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ISSN 1514-3465

 

Projeto Crescer no Esporte. Da criação ao desenvolvimento por Alexandre Colagrai

Project Crescer no Esporte. From Creation to Development by Alexandre Colagrai

Proyecto Crescer no Esporte. De la creación al desarrollo por Alexandre Colagrai

 

Maria Célia Bruno Mundim

celiamundim@gmail.com

 

Psicóloga, Mestre, Doutora e com Pós-Doc em Psicologia

pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas

Atualmente é membro do Grupo de Estudos

em Psicologia do Esporte e Neurociências (GEPEN)

da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas

e colabora com o grupo de pesquisa Pensamento Crítico

da Universidade de Salamanca (Espanha)

(Brasil)

 

Recepção: 02/11/2021 - Aceitação: 23/02/2023

1ª Revisão: 19/12/2022 - 2ª Revisão: 19/02/2023

 

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Citação sugerida: Mundim, M.C.B. (2023). Projeto Crescer no Esporte: Da criação ao desenvolvimento por Alexandre Colagrai. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(298), 187-196. https://doi.org/10.46642/efd.v27i298.3241

 

Resumo

    O presente trabalho buscou descrever, por meio de uma entrevista, a criação e o desenvolvimento do projeto esportivo social Crescer no Esporte com seu idealizador, Alexandre Colagrai (Alexandre). Para tanto, contextualizou-se, brevemente, os projetos esportivos sociais no Brasil, assim como aquele na cidade de Rio Claro (Estado de São Paulo). A entrevista foi organizada por meio de tópicos. Após nove anos de existência, o projeto transformou-se em uma instituição, Instituto Crescer no Esporte, para favorecer o desenvolvimento humano de pessoas de diferentes faixas etárias, principalmente crianças e jovens, através do esporte. Atualmente o instituto conta com três modalidades: Handebol, Voleibol e Taekwondo. Mesmo diante das dificuldades financeiras e de gestão de pessoas, bem como das limitações impostas pela COVID-19, o idealizador e os profissionais do instituto vêm conseguindo manter a proposta do mesmo.

    Unitermos: Entrevista. Projeto esportivo social. Esporte. Criança.

 

Abstract

    This paper was aimed at describing the creation and development of the social sports project Crescer no Esporte. This occurred through an interview with its creator, Alexandre Colagrai (Alexandre). Therefore, the social sports projects in Brazil was briefly contextualized, as well as the one in the city of Rio Claro (State of São Paulo). The interview was organized by topics. After nine years of existence, the project became an institution, Crescer no Esporte Institute, to favor human development of people of different age groups, especially children and young people, through sports. Currently the institute has three modalities: Handball, Volleyball and Taekwondo. Even in the face of financial and people management difficulties, as well as the limitations imposed by COVID-19, the institute's creator and professionals have managed to maintain its proposal.

    Keywords: Interview. Social sports project. Sport. Child.

 

Resumen

    El presente trabajo buscó describir, a través de una entrevista, la creación y desarrollo del proyecto social deportivo Crescer no Esporte con su creador, Alexandre Colagrai (Alexandre). Para ello, se contextualizaron brevemente los proyectos sociodeportivos en Brasil, así como el de la ciudad de Rio Claro (Estado de São Paulo). La entrevista fue organizada por temas. Después de nueve años de existencia, el proyecto se convirtió en una institución, Instituto Crescer no Esporte, para favorecer el desarrollo humano de personas de diferentes edades, principalmente niños y jóvenes, a través del deporte. Actualmente el instituto cuenta con tres modalidades: Balonmano, Voleibol y Taekwondo. Incluso ante las dificultades financieras y de gestión de personas, así como las limitaciones impuestas por el COVID-19, el fundador y los profesionales del instituto han sabido mantener su propuesta.

