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ISSN 1514-3465

 

Comportamento sedentário de universitários na 

pandemia de COVID-19: uma revisão integrativa

Sedentary Behavior of University Students in the COVID-19 Pandemic: An Integrative Review

Comportamiento sedentario de estudiantes universitarios en la pandemia de COVID-19: una revisión integradora

 

Carlos Eduardo Guimarães Moço*

cguimaraesmoco@gmail.com

Luciana Fonseca Dias**

prof.ludias@outlook.com

Marcelle Cabral Volpasso***

marcellevolpasso@gmail.com

Márcio Luiz Borges Barbosa+

marciolbb1@hotmail.com

Valéria Nascimento Lebeis Pires++

valerianlp@ufrrj.br

 

*Graduando em Licenciatura em Educação Física

pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

**Graduada em Licenciatura Plena em Educação Física pela UFRRJ

Especialização em Gestão em Hotelaria

com foco voltado para o lazer pela UFRRJ

Especialização em Educação Física e Psicomotricidade pela FUNIP

***Graduada em Licenciatura em Educação Física pela UFRRJ

Graduada em Bacharelado em Educação Física pela UNISUAM

Especialista em Psicomotricidade e Desenvolvimento Humano pela FAVENI

Cursando Pós Graduação em Educação Física Escolar

na Perspectiva Inclusiva pela UFRJ

Mestranda do Programa de Pós Graduação

em Educação Agrícola pela UFRRJ.

+Graduado em Licenciatura em Educação Física pela UFRRJ

++Graduação em Licenciatura Plena em Educação Física pela UFRRJ

Especialização em performance Humana em academia pela UFRRJ

Mestrado em Ciência da motricidade Humana

pela Universidade Castelo Branco

Doutorado em Epidemiologia em Saúde Pública pela FIOCRUZ.

(Brasil)

 

Recepção: 28/01/2022 - Aceitação: 28/02/2023

1ª Revisão: 19/01/2023 - 2ª Revisão: 24/02/2023

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Moço, C.E.G., Dias, L.F., Volpasso, M.C., Barbosa, M.L.B., e Pires, V.N.L. (2023). Comportamento sedentário de universitários na pandemia de COVID-19: uma revisão integrativa. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(299), 216-237. https://doi.org/10.46642/efd.v28i299.3365

 

Resumo

    Introdução: Com as medidas emergenciais para tentar conter a disseminação do novo coronavírus, comportamentos e hábitos da população foram impactados e modificados. Por conta disso o comportamento sedentário e o tempo de tela aumentaram, somada a questão das atividades ao ar livre reduzidas. O objetivo da revisão é analisar os estudos científicos relacionados ao comportamento sedentário de universitários durante a pandemia da COVID-19. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa nos anos de 2020 e 2021. A busca ocorreu nos acervos Web of Science, Scielo, PubMed e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS – MEDLINE), utilizando os descritores “Sedentary behavior”, “COVID-19”, “Physical activity” e “Students”, com o operador booleano AND. Resultados: Foram selecionados 21 artigos. Foi possível perceber que os estudantes reduziram o volume total de atividade física (AF) e passaram a ter aumento no tempo sentado. Esses comportamentos contribuíram para uma vida mais sedentária, estando associados ao maior tempo de tela para atividades de lazer e estudos. O isolamento social foi uma das razões para isso, pois os estudantes passaram menos tempo visitando locais e mais tempo em casa. Conclusão: Pode-se perceber que os estudantes tiveram seu estilo de vida afetado, com um maior tempo de tela e um comportamento sedentário ocasionando um aumento de sintomas de estresse, ansiedade e depressão, comportamento alimentar inadequado e baixo nível de AF.

    Unitermos: Comportamento sedentário. Atividade física. Pandemia. COVID-19. Universitários.

