O uso de substâncias psicoativas: uma discussão sobre a atuação da escola na luta pela prevenção

The use of psychoactive substances: a discussion about the school's action in the fight for prevention

El uso de sustancias psicoactivas: una discusión sobre la intervención de la escuela en la lucha por la prevención

 

Silvia Souza Santos*

silviavero2007@gmail.com

Murilo Marques Scaldaferri**

muriloscaldaferri@yahoo.com.br

Obertal da Silva Almeida***

oalmeida@uesb.edu.br

 

*Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual

do Sudoeste da Bahia/Campus de Itapetinga, BA

**Biólogo, Mestre em Ciências Ambientais

Docente do Departamento de Ciências Exatas e Naturais da Universidade Estadual

do Sudoeste da Bahia/Campus de Itapetinga, BA

***Biólogo, Mestre na área de Fitotecnia

Docente do Departamento de Ciências Exatas e Naturais

da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/Campus de Itapetinga, BA

(Brasil)

 

Recepção: 21/03/2018 - Aceitação: 03/11/2018

1ª Revisão: 01/10/2018 - 2ª Revisão: 31/10/2018

 

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

 

Resumo

    O uso de drogas no Brasil entre adolescentes é tratado como um grande problema social, e assim é indiscutível buscar intervenções preventivas, evitando, principalmente, o primeiro contato. Sendo a escola muito importante nesse contexto, esta pesquisa tem como objetivo geral analisar como tem sido a sua atuação na abordagem das drogas lícitas e ilícitas no contexto da prevenção. A pesquisa foi realizada em 7 escolas que possuem o 8º ano do ensino fundamental II da Rede Pública Municipal de Ensino de Itapetinga-BA. O presente estudo trata-se de pesquisa exploratória de cunho quantitativo. Os dados foram coletados aplicando-se um questionário estruturado em todas as turmas (25), contemplando uma amostra de 667 alunos e 34 professores. Por se tratar de uma escola, a análise dos dados buscou estabelecer uma relação entre o consumo de drogas e as discussões sobre o tema em seu contexto. Os resultados mostraram que 75% dos discentes afirmam conhecer ou conviver com algum usuário de drogas na faixa entre 12 e 18 anos. 91% acreditam ser importante que as escolas desenvolvam atividades referentes à prevenção às drogas. Dos discentes que se sentem preparados para dizer não, quando receberem alguma oferta de substâncias psicoativas, 85% já participaram de ações de prevenção realizadas no ambiente escolar. 75% dos professores relataram desenvolver esse tipo de atividade, mesmo sem a iniciativa da gestão do estabelecimento de ensino. Espera-se que o presente estudo possa servir como arcabouço pragmático para otimizar a efetividade dos investimentos públicos envolvendo a temática das drogas nas escolas.

    Unitermos: Adolescentes. Drogas. Educação em saúde.

 

Abstract

    The use of drugs in Brazil among adolescents is treated as a major social problem, and thus it is indisputable to seek preventive interventions, avoiding, mainly, the first contact. Since school is very important in this context, this research has as general objective to analyze how has been its action in the approach of licit and illicit drugs in the context of prevention. The research was carried out in 7 schools that have the 8th year of elementary education II of the Municipal Public School of Itapetinga-BA. The present study is an exploratory research of a quantitative nature. Data were collected by applying a structured questionnaire in all classes (25), with a sample of 667 students and 34 teachers. Because it is a school, the data analysis sought to establish a relationship between drug use and discussions on the subject in its context. The results showed that 75% of the students say they know or live with a drug user between the ages of 12 and 18. 91% believe it is important for schools to develop activities related to drug prevention. Of the students who feel prepared to say no, when they receive some offer of psychoactive substances, 85% have already participated in prevention actions carried out in the school environment. 75% of teachers reported developing this type of activity, even without the initiative of school management. It is hoped that the present study could serve as a pragmatic framework to optimize the effectiveness of public investments involving the drugs issue in schools.

    Keywords: Adolescent. Drugs. Health education.

