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ISSN 1514-3465

 

Imagem corporal e motivação na prática de exercícios físicos em academias de ginástica

Body Image and Motivation in the Practice of Physical Exercise in Fitness Centers

Imagen corporal y motivación en la práctica de ejercicios físicos en gimnasios

 

Fábio José de Queiroz Macedo*

fjqmacedo@gmail.com

Marasella del Cármen Silva Rodrigues Macedo**

marasella@gmail.com

Ramón Núñez Cárdenas***

ramonncardenas@yahoo.com

Paulo Renato Vitória Calheiros+

vit30cpr@hotmail.com

Daniel Menéndez Llerena++

dmenendezllerena@gmail.com

André Pereira Triani+++

andretriani@gmail.com

 

*Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

Especialista (Lato Sensu) em Treinamento Desportivo (UNIR)

Graduado em licenciatura plena em Educação Física (UNIR)

MBA em Gestão de Pessoas pelas Faculdades Integradas Aparício Carvalho (FIMCA) 

Bacharel em Administração pelo ULBRA/ILES

Professor dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Educação Física

na Faculdade Metropolitana de Porto Velho (UNNESA)

Integrante do Grupo de pesquisa “Psicologia do exercício físico

e esporte na promoção da saúde” (CNPq)

**Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar, Mestrado

e Doutorado Profissional (PPGEEProf) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

Mestra em Psicologia. Especialista (Lato Sensu) em Gestão Estratégica (UNIR)

Graduada em Pedagogia (UNIR). Professora do curso de licenciatura em Pedagogia

da Faculdade Metropolitana de Porto Velho (UNNESA)

Professora do ensino fundamental

da rede pública municipal de ensino em Porto Velho-RO

Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas

em Educação Infantil, Infância e Educação Especial e Inclusiva (GEPEIN/ CNPq)

Integrante do Grupo de pesquisa “Psicologia do exercício físico

e esporte na promoção da saúde” (CNPq)

***Possui graduação em Licenciatura plena de Educação Física

pelo Instituto Superior Pedagógico Juan Marinello, com Revalidação do Título

em Licenciatura Plena Em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria 

Mestrado em Educação Física com Revalidação do Título de Mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais

Doutorado em Biologia Experimental pela Fundação Universidade Federal de Rondônia

Atualmente é professor da Universidade Federal de Rondônia (Associado I)

+Graduado em Psicologia pela Universidade Católica de Pelotas

Mestre em Saúde e Comportamento pela Universidade Católica de Pelotas

Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Professor do curso de graduação em Psicologia e no Programa de Pós-Graduação,

Mestrado em Psicologia da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

++Licenciatura plena em Cultura Física

pelo Instituto Superior de Cultura Física Manuel Fajardo

Faculdade da Província de Matanzas, Cuba

e Reconhecido pela Fundação UNIR

Mestre em Ciências da Educação Física, Esportes e Recreação

pela Universidade de Ciências da Cultura Física e o Esporte "Manuel Fajardo"

e Reconhecido pela Universidade de Brasília

+++Licenciado em Educação Física pelo Instituto Federal

de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR)

Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Roraima (UFRR)

Doutor em Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Atualmente é professor efetivo do Curso de Licenciatura em Educação Física

do Instituto Federal de Roraima

(Brasil)

 

Recepção: 12/04/2022 - Aceitação: 13/03/2023

1ª Revisão: 05/01/2023 - 2ª Revisão: 10/03/2023

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Macedo, F. de Q., Macedo, M. del C.S.R., Cardenas, R.N., Calheiros, P.R.V., Llerena, D.M., e Triani, A.P. (2023). Imagem corporal e motivação na prática de exercícios físicos em academias de ginástica. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(299), 28-46. https://doi.org/10.46642/efd.v28i299.3456

 

Resumo

    Imagem corporal e motivação são construtos frequentemente associados no contexto da prática dos exercícios físicos, considerando um número significativo de pessoas que buscam as academias de ginástica para a definição de formas corporais desejáveis a si próprias e aos outros. Este estudo teve por objetivo avaliar a associação entre imagem corporal e motivação para a prática de exercícios físicos em academias de ginástica, em respostas comportamentais de praticantes. Os participantes foram 301 pessoas (156 mulheres e 145 homens), com idade entre 18 e 71 anos, que praticam exercícios físicos em academias de Porto Velho-RO. Para a coleta de dados, adotou-se a Physical Activity and Leisure Motivation Scale (PALMS). A fundamentação se pautou na Teoria da Autodeterminação (TAD) e aplicou-se a análise fatorial confirmatória para a validação dos itens. Os resultados apontaram 8 itens da escala assumida relativos à imagem corporal, sendo que o item 21, "Porque as pessoas me dizem que preciso", não se confirmou, apresentando diferenças significativas em relação à proposta inicial da teoria, sugerindo a necessidade de se estudar a motivação e a imagem corporal como fatores diferentes. Conclui-se que a imagem corporal é um construto comportamental vinculado, predominantemente, à motivação extrínseca, mas ambas são influenciadas internamente, cujas variáveis devem ser analisadas tanto de forma simétrica como recíproca. Faz-se necessária a apropriação dos fundamentos da Psicologia por profissionais da área de Educação Física para a ampliação das intervenções que ajudem os praticantes de exercícios físicos à internalização de comportamentos autodeterminados, elucidando percepções em relação à sua imagem corporal.