 

Abstract

    Introduction: With the emergency measures to try to contain the spread of the new coronavirus, behaviors and habits of the population were impacted and modified. As a result, sedentary behavior and screen time increased, in addition to reduced outdoor activities. The objective of the review is to analyze scientific studies related to the sedentary behavior of university students during the COVID-19 pandemic. Methodology: This is an integrative review in the years 2020 and 2021. The search took place in the Web of Science, Scielo, PubMed and Virtual Health Library (BVS - MEDLINE) collections, using the descriptors “Sedentary behavior”, “COVID- 19”, “Physical activity” and “Students”, with AND as a boolean operator. Results: 21 articles were selected. It was possible to notice that the students reduced the total volume of physical activity (PA) and started to have an increase in sitting time. These behaviors contributed to a more sedentary life, being associated with more screen time for leisure activities and studies. Social isolation was one of the reasons for this, as students spent less time visiting places and more time at home. Conclusion: It can be seen that the students had their lifestyle affected, with more screen time and sedentary behavior causing an increase in symptoms of stress, anxiety and depression, inappropriate eating behavior and low level of PA.

    Keywords: Sedentary behavior. Physical activity. Pandemic. COVID-19. College students.

 

Resumen

    Introducción: Con las medidas de emergencia para tratar de contener la propagación del nuevo coronavirus, los comportamientos y hábitos de la población se vieron impactados y modificados. Como resultado, aumentó el comportamiento sedentario y el tiempo frente a la pantalla, además de la reducción de las actividades al aire libre. El objetivo de la presente revisión es analizar los estudios científicos relacionados con el comportamiento sedentario de los estudiantes universitarios durante la pandemia de COVID-19. Metodología: Se trata de una revisión integradora de publicaciones en los años 2020 y 2021. La búsqueda se realizó en las colecciones Web of Science, Scielo, PubMed y Virtual Health Library (BVS - MEDLINE), utilizando los descriptores “Comportamiento sedentario”, “COVID-19 ”, “Actividad física” y “Estudiantes”, con el operador booleano AND. Resultados: Se seleccionaron 21 artículos. Fue posible notar que los estudiantes redujeron el volumen total de actividad física (AF) y pasaron a tener un aumento en el tiempo sentado. Estos comportamientos contribuyeron a una vida más sedentaria, asociándose con más tiempo de pantalla para actividades de ocio y estudios. El aislamiento social fue una de las razones de esto, ya que los estudiantes pasaban menos tiempo visitando lugares y más tiempo en casa. Conclusión: Se puede observar que los estudiantes vieron afectado su estilo de vida, con más tiempo de pantalla y comportamiento sedentario provocando un aumento de los síntomas de estrés, ansiedad y depresión, conducta alimentaria inadecuada y bajo nivel de AF.

    Palabras clave: Comportamiento sedentario. Actividad física. Pandemia. COVID-19. Estudiantes universitarios.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 299, Abr. (2023)


 

Introdução 

 

    A COVID-19, doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2, teve seu primeiro caso relatado na China, em dezembro de 2019, na província de Wuhan (Rodrigues et al., 2020). Sua rápida disseminação em todo o mundo resultou na maior crise sanitária da história, provocando impactos na economia, educação e saúde (Diniz et al., 2020; Lima et al., 2020). Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a COVID-19 uma pandemia, e após isso, mesmo com muitas incertezas sobre as formas de transmissão, várias recomendações foram feitas com o objetivo de tentar reduzir a contaminação, entre elas a higienização adequada das mãos, utilização de máscaras de proteção facial e o isolamento social. (World Health Organization, 2020a)

 

    Com as medidas emergenciais de restrições para tentar conter a disseminação do novo coronavírus, comportamentos e hábitos da população foram impactados e modificados (Filho, e Tritany, 2020; Paredes, e Pancca, 2022). Por conta disso, o comportamento sedentário cresceu, uma vez que as atividades ao ar livre foram reduzidas e o tempo de tela aumentou (Chen et al., 2020). Vale ressaltar que o estilo de vida sedentário acarreta inúmeros efeitos adversos à saúde, provocando o aparecimento de fatores de risco da COVID-19. Portanto, é imprescindível a prática de Atividade Física (AF), visto que a mesma é uma medida preventiva e protetora para a saúde. (Ferreira et al., 2020; Cortez et al., 2020)

 

