Depressão e nível de atividade física em idosos

Depression and level of physical activity in the elderly

Depresión y nivel de actividad física en personas mayores

 

Diego Francisco da Silva*

diegofdasilva95@gmail.com

José Wilson Felipe dos Santos**

wilsonfelipe150@gmail.com

 

*Pós-Graduando em Docência em Educação Física e Práticas Pedagógicas

pela Faculdade Única de Ipatinga e Graduado em Licenciatura em Educação Física

pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

**Graduado em Educação Física pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

(Brasil)

 

Recepção: 20/03/2018 - Aceitação: 26/07/2019

1ª Revisão: 20/06/2019 - 2ª Revisão: 20/07/2019

 

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Resumo

    O objetivo do presente estudo foi relacionar o nível de atividade física com a prevalência de sintomas de depressão em indivíduos idosos. O estudo se caracteriza por uma abordagem transversal, de cunho descritivo e exploratório. Participaram do estudo 16 idosos de ambos os sexos, moradores do Bairro Engenho do Meio (Recife, Pernambuco, Brasil), os quais tiveram que responder, de forma voluntária, aos questionários IPAQ (Questionário Internacional de Atividade Física: para mensurar o nível de atividade física) e EDG (Escala de Depressão Geriátrica: para mensurar suspeitas de sintomas depressivos). Se pode inferir que idosos que apresentam uma vida “orientada” para a prática de atividade física regular podem ter menos possibilidade de desenvolver sintomas depressivos, e como consequência, menos chance de utilizarem medicamentos para tratamento de depressão. Existe um efeito protetor da atividade física sobre a incidência de sintomas depressivos, sendo ela um recurso auxiliar na prevenção e no tratamento, todavia, não uma forma de blindar o indivíduo contra a depressão.

    Unitermos: Depressão. Nível de atividade física. Idosos.

 

Abstract

    The aim of the present study was to relate the level of physical activity to the prevalence of depression symptoms in elderly individuals. The study is characterized by a transversal, descriptive and exploratory approach. Sixteen elderly men and women living in the Engenho do Meio neighborhood (Recife, Pernambuco, Brazil) participated in the study, who had to respond voluntarily to the IPAQ questionnaires (International Physical Activity Questionnaire: to measure the level of activity EDG (Geriatric Depression Scale: to measure suspicion of depressive symptoms). It can be inferred that elderly people who have a life "oriented" to the practice of regular physical activity may be less likely to develop depressive symptoms, and as a consequence, less chance of using drugs to treat depression. There is a protective effect of physical activity on the incidence of depressive symptoms, which is an aid in prevention and treatment, but not a way to shield the individual against depression.

    Keywords: Depression. Physical activity level. Elderly.

 

Resumen

    El objetivo del presente estudio fue relacionar el nivel de actividad física con la prevalencia de síntomas de depresión en personas de edad avanzada. El estudio se caracteriza por un enfoque transversal, descriptivo y exploratorio. Dieciséis hombres y mujeres mayores del barrio de Engenho do Meio (Recife, Pernambuco, Brasil) participaron en el estudio y tuvieron que responder a los cuestionarios IPAQ (Cuestionario Internacional de Actividad Física, para medir el nivel de actividad física, y EDG (Escala de Depresión Geriátrica: para medir posibles síntomas depresivos). Se puede inferir que las personas mayores que tienen una vida "orientada" a la práctica de actividad física regular pueden tener menos probabilidades de desarrollar síntomas depresivos y, como consecuencia, menos probabilidades de usar medicamentos para tratar la depresión. Existe un efecto protector de la actividad física sobre la incidencia de los síntomas depresivos, y es una ayuda en la prevención y el tratamiento, pero no una forma de proteger al individuo de la depresión.

    Palabras clave: Depresión. Nivel de actividad física. Personas mayores.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 255, Ago. (2019)


 

Introdução

 

    A depressão é um conjunto de sintomas que afeta principalmente a área afetiva/emocional de uma pessoa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018), a depressão é composta por diversos sintomas, entre os quais se podem citar: flutuações no estado de humor, baixa estima, isolamento social, tristeza constante, estado de fraqueza e descontentamento com a vida. Tudo isso pode causar sofrimento e disfunção no trabalho, na escola ou no meio familiar. E em relato à sua natureza, a depressão pode ter diversas causas, visto que é um problema multifatorial, sendo uma delas o isolamento social. Esta mesma organização médica aponta que a carga de depressão está em ascensão no mundo e ela não tem idade, todavia, parece ser mais comum na população idosa, devido ao fato de o envelhecimento trazer muitas perdas a este grupo etário, se destacando a saúde como um dos aspectos mais afetados.

