Análise comparativa da avaliação psicomotora entre crianças fisicamente treinadas e não treinadas

Comparative analysis of psychomotive evaluation between children who are trained and not trained

Estudio comparativo de la evaluación psicomotora entre niñas físicamente entrenadas y no entrenadas

 

Walter Ricardo Dorneles Gonçalves
waltergonsalves83@gmail.com

 

Licenciado en Educación Física por la Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA

Campus Uruguaiana, RS
Especialista en Psicomotricidad Clínica y Relacional

por la Universidad Cándido Mendes - UCAM / RJ y cursando Especialización

en Actividad Física y Salud por UNIPAMPA
Profesor responsable por el Espacio de prácticas corporais

de la Asociación de Autistas sin Fronteras - AASF / Uruguaiana, RS

(Brasil)


Artículo Científico presentado a la Universidad Cándido Mendes - UCAM, como requisito 

parcial para la obtención del título de Especialista en Psicomotricidad Clínica y Relacional

 

Recepção: 15/03/2018 - Aceitação: 10/10/2018

1ª Revisão: 06/10/2018 - 2ª Revisão: 07/10/2018

 

Resumo

    O principal objetivo desta pesquisa foi a comparação do resultado da avaliação psicomotora entre dois grupos de alunos, ambos pertencentes a mesma escola, no município de Uruguaiana/RS. A presente pesquisa analisou 42 meninas, com idade entre 11 e 13 anos, todas da escola estadual de ensino médio Dom Hermeto, do município de Uruguaiana, sendo que cada grupo pesquisado era composto por 21 meninas, todas provenientes de turmas e anos diferentes. Dentre as 42 meninas, 10 eram do 5º ano, 17 do 6º ano e 15 do 7º ano, todas as turmas do turno da manhã. O instrumento utilizado nesta pesquisa, além de um mini-questionário para identificar o histórico da vida esportiva das alunas, foi a Bateria Psicomotora - BPM de Fonseca (1995), que proporciona um protocolo resolutivo do perfil psicomotor do aluno através da avaliação de sete fatores psicomotores (Tonicidade e Equilibração; Lateralização; Noção do Corpo e Estruturação Espacial-Temporal; Praxia Global e Praxia Fina). Os resultados vieram de encontro com os objetivos e com os problemas da referida pesquisa, que demonstraram a possibilidade de mensurar se o treinamento esportivo proporciona um desenvolvimento psicomotor acima da média da normalidade para crianças treinadas fisicamente quando comparadas com crianças não treinadas. Com esta pesquisa podemos demonstrar que a prática esportiva desde os anos iniciais do ensino fundamental e desde o primário na educação infantil pode auxiliar crianças com dificuldades de aprendizagem motora. A média do perfil psicomotor das alunas treinadas foi 5,81% superior à média das alunas não treinadas. Este estudo demonstrou a possível diferença e a elucidação de alguns dos benefícios da prática de esportes ou qualquer outra atividade física desde a infância.

    Unitermos: Treinamento. Prática esportiva. Bateria Psicomotora. Avaliação psicomotora.

 

Abstract

    The main objective of this research was to compare the results of the psychomotor evaluation between two groups of students, both belonging to the same school, in the city of Uruguaiana / RS. The present study analyzed 42 girls, aged between 11 and 13 years old, all from the Dom Hermeto State High School, in the municipality of Uruguaiana, and each group was composed of 21 girls, all from different classes and years. Among the 42 girls, 10 were of the 5th grade, 17 of the 6th grade and 15 of the 7th grade, all classes of the morning shift. The instrument used in this research, besides a mini-questionnaire to identify the history of the sports life of the students, was the BPM of Fonseca (1995), which provides a protocol for solving the student's psychomotor profile through the evaluation of seven factors psychomotors (Tonicity and Equilibration, Lateralization, Body Notion and Spatial-Temporal Structuring, Global Praxia and Fine Praxia). The results were in agreement with the objectives and the problems of this research, which demonstrated the possibility of measuring whether sports training provides above-normal psychomotor development for physically trained children when compared to untrained children. With this research we can demonstrate that sports practice from the earliest years of elementary education and from the primary in early childhood education can help children with motor learning difficulties. The average of the psychomotor profile of the trained students was 5.81% higher than the average of the untrained students. This study demonstrated the possible difference and elucidation of some of the benefits of practicing sports or any other physical activity since childhood.

