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ISSN 1514-3465

 

Avaliação da Síndrome de Burnout de professores de 

Educação Física conforme as variáveis sociodemográficas

Evaluation of Burnout Syndrome of Physical Education Teachers According to Sociodemographic Variables

Evaluación del Síndrome de Burnout de profesores de Educación Física según variables sociodemográficas

 

Ana Paula Franciosi*

anapfranciosi@gmail.com

Saulo Testa**

saulo.testa@hotmail.com

Jorge Both***

jorgeboth@yahoo.com.br

 

*Doutoranda e Mestre em Educação Física

pelo Programa de pós graduação associado

da Universidade Estadual de Londrina e Universidade Estadual de Maringá

Graduada em Licenciatura em Educação Física

Especialista em Docência no Ensino Superior

pela Universidade Estadual de Londrina

Graduada em Pedagogia e Especialista em Docência no Ensino Superior

e as Novas Tecnologias pelo Centro Universitário de Maringá

**Professor de Educação Física Licenciado

pela Universidade Estadual de Maringá

Especialista em Gestão Escolar

Mestre em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação

da Universidade Estadual de Maringá, na linha de Políticas e Gestão em Educação

Doutorando em Educação Física pelo Programa de Pós-Graduação Associado

em Educação Física UEM-UEL

Professor de Educação Física no Município de Paiçandu, PR

***Licenciado em Educação Física

Especialista em Atividade Física Direcionada à Promoção da Saúde

pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)

Mestre e Doutor em Educação Física - Área de Concentração:

Teoria e Prática Pedagógica em Educação Física

pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Atualmente é Professor do Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras

da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)

onde atua nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física

e no Mestrado Profissional em Educação Física

em Rede Nacional (PROEF UNIOESTE)

Além disso, atua no Programa de Pós-Graduação em Educação

da UNIOESTE, Campus de Cascavel

e no Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física

das Universidades Estaduais de Maringá e Londrina (PPGEF UEM/UEL)

(Brasil)

 

Recepção: 21/07/2021 - Aceitação: 17/07/2022

1ª Revisão: 03/04/2022 - 2ª Revisão: 15/07/2022

 

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Citação sugerida: Franciosi, A.P., Testa, S., e Both, J. (2022). Avaliação da Síndrome de Burnout de professores de Educação Física conforme as variáveis sociodemográficas. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(292), 19-35. https://doi.org/10.46642/efd.v27i292.3137

 

Resumo

    Ao considerar a atividade docente é possível analisar que no cotidiano dos professores estão presentes fatores estressores referentes à reestruturação das atividades profissionais; a alta exigência do mercado de trabalho e alta competitividade podem levar ao desencadeamento de doenças relacionadas ao trabalho. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar os níveis de Síndrome de Burnout de professores de Educação Física da Educação Básica conforme as variáveis sociodemográficas. A amostra contou com 59 professores de Educação Física que atuavam na cidade de Arapongas (Paraná, Brasil) que possuíam vínculo empregatício com as redes de estadual e municipal de ensino. Para a coleta de dados os professores responderam dois questionários, sendo que o primeiro abordava as variáveis sociodemográficas, e o segundo foi a Escala de Caracterização do Burnout. Para a análise dos dados empregaram-se os testes: Prova U de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis, adotado o nível de significância de 95% (p<0,05). Os resultados evidenciaram que os professores que não possuíam pluriemprego demonstraram maiores índices de Exaustão Emocional e os docentes com até 10 anos de docência possuíam maior índice de Desumanização, visto que a necessidade de complementação de renda em início de carreira, bem como a falta de estabilidade no ambiente laboral contribuem para que os docentes apresentem sentimento de afastamento, indiferença distanciamento nos relacionamentos interpessoais trabalhistas.

    Unitermos: Docentes. Doença. Educação Física. Síndrome de burnout.