 

    Segundo o Estatuto do Idoso (lei nº 10.741 de 1º de outubro de 2003) é considerado idoso o público com idade igual ou maior que 60 anos. Esse grupo é mais propenso a desenvolver depressão, sendo as principais características desse transtorno mental o sentimento de culpa, falta de apetite, perda de peso, hipocondria e até mesmo pensamento suicida. Com isso, pode-se dizer que os principais impactos causados na vida do indivíduo idoso são limitações nas atividades habituais e na perspectiva de vida. “No entanto, a depressão segue sendo subdiagnosticada e subtratada”. (Fleck et al., 2009)

 

    Geralmente, os indivíduos recorrem a tratamentos farmacológicos, muitos por não conhecerem os efeitos da atividade física sobre a depressão. No entanto, segundo estudo de revisão de Moraes (2007), os fármacos representam uma diminuição de cerca de 50% dos sintomas, e para uma eventual remissão se faz necessário à utilização de outros métodos de tratamento associado ao medicamentoso. Dentre esses métodos, a atividade física se destaca como tratamento não medicamentoso, podendo auxiliar tanto na prevenção quanto no tratamento de pessoas afetadas.

 

    O aumento da expectativa de vida mundial reafirma a importância por novos estudos, com foco na população mais idosa, destacando as ações de profissionais de saúde e governamental (Benedetti et al., 2009).Isso tudo faz sentido, uma vez que, desde 2002 o Brasil já apontava um aumento significativo da população idosa (acima dos 60 anos) em seu território (Stella et al., 2002). Em estudo mais recente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE, 2018) mostra que conforme o tempo passa, a população de idosos no Brasil aumenta, e projeta que, em 2060 uma parcela de 25% da população será idosa, ou seja, a cada 4 (quatro) brasileiros 1 (um) será idoso.

 

    Atividade física é uma ferramenta utilizada para os mais diversos fins, seja ele educacional, social, de lazer ou saúde. Ela pode propiciar benefícios agudos e crônicos para o indivíduo praticante. Alguns de seus benefícios voltados para a questão psicológica são: promove a interação social (quando praticada de forma coletiva), diminui a intensidade de pensamentos negativos, promove a melhoria do bem estar e também do humor. (Gonçalves, 2018)

 

    É comprovado e bastante evidente na literatura que a prática de atividade física regular traz inúmeros benefícios para a saúde, como diminuição da frequência cardíaca de repouso e do risco de desenvolver doenças cardiovasculares (Brum et al., 2004), melhora da imagem corporal (Santos & Knijnik, 2006), melhora das aptidões físicas relacionadas à saúde (Araújo &Araújo, 2000), aumento do prazer e da autoestima (Meurer, Benedetti, & Mazo, 2011), melhora do convívio social e diminuição dos níveis (escores) de depressão (Cheik et al., 2003), entre outros benefícios. Com isso, dada à importância da atividade física regular para a promoção da saúde e prevenção de doenças nos indivíduos (servindo como tratamento não ambulatorial e não medicamentoso), a Constituição Federal do país (Brasil, 1988), instituiu a atividade física como necessidade do ser humano e direito do cidadão.

 

    Um estudo feito por Souza, Serra & Suzuk (2012), buscou verificar a influência da prática de exercícios físicos na ocorrência de sinais sugestivos de depressão geriátrica em 15 idosas fisicamente ativas. Eles concluíram que a prática de exercício físico regular contribui para a melhora da capacidade funcional e diminuição de níveis de depressão em idosos, devido à prática propriamente dita e ao convívio social.

 

    Batista & Ornellas (2013), em estudo de corte transversal com indivíduos entre 40 e 70 anos, concluíram que as pessoas mais ativas fisicamente encontram-se mais protegidas contra desordens depressivas em relação às menos ativas. Diante de todas essas evidências encontradas na literatura, o presente estudo tem por objetivo relacionar o nível de atividade física com a prevalência de sintomas de depressão em indivíduos idosos fisicamente ativos e inativos.