    Unitermos: Imagem corporal. Motivação. Teoria da autodeterminação. Psicologia do esporte.

 

Abstract

    Body image and motivation are constructs often associated in the practice of physical exercise, considering a significant number of people that seek gyms to shape the body image desired by themselves and by others. This study aimed to evaluate the association of body image and motivation to practice physical exercise in gyms, in behavioral responses of practitioners. The participants were 301 people (156 women and 145 men) who practice physical exercises in gyms in Porto Velho-RO, aged between 18 and 71 years. For data collection, the Physical Activity and Leisure Motivation Scale (PALMS) was adopted. The foundation was based on the Self-Determination Theory (SDT) and confirmatory factor analysis was applied to validate the items. The results showed 8 items of the assumed scale related to body image, although item 21, "Because people tell me I need it", was not confirmed, showing significant differences in relation to the initial proposal of the theory, suggesting the need to study motivation and body image as different factors. It is concluded that body image is a behavioral construct predominantly linked to extrinsic motivation, although both are internally influenced, which variables must be analyzed both as symmetrical and mutual. It is required the appropriation of Psychology foundations by professionals in the field of Physical Education for the expansion of interventions that lead physical exercise practitioners to the internalization of self-determined behaviors in ways to positively influence their perception of their own body image.

    Keywords: Body image. Motivation. Self-determination theory. Sport psychology.

 

Resumen

    La imagen corporal y la motivación son constructos frecuentemente asociados en el contexto del ejercicio físico, considerando un número significativo de personas que asisten al gimnasio para definir formas corporales deseables para ellos y los demás. Este estudio tuvo como objetivo evaluar la relación entre la imagen corporal y la motivación para la práctica de ejercicios físicos en los gimnasios, en las respuestas conductuales de los practicantes. Participaron 301 personas (156 mujeres y 145 hombres), entre 18 y 71 años, que practican ejercicios físicos en gimnasios de Porto Velho-RO. Para la recolección de datos, se adoptó la Physical Activity and Leisure Motivation Scale (PALMS). El razonamiento se basó en la Teoría de la Autodeterminación (TAD) y se aplicó el análisis factorial confirmatorio para validar los ítems. Los resultados indicaron 8 ítems de la escala asumida relacionados con la imagen corporal, y el ítem 21, "Porque me dicen que lo necesito", no fue confirmado, presentando diferencias significativas en relación a la propuesta inicial de la teoría, sugiriendo la necesidad de estudiar la motivación y la imagen corporal como factores diferentes. Se concluye que la imagen corporal es un constructo conductual predominantemente ligado a la motivación extrínseca, pero ambos están influenciados internamente, cuyas variables deben analizarse tanto de manera simétrica como recíproca. Es necesario que profesionales del campo de la Educación Física se apropien de fundamentos de la Psicología para ampliar intervenciones que ayuden a los practicantes de ejercicios físicos a interiorizar comportamientos autodeterminados, aclarando percepciones en relación a su imagen corporal.

    Palabras clave: Imagen corporal. Motivación. Teoría de la autodeterminación. Psicología del deporte.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 299, Abr. (2023)


 

Introdução 

 

    Imagem corporal é um conceito que articula múltiplas dimensões, onde são determinadas as percepções que os indivíduos possuem acerca do seu corpo em relação a si mesmos e aos outros. Dentre os aspectos envolvidos nessa relação se destacam fatores psicológicos, sociais, culturais e biológicos (Damasceno et al., 2006, p. 87). A insatisfação com a imagem corporal tem conduzido as pessoas a praticarem exercícios físicos em academias de ginástica na busca por contornos mais definidos para o próprio corpo. (Schlickmann et al., 2018)

 

Imagem 1. As mídias sociais impactam nas pessoas produzindo insatisfação corporal

Imagem 1. As mídias sociais impactam nas pessoas produzindo insatisfação corporal

Fonte: Criador de imagens de Bing

 

    O esforço por corpos perfeitos, frequentemente reforçado pelas mídias, leva as pessoas a buscarem esses espaços. No entanto, apenas a prática regular de exercícios físicos não garante a satisfação e a continuidade dessa prática, conforme apontaram os estudos de Schlickmann et. al. (2018), pois, frequentemente esse público visa desenvolver medidas antropométricas que se aproximem das idealmente construídas, resultando em avaliações negativas sobre o próprio corpo, afetando a sua estrutura psicológica e comprometendo as relações consigo e com os outros.

 

    O impacto que as mídias sociais têm exercido sobre as pessoas em diferentes partes do mundo no que se refere à insatisfação com o próprio corpo foi demonstrado experimentalmente por Sagaribay (2022), cujos resultados revelaram que a breve exposição à fitspiration – uma extensão da mídia social que consiste em fotos e mensagens destinadas a motivar os usuários a se exercitarem – não teve efeito na motivação para o exercício, mas afetou negativamente as preocupações com a imagem corporal e o humor negativo, especialmente para estudantes universitários latinos.

