ISSN 1514-3465
Gravidez na adolescência: fatores associados
Teenage Pregnancy: Associated Factors
Embarazo adolescente: factores asociados
Marcelo Tiago Balthazar Corrêa*
marcelo_tiago123@hotmail.com
Thayse Alves da Silva**
thayseempsicologia@gmail.com
Ivanice Fernandes Barcellos Gemelli***
ivanice.gemelli@unir.br
Jeanne Lúcia Gadelha Freitas+
jeannegadelha@unir.br
Paulo Renato Vitória Calheiros++
paulocalheiros@unir.br
Edson dos Santos Farias+++
edson.farias@unir.br
*Graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
com residência e título de especialista em Saúde da Família (UNIR)
Mestrando em Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia (UNIR)
Atualmente professor no ensino básico da rede municipal de Ji-Paraná, Rondônia
**Psicóloga graduada pela Universidade São Lucas
Mestranda em Psicologia pela UNIR, na linha
de pesquisa de Saúde e Processos Psicossociais
Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental
***Residência médica e título de especialista em Ginecologia e Obstetrícia
Docente no departamento de medicina da UNIR
Doutorado em Ciências da saúde: Ginecologia e Obstetrícia
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
+Professora do Departamento de Enfermagem da UNIR
Doutora em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários pela UFPA
Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela UNIR
Especialista em Gestão Descentralizada em IST/HIV/Aids pela UFM
Especialista em Formação Pedagógica em Educação
na Área de enfermagem e em Doenças Tropicais pela UNIR
Membro do Centro de Estudos e Pesquisa em saúde Coletiva-CEPESCO
e do Laboratório de Práticas em Saúde Coletiva-LAPECS
++Graduado em Psicologia pela Universidade Católica de Pelotas
Mestre em Saúde e Comportamento pela Universidade Católica de Pelotas
Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Professor do curso de graduação em Psicologia e no Programa de Pós-Graduação,
Mestrado em Psicologia da Universidade Federal de Rondônia
+++Doutorado em Saúde da Criança e do Adolescente
pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM)/
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
com Pós-Doutorado em Pediatria/Ciências Aplicadas à Pediatria
pela Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP/EPM
Atualmente é Professor Associado IV da UNIR
Docente Permanente do Mestrado Profissional
em Saúde da Família (PROFSAÚDE)-ABRASCO
Docente Permanente do Mestrado Acadêmico em Psicologia (MAPSI) da UNIR
Docente e Tutor da Residência Multiprofissional em Saúde da Família (UNIR)
(Brasil)
Recepção: 17/10/2021 - Aceitação: 06/09/2022
1ª Revisão: 05/07/2022 - 2ª Revisão: 03/09/2022
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Citação sugerida
: Corrêa, M.T.B., Silva, T.A. da, Gemelli, I.F.B., Freitas, J.L.G., Calheiros, P.R.V., e Farias, E. dos S. (2022). Gravidez na adolescência: fatores associados. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(293), 146-166. https://doi.org/10.46642/efd.v27i293.3224
Resumo
A adolescência é a fase da vida entre a infância e a idade adulta. A gravidez nessa fase é apontada como problema de saúde pública. O objetivo deste artigo é identificar os fatores associados a gravidez na adolescência, em alunas de 12 a 17 anos que estavam matriculadas em escolas públicas e privadas, localizados em uma capital da Amazônia brasileira. A metodologia utilizada foi de um estudo transversal, de base escolar, utilizando dados brutos do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA 2013/2014). Foi incluída apenas a amostra dos escolares do gênero feminino, de escolas públicas (n=374), particulares (n=49), totalizando 423. A variável de exposição ao desfecho foi a gravidez na adolescência. Verificou-se que os principais fatores de risco associados com a gravidez na adolescência foram: idade maior que 13 anos 26,8% (RP=1,48), escolaridade da mãe menor ou igual a cinco anos 26,8% (RP=1,34), não praticar esporte 28,7% (RP=1,32), prática de atividade física na escola menos de duas vezes por semana 26,2% (RP=1,28), inativo fisicamente 26,5% (RP=1,27), não consumir álcool foi considerado um fator de proteção contra a gravidez na adolescência 26,6% (RP=0,54), idade da menarca menor que 13 anos 26,5% (RP=2,02). Conclui-se que a prevalência de gravidez na adolescência foi considerada elevada e preocupante (25,1%), e, o não planejamento da gravidez aumentou demasiadamente a probabilidade de gestação no período da adolescência.
Unitermos:
Gravidez na adolescência. Comportamento sexual. Saúde pública.
