thomas.parente@unesp.br

guy.ginciene@ufrgs.br

fernanda.moreto@unesp.br

*Doutorando em Desenvolvimento Humano e Tecnologias

pela Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP

Mestre em Desenvolvimento Humano e Tecnologias

Licenciado e Bacharel em Educação Física, também pela UNESP, Rio Claro, SP

**Professor Adjunto da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança (ESEFID)

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Professor do Programa de Pós-Graduação

em Ciências do Movimento Humano da ESEFID/UFRGS

Doutor em Desenvolvimento Humano e Tecnologias

pela Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP

***Professora Assistente Doutora do Departamento de Educação Física

da Universidade Estadual Paulista, Rio Claro

Responsável pelas disciplinas de Educação Física escolar I, II e III

Atualmente é coordenadora do curso de Educação Física

Docente e pesquisadora do programa de pós-graduação

em Desenvolvimento Humano e Tecnologias

(Brasil)

Recepção: 08/07/2021 - Aceitação: 23/12/2021

1ª Revisão: 03/11/2021 - 2ª Revisão: 12/12/2021

Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

Citação sugerida: Parente, T.A., Ginciene, G., e Impolcetto, F.M. (2022). O voleibol e o ensino por meio jogos: descrição de um material didático digital. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(285), 80-96. https://doi.org/10.46642/efd.v26i285.3097

 

Resumo

    O objetivos desse estudo foram de descrever um material didático digital na plataforma YouTube para o ensino do voleibol por meio de jogos, a ser aplicado nas aulas de Educação Física escolar (EFE) e apresentar a fundamentação teórica que embasou a organização da proposta. Esse artigo, de natureza qualitativa, foi desenvolvido por meio de três etapas: 1) elaboração de jogos reduzidos e do momento de conscientização, baseados na proposta do Teaching Games for Understanding (TGfU); 2) filmagem e edição do material didático digital; e 3) divulgação do material, feita por meio de canal na plataforma YouTube. O material didático digital conta com 18 vídeos, dois introdutórios e 16 com exemplos de jogos e sugestões de perguntas para auxiliar os alunos a compreenderem os elementos táticos da modalidade. Esses jogos foram elaborados a partir dos princípios táticos do voleibol: construir o ataque, intencionar os contatos com a bola, observar a quadra adversária, jogar a bola nos espaços vazios da quadra adversária, ocupar os espaços da quadra e direcionar o saque. Destaca-se o caráter inovador da proposta e a possibilidade do material didático digital como suporte à prática dos professores EFE adequada a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

    Unitermos: Material didático digital. Voleibol. TIC. Educação Física. Escola. Pedagogia do esporte.

 

Abstract

    The purpose of this article was to describe a digital didactic material on YouTube platform to teaching volleyball through games, to be applied in school Physical Education (PE) classes and introduce the theoretical foundation that supported the organization of the proposal. This qualitative article was developed in three stages: 1) elaboration of modified games and tactical awareness, based on Teaching Games for Understanding (TGfU) model; 2) filming and edition of digital didactic material; and 3) disclosure of the material through YouTube channel. The digital didactic material count on 18 videos, two introductory and 16 with modified games examples and suggested questions to help students to understand the tactical principles of sport. These games were developed from the tactical principles of volleyball: building the attack, intending to contact with the ball, looking for empty spaces, throw the ball in empty spaces, occupying court spaces and direct the serve. It stands out the innovative character of the proposal and the possibility of the digital didactic material to support the of PE teachers appropriate to Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

    Keywords: Digital didactic material. Volleyball. ICT. Physical Education. School. Sport pedagogy.

 

Resumen

    Los objetivos de este estudio fueron describir un material didáctico digital en la plataforma YouTube para la enseñanza del voleibol a través de juegos, para ser aplicado en las clases de Educación Física escolar (EFE) y presentar la fundamentación teórica que sustentó la organización de la propuesta. Este artículo, de carácter cualitativo, se desarrolló a través de tres etapas: 1) elaboración de juegos reducidos y el momento de la toma de conciencia, a partir de la propuesta de Teaching Games for Understanding (TGfU); 2) filmación y edición de material didáctico digital; y 3) difusión del material, realizada a través de un canal en la plataforma YouTube. El material didáctico digital consta de 18 videos, dos introductorios y 16 con ejemplos de juegos y preguntas sugeridas para ayudar a los estudiantes a comprender los elementos tácticos de la modalidad. Estos juegos fueron desarrollados en base a los principios tácticos del voleibol: construir el ataque, intentar hacer contacto con la pelota, observar la cancha contraria, jugar la pelota en los espacios vacíos de la cancha contraria, ocupar los espacios en la cancha y dirigir el saque. Se destaca el carácter innovador de la propuesta y la posibilidad del material didáctico digital como apoyo a la práctica de los docentes de la EFE, según la Base Nacional Común Curricular (BNCC).