    Em novembro de 2020, a OMS lançou novas diretrizes sobre AF e comportamento sedentário, enfatizando que todas as pessoas podem ser fisicamente ativas. Recomenda-se 150 a 300 minutos de atividade aeróbica moderada a vigorosa por semana para todos os adultos, incluindo quem vive com doenças crônicas ou incapacidade. Para a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (2020) a prática de AF auxilia na melhora da função imunológica, potencializando a proteção do organismo contra agentes infecciosos, promovendo benefícios no sistema cardiometabólico, muscular, ósseo e na redução nos riscos de apresentarem doenças não-transmissíveis e na saúde mental dos indivíduos. (Junior, 2020) Vale ressaltar que para caracterizar o comportamento sedentário é necessário que duas condições sejam atendidas: baixo gasto energético e uma postura corporal na qual grandes grupos da musculatura esquelética têm pouquíssima ou nenhuma sobrecarga (Guerra et al., 2014). Podem ser incluídos como comportamento sedentário o tempo de tela, como assistir televisão, jogar videogame e utilizar o computador. Diante disso, é importante que as realizações de atividades físicas sejam encaradas como uma excelente ferramenta para combater a COVID-19 e as futuras consequências do isolamento social. (Ferreira et al., 2020)

 

    Neste contexto, com o intuito de evitar possíveis aglomerações, diversos países interromperam suas atividades não-essenciais, como por exemplo escolas, teatros, academias e Universidades (Lima et al., 2020). Por essa razão, as aulas foram suspensas, o modelo de ensino precisou ser reconfigurado e novas medidas de ensino foram adotadas.

 

    Estudos apontam que a pandemia impactou no estilo de vida dos estudantes universitários, uma vez que o isolamento social somado ao comportamento sedentário acarretou em comprometimento na qualidade do sono, mudança de peso e prejuízos para a saúde mental dos mesmos (Cremasco et al., 2021; Mack et al., 2021; Santander et al., 2022). Corroborando com isso, estudiosos também referem o aumento nas taxas de ansiedade e depressão, associadas ao período pandêmico e consequentemente ao aumento no tempo de tela. (Huckins et al., 2020; Monteiro et al., 2022)

 

    O presente trabalho apresenta como foco principal de interesse de investigação de estudantes e professores de Educação Física com um olhar cuidadoso para a população de universitários que de forma geral, tiveram suas atividades físicas e acadêmicas alteradas, sendo ajustadas para o ensino remoto com regime de estudos sem aulas presenciais, configurando expressiva dedicação a um trabalho sob tempo de tela.

 

    Diante do acima exposto, este trabalho tem como objetivo analisar os estudos científicos relacionados ao comportamento sedentário de universitários na pandemia de COVID-19. Busca-se também verificar as características populacionais e metodológicas relacionadas à temática, apresentando os possíveis comportamentos de risco a saúde dos universitários durante a pandemia do COVID-19 e, identificar as variáveis investigadas nos estudos, relacionadas ao impacto da pandemia de COVID-19 no estilo de vida dos universitários. Espera- se que esta revisão possa subsidiar profissionais da área da saúde e da educação, mais especificamente da Educação Física, em favor de ampliar conhecimentos para atender as demandas associadas aos comportamentos sedentários dessa população durante e pós pandemia.

 

Metodologia 

 

    O presente estudo trata de uma revisão integrativa da literatura, na qual possibilita identificar, analisar e sintetizar os resultados encontrados de maneira ampla e ordenada (Ercole et al., 2014; Souza et al., 2010). Para tal, utilizou-se nos meses de julho e agosto/2021 as seguintes bases de dados: Web of Science, Scielo, PubMed e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS - MEDLINE). Para a pesquisa aplicou-se os descritores “Sedentary behavior”, “COVID-19”, “Physical Activity”, “Students” utilizando o AND como operador booleano. Em seguida, formou-se quatro combinações para a busca nas bases, sendo representado no Quadro 1.