    Palabras clave: Entrevista. Proyecto sociodeportivo. Deporte. Niño y Niña.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 298, Mar. (2023)


 

Introdução 

 

    A tendência de se ter projetos esportivos de cunho social no Brasil ocorreu com as políticas públicas do Ministério do Esporte, em consonância com a Constituição Federal Brasileira de 1988 (Silva, Borges, e Amaral, 2015). Essas políticas delinearam o esporte como setor estratégico e de direito individual a ser promovido pelo Estado, à semelhança do lazer como um direito social, conforme os autores. Logo, os projetos esportivos sociais se estabeleceram como alternativas para atenuar as desigualdades (pobreza, desemprego, etc.) e as demandas sociais (educação e saúde) no país. (Ferreira, Marrero, e Ramos, 2019; Vianna, e Lovisolo, 2011)

 

    Por projeto esportivo social entende-se a iniciativa que tem o esporte como diretriz no acolhimento e na inclusão social de indivíduos provenientes de espaços de risco e vulnerabilidade social (Barreto, e Perfeito, 2018). Além da aprendizagem de modalidades esportivas, os participantes adquirem habilidades para a vida (Santos, Neves, e Parker, 2020). Os jovens também podem vislumbrar a estética, a ascensão social e novas perspectivas de vida com a participação nesse tipo de empreendimento. (Mello et al., 2022)

 

    Os projetos sociais esportivos foram rapidamente impulsionados no Brasil, em razão da extensa pobreza neste (Ferreira, Marrero, e Ramos, 2019). Assim, com o aumento das iniciativas esportivas para a população economicamente mais carente, pesquisadores do campo interdisciplinar da Educação Física e Psicologia vêm produzindo trabalhos científicos relacionados ao tema (Caron, Junior, e Moraes, 2018; Kravchychyn, e Oliveira, 2015; Matos, e Andrade, 2011; Simarelli et al., 2022). Portanto, o presente trabalho buscou descrever, por meio de uma entrevista, a concepção e o desenvolvimento de um projeto esportivo social bem-sucedido denominado “Crescer no Esporte”, com seu idealizador e coordenador, Alexandre Colagrai.

 

    Alexandre é profissional de Educação Física, doutorando em Psicologia do Esporte pela Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas, mestre em gestão do esporte, especialista em administração e marketing esportivo, com formação complementar nos EUA. Ele também atua como Chefe do Gabinete do Secretário na Secretaria Municipal de Esportes de Rio Claro.

 

Imagem 1. Instituto Crescer no Esporte incluiu as modalidade de Handebol, Voleibol e Taekwondo

Imagem 1. Instituto Crescer no Esporte incluiu as modalidade de Handebol, Voleibol e Taekwondo

Fonte: https://www.crescernoesporte.org.br/index.html

 

    Além de abordar a respeito da criação do projeto esportivo social, ele falou sobre as estratégias utilizadas para sua manutenção e crescimento. Alexandre também comentou sobre as dificuldades e os desafios atuais enfrentados pelo instituto, bem como o impacto da pandemia COVID-2019.

 

    A entrevista foi organizada por meio de tópicos. Desse modo, a literatura acerca da temática pode ser exposta, sucintamente, para embasar a narrativa do entrevistado. No entanto, antes da descrição da entrevista que foi feita, de modo online, no início de julho de 2021, o projeto será apresentado, a seguir.

 

O projeto Crescer no Esporte 

 

    O projeto Crescer no Esporte foi iniciado no ano de 2005, na cidade de Rio Claro (Estado de São Paulo), com o objetivo de disseminar a prática esportiva de Handebol gratuitamente, sobretudo entre as crianças e os jovens, para favorecer o desenvolvimento desses enquanto indivíduos. Devido à expansão do projeto em 2014, ele tornou-se uma instituição sem fins lucrativos, Instituto Crescer no Esporte, e incluiu a modalidade de Voleibol e Taekwondo, além do Handebol já existente.

 

    Em decorrência da ampliação do instituto, ele passou a ter o seguinte propósito – ser referência de projeto esportivo enquanto instituição, visando a educação e a transformação social. Ainda, dentre suas finalidades estão: a) promover e desenvolver o trabalho voluntário; b) filiar-se às Ligas, Federações, Confederações e Associações, nacionais e internacionais, para promover o esporte; c) ao lado dos esportes amadores e profissionais, poderá organizar e manter quadros esportivos, observados na legislação em vigor. (Instituto Crescer no Esporte, 2021)

 

    Atualmente o instituto conta com o apoio financeiro da Secretaria de Esportes da prefeitura de Rio Claro e de empresas privadas. Também, é membro da Rede de Esporte pela Mudança Social (REMS) que é uma rede fundada pelas Organizações das Nações Unidas e possui 161 instituições parceiras que propiciam o esporte social.