    Palabras clave: Material didáctico digital. Vóleibol. TIC. Educación Física. Escuela. Pedagogía del deporte.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 285, Feb. (2022)

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Introdução 

 

    O ensino do voleibol nas aulas de Educação Física escolar (EFE) ainda é marcado por um modelo de reprodução de gestos técnicos, chamado de tecnicista (Barroso, e Darido, 2010). A predominância desse modelo na prática dos professores se dá pelas influências históricas do modelo esportivista nos cursos de graduação em Educação Física e na prática pedagógica dos professores desde a década de 1960 (González, 2004), mesmo com o surgimento de diferentes abordagens de ensino com propostas diferentes da tradicional após esse período.

 

    As abordagens atuais da Pedagogia do Esporte são um desses exemplos, como o Teaching Games for Understanding (TGfU) (Graça, e Mesquita, 2007; Kirk, e MacPhail, 2002),que podem ser incorporados na EFE devido à sua condição de avançar pedagogicamente em relação ao modelo tradicional ou esportivista, por partirem do pressuposto de que é possível desenvolver nos alunos mais do que apenas os gestos técnicos e promover uma compreensão da lógica dos esportes (Galatti, e Paes, 2006). Ressalta-se, no entanto, que tais abordagens se relacionam principalmente com o "saber fazer", ou seja, os aspectos técnico-táticos das modalidades, que serão o foco do presente estudo.

 

Fonte: YouTube. Pedagogia do esporte & voleibol

 

    Scaglia, e Reverdito (2016) apontam que os conhecimentos produzidos nessa esfera pouco atingiram as aulas de EFE, mesmo com indicações de que a utilização de jogos no ensino é importante para a aprendizagem dos alunos, devido a sua natureza, ou seja, os princípios que o norteiam, utilizados com intenções pedagógicas, fazendo-se necessário iniciativas que introduzam aos professores estes princípios e que justifiquem sua utilidade na prática docente.

 

    Com a homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), principal documento educacional brasileiro (Brasil, 2018), que propõe o ensino dos esportes a partir de uma classificação que considera a lógica interna, em breve os professores de Educação Física deverão buscar possibilidades para a inserção de elementos das abordagens atuais da Pedagogia do Esporte nas aulas de EFE.

 

    Por isso, para que o ensino por meio de jogos chegue aos professores atuantes, passa-se a pensar em materiais que dêem suporte à prática docente, inseridos ao processo de formação continuada, como uma alternativa na busca de atualização profissional e aquisição de novos conhecimentos (Rossi, e Hunger, 2012), a fim de superar as questões vigentes da área, como o ensino tradicional e tecnicista. (Sichelero, e Rezer, 2013)

 

    Voltado à intenção de dar suporte a prática docente, uma das possíveis soluções está na elaboração de materiais didáticos,proposta deste artigo que apresenta um exemplo para o ensino do voleibol por meio de jogos, considerados como quaisquer instrumentos que possam ser utilizados nos ambientes educacionais com intenções pedagógicas. Aliados as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), os materiais didáticos são potencializados pela facilidade de troca de informações (Bandeira, 2009), tornando-se digitais.

 

    Observa-se que o uso das TIC pelos profissionais de Educação Física, atuantes na escola ou não, já ocorre e que há benefícios nessa relação, como por exemplo, a melhoria dos conhecimentos sobre os conteúdos a serem trabalhados por eles. (Diniz, e Darido, 2015; Milistetd et al., 2015; Rodrigues et al., 2017)

 

    Especificamente para os professores de EFE, há estudos que mostram as possibilidades de utilização das TIC, para o ensino da ginástica (Carvalho, 2012), atletismo (Ginciene, e Matthiesen, 2015), capoeira (Silva, 2012), danças folclóricas (Diniz, e Darido, 2015), e voleibol (Sartori, 2017), ambos considerados materiais didáticos digitais.