    Keywords: Training. Sports practice. BPM. Psychomotor evaluation.

 

Resumen

    El principal objetivo de esta investigación fue la comparación del resultado de la evaluación psicomotora entre dos grupos de alumnas, ambos pertenecientes a la misma escuela, en el municipio de Uruguaiana / RS. La presente investigación analizó a 42 niñas, con edades entre 11 y 13 años, todas de la escuela estatal de enseñanza media Dom Hermeto, del municipio de Uruguaiana, siendo que cada grupo investigado estuvo compuesto por 21 niñas, todas provenientes de clases y años diferentes. De las 42 niñas, 10 eran de 5º año, 17 de 6º año y 15 de 7º año, todas de cursos del turno de la mañana. El instrumento utilizado en esta investigación, además de un mini-cuestionario para identificar el historia de la vida deportiva de las alumnas, fue la Batería Psicomotora - BPM de Fonseca (1995), que proporciona un protocolo resolutivo del perfil psicomotor del alumno a través de la evaluación de siete factores, en el caso de las mujeres. Los resultados estuvieron de acuerdo con los objetivos y con los problemas de dicha investigación, que demostraron la posibilidad de medir si el entrenamiento deportivo proporciona un desarrollo psicomotor por encima del promedio de la norma en niñas entrenadas físicamente cuando se comparan con niñas no entrenadas. Con esta investigación podemos demostrar que la práctica deportiva desde los años iniciales de la escuela primaria y desde la educación inicial puede auxiliar a niñas con dificultades de aprendizaje motora. La media del perfil psicomotor de las alumnas entrenadas fue 5,81%, superior a la media de las alumnas no entrenadas. Este estudio demostró la posible diferencia y la elucidación de algunos de los beneficios de la práctica de deportes o cualquier otra actividad física desde la infancia.

    Palabras clave: Entrenamiento. Práctica deportiva. Batería Psicomotora. Evaluación psicomotora.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 245, Oct. (2018)


 

Introdução

 

    A presente pesquisa tem como tema a análise comparativa da avaliação psicomotora entre escolares que praticam esportes e escolares não praticantes. A avaliação psicomotora permite observar a dificuldade relacionada com a complexidade na aprendizagem de crianças, que muitas vezes, está associada a elementos da capacidade motora. Para Albaret (2008), a avaliação permite colocar a criança ou jovem relativamente nas áreas fortes e fracas, possibilitando ainda, a medição dos resultados. Esta medição facilita ao técnico a análise dos efeitos da sua própria intervenção, o que possibilita uma discussão entre pares, mais fundamentada.

 

    A avaliação psicomotora é um instrumento importante quando o professor de educação física deseja obter resultados frente às práticas realizadas em aula. Através da avaliação ele pode mensurar a qualidade da prática e desenvolver a adaptação necessária para obter o resultado desejado, sempre levando em consideração as características de cada aluno e de cada necessidade específica.

 

    Assim, podemos dizer que as maiores inquietações que orientaram este estudo e que nos levaram a cunhar a presente pesquisa foram:

O treinamento esportivo, seja ele lúdico ou direcionado sistematicamente, proporciona um desenvolvimento psicomotor acima da média da normalidade para crianças treinadas e não treinadas fisicamente?

 

    Existe diferença no desenvolvimento psicomotor entre crianças e adolescentes que praticam e não praticam esportes dentro e fora da escola?

Alguns estudos evidenciam os benefícios da prática esportiva e das atividades com dificuldade progressiva, pois originam as alterações no modo prático do desempenho motor das crianças e nas operações cognitivas (Souza et al., 2008; Matias & Greco, 2010)

 

    O esporte é um dos meios para o desenvolvimento dos aspectos psicomotores básicos. Para Marques (1991), na prática dos jogos o indivíduo se depara com algumas barreiras, que com a progressão do seu aprendizado, irá transpassar com facilidade ao decorrer do tempo. Teodorescu (1984), afirma a complexidade dos diferentes métodos técnicos do jogo desportivo, diferenciados pela execução, pelas diferentes posições de equilíbrio, alternância nas fases de ataque e defesa e a aciclidade. Existe também uma especificidade do jogo desportivo que o diferencia de outras modalidades, a alternância dos períodos de esforço físico intenso com os de relaxação.