 

    Conforme exposto, o projeto mostra-se relevante devido à abrangência que se configurou. Ele atende uma quantidade significativa de moradores da cidade, de diferentes faixas etárias, colaborando para o bem-estar físico (melhora do condicionamento físico, da capacidade funcional, da flexibilidade, etc.) e mental (melhora do humor, do estresse, dentre outros) deles. Também, auxilia na aquisição de habilidades sociais, tais como a cooperação e o trabalho em equipe entre os praticantes. Além disso, o projeto possui atletas de alto rendimento que participam de competições regionais, nacionais e internacionais, como os Jogos Olímpicos.

 

A criação do projeto 

 

    Muitas vezes, a opção de tornar-se empreendedor parece ocorrer por acaso, entretanto ela envolve habilidades pessoais, fatores sociais e ambientais (Dornelas, 2021). Esses fatores e habilidades são determinantes para o aparecimento e desenvolvimento de um novo empreendimento de acordo com o autor.

 

    Ao iniciar a entrevista dizendo como a ideia do projeto esportivo social surgiu, Alexandre referiu que o projeto ocorreu ao acaso, sem planejamento. Ele queria abandonar a profissão de Educador Físico, pois teve dificuldades em trabalhar, em projetos esportivos, como professor concursado em um município próximo a Rio Claro (cidade onde residia). Saiu do emprego e montou uma empresa junto a um sócio, onde encontrou outro tipo de dificuldades. Nesse ínterim foi chamado no concurso da prefeitura de Rio Claro e acabou assumindo o cargo de professor de Educação Física como um bico, além de continuar a atuar na própria empresa. Foi quando surgiu a oportunidade de atuar com o handebol, como mencionou: “E aí, um dia, quando eu estava na secretaria... Faltava algumas horas pra fechar minha carga horária, um diretor disse que tinha uma parceria com a UNESP de Rio Claro disponibilizando a quadra pra montar um trabalho com handebol e ele perguntou quem sabia... E eu conto essa história assim com o maior prazer, porque eu nunca joguei handebol na vida, não tinha handebol aqui em Rio Claro, nunca fui jogador de handebol e rapidamente eu levantei a mão. E o que aconteceu no meu cérebro nesse momento foi um cálculo muito rápido: “eu preciso do emprego, eu preciso ter um salário, eu preciso me manter trabalhando” (pensou). Então, a UNESP é um lugar limpo, organizado, com material e que de repente eu posso fazer alguma coisa... Só que quando ele ofereceu isso, não estava certa essa parceria; era uma ideia. Rapidamente eu fui na UNESP conhecer alguns professores e disse que eu seria o professor ali. Eles se interessaram, entraram em contato com a Secretaria de Esportes e pediram pra que eu ficasse lá. E assim, eu comecei a trabalhar o handebol numa quadra da UNESP. E pra que desse certo eu fui em algumas escolas públicas da região, levei uma caixinha de sapato que era uma urna e passei nas salas fazendo divulgação dos horários... E assim, eu passei a dar aula pra muitos alunos que apareceram na UNESP. Aquilo me encantou! E aí eu comecei a fazer cursos de handebol, comecei a viajar pra cidades do lado pra assistir treinos de handebol, porque eu queria ser bom naquilo que eu tava fazendo e eu queria que desse certo. E aí como eu tinha uma empresa e eu tinha feito todos os cursos que o SEBRAE oferece sobre administração, sobre planejamento financeiro, marketing, empreendedorismo, tudo, eu falei: “Opa! O esporte não tem administração!” Eu fui atleta, eu me formei em Educação Física e eu não vejo isso no esporte. Então eu vou tentar levar pro esporte os conhecimentos de administração. Foi quando eu fui fazer a minha especialização em administração e marketing esportivo e depois fiz o meu mestrado em administração e marketing esportivo e fiz a minha outra faculdade de Pedagogia. Tudo pra melhorar aquela coisa que tinha me tocado. Eu fui fazendo o projeto crescer! Tanto é que ele passou a se chamar “Projeto Crescer”. Daí o handebol foi crescendo e aí eu expandi pra periferia, que a UNESP era próxima a uma periferia. Eu atendia alunos de escolas públicas e aí eu fui transformando todas as outras minhas aulas que estavam nesses campos de futebol, nesses locais aí vinculados aos vereadores... Eu fui dando um jeito de sair dessas turmas e transformou minha carga horária em handebol. E aí fui desenvolvendo projetos e, depois aí, isso, eu fundei a instituição que é o “Instituto Crescer no Esporte”. Ofereci pra outros professores de outras modalidades, eles entraram e aí... Em 2014 que eu fundei e em 2015, 2016 entraram outras modalidades. Resumindo, não nasceu assim planejado, como uma coisa própria; nasceu ao acaso, por um desespero, por uma causa pessoal, uma necessidade pessoal que não tinha nada a ver com um projeto social. E aí eu fui vendo a possibilidade daquilo que me encantou, daquela prática esportiva, de uma modalidade que eu não conhecia... Eu comecei a encantar outras pessoas devido ao meu entusiasmo, minha energia colocada naquilo, meu amor naquilo, minha curiosidade, tudo aquilo que me movia. Eu não sei explicar tudo! Depois se transformou realmente em um projeto social e esse projeto social se transformou numa entidade sem fins lucrativos, que hoje é o “Instituto Crescer no Esporte”. Que hoje sim ele tem um viés muito claro, de formação, do que ele quer... Então, naquela época, eu só queria ter um lugar limpo, organizado e com material pra dar aula, por isso corri atrás de estrutura pra que eu tivesse isso.