 

    Sabendo do elevado uso e facilidade de acesso às TIC, entende-se que os vídeos se apresentam como alternativa por serem uma importante fonte de aproximação entre teoria e prática no auxílio à elaboração de aulas (Seidel et al., 2013), para isso, pensa-se no YouTube, a rede social de compartilhamento de vídeos mais acessadas pela população mundial, estando o Brasil entre os países que mais fazem uso (Brodersen et al., 2012), e, devido a seu amplo alcance, facilita a divulgação e auxílio na prática pedagógica.

 

    Portanto, os objetivos da presente pesquisa foram de descrever um material didático digital na plataforma YouTube para o ensino do voleibol por meio de jogos, voltado às aulas de Educação Física escolar e apresentar a fundamentação teórica que embasou a organização da proposta, a partir dos referenciais das abordagens atuais da Pedagogia do Esporte e o ensino por meio dos princípios táticos.

 

Método 

 

    Esse estudo apresenta-se como de natureza qualitativa, pois pesquisas dessa natureza buscam adentrar diferentes tipos de realidades e interagir com os envolvidos (Varanda et al., 2019), neste caso, as aulas e os professores de EFE, impactando diretamente no estudantes.

 

    Comum em estudos educacionais (Lüdke, e André, 2018) e consolidados quando se trata da área da Educação Física (Smith, e Caddick, 2012), para a EFE, as pesquisas qualitativas buscam dar um viés pedagógico as práticas das aulas (Silva et al., 2008), característica do material didático digital desenvolvido e descrito a seguir.

 

    Para atender essa especificidade, a descrição do material didático digital para o ensino do voleibol foi feita por meio de três etapas: (1) elaboração dos jogos; (2) filmagem e edição; (3) divulgação do material didático digital.

 

Etapa 1. Elaboração dos jogos 

 

    Os jogos¹ elaborados para o material didático digital para o ensino do voleibol seguiram os pressupostos do TGfU, uma das abordagens atuais da Pedagogia do Esporte, que levam os alunos a compreender a modalidade, ao ter como objetivos de aprendizagem elementos relacionados aos princípios táticos do voleibol, de acordo com a lógica interna da modalidade.

 

    Os princípios táticos utilizados como temáticas centrais dos jogos foram direcionar os saques, jogar a bola em espaços vazios, observar espaços vazios, intencionar os contatos com a bola, construir o ataque e ocupar os espaços da quadra, esses que foram identificados em aulas de EFE em um diagnóstico das dificuldades dos estudantes em relação ao jogar voleibol (Parente et al., 2020). Tais ações táticas individuais e/ou coletivas aparecem em outros estudos sobre a modalidade. (Borges, e Diniz, 2014; Sarruge et al., 2020)

 

    Os jogos elaborados foram adequados ao que é nomeado de aspirações de aprendizagem. Tal termo tem relação com aquilo que o professor espera que os alunos possam desenvolver durante a aula, porém, sem limitar o momento ou uma sequência exata de implementação das atividades (Luguetti et al., 2017), na busca de que os professores que terão acesso a esse material adequem as atividades às suas práticas, conforme a realidade nas quais estão inseridos.

 

    Além dos jogos que serão descritos a partir de um exemplo nos resultados, foram elaboradas também perguntas que os professores podem fazer aos alunos, pois, de acordo com González, e Bracht (2012), para atender os pressupostos das abordagens atuais da Pedagogia do Esporte, algumas etapas devem ser seguidas, entre elas: 1) jogo reduzido para o desenvolvimento das habilidades do esporte; e 2) momento de conscientização - perguntas que levem os alunos ao entendimento da modalidade, não limitando-os ao fazer.

 

Etapa 2. Filmagem e edição dos vídeos 

 

    Após a elaboração, foi realizada a filmagem dos jogos para o material didático digital, nas dependências da Universidade Estadual Paulista, utilizando-se de uma câmera GoPro Hero 5 Black. Participaram dessa etapa jovens-adultos, com 18 anos ou mais, com e sem experiência na modalidade. As gravações foram combinadas previamente e aconteceram por um período de cerca de dois meses, com encontros semanais de cerca de uma hora de duração. Por encontro, dois a três jogos eram gravados. Conforme o objetivo de descrição do material didático digital, as demais informações como a composição das equipes, número de participantes e duração dos vídeos constam nos resultados.