 

    Há a necessidade de explanar e discutir os muitos paradigmas associados à inatividade física em crianças e adolescentes, além da correlação desta inatividade com o baixo nível de desenvolvimento psicomotor.

 

    Esta pesquisa busca destacar os benefícios da prática de atividades física para crianças e pré-adolescentes associada ao desenvolvimento da motricidade das mesmas, a importância do nível psicomotor de cada grupo estudado, e a associação dos resultados com o estilo de vida escolar e cotidiana de cada sujeito.

 

    A ênfase encontra-se na comparação de dois grupos, sendo um esportivamente e fisicamente ativo, e outro com pouca ou sem nenhum tipo de prática física diária ou cotidiana. Comparação que provavelmente servirá para a percepção de que o desenvolvimento de práticas esportivas desde a educação primária, auxilia no processo de desenvolvimento motor e social da criança.

 

    As habilidades motoras basais resultam de vários fatores, que interagem entre si e influenciam o desenvolvimento motor da criança, entre eles a maturação, o contexto de ensino, a motivação, as condições sociais e culturais e as experiências do passado (Gallahue; Donnelly, 2008).

O refinamento das capacidades motoras é a decorrência do grande número de experiências que pode ser oferecida à criança, pois, se for provocada no início da infância, ela irá conseguir novos comportamentos motores, cognitivos e sociais.

 

    O objetivo geral desta pesquisa foi a comparação do resultado da avaliação psicomotora através da Bateria Psicomotora - BPM (Fonseca, 1975) entre 2 grupos de alunos. Como objetivos específicos elencamos a possibilidade do treinamento esportivo proporcionar ou não um incremento psicomotor entre crianças treinadas e não treinadas fisicamente, e também a existência significante de alguma diferença psicomotora entre crianças e adolescentes que praticam e não praticam esportes em diferentes contextos.

 

Metodologia

 

    Os grupos de alunos são pertencentes a mesma escola. O primeiro grupo, denominado grupo 1, foi compreendido por alunas que não participavam das equipes de esportes coletivos da escola e que tinham pouca ou nenhuma participação nas aulas semanais de educação física, além de não participarem de escolinhas particulares na infância até o momento deste estudo. Já o outro grupo, denominado grupo 2, foi composto por alunas que participam da equipe de handebol da escola e que regularmente freqüentam as aulas de educação física. Vale ressaltar que a equipe que treina handebol, realiza atividades quatro vezes na semana, sendo duas pela educação física da escola e duas pela equipe de handebol, sendo que todas praticam o handebol ou outra modalidade desde os 07 a 09 anos em escolinhas particulares.

 

    O método utilizado neste estudo descritivo para atingir os objetivos propostos é o quantitativo. Esta metodologia é realizada para abranger e destacar o raciocínio lógico e todos os dados que se possam mensurar sobre os ensaios humanos. Possui uma abordagem que objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos. Neste tipo de pesquisa, os meios de coleta de dados são estruturados através de testes, entrevistas individuais e outros recursos que tenham perguntas objetivas e resultados claros, para que se obtenha a confiabilidade e fidedignidade necessária para os resultados.

 

    A população alvo desta pesquisa é composta por alunas com idades que variam dos 11 aos 13 anos de idade, dos 6º e 7º anos do ensino fundamental, em um número (n) igual a 42 amostras, divididos em dois grupos, cada um com 21 alunas cada. Dentre as 42 meninas, 10 eram do 5º ano, 17 do 6º ano e 15 do 7º ano, todas as turmas do turno da manhã. A presente pesquisa consiste em uma amostragem intencional, onde existe a seleção de um subgrupo da população, que com base nas informações disponíveis, possa ser considerado representativo de toda a população. O critério de inclusão utilizado para o primeiro grupo (grupo 1) vai de acordo com sujeitos que não participam da equipe de handebol e que estejam dispostos a participar da pesquisa, tendo o pleno consentimento dos seus responsáveis. Os critérios de inclusão para o segundo grupo (grupo 2) levaram em consideração a presença ativa das alunas participantes da equipe de handebol da escola nos treinos, e a presença das mesmas nas aulas de educação física. Para os critérios de exclusão não serão considerados nesta pesquisa alunas que participem da equipe de handebol, mas que sejam faltosas nos treinos e não tenham boa assiduidade nas aulas de educação física.

