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ISSN 1514-3465

 

Resenha crítica do livro 'O esporte nas eleições 2018'. Novas contribuições

Critical Review of the Book 'O Esporte nas Eleições 2018'. New contributions

Reseña crítica del libro 'O esporte nas eleições 2018'. Nuevos aportes

 

Gustavo Borges Monteiro

gustavoborgesguastala@gmail.com

 

Licenciado em Educação Física (UEM)

Bacharel em Educação Física (UNICESUMAR)

Mestrando em Educação Física (UEM)

(Brasil)

 

Recepção: 16/02/2022 - Aceitação: 08/07/2022

1ª Revisão: 02/06/2022 - 2ª Revisão: 27/06/2022

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Monteiro, G.B. (2022). Resenha crítica do livro 'O esporte nas eleições 2018'. Novas contribuições. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(293), 221-232. https://doi.org/10.46642/efd.v27i293.3398

 

Resumo

    O presente texto se apresenta como uma resenha crítica ao livro "O esporte nas eleições 2018: candidaturas à presidência da república e aos governos dos Estados", o qual teve como objetivo identificar nos planos de governo de todas as candidaturas cadastradas no Tribunal Superior Eleitoral às eleições do ano de 2018 aos cargos de Presidente da República e Governador Estadual de todas Unidades Federativas, as propostas para o setor esportivo ou relacionadas em alguma medida ao esporte. Os dados coletados foram rigorosamente organizados e expostos, porém, os autores optaram por não realizar análises sobre eles, o que prejudicou a completude da obra.

    Unitermos: Políticas públicas. Esporte. Eleições.

 

Abstract

    This text is presented as a critical review of the book “O esporte nas eleições 2018: candidaturas à presidência da república e aos governos dos Estados”, which aimed to identify in the government plans of all candidates registered with the Superior Electoral Court for the elections of 2018 to the positions of President of the Republic and State Governor of all Federative Units, the proposals for the sports sector or related in some way to sport. The data were rigorously organized and exposed, however, the authors chose not to perform analyses on them, which impaired the completeness of the work.

    Keywords: Public policy. Sport. Elections.

 

Resumen

    El presente texto se presenta como una revisión crítica del libro “O esporte nas eleições 2018: candidaturas à presidência da república e aos governos dos Estados”, que tuvo como objetivo identificar en los planes de gobierno de todas las candidaturas registradas en el Superior Tribunal Electoral en las elecciones del año 2018 a los cargos de Presidente de la República y Gobernador del Estado de todas las Unidades Federativas, propuestas para el sector deportivo o relacionadas en alguna medida con el deporte. Los datos recolectados fueron rigurosamente organizados y expuestos, sin embargo, los autores optaron por no realizar análisis sobre ellos, lo que comprometió la integridad del trabajo.

    Palabras clave: Políticas públicas. Deporte. Elecciones.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 293, Oct. (2022)


 

Introdução 

 

    Publicado eletronicamente1 em 2019 pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), o livro ‘O esporte nas eleições 2018: candidaturas à presidência da república e aos governos dos Estados’ é apresentado como fruto de uma parceria entre pesquisadores membros do Grupo de Estudos e Pesquisa em Políticas Públicas de Esporte e Lazer (GEPPOL)2, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), do Centro de Estudos em Gestão do Esporte e Lazer (CEGEL)3, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), e da Secretaria Estadual do Paraná, do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE-PR). Sendo, portanto, escrito por vários colaboradores, e organizado por Felipe Canan, Temistocles Damasceno Silva e Fernando Augusto Starepravo.

 

Imagem 1. Capa do livro

Imagem 1. Capa do livro

Fonte: https://www.researchgate.net/profile/Temistocles-Silva/publication/333118874

 

    Em que pese a excelente resenha da referida obra, elaborada por Marcus Peixoto de Oliveira, em parceria com Emerson Bevilaqua Garcia, e publicada em dezembro de 2021 na revista Motrivivência (Oliveira, e Garcia, 2021) – a qual tomei conhecimento durante o processo de submissão deste manuscrito –, considero importante um segundo olhar para o livro, uma vez que o seu conteúdo, como será demonstrado doravante, abre espaço para uma pluralidade de interpretações que podem ser profícuas para o estudo no campo das políticas de esporte e lazer. Nesse sentido, este artigo se apresenta como uma resenha crítica ao livro ‘O esporte nas eleições 2018: candidaturas à presidência da república e aos governos dos Estados’.