 

    A presente pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisas em Seres Humanos e aprovada sob o número de parecer 2.739.537. Portanto, os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e tiveram sua participação na pesquisa devidamente esclarecida.

 

    Em relação à temática dos vídeos, além daqueles sobre cada princípio tático, foram elaborados dois introdutórios para apresentar a proposta do material didático. Com isso, somando-os aos vídeos que correspondem aos jogos, o material didático digital para o ensino do voleibol contou com 18 produções, informação que pode ser vista no Tabela 1.

 

Tema	Quantidade de vídeos
Introdutórios	2
Construir o ataque	2
Intencionar os contatos com a bola	2
Observar os espaços vazios	3
Jogar a bola nos espaços vazios	3
Ocupar os espaços da quadra	3
Direcionar os saques	3

Fonte: Elaborado pela autoria

 

    Cada vídeo elaborado para o ensino do voleibol, de acordo com os princípios táticos, dividiu-se em três momentos principais: a) explicação das regras do jogo, seguido de sua realização na prática; b) momento de conscientização, em que foram abordadas as sugestões de perguntas que os professores podem fazer com os alunos; e c) materiais utilizados naquele jogo em específico. A edição, realizada posteriormente pela autoria, por meio do programa Adobe Premiere Pro, teve a finalidade de reunir esses três componentes apontados acima.

 

Etapa 3. Divulgação do material didático digital 

 

    A terceira etapa constou da criação de um canal na plataforma YouTube onde os vídeos foram postados, que recebeu o nome de Pedagogia do Esporte e Voleibol². Em pesquisas de natureza qualitativa o uso de vídeos vem aumentando por contribuírem para o entendimento da atividade e aproximação com a realidade da qual pretende-se atender (Garcez et al., 2011), similar ao YouTube, que devido a capacidade de compartilhamento, favorece a produção e ampliação do conhecimento. (Dias, e Couto, 2011)

 

Resultados e discussão 

 

    Os vídeos introdutórios tiveram como objetivo principal apresentar o canal, organizado com o intuito de auxiliar os professores no ensino do voleibol nas aulas de EFE por meio das abordagens atuais da Pedagogia do Esporte. Foram contemplados também explicações sobre a estrutura e fundamentação da proposta a partir do TGfU e dos princípios da Pedagogia do Esporte, e a apresentação do conceito da lógica interna do voleibol, bem como dos princípios táticos que foram utilizados para a elaboração dos jogos.

 

    Foram utilizados dois princípios do TGfU: atividades modificadas com interação entre os participantes (González, e Bracht, 2012; Kirk, e MacPhail, 2002), ou seja, os jogos para o ensino do voleibol; e a conscientização sobre a prática, perguntas a partir do objetivo do jogo que permitam a reflexão dos alunos sobre a participação nos jogos. (González, e Bracht, 2012)

 

    Quanto ao conceito de lógica interna, seguiu-se a proposta da BNCC - esportes de rede divisória e parede de rebote (Brasil, 2018). Ainda, foram explicados os principais objetivos dos esportes que fazem parte dessa classificação, direcionado para o voleibol.

 

    Os demais vídeos com exemplos de jogos para o ensino do voleibol são apresentados no Quadro 1, que contém informações a respeito da temática de cada um, o objetivo de aprendizagem e as características dos jogos desenvolvidos e disponibilizados no canal.

 