 

Abstract

    When considering the teaching activity, it is possible to analyze that in the daily lives of teachers there are stressors related to the restructuring of professional activities; the high demand of the labor market and high competitiveness can lead to the onset of work-related illnesses. Thus, the aim of this study was to evaluate the levels of Burnout Syndrome of Physical Education teachers in Basic Education according to sociodemographic variables. The sample included 59 Physical Education teachers who worked in the city of Arapongas (Paraná, Brazil) who had an employment relationship with the state and municipal education networks. For data collection, teachers answered two questionnaires, the first addressing sociodemographic variables, and the second was the Burnout Characterization Scale. For data analysis, the Mann-Whitney and Kruskal-Wallis U tests were used, adopting a significance level of 95% (p<0.05). The results showed that teachers who did not have multiple jobs showed higher rates of Emotional Exhaustion and teachers with up to 10 years of teaching had a higher rate of Dehumanization, as the need for income supplementation at the beginning of their career, as well as the lack of stability in the work environment, they contribute to the teachers' feeling of distance, indifference and distance in interpersonal relationships at work.

    Keywords: Teachers. Illness. Physical Education. Burnout syndrome.

 

Resumen

    Al considerar la actividad docente, es posible analizar que en el cotidiano de los docentes existen estresores relacionados con la reestructuración de las actividades profesionales; la alta demanda del mercado laboral y la alta competitividad pueden conducir al desencadenamiento de enfermedades relacionadas con el trabajo. Así, el objetivo de este estudio fue evaluar los niveles de Síndrome de Burnout de profesores de Educación Física de Educación Básica según variables sociodemográficas. La muestra incluyó a 59 profesores de Educación Física que trabajaban en la ciudad de Arapongas (Paraná, Brasil) que tenían una relación laboral con las redes de educación estatales y municipales. Para la recolección de datos, los docentes respondieron dos cuestionarios, el primero de los cuales abordó variables sociodemográficas, y el segundo fue la Escala de Caracterización del Burnout. Para el análisis de los datos, se utilizaron las siguientes pruebas: prueba U de Mann-Whitney y Kruskal-Wallis, adoptando un nivel de significación del 95% (p<0,05). Los resultados mostraron que los docentes que no tenían pluriempleo presentaban mayores índices de Agotamiento Emocional y los docentes con hasta 10 años de experiencia docente presentaban un mayor índice de Deshumanización, ya que la necesidad de complementar los ingresos al inicio de su carrera, así como la falta de estabilidad en el ambiente de trabajo, contribuyen a que los profesores presenten un sentimiento de distanciamiento, indiferencia y desapego en las relaciones interpersonales en el trabajo.

    Palabras clave: Docentes. Enfermedad. Educación Física. Síndrome de burnout.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 292, Sep. (2022)


 

Introdução 

 

    A carreira docente se configura um processo permanente de formação e desenvolvimento pessoal e profissional, caracterizada pela busca por conhecimentos, metodologias e competências do processo de ensinar e aprender (Fortes, e Nacarato, 2020). Todo o desenvolvimento profissional docente é influenciado por obstáculos e realizações que refletem no dia a dia de trabalho do professor. (Folle, Farias, Boscatto, e Nascimento, 2009; Guisso, e Guesser, 2019)

 

    Na trajetória docente o professor edifica e se identifica com a profissão, apresenta sentimentos de permanência e abandono, altera crenças e cria expectativas. Assim, a identidade do professor está associada com a profissionalização docente, e com as relações que estabelecem com a ocupação durante a formação inicial ou conforme as experiências de trabalho/formação continuada. (Guisso, e Guesser, 2019)

 