 

A inclusão do taekwondo e do vôlei no projeto 

 

    O empreendedor lidera, mobilizando outros indivíduos em torno de propósitos (Hashimoto 2006). Assim sendo, a união entre eles e os processos característicos dessa relação levam à transformação de ideias em oportunidades. Quando adequadas, essas oportunidades geram negócios de sucesso (Dornelas, 2021). É o que pode ser constatado na fala de Alexandre sobre a inclusão de professores de outras modalidades junto ao handebol: “Na verdade, em 2014 nós fundamos uma associação e se chamava 'Associação Crescer no Esporte' que era com os professores do handebol, mas em nenhum momento nós fundamos ela dizendo que ela seria do handebol. Fundamos ela como uma entidade esportiva pra todo tipo de esporte, porque nós queríamos movimentar o esporte. Aí, em 2015 eu transformei a associação em instituto, porque eu vi que o instituto tinha um impacto maior e eu conheci grandes organizações em São Paulo de ex-atletas. Transformamos em instituto. E aí, no intuito de fazer aquilo que a secretaria de esportes eu não via fazer, porque eu sou funcionário, eu sou coordenador lá, queria movimentar o esporte e não conseguia, eu abri e convidei todo mundo da cidade que trabalhava com esporte, pra quem quisesse participar do instituto. E aí, nessa caminhada apenas quatro modalidades se interessaram, que foi judô, futsal, voleibol e taekwondo. E dessas quatro, realmente, pelo perfil semelhante ao meu, pela seriedade, pela estrutura e forma de pensar, o voleibol e o taekwondo foram os que ficaram. E aí nós fechamos as portas e agora somos três modalidades que vamos caminhar juntos.”

 

Objetivos atuais do Instituto Crescer no Esporte 

 

    A criatividade junto à proatividade e à autoeficácia do empreendedor são importantes para a produção de novas ideias no empreendedorismo social (Monllor, e Attaran, 2008; Osiri, Kungu, e Dilbeck, 2019). Assim, ele precisa vislumbrar o futuro e buscar criar oportunidades para a transformação social, contribuindo com políticas públicas para melhoria da sociedade. (Nader, 2018)

 