Tema	Objetivo de aprendizagem	Características dos jogos
Construir o ataque3	Evidenciar a importância do uso dos três contatos com a bola durante o jogo de voleibol como forma de construir o ataque ao mostrar as possibilidades de ataque em cada situação.	Os jogos para esse princípio buscam oferecer aos alunos subsídios que os levem a entender a importância da realização dos três contatos com a bola para justamente construir uma melhor opção de ataque.
Intencionar os contatos com a bola4	Evidenciar as situações da realização do primeiro contato com a bola (recepção e defesa) e do segundo contato com a bola (levantamento).	Os jogos desenvolvidos têm como característica principal o aluno pensar nos locais favoráveis para as duas ações (primeiro contato e segundo contato) e criar estratégias para que a bola chegue nesses locais escolhidos por eles, com possibilidade de mudança, ampliando o placar.
Observar a quadra adversária5	Enfatizar a importância de olhar para a outra quadra, identificando os espaços, e perceber o posicionamento da equipe adversária para a realização do ataque, aumentando as chances do ponto.	Os jogos apresentam como característica principal marcações diferenciadas no time defensor, ou seja, sem a posse da bola, para que o time com posse identifique situações, sejam elas na quadra ou nos jogadores, falando-as, garantindo que os alunos olhem para a outra quadra.
Jogar a bola em espaços vazios6	Destacar as possibilidades de se chegar ao ponto ao jogar a bola em espaços não ocupados pelos adversários.	Os jogos para esse princípio têm como característica liberar espaços da quadra para que o outro time consiga percebê-los e jogar a bola em tais espaços. Os jogos contam com marcações na quadra, onde os alunos devem se posicionar e variações no espaço, comparando as situações entre quadra grande ou pequena, e as facilidades de pontuar.
Ocupar os espaços da quadra7	Destacar e vivenciar diferentes formas de se ocupar os espaços da quadra, com ênfase para a movimentação dos alunos em direção a bola, nas ações de defesa e bloqueio.	Jogos com bastante movimentação dos participantes, buscam dar condições para que percebem os locais vulneráveis da quadra para irem em direção àquele espaço a fim de recuperar a posse da bola. Tem como característica a superioridade numérica do time com a posse de bola e manter os alunos fixos em posições até o terceiro contato com a bola (quando é enviada para a outra quadra).
Direcionar os saques8	Destacar os locais da quadra que tendem a dificultar as ações da equipe adversária, bem como o deslocamento dos adversários na recepção para facilitar a retomada da bola.	Com foco no saque, os jogos foram realizados tanto na quadra oficial como em miniquadras. Têm como características enviar os saques mais próximos de alguns locais marcados, tanto pelos alunos quanto pelo professor, para mostrar outras funções do saque além da pontuação direta.

Fonte: Elaborado pela autoria

 

    Seguindo o processo de descrição do material didático digital e para fins de apresentação, um vídeo será descrito a seguir para exemplificar e ilustrar a estrutura do que foi realizado. Este exemplo, portanto, se pautou no vídeo sobre o tema “observar a quadra adversária” (Quadro 2), com a intenção de identificar o posicionamento dos adversários e os possíveis espaços vazios na quadra a partir desse posicionamento.

 

Objetivo de aprendizagem	Demonstrar a importância de perceber o posicionamento da equipe adversária para a realização do ataque.
Jogo	2x2. Cada vez que a bola passar para o outro lado, os alunos devem se posicionar ou frente/atrás ou direita/esquerda. A equipe que recebe a bola, antes de devolvê-la à outra quadra, deve “cantar” o posicionamento, liberando os adversários a saírem dessa posição.

Fonte: Elaborado pela autoria

 

    No vídeo criado, inicialmente foram apresentados e explicados o princípio tático e o objetivo de aprendizagem que corresponde ao jogo. Nesse caso, para o princípio tático de observar a quadra adversária, a condição para que o ponto fosse feito era que os alunos olhassem para a outra quadra e identificassem o posicionamento dos adversários e, a partir disso, tentassem fazer os pontos, jogando a bola em locais desocupados pelos participantes.

 

    Tal situação do jogo pode ser considerada como uma modificação por exagero (Graça, e Mesquita, 2007), uma vez que enfatiza um princípio tático e que, sem a realização dele, os pontos não eram possíveis.

 

    As atividades elaboradas podem ser consideradas como minijogos ou jogos reduzidos. O uso desses termos se dá devido as mudanças em algumas condições do esporte convencional, como o espaço de jogo (miniquadras) e o número de jogadores (Ginciene, e Impolcetto, 2019), o qual, conforme o Quadro 3, é realizado em duplas (2x2) e em miniquadras.

 

    Tais alterações, que mantém a lógica interna dos esportes, têm como objetivo principal a transferência do conhecimento de um jogo para outro, até mesmo de princípios táticos diferentes, bem como para o esporte convencional. (Sadi et al., 2008)

 

    Contudo, não basta simplesmente a realização de jogos, mas sim atividades que levem os alunos a se relacionarem com o jogo e se adaptarem as condições proporcionadas pela prática, comprometidas com a formação do aluno, sendo essa uma finalidade pedagógica (Freire, 2002), e assim, podendo garantir o aprendizado. Com essa função, propões o momento de conscientização, apresentado após o exemplo de jogo. Para exemplificá-lo, no Quadro 3, seguem as perguntas e o que se espera como resposta para o jogo apresentado anteriormente no Quadro 2.