 

Biografia dos autores e dos grupos de pesquisa 

 

    Antes de adentrar no conteúdo do livro, em específico, é importante que o leitor tenha ciência de onde o referido conhecimento parte, isto é, quais são os autores que produziram este conteúdo. Desse modo, apresento, a seguir, um breve histórico sobre os organizadores e os grupos de pesquisa envolvidos.

 

    O Grupo de Estudos e Pesquisa em Políticas Públicas de Esporte e Lazer (GEPPOL), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), possui vinculação com o Departamento de Educação Física da referida universidade. A sua atuação gira em torno da produção de conhecimento sobre as políticas públicas de esporte e lazer, bem como em análises correlatas, como a perspectiva sociocultural do esporte e a sua manifestação mais específica à Sociologia do Esporte. As suas contribuições são produzidas desde a graduação até os diferentes níveis da pós-graduação. O GEPPOL possui pouco mais de dez anos de existência, tendo a sua origem quando o seu coordenador, Fernando Augusto Starepravo, assume o posto de professor efetivo na instituição. (Malagutti et al., 2021)

 

    Starepravo é um dos organizadores do livro resenhado, e tem a sua trajetória acadêmica iniciada com a graduação em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), no ano de 2003, mestrado e doutorado também em Educação Física pela mesma instituição,em 2005 e 2011, respectivamente. Além disso, realizou estágio de pós-doutorado na Loughborough University, no Reino Unido, entre os anos de 2019 a 2020. A sua atuação é voltada especialmente aos estudos das políticas públicas de esporte e lazer, atuando principalmente nos seguintes temas: Estado, esporte, sociologia, políticas públicas, esporte universitário, e lazer4.

 

    O Centro de Estudos em Política e Gestão do Esporte e Lazer (CEGEL) é um grupo de estudos e pesquisas vinculado à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). As suas pesquisas são divulgadas pelos mais diversos meios (livros, artigos e demais produções técnicas) e voltam-se à análise da política e gestão do esporte e lazer nos municípios brasileiros. Idealizado por professores e discentes da UESB em meados de 2012, atualmente o grupo tem a coordenação de Temistocles Damasceno Silva (Souza et al., 2021).

    

    Silva também é um dos organizadores do livro, e tem a sua trajetória acadêmica iniciada com a graduação em Educação Física pela UESB, em 2005, mestrado em Desenvolvimento Regional e Urbano pela Universidade Salvador (UNIFACS), em 2016, graduação em Gestão Pública pela UEM, em 2020, e doutorado em Educação Física, também pela UEM, em 2022. Além de possuir especialização em Atividade Física e Saúde pela Faculdade de Ciências e Tecnologia de Jequié (FTC), em 2007, e especialização em Metodologia do Ensino da Educação Física e Esporte pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em 2014. Os seus estudos são voltados para a análise da gestão pública municipal, especialmente no campo do Esporte e Lazer5.

 

    Felipe Canan, à época Secretário Estadual do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte no Paraná (CBCE-PR), é o terceiro organizador do livro. O autor dá início a sua trajetória acadêmica no ano de 2002, com a graduação em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR); em seguida, obtém o título de mestre em Educação Física pela UFPR, em 2008, a graduação em Direito pela Universidade Paranaense (UNIPAR), em 2015, e o doutorado em Educação Física pela UEM, em 2018. Atualmente, é Coordenador do Curso de Educação Física Regular da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos (PPGSP) da UEA, bem como líder do Grupo de Pesquisa Práxis - Teoria e Prática da Educação Física. Seus estudos são voltados à Educação Física e Esporte em uma perspectiva pedagógica e sociocultural, mais especificamente nas áreas da Pedagogia e Políticas Públicas6.