Abstract
Adolescence is the stage of life between childhood and adulthood. Pregnancy at this stage is identified as a public health problem. The aim of this article is to identify the factors associated with teenage pregnancy in students aged 12 to 17 years who were enrolled in public and private schools, located in a capital of the Brazilian Amazon. The methodology used was a cross-sectional, school-based study, using raw data from the Study of Cardiovascular Risks in Adolescents (ERICA 2013/2014). Only the sample of female students was included, public schools (n=374), private schools (n=49), totaling 423. The variable of exposure to the outcome was teenage pregnancy. It was found that the main risk factors associated with teenage pregnancy were: age over 13 years 26.8% (PR=1.48), mother's education level less than or equal to five years 26.8% (PR=1.34), not playing sports 28.7% (PR=1.32), practicing physical activity at school less than twice a week 26.2% (PR=1.28), physically inactive 26.5% (PR=1.27), not drinking alcohol was considered a protective factor against teenage pregnancy 26.6% (PR=0.54), age at menarche under 13 years old 26.5% (PR=2.02). It is concluded that the prevalence of adolescent pregnancy was considered high and worrying (25.1%), and the non-planning of pregnancy greatly increased the probability of pregnancy in adolescence.
Keywords
: Teenage pregnancy. Sexual behavior. Public health.
Resumen
La adolescencia es la etapa de la vida entre la niñez y la edad adulta. El embarazo en esta etapa es reconocido como un problema de salud pública. El objetivo de este artículo es identificar los factores asociados al embarazo adolescente en estudiantes de 12 a 17 años que cursan estudios en escuelas públicas y privadas ubicadas en una ciudad capital de la Amazonía brasileña. La metodología utilizada fue un estudio transversal, de base escolar, utilizando datos brutos del Estudio de Riesgos Cardiovasculares en Adolescentes (ERICA 2013/2014). Se incluyó únicamente la muestra de alumnas, de colegios públicos (n=374), colegios privados (n=49), totalizando 423. La variable de exposición para el desenlace fue el embarazo adolescente. Se encontró que los principales factores de riesgo asociados al embarazo adolescente fueron: edad mayor a 13 años 26,8% (RP=1,48), escolaridad de la madre menor o igual a cinco años 26,8% (RP= 1,34), no practicar deporte 28,7% (RP=1,32), actividad física en la escuela menos de dos veces por semana 26,2% (RP=1,28), inactividad física 26,5% (RP=1,27), no consumir alcohol se consideró un factor protector contra el embarazo adolescente 26,6% (RP=0,54), edad de la menarca menor de 13 años 26,5% (RP=2,02). Se concluye que la prevalencia de embarazo adolescente fue considerada alta y preocupante (25,1%), y la no planificación del embarazo incrementó mucho la probabilidad de embarazo en la adolescencia.
Palabras clave
: Embarazo en la adolescencia. Comportamiento sexual. Salud pública.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 293, Oct. (2022)
Introdução
Atualmente os adolescentes na faixa etária de 10 a 24 anos representam hoje 1,8 bilhão de pessoas, equivalente a 28% da população global (Moraes, e Vitalle, 2015). No Brasil, em 2015, esse grupo correspondia a 21,0% da população, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD 2015. (IBGE, 2016)
Na Região Norte esse percentual era de 26,6%, na Nordeste 23,4%, na Sudeste 18,9%, na Sul 18,8% e na Centro-Oeste 21,7% (IBGE, 2016). Embora a melhoria da saúde sexual e reprodutiva na adolescência seja uma prioridade na agenda global de saúde, a gravidez precoce na fase da adolescência continua sendo um grande desafio em países desenvolvidos (Marvin-Dowle, e Soltani, 2020; Veena et al., 2016) e em desenvolvimento. (Rosaneli et al., 2020; Estrada et al., 2018; Neal et al., 2012)
A gravidez na adolescência é considerada como problema de saúde pública, ocorrendo no período da puberdade após a primeira menstruação já começa a aparecer os primeiros casos, a partir de nove anos, aumentando gradativamente com avançar da idade, induzido a um ciclo vicioso por diversos fatores: desestrutura familiar, baixa escolaridade dos pais, dentre outros. (UNICEF e UNFPA, 2017)
Das 7,3 milhões de adolescentes grávidas no mundo, dois milhões ainda não completaram 14 anos, segundo os dados do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) (2016, 2017, 2020). As consequências são as mais nefastas possíveis, dentre as quais, abandono escolar (cuidar do filho, bullying por parte dos colegas, outros), sendo que elas têm suas oportunidades reduzidas e suas chances de se conseguirem uma formação universitária é menor, aspectos relacionados a saúde como: cuidados de higiene pessoal e com do bebê, visitas médicas aos especialistas, discriminação quanto ao primeiro emprego, dentre outros problemas, a própria rejeição familiar dos pais, irmãos e na própria comunidade (mãe solteira). (UNICEF, UNFPA, e Organização Pan-Americana da Saúde, 2016: Nações Unidas, 2013)
Os óbitos por motivos relacionados a gravidez não planejada na adolescência são elevados, chegando a uma taxa de 70 mil, apresentando como prováveis causas: a extrema pobreza, a violência sexual, a falta de acesso aos métodos anticoncepcionais e os altos índices de casamentos infantis, que são organizados pelas suas próprias famílias (Nações Unidas, 2013). No Brasil, conforme os dados divulgados pelo IBGE, as meninas que ficam grávidas entre sete a 10 anos têm pele de cor negra e não frequentam a escola. (IBGE, 2015)