 

Quadro 1. Combinações de descritores de acordo com as bases de dados utilizadas

Bases de Dados

Descritores (inglês)

Descritores (português)

Web Of Science

Sedentary Behavior AND COVID-19 AND Students

Comportamento Sedentário e COVID-19 e Estudantes

Scielo

Physical activity AND Pandemic AND Students

Atividade Física e Pandemia e Estudantes

Pubmed

Sedentary Behavior AND COVID-19 AND Students

Comportamento Sedentário e COVID-19 e Estudantes

Biblioteca Virtual em Saúde (BVS - MEDLINE)

Comportamento sedentário AND COVID-19 AND Estudantes

Comportamento Sedentário e COVID-19 e Estudantes

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Os critérios de inclusão foram: estudos que abordassem a temática do referido trabalho, publicações compreendidas no período pandêmico e que estivessem nos idiomas português, inglês ou espanhol. Os critérios de exclusão foram: publicações em duplicatas, público-alvo que não fossem estudantes universitários, artigos com acesso restrito, Trabalho de Conclusão de Curso, monografia, dissertação, teses, capítulos de livros, relatos de experiências e revisões.

 

Resultados e discussão 

 

    Ao buscar nas bases de dados foi possível obter a seguinte distribuição: BVS/Medline (n=12), PubMed (n=23), Scielo (n=4) e Web of Science (n=44), totalizando assim 83 publicações.

 

    Destas, 18 foram excluídas por serem duplicatas, restando 65 referências. A partir disso, realizou-se a leitura dos títulos e resumos, excluindo 42 artigos por tratarem de público-alvo e temática diferente, restando então 23 publicações para leitura integral. Em seguida, foram excluídos 2 estudos por não apresentarem as características populacionais específicas dos universitários, restando 21 publicações.

 

Fluxograma. Processo de seleção dos artigos

Quadro 2. Fluxograma. Processo de seleção dos artigos

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Buscando responder às características gerais dos estudos selecionados, extraiu-se dos artigos os seguintes dados: autoria, ano de publicação, país, universidade, objetivo, metodologia e resultados obtidos conforme Quadro 2 a seguir.

 

Quadro 2. Características gerais dos estudos

Autoria / Ano

País / Universidade

Objetivo

Metodologia

Resultados

Huckins et

al. (2020)

- EUA

- Dartmouth

College

- Universidade

privada

Os comportamentos e a saúde mental dos participantes mudaram em resposta à pandemia COVID-19 em comparação com períodos anteriores?

Estudo longitudinal multimodal. 217 participantes de ambos os sexos.

Indivíduos eram mais sedentários. Aumento na ansiedade e na depressão.

Mack et al.

(2021)

- EUA

- Dartmouth

College

- Universidade

privada

Compreender os impactos comportamentais e de saúde mental associados à pandemia COVID-19, medidos pelo interesse em todos os Estados Unidos nos termos de pesquisa coronavírus e Fadiga COVID.

Estudo longitudinal multimodal. 217 Participantes; ambos os sexos; idade entre 18 a 22 anos.

Aumento do uso de telefone e do tempo sedentário.

Rahman et al. (2021)

- Bangladesh

- UShahjalal University of Science and Technology (SUST)

- Universidade pública

Examinar as mudanças na atividade física e comportamentos sedentários durante a pandemia de COVID-19 entre universitários de uma cidade de Bangladesh.

Investigação transversal. 175 participantes de ambos os sexos.

Prevalência de COVID 19 e diminuição da caminhada, atividades físicas moderadas e totais. Os comportamentos sedentários aumentaram drasticamente.

Rodríguez- Larrad et al.

(2021)

- Espanha

- Universidade não especificada

Analisar as mudanças na atividade física e comportamento sedentário em universitários espanhóis antes e durante o confinamento pelo COVID-19.

Pesquisa transversal. 13.754 alunos; A idade média foi de 22,6 anos para as mulheres e 23,2 anos para os homens

Diminuição da AF moderada e vigorosa. Maior tempo sedentário. Aumento do HIIT e yoga.

Romero- Blanco et al. (2020)

- Espanha

- Universidade não especificada

Avaliar a atividade física e o comportamento sedentário de escolares em dois momentos: antes e durante o bloqueio por coronavírus.