 

    Quanto aos autores dos capítulos, devido à grande quantidade, serão apresentados apenas seus nomes ao passo que o conteúdo do livro é exposto no próximo tópico. Importa, porém, assinalar que estes autores compõem os grupos de pesquisa GEPPOL e CEGEL.

 

Conteúdo do livro 

 

    A estrutura do livro é sustentada por quatro seções; sendo elas: 1) Introdução; 2) Procedimentos metodológicos; 3) Brasil; 4) Regiões. A seção 3, contudo, é dividida em dois capítulos (3.1. Perfil dos candidatos ao governo federal; 3.2. Propostas dos candidatos à presidência da república, relacionadas à área do esporte). Ainda, a seção 4 dividiu-se em cinco capítulos (4.1. Centro-Oeste; 4.2. Nordeste; 4.3. Norte; 4.4. Sudeste; 4.5. Sul) e 27 subcapítulos representando todas as Unidades Federativas dentro das suas respectivas regiões.

 

    Na Introdução, Felipe Canan problematiza a questão do esporte aparecer no Artigo 217 da Constituição Federal de 1988 como um direito social, mas, devido ao ordenamento jurídico infraconstitucional, no qual não são definidas as competências para cada ente, este sofre com a ausência de uma política nacional estruturada para a área, ficando relegada a segundo plano na agenda dos governos, e, quando aparece, é primordialmente na forma do esporte competitivo de representação nacional. Na esteira dessa argumentação, o autor expõe o objetivo do livro:

    Identificar nos planos de governo de todas as candidaturas cadastradas no Tribunal Superior Eleitoral às eleições do ano de 2018 aos cargos de Presidente da República e Governador Estadual de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal, as propostas para o setor esportivo ou relacionadas em alguma medida ao esporte. (Canan, 2019, p. 7)

    Para o cumprimento desse objetivo, Canan apresenta na seção 2 os procedimentos metodológicos adotados, explicitando que se tratou de uma pesquisa estritamente descritiva, na qual a amostragem foi composta por todas (N = 203 ou 100%) as candidaturas deferidas ou em processo de avaliação pelo Tribunal Superior Eleitoral à Presidência da República e ao Governo dos estados e Distrito Federal até 19 de setembro de 2018. De forma discriminada, 13 (6,4%) representaram candidaturas à Presidência da República, 179 (88,18%) ao Governo dos estados e 11 (4,49%) ao Governo do Distrito Federal.

 

    Segundo o autor, das 203 candidaturas levantadas, 15 (7,39%) não possuíam a proposta de governo cadastrada na página eletrônica do Tribunal e 41 (20,2%) não previam o esporte ou temas correlatos. Para esse levantamento, foram considerados os seguintes dados sobre o esporte:

  • visão sobre a área do esporte ou correlatas (educação física, atividade física);

  • as propostas para a área do esporte (educação física, atividade física);

  • propostas correlatas à área do esporte.

    Ainda é mencionado que foram coletados dados socioeconômicos e políticos das candidaturas (nome na urna; partido; coligação; nome do vice; cor/raça; gênero; idade; grau de instrução; ocupação). Estes dados foram destinados a um levantamento demográfico geral do perfil dos candidatos ao Governo Federal, e, principalmente, à organização das candidaturas em tabelas, de maneira que os dados ocupavam o cabeçalho da tabela de cada candidatura, com os as propostas para o esporte e temas correlatos sendo apresentadas logo abaixo.

 

    Quanto a transcrição dos dados, é mencionado que foi feita a opção por manter o padrão original de cada proposta no que diz respeito à numeração, uso de caixa alta ou baixa e itens. É justificado, no entanto, que para não proporcionar nenhum tipo de destaque a alguma proposta, foram retirados os negritos originais. E que, por fim, tudo o que foi identificado pelos descritores foi copiado sequencialmente na tabela respectiva de cada candidatura.

 

    No que tange a escolha do tipo de pesquisa, é deixada bem clara a opção de não realizar nenhuma análise sobre as propostas em relação ao esporte ou ao governo em geral, com a justificativa de manter um caráter neutro, sem qualquer tipo de posicionamento político-partidário ou juízo de valor. Objetivando ser apenas um material informativo para leitores interessados na área.