A cada ano, nos países em desenvolvimentos a estimativa é de que 21 milhões de gravidezes ocorram entre meninas adolescentes, quase metade das quais (49%) não são intencionais (Nações Unidas, 2020; Organização Pan-Americana da Saúde, 2020). Vários estudos examinaram os fatores de risco e proteção associados à gravidez na adolescência sob uma perspectiva ecológica, identificando assim os fatores multidimensionais nos níveis individual, relacional, familiar e estrutural que influenciam esse fenômeno. Entre os vários fatores nos diferentes níveis, as revisões sistemáticas mostraram que a pobreza e o baixo nível de escolaridade estão consistentemente associados à gravidez na adolescência. (Nery et al., 2011, Hodgkinson et al., 2014)
Esses fatores associados a falta ao acesso à educação, desigualdade de gênero, perpetuam para um relacionando sexual e gravidez prematura. Alguns estudos apontam que a estrutura familiar interrompida pode ser um fator de risco, em levar ou induzir a menina a uma gravidez precoce não planejada e indesejável (Frederiksen et al., 2018). Quando a família é bem estruturada, com a presença dos pais permanente na educação dos filhos, mostra que diminui o interesse pelos filhos em se relacionar sexualmente com outro parceiro, diminuindo o risco de gravidez na adolescência, uma vez que adiam a relação sexual, têm poucos parceiros sexuais ou usam anticoncepcionais de forma mais consistente. (Azevedo et al., 2015)
Tentar entender como acontece este fenômeno na adolescência se torna um desafio para o conhecimento científico, buscar respostas pragmáticas no contexto das sociedades, ainda se torna mais interessante. Por isso, o estudo aponta alguns achados que podem contribuir e ajudar o controle da redução de incidência da gravidez precoce na adolescência. Por isso, são necessários estudos que avancem a examinaram os determinantes da gravidez na adolescência e da maternidade precoce, em países desenvolvidos e em desenvolvimentos, e regiões onde as prevalência e incidência são mais visíveis. Baseado no exposto acima o objetivo do presente estudo foi identificar os fatores associados a gravidez na adolescência.
Método
Trata-se de um estudo transversal, de base escolar, realizado em um centro, utilizando dados brutos do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA 2013/2014) (Cureau et al., 2016). O desenho do estudo ERICA foi publicado anteriormente por Bloch et al. (2015). Resumidamente, alunas de 12 a 17 anos estavam matriculados em escolas públicas e privadas, localizados em um dos 273 municípios brasileiros. Para esse estudo foi incluído apenas a amostra de adolescentes do gênero feminino na faixa etária 12 a 17 anos de idade, escolas públicas (n=374), particulares (n=49), totalizando 423 adolescentes que fizeram parte do grande estudo brasileiro do banco ERICA no município de Porto Velho, RO.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Rondônia (CAAE nº 05185212.2.2009.5300, parecer nº 545.442) e Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade do Rio de Janeiro (processo 45/2008). A análise foi ajustada para considerar o desenho amostral, com o uso de rotinas estatísticas para amostragem complexa que consideram as fontes de variabilidade e a calibração com estimativas populacionais. (Kuschnir et al., 2016)
A variável de exposição ao desfecho foi a gravidez na adolescência. A seleção das variáveis independentes para verificar as possíveis associações foi classificada por níveis representada pela Figura 1.
Figura 1. Modelo teórico de associação entre a variável de exposição ao desfecho gravidez
na adolescência com as variáveis relacionadas aos fatores sociodemográficos, comportamentais
e saúde reprodutiva em adolescentes do sexo feminino do município de Porto Velho, RO, 2014
Níveis 1 |
Fatores demográficos:
sexo, cor da pele, mora com a mãe, com o pai, escolaridade da mãe,
quantidade de cômodos na residência, quantidade de pessoas que moram
na mesma residência, quantidade de pessoas que dormem no mesmo quarto
do estudante, nº de televisões que há na residência do estudante, nº
de banheiros que há na residência do estudante, há computador na
residência do estudante e chefe da família considerado pelo estudante. |
Níveis 2 |
Fatores comportamentais:
atividade física, prática de esporte (futebol, voleibol, basquetebol,
artes marciais, danças), prática regular de atividade física na
escola, fazer caminhada diariamente (mínimo 3 vezes por semana de 30
minutos), tabagismo e alcoolismo. |
Níveis 3 |
Saúde reprodutiva: idade
da menarca, utilizar preservativo (camisinha) e utilizar pílula
anticoncepcional. |
Variável
de exposição ao desfecho: Gravidez na adolescência |
Fonte: Olinto (1998)
Para determinação do nível de atividade física, foi calculado o produto entre o tempo e a frequência em cada atividade e computado o somatório dos tempos obtidos. Os adolescentes que não acumularam pelo menos 300 minutos/semana de atividade física foram considerados inativos. (Dobbins, 2009)
Para esse estudo foram incluídas apenas as escolares do gênero feminino na faixa etária de 09 a 17 anos de idade do município de Porto Velho/RO. O critério de exclusão contempla aqueles que não participaram de todas as etapas do processo avaliativo.