    Ao ser perguntado sobre os objetivos atuais do instituto, Alexandre relatou que uma das metas é ele ter uma sede própria (o endereço residencial dele que consta como endereço do instituto, assim como o CNPJ), pois o instituto atende várias turmas em oito bairros da cidade. E continuou: “Mas o nosso sonho é ter uma quadra, que a prefeitura nos ceda concessão de uso de um espaço pra que nós possamos explorar esse espaço, desenvolver e investir esse espaço. Nós temos empresas parceiras que nos ajudariam na melhora do espaço. Mas a gente ainda não consegue isso. Então esse é o principal foco nosso. Outro foco muito importante nosso é melhorar os processos de gestão. O quê que eu digo em processos de gestão é contratar pessoas pra fazer o administrativo. Hoje todo trabalho administrativo é voluntário, então nós precisamos ter um administrador, uma secretária, um gestor que cuide da documentação, que organize, que sistematize, que faça os processos, né? É aquela coisa mecânica. Então, isso é um foco nosso agora. O outro foco é investir em mídia e preparação de material e relatórios pra que a gente possa ser mais profissional e conseguir vender melhor a nossa ideia pra que a gente possa conseguir mais apoios. Um terceiro objetivo, investir na formação de novas pessoas, de novos profissionais. Então, os alunos do projeto social que viraram atletas que hoje já estão na faculdade. Estamos investindo neles, na formação deles, pra que no futuro eles possam também administrar o instituto. Pra que eles peguem gosto por isso e ajudem na gestão do instituto. Então, o terceiro foco é a formação das pessoas. É! O esporte em si, como o atleta campeão, ter atleta campeão... Nós temos aqui um atleta olímpico que embarcou ontem, de taekwondo. Ele já tá classificado para os Jogos Olímpicos e embarcou ontem pra Sérvia e da Sérvia ele vai... Ok! Legal! Mas esse não é o nosso foco. Isso foi acontecendo ao longo do tempo, né? Ele é um atleta de fora de Rio Claro, que veio participar de nossos projetos e veio treinar aqui, já tá aqui há muitos anos. Então, o nosso foco principal é formar, conseguir uma formação universitária, ajudar na continuidade da educação dessa garotada que tá no projeto social. Acho que são esses os grandes e principais objetivos, né! Essas informações que estou te falando foi de uma reunião que nós tivemos agora e fizemos uma reunião exatamente perguntando essas coisas, o que cada um pensa do instituto pra 2022 e quais os rumos que nós vamos seguir, né!”

 

Obstáculos do Instituto Crescer no Esporte 

 

    Um dos maiores problemas enfrentados pelos diversos projetos sociais esportivos no Brasil é a carência financeira, mesmo que haja leis de incentivo fiscais destinadas à eles (Matias et al., 2015). Isso, porque essas leis contribuem insuficientemente para a democratização do esporte e do lazer no país, de acordo com os autores.

 

    Alexandre relatou como principais dificuldades do instituto a parte financeira e o relacionamento interpessoal. Segundo ele: “Existem muitos problemas nas relações entre as pessoas. Existem interesses diferentes, existem visões diferentes... Teve um presidente do instituto muito vinculado a política, começou a arrumar problema político e o instituto não tem vínculo partidário, ninguém tem vínculo partidário. A outra questão é a dificuldade, como eu posso dizer, política mesmo. Por exemplo, nós atuamos numa cidade que se você vai muito pra um lado, você tá daquele lado. Se você não vai pra lado nenhum, você não é visto. Então, pra nós conseguirmos o nosso espaço, nós tivemos que trabalhar muito sério e muito bem. É como aquela história de você ganhar um jogo e você tem que ganhar da arbitragem também, porque a arbitragem tá do outro lado, sabe? Você tem que jogar muito melhor do que só pra ganhar o jogo. Então como a gente nunca se vinculou, nunca foi a nenhum lado, nunca ficou nem aqui nem ali... A gente acompanha o ritmo da secretaria de esportes que é o nosso principal parceiro, então a gente não abraça a causa de nenhum vereador e também não deixa nenhum vereador ficar identificado conosco como acontece com outras entidades ou com outros esportes. Então, isso às vezes ajuda, às vezes dificulta. Então, esse é um problema. E a questão financeira, porque essa não tem jeito, essa vai ser eterna. Porque o produto que nós vendemos não é mensurável. Há! É lindo falar do esporte de formação, do esporte social, mas não se investe nada.”