 

    Esta pesquisa foi realizada na escola estadual de ensino fundamental Dom Hermeto, no município de Uruguaiana/RS, no terceiro trimestre do ano de 2017. Este período compreendeu a preparação do projeto de pesquisa, contato com os indivíduos e instituições co-participantes, coleta de dados, tratamento dos dados obtidos, conclusão da pesquisa e apresentação final para os envolvidos (feedback).

 

    Para seleção das amostras utilizamos como primeiro instrumento as listas de chamadas das alunas nas aulas de educação física, e como segundo instrumento o controle de presença do treinador da equipe de handebol. Também foi utilizado um mini-questionário, somente para identificar o histórico da vida esportiva das alunas que participam das aulas de handebol. Após a seleção foi realizada uma breve conversa com o professor de educação física da escola e com o treinador da equipe de handebol, para que a seleção fosse fidedigna com os objetivos da pesquisa e critérios de inclusão e exclusão.

 

    Para a coleta dos dados psicomotores foi utilizado como instrumento a Bateria Psicomotora de Vitor da Fonseca (BPM). A BPM é um instrumento de observação cuja construção só foi possível ao longo de 20 anos de convivência dinâmica com inúmeros casos clínicos. Ela permite descrever o perfil psicomotor da criança, este perfil caracteriza as potencialidades e as dificuldades da criança, dando suporte para identificar e intervir nas dificuldades de aprendizagem psicomotora, satisfazendo progressivamente as necessidades mais específicas da criança (Fonseca, 1995).

 

    A BPM é comumente utilizada em vários estudos comparativos. Coelho (2011), realizou um estudo onde eram comparadas duas crianças, uma com transtorno do espectro autista (TEA) e outra sem nenhum transtorno identificado. Onde encontrou um perfil dispráxico para a criança com TEA (12,2 valores na BPM) e um perfil psicomotor superior para a criança sem transtorno identificado (28 valores na BPM). Já Gomes et al. (2016), utilizaram a BPM para um estudo comparativo da relação do nível psicomotor com o IMC e o percentual de gordura em crianças dos 8 aos 10 anos. Muitos outros estudos psicomotores comparativos trazem a BPM como principal instrumento de coleta de dados.

 

    Para o consentimento dos pais ou responsáveis foi produzido um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e um Termo de Assentimento para os alunos que aceitaram participar da presente pesquisa.

 

    As correlações foram obtidas em medidas de correlação e porcentagem, onde os dados e suas variáveis foram analisados. Inicialmente foi considerada a estatística descritiva com medidas de média e desvio padrão. O embasamento estatístico utilizado nesta pesquisa foi fundamentado nas aplicações de Ross (2010). Para análise dos dados utilizamos medidas de tendência central, de dispersão e estimativas de densidade.

 

Resultados

 

    Após o recolhimento dos termos de consentimento, as alunas participantes foram reunidas em data combinada com o professor responsável pela presente pesquisa conjuntamente e com o auxilio de dois professores de educação física da escola, no ginásio poliesportivo da mesma. No local foram realizadas as avaliações psicomotoras, foram necessários dois dias para efetuar todas as avaliações, com uma turma no primeiro dia pela parte da tarde e a outra turma no segundo dia pela parte da manhã, no horário da aula de educação física escolar. Após todos os dados recolhidos e a aplicação das análises estatísticas obtivemos os resultados. Para a análise dos perfis podemos levar em consideração a tabela 1, que trata da classificação do tipo de perfil psicomotor (Fonseca, 1995).