 

    Liu (2022) abaliza que as mídias sociais desempenham um papel crucial em influenciar a imagem corporal negativa das mulheres chinesas, pois, ao se sentirem pressionadas a mudar sua aparência, ficam insatisfeitas e, assim, é gerada uma imagem corporal negativa.

 

    Costa, Torre, e Alvarenga (2015) assinalaram correlações entre a imagem corporal, os distúrbios alimentares e o tempo de frequência prolongado nas academias como preditores ao fortalecimento de atitudes negativas em relação aos exercícios praticados. Esses aspectos podem resultar no comprometimento da percepção das pessoas a respeito dos próprios corpos, gerando atitudes inadequadas no que se refere ao cuidado com a saúde, a exemplo de intervenções cirúrgicas recorrentes, alimentação desbalanceada nutricionalmente, aplicação de esteroides anabolizantes e prática excessiva de atividades físicas sem o devido acompanhamento.

 

    Souza (2017) realizou um estudo comparado envolvendo 1.695 universitários de ambos os sexos no Brasil, Argentina, Estados Unidos da América e França; para avaliar a relação entre atividade física com corpo e imagem corporal, onde foram identificadas diferenças e semelhanças entre os sujeitos, das quais merecem destaque a presença de atitudes alimentares parecidas e a insatisfação corporal nos jovens de todos os países, sendo os estadunidenses os que mais valorizam a rotina de atividades físicas e a aparência corporal. No grupo dos brasileiros, houve uma incidência à valorização de cirurgias plásticas.

 

    Em referência à imagem corporal, um grupo significativo de pesquisadores alerta para a necessidade do fortalecimento de uma cultura que associe a prática de exercícios físicos à superação de insatisfações com o corpo, assim como é consenso a importância da atuação de profissionais da área de saúde para o incentivo à prática de atividades físicas para a promoção da saúde e, consequentemente para a garantia de qualidade de vida da população. (Cox et al., 2019; More, e Phillips, 2019; Segar et al., 2017; Fermino, Pezzini, e Reis, 2010)

 

    Os fatores comportamentais para a continuidade da prática de exercícios físicos podem ser condicionados aos níveis de motivação que os indivíduos possuem. Esse conceito é compreendido como “... um processo ativo, que confere ao comportamento energia, pela intensidade e persistência a um esforço intencional; e direção, pois o comportamento é dirigido a um objetivo ou meta”. (Frainer, 2017, p. 22). No tocante à motivação para a prática esportiva, esse construto se configura como campo da Psicologia do Esporte. Esta teoria surgiu no século XIX como uma necessidade do cotidiano, para além da abordagem clínico-terapêutica, firmando-se como disciplina científica para atender, na condição de ciência aplicada, às necessidades da prática desportiva, e tem buscado se firmar como especialidade, área do conhecimento e campo profissional no Brasil do século XXI. (Lima, 2010)

 

    Assevera-se, portanto, a importância da intervenção psicológica no processo de acompanhamento dos praticantes de exercícios físicos, seja em contextos de iniciação à prática de esportes, na condução de prescrições de exercícios físicos diários para aprimoramento e manutenção da qualidade de vida, ou ainda em situações mais complexas que envolvem o alto rendimento.

 

    Destarte, este artigo visa comunicar uma pesquisa que buscou articulação entre os conceitos de imagem corporal e motivação, fundamentados no contexto da Teoria da Autodeterminação (TAD), com o intuito de mostrar os benefícios da convergência entre as áreas da Psicologia e da Educação Física, sintetizadas na Psicologia do Esporte e do Exercício Físico. A questão que direcionou a pesquisa foi: em que medida a imagem corporal influencia a motivação para a prática de exercícios físicos em academias de ginástica de Porto Velho?

 

    A TAD (Self-Determination Theory – SDT) foi criada em 1981, por Richard M. Ryan e Edward L. Deci, como uma alternativa metodológica de medição dos aspectos motivacionais em diversos âmbitos, incluindo a Psicologia do Esporte, com vistas ao fornecimento de contribuições para a criação de políticas públicas com foco na promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida das pessoas, sobretudo aquelas com peso elevado. (Frainer, 2017; Appel-Silva, Wendt, e Argimon, 2010)

 

    Essa perspectiva teórico-metodológica compreende a motivação em duas grandes dimensões, a motivação intrínseca, que envolve fazer uma atividade para seu próprio bem, isto é, para seu interesse inerente e os afetos espontâneos e cognições que o acompanham; e a motivação extrínseca que envolve fazer uma atividade a fim de obter uma recompensa e é regulada por fatores externos (Deci, e Ryan, 1985). A TAD propugna que o reconhecimento do sujeito como agente causal de suas ações, dota-o de intencionalidade, resultando em uma conduta autorregulada, levando-se em consideração os fatores biológicos e sociais.