 

O impacto da COVID-19 

 

    O advento da COVID-19 e o confinamento social trouxeram diversas consequências para o esporte, em geral. Pessoas e atletas de diferentes faixas etárias tiveram que rever seus espaços, de atividades e exercícios físicos, perdidos. As debilidades dos sistemas esportivos foram expostos. Por outro lado, fortalezas e potencialidades foram reveladas, representando oportunidades para o fortalecimento e renovação do esporte. (Cáceres Andrés, 2020)

 

    Alexandre comentou que o impacto da pandemia COVID-19 no instituto foi grande, conforme relatou: “Perdemos muitos alunos. Muitos! Porque precisavam trabalhar, precisavam ajudar em casa e o esporte não... Hoje nós ajudamos financeiramente alunos a partir de quinze anos. Quatorze anos começam a ajudar em casa... Então realmente nós vamos começar do zero daqui em diante. O handebol foi o que mais perdeu e era o que estava na periferia mais pesada. Então foi o que mais perdeu.”

 

Desafios atuais do instituto 

 

    Devido à falta de financiamento, os projetos sociais esportivos precisam contar com trabalho voluntário de professores que, muitas vezes, encontram soluções criativas para custear as despesas (Godoi, Kawashima, e Moreira, 2021). Apesar disso, vários projetos referem a falta de voluntários e profissionais qualificados, bem como de espaços adequados, dentre outros recursos para desenvolver as atividades esportivas, a exemplo de estudo de Souza, Castro, e Mezzadri (2012).

 

    Sobre os desafios atuais do instituto, Alexandre referiu o financeiro e o espaço para a prática das atividades esportivas, como pode ser percebido em sua resposta: “Hoje, o desafio eterno, é conseguir recurso financeiro. Graças a Deus temos recursos humanos muito bons. Muito bons! Hoje são recursos humanos que estão mais alinhados entre si pela variedade de pessoas que atuam. Então, estão muito alinhados. Aqueles que não estavam se alinhando a gente teve que tirar, porque não dá pra trabalhar com cada um do seu jeito. Então, a questão é recursos financeiros pra que a gente possa desenvolver as atividades. O outro é, como eu falei, a gente não tem um local nosso que a gente possa desenvolver um projeto. A gente sempre fica dependendo da igreja liberar a parceria lá com a quadra, a prefeitura liberar um aqui, a escola liberar a quadra ali. Então, tudo isso pode acabar, pois a gente já mudou muito. A gente já mudou o local de atendimento muitas vezes...”

Conclusão 

 

    Compreender a concepção e o desenvolvimento de um projeto esportivo social nos faz refletir sobre como é importante o papel do empreendedor para propiciar, estimular e socializar a prática esportiva em classes desfavorecidas economicamente, sobretudo crianças e jovens. Isso visto a formação e a promoção de saúde integral e de habilidades sociais que o esporte oferece.

 

    Empreender não é fácil, pois exige esforço, estudo, treinamento, parceria, dentre outras competências e recursos. Foi utilizando esses recursos e aptidões próprias que Alexandre empreendeu o Projeto Crescer no Esporte, tendo o handebol como ferramenta de inclusão social.

 

    O projeto foi sendo ampliado com a adição de outras modalidades e com patrocinadores parceiros. Assim, o projeto foi transformado em Instituto Crescer no Esporte.

 

    Mesmo diante das dificuldades financeiras e de gestão de pessoas, bem como das limitações impostas pela COVID-19, o idealizador e os profissionais do instituto vêm conseguindo manter a proposta do mesmo. Também, eles continuam buscando soluções aos problemas do instituto, tais como apoio de recursos financeiros e um local para servir como sede do mesmo.

 

    A literatura acerca do tema evidencia que apesar do aumento dos projetos esportivos de cunho social no Brasil, eles ainda enfrentam enormes desafios, como a falta de finanças e de pessoal qualificado. Portanto, para buscar a democratização do esporte no país e como forma de enfrentamento frente as adversidades, o empreendedor esportivo social precisa sempre persistir, ousar, ter autoconfiança e adotar estratégias de um esportista.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 298, Mar. (2023)