ISSN 1514-3465
Ansiedade, depressão, uso de medicamentos e maleabilidade
em profissionais da enfermagem na era da COVID-19
Anxiety, Depression, Use of Medicines and Maleability in Nursing Professionals in the COVID-19 Age
Ansiedad, depresión, uso de medicamentos y maleabilidad en profesionales de enfermería en la era del COVID-19
Wellington Danilo Soares*
wdansoa@yahoo.com.br
Ingrid Natalie de Oliveira Almeida**
psingridalmeida@gmail.com
Álvaro Parrela Piris***
alvaroparrela@yahoo.com.br
Valdemir da Paixão Viana Souza+
demirviana@hotmail.com
André Fabrício Pereira da Cruz++
andrefabriciocruz@yahoo.com.br
André Luiz Gomes Carneiro+++
algcarneiro@hotmail.com
*Doutor em ciências da saúde pela Unimontes
Docente no curso de Psicologia das Funorte, Montes Claros, MG
**Acadêmica do curso de Psicologia
das Funorte, Montes Claros, MG
***Mestre em Tecnologia da Informação Aplicadas
a Biologia Computacional - Promove
Docente no curso de Psicologia na FASI, Montes Claros, MG
+Acadêmico do curso de Psicologia das Funorte, Montes Claros, MG
++Mestre em ciências biológicas com ênfase em microbiologia
pelo programa de pós-graduação em microbiologia na UFMG
Docente no curso de Farmácia na FASI, Montes Claros, MG
+++Doutor em ciências do desporto
pela Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro – UTAD/Portugal
Docente no Departamento de Educação Física e do Desporto na Unimontes
(Brasil)
Recepção: 15/05/2021 - Aceitação: 27/07/2022
1ª Revisão: 20/07/2022 - 2ª Revisão: 24/07/2022
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Citação sugerida
: Soares, W.D., Almeida, I.N. de O., Piris, A.P., Souza, V. da P.V., Cruz, A.F.P. da, e Carneiro, A.L.G. (2022). Ansiedade, depressão, uso de medicamentos e maleabilidade em profissionais da enfermagem na era do COVID-19. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(293), 167-177. https://doi.org/10.46642/efd.v27i293.3027
Resumo
Na existência humana sempre houve algum tipo de pandemia que afeta os indivíduos, podendo acarretar danos físicos e psíquicos. É o caso da COVID-19, que desde dezembro de 2019 tem se propagado em âmbito mundial. Nesse contexto, profissionais da Enfermagem estão na linha de frente da COVID-19, gerando impactos na saúde física e mental, se estendendo de um nível baixo de ansiedade a um grau avançado de depressão. Grande parte desses profissionais recorre ao uso de medicamentos, com o objetivo de aliviar dos sintomas. Essa pesquisa teve como objetivo investigar os níveis de ansiedade, depressão, uso de medicamentos e maleabilidade entre os profissionais da Enfermagem no contexto da pandemia da COVID-19. A coleta dos dados foi realizada nas cidades de Taiobeiras-MG e Grão Mogol-MG, com uma amostra de 60 pessoas, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos, inclusos na pesquisa os profissionais da área da Enfermagem que aceitaram a participar de forma voluntária. Foram utilizados como instrumentos de coleta de dados o Inventário da Depressão de Beck (BDI), o Inventário de Beck de Ansiedade (BAI) e o Teste de Morisky-Green que se refere à adesão ao uso de medicamentos. A pesquisa ora desenvolvida, apesar de ter sido realizada com uma quantidade limitada de profissionais de Enfermagem, evidenciou como resultado, a inclinação dos profissionais para à adesão medicamentosa e à ansiedade, diante dessa pandemia.
Unitermos:
Ansiedade. Depressão. Enfermagem.
Abstract
In human existence, there has always been some kind of pandemic that affects people, which can cause physical and psychological damage. This is the case of the COVID-19, which since December 2019, has spread worldwide. In this context, nursing professionals are at the forefront of COVID-19, generating impacts on physical and mental health, extending from a low level of anxiety to an advanced degree of depression. Most of these professionals resort to the use of medications, in terms of symptom relief. This research aimed to investigate the levels of anxiety, depression, use of medications and suppleness among nursing professionals in the context of the COVID-19 pandemic. Data collection was carried out with nursing professionals in the city of Taiobeiras-MG and Grão Mogol-MG, with a sample of 60 people, of both sexes, aged 18 years or over, including in the research. nursing professionals who accept to participate voluntarily. The Beck Depression Inventory (BDI), the Beck Anxiety Inventory (BAI) and the Morisky-Green test, which refers to adherence to medication use, were used with data collection instruments. The research now developed, despite having been carried out with a limited number of nursing professionals, showed as a result, the inclination of professionals towards medication adherence and anxiety, in the face of this pandemic.