    A sociedade moderna alterou os encargos da profissão docente e o aumento das responsabilidades gerou indefinições e dificuldades na realização adequada das reais tarefas docentes (Esteve, 1999; Tardif, 2013). As mudanças foram provocadas pela evolução tecnológica, as quais geraram aperfeiçoamento das linguagens e das representações, abrangendo as atribuições do docente (Bolfer, 2008). Ainda, o processo de desvalorização da atividade docente decorrente do aumento da carga horária de trabalho com alunos, pluriemprego, baixa remuneração, excesso de alunos por turma (Oliveira, 2017) leva os professores a desenvolverem maiores índices de esgotamento em sua atividade profissional, levando ao aparecimento de doenças do trabalho, como, por exemplo, a Síndrome de Burnout. (Reyes-Oyola, Palomino-Devia, e Aponte-López, 2019)

 

    Os transtornos mentais e comportamentais como ansiedade, estresse e depressão se constituem como um dos maiores motivos de afastamento das atividades profissional (Lima, 2019). Ao considerar a atividade docente é possível analisar que no cotidiano dos professores estão presentes fatores estressores referentes à reestruturação das atividades profissionais, a alta exigência do mercado de trabalho, e alta competitividade podem levar ao desencadeamento de doenças relacionadas ao trabalho. (Dalcin, e Carlotto, 2018)

 

    A Síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, e diagnosticada principalmente em profissionais que trabalham essencialmente em contato com pessoas. Apesar de associada ao estresse, destaca-se que a doença não desaparece simplesmente após um período de descanso. (Santini, e Molina Neto, 2005; Penachi, e Teixeira, 2020)

 

    A Síndrome de Burnout é um mecanismo de defesa aos fatos gerados de extremo estresse típicos da profissão e acontecem ininterruptamente devido ao contato com pessoas. Para trabalhadores que não lidam essencialmente com indivíduos, é provável que desenvolva o estresse e não a Síndrome de Burnout. (Rodríguez Ramírez; Guevara Araiza, e Viramontes Anaya, 2017; Lorenzo, 2020)

 

    Por afetar de maneira negativa a saúde física, mental, psicológica e emocional dos profissionais, a Síndrome de Burnout pode acarretar a diminuição da satisfação do trabalho, por conta do estado crônico de estresse desenvolvido no ambiente de trabalho (Lorenzo, Alves, e Silva, 2020). De acordo com Lorenzo (2020), a Síndrome de Burnout pode afetar os profissionais nas vertentes laborais, sociais, pessoais e culturais, e deste modo, a influência acerca dos aspectos sociais e culturais no âmbito profissional, bem como das características sociodemográficas dos sujeitos no desenvolvimento da Síndrome de Burnout é evidente.

 

    Estudos nacionais (Santini, e Molina Neto, 2005; Both, e Nascimento, 2010; Sinott, Afonso, Ribeiro, e Farias, 2014; Bremm, Dorneles, e Krug, 2017) e internacionais (Pedditzi, e Nonnis, 2014; Chennoufi, Ellouze, Cherif, Mersni, e M’rad, 2012; Wang, Ramos, Wu, Yang, e Wang, 2015) evidenciam os problemas encontrados entre os professores de Educação Física em relação ao Burnout. Independente das redes de ensino se caracterizarem como pública ou privada, a taxa de Burnout em professores tende a ser alta, direcionando o público docente suscetível ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout.

 

    As variáveis sociodemográficas podem potencializar os níveis de Síndrome de Burnout consoante a interação do indivíduo com o ambiente laboral (Camelo, e Angeramini, 2008). Estudos realizados (Montalvao, Cortez, e Grossi-Milani, 2018; Goebel, e Carlotto, 2019) apontam que os aspectos sociodemográficos que mais apresentam interferência com a Síndrome de Burnout são: sexo, tempo de docência, idade, carga horária de trabalho, número de turmas e horas dedicadas ao lazer. Portanto, o objetivo desta pesquisa foi avaliar os níveis de Síndrome de Burnout de professores de Educação Física da Educação Básica conforme as variáveis sociodemográficas dos indivíduos.

 

Métodos 

 

    A pesquisa foi descritiva, de corte transversal e com abordagem quantitativa. A amostra contou com 59 professores de Educação Física que possuíam vínculo empregatício com a rede de ensino estadual e/ou municipal da cidade de Arapongas, estado do Paraná, Brasil. Vale destacar que a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina (Número do Parecer: 3.595.181).