Estudo observacional, transversal, com 213 participantes (ambos os sexos) com idade média de 20,5 anos.

Maior tempo fazendo AF e menor tempo sentado em ambientes limitados.

Dragun et al. (2021)

- Croácia

- University of Split School of Medicine

- Universidade pública

Investigar os hábitos alimentares e outras mudanças de comportamento de estilo de vida relacionadas em estudantes de medicina resultantes do bloqueio COVID- 19

Estudo observacional transversal, com 764 alunos de ambos os sexos, com idade média de 23 anos.

60/70% mantiveram os mesmos hábitos alimentares; 63% aumentaram o uso de telefones celulares; Mais de 3h / dia no computador / tablet. Aumento do sono de 7h para 8,5h.

Jalal et al. (2021)

-     Arábia Saudita

-     University King Faisal

-     Universidade pública

Determinar as mudanças significativas no índice de massa corporal, atividade física e estilo de vida dos alunos, incluindo dieta, sono e saúde mental antes e durante o bloqueio COVID-19.

Estudo de coorte prospectivo, com 628 alunos de ambos os sexos, com idade média de 20 anos

46% mesmo peso corporal, 32% aumentaram o peso e 22% diminuíram o peso. Aumento do sono 6,6h para 8,3h; 69,4% passou mais tempo sentada; Aumento do sedentarismo, sono e tempo de tela.

Boukrim et al. (2021)

- Marrocos

 - Cinco instituições públicas não especificadas.

Estimar a prevalência de carga de peso e avaliar o efeito do confinamento sobre a atividade física e o comportamento alimentar de estudantes do ensino superior durante o período de confinamento do COVID-19.

Estudo observacional transversal, com 406 alunos de ambos os sexos, com idade média de 20 anos

Distúrbios nutricionais, com uma dieta desequilibrada. 26,4% com sobrepeso ou obesidade. 36% praticavam AF moderada, 64% de baixa intensidade.

Tan et al. (2021)

- Malásia

- Management & Science University

- Universidade privada

Investigar as relações entre o comportamento sedentário baseado no tempo de tela, as habilidades de autorregulação alimentar e o status de peso em estudantes universitários privados durante o bloqueio da COVID-19.

Estudo observacional transversal, com 186 alunos de ambos os sexos, com idade média de 22 anos.

9,0 h / dia em telas. Autocontrole moderado para fome e saciedade. 60,2% engordaram desde o início do bloqueio.

García Pérez de Sevilla et al. (2021)

- Espanha

- Universidad Europea de Madrid

- Universidade privada

Analisar o estilo de vida e a composição corporal de jovens universitários durante a pandemia e a sua relação com os níveis de qualidade de vida relacionados à saúde.

Estudo observacional transversal, com 56 alunos com idade média de 23 anos

92,86% cumpriram as recomendações de exercícios físicos da OMS. Padrão alimentar pobre 8,26h sentados.

Coakley et al. (2021)

- EUA

- Universidade do Novo México

- Universidade pública

Explorar associações com sintomas de depressão e ansiedade entre jovens estudantes universitários adultos durante as restrições do COVID-19 no semestre do outono de 2020.

Estudo transversal observacional, com 697 participantes de ambos os sexos com idade média de 21,29.

Tempo sentado associado positivamente aos sintomas de depressão e ansiedade. Exercício e sintomas de depressão com associação negativa.

Savage et al. (2021)

- Reino Unido

 - Universidade não informada

Investigar longitudinalmente as mudanças e associações entre bem-estar mental, estresse percebido, atividade física e comportamento sedentário em estudantes universitários de antes da pandemia de COVID-19 (outubro de 2019) a 9 meses após o primeiro caso confirmado de COVID-19 no Reino Unido (outubro de 2020).

Estudo de corte longitudinal com 255 alunos.

Diminuição do bem-estar mental e nas atividades físicas moderadas e vigorosas. Aumento no estresse e comportamento  sedentário.

