Para a análise desta revisão de literatura, foram utilizados 7 estudos primários, classificados em ordem cronológica, que investigaram a prática de AF e a prevalência de distúrbios mentais (sintomas de ansiedade e depressão) em alunos do ensino superior. Nesta síntese, 6 dos 7 estudos estão em concordância quanto à relação existente entre AF e sintomas de ansiedade e depressão nos estudantes do ensino superior, evidenciando que quanto mais ativos os discentes são, menores são os índices de sintomatologia desses distúrbios mentais.

 

    No estudo 1, realizado com 476 universitários, dos quais 53,4% ingeriam bebidas alcoólicas e 87,8% praticavam AF, foi apontado que a prevalência de distúrbios na saúde mental (depressão e ansiedade) estava acima da encontrada na população em geral, representando um dado crítico para essa comunidade. Dentre os fatores que afetam essa população, a inatividade física foi identificada como um aspecto presente nas queixas, sinais e sintomas associados aos distúrbios.

 

    A pesquisa encontrou uma baixa prevalência de ansiedade entre os praticantes regulares de AF, bem como evidências de sua influência na qualidade de vida dos estudantes. Isso levou à inferência da importância da prática de AF para a manutenção da saúde física e mental, mostrando-se positiva como coadjuvante no tratamento da depressão, na melhora da autoestima e como uma oportunidade para o convívio social, possibilitando interações afetivas que impactam na sensação de bem-estar. (Leão et al., 2018)

 

    Outro artigo que apresenta resultados semelhantes em sua pesquisa sobre a relação da prática de AF com sintomas de depressão e ansiedade é o estudo 2, realizado por He (2022). Neste estudo, foram implementadas prescrições de exercício em 24 pessoas diagnosticadas com depressão (Grupo B - observação) por um período de 16 semanas. Os resultados mostraram uma melhoria significativa nos sintomas de depressão de todos os pacientes após o teste, com um efeito significativo na melhoria das funções físicas e mentais dos estudantes universitários com depressão, especialmente na qualidade do sono.

 

    Contudo, para Maximiano et al. (2020) (estudo 4), que realizaram sua investigação com 150 discentes para verificar os níveis de AF e a relação entre os níveis de AF e sintomas depressivos e de ansiedade, embora tenham encontrado 82% de discentes praticantes de atividades físicas de moderada a alta intensidade e 65,3% de alunos com sintomas de ansiedade moderada, o percentual de sintomas depressivos não foi representativo. Estabeleceram que não houve associação significativa entre a AF e os distúrbios mentais estudados.

 

    No entanto, outros autores analisados obtiveram resultados diferentes, como Mendes et al. (2021) (estudo 3), que, para compreender a relação entre a AF e a saúde mental durante a pandemia de COVID-19, realizaram uma pesquisa com 218 estudantes de medicina que, mesmo antes da pandemia, apresentavam baixa prática de AF e altos níveis de sintomas de ansiedade e depressão. Eles encontraram diferenças estatisticamente significativas, concluindo que aqueles que praticavam maior quantidade de AF moderada e vigorosa apresentaram menos sintomas de ansiedade e depressão durante a pandemia.

 

    A mesma relação pode ser encontrada no estudo 5, onde é verificado que a AF e as subescalas de sono predisseram significativamente os níveis de depressão em estudantes universitários. A depressão foi impactada por diferentes variáveis para homens e mulheres separadamente. Concluíram em seu artigo que a prática regular de AF rigorosa e a qualidade do sono podem auxiliar os universitários na redução e regulação dos sintomas depressivos, podendo haver variação entre os gêneros. (Cahuas et al., 2019)

 

    Grasdalsmoen et al. (2020) (estudo 6) encontraram em seus resultados que os níveis de sofrimento psíquico dos universitários associam-se negativamente com o exercício físico. Detalharam que 67% das mulheres que relataram nunca praticar AF durante a semana pontuaram acima do corte de 1,75 no HSCL-25, indicando um nível moderado de sofrimento psíquico, em comparação com 40% das mulheres que realizavam AF quase todos os dias. Uma tendência similar foi observada no sexo masculino, onde 46% dos homens que nunca praticavam AF pontuaram acima do mesmo corte, em comparação com 19% dos homens que se exercitavam quase todos os dias.

 

    Na pesquisa realizada por Zhang et al. (2021) (estudo 7), que observou altos riscos de experimentar sintomas depressivos e baixa motivação para AF entre os discentes inativos quando comparados com aqueles pares ativos, sugeriu-se a importância de promover programas de AF e aumentar as oportunidades de AF durante os anos universitários. A conclusão do estudo constatou que a motivação para AF estava associada aos sintomas depressivos entre os estudantes chineses.

 

    Quando investigada a prática de AF de forma isolada, pode-se citar o estudo de Melo et al. (2016), que verificou o nível de AF de 85 graduandos do curso de educação física da Universidade do Estado do Espírito Santo. Os alunos deste curso têm como objeto de estudo a própria AF, onde a prática faz parte do currículo, tornando-se interessante observar a incidência de portadores de sintomas depressivos e/ou ansiedade entre os níveis da prática moderada e vigorosa. Classificados como muito ativos e ativos, e irregularmente ativos e sedentários, o resultado encontrado foi, respectivamente, 86% e 14%. Percebe-se que o percentual está de acordo com universitários de outros cursos.