 

    A coleta de dados ocorreu nas escolas onde os professores atuavam, entre os meses de junho a outubro de 2019. Os participantes foram convidados a responder um questionário composto por 22 questões que abordavam as variáveis sociodemográficas: idade, estado civil, formação acadêmica, anos de docência, vínculo empregatício, carga horária de trabalho, níveis de ensino em que leciona, localização da instituição em que trabalha, número de turmas e horas dedicadas ao lazer. O segundo questionário utilizado foi a Escala de Caracterização do Burnout (ECB) proposto por Tamayo, e Tróccoli (2009), o qual apresenta 35 questões distribuídas em 3 dimensões: Desumanização, Decepção no Trabalho e Exaustão Emocional. Para responder ao instrumento é solicitado que o participante expresse sua opinião considerando a escala Likert, em que o conceito “1” correspondia a “nunca” e o conceito “5” condizia a “sempre”. A consistência interna das dimensões do questionário foi avaliada pelo teste de alfa de Cronbach e apresentou resultados satisfatórios, sendo: 0,84 para Desumanização (10 questões); 0,90 para Decepção no Trabalho (13 questões); 0,93 para Exaustão Emocional (12 questões).

 

    Para a análise dos dados, primeiramente, foi feita a avaliação da distribuição dos dados por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov. Após a verificação da não distribuição normal dos dados foram aplicados os testes não-paramétricos Prova U de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis para identificar as diferenças entre as dimensões da Síndrome de Burnout conforme as variáveis sociodemográficas. Além disso, foi aplicado o teste de Qui-quadrado para grupo único com proporções similares entre as categorias para identificar o perfil dos professores. Por fim, destaca-se que em todas as análises foi adotado nível de significância de 95% (p<0,05).

 

Resultados 

 

    A análise dos dados das variáveis sociodemográficas demonstrou que a maioria dos participantes do estudo eram: pós-graduados (88,1), vinculados ao município (67,8%), lecionavam no Ensino Fundamental I (69,5%), não trabalhavam em zona de risco (76,3%), possuíam companheiro (67,8%), atuavam como professores de Educação Física entre 11 a 20 anos (64,2%), trabalhavam mais de 21 horas por semanas (66,1%), atuavam em 8 turmas ou mais (64,4%) e possuíam até 39 anos (64,4%) (Tabela 1).

 

Tabela 1. Perfil sociodemográfico dos professores de Educação Física

Variável

Categorias

N (%)

P*

Formação acadêmica

Graduação

7 (11,9)

<0,001

Pós-Graduação

52 (88,1)

Principal vínculo empregatício

Estado

19 (32,2)

0,006

Município

40 (67,8)

Pluriemprego profissional

Não

35 (59,3)

0,152

Sim

24 (40,7)

Aula na educação infantil

Sim

27 (45,8)

0,515

Não

32 (54,2)

Aula no ensino fundamental anos iniciais

Sim

41 (69,5)

0,003

Não

18 (30,5)

Aula no ensino fundamental anos finais

Sim

20 (33,9)

0,013

Não

39 (66,1)

Aula no ensino médio

Sim

21 (35,6)

0,027

Não

38 (64,4)

Escola em zona de risco

Não

45 (76,3)

<0,001

Sim

14 (23,7)

Estado civil

Com Companheiro

40 (67,8)

0,006

Sem Companheiro

19 (37,2)

Ciclos de desenvolvimento profissional

Até 10 anos

17 (28,8)

0,002

11 a 20 anos

32 (64,2)

21 anos ou +

10 (16,9)

Carga horária

Até 20 horas

20 (33,9)

0,013

21 horas ou +

39 (66,1)

Número de turmas

Até 7 turmas

21 (35,6)

0,027

8 turmas ou +

38 (64,4)

Faixa etária

Até 39 anos

38 (64,4)

0,027

40 anos ou +

21 (35,6)

*Probabilidade estimada pelo teste Qui-quadrado para grupo único. Fonte: Elaboração própria

 

    Ao avaliar a relação existente entre as variáveis sociodemográficas e o constructo da Síndrome de Burnout, constatou-se que apenas a dimensão Exaustão Emocional evidenciou associação significativa com o Pluriemprego (p=0,006), sendo os docentes que possuíam maior Exaustão Emocional eram os que não possuíam Pluriemprego.