Gallé et al. (2020)

- Itália

- Sapienza University of Rome (pública)

- Parthenope University of Naples (pública)

- Aldo Moro University of Bari (pública)

Avaliar as atividades sedentárias e os níveis de AF que os alunos assumiram durante o confinamento em casa em relação aos seus hábitos anteriores, e investigar os possíveis determinantes da AF duradoura durante o confinamento.

Estudo transversal observacional, com 1430 participantes de ambos sexos e idade média de 22 anos

Aumento nos comportamentos sedentários e dormindo. Diminuição na AF total.

Luciano et al.

(2020)

- Itália

- Universidades não identificadas

Descrever a atividade física, o comportamento sedentário e o sono de estudantes de medicina italianos durante o bloqueio COVID-19 e (ii) compará-los com os dados coletados antes do bloqueio (outubro a novembro de 2019) e com as recomendações atuais, a fim de identificar mudanças de estilo de vida prejudiciais e positivas e estudar possíveis intervenções.

Estudo transversal observacional, com 714 participantes anos de ambos os sexos e idade média de 25 anos

Aumento das atividades moderadas e vigorosas.  Diminuição da caminhada. Diminuição do tempo sentado.

Tan et al. (2021)

- Malásia e Indonésia

- Universidade s privadas não identificadas

Investigar a prevalência de inatividade física e os padrões de atividade física entre estudantes universitários na Malásia e na Indonésia durante a pandemia de COVID-19.

Estudo transversal observacional, com 154 participantes de ambos sexos e idade média de 22 anos.

A maioria dos alunos eram fisicamente ativos. Melhor envolvimento em atividades de intensidade vigorosa. Nenhuma diferença na AF total.

Bertrand et al.

(2021)

-     Canadá

 - University of Regina (pública)

-     University of Saskatchewan (privada)

Examinar o impacto do COVID-19 na ingestão alimentar, na atividade física e no comportamento sedentário de estudantes universitários.

Estudo transversal observacional, com 125 participantes de ambos sexos e sem faixa etária especificada

Diminuição na ingestão média de nutrientes. Aumento na ingestão de álcool. 90 % menos ativos. Diminuição nas atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa.

Barreto et al.

(2021)

- Brasil

 - Universidade Federal de Tocantins.

- Universidade Federal de Campina Grande.

- Universidades públicas.

Investigar o impacto do isolamento social, mudanças de peso AF pelas ferramentas eletrônicas (eTools) na qualidade de vida de estudantes de medicina brasileiros durante a pandemia COVID-19.

Estudo longitudinal observacional. Idade entre 18 e 24 anos. Sendo 113 mulheres e  76 homens, num total de 189 alunos.

Tempo gasto em ambientes fechados variou de 8-12 h (10,1%) e 54% usou eTools como fonte de informações de Pressão Arterial. Passar 12 horas  dentro de casa = negativamente associado à QV geral. 63% apresentaram níveis satisfatórios de AF. 82,5% vs. 60,5% realizaram AF com professor de educação física.

Santos e Azambuja (2020)

- Brasil

- Universidades não identificadas.

Analisar o impacto da pandemia COVID-19 nos níveis de AF dos alunos de Educação Física e nas rotinas de estudo.

Pesquisa descritiva e inferencial. A amostra reúne 721 alunos, sendo 362 homens e 359 mulheres, com idade entre 24 e 25 anos.

Aumento de 3,1% para 18,7% dos sujeitos que não praticavam nenhuma AF; Comportamento sedentário aumentou 6 vezes. Assistir televisão e usar redes sociais foram os comportamentos sedentários mais altos.

Keel et al. (2020)

- EUA

- Universidade do Estado da Flórida.

- Universidade privada.

Medir as experiências subjetivas de estudantes universitários de como o peso mudou desde COVID-19.

Estudo observacional/ longitudinal. 90 participantes, sendo 79 mulheres e 11 homens. Idade média foi de 19,45 (1,26) anos no início do estudo e 19,71 (1,24) anos no acompanhamento.