 

    A seção 3 aborda as propostas para o governo federal, e é assinada por João Paulo Melleiro Malagutti e Felipe Canan. Dividida em dois capítulos, tem no primeiro (3.1. Perfil dos candidatos ao governo federal) uma representação por meio de gráficos sobre a idade, gênero, cor/raça e profissão das candidaturas, nos quais é possível perceber uma prevalência de candidaturas acima dos cinquenta anos de idade, do sexo masculino e de cor/raça branca.

 

    No segundo capítulo (3.2. Propostas dos candidatos à presidência da república relacionadas à área do esporte), é possível observar que todas as treze candidaturas apresentaram plano de governo, porém, seis delas não fizeram menção ao esporte ou temas correlatos (Alvaro Dias [PODEMOS]; Cabo Daciolo [PATRIOTA]; Geraldo Alckmin [PSDB]; Henrique Meirelles [MDB]; João Goulart Filho [PPL]; Vera [PSTU]). De outra parte, apresenta-se sete candidaturas fazendo menção ao esporte ou temas correlatos (Ciro Gomes [PDT]; Eymael [DC]; Fernando Haddad [PT]; Guilherme Boulos [PSOL]; Jair Bolsonaro [PSL]; João Amoêdo [NOVO]; Marina Silva [REDE]). Percebe-se, portanto, uma certa polarização, a grosso modo, sobre a presença do esporte na agenda retórica das candidaturas ao Governo Federal. Contudo, é possível ressaltar ainda, que a presença do esporte, em parte significativa das candidaturas que o mencionam, é tratada de modo completamente superficial.

 

    Na seção 4 do livro, o primeiro capítulo aborda as candidaturas da região Centro-Oeste. Este é de autoria de Neidiana Braga da Silva Souza e, como em todos os outros capítulos da seção, tem seus dados apresentados em subdivisões por estados. Nessa região, das vinte e nove candidaturas (Distrito Federal [11]; Goiás [7]; Mato Grosso [5]; Mato Grosso do Sul [6]), três não registraram programa de governo (Distrito Federal [1], Goiás [1] e Mato Grosso do Sul [1]) e apenas uma, em Goiás, não fez menção ao esporte ou temas correlatos. Ao realizar a leitura deste capítulo, embora os autores não tragam isso no texto, influi-se que houve uma presença relevante do tema na agenda de toda a região. Haja vista a ausência do esporte em apenas uma das candidaturas de toda a região e a atenção dada ao tema na maioria dos planos de governo.

 

    O segundo capítulo, de autoria de Temistocles Damasceno Silva, traz à luz as propostas de plano de governo das candidaturas da região Nordeste. Na região, das sessenta e três candidaturas (Alagoas [5]; Bahia [7]; Ceará [6]; Maranhão [6]; Paraíba [5]; Pernambuco [7]; Piauí [10]; Rio Grande do Norte [8]; Sergipe [9]), somente três não registraram programa de governo (Alagoas [1], Bahia [1] e Ceará [1]), e dezessete candidaturas não fizeram menção ao esporte (Alagoas [1], Bahia [1], Ceará [2], Maranhão [1], Paraíba [1], Pernambuco [5], Piauí [2], Rio Grande do Norte [2] e Sergipe [2]). Aqui, em que pese o N elevado em comparação a outras regiões, é possível notar uma presença menos significativa do esporte na agenda das candidaturas aos governos estaduais, uma vez que em todos os estados há ao menos uma candidatura que sequer faz menção ao tema, com Pernambuco chamando atenção pela ausência na maioria dos planos de governo.