As variáveis sociodemográficas, comportamentais e saúde reprodutiva foram obtidas por meio de questionário autopreenchido em um coletor de dados eletrônico (PDA) que continha também outras questões não utilizadas nesta análise. A idade foi confirmada com o auxílio dos registros escolares.
Os dados foram analisados no software Stata, versão 11.0. Para análise, o desfecho foi a gravidez na adolescência dicotomizada em sim e não. Variáveis categóricas foram descritas como proporções com os respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%). Foram apresentadas as frequências absolutas e relativas das variáveis demográficas, comportamentais e saúde reprodutiva. Após, analisou-se a prevalência da gravidez na adolescência, de acordo com as variáveis independentes, pelo teste qui-quadrado Wald para heterogeneidade e tendência linear. Foi realizada regressão de Poisson para obtenção das razões de prevalências (RP) brutas e ajustadas e seus respectivos IC95%. Na análise ajustada, seguiu-se modelo hierárquico, construído pelos autores, com três níveis. O primeiro nível (mais distal) incluiu variáveis sociodemográficas; o segundo, variáveis comportamentais; e o terceiro, as de saúde reprodutiva. As variáveis foram ajustadas para as do mesmo nível e para as do nível superior. Todas as variáveis foram incluídas na análise ajustada e selecionadas em backward, sendo mantidas aquelas com valor p<0,20. Foi utilizado o comando svy, para considerar o efeito de delineamento amostral.
Resultados
Participaram do estudo 423 meninas com idade média de 14,66 e desvio padrão de 1,59 com variação de 12 a 17 anos. A idade média da gravidez precoce ficou no em torno de 14,64 e desvio padrão de 1,41 anos. A idade média de ocorrência da menarca foi de 11,83 e desvio padrão de 1,21 com variação de nove a 15 anos (Tabela 1).
A maioria pertencia à rede pública de ensino 88,4%, zona urbana 84,4%, idade maior que 13 anos 90,1%, cor parda 59,6%, morar com a mãe 85,3%, morar com pai 59,1%, escolaridade da mãe menor ou igual a cinco anos 74,0%, moradores na residência mais de três pessoas 70,4%, dormir no mesmo quarto menor ou igual a duas pessoas 78,7%, prática de esporte 79,4%, não pratica atividade física na escola 71,2%, ser inativo fisicamente 56,5%, nunca fumou 93,6%, nunca consumiu álcool 86,5%, idade da menarca em torno de 12 anos 30,3%, idade da menarca menor que 13 anos 87,8%, não utiliza preservativa (camisinha) 80,0% e não utiliza pílula anticoncepcional 87,8% (Tabela 1).
A prevalência (%) de gravidez na adolescência foi de 25,1% (n=106). As prevalências e razão de prevalências associadas ao fator de risco ao desfecho final com a gravidez na adolescência foram: rede pública de ensino 25,7% (RP=1,18; IC95%:1,02-1,48), zona urbana 25,5% (RP=1,16; IC95%:1,02-1,41), idade maior que 13 anos 26,8% (RP=1,48; IC95%:1,08-2,56), cor outras (amarelo, negro e indígena) 30,0% (RP=1,70; IC95%:1,10-2,61), escolaridade da mãe menor ou igual a cinco anos 26,8% (RP=1,34; IC95%:1,05-1,68), mais de três moradores na residência 26,2% (RP=1,45; IC95%:1,02-2,08), não praticar esporte 28,7% (RP=1,32; IC95%:1,06-2,14), pratica de atividade física na escola menos de duas vezes por semana 26,2 (RP=1,28; IC95%:1,07-2,01), inativo fisicamente 26,5% (RP=1,27; IC95%:1,09-2,04), não consumir álcool foi considerado um fator de proteção contra a gravidez na adolescência 26,6% (RP=0,54; IC95%: 0,26-0,99), idade da menarca menor que 13 anos 26,5% (RP=2,02;IC95%:1,06-4,67), não utilizar preservativo (camisinha) 27,8% (RP=2,16;IC95%:1,09-4,06) e não utilizar pílula anticoncepcional 26,% (RP=1,41; IC95%:1,06-3,31) (Tabela 2).