28,4% ganharam peso. Mulheres endossaram preocupações de peso/ forma maiores que os homens Mulheres usaram mais mídia social do que os homens. Os fatores de risco para transtornos alimentares podem estar aumentando em estudantes universitários.

Barkley et al. (2020)

- EUA

- Universidade não especificada.

- Universidade pública.

Examinar/Avaliar o impacto da pandemia sobre a atividade física e o comportamento sedentário em uma amostra de estudantes universitários e funcionários antes e depois do cancelamento de aulas presenciais devido à pandemia do COVID-19.

Estudo transversal. 398 no total, sendo desses 100 estudantes universitários. (26,9 ± 8,9 anos)

Menos de 33,7% na atividade física leve do pré ao pós-cancelamento. Aumento do comportamento sedentário.

Roggio et al

(2021)

- Itália

- Universidade de Catânia.

- Universidade pública.

Levantar os níveis de atividade física (AF) e sua correlação com a dor musculoesquelética (PM) entre universitários da Itália, antes e durante a restrição pandêmica, analisando, portanto, o impacto das restrições do COVID-19 na dor e fadiga que afetam as atividades de vida diária.

Estudo com desenho transversal e descritivo. 1.654 alunos, média de idade de 22,51 ± 3,12 sendo 1026 mulheres e 628 homens.

78,6% níveis de AF menor que 150 min / semana. 45,3% tempo sentado maior que 8 h / dia. 38% dos estudantes eram sedentários. Estudantes podem estar propensos a ter dores no pescoço e na lombar.

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Para a apresentação e discussão dos resultados, optou-se por organizar da seguinte forma: características gerais dos estudos (tipo de universidade, local de realização, tipo de estudo, tamanho amostral); motivos relacionados ao comportamento sedentário entre universitários na pandemia de COVID-19 e as variáveis investigadas nos estudos relacionados ao impacto da pandemia de COVID-19 no estilo de vida dos universitários.

 

Características gerais dos estudos 

 

    No que diz respeito às características gerais dos estudos selecionados é possível observar no Quadro 2 que entre os 21 estudos, 9 são de universidades públicas (Bangladesh, Croácia, Arábia Saudita, EUA, Itália, Canadá e Brasil), 8 de instituições privadas (Malásia, Espanha, Indonésia e EUA) e 6 estudos não especificaram o tipo de instituição (Reino Unido, Itália, Marrocos, Brasil e Espanha). Em relação ao tipo de estudo, 15 constituem pesquisas do tipo transversal (Bangladesh, Espanha, Croácia, Marrocos, Malásia, EUA, Itália, Canadá, Indonésia e Brasil), 6 são pesquisas longitudinais (EUA, Reino Unido, Arábia Saudita e Brasil) sendo 1 estudo de coorte prospectivo (Arábia Saudita). Vale ressaltar que os 21 estudos exploratórios realizaram as coletas dos dados de forma online com a utilização das plataformas e ferramentas digitais, tais como Google Forms, e-mail, contato telefônico, mídias sociais e o aplicativo StudentLife. O tamanho amostral dos estudos variou entre 56 e 13.754 participantes, com destaque para a pesquisa de Rodríguez-Larrad et al. (2021), que entre os 13.754 participantes, 8.960 foram mulheres com idade média de 22,6 anos, 4.728 homens com idade média de 23,2 anos e 66 participantes não declararam sexo. Destaca-se que no Brasil foram encontrados dois estudos relacionados com a temática, sendo o estudo de Santos e Azambuja (2020) com uma amostra de 721 alunos, 362 homens e 359 mulheres, com idade entre 24 e 25 anos e o estudo de Barreto et al. (2021) com 189 alunos, 113 mulheres e 76 homens, com faixa etária entre 18 e 24 anos.