Keywords:
Anxiety. Depression. Nursing.
Resumen
A lo largo la existencia humana siempre ha existido algún tipo de pandemia que afectó a los individuos, pudiendo causar daños físicos y psíquicos. Este es el caso del COVID-19, que desde diciembre de 2019 se ha extendido por todo el mundo. En este contexto, los profesionales de enfermería se encuentran en la primera línea del COVID-19, generando impactos en su salud física y mental, que van desde un bajo nivel de ansiedad hasta un grado avanzado de depresión. La mayoría de estos profesionales recurren al uso de medicación, con el objetivo de aliviar los síntomas. Esta investigación tuvo como objetivo investigar los niveles de ansiedad, depresión, uso de medicamentos y maleabilidad entre profesionales de Enfermería en el contexto de la pandemia de COVID-19. La recolección de datos se realizó en los municipios de Taiobeiras-MG y Grão Mogol-MG, con una muestra de 60 personas, de ambos sexos, con edad igual o superior a 18 años, incluidos profesionales del área de Enfermería que aceptaron participar voluntariamente. Se utilizaron como instrumentos de recolección de datos el Inventario de Depresión de Beck (BDI), el Inventario de Ansiedad de Beck (BAI) y el Test de Morisky-Green, que se refiere a la adherencia al uso de medicamentos. La investigación aquí desarrollada, a pesar de haber sido realizada con un número limitado de profesionales de Enfermería, mostró resultados satisfactorios, ya que logró reafirmar la inclinación de los profesionales hacia la adherencia a la medicación y la ansiedad, frente a esta pandemia.
Palabras clave
: Ansiedad. Depresión. Enfermería.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 293, Oct. (2022)
Introdução
No decorrer dos tempos, no que diz a respeito à saúde mundial, tem surgido fenômenos que exigem mudanças radicais no âmbito social de toda a população, direcionando as pessoas a repensarem e a readaptarem hábitos e situações, seja no trabalho diário, no seio familiar e situações do cotidiano. (Batista, 2018)
O surto da doença infecciosa causada pelo coronavírus (COVID-19), teve seus primeiros contágios em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan (China). No Brasil, foi identificado o primeiro caso suspeito em janeiro de 2020 e declarado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. (OPAS, 2020)
Este cenário foi agravado, principalmente, no continente americano e europeu, a velocidade com que o vírus se espalhou por todo o mundo e com a ausência de vacinas e tratamentos eficazes, produziu-se números expressivos de pessoas contaminadas e de óbitos. (Teixeira et al., 2020)
Neste contexto, profissionais da atenção primária expõem diariamente suas vidas na luta contra a pandemia, assim como a saúde mental destes profissionais, que além das jornadas excessivas de trabalho, precisam lidar diretamente com a pressão de acompanhantes, gestores e pacientes, sem contar com o afastamento dos familiares, consequência do medo de se contaminar e transmitir o vírus. (Santana, Santos, e Santos, 2020)
Segundo estudo realizado, os profissionais da Enfermagem, principalmente no âmbito hospitalar, estão em maiores riscos de estresse e tensão, chegando a ser considerada a quarta profissão mais estressante e desencadeante de patologias e síndromes. Geralmente, apresenta de início um esgotamento emocional, onde as emoções afetam o bem-estar do indivíduo. (Fontinhas, e Cardoso, 2017).
Com frequência constata-se que, a saúde mental de um profissional da Enfermagem atravessa a ansiedade e chega ao estágio da depressão, uma doença psicológica caracterizada, principalmente, por uma tristeza recorrente, perda de interesse generalizado, falta de ânimo, de apetite, ausência de prazer e oscilação de humor que podem culminar em pensamentos suicidas, envolvendo o corpo e pensamento decorridos das condições do seu ambiente laboral. (Trettene et al., 2018)
Com esse cenário, profissionais da Enfermagem estão a lidar com situações de tensão, estresse, ansiedade, fadiga mental e depressão, que lhes causam desgaste emocional e físico. Isso faz com que o próprio profissional, no intuito de aliviar estes sintomas, faça a utilização de substâncias psicoativas e tendem a se tornarem dependentes de tais drogas. (Vieira et al., 2016)
Nessa perspectiva, considerou-se apropriado desenvolver este estudo cujo objetivo foi: analisar os índices de ansiedade, depressão, uso de medicamentos em profissionais da Enfermagem atuantes na pandemia da COVID-19 nas cidades de Taiobeiras-MG e Grão Mogol-MG.
Justificado o estudo no atual cenário recorrente pela recente pandemia da COVID-19, no que condiz às situações e desafios enfrentados por profissionais da Enfermagem no atendimento a pacientes infectados pelo novo coronavírus, no que se refere ao seu autocuidado, sofrimentos psicológicos, riscos do uso indiscriminado de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos e suas possibilidades de adaptação no ambiente laboral e familiar.