 

Tabela 01. Classificação do Tipo de Perfil Psicomotor

Pontos da BPM

Tipos de perfil psicomotor

Déficit de aprendizagem

7 a 8

Deficitário

Significativos

9 a 13

Dispráxico

Ligeiros

14 a 21

Normal

 

22 a 26

Bom

 

27 a 28

Superior

 

Fonte: Fonseca (1995)

 

    Em um primeiro momento podemos perceber, levando em consideração a tabela 01 e conforme mostra a tabela 02, separadamente entre alunas treinadas e alunas não treinadas, que a média do perfil psicomotor das alunas treinadas é 5,81% superior à média das alunas não treinadas. Sendo que o perfil psicomotor das alunas treinadas ficou dentro da classificação do tipo bom, ou seja, com uma média de 25,52 nos valores da BPM. As alunas não treinadas apresentaram um perfil psicomotor normal, com a média dos valos da BPM em 19,71. Utilizando a média geral dos resultados das avaliações psicomotoras dos dois grupos obtivemos uma média de valor 22,62. Assim podemos dizer de modo geral que todo o grupo de alunas que participaram da pesquisa no total apresentou um perfil psicomotor bom, acima do normal e abaixo do perfil superior.

 

Tabela 02. Perfil psicomotor médio entre alunas treinadas e não treinadas

 

A. Treinadas

A. Não Treinadas

Média

25,52

19,71

Desvio Padrão

2,23

3,36

Fonte: Elaboração Própria

 

    No desvio padrão das avaliações, conforme mostra tabela 02, percebe-se que a dispersão dos dados em relação às médias é maior no grupo de alunas não treinadas, variando em diferentes valores os resultados do referido grupo. Já o grupo de alunas treinadas demonstrou um agrupamento de valores mais próximos da média, ou seja, as avaliações da BPM demonstraram valores quase que equiparados entre si, com um desvio padrão menor (2,23) do que o das alunas não treinadas (3,36). Para Reis & Reis (2002), dois conjuntos de dados podem ter a mesma medida de centro (valor típico), porém com uma dispersão diferente em torno desse valor. Desse modo, além de uma medida que nos diga qual é o valor “típico” do conjunto de dados, precisamos de uma medida do grau de dispersão (variabilidade) dos dados em torno do valor típico.

 

    O objetivo das medidas de variabilidade, como o desvio-padrão, é quantificar esse grau de dispersão. O desvio-padrão, como o nome já diz, representa o desvio típico dos dados em relação à média, escolhida como medida de tendência central (Reis & Reis, 2002). Quanto maior os desvios-padrão, mais diferentes entre si serão os valores da BPM para cada aluna.

 

Gráfico 01. Perfil psicomotor médio das alunas treinadas

Fonte: Elaboração Própria

 

    No gráfico anterior (01), podemos observar os valores da BPM das alunas treinadas representados pela distribuição gaussiana, evidenciando o agrupamento dos valores próximos à média, também ressaltados pela curva de normalidade no referido gráfico. Já no gráfico abaixo (02), percebemos a distribuição dos valores da BPM das alunas não treinadas, também representados pela curva de normalidade. Percebe-se que a dispersão dos valores é maior quando comparamos com o desenho da curva no gráfico 01. O desvio-padrão, como o nome já diz, representa o desvio típico dos dados em relação à média, escolhida como medida de tendência central. Os valores da BPM para o grupo 1 apresentaram uma variação de <14 - 28> pontos, enquanto o grupo 2 obteve uma variação de <21 – 28> pontos.

 

Gráfico 02. Perfil psicomotor médio das alunas não treinadas

Fonte: Elaboração Própria

 

    Quando separamos o tempo de prática das alunas do grupo 2 (treinadas), com o tempo de prática das alunas do grupo 01 (não treinadas), podemos perceber a diferença da média de anos praticando algum tipo de treinamento entre os dois grupos. Conforme mostra a tabela 03, a média do grupo 2 é de quase 5 anos (4,95) exercendo alguma atividade prática de treinamento para 1 ano de prática do grupo 1, sendo que a média de idade das alunas para os dois grupos é a mesma (12,05 anos). Sendo assim podemos resumir que as alunas do grupo 2 praticam algum tipo de treinamento físico, em média, desde os 7 anos de idade e as alunas do grupo 1 exercem em média algum tipo de atividade desde os 11 anos.

 

Tabela 03. Relação tempo de prática esportiva e média das idades

 

Média de idade/anos

Tempo de prática/anos

Alunas Treinadas

12,05

4,95

Alunas Não Treinadas

12,05

1

Fonte: Elaboração Própria

 

    No gráfico 03, correlacionando os valores obtidos nas avaliações da BPM dos dois grupos, podemos perceber a diferença do aglomerado por distribuição de valores de cada grupo. Na barra em azul o grupo 2 (treinadas) e na barra vermelha o grupo 1 (não treinadas).