Tabela 1. Distribuição da amostra de acordo com características sociodemográficas, comportamentais
e saúde reprodutiva de meninas adolescentes do município de Porto Velho, RO, 2014, n=423
Variáveis |
Média |
DP (Variação) |
Idade cronológica |
14,66 |
1,59 (12-17) |
Idade da Gravidez na
adolescência |
14,64 |
1,41 (12-17) |
Idade da menarca |
11,83 |
1,21 (9-15) |
|
n |
% |
Gravidez na adolescência |
||
Sim |
106 |
25,1 |
Não |
316 |
74,5 |
Sociodemográficas |
||
Rede de escola |
||
Pública |
374 |
88,4 |
Particular |
49 |
11,6 |
Zona |
||
Urbana |
357 |
84,4 |
Rural |
66 |
15,6 |
Idade cronológica |
||
£13 anos |
42 |
9,9 |
>13 anos |
381 |
90,1 |
Cor da pele |
||
Branca |
131 |
31,0 |
Parda |
252 |
59,6 |
Negro |
13 |
3,1 |
Outras (amarelo e indígena) |
27 |
6,4 |
Morar com a mãe |
||
Sim |
361 |
85,3 |
Não |
62 |
14,7 |
Morar com o pai |
|
|
Sim |
250 |
59,1 |
Não |
173 |
40,9 |
Anos Escolaridade da mãe |
||
£5 anos |
313 |
74,0 |
>5 anos |
110 |
26,0 |
Moradores na residência |
||
£3 pessoas |
125 |
29,6 |
>3 pessoas |
298 |
70,4 |
Dormir no mesmo quarto |
||
£2 pessoas |
333 |
78,7 |
>2 pessoas |
90 |
21,3 |
Comportamentais |
||
Prática de esporte
(futebol, voleibol, basquetebol, artes marciais, danças) |
||
Sim |
336 |
79,4 |
Não |
87 |
20,6 |
Prática regular de
atividade física na escola |
|
|
Não pratica atividade física
na escola |
301 |
71,2 |
Pratica atividade física mais ≥ 2
vezes por semana |
122 |
28,8 |
Atividade física |
||
Inativo |
226 |
56,5 |
Ativo |
174 |
43,5 |
Já fumou? |
||
Nunca fumou |
396 |
93,6 |
Sim, já fumou ou fuma |
27 |
6,4 |
Já consumiu ou consume
álcool |
||
Nunca |
366 |
86,5 |
Sim, já consumiu |
57 |
13,5 |
Saúde reprodutiva |
||
Idade da menarca (anos) |
||
Não menstruou |
27 |
6,4 |
9 anos |
9 |
2,1 |
10 anos |
40 |
9,5 |
11 anos |
101 |
23,9 |
12 anos |
128 |
30,3 |
13 anos |
70 |
16,5 |
14 anos |
29 |
6,9 |
15 anos |
5 |
1,2 |
16 anos |
14 |
3,3 |
17 anos |
|
|
Classificação da Idade
da menarca |
||
<12 anos |
176 |
41,7 |
≥12
anos |
246 |
58,3 |
Utiliza preservativo (camisinha) |
||
Não |
316 |
80,0 |
Sim |
79 |
20,0 |
Utiliza pílula anticoncepcional |
||
Não |
347 |
87,8 |
Sim |
48 |
12,2 |
Fonte: Elaboração própria
Tabela 2. Prevalência de gravidez na adolescência e razões de prevalência
brutas e ajustadas de acordo com as características da amostra. Brasil, 2014
Variáveis Sociodemográficas |
Gravidez na adolescência |
RPb (IC95%) |
Valor p |
RPa (IC95%) |
Valor p |
Rede de escola |
|||||
Pública |
25,7 |
1,19 (1,04-1,52) |
0,015* |
1,18 (1,02-1,48) |
0,025* |
Particular |
22,4 |
1 |
|
1 |
|
Zona |
|||||
Urbana |
25,5 |
1,17 (1,03-1,47) |
0,034* |
1,16 (1,02-1,41) |
0,041* |
Rural |
24,2 |
1 |
|
1 |
|
Idade cronológica |
|||||
£13 anos |
11,9 |
1 |
|
1 |
|
>13 anos |
26,8 |
1,62 (1,16-2,88) |
0,028* |
1,48 (1,08-2,56) |
0,034* |
Cor da pele |
|||||
Branca |
19,1 |
1 |
|
1 |
|
Parda |
27,8 |
1,05 (0,56-1,97) |
0,870 |
1,04 (0,71-1,52) |
0,837 |
Outras (amarelo, negro e
indígena) |
30,0 |
1,67 (1,10-2,54) |
0,017* |
1,70 (1,10-2,61) |
0,016* |
Morar com a mãe |
|||||
Sim |
26,0 |
1,01 (0,66-1,55) |
0,946 |
1 |
- |
Não |
21,0 |
1 |
|
- |
- |
Morar com o pai |
|||||
Sim |
26,0 |
1,14 (0,84-1,55) |
0,411 |
- |
- |
Não |
24,3 |
1 |
|
1 |
- |
Escolaridade da mãe |
|||||
£5 anos |
26,8 |
1,36 (1,11-1,66) |
0,002* |
1,34 (1,05-1,68) |
0,009* |
>5 anos |
20,9 |
1 |
|
1 |
|
Moradores na residência |
|||||
£3 pessoas |
22,6 |
1 |
|
1 |
|
>3 pessoas |
26,2 |
1,48 (1,04-2,10) |
0,029* |
1,45 (1,02-2,08) |
0,041* |
Comportamentais |
|||||
Prática de esporte |
|||||
Sim |
24,2 |
1 |
|
1 |
|
Não |
28,7 |
1,36 (1,07-2,26) |
0,038* |
1,32 (1,06-2,14) |
0,030* |