Materiais e métodos
A presente pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM, sob o nº 3.779.140/2019. Trata-se de uma pesquisa de caráter quantitativa, corte transversal e comparativa.
A amostra foi constituída por 60 pessoas, ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos, selecionados por conveniência, atuantes na área da Enfermagem nas cidades de Grão Mogol e Taiobeiras, ambas localizadas no norte de Minas Gerais.
Foram incluídos os profissionais de Enfermagem atuantes e devidamente inscritos no Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais-COREN e que aceitaram participar de forma voluntária da pesquisa e excluídos aqueles profissionais que preencheram os questionários de forma incompleta.
Como instrumento da coleta de dados foram utilizados 3 questionários que contribuíram na identificação das questões relacionadas à ansiedade, depressão e uso de medicamentos por estes profissionais.
O Inventário de Depressão de Beck (BDI), que consiste em 21 questões de múltipla escolha, contém itens que avaliam aspectos tanto estado deprimido, quanto cognitivos, somados e físicos. Cada item é classificado de 0 a 3, sendo relacionados com o que o indivíduo tem sentido na última semana, dentro de quatro possibilidades de respostas. (Sampaio, Oliveira, e Pires, 2020)
Também foi utilizado o Inventário de Beck de Ansiedade (BAI), segue o mesmo modelo do inventário de depressão, também com 21 questões relacionadas com que eu indivíduo tem sentido na última semana, contendo quatro possíveis respostas:absolutamente não, levemente, moderadamente e gravemente, teve como foco, avalie a os níveis de ansiedade, levando em conta os sintomas físicos e psicológicos. (Lelis et al., 2020)
O teste de Morisky-Green é um questionário referente a avaliação do grau em adesão de medicamentos. Ele utiliza critérios de avaliação de cada questão, como: o valor 0, para respostas consideradas negativas, 1, para respostas positivas. Ao final é feito uma soma de toda pontuação, os indivíduos que obtiveram 4 pontos, são considerados mais aderentes e os que obtiveram nota menor ou igual a 3 pontos, menos aderentes. (Bem, Neumann, e Mengue, 2012)
Também foram inseridas questões relacionadas à maleabilidade dos avaliados frente ao momento profissional e pessoal vivido pelos mesmos, para identificar possíveis efeitos relacionados à pandemia da COVID-19.
Para coleta dos dados, inicialmente foi feito um contato com a direção das instituições alvo desta pesquisa, onde foram explanados os objetivos, justificativa e metodologia do estudo. Após a autorização pela instituição, foi realizado contato com os possíveis pesquisados no intuito de apresentar a proposta, justificativa e metodologia do estudo, com espaço para que os mesmos pudessem sanar suas dúvidas. Aqueles que aceitaram participar de forma voluntária da pesquisa, receberam um link para preenchimentos dos questionários.
Devido ao período de pandemia da COVID-19, para segurança dos pesquisadores e dos pesquisados, todos os contatos foram realizados utilizando telefone e/ou e-mail, assim como os questionários que foram transportados para o Google Formulário e disponibilizados para os investigados através de um link para preenchimento.
Todos os dados coletados foram planilhados e realizada uma análise descritiva com valores de média, desvio padrão, porcentagem real e absoluta. Todo procedimento estatístico foi realizado por meio do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 24.0 para Windows.
Resultados
A amostra foi composta por 60 pessoas, na faixa etária de 20 a 59 anos (34,3 ± 9,2 anos), com predomínio do sexo feminino (75,4%) e que trabalhavam na urgência e emergência (31,1%), divididos de forma igual entre profissionais e técnicos de Enfermagem da cidade de Grão Mogol – MG (50%) e Taiobeiras – MG (50%).
Tabela 1. Apresenta os resultados em frequência real e absoluta (n=60)
Variável |
Opções |
N - % |
Adesão
medicamentosa |
Alta Baixa |
39 –
63,9 21 –
36,1 |
Ansiedade |
Ausência Leve Moderada Severa |
22 –
37,7 16 –
26,2 15 –
24,6 7 –
11,5 |
Depressão |
Ausência Leve Moderada Severa |
32 –
54,1 15 –
24,6 10 –
16,4 03 –
4,9 |
Fonte: Os autores
Com relação aos resultados descritos na Tabela 1, pode-se perceber que a maioria dos avaliados (63,3%) possui alta adesão medicamentosa. Na avaliação dos níveis de ansiedade, nota-se que uma parte dos investigados (37,7%) possui ausência de ansiedade, fato positivo, mas ao analisar a soma dos resultados obtidos entre os níveis de ansiedade moderada e severa, é possível constatar a presença de um percentual significativo (36,1%) dos avaliados com a síndrome. Quanto à depressão, um número expressivo do grupo avaliado (78,7%) encontra-se com ausência ou em nível leve de depressão.