 

Resumen

    El uso de drogas en Brasil entre adolescentes es tratado como un gran problema social, y así es indiscutible buscar intervenciones preventivas, evitando, principalmente, el primer contacto. Siendo la escuela muy importante en ese contexto, esta investigación tiene como objetivo general analizar cómo ha sido su actuación en el abordaje de las drogas lícitas e ilícitas en el contexto de la prevención. La investigación fue realizada en 7 escuelas que cuentan con el 8º año de la enseñanza fundamental II de la Red Pública Municipal de Enseñanza de Itapetinga-BA. El presente estudio aborda una investigación exploratoria de cuño cuantitativo. Los datos fueron recolectados aplicando un cuestionario estructurado en todas las clases (25), contemplando una muestra de 667 alumnos y 34 profesores. Por tratarse de una escuela, el análisis de los datos buscó establecer una relación entre el consumo de drogas y las discusiones sobre el tema en su contexto. Los resultados mostraron que el 75% de los discentes afirman conocer o convivir con algún usuario de drogas en el rango entre 12 y 18 años. El 91% considera importante que las escuelas desarrollen actividades referentes a la prevención de las drogas. De los discentes que se sienten preparados para decir no, cuando reciben alguna oferta de sustancias psicoactivas, el 85% ya participaron de acciones de prevención realizadas en el ambiente escolar. El 75% de los profesores relataron desarrollar ese tipo de actividad, incluso sin la iniciativa de la gestión del establecimiento de enseñanza. Se espera que el presente estudio pueda servir como marco pragmático para optimizar la efectividad de las inversiones públicas involucrando la temática de las drogas en las escuelas.

    Palabras clave: Adolescentes. Drogas. Educación en salud.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 246, Nov. (2018)


 

Introdução

 

    Muitas famílias convivem com os problemas relacionados ao uso de drogas (Ramirez e Rocha, 2016). Quem não tem ou teve um familiar ou amigo que não se envolveu no mundo obscuro dos entorpecentes? De acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas, de 2015, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), estima-se que um total de 246 milhões de pessoas, um pouco mais do que 5% da população mundial com idade entre 15 e 64 anos, tenha feito uso de drogas ilícitas em 2013.

 

    Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), droga é qualquer substância capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento. A incidência do uso de drogas entre adolescentes é considerada alta quando comparada as outras faixas populacionais (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas [CEBRID], 2011). Para Becker (2001), esse fato faz referência ao contexto, geralmente, de difícil transição, de busca de autoafirmação e enquadramento com a nova identidade nascente.

 

    O uso de substâncias psicoativas para alterar as percepções, os sentimentos ou o comportamento é comum entre os jovens: estudos indicam que 50% a 80% das crianças em idade escolar usam drogas lícitas ou ilícitas com propósitos recreacionais (Antidrogas, 2016).

 

    Por se tratar um dos maiores problemas da sociedade atual, o presente trabalho busca identificar como a escola tem contribuído para prevenir os alunos do 8º ano do ensino fundamental II, da rede municipal de Itapetinga-BA, a não experimentar nenhum tipo de substâncias psicoativas, visto que o maior obstáculo é resistir ao primeiro contato (Canavez, Alves & Canavez, 2010).

 

    Sendo assim,esta pesquisa teve como objetivo geral analisar como tem sido a atuação da escola na abordagem das drogas lícitas e ilícitas no contexto da prevenção. Este será atingido a partir dos seguintes objetivos específicos: verificar se há intervenções realizadas nas escolas sobre o tema; averiguar se os professores trabalham o tema sobre drogas em suas aulas e avaliar o interesse dos alunos em discussões sobre o tema, drogas.

 

    Ao menos 28 milhões de pessoas no Brasil têm algum familiar que é dependente químico, de acordo com o Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (LENAD Família), feito pela Universidade Federal de São Paulo (Abramovay, 2002).

 

    A vivência desse período se faz de maneira conflituosa e as pressões do meio social aparecem de forma mais representativa. A inserção no consumo de drogas aconteceria, na maioria das vezes, por influência dos colegas (Takeuti, 2002). A busca dos amigos para fugir dos conflitos familiares e a sede por transgressões, fariam parte do comportamento característico dessa faixa de idade.

 

    Aratangy (1998, p.14) afirma que o caminho para prevenção do uso de drogas não passa necessariamente pela repressão. Muito mais importante e eficaz do que alardear proibições (dificilmente obedecidas) é oferecer canais para que o jovem possa dar vazão a sua necessidade de viver experiências significativas e de partilhá-las com seu grupo.