Prática regular de
atividade física na escola |
|||||
<2 vezes por semana |
26,2 |
1,29 (1,07-2,04) |
0,040* |
1,28 (1,07-2,01) |
0,033* |
>2 vezes por semana |
22,3 |
1 |
|
|
|
Atividade física |
|||||
Inativo |
26,5 |
1,24 (1,07-1,97) |
0,045* |
1,27 (1,09-2,04) |
0,036* |
Ativo |
22,5 |
1 |
|
1 |
|
Já consumiu ou consumo
álcool |
|||||
Nunca |
26,6 |
0,52 (0,24-0,95) |
0,044* |
0,54 (0,26-0,99) |
0,045* |
Sim, já consumiu |
15,8 |
1 |
|
1 |
|
Saúde reprodutiva |
|||||
Idade da menarca |
|||||
£12 anos |
25,6 |
2,01 (1,08-4,86) |
0,010* |
1,98 (1,04-4,26) |
0,015* |
>12 anos |
24,4 |
1 |
|
1 |
|
Utiliza preservativo (camisinha) |
|||||
Não |
27,8 |
2,39 (1,21-4,72) |
0,013* |
2,16 (1,09-4,06) |
0,020* |
Sim |
13,9 |
1 |
|
1 |
|
Utiliza pílula anticoncepcional |
|||||
Não |
26,5 |
2,13 (1,11-4,76) |
0,005* |
1,41 (1,06-3,31) |
0,022* |
Sim |
14,6 |
1 |
|
|
|
Notas: RP: razão de prevalência. *Teste de Wald para heterogeneidade.
Prática de esporte: (futebol, voleibol, basquetebol, artes marciais, danças). Fonte: Elaboração própria.
Discussão
O presente estudo explorou os fatores associados à gravidez na adolescência. Entre os principais achados deste estudo destaca-se uma prevalência de gravidez na adolescência elevada, de 25,1%, esse achado corrobora com a alta taxa nacional de gestação na adolescência, com 419.255 mil casos por ano. Quanto à faixa etária, os dados do Ministério da Saúde revelam que em 2019 nasceram 19.330 filhos de meninas entre 10 e 14 anos e 399.922 crianças de mães com idade entre 15 e 19 anos. (Brasil, 2019)
No presente estudo, a idade média da gravidez nas adolescentes é de 14,64 anos. Dado esse preocupante principalmente quando comparado com estudos realizados em outras regiões do Brasil, como por exemplo, o estudo com adolescentes de idade entre 15 a 19, que finalizaram gravidez nos primeiros quatros meses de 2006, no estado do Piauí, as cidades foram: Teresina, Parnaíba, Picos, Floriano, Bom Jesus e São Raimundo Nonato. Outro estudo que corrobora com o achado pontuado é o que ocorreu na área urbana e rural de Caruaru-PE, com adolescentes de idade entre 10 a 19 anos, gestantes assistidas pela Estratégia de Saúde da Família. Estes que acharam médias de idade mais altas de 17,53 e 16,44 anos. (Albuquerque et al., 2017, Nery et al., 2015)
Pesquisas realizadas pelo IBGE (2016), bem como, a que buscou delinear o perfil socioeconômico, demográfico, cultural, regional e comportamental da gravidez na adolescência no Brasil, tendo como fonte de dados descritivos a PNDS de 2006. Estudos como esses apontam que adolescentes que residem na região norte possuem taxas mais elevadas em relação a gravidez precoce, quando comparado com as outras regiões do Brasil (IBGE, 2016, Cruz et al., 2016, Dechandt et al., 2021). Na amostra representada nessa pesquisa, observou-se que a maior parte são estudantes da rede pública de ensino (25,7%), residentes da zona urbana (25,5%), com idade maior que 13 anos (26,8%), declarantes de pele predominantemente de cores amarelo, negro e indígena (30,0%). Esses dados estão relacionados ao perfil apresentado em pesquisas voltadas para esse âmbito, como as que formam apresentadas anteriormente. (Aguiar, e Gomes, 2021, Cruz et al., 2016, Nery et al., 2015)
Dados da mais recente Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, demonstraram que em Porto Velho, 44,8% das adolescentes já tiveram relação sexual antes dos treze (13) anos (IBGE, 2021). Assim, surge um importante desafio que requer medidas urgentes por parte do poder público, visto que gravidez em menores de 15 anos representa um nível de risco mais elevado para a mãe, para o feto e para o recém-nascido, além de agravar problemas socioeconômicos já existentes. (UNFPA, 2020)