 

Tabela 2. Relação entre o constructo da Síndrome de Burnout e o Pluriemprego

Variável

Categorias

N (%)

P*

Formação acadêmica

Graduação

7 (11,9)

<0,001

Pós-Graduação

52 (88,1)

Principal vínculo empregatício

Estado

19 (32,2)

0,006

Município

40 (67,8)

Pluriemprego profissional

Não

35 (59,3)

0,152

Sim

24 (40,7)

Aula na educação infantil

Sim

27 (45,8)

0,515

Não

32 (54,2)

Aula no ensino fundamental anos iniciais

Sim

41 (69,5)

0,003

Não

18 (30,5)

Aula no ensino fundamental anos finais

Sim

20 (33,9)

0,013

Não

39 (66,1)

Aula no ensino médio

Sim

21 (35,6)

0,027

Não

38 (64,4)

Escola em zona de risco

Não

45 (76,3)

<0,001

Sim

14 (23,7)

Estado civil

Com Companheiro

40 (67,8)

0,006

Sem Companheiro

19 (37,2)

Ciclos de desenvolvimento profissional

Até 10 anos

17 (28,8)

0,002

11 a 20 anos

32 (64,2)

21 anos ou +

10 (16,9)

Carga horária

Até 20 horas

20 (33,9)

0,013

21 horas ou +

39 (66,1)

Número de turmas

Até 7 turmas

21 (35,6)

0,027

8 turmas ou +

38 (64,4)

Faixa etária

Até 39 anos

38 (64,4)

0,027

40 anos ou +

21 (35,6)

*Probabilidade estimada pelo teste Prova U de Mann-Whitney. Fonte: Elaboração própria

 

    Ao avaliar o tempo de docência com o constructo da Síndrome de Burnout (Tabela 3) evidenciou-se que apenas a dimensão Desumanização (p=0,027) apresentou associação significativa, sendo que os docentes com até 10 anos de docência possuíam maior índice de desgaste, enquanto os docentes entre 11 e 20 anos de docência apresentaram menor índice de desgaste.

 

Tabela 3. Avaliação da Síndrome de Burnout conforme Tempo de Docência

Síndrome

de Burnout

Tempo de Docência

P*

Até 10 anos

Md (Q1-Q3)

11 a 20 anos

Md (Q1-Q3)

21 anos ou +

Md (Q1-Q3)

Exaustão Emocional

2,08 (1,54; 2,96)

2,13 (1,50; 2,67)

2,63 (1,40; 3,08)

0,497

Desumanização

2,10 (1,75; 2,70)a

1,70 (1,40;2,00)b

2,00 (1,35; 2,48)a/b

0,027

Decepção do Trabalho

1,69 (1,38; 2,43)

1,58 (1,31; 2,15)

1,97 (1,29; 2,64)

0,571

*Probabilidade estimada pelo teste de Kruskal-Wallis. Fonte: Elaboração própria

 

Discussão 

 

    É importante destacar que a cidade em que foi realizada este estudo se caracteriza como um município de médio a grande porte, localizado ao norte do estado do Paraná. Quando realizado o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), a cidade apresentava Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,748, o qual é considerado como classificação média (0,500-0,799). Ademais, ainda no ano de 2010, contava com 104.150 habitantes, entretanto, para o ano de 2020, a estimativa do IBGE era de cerca de 124.810 pessoas (IBGE, 2021).