 

Gráfico 03. Relação alunas treinadas (T.) – alunas não treinadas (N.T.) por pontos na BPM

Fonte: Elaboração Própria

 

    O tempo de prática de cada grupo pode ser observado e comparado no gráfico 04, a relação entre os referidos grupos e a distribuição dos dados (anos) evidencia visualmente a diferença do tempo de prática já demonstrado na tabela 03.

 

Gráfico 04. Relação alunas treinadas (T.) – alunas não treinadas (N.T.) por tempo de prática

Fonte: Elaboração Própria

 

    Através da análise descritiva (tabela 04) podemos perceber que o tempo de prática esportiva para o grupo 2 foi fundamental no desenvolvimento motor destas alunas. As variâncias dos resultados não são em sua totalidade discrepantes, vindo de encontro com os objetivos e com os problemas da referida pesquisa, que demonstraram a possibilidade de mensurar se o treinamento esportivo, seja ele lúdico ou direcionado sistematicamente, proporciona um desenvolvimento psicomotor acima da média da normalidade para crianças treinadas e não treinadas fisicamente.

 

Tabela 04. Análise descritiva do perfil psicomotor dos grupos 1 e 2

Idade

Média

Mín.

Máx.

 

Grupo 01

12,05

11,25

12,85

 

Grupo 02

12,05

11,31

12,79

Valores BPM

 

 

 

 

Grupo 01

19,71

16,35

23,07

 

Grupo 02

25,52

23,29

27,75

Tempo de Treinamento

 

 

 

 

Grupo 01

1,00

0,16

1,84

 

Grupo 02

4,95

3,93

5,97

Perfil Psicomotor

 

 

 

 

Grupo 01

Normal

Grupo 02

Bom

Fonte: Elaboração Própria

 

Discussão

 

    As aulas de handebol não têm em sua totalidade uma orientação pedagógica e didática do treinamento físico propriamente dito, existe a liberdade do lúdico, da recreação, o que favorece e incita a disposição do aluno em participar da aula. Ferreira Neto (2004) acredita que, o fato de a criança explorar o ambiente por meio de atividades motoras (como o exercício físico e o jogo) ou pelo desempenho de habilidades motoras, implica modificações no seu desenvolvimento físico, perceptivo-motor, como também moral e afetivo. A participação do aluno é fundamental para que o desenvolvimento motor do mesmo apresente resultados. Os fatores psicomotores necessitam da amplitude dos movimentos para que sejam abordados em sua totalidade na avaliação. Para Gallahue e Ozmun (2001) a velocidade do desenvolvimento motor varia de acordo com os estímulos, as experiências e as características individuais de cada criança.

 

    Existem algumas deficiências principalmente na lateralidade e organização espacial, mesmo para as alunas do grupo 2, que apresentaram conjunto de classificação motora na maioria dos fatores acima do normal. Sabagg (2008) em seu estudo com 207 escolares, evidenciou que a organização espacial foi a área de maior dificuldade motora na população do estudo, e esse baixo escore pode ser resultado de uma deficiência generalizada na educação brasileira. Já para Serafin et al. (2000) a estruturação espacial é parte integrante da lateralidade e, por isso, desorientação espacial pode estar relacionada com a presença da lateralidade cruzada. Sendo assim, mesmo o treinamento físico e a prática de atividades motoras gerais, podem favorecer o desenvolvimento motor, talvez não em sua totalidade, alguns fatores ainda precisam ser trabalhados de uma forma mais específica, como é o caso da organização espacial e da lateralidade. De certo modo o estudo demonstrou uma melhora no grupo 02, isso tem sua significância quando comparamos com uma parte da população que ainda não pratica atividade física.

 

Conclusão

 

    Como vimos em estudos anteriores a BPM é um instrumento que traz a informação fidedigna do perfil psicomotor do avaliado. A experiência esportiva para o grupo 2 deixa evidente o nível psicomotor do referido grupo em comparação ao grupo 1. Quando levamos em consideração as experiências do grupo 2 e analisamos os dados obtidos através das comparações com o grupo 1, podemos dizer que possivelmente crianças praticantes de esportes desde a educação infantil podem possuir um perfil psicomotor médio superior ao perfil psicomotor daquelas crianças que não praticam, ou praticam pouca atividade esportiva ou alguma atividade de treinamento físico.