 

    Abramovay (2002) e Castro (2002) afirmam que a escola se tornou um local privilegiado com relação à prevenção ao uso de drogas, por ser um ambiente de muita discussão e debate, com diferentes formas de pensar e onde se constrói opiniões. O caminho para a prevenção do consumo de drogas passa pela exploração das questões emocionais dos adolescentes, e isso se dá por meio da abertura de canais de comunicação e participação, com atividades alternativas e não avaliativas pela escola, tais como as artísticas e esportivas.

 

    Além disso, mostra-se imprescindível a organização de atividades que envolvam o jovem na comunidade, assim como abrir espaços para orientação aos pais, para que estes não se sintam tão despreparados para lidar com os desafios da adolescência (Müller, Paul & Santos, 2008).

 

    Atualmente, a prevenção ao uso de drogas é um assunto que interessa a todos, visto que muitos adolescentes ainda não fazem o uso de Drogas lícitas ou ilícitas, contudo são mais vulneráveis a terem o primeiro contato. Por isso, quanto mais os adolescentes souberem dos prejuízos causados pelas Drogas, será mais prudente manter-se longe delas, segundo Tiba (2003) defendeu em sua tese: “Quem é feliz não usa drogas”. 

 

    Visando a importância do professor e da escola em formar cidadãos conscientes, o presente trabalho é de grande relevância para contribuir na prevenção do consumo das Drogas lícitas ou ilícitas na adolescência.

 

Material e métodos

 

    Em relação aos objetivos, o presente estudo trata-se de pesquisa exploratória de cunho quantitativo. Para Gil (2008), a pesquisa exploratória estuda mais profundamente um assunto pouco conhecido e explorado, estabelecendo hipóteses de acordo com o conhecimento adquirido pelo explorador. A pesquisa quantitativa é aquela em que o pesquisador se propõe a analisar questões muito amplas, envolvendo “um nível de realidade que pode ser quantificado” (Lakatos & Marconi, 2002, p. 71).

 

    Quanto à amplitude e profundidade da pesquisa, trata-se de um estudo de campo, por meio do qual foi realizada a obtenção de dados representativos da população pesquisada, a fim de entender alguns elementos dentre o grande número de aspectos e inter-relações existentes acerca do tema.

 

    O estudo foi desenvolvido nas 25 turmas, distribuídas nos turnos matutino e vespertino, de todas as 7 escolas da Rede Pública Municipal de Ensino de Itapetinga-BA, que possuem 8º ano do Ensino Fundamental II, alcançando assim a totalidade das turmas que possui o público alvo desejado em escolas municipais do referido município. A escolha deste público deu-se ao fato de abrangerem maior número de adolescente em uma faixa etária de 12 a 15 anos considerada muito vulnerável. Para Becker (2001), esse fato faz referência ao contexto, geralmente, de difícil transição, de busca de autoafirmação e enquadramento com a nova identidade nascente, o que torna a incidência do uso de drogas entre adolescentes alta quando comparada as outras faixas populacionais.

 

    Ademais, na referida série, é estudado o corpo humano, detalhando cada sistema (circulatório, respiratório, reprodutor, digestivo, excretor e nervoso) permitindo assim, que os professores façam relações do quanto as drogas interferem no seu funcionamento e desenvolvimento.

 

    A coleta de dados primários (questionários) foi realizada entre os dias 05 e 28 do mês de outubro de 2017. A fim de atingir os objetivos proposto pela pesquisa, a coleta de dados primários foi realizada com dois grupos distintos: o grupo dos discentes, buscando saber os seus conhecimentos, possíveis contatos com drogas lícitas e ilícitas e participação em atividades sobre o tema propostas pela escola; e o grupo dos docentes,que respondeu sobre a atuação da escola em projetos e atividades visando à discussão e prevenção ao uso dessas substâncias pelos jovens.

 

    Colocando em números, foram pesquisadas 7 escolas, dentre estas, 5 localizadas na sede do município e 2 nos distritos de Palmares e Bandeira do Colônia, as escolas possuem de 1 a 10 turmas, distribuídos nos turnos matutino e vespertino totalizando 25 turmas de 8º ano. Cada uma das escolas possui um grupo de 8 professores para a turma de 8º ano, o que resulta num total de 56 professores. Por outro lado, com exceção do distrito de Palmares, que possui apenas 6 alunos, as demais escolas possuem, em média 35 alunos por turma, totalizando 814 alunos matriculados no 8º ano.