Outro achado importante deste estudo, está relacionado a escolha das adolescentes a não adesão ao uso de preservativo (27,8%) e pílula anticoncepcional (26%). Aguiar, e Gomes (2021) que também trabalharam com a amostra de adolescentes do sexo feminino, na cidade Fortaleza/CE, ressaltam após os resultados da pesquisa, a importância de abordar sobre sexualidade nas escolas, mesmo que ainda seja uma temática considerada como um desafio para ser aplicada. Dentro desta perspectiva, não pode ser desconsiderado que os adolescentes possuem direitos, e isso inclui aos direitos acesso de informações sobre educação sexual. Logo, é possível observar dentro da realidade dos adolescentes o motivo pelo qual a gravidez na adolescência é compreendida pelos pesquisadores como problema de saúde pública. Isso devido às implicações relacionadas aos aspectos físicos, emocionais, sociais e econômicos. (Rosaneli et al., 2020, Silva et al., 2021,UNICEF, e UNFPA, 2017)
Levando os dados apresentados em consideração, vê-se a necessidade de intervenções voltadas para essa temática. Os programas de educação sexual desenvolvidos no ambiente escolar utilizados como ferramenta para prevenção de gravidez precoce são relevantes parapromoção da saúde, melhorando a qualidade de vida dos adolescentes. (Silva et al., 2021)
Em que pese, os resultados até aqui apresentados, demonstrem desfechos positivos em relação a gravidez na adolescência, relacionando as ações advindo das políticas públicas já existentes, os achados da pesquisa também revelam índices continuam crescente, no que se refere gravidez na adolescência. Dito isto, fortalece a necessidade de ações para a expansão ao acesso à informação e rede de apoio para com os adolescentes. (Da Costa et al., 2020, Cruz et al., 2016)
Com relação a primeira menstruação - menarca, a idade média foi de 11,83 e desvio padrão de 1,21. Muito próximo do encontrado no estudo de Aguiar, e Gomes (2021) no Ceará que foi de 12 anos (±1,44). Observa-se que as meninas que tiveram a primeira menstruação antes dos 12 anos têm uma maior prevalência de excesso de peso (Dinegri et al., 2021; Gemelli, Farias, e Spritzer, 2020; Andrade et al., 2015; Sumi et al., 2018). Assim, a menarca precoce se apresenta como um importante fator que pode contribuir para maior prevalência do sobrepeso e obesidade na vida das mulheres adultas.
A ocorrência da menarca até os doze (12) anos no presente estudo, mostrou também uma associação significativa com a gravidez precoce. Esse achado coincidiu com outro resultado de um estudo recente, com adolescentes de idade entre 13 a 19, gestantes ou que tiveram gestação no período entre 2015 e 2018, residentes em Fortaleza-CE. Aponta que após a primeira menstruação, em menos de três anos ocorre a primeira relação sexual e demora em média 2,6 anos entre a primeira relação sexual e a primeira gestação (Aguiar, e Gomes, 2021). Resultados semelhantes foram obtidos em pesquisa realiza com puérperas residentes do município do Rio de Janeiro, demonstrando que com a ocorrência da menarca antes dos doze 12 anos de idade está associado ao nascimento do primeiro filho antes dos dezoitos 18 anos de idade (Kac, Benício, Velásquez-Meléndez, e Valente, 2003). Ou seja, quanto mais precoce é a ocorrência da menarca, maior é a tendência de se ter uma gravidez ainda na adolescência. Um ponto importante que merece destaque é que a escola, o sistema de saúde e a família teve uma janela de oportunidades superior a dois anos para desenvolver ações sobre sexualidade antes da gestação, mesmo após o início da vida sexual.