 

    Os resultados e os dados obtidos favoreceram a comparação dos perfis, e sabemos que a identificação dos perfis psicomotores pode significar associações com as práticas esportivas na infância. Com esta pesquisa e os resultados podemos demonstrar para os interessados no estudo que a prática esportiva desde os anos iniciais do ensino fundamental e desde o primário na educação infantil pode auxiliar crianças com dificuldades de aprendizagem motora.

 

    Sendo assim, esta pesquisa pode gerar subsídios que permitem a discussão sobre as práticas esportivas nas aulas regulares de educação física desde o primeiro ciclo do ensino fundamental e na educação infantil, pois possibilita aos profissionais competentes e aos alunos o entendimento sobre os benefícios do desenvolvimento psicomotor desde a primeira infância. Além de fornecer para a criança o pleno entendimento sobre sua percepção e inteligência motora.

 

Referências

 

    Albaret, J. (2008). Diagnóstico e Avaliação Psicomotora. Madeira: Funchal.

    

    Coelho, A. P. M. A. (2011). Perfil psicomotor em crianças com e sem autismo - Um estudo comparativo. Dissertação de Mestrado. Ciências Sociais e Humanas - Universidade da Beira Interior. Covilhã, Portugal.

 

    Ferreira Neto, C. A. (2004). Desenvolvimento da motricidade e as culturas da infância. In: W.W. Moreira (org.), Educação Física: intervenção e conhecimento científico. Piracicaba: Ed. da UNIMEP, p. 35-50.

 

    Fonseca, V. (1995). Manual de Observação Psicomotora, Significação Psiconeurológica dos Fatores Psicomotores. Porto Alegre: Artes Médicas.

 

    Gallahue, D.; Donnelly, F. C. (2008). Educação Física desenvolvimentista para todas as crianças. (4ª ed.). São Paulo: Phorte.

 

    Gallahue, D.; Ozmun, J. C. (2001). Compreendendo o desenvolvimento: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte.

 

    Gomes, J.; Quirino J. G.; Florindo A. N. (2016). Estudo comparativo do nível psicomotor, índice de massa corporal e percentual de gordura entre crianças de 8 a 10 anos. FIEP Bulletin On-line. v 86i1.5636. Rio de Janeiro.

 

    Marques, U. (1991). Investigação científica em pedagogia do desporto para deficientes. In: As ciências do desporto e a prática desportiva. Porto. Universidade do Porto, v. 1, p. 532-542.

 

    Matias, C. J.; Greco, P. J. (2010). Cognição & ação nos jogos esportivos coletivos. Ciências & Cognição. UFMG. Belo Horizonte, MG. Vol. 15 (1): 252-271.

 

    Reis, E. A., Reis, I. A. (2002). Análise Descritiva de Dados - Síntese Numérica. (Relatório Técnico RTE02/2002) Departamento de Estatística - ICEx – Universidade Federal de Minas Gerais, 2002.

 

    Ross, S. (2010). Probabilidade: um curso moderno com aplicações (8ª Ed.). Porto Alegre: Bookman.

 

    Sabagg S. (2008). Percepção dos estereótipos de gênero na avaliação do desenvolvimento motor de meninos e meninas. Dissertação de Mestrado – Programa de pós-graduação em Ciências do Movimento Humano. Florianópolis (SC): Universidade do Estado de Santa Catarina.

 

    Serafin, G.; Peres, L.S.; Corseuil, H. (2000). Lateralidade: conhecimentos básicos e fatores de dominância em escolares de 7 a 10 anos. Caderno de Educação Física, 2(1):11-30.

 

    Souza, M. C.; Berleze, A.; Valentini, N. C. (2008). Efeitos de um programa de educação pelo esporte no domínio das habilidades motoras fundamentais e especializadas: ênfase na dança. Rev. da Educação Física/UEM Maringá, v. 19, n. 4, p. 509-519, 4. trim.

 

    Teodorescu, L. (1984). Problemas de Teoria e Metodologia nos Jogos Desportivos. Lisboa. Livros Horizonte.


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 245, Oct. (2018)