 

Comportamento de universitários na pandemia de COVID-19 

 

    No que diz respeito ao comportamento dos universitários durante o COVID-19, pode-se perceber que os estudantes reduziram o volume total de AF e passaram a ter aumento no tempo sentado (Rahman et al., 2021; Jalal et al., 2021; Gallè et al., 2020; Luciano et al., 2020; Barkley et al., 2020; Roggio et al., 2021). Esses comportamentos contribuíram para uma vida mais sedentária (Mack et al., 2021), estando associados ao maior tempo de tela utilizando telefones celulares, computadores e tablets para atividades de lazer e estudos (Huckins et al., 2020; Dragun et al., 2021; Santos, e Azambuja, 2020). O isolamento social foi uma das razões para isso, pois os estudantes passaram menos tempo visitando locais e mais tempo em casa (Romero-Blanco et al., 2020). Já Rodriguez-Larrard et al. (2021) encontraram um gasto maior em atividades como o HIIT (Treinamento Intervalado de Alta Intensidade) e o yoga, assim como Romero-Blanco et al. (2020) com aumento nos dias ativos e na prática de exercícios. Corroborando com esse estudo, o tempo de tela se destaca de forma positiva, pois é utilizado ferramentas (apps, meetings e Youtube) para a prática de AF (Barreto et al., 2021). Estudos apontam que o estilo de vida dos universitários durante a pandemia influenciou no aumento no tempo de sono e em comportamentos alimentares, uma vez que durante o isolamento os universitários passaram a dormir durante o dia e se alimentaram de forma inadequada, apresentando também consumo excessivo de álcool. (Dragun et al., 2021; Jalal et al., 2021; Tan et al., 2021; Bertrand et al., 2021; Boukrim et al., 2021; Keel et al., 2020)

 

Variáveis identificadas nos estudos selecionados 

 

    A partir dos resultados encontrados, foi possível identificar algumas variáveis investigadas nos estudos selecionados: o Índice de Massa Corporal (IMC), o tempo de sono, comportamento sedentário, ansiedade, estresse, depressão, saúde mental, comportamento alimentar, AF, tempo de tela, Imagem Corporal, tempo gasto em ambientes fechados e rotina de estudos. No que diz respeito às referidas variáveis, os universitários durante o confinamento passaram mais tempo em casa, afetando negativamente seu bem-estar e com consequências para sua saúde física e mental. (Barreto et al., 2021; Roggio et al., 2021)

Corroborando com essa afirmação, encontrou-se associação entre o aumento nos níveis de estresse, depressão e ansiedade com comportamento sedentário. (Coakley et al., 2021; Savage et al., 2021)

 

Conclusões 

 

    Esta revisão buscou analisar estudos científicos relacionados ao comportamento sedentário de universitários durante a pandemia de COVID-19. Com isso, pode-se perceber que os estudantes tiveram seu estilo de vida afetado, uma vez que passaram a utilizar meios remotos para dar continuidade aos seus compromissos acadêmicos, em isolamento social, contribuindo para o aumento do tempo sentado dentro de suas próprias casas (Barkley et al., 2020). Isso acarretou em maior tempo de tela e maior comportamento sedentário ocasionando aumento de sintomas de estresse, ansiedade e depressão, inadequado comportamento alimentar e baixo nível de AF. Nesse contexto, destacou-se que as variáveis mais estudadas foram, o tempo de tela, comportamento sedentário, ansiedade, depressão e comportamento alimentar.

 

    Urge a necessidade do envolvimento multiprofissional para atender e cuidar dessa demanda relacionada às variáveis supracitadas em favor da saúde dessa população, buscando mais conhecimentos e estratégias de intervenção na saúde individual e coletiva minimizando os possíveis comportamentos de risco dentro e fora da academia. Para tal, vale destacar que os estudos apresentaram preocupação com o impacto negativo do isolamento social na saúde mental dos estudantes. Nesse sentido é fundamental considerar as dimensões da saúde respeitando o equilíbrio, o atendimento e o tratamento do corpo em sua totalidade.

 

    No tocante às instituições de ensino, de promoção da saúde e especialmente ao profissional de Educação Física, destaca-se a importância de promover a prática da AF, por meio de ações que desenvolvam uma consciência e valorização do autocuidado sob o acompanhamento e orientação presencial e/ou on-line durante e após a pandemia em se tratando da forma positiva de utilização das ferramentas para tais práticas. (Barreto et al., 2021)

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 299, Abr. (2023)