 

    Para a definição das relações entre as variáveis estudadas, adotou-se a Physical Activity and Leisure Motivation Scale (PALMS), “... elaborada por Morris e Rogers com o objetivo de mensurar os motivos de adesão à prática de atividades físicas e de esportes”. (Frainer, 2017, p. 23)

 

    Este estudo circunscreve-se no bojo dos possíveis contributos das ciências da saúde, fornecendo elementos favoráveis ao reconhecimento de comportamentos autônomos que resultem em saúde psicológica e física para as pessoas.

 

    A metodologia utilizada contou com a abordagem de métodos mistos, buscando-se evidências de validade da PALMS em contexto local, a partir da aplicação da escala e de um questionário sociodemográfico a 301 sujeitos (156 mulheres e 145 homens), praticantes de exercícios em 15 academias de ginástica, que foram interpretados por meio da análise fatorial confirmatória, visando identificar quais itens das subescalas apresentariam correspondências em relação aos construtos.

 

    O objetivo deste estudo foi avaliar a associação entre imagem corporal e motivação para a prática de exercícios físicos em academias de ginástica, em respostas comportamentais de praticantes.

 

Método 

 

    A condução metodológica do estudo contou com um delineamento transversal no contexto dos métodos mistos, isto é, os dados foram expostos a tratamentos qualitativos e quantitativos.

    Um tratamento qualitativo descreve quais processos estão ocorrendo e detalha diferenças no caráter desses processos ao longo do tempo. Um tratamento quantitativo define o que são os processos, como geralmente eles ocorrem e quais diferenças em sua magnitude podem ser medidas ao longo do tempo. [Ênfase dos autores] (Breakwell, e Rose, 2010, p. 39)

    A coleta dos dados foi operada entre os meses de maio de 2020 e maio de 2021, optou-se pela amostragem por agrupamentos. “A ideia básica de um modelo que usa agrupamentos é selecionar a amostra em estágios de modo que as unidades de amostra individuais sejam mantidas em relativa proximidade geográfica”. (Breakwell, e Rose, 2010, p. 126). Os participantes foram 301 praticantes de exercícios físicos (156 mulheres e 145 homens) em 15 academias de ginástica do município de Porto Velho, capital do estado de Rondônia, localizado na Amazônia brasileira.

 

    Para compreender as relações entre os aspectos motivacionais para a prática de exercícios físicos e a imagem corporal, realizou-se a análise de todos os itens da PALMS e a seleção dos itens que possibilitavam inferências referentes à imagem corporal. Detectou-se oito itens, a saber: “11. Para definir músculo, melhorar a aparência”, “12. Para ficar em boa forma física”, “21. Porque as pessoas me dizem que preciso”, “23. Para melhorar a forma física”, “32. Para melhorar a aparência”, “36. Para perder peso, ter uma melhor aparência”, “39. Para estar em melhor forma do que outras pessoas” e “40. Para manter o corpo em boa forma e tonificado”.

 

    A mensuração foi feita por meio da análise fatorial confirmatória, com utilização do método de extração: análise de componente principal, método de rotação: varimax com normalização de Kaiser, com rotação convergida em 8 interações, sendo que a menor carga fatorial foi de ρ=0,506 e a maior foi de ρ=0,868.

 

    Esse método de mensuração poderá fornecer técnicas de teste de hipóteses, para a exploração de dados, podendo ser aplicadas a uma determinada amostra coletada, com o objetivo de estudar e descrever algumas características desse público, “gerando hipóteses futuras” (Field, 2009, p. 561). “A primeira parte do processo de extração do fator é determinar os componentes lineares dentro de um conjunto de dados”. Em seguida, a partir do SPSS, aplica-se “...o critério de fatores retirados de Kaiser com autovalores maiores do que 1”, para a definição dos fatores a serem retidos ou descartados. (Field, 2009, p. 581)

 

    Os fatores podem ser considerados como “dimensões subjacentes” de um determinado “subconjuntos de variáveis” quando relacionadas entre si. “A existência de vários coeficientes de correlação altos entre subconjuntos de variáveis sugere que essas variáveis podem estar medindo aspectos de uma mesma dimensão subjacente”. (Field, 2009, p. 554)

 

    O varimax tenta maximizar a dispersão das cargas dentro dos fatores. Portanto, ele tenta agregar um menor número de variáveis sobre cada fator resultando em mais aglomerados de fatores interpretáveis. (Field, 2009, p. 568)

 

    Considerando não terem sido verificadas as condições de normalidade e homogeneidade dos dados, conforme orienta Marôco (2018), adotou-se os testes não paramétricos Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk como alternativa aos testes paramétricos para inferir sobre a amostra e a população, conforme orienta Malhotra (2012). A confirmação dos testes não paramétricos foi realizada por meio do teste de homogeneidade das variâncias (Levene), permitindo observar que não havia normalidade das variâncias. (Malhotra, 2012, p. 382). O resultado dos testes não paramétricos revelou um nível de confiança de 95%.

 

    Para testar as diferenças entre grupos de variáveis, utilizou-se o teste não paramétrico U de Mann-Whitney, equivalente ao teste paramétrico t-Student, com nível de significância de 5%, de acordo com o que sugerem Malhotra (2012) e Marôco (2018).