    

    Nesse sentido, entende-se que o aspecto vinculado ao endereço social é um fator distintivo na análise dos resultados. Afinal, cidades com esta particularidade no estado do Paraná possuem poucas zonas periféricas ou de risco. Consequentemente, a representação dos docentes é definida conforme a realidade e região as quais estão inseridos. Essas ponderações podem esclarecer o resultado identificado no estudo, o qual constatou que a maioria dos participantes não atua em zona de risco. Além de que a maior parte das instituições de ensino de encargo do município (Educação Infantil e Ensino Fundamental — Anos Iniciais) estão alocadas na região central da sede do município.

 

    Ao avaliar a relação entre o Burnout com as variáveis sociodemográficas identificou que os professores que atuavam em mais de um local de trabalho eram menos acometidos pela Exaustão Emocional. Esta evidência pode estar associada ao fato que os professores com menor vínculo com cada local de trabalho apresentam comprometimento parcial ao local de trabalho, o que pode interferir de forma positiva no controle do estresse, e consequentemente, pode ocasionar menores índices de Exaustão Emocional.

    

    De fato, estudos brasileiros demonstraram que a realidade do pluriemprego não significa efeitos negativos para o indivíduo, e pode, inclusive, ajudar a manter estilo de vida positivo, por meio do emprego de hábitos saudáveis, como de manter relacionamentos pessoais no ambiente de trabalho mais positivos (Both, e Nascimento, 2010; Both, Borgatto, Sonoo, Lemos, Ciampolini, e Nascimento, 2016; Batillani, 2018; Gesser, Nascimento, Guimarães, Both, e Folle, 2019). Entretanto, as evidências contrariam os resultados de outras pesquisas brasileiras (Guedes, e Gaspar, 2016; Caixeta, Silva, Queiroz, Nogueira, Lima, Queiroz, e Amâncio, 2021) que confirmaram que os profissionais que atuavam em mais de um ambiente profissional apresentaram elevados índices de Exaustão Emocional, Despersonalização e Baixa Realização Profissional, favorecendo o desenvolvimento da Síndrome de Burnout. Assim, constata-se que tanto o endereço social, quanto os diferentes estatutos públicos que regimentam a profissão docente, podem interferir no surgimento da Síndrome de Burnout.

 

    Além disso, os professores em início de carreira, por vezes, por conta da pouca experiência profissional (atendimento de demandas), atrelado à idade do profissional, por acumular jornadas de trabalho mais intensas, e por possuírem pouca maturidade e experiência para resolução de problemas podem sentir-se mais insatisfeitos e dessa forma, estarem mais propícios a desenvolver burnout (Esteves-Ferreira, Santos, e Rigolon, 2014). Estes elementos supracitados, foram fatores observados como determinantes para desenvolvimento da Síndrome de Burnout, principalmente, relacionados à dimensão de Desumanização em professores de Educação Física brasileiros (Guedes, e Gaspar, 2016; Bremm et al., 2017), gregos (Kroupis et al., 2017) e espanhóis (Gallardo-López et al., 2019). Nesta perspectiva, os docentes mais jovens apresentam mais expectativas e menos conhecimento acerca das demandas profissionais, o que pode gerar frustrações no ambiente de trabalho. (Carlotto, 2011; Borges, e Lauxen, 2016)

 

    O tempo de carreira pode ser uma explicação sobre índices evidenciados na Exaustão Emocional. Afinal, Saloviita, e Pakarinem (2021) relataram que professores mais jovens são mais propensos a estarem exaustos, pois, os docentes experientes apresentam melhores rotinas profissionais. De fato, Rosa, Simão, e Silva (2020) relataram que docentes que lecionavam há mais de 11 anos não apresentaram altos percentuais na dimensão de Exaustão Emocional devido a menor tensão laboral e maior segurança frente as atividades profissionais. Assim, é possível que uma das causas para o acometimento da Síndrome de Burnout seja o grande entusiasmo presente no início da profissão, o qual ocasiona elevados graus de estresse, decepção e apatia. (Atmaca, Rızaoglu, Türkdogan, e Yaylı, 2020)

 

Conclusões 

 

    Ao analisar a Síndrome de Burnout de professores de Educação Física conforme as variáveis sociodemográficas de uma cidade de médio a grande porte do estado do Paraná (Brasil) observou-se que o endereço social foi uma característica diferencial para análise dos resultados, visto que, o perfil dos docentes é organizado conforme a realidade e região as quais estão inseridos.