 

    Em relação aos distúrbios mentais, Dell’Osbel et al. (2018) avaliaram 892 universitários de uma instituição privada do sul do Brasil, medindo a prevalência de sintomas depressivos e fatores associados em universitários. A amostra apresentou 30,8% com sintomas depressivos associados à insatisfação corporal e autoestima insatisfatória, apontando uma população de risco devido à elevada prevalência de sintomas depressivos decorrentes da necessidade de adaptação a uma nova fase de muitas exigências e desafios, que é o ingresso no nível superior e o advento da sobrecarga intelectual.

 

    Dentre suas conclusões, está a de que os discentes com autoestima insatisfatória apresentaram uma prevalência aproximadamente 2,5 vezes maior de sintomas depressivos em relação àqueles com autoestima satisfatória, levando a acreditar que a autoestima insatisfatória seja possivelmente um fator de risco para o surgimento de sintomas depressivos na população estudada. Observa-se a importância dos resultados encontrados nos estudos, uma vez que a depressão é considerada a maior causa de mortes por suicídio, número que chega a aproximadamente oito milhões por ano. (OMS, 2017)

 

    Em relação ao uso do exercício físico na saúde mental, Cárdenas et al. (2015) afirmam que a ciência está expandindo rapidamente o aporte de conhecimentos da AF regular e estruturada como instrumento de saúde física e psicológica, pois a prática de exercício físico regular, além da melhora da aptidão física, incide sobre a qualidade de vida e ajuda no bem-estar psicológico dos indivíduos (Bedoya, 2020), resultando em efeitos positivos para aqueles que o realizam.

 

    Enquanto isso, a OPAS (2016) acredita que os estudos que versam sobre o exercício físico como terapia para transtornos psicológicos ainda são produzidos em menor escala, apesar das já reconhecidas vantagens da AF regular para a prevenção e combate à ansiedade, depressão, estresse, fobias e vários comportamentos psicológicos.

 

Conclusão 

 

    Com base no levantamento da literatura e com o objetivo de responder ao problema da pesquisa, constatou-se que estudantes universitários têm uma maior prevalência de desenvolver algum tipo de transtorno mental devido ao seu estilo de vida acadêmico. Evidências indicam que os praticantes de atividades físicas apresentam índices menores de desenvolver algum tipo de transtorno mental, enquanto os menos ativos possuem maiores chances de desenvolver sintomas de depressão, ansiedade e estresse.

 

    Este trabalho reforça a importância da saúde mental dos universitários, uma vez que esse público atua diretamente com a comunidade, auxiliando na prevenção de doenças, como os transtornos psicológicos. É de suma relevância pensar em programas de assistência voltados para a saúde mental e física da população acadêmica. Neste sentido, destacam-se, a criação de projetos universitários multidisciplinares, envolvendo profissionais da área da saúde para promover ações preventivas e de tratamento. Outras ações incluem orientações psicopedagógicas, criação de oficinas sobre a importância da prática de atividades físicas para a saúde mental, formação de grupos terapêuticos e até mesmo a inclusão de disciplinas na grade curricular dos cursos, que abordem a saúde mental dos estudantes universitários.

 

    A prática de atividades físicas é essencial para a saúde mental e física do indivíduo, contudo a parcela da população que é ativa não é significativa, principalmente quando se trata dos estudantes do ensino superior. Além das justificativas já citadas no presente estudo, presume-se que existam motivos internos que levam à falta de adesão à prática, como falta de conscientização e desconhecimento dos benefícios de uma vida mais saudável. Essas razões devem ser ainda mais aprofundadas em estudos longitudinais e projetos multidisciplinares, a fim de acolher essa população de estudantes do ensino superior.

 

Referências 

 

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Azevedo, L.G., Silva, D.C., Correa, A.A.M., e Camargos, G.L. (2021). Prevalência de ansiedade e depressão, nível de atividade física e qualidade de vida em estudantes universitários da área de saúde. Revista Científica UNIFAGOC-Multidisciplinar, 5(1). https://revista.unifagoc.edu.br/index.php/multidisciplinar/article/viewFile/584

 

Bárcena, J.J.L., Ortiz, M.G.G.C., e Gutiérrez, M.C.R. (2006). Actividad física en estudiantes universitarios: prevalencia, características y tendencia. In: J. H. Cherem, Medicina Interna de México. Edición y Farmacia, SA de CV.

 

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Bedoya, C.T. (2020). Bienestar psicológico en estudiantes de educación superior. REDIIS / Revista de Investigación e Innovación en Salud, 3(3), 46-59. https://doi.org/10.23850/rediis.v3i3.2974

 

Beneton, R.E., Schmitt, M., e Andretta, I. (2021). Sintomas de depressão, ansiedade e estresse e uso de drogas em universitários da área da saúde. Revista SPAGESP, 22(1), 145-159. https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=7816244

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 305, Oct. (2023)