 

    O teste não paramétrico Kruskal-Wallis, com significância de 5%, foi utilizado para verificar a existência de diferenças significativas para amostras independentes, seguido do teste post hoc de Bonferroni (Field, 2009). Este teste foi adotado em recorrências de diferenças significativas em, pelo menos dois dos grupos testados.

 

    Adotou-se ainda o coeficiente de correlação Rho de Spearman (ρ), para aferição da intensidade da relação entre variáveis (Field, 2009). Neste estudo, interessava apreender as correlações ou relações presentes nas respostas dos praticantes de exercícios físicos em academias de ginástica, considerando as variáveis escolhidas.

 

    Foram adotadas todas as diretrizes éticas prescritas na legislação em vigor que trata de pesquisa científica envolvendo seres humanos, especificamente a Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) (2012) na intenção de garantir os direitos e o bem-estar dos praticantes que se dispuseram a participar, o que contou com o encaminhamento do projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), para a autorização da realização da investigação e a anuência dos participantes deste estudo foi feita por meio dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), dentre outros trâmites previstos. Também foram adotados protocolos de biossegurança, com vistas a resguardar os participantes, garantindo a sua integridade física, diante da fase aguda da pandemia de COVID-19, pela qual o mundo atravessava no período da coleta dos dados.

 

    Os fundamentos da TAD guiaram as análises qualitativas, no sentido de interpretar as relações entre as variáveis encontradas, conforme aporte teórico referente à Psicologia do Esporte e do Exercício Físico, considerando que os motivos que conduzem os seres humanos a se envolverem positivamente com a prática de exercícios físicos podem ser interpretados por meio da TAD, uma vez que esta foi fundada como uma teoria da Psicologia, com vistas a fornecer subsídios teóricos e metodológicos para a consolidação de políticas públicas voltadas à saúde psicológica das pessoas. (Deci, e Ryan, 1985; Appel-Silva, Wendt, e Argimon, 2010)

 

    Os criadores dessa teoria consideram que os processos motivacionais se constituem a partir de um “... continuum da forma menos autodeterminada, para a mais autodeterminada (comportamentos), em formas motivacionais, ou seja, amotivação, motivação extrínseca e motivação intrínseca. (Frainer, 2017, p. 28)

 

    A partir de levantamentos bibliográficos tendo como foco central a TAD, chegou-se à PALMS, elaborada por Morris, e Rogers (2004 citado em Frainer, 2017), como uma escala de medida para identificar aspectos motivacionais nos indivíduos, no que se refere à prática de atividades/exercícios físicos.

 

    Assim, um questionário sociodemográfico e essa escala se configuraram nos instrumentos deste estudo. A PALMS foi validada no contexto brasileiro por Frainer (2017) que, após um longo processo de pesquisas e contando com a participação de 7 juízes especialistas em Psicologia do Esporte e do Exercício e com domínio da língua inglesa, idioma originário da referida escala, além de aplicar o instrumento e submetê-lo a métodos rigorosos de validação em diversos países dentre os quais se destacam a Austrália, Malásia, Portugal e Brasil, os resultados indicaram uma boa consistência interna da PALMS, utilizando-se o α de Cronbach no escore geral de 0,88. (Frainer, 2017)

 

    A PALMS se trata de uma escala do tipo Likert, composta de 8 subescalas, sendo que cada uma possui 5 itens, totalizando 40 itens. Este instrumento visa “avaliar os motivos de adesão à prática de atividades físicas e esportes. (Frainer, 2017)

 

    Embora as expressões “atividade física” e “exercício físico” apresentem significados diferentes, a autora justifica que os termos não são tomados como sinônimos, apenas não assume a diferença conceitual, devido aos autores da PALMS não o fazerem (Frainer, 2017). No entanto, neste estudo, a diferenciação é adotada, onde atividade física é “... qualquer movimento corporal produzido pela musculatura esquelética que requer gasto de energia acima dos níveis de repouso”; e “exercício físico é um subconjunto de atividade física planejado, estruturado e repetitivo e que tem como objetivo final ou intermediário a melhoria ou manutenção da aptidão física”. (Caspersen, Powell, e Christenson, 1985, p. 126). Por este motivo, a referência ao objeto de estudo é sempre direcionada à motivação para a prática de exercícios físicos, dada a intencionalidade e sistematização dessas ações para a promoção da saúde.

 

    Segundo Frainer (2017) os 40 itens da PALMS, distribuídos nas oito subescalas, foram agrupados pelos autores em três fatores mais amplos de modo a garantir consistência com os componentes de motivação intrínseca e extrínseca propostos pela TAD. Desse modo, a distribuição ficou organizada no campo da motivação intrínseca as subescalas domínio e diversão. Já o campo da motivação extrínseca, foi subdividido em motivos sociais, aglutinando as subescalas afiliação, concorrência e expectativa dos outros; e motivos corpo/mente, encerrando as subescalas condição física, condição psicológica e aparência. Para fins de compreensão didática, a escala pode ser representada pelo Esquema 1.