 

    Portanto, o universo de pesquisa foi dividido em dois grupos: 56 professores e 814 alunos, contemplando todas as 25 turmas do 8º ano, das 7 escolas da Rede Pública Municipal de Ensino de Itapetinga-BA.

 

    Embora tenha havido a pretensão de obter-se os dados de todo a população da pesquisa, a amostra obtida foi de 34 professores e 667 alunos, seja em razão da ausência destes nos dias da aplicação dos questionários ou pela recusa de alguns a respondê-los.

 

    Os questionários elaborados foram divididos em 3 partes. A primeira parte é uma breve apresentação do questionário como instrumento da pesquisa. Nesta parte procurou-se introduzir de maneira informal o tema e contexto, convidando o participante a responder as questões.

 

    Na segunda parte do questionário buscou-se informações demográficas mínimas dos participantes, quais sejam, idade e gênero, em ambos os questionários, e quantos anos de magistério e regime de trabalho, apenas para os professores.

 

    Na terceira e última parte do questionário constam as questões elaboradas pela autora, com o objetivo de responder aos objetivos propostos para a pesquisa.

 

    A partir dos dados primários coletados por meio de questionários aplicados aos alunos, foram agrupadas as respostas por cada turma. Os totais obtidos em cada turma foram sintetizadas, em seguida foi agrupado o total geral de respostas para cada uma das 11 questões do Questionário aplicados aos 667 alunos participantes da pesquisa.

 

    As respostas dos questionários aplicados aos 34 professores, foram agrupadas e ao final, foram sintetizadas o total geral de respostas para cada uma das 7 questões do Questionário.

 

    Sintetizadas as respostas dos questionários, foi realizado o cruzamento dos dados da pesquisa, por meio do relacionamento entre respostas de questões escolhidas a critério a Autora, a fim de serem constatadas eventuais relações entre a discussão do tema e seu impacto na prevenção ao uso de drogas. A partir do cruzamento de dados puderam ser observados aspectos não contemplados pelas respostas obtidas individualmente.

 

    Por fim, os aspectos considerados mais relevantes foram tabulados por meio dos programas MS Excel e MS Word, tendo sido elaborados vários gráficos, que são apresentados na seção seguinte, Discussões e resultados.

 

Resultados e discussão

 

    Foram aplicados questionários a 667 alunos e 34 professores, o que representou, respectivamente, uma amostra 82% e 61% da população da pesquisa, conforme os gráficos abaixo.

 

Gráfico 1. Universo de pesquisa – Alunos. Itapetinga - Bahia-Brasil

Fonte: Autoria própria

 

Gráfico 2. Universo de pesquisa - Professores. Itapetinga - Bahia-Brasil

Fonte: Autoria própria

 

    Há de ser destacado que, embora a pretensão do estudo tenha sido de realizar a pesquisa com todos os professores e alunos das turmas de 8º ano, o número de participantes foi afetado pela ausência nos dias da aplicação dos questionários e pela recusa de alguns a participar da pesquisa. A adesão foi maior pelos alunos do que pelos professores, entretanto, os dados foram coletados de parcela significativa da população pesquisada.

 

    Os resultados gerais da pesquisa estão apresentados nos quadros a seguir.

 

Quadro 1. Questões fechadas: Alunos. Itapetinga - Bahia - Brasil

Questão

Sim

Não

S/Resp

02

Você conhece algum usuário de droga na sua cidade com idade entre 12 e 18 anos?

501

161

5

03

Em sua família tem algum usuário de droga?

298

364

5

04

Já lhe ofereceram algum tipo de droga?

227

410

30

05

Se sim, para a resposta anterior, você aceitou?

39

582

46

06

Você se considera preparado para recusar experimentar caso lhe seja oferecido alguma droga?

511

145

11

07

Você sabe quais são os prejuízos que a droga traz na vida da pessoa e na família?

602

42

23

09

Você já participou de alguma palestra sobre as drogas na escola?

435

226

6

10

Você considera necessário atividades de prevenção das Drogas nas escolas?

612

54

1

Fonte: Autoria própria

 

    Foi constatado que quase 45% dos alunos possuem algum usuário de drogas na família (Questão 3) e cerca de 35% dos participantes já foram alvo de ofertas de drogas. Nota-se o quanto é importante conscientizar os alunos, visto que, um número considerado alto em relação a quantidade de adolescentes que possui um parente usuário de drogas na família quase 50% dos pesquisados, além 75% de alunos conhecerem também algum adolescente que faz uso de drogas lícitas e ilícitas idade entre 12 e 18 anos (Questão 2). Para Micheli e Formigoni (2002), o meio onde o adolescente está inserido, bairro, amigos e familiares, pode ser uma influência determinante para o consumo de drogas.