 

    Jeferson Roberto Rojo é o autor que assina o terceiro capítulo. Nele, o autor faz a exposição dos dados obtidos com as candidaturas da região Norte. Como resultado, é apresentado que, das quarenta e uma candidaturas (Acre [5]; Amapá [5]; Amazonas [7]; Pará [5]; Rondônia [9]; Roraima [5]; Tocantins [5]), duas não chegaram a registrar proposta de governo (Acre [1] e Amazonas [1]) e quatro não fizeram menção ao esporte ou temas correlatos (Amazonas [1], Pará [1], Rondônia [1] e Tocantins [1]). Na região Norte, obteve-se resultados que podem indicar uma atenção maior para com o fenômeno do esporte, com a grande maioria das candidaturas mencionando o tema de forma contextualizada, com destaque para os estados do Amapá e Roraima, onde todos planos de governo abordaram o assunto.

 

    O quarto capítulo é dedicado a relatar os dados coletados com os planos de governo das candidaturas na região Sudeste, e o autor responsável é Pedro Henrique Iglesiaz Menegaldo. No Sudeste, das trinta e nove candidaturas (Espírito Santo [6]; Minas Gerais [9]; Rio de Janeiro [12]; São Paulo [12]), seis não registraram programa de governo (Rio de Janeiro [3] e São Paulo [3]) e oito não fizeram nenhuma menção ao esporte ou temas correlatos (Minas Gerais [4], Rio de Janeiro [1] e São Paulo [1]). Ao realizar uma breve análise dos dados expostos neste capítulo, chama atenção o alto número de candidaturas que não fizeram menção ao esporte, especialmente quando somados com as candidaturas que não apresentaram propostas de programa de governo, totalizando 14. No entanto, também é possível inferir que há uma oscilação entre os estados, como, por exemplo, o destaque positivo ao Espírito Santo, com todas as candidaturas abordando o tema, e negativo a Minas Gerais, onde o esporte aparece em apenas 3 de suas 9 candidaturas, e, não obstante, sendo tratado de forma muito pobre nessas 3.

 

    No quinto, e último, capítulo da seção, Felipe Canan apresenta os resultados encontrados nos planos de governo das candidaturas dos estados da região Sul. Nessa região, foi levantado que, das vinte e seis candidaturas (Paraná [10]; Rio Grande do Sul [8]; Santa Catarina [8]), somente uma não registrou proposta de governo (Rio Grande do Sul [1]) e sete não fizeram menção ao esporte ou temas correlatos (Paraná [4], Rio Grande do Sul [2] e Santa Catarina [1]). Os dados desta última região também indicam a presença de uma certa negligência em relação ao papel dos estados nas políticas públicas de esporte, visto que o tema ficou ausente em pelo menos uma das candidaturas em todos os estados, destacando-se negativamente o Paraná, onde quase metade dos programas de governo não o abordaram. Ademais, nos três estados, é possível notar que, de modo geral, não há uma grande dedicação para com o tema, mesmo quando abordado.

 

    Findada a apresentação geral do livro, no próximo tópico, me dedico a discutir criticamente o seu conteúdo, realizando um diálogo com parte da literatura existente sobre o tema, bem como identificando os limites e avanços da obra, a fim de apontar sugestões para pesquisas semelhantes a serem produzidas no futuro.

 

Apontamentos críticos 

 

    Embora não exista nenhum tipo de análise das propostas dos presidenciáveis no livro, considero importante trazer para o debate o estudo de Carneiro et al. (2021), no qual estes autores fizeram uma análise qualitativa sobre a temática nos planos de governo. Os autores desse estudo não coletaram os seus dados a partir do livro aqui resenhado, porém, retiraram o seu material da mesma fonte, ou seja, dos planos de governo de todas as candidaturas cadastradas no Tribunal Superior Eleitoral às eleições do ano de 2018 aos cargos de Presidente da República.