 

Esquema 1. Campos da PALMS

Esquema 1. Campos da PALMS

Fonte: Elaboração própria adaptado de Frainer (2017, p. 34)

 

Resultados 

 

    Dentre os participantes da pesquisa, 48,1% afirmaram ser casados ou viverem em sistema de união estável; 6,3% divorciados ou separados; 44,5% solteiros e 1,0% viúvos. A faixa etária compreendeu praticantes de 18 a 71 anos.

 

    No quesito escolaridade dos participantes detectou-se que 1,7% possuíam doutorado; 2,7% mestrado;19,6%especialização; 46,5% graduação; 1,3% curso superior incompleto; 8,3% ensino técnico;17,9% ensino médio e 2,0% ensino fundamental. A média salarial foi de 1.250 reais.

 

    A frequência da prática de exercícios físicos em academias de ginástica informada pelos participantes variou entre uma e sete vezes por semana, com menor incidência de prática sete vezes, 2,7% e maior incidência três vezes por semana, 33,6%. Os demais participantes frequentam as academias uma vez por semana, 4%; duas vezes, 8,3%; quatro vezes, 15%; cinco vezes, 27,6% e seis vezes, 9%.

 

    O tempo de prática variou entre menos de 15 dias, 5,6% e mais de 5 anos, 23,9%, sendo este percentual representativo da maior incidência no que se refere à frequência em academias. Entre a amostra pesquisada, a menor incidência no que se refere ao tempo de prática foram 3%, que frequentam academias de ginástica em um período entre 4 e 5 anos.

 

    A classificação do Índice de Massa Corporal (IMC) dos participantes apontou maior incidência de 39,5% dos praticantes com sobrepeso e 22,6% com obesidade. Da amostra pesquisada, 2%dos participantes foram classificados com baixo peso e 35,9% dos participantes foram classificados como tendo peso normal.

 

    No tocante à localização de moradia, a região da cidade de Porto Velho com maior frequência apontada pelos participantes foi a Zona Sul, 36,2%, seguida pelas Zonas Leste, 28,9%; Norte, 25,9%; Centro, 7,6% e Área Rural, 1,3%.

 

    Já as regiões nas quais estão localizadas as academias onde os participantes da pesquisa praticam exercícios físicos são as Zonas Sul, 31,9%; Norte, 26,6%; Leste, 21,6%; Centro, 18,9% e Área Rural, 1%.

 

    Para avaliar a consistência interna do instrumento, utilizou-se o coeficiente Alfa de Cronbach (α), o que resultou em um nível de confiabilidade geral alto (α = 0.921), pois quanto mais próximo de 1, maior é o nível de confiabilidade do construto (Field, 2009). Nesta avaliação por subescalas, o Alfa de Cronbach manteve valores positivos, sendo domínio (α=0,835); condição física (α=0,750); afiliação (α=0,904), maior índice; condição psicológica (α=0,860); aparência (α=0,799); expectativa dos outros (α=0,637), menor índice; diversão (α=0,846); competição/ego (α=0,867).

 

Tabela 1. Índices de precisão geral da PALMS – α de Cronbach com a amostra pesquisada

Subescalas

α de Cronbach

Domínio

0,835

Condição física

0,750

Afiliação

0,904

Condição psicológica

0,860

Aparência

0,799

Expectativa dos outros

0,637

Diversão

0,846

Competição/ego

0,867

Geral

0,921

Fonte: Elaboração própria

 

    Os resultados obtidos a partir do α de Cronbach revelaram a confiabilidade necessária, permitindo que se prosseguisse com os estudos acerca da motivação.

 

    Durante a análise de correlações, observou-se que dos 8 itens previstos inicialmente, com exceção do item 21 “Porque as pessoas me dizem que preciso”, todos os demais itens relacionados à imagem corporal se confirmaram. A maior incidência de correlações foi na subescala “Aparência” (6 itens).

 

    A análise fatorial da subescala “expectativa dos outros” apresentou correlação baixa com três subescalas: “diversão”, condição física” e “afiliação” (21 Porque as pessoas me dizem que preciso, diversão: 0,476; condição física: 0,321; afiliação: 0,354), conforme demonstrado na Tabela 2.

 

Tabela 2. Índices de correlações – Imagem corporal

Item da PALMS

Subescalas/Original

Subescalas/Resultados

Valor Correlação

39 Para estar em melhor forma do que outras pessoas

Competição/ego

Diversão

0,780

12 Para ficar em boa forma física

Condição física

Aparência

0,588

11 Para definir músculo, melhorar a aparência

Aparência

Aparência

0,832

23 Para melhorar a forma física

Aparência

Aparência

0,544

32 Para melhorar a aparência

Aparência

Aparência

0,796

36 Para perder peso, ter uma melhor aparência

Aparência

Aparência

0,547

40 Para manter o corpo em boa forma e tonificado

Aparência

Aparência

0,747

21 Porque as pessoas me dizem que preciso

Expectativa dos outros

Diversão

Condição física

Afiliação

0,476

0,321

0,354

Fonte: Elaboração própria

 

    As respostas dos praticantes revelaram correlações fortes nos construtos relacionados aos itens da PALMS que mobilizam aspectos motivacionais predominantemente extrínsecos. Essa asserção pode ser confirmada pelas correlações estabelecidas entre as subescalas “competição” e “diversão” (39 Para estar em melhor forma do que outras pessoas, 0,780); “condição física” e “aparência” (12 Para ficar em boa forma física, 0,588); e nos itens da subescala “aparência”, apresentando correlações com ela mesma (11 Para definir músculo, melhorar a aparência, 0,832; 23 Para melhorar a forma física, 0,544; 32 Para melhorar a aparência, 0,796; 36 Para perder peso, ter uma melhor aparência, 0,547; 40 Para manter o corpo em boa forma e tonificado, 0,747).