 

    O pluriemprego é realidade natural para grande maioria dos docentes mais jovens, pela necessidade de complementação de renda e por conta de os vínculos empregatícios atuais estarem acontecendo em maior número, de maneira temporária. Ademais, conforme demonstrado, este grupo de professores também apresenta maior índice de Desumanização. Afinal, a necessidade de trabalhar em vários lugares, bem como, a falta de estabilidade em uma única instituição de ensino, possibilita o surgimento de sintomas característicos da Desumanização, tais como o distanciamento do sujeito nos relacionamentos laborais, e o desenvolvimento do sentimento de indiferença para com os envolvidos no cotidiano profissional.

 

    Por fim, para que os índices de Síndrome de Burnout sejam diminuídos nos professores de Educação Física da Educação Básica é importante que políticas públicas frente a saúde mental dos docentes sejam implementadas, principalmente para os professores mais jovens atuantes em apenas uma escola. Além disso, novos estudos são sugeridos em diferentes realidades para compreender o fenômeno do desgaste mental dos professores em relação ao trabalho desempenhado.

 

Referências 

 

Atmaca, Ç., Rızaoğlu, F., Türkdoğan, T., e Yaylı, D. (2020). An emotion focused approach in predicting teacher burnout and job satisfaction. Teaching and Teacher Education, 90, 103025. http://dx.doi.org/10.1016/j.tate.2020.103025

 

Batillani, T.G. (2018). Bem-estar dos profissionais de Educação Física que exercem pluriemprego [Dissertação de Mestrado em Educação Física. Universidade Estadual de Londrina]. http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000222192

 

Bolfer, M.M.M. de O. (2008). Reflexões sobre prática docente: estudo de caso sobre formação continuidade de professores universitários [Tese de Doutorado em Educação. Universidade Metodista de Piracicaba]. https://iepapp.unimep.br/biblioteca_digital/visualiza.php?cod=NDM1

 

Borges, R.S., e Lauxen, I.G. (2016). Burnout e fatores associados em docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Saúde em Redes, 2(1), 97-116. https://doi.org/10.18310/2446-4813.2016v2n1p97-116

 

Both, J., e do Nascimento, J.V. (2010). Condições de vida do trabalhador docente em Educação Física do magistério público municipal de Florianópolis. Caderno de Educação Física e Esporte, 9(16), 11-28. https://doi.org/10.17533/udea.efyd.v35n1a05

 

Both, J., Borgatto, A.F., Sonoo, C.N., Lemos, C.A.F., Ciampolini, V., e Nascimento, J.V. do (2016). Multiple jobholding associated with the wellbeing of physical education teachers in southern Brazil. Educación Física y Deporte, 35(1), 117-140. http://dx.doi.org/10.17533/udea.efyd.v35n1a05

 

Bremm, L.T., Dorneles, C.I.R., e Krug, M.M. (2017). Síndrome de Burnout em professores de Educação Física. Biomotriz, 11(2). https://doi.org/10.5216/rpp.v15i4.15654

 

Caixeta, NC, Silva, GN, Queiroz, MSC, Nogueira, MO, Lima, RR, Queiroz, VAM, e Amâncio, NDFG (2021). A síndrome de Burnout entre as profissões e suas consequências. Brazilian Journal of Health Review, 4(1), 593-610. https://doi.org/10.34119/bjhrv4n1-051

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 292, Sep. (2022)