Também foi evidenciado nesta pesquisa que, não praticar esporte, ser inativa fisicamente e praticar atividade física na escola menos de duas vezes por semana são outros fatores fortemente associados à gravidez na adolescência. Verificou-se que, de forma geral, as adolescentes que engravidam são aquelas que não praticam esportes, são inativas fisicamente ou não participam das aulas de Educação Física na escola. A produção de estudos relacionando a Gravidez na Adolescência com a prática de esporte ou Educação Física Escolar é escassa (Sá, Barros, e Yin, 2020). Embora não se tenha encontrado na literatura estudos que relacionam a inatividade física, a não prática de esportes com a gravidez na adolescência, é vasta a lista de pesquisas nacionais e internacionais que evidenciaram a elevadas prevalências de obesidade em adolescentes grávidas (Kac, Benício, Velásquez-Meléndez, e Valente, 2003; Yakovenko et al., 2019; Dinegri et al., 2021). O que pode indicar essa associação positiva, encontrada em nosso estudo.
Há quase que um consenso na literatura, apontando que os adolescentes que pertencem a níveis sociais mais baixos, estão mais expostos aos riscos e os tornam mais suscetível aos desfechos pouco saudáveis em seu desenvolvimento humano. Porém, as condições não devem ser o único foco, é importante ampliar a visão para a percepção de outros fatores que influenciam diretamente nesse fenômeno. Os adolescentes precisam ser vistos em sua totalidade, com suas histórias familiares, experiências e vivências sexuais. (Picanço, 2015)
Nesse estudo não consumir álcool esteve associado com fator de proteção em relação a gravidez na adolescência (p=0,045). Esse achado vem corroborar com a vasta literatura que tem associado o álcool a gravidez na adolescência (Caputo, e Bordin, 2008, Veloso, e Monteiro, 2013; Cândido et al., 2019). Um estudo recente realizado em uma Unidade Básica de Saúde de Alfenas/MG, apontou em seus achados que mais da metade das adolescentes grávidas pesquisadas relataram o consumo de bebidas alcoólicas durante o período gestacional, e que entre essas, quase 20% estavam vivenciando a experiência de uma segunda gestação (Cândido et al., 2019). Outro estudo realizado no município de Teresina/PI apontou uma prevalência de consumo de bebida alcoólica entre adolescentes do sexo feminino de73,8%. E uma prevalência de 32,4% para o uso de álcool na gestação em adolescentes. (Veloso, e Monteiro, 2013)
Verificou-se também um risco aumentado de gestação na adolescência, com o período de tempo de estudo da mãe menor do que cinco (5) anos (p=0,009). Os achados nesta pesquisa corroboram com resultados de outras pesquisas que têm apontado associações significativas entre gravidez na adolescência e baixa escolaridade da mãe ou do pai. (Almeida, Aquino, e Barros, 2006; Burrows, Rosales, Alayo, e Muzzo, 1994; Caputo, e Bordin, 2008; Guijarro et al., 1999)
No estudo conduzido por Caputo, e Bordin (2008), realizado em São Paulo no município de Marília com adolescentes escolares do gênero feminino com idades entre 13 e 17 anos, atendidas nas unidades básicas de saúde (UBS) e unidade de saúde da família (USF). Apresentam que no grupo das adolescentes cuja mãe não havia completado o primeiro grau, o risco de engravidar foi três vezes maior para aquelas que não pretendiam cursar a faculdade. Contudo, em outro estudo encontrou-se associação positiva inversa entre a escolaridade da mãe e a gravidez na adolescência. (Almeida, Aquino, e Barros, 2006)
Conclusão
Conclui-se que o estudo permitiu conhecer a prevalência de gravidez na adolescência e entender os principais fatores associados. A prevalência de gravidez na adolescência foi considerada elevada e preocupante (25,1%) e seus fatores associados foram alunas da rede pública de ensino, moradoras na zona urbana, ter maior de 13 anos, outras cores predominantes de pele (amarela, negra e indígena), escolaridade da mãe menor ou igual a cinco anos, mais de três moradores na residência, não prática esporte, praticar de atividade física na escola menos de duas vezes por semana, ser inativo fisicamente, idade da menarca menor que 13 anos, não utilizar preservativo (camisinha), não utilizar pílula anticoncepcional, e não consumir álcool foi considerado um fator de proteção contra a gravidez na adolescência. Em contraste, o não planejamento da gravidez aumentou demasiadamente a probabilidade de gestação no período da adolescência.
O estudo apresenta limitações que são consideradas como próprias de pesquisas transversais, mas que não diminuem os benefícios que podem alcançar por meio da compreensão fornecida sobre os fatores associados à gravidez precoce.
Portanto, diante da complexidade e da multicausalidade desse fenômeno, acredita-se que estudo possa contribuir com a discussão das políticas públicas de saúde que atendam às necessidades dos jovens e que os pais, as escolas, a sociedade e as instituições de saúde, reflitam sobre o seu papel fundamental frente a orientação dos jovens e sobre a relevância do trabalho em conjunto, no sentido de reduzir a exposição das adolescentes aos fatores de risco para a gestação precoce, diminuindo desta maneira os índices de gestação na adolescência.
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 293, Oct. (2022)