 

    Mais de 65% dos alunos já participaram de palestras sobre drogas na escola (Questão 9), e embora 90% dos alunos afirmaram conhecer os prejuízos decorrentes do uso de drogas (Questão 7), mais de 91% dos pesquisados consideram necessário atividades escolares de prevenção ao uso de drogas (Questão 10). Os alunos que participaram de algum evento na escola mostram-se interessados a participarem de mais atividades de prevenção ao uso de drogas. Soares e Jacobi (2000), afirmam que os adolescentes envolvidos em projetos confiavam que a prevenção, a partir da escola, surtiria efeitos importantes.

 

Além das questões fechadas, foram elaboradas questões optativas, a fim de identificar quais as drogas mais usadas, segundo o conhecimento dos alunos, onde eles mais ouvem falar sobre as drogas e quais a atividades de prevenção sugeridas para realização na escola. As respostas estão relacionadas no quadro 2, abaixo.

 

Quadro 2. Questões optativas: Alunos. Itapetinga - Bahia-Brasil

Questão 1. Em sua opinião qual a droga mais usada em sua cidade?

Maconha

Cocaína

Crack

Cigarro

Álcool

Não sei

S/Resposta

333

51

30

48

149

48

8

Questão 8. Qual o local onde você mais ouve falar sobre as drogas?

Escola

Casa

Rua

Igreja

Outros

-

S/Resposta

154

47

446

17

0

-

3

Questão 11. Que atividade você sugere para sua escola na prevenção ao uso de drogas?

Palestras

Seminários

Projetos

Outros

-

-

S/Resposta

209

54

384

0

-

-

20

Fonte: Autoria própria

 

    A droga mais usada no município de Itapetinga é a maconha, para 50% dos alunos. É interessante observar que para muitos adolescentes o álcool é a segunda droga mais usada. Guimarães, Godinho, Cruz, Kappann & Tosta (2004), em pesquisa sobre consumo de drogas psicoativas por adolescentes escolares, constataram que o álcool é a droga mais utilizada durante a vida dos entrevistados, seguida pelo tabaco. Essas drogas, por serem lícitas, podem surgir como os primeiros passos para o consumo de drogas ilícitas, como a maconha. Espantosamente, para mais de 66% dos participantes, ou seja, 2/3 (dois terços) deles, o local que mais se ouve falar sobre drogas é na rua. Isso demonstra que a família e a escola, onde, teoricamente, passam a maior parte do tempo, não têm dado orientação massiva sobre o tema, papel que tem sido assumido por terceiros, na rua, e certamente, sem caráter preventivo. Schenkerl e Minayo (2003) destacam a importância dos pais que mantêm um diálogo aberto com seus filhos, mesclando autoridade, cordialidade e vigilância, desempenhando assim um papel importante na prevenção do uso e abuso de drogas.

 

    Também merece destaque a preferência por projetos (Questão 11), alternativa escolhida por 57% dos alunos. De acordo com Soares e Jacobi (2000), a prevenção deve ser feita de maneira dinâmica, utilizando as formas e linguagem de comunicação que o jovem entende e gosta: a música (como o rap, por exemplo), a TV, o cinema, a mídia de maneira geral. Os estudantes aprovam as atividades ligadas ao projeto das quais participam: dramatizações, jogos, discussões e outras estratégias pedagógicas que requisitam a participação ativa dos adolescentes.

 

    Aos professores foram formuladas questões relacionadas à atuação pessoal e da escola sobre a abordagem do tema Drogas, conforme quadro adiante.

 

Quadro 3. Questões fechadas: Professores. Itapetinga - Bahia-Brasil

Questão

Sim

Não

S/resp

01

A escola possui algum tipo de projeto sobre as Drogas?

10

23

1

02

A escola viabiliza recurso para trabalhar sobre o tema?

9

24

1

03

O (A) Senhor (a) buscar trabalhar o tema drogas nas suas aulas?

24

9

1

04

Os alunos mostram-se interessados sobre o tema Drogas?