 

Metodologia

 

    Estudo de delineamento transversal, de cunho quantitativo e descritivo. O público alvo da pesquisa foi um grupo de 16 idosos (60 à 80 anos), moradores do Bairro Engenho do Meio (Recife, Pernambuco, Brasil), que não tinham vínculo com programas sistematizados de atividade física, todavia, levando em consideração os limites e possibilidades de cada um, no uso de sua autonomia, alguns se utilizavam do seu tempo de lazer para construir o hábito da caminhada (n=8), enquanto outros praticavam atividade física no lar (atividades domésticas) ou levavam uma vida fisicamente sedentária (n=8). A observação foi caracterizada através de dados obtidos a partir de dois questionários, o IPAQ (Questionário Internacional de Atividade Física) e a EDG (Escala de Depressão Geriátrica). A Escala de Depressão Geriátrica (EDG) é utilizada para mensurar a prevalência de sintomas depressivos. Nesta escala, a classificação é dada a partir de 15 questões, e se for relatada uma pontuação total >5 (maior que cinco), o indivíduo idoso é classificado como “com suspeita de depressão”, e sendo a pontuação total <5 (menor que cinco) o indivíduo é classificado como “sem suspeita de depressão”. E para a avaliação do perfil de atividade física dos idosos foi utilizado o Questionário Internacional de Atividade Física versão curta (IPAQ), adaptado à população idosa, o qual tem como função mensurar o nível de atividade física dos idosos, classificando-os em “muito ativos”, “ativos”, “irregularmente ativos” e “sedentários”. O critério de classificação é baseado na intensidade da atividade física e em quanto tempo o indivíduo fez a atividade na última semana, em pelo menos 10 minutos contínuo no seu dia a dia. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística (utilizando um banco de dados no programa Excel, do pacote Microsoft Office 2010) a fim de se obter uma correlação entre a prevalência de sintomas depressivos e o nível de atividade física do grupo estudado.

 

Resultados e discussão

 

    Participaram da pesquisa 16 idosos com idades entre 60 e 80 anos, na qual 11 eram mulheres e 5 eram homens. Foi visto que na classificação do (IPAQ), tendo como referência o total de indivíduos (n=16), 12,5% foram classificados como “sedentários” (n= 2), 37,5% foram classificados como “irregularmente ativos” (n= 6), 37,5% foram classificados como “ativos” (n= 6) e 12,5% como “muito ativos” (n= 2). Um detalhe importante é que todos os idosos da pesquisa que relataram praticar algum tipo de atividade física, todos foram unânimes em apontar a caminhada como a atividade física “favorita”. Quanto aos sintomas de depressão, os quais foram mensurados segundo o EDG, 18,75% (n= 3) foram classificados como “com suspeita de depressão”, enquanto 81,25% (n= 13) foram classificados como “sem suspeita de depressão”. Tendo em vista os dados coletados a partir do IPAQ e da EDG, o Gráfico 1 faz uma correlação entre nível de atividade física e suspeita de depressão nos indivíduos.

 

Gráfico 1. Correlação entre o nível de atividade física e suspeita de depressão nos indivíduos

 

    De acordo com o Gráfico 1, tendo em vista os 16 (dezesseis) idosos que fizeram parte da pesquisa, entra no campo de pessoas com suspeita de depressão, segundo a EDG, dois (2) indivíduos sedentários e um (1) indivíduo irregularmente ativo. E fora do campo de pessoas com suspeita de depressão estão, de acordo com a mesma Escala, três (3) indivíduos classificados como "muito ativos", cinco (5) indivíduos classificados como "ativos" e cinco (5) indivíduos classificados como "irregularmente ativos". Por um lado, isso significa que a prática de atividade física, ainda que irregularmente, pode funcionar como um efeito protetor do indivíduo contra a depressão, uma vez que a prática de atividade física estimula o corpo a liberar substâncias que estão diretamente ligadas à sensação de prazer e bem estar, como a dopamina e as endorfinas (Cheik et al., 2003). Por outro lado, somente a atividade física não é suficiente para isentar o indivíduo de desenvolver a depressão, visto que a atividade física não é uma forma de blindar o indivíduo, mas sim um recurso adicional que pode ajudar tanto na prevenção quanto no tratamento dos sintomas depressivos.