 

Discussão 

 

    De acordo com Deci, e Ryan (1985) existem relações entre os baixos desempenhos para uma determinada tarefa aos processos cognitivos, impactando negativamente na condição psicológica dos indivíduos e resultando na heterodeterminação, isto é, afastam-se das necessidades individuais das pessoas. Os processos de internalização de comportamentos devem partir da integração. Para os autores, a internalização de comportamentos é composta nas seguintes modalidades: não regulação, regulação externa, regulação introjetada, regulação identificada, regulação integrada e regulação intrínseca.

 

    Conforme sintetizado por Appel-Silva, Wendt, e Argimon (2010), a regulação introjetada é uma modalidade que ainda não foi totalmente integrada ao eu (self) e não fornece elementos motivacionais plenos. A regulação identificada é parcial, ou seja, depende da aprovação externa e é reconhecida como tal pelo sujeito, gerando sentimentos de dependência em relação aos outros. A regulação integrada revela uma internalização forte, mas se vincula ao reconhecimento social. Já a regulação intrínseca revela que as formas anteriores de motivação foram internalizadas e estão vinculadas aos valores pessoais dos indivíduos.

 

    Em análise aos dados inicialmente apresentados, tem-se que imagem corporal e motivação são construtos que estão estreitamente relacionados, mas, em geral, a regulação dos comportamentos dos praticantes de exercícios físicos é heterônoma, isto é, regulada pela motivação extrínseca. Este aspecto demonstra a fragilidade da continuidade da prática.

 

    Nas correlações apontadas entre as subescalas “Competição”/“Diversão”; “Condição física”/ “Aparência”; e “Aparência”/”Aparência”, é possível inferir que os praticantes são motivados pela regulação identificada e integrada, pois estão vinculadas pela dependência em relação ao que os outros pensam ou esperam do seu comportamento, ou ainda, pela necessidade de reconhecimento social.

 

    Esses resultados reforçam o que asseveram Schlickmann et al. (2018) sobre a massificação de corpos com contornos padronizados, belos e bem definidos, aproximando-se de um padrão de perfeição, resultando na necessidade de aprovação externa constante.

 

    Observa-se, com os resultados das correlações, que a imagem corporal está mais ligada às opiniões e atitudes dos outros, do que a atribuição da devida importância à melhoria da qualidade de vida e bem-estar pelos próprios indivíduos, o que demonstra ainda ser longo o percurso entre a tomada de consciência de que a prática de exercícios físicos deve ser uma ação essencial, pois irá mobilizar as atitudes calcadas na motivação intrínseca, isto é, incorporadas ao self.

 

    Conquanto à não confirmação do item da escala “Expectativa dos outros”/“Diversão, Condição física e Afiliação”, esse resultado pode ser explicado com base em pesquisas que descobriram que motivação e imagem corporal possuem fatores diferentes. Essa condição revela uma lacuna metodológica que precisa ser colmatada, pois, conforme apontaram More, Hayes, e Phillips (2022), os instrumentos adotados em pesquisas que envolvem imagem corporal e motivação para a prática de exercícios físicos devem considerar que a imagem corporal positiva não abranda os efeitos da imagem corporal negativa porque ambas interagem entre si, não sendo adequado estudá-las separadamente. Dito de outro modo, embora imagem corporal e motivação possuam relação entre si, trata-se de construtos independentes, com forças fatoriais internas específicas, o que exige a aplicação de instrumentos de aferição capazes de identificar tanto as correlações recíprocas como as suas variáveis internas, estudadas separadamente.

 

    Essas afirmações encontram eco nos estudos de Sagaribay (2022), que revelaram que fatores externos não inspiram a motivação e tendem a influenciar negativamente a satisfação com o próprio corpo. A satisfação corporal do estado diminuiu e o humor negativo aumentou da pré para a pós-exposição para os grupos fitspiration e fitspiration parcial, demonstrando que as mudanças na motivação para o exercício não foram dependentes da condição dos estímulos para nenhum dos modelos. Para esse autor, uma ideia unilateral de um corpo saudável pode não reforçar a motivação para o exercício.

 

    Ademais, conforme asseveram Herrera Villegas, e Flórez Villamizar (2020):

    ...não se pode ignorar que o espaço e o tempo da atividade física constituem um cenário de construção social, onde são construídas e processadas relações éticas que dão suporte à interação dos sujeitos que nesta atividade têm um ponto de encontro (p. 149).