24

8

2

05

Para o (a) Senhor (a) os alunos conhecem os malefícios provocados pelo consumo das drogas?

29

5

0

06

O (A) Senhor (a) considera que abordando o tema sobre Drogas contribuirá para que o adolescente recuse caso seja oferecido algum tipo de entorpecente?

27

5

2

Fonte: Autoria própria

 

    Segundo resposta de mais de 70% dos professores participantes da pesquisa, a escola que atua não tem nenhum tipo de projeto sobre drogas (Questão 1) nem disponibiliza qualquer recurso para trabalhar o tema (Questão 2).

 

    Entretanto, ainda que sem qualquer projeto ou recurso, mais de 70% dos professores buscam trabalhar o tema Drogas em sala de aula (Questão 3). É importante que escola e professores estejam trabalhando em conjunto e de forma eficiente para que alcancem resultados significativos.

 

    O modelo de prevenção ao uso abusivo de drogas, adotado nas escolas do estudo de Henrikson (2007), ainda é o tradicional, baseado na repressão e conhecido como “guerra às drogas”. Segundo Placco (2006), esse modelo parte dos discursos da moral e do medo que têm sido muito criticados por não serem eficientes, sobretudo no que se refere aos grupos etários mais jovens.

 

    Exato 70% dos professores responderam que os alunos demonstram interesse sobre o tema Drogas (Questão 4) e mais de 85% dos professores afirmaram que os alunos conhecem os malefícios decorrentes do uso (Questão 5). Desta forma, percebe que quanto mais os alunos mostram-se interessados no tema, mais conhecem os malefícios provocados ao uso de entorpecentes.

 

    Para um maior aprofundamento da pesquisa, foi realizado o cruzamento de dados, relacionando algumas das respostas individuais com outras, buscando descobrir alguma inter-relação entre determinados aspectos.

 

    As primeiras questões a serem relacionadas foram as Questões 2 e 4, a fim de identificar quantos dos alunos que conhecem algum usuário de drogas com idade entre 12 e 18 anos que já tenha sido alvo de oferecimento de algum tipo de droga.

 

Gráfico 3. Relação entre as Questões 2 e 4 do questionário aplicados aos alunos. Itapetinga - Bahia-Brasil

Fonte: Autoria própria

 

    A pesquisa demonstrou que mais de 45% dos alunos que conhecem algum usuário naquela faixa etária, já receberam alguma oferta de uso de drogas. O cruzamento destas questões comprova a estreita relação entre ter contato com um usuário de drogas e a propensão de sofrer investidas para imersão no mundo das drogas. Este dado corrobora com Micheli e Formigoni (2002), quando destacam a importância do meio onde o adolescente está inserido, no uso de drogas.

 

    Outra relação pesquisada foi se os alunos que se consideram preparados para recusar, caso lhes seja oferecido algum tipo de droga já participaram de palestra sobre o tema.

 

    Observou-se que mais de 85% dos alunos que se julgam preparados para recusar, caso lhes seja oferecido, já participaram de palestras sobre as drogas. Vejamos.

 

Gráfico 4. Relação entre as Questões 6 e 9 do questionário aplicados aos alunos. Itapetinga - Bahia-Brasil

Fonte: Autoria própria

 

    Verifica-se que quanto mais os alunos sabem sobre os grandes prejuízos provocados pela as drogas, sentem-se preparados a recusar caso lhe seja oferecido.

 

    Diante dos resultados investigados sobre o nível de informações dos alunos com relação aos efeitos biopsicossociais das drogas, Flores (2004) pôde perceber que o grupo onde existia um bom embasamento do assunto, com um maior conhecimento dos prejuízos fisiológicos, psicológicos e sociais, apresenta um maior número de estudantes que se recusariam a consumir substâncias psicoativas.

 

    Dos alunos que possuem usuário de drogas na família, 13% deles já experimentaram algum tipo de droga, conforme Gráfico 5, abaixo.

 

Gráfico 5. Relação entre as Questões 3 e 5 do questionário aplicados aos alunos. Itapetinga - Bahia-Brasil

Fonte: Autoria própria

 

    Embora pareça ser um percentual relativamente baixo, este número demonstra que mesmo já tendo convivido com problemas familiares decorrentes do uso de droga, alguns alunos aceitaram fazer uso de alguma substância entorpecente. No mesmo sentido, 6,5% dos alunos que afirmaram saber dos prejuízos decorrentes do uso, ainda experimentaram algum tipo de droga.