 

    As conclusões obtidas na pesquisa vão ao encontro da problematização feita por Canan na introdução, onde é afirmado que o esporte não figura como prioridade na agenda política, uma vez que quase metade das candidaturas à presidência da república sequer mencionaram o esporte ou correlatos em seu plano de governo. Ademais, quatro candidaturas (Ciro Gomes [PDT]; Eymael [DC]; Jair Bolsonaro [PSL]; João Amoêdo [NOVO]) apresentaram as propostas para a área sem qualquer contextualização, demonstrando uma presença tímida e superficial em relação ao todo. (Carneiro et al., 2021)

 

    Não obstante, Carneiro et al. (2021) apontam que três propostas apresentaram uma contextualização com maior consistência, abordando temas importantes como a garantia do direito ao esporte na legislação, o financiamento para o setor e a importância do esporte. De modo geral, quando reunidas todas as propostas, observou-se que foram abarcadas 11 diferentes temáticas, destacando-se aí a articulação do esporte com outras áreas: o futebol, o acesso/direito ao esporte, a infraestrutura, e o financiamento público.

 

    Todavia, a partir dos dados rigorosamente expostos e organizados pelos autores no livro, é possível identificar nos resultados, que nos debates a nível regional o esporte está mais presente na agenda do que quando comparado aos debates a nível nacional. Entretanto, foram percebidas oscilações entre as regiões do Brasil, e, sobretudo, fortes discrepâncias entre os estados, inclusive da mesma região.

 

    Esse ponto pode ser explicado pela breve problematização de Felipe Canan na introdução do livro, quando o autor menciona que, embora o esporte apareça como um direito constitucional, ele não tem garantias de sua efetivação, pois há uma ausência de uma política nacional de esporte plenamente estruturada, o que flexibiliza a possibilidade de governos incluírem, ou não, o tema na agenda. Nesse sentido, tendo em vista que na gestão pública é comum a priorização de demandas,é esperado que áreas consideradas primárias (saúde, educação, segurança pública) sejam priorizadas em detrimento a áreas mais secundárias (esporte, lazer, cultura). (Starepravo, e Bernabé, 2018)

 

    Ainda no tocante às regionalidades, os resultados também demonstram que, a nível estadual, por vezes, contextualiza-se a política de esporte com as características culturais regionais – como, por exemplo, o esporte ligado ao ecoturismo em alguns estados da região Norte. Desse modo, as propostas de políticas de esporte a nível estadual parecem possuir aspectos mais singulares do que as propostas a nível nacional, as quais se apresentam como mais genéricas.

 

    Este aspecto, assim como o anterior (oscilação entre os níveis de governo e diferentes regiões e estados na presença do esporte na agenda política), pode estar relacionado com a perspectiva da descentralização das políticas públicas de esporte e lazer, que consiste na institucionalização local dessas políticas (Santos, 2019; Ungheri, e Isayama, 2019). Embora este processo esteja mais relacionado à esfera municipal (Ungheri, e Isayama, 2019), também é possível identificá-lo nos planos de governo estaduais.

 

    Considerando estes resultados, isso pode provocar, de um lado, uma identificação mais precisa das singularidades locais e, portanto, uma política de esporte mais efetiva, porém, de outra parte, pode isentar os entes federados da garantia do direito ao esporte, gerando as oscilações já mencionadas.

 

    Outro ponto importante é que o esporte, via de regra, aparece articulado com outras áreas, como, por exemplo, a educação e a saúde, o que pode apresentar indícios de uma tentativa de intersetorialidade. A intersetorialidade pode ser entendida como a articulação horizontal entre diferentes setores para que, em conjunto, possam produzir soluções para problemas sociais (Grau, 2005; Oliveira, Lotta, e Freitas, 2019). Frente à crescente complexidade dos problemas públicos, a intersetorialidade é cada vez mais demandada na promoção de políticas públicas (Koga et al., 2019). Desse modo, essa articulação poderia ser caracterizada, a princípio, como algo positivo dentro dos planos de governo.