 

Sugestão de pergunta	Resposta esperada
Para fazer o ponto, o que é preciso ser feito?	Observar a quadra adversária e identificar o posicionamento dos adversários.
Se a bola for lançada em um local que os adversários não estão, as chances de ponto são maiores ou menores?	Maiores, o que pode forçar o adversário ao erro, caso não consiga se posicionar adequadamente.

Fonte: Elaborado pela autoria

 

    No momento de conscientização as perguntas elaboradas pretendiam verificar aquilo que estava sendo realizado durante os jogos, para que os alunos possam refletir sobre e assim aprender as ações táticas do voleibol.

 

    Para as abordagens da Pedagogia do Esporte que têm o jogo como instrumento pedagógico, é importante que os alunos saibam o que fazer e reflitam sobre suas ações para depois aplicar tal conhecimento na prática (Kirk, e MacPhail, 2002), evidenciando a importância da conscientização após os jogos, pois os questionamentos os auxiliam na compreensão sobre o jogo e analisar criticamente suas ações. (Bolonhini, e Paes, 2009; Sarruge et al., 2020)

 

    O terceiro momento dos vídeos diz respeito ao uso dos materiais para o jogo proposto. Uma das características do ensino por meio de jogos é que não há necessidade de muitos materiais (Paes, e Balbino, 2009) e que é possível fazer adaptações dos mesmos (Ginciene, e Impolcetto, 2019), com isso, foram utilizadas bolas de voleibol, elástico, com a função de rede entre as miniquadras - um material adaptado, coletes (para destacar algum participante) e giz para marcações no chão das miniquadras.

 

    Em relação ao tempo dos vídeos, de modo geral, tentou-se estabelecer um padrão de curta duração, conforme o YouTube indica, com menos de quatro minutos, sendo assim, o vídeo de menor duração tem o tempo de 2 minutos 03 segundos e o de maior duração o tempo de 4 minutos 33 segundos. O jogo que foi exemplificado na presente discussão (Quadro 3) teve o tempo de 3 minutos 43 segundos, reunindo todas as etapas descritas acima.

 

    Ampliando as discussões a respeito de materiais didáticos digitais, pode-se perceber que é um tema que faz parte das pesquisas em educação (Cardoso, e Giraffa, 2018) e para a EFE com o objetivo de auxiliar a elaboração de aulas (Diniz, e Darido, 2015; Ginciene, e Matthiesen, 2015), entretanto, são poucos os estudos com propostas de uso das TIC e vídeos no YouTube com essa função.

 

    Nesse sentido, há evidências de que são poucos os estudos que abordam o ensino dos esportes de rede divisória e parede a partir das abordagens atuais da Pedagogia do Esporte (Belli et al., 2017), assim como para o voleibol (Impolcetto, e Darido, 2016), por isso, existe a necessidade da elaboração de materiais que possam auxiliar os professores de EFE a ensinarem por meio delas, na tentativa de romper com os modelos tradicionais de ensino do esporte e atenderem as especificidades da BNCC.

 

Conclusão 

 

    Com a finalidade de descrever um material didático digital, a presente pesquisa abordou as etapas de construção e o conteúdo dos vídeos que foram filmados, com os objetivos de aprendizagem e o panorama geral dos jogos para cada elemento tático e por meio de um exemplo de vídeo, com a descrição do jogo, conscientização e materiais utilizados.

 

    O material didático digital aqui descrito teve como base as abordagens atuais da Pedagogia do Esporte, principalmente o TGfU e, como já ressaltado, os professores de EFE têm pouco contato com novas propostas para o ensino dos esportes, por isso, considerou-se a necessidade da elaboração de dois vídeos que abordaram as questões conceituais da proposta de forma a embasar não somente o material didático, mas todo o contexto em que pode ser inserido na prática pedagógica de forma a aproximar os docentes da presente proposta.

 

    Tal forma de se ensinar os esportes na EFE, e neste caso, o voleibol, surge como uma alternativa ao modelo tradicional tecnicista, ainda predominante na EFE. A diferenciação feita em relação a este modelo está na aprendizagem e desenvolvimento das ações do jogo por meio da lógica interna (esportes de rede/parede), conforme indica a BNCC, e o ensino a partir dos princípios táticos, tema dos jogos desenvolvidos e apresentados.