 

Gráfico 6. Relação entre as Questões 7 e 5 do questionário aplicados aos alunos. Itapetinga - Bahia-Brasil

Fonte: Autoria própria

 

    Descobrir que mesmo cientes dos malefícios do uso das drogas, ainda existem alunos que farão uso delas, nos remete a resposta dada por quase 15% dos professores, ao responderem a Questão 6 do seus questionários, quando afirmam que abordar o tema Drogas, na escola, não contribuiria para que o adolescente recuse caso seja oferecido algum tipo de entorpecente. Todavia, deve ser observada a distinção entre os verbos contribuir e evitar.

 

    Outras duas questões que foram cruzadas foram a 10 e a 9, do questionário dos alunos, quando procurou identificar dentre os alunos que consideraram necessárias atividades de prevenção ao uso de drogas na escola, quantos já participaram de alguma palestra, também na escola.

 

Gráfico 7. Relação entre as Questões 10 e 9 do questionário aplicados aos alunos. Itapetinga - Bahia-Brasil

Fonte: Autoria própria

 

    Pode ser observado que quase 29% dos alunos que consideraram importante a realização de atividade de prevenção ao uso de drogas na escola, nunca participaram de qualquer palestra, no ambiente escolar.

 

    Também foi realizado o cruzamento de duas questões respondidas pelos professores. As questões mais relevantes foram a 3 e a 2, esta que demonstram a abordagem, em sala de aula, do tem drogas pelos professores, independentemente da escola fornecer algum recurso de qualquer natureza.

 

Gráfico 8. Relação entre as Questões 3 e 2 do questionário aplicados aos professores. Itapetinga - Bahia-Brasil

Fonte: Autoria própria

 

    Por meio do Gráfico 8 é possível verificar-se que mais de 62% das escolas onde o tema drogas é tratado em sala de aula pelo professor não há a disponibilização de qualquer recurso para abordagem do tema. O professor está bem atuante no quesito prevenção, mesmo que não tenha recurso na escola ele próprio procura meios de atuar na luta pela prevenção das drogas.

 

Conclusões

 

    Foi constatado que, na maioria das vezes, a iniciativa em abordar o tema fica a cargo dos professores, o que demonstra a falta de comprometimento a nível institucional.

 

    É importante destacar que os professores estão desenvolvendo muitas vezes sozinhos a questão da prevenção. Os resultados mostram que o cenário não é ruim. A maioria dos pesquisados nunca usou drogas, conhecem os malefícios, já assistiram palestras, consideram importante projetos de prevenção. Poderia ser muito melhor se os gestores das escolas e até mesmo do município (secretaria de educação) entrassem nesta luta também, como projetos mais abrangentes, para toda a sociedade.

 

    Com efeito, ainda que possa ser questionado o alcance das atividades de prevenção ao uso de drogas pela escola, não há como negar que ao se recusar a desempenhar este papel, a escola passa a ser corresponsável, por omissão, da entrada de grande número de adolescentes e jovens no mundo das drogas.

 

    Ciente que a problemática não foi esgotada, espera-se que o presente estudo possa servir como arcabouço pragmático para aperfeiçoar a efetividade dos investimentos públicos diante dos serviços direcionados a estes fins, visando que muitos adolescentes não aceitem experimentar alguma droga.

 

Referências

 

    Abramovay, M. (2002). Drogas nas escolas. Brasília: UNESCO, Coordenação DST/AIDS do Ministério da Saúde, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, CNPq, Instituto Ayrton Senna, UNAIDS, Banco Mundial, USAID, Fundação Ford, CONSED, UNDIM.

 

    Antidrogas. (2016). Conceitos básicos em dependência de álcool e outras drogas na adolescência. Recuperado de http://www.antidrogas.com.br/mostraartigo.php?c=285&msg=Conceitos%20b%E1sicos%20em%20depend%EAncia%20de%20%E1lcool%20e%20outras%20drogas%20na%20adolesc%EAncia

 

    Aratangy, L. R. (1998). O desafio da prevenção. In: J.G. Aquino (Org.). Drogas na escola: alternativas teóricas e práticas (pp. 9-17). São Paulo: Summus.

 

    Becker, F. (2001). Educação e Construção do Conhecimento. Porto Alegre: Artmed.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 246, Nov. (2018)