 

    A atividade física não anula o “acesso” do indivíduo à depressão, mas a depressão anula o acesso do indivíduo à atividade física, se ela estiver com um grau de intensidade acentuado. A depressão, portanto, diminui a prática de atividades físicas, visto que ela redireciona todo o foco do indivíduo para a sua atual condição, ou seja, baixa estima, isolamento social e tristeza constante (Moraes, 2007; Santana, 2017). Apesar disso, em contrapartida, a pratica regular de atividade física pode ser um fator importante na prevenção e no tratamento da depressão. (Moraes, 2007; Mendes et al., 2017)

 

    Segundo os dados obtidos com o IPAQ, dos 16 (dezesseis) idosos que participaram da pesquisa, 14 (quatorze) praticam algum tipo de atividade física, seja caminhada ou atividade física do lar (doméstica), e entre esses 14 (quatorze) só um 1 (um) foi classificado como “com suspeita de depressão” segundo a EDG. Isso significa que o simples hábito de mexer o corpo com intencionalidade já contribui para retirar o indivíduo do sedentarismo e protegê-lo ainda que minimamente de desenvolver a depressão.

 

    Cheik e colaboradores (2003), em estudo longitudinal visando verificar a influência do exercício físico e da atividade física nos índices indicativos para depressão e ansiedade, submeteram idosos saudáveis a um programa de exercício físico por um período de 4 meses e observaram um índice satisfatório de redução dos escores de depressão e ansiedade. Reforçando esta perspectiva, o estudo de Batista & Ornellas (2013), mostra que idosos fisicamente ativos possuem uma menor relação com os indicadores de depressão, e que o exercício regular pode auxiliar o tratamento dos sintomas depressivos.

 

    O presente estudo, portanto, não vem para substituir, mas sim para somar e se alinhar à literatura temática, tento em vista o grande desafio que se tem de conscientizar a população, tanto a não idosa quanto a idosa, a fim de que possa adotar um estilo de vida fisicamente ativo, levando em consideração os limites e possibilidades de cada um.

 

Conclusões

 

    Por meio desta pesquisa, e com respaldo na literatura de apoio apresentada ao longo do estudo, se pode inferir que idosos que apresentam uma vida “orientada” para a prática de atividade física regular podem ter menos possibilidade de desenvolver sintomas depressivos, e como consequência,menos chance de utilizarem medicamentos para tratamento de depressão. No estudo também pode ser observada uma maior predominância de idosos “ativos” e “irregularmente ativos” “sem sintomas de depressão” (com exceção do indivíduo 8, vide Gráfico 1), fato que pode mostrar que não necessariamente é preciso uma rotina exagerada de atividades físicas para que haja um efeito benéfico em relação à depressão (proteção contra sintomas depressivos). Mas vale ressaltar que muitos são os aspectos que contribuem para o surgimento da depressão, pois a depressão é uma doença multifatorial, que compreende muitos outros fatores para além do nível de atividade física regular ou não regular.

 

    Sem dúvida, existe um efeito protetor da atividade física sobre a incidência de sintomas depressivos, pois ela produz os “hormônios da felicidade”, dopamina e endorfinas, que estão ligados ao prazer e ao bem estar do indivíduo, todavia, a atividade física por si só não é suficiente para isentar o idoso de desenvolver a depressão, porque ela não é uma forma de blindar a pessoa da depressão, ela é somente um recurso adicional, não medicamentoso, que pode auxiliar tanto na prevenção quanto no tratamento de sintomas depressivos. E em matéria de depressão, não se pode negar, todo auxílio e forma de apoio são bem vindos, e a atuação conjunta de diferentes métodos no tratamento, como consequência, pode facilitar e acelerar a recuperação do indivíduo.

 

    Por fim, são recomendadas novas pesquisas na área de atividade física e depressão, envolvendo uma maior e heterogênea amostra, bem como também a relação com o tipo de atividade física praticada (individuais e coletivas), intensidade e duração dos programas de atividade física.

 

Referências

 

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Cheik, N. C. et al. (2003). Efeitos do exercício físico e da atividade física na depressão e ansiedade em indivíduos idosos. R. bras. Ci. e Mov. Brasília v. 11 n. 3 p. 45-52.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 255, Ago. (2019)