    Nessa direção, o trabalho desenvolvido pelos profissionais nas academias de ginástica deve considerar a condução e prescrição de atividades que visem a condição corporal, mas, também, a situação psíquica dos praticantes, o que exigirá a adoção dos fundamentos da Psicologia, aliados à Educação Física, por meio da ação multiprofissional, visando contribuir para o desenvolvimento de condutas motivacionais intrínsecas pelos frequentadores. Embora as academias de ginástica sejam espaços de socialização, devem cumprir, também, o papel de mobilizadoras de comportamentos cada vez mais favoráveis à compreensão de que a visão que as pessoas possuem de si mesmos e de seus corpos deve se pautar na própria qualidade de vida e não em expectativas atribuídas por outrem.

 

    Baseando-se nas proposições da teoria da autodeterminação sobre uma autorregulação saudável e eficaz, Heblich et al. (2023) apontam, por meio de um estudo empírico, que o mindfulness, como um recurso de atenção plena, a orientação intrínseca de objetivos de vida e a autonomia de objetivos são essenciais para a saúde e eficácia. Para esses autores, embora a clareza sobre os pontos fortes pessoais e a sua utilização não afetem significativamente a saúde e a produtividade dos indivíduos diretamente; as intervenções modernas voltadas para tomada de consciência e desenvolvimento da clareza sobre valores contribuem para a obtenção e utilização dessas informações sobre os próprios pontos fortes pessoais, alterando positivamente o comportamento dos indivíduos.

 

    A análise qualitativa permite inferir ainda que os resultados apontam para a necessidade de implantação de políticas que favoreçam a estruturação de espaços públicos destinados ao lazer, mas, sobretudo, à prática orientada de exercícios físicos, tomando como sugestão os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 3).

 

    A atuação de profissionais da área da saúde é mister, sobretudo os profissionais de Educação Física em academias de ginástica, considerando a necessidade de intervenções e mediações que possibilitem a internalização de condutas autorreguladas pelos praticantes. Disso depende a própria vida da população, considerando os riscos extremos causados tanto pelo absenteísmo como pelas práticas extenuantes de exercícios físicos no que se refere à tomada de consciência sobre os cuidados importantes e indispensáveis à manutenção da saúde.

 

Conclusão 

 

    A imagem corporal é um indicador de satisfação ou insatisfação que os sujeitos possuem acerca do próprio corpo. Contudo, ela não é preditora para a prática de exercícios físicos dos frequentadores de academias de ginástica de Porto Velho-RO, pois, de acordo com as respostas fornecidas pela amostra pesquisada, não altera os processos motivacionais. A TAD pode fornecer subsídios aos indivíduos praticantes de exercícios físicos em academias de ginástica, de modo a compreender os próprios sistemas motivacionais, em direção à internalização de comportamentos favoráveis à manutenção da saúde e da qualidade de vida.

 

    Em relação ao vínculo entre a imagem corporal e os aspectos motivacionais, os resultados apontaram que a PALMS pressupõe 8 itens motivacionais ligados à imagem corporal, mas indica apenas 2 itens voltados para a motivação intrínseca (“40 Para manter o corpo em boa forma e tonificado” e “23 Para melhorar a forma física”), cujas correlações se vincularam à motivação extrínseca, o que resulta em baixa internalização de comportamentos motivados para a prática de exercícios físicos.

 

    Em que pese os resultados desse estudo, faz-se necessária a realização de novas investigações que, além de ampliar o universo pesquisado, apliquem testes e escalas empíricas associando a motivação à imagem corporal a um mesmo público, com vistas a garantir maior precisão e validade interna e externa para os instrumentos em ambas as temáticas. Destaca-se que a imagem corporal e a motivação também são influenciadas internamente, cujas variáveis devem ser analisadas tanto de forma simétrica como recíproca, ou seja, deve-se considerá-las tanto de maneira independente como influenciando uma à outra.

 

    Um aspecto revelado pelo estudo teórico que merece relevo é o fato de que tanto a imagem corporal como a motivação são afetadas de diferentes formas, dentre as quais se destacam as mídias sociais, os familiares, amigos e outros praticantes de exercícios físicos de seu círculo social e das academias que frequentam. Esses fatores indicam que a percepção acerca da imagem corporal e os processos motivacionais podem se deslocar em diferentes direções, tanto em sentido vertical como horizontal, carecendo de instrumentos específicos para a identificação de como ambos os construtos se influenciam mutuamente.

 

    Este estudo poderá contribuir com profissionais que estejam envolvidos na prática de exercícios físicos, no que se refere aos elementos teóricos, a partir da TAD, e metodológicos, por meio da PALMS, no tocante à apropriação de fundamentos da Psicologia que tratem da motivação, considerando a detecção, nesta pesquisa, que a imagem corporal se apresenta como um construto mais vinculado aos processos de motivação extrínseca do que à motivação intrínseca, pois, os praticantes percebem fortemente a própria imagem em relação ao que os outros pensam ou determinam para si.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 299, Abr. (2023)