 

    Por outro lado, essa articulação também pode estar ligada a atribuição de um caráter salvacionista ao esporte, visto em grande parte dos planos apresentados, isto é, enxergando o esporte como um meio e não como produto final. Esse caráter salvacionista pode ser explicado pelo “grande mito do esporte”, entendo-o como algo essencialmente puro e bom e, logo, essa pureza e bondade é transferida automaticamente a tudo, e todos, que ele toca. (Coakley, 2017)

 

    Ao lado de Coakley, outros grandes nomes da sociologia do esporte contemporânea, como Richard Giulianotti e Fred Coalter, argumentam que esse mito é refletido no chamado “evangelismo do esporte”, ou seja, a aceitação acrítica e dogmática, por parte dos atores envolvidos na produção de políticas públicas, de que este, por si só, tem o poder de resolver problemas sociais, como a pobreza, a evasão escolar, a criminalidade, o desemprego, entre outros (Coalter, 2007; Haudenhuyse, e Debognies, 2021). Pela leitura dos trechos dos planos de governo apresentados ao longo do livro, me parece que essa articulação do esporte com as outras áreas, está muito mais ligada a esse “evangelismo do esporte” do que ao incentivo à uma política intersetorial estruturada.

 

    À guisa de conclusão, a crítica que se pode fazer do livro ‘O esporte nas eleições 2018: candidaturas à presidência da república e aos governos dos Estados’ é que este cumpre rigorosamente ao seu objetivo proposto, isto é, identifica nos planos de governo de todas as candidaturas cadastradas no Tribunal Superior Eleitoral às eleições do ano de 2018 aos cargos de Presidente da República e Governador Estadual de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal as propostas para o setor esportivo ou relacionadas em alguma medida ao esporte e as expõe de modo fiel por meio de tabelas.

 

    O livro, portanto, fornece uma base de dados sólida para futuras pesquisas na temática, uma vez que faz a compilação de fontes primárias e as mantém “preservadas”. Por outro lado, a falta de análise exerce influência negativa na utilidade do livro para o leitor “desinteressado”, ou seja, aquele que não pretende investigar o que mostram os dados compilados, mas sim, se informar e aprender sobre o assunto. Nesse sentido, a formatação do livro prejudica a leitura. Embora exponha de modo mais fiel possível os trechos retirados dos planos de governo, a organização por meio de tabelas com transcrição direta e sequencial dos trechos retirados torna a leitura maçante e pouco atrativa.

 

    De modo geral, o livro representa um avanço, pois pesquisas sobre o tema são escassas, mas, apenas abre terreno, uma vez que a falta de análise sobre os dados compromete a completude da obra. Assim sendo, haja vista a periodicidade do processo eleitoral brasileiro, é possível que produções semelhantes sejam realizadas e, portanto, sugiro que essas possíveis futuras pesquisas possam considerar alguns pontos assinalados nesta resenha.

 

Notas 

  1. Disponível para acesso em: https://www.researchgate.net/publication/333118874_O_ESPORTE_NAS_ELEICOES_2018

  2. Para maiores informações sobre o grupo de pesquisa, sugiro a consulta de Malagutti et al. (2021): https://doi.org/10.5007/2175-8042.2021e7873.

  3. Para maiores informações sobre o grupo de pesquisa, sugiro a consulta de Souza et al. (2021): https://doi.org/10.5007/2175-8042.2021e78746.

  4. Informações retiradas do Currículo Lattes do autor em 08 de junho de 2022: http://lattes.cnpq.br/5763073227935698.

  5. Informações retiradas do Currículo Lattes do autor em 08 de junho de 2022: http://lattes.cnpq.br/7755595184936952

  6. Informações retiradas do Currículo Lattes do autor em 08 de junho de 2022: http://lattes.cnpq.br/3018512687231917

Referencias 

 

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Coakley, J. (2017). Sports in society: issues and controversies. McGraw-Hill Education.

 

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Koga, N.M., Viana, R.R., Camões, M.R. de S., e Filgueiras, F. de B.G. (2019). Capacidades do serviço civil na implementação de políticas públicas: resultados de um survey na Administração Federal Brasileira. In G. Lotta (Org.), Teoria e análises sobre implantação de políticas públicas no Brasil (p. 153). Enap.

 

Malagutti, J.P.M., Rojo, J.R., Canan, F., e Starepravo, F.A. (2021). Grupo de estudos e pesquisa em políticas de esporte e lazer (GEPPOL/UEM): uma década de contribuições científico-acadêmicas. Motrivivência, 33(64), 1-19. https://doi.org/10.5007/2175-8042.2021e7873.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 293, Oct. (2022)