 

    Em relação aos jogos reduzidos, a respeito das suas temáticas, entende-se que os seis elementos táticos abordados não são os únicos componentes da modalidade, porém, ao pensar nas aulas de EFE, podem garantir um bom andamento dos jogos, voltado ao desenvolvimento dos alunos para se jogar voleibol, entretanto, limita-se a esse conteúdo disponível e avanços poderiam ser realizados para alimentar tal material.

 

    Outro elemento que se difere é o papel dos estudantes nesses jogos, que, por meio da conscientização, assumem o posto de centrais no ensino, participando ativamente na construção do conhecimento. Em que pese, essa ação só será efetivada se o professor de EFE compreender as mudanças entre as formas de ensinar o voleibol (e o esporte), ao assumir papel de mediador do conhecimento e permitir que os alunos encontrem suas próprias respostas a respeito dos jogos e da modalidade.

 

    Por fim, a divulgação do material com suporte das TIC tende a favorecer que diversos professores, iniciantes ou há mais tempo na carreira docente, tenham contato e possam ampliar seu conhecimento sobre o ensino dos esportes, com ênfase no voleibol. Contudo, a fim de continuar avançando na proposta da elaboração do material didático digital para o voleibol, entende-se que é necessário avaliá-lo a partir da opinião dos usuários para elevar a importância da proposta aqui descrita.

 

Agradecimentos 

 

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

 

Notas 

1. O termo jogo aqui utilizado corresponde com a utilização como ferramenta de ensino ou instrumento pedagógico para aquisição de saberes e construção do conhecimento sobre uma temática abordada nas propostas de ensino dos professores. Tais jogos se caracterizam por modificações no jogo formal, seja no espaço, número de participantes, algumas regras, com intenção de direcionar o ensino a algum elemento específico do jogo formal. (Venditti Jr, e Sousa, 2008).

2. Link de acesso ao canal: https://www.youtube.com/channel/UCKnBiv1snr9fnlltDr7b6TQ

3. Playlist - Construir o ataque: https://www.youtube.com/playlist?list=PLruJ5q81gNUcyh0TIPtBEyxqUBUVSsItQ

4. Playlist - Intencionar os contatos com a bola: https://www.youtube.com/playlist?list=PLruJ5q81gNUedYK60KhaWg1vq8mXaDmpi

5. Playlist - Observar a quadra adversária: https://www.youtube.com/playlist?list=PLruJ5q81gNUdtPxetNe-BgaKm6qz9ERdG

6. Playlist - Jogar a bola em espaços vazios: https://www.youtube.com/playlist?list=PLruJ5q81gNUcBaSd3ZFbKmk2Zi_yrLOcm

7. Playlist - Ocupar os espaços da quadra: https://www.youtube.com/playlist?list=PLruJ5q81gNUcegk-BUW-YUd650MYcOVFM

8. Playlist - Direcionar os saques: https://www.youtube.com/playlist?list=PLruJ5q81gNUepCFpbWlvMubNJJrsHR0Fs

Referências 

 

Bandeira, D. (2009). Material didático: conceito, classificação geral e aspectos da elaboração. Livraria.com.br. http://www2.videolivraria.com.br/pdfs/24136.pdf

 

Barroso, A.L.R., e Darido, S.C. (2010). Voleibol escolar: uma proposta de ensino nas dimensões conceitual, procedimental e atitudinal do conteúdo. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 24(2), 179-194. https://doi.org/10.1590/s1807-55092010000200003

 

Belli, T., Ginciene, G., Castro, L.B., Soati, K.C., Misuta, M.S., e Galatti, L.R. (2017). Pedagogia do Esporte e tênis de mesa: novas perspectivas no ensino-treino do efeito na iniciação esportiva tardia. Pensar a Prática, 20(2), 420-429. https://doi.org/10.5216/rpp.v20i2.41678

 

Bolonhini, S.Z., e Paes, R.R. (2009). A proposta pedagógica do Teaching Games for Understanding: reflexões sobre a iniciação esportiva. Pensar a Prática, 12(2), 1-4. https://doi.org/10.5216/rpp.v12i2.5694

 

Borges, R.M., e Diniz, I.K.S. (2014). Voleibol. In F.J. González, S.C. Darido, e A.A.B. de Oliveira (Coord.), Esportes de Marca e com Rede Divisória ou Muro/Parede de Rebote. EDUEM. http://hdl.handle.net/10183/134876

 

Brasil (2018). Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 285, Feb. (2022)