Analisando a maleabilidade nos investigados, no que tange à vida profissional, uma minoria apontou que não teve consequências no âmbito profissional, durante o início até o momento da pandemia da COVID-19. Entretanto, um número maior de pesquisados afirmou que houve uma sobrecarga relativa ao aumento nas horas de trabalho devido à pandemia.
No que condiz respeito à vida pessoal, foi verificado que o ponto mencionado com mais frequência foi uma influência negativa no convívio familiar, devido ao isolamento social e o medo de contrair o vírus no ambiente de trabalho e transmitir para os familiares, medo compartilhado com os entes da família. Além dos apontados sentimentos de medo, angústia e insegurança.
Discussão
A partir da análise dos resultados da Tabela 1, pode-se perceber que a maioria dos avaliados possui alta adesão medicamentosa, corroborando com a pesquisa realizada por Vieira et al. (2016), onde demonstra um percentual igualmente alto (70,5%) na afirmação da adesão medicamentosa, sendo (44%) de maneira descontínua e automedicação. O mesmo estudo aponta o número elevado de profissionais fazendo a utilização da automedicação como um meio de alivio do desgaste físico e psíquico devido à sobrecarga de trabalho.
No que se refere aos graus de ansiedade nos avaliados, a somatória dos escores de ansiedade moderada e severa (36,1%) considerada como significativa, estes achados coadunam com os resultados encontrados na pesquisa de Fernandes et al. (2018), realizada com uma amostra de 28 técnicos de Enfermagem do município de João Pessoa-PB, obteve-se o resultado (28,57%) em estado de ansiedade alta. O fato preocupante em ambas estatísticas, que foram realizadas em amostras pequenas e os escores de ansiedade na equipe de Enfermagem terem sido tão relevantes, visto que quando este estado se torna contínuo pode promover perturbações comportamentais, transtornos de medo excessivo, estados desagradáveis de inquietação, tensão e apreensão, podendo repercutir consequências no âmbito profissional quando pessoal. (Novak et al., 2020)
Nos resultados desta pesquisa referentes aos níveis de depressão em profissionais da aérea da Enfermagem, obteve-se em sua maioria a ausência (54,1%) da sintomatologia, assim como o estudo realizado por Pereira et al. (2017), que investigou os níveis de depressão e uso de medicamentos em profissionais da Enfermagem da cidade de Montes Claros-MG, no qual sua maioria (59,3%) não apresentou quadro de depressão.
Em um estudo realizado em um hospital da Barcelona, Erquicia et al. (2020), apontaram que 12,2% dos profissionais da saúde do grupo de avaliação apresentou depressão com intensidade moderada e severa, a mesma difere a este estudo que apresentou um escore maior (21,3%) ao fazer a junção de níveis. Coloca-se em pauta que, a diferença apresentada pode estar relacionada por se tratar de avaliações feitas em países e culturas diferentes.
A depressão é um distúrbio mental que atinge toda a população mundial, dificultando a vivencia diária da própria pessoa com os familiares e amigos. No ambiente hospitalar não é diferente, a saúde psíquica dos profissionais da Enfermagem está diretamente ligada à baixa remuneração, falta de reconhecimento profissional, sobrecarga, relação conflituosa multidisciplinar, risco de contaminação. Esses e outros sinais podem ser o desencadeador de ansiedade e depressão nesse ambiente de trabalho. (Costa, e Gonçalves, 2020)
No que se refere à adesão medicamentosa, o qual obteve-se maior prevalência nesta pesquisa, de acordo Machado, Silva, e Peder (2020) o ambiente de trabalho dos profissionais da Enfermagem propicia a auto prescrição e, até mesmo, a automedicação, devido seu manuseio diário com fármacos. Muitas vezes aderem à utilização de medicamentos como meio de alívio aos sintomas resultante da jornada de trabalho complexa.
Um estudo de Cardoso et al. (2020) realizado com 97 profissionais da Unidade Básica de Saúde (UBS) e Unidade de Pronto Atendimento (UPA), sendo 64 técnicos de Enfermagem e 33 enfermeiros, observou que 70,10% praticaram a automedicação nos últimos 30 dias que antecederam a avaliação. Essa perspectiva vai de encontro à presente pesquisa no que se refere à adesão medicamentosa, com um escore relevantemente alto conforme encontrados nos dados apresentados.
Desse modo, foi possível depreender a partir dos dados que o trabalho da equipe de Enfermagem está diretamente ligado ao sofrimento dos pacientes com COVID-19, isolamento, afastamento da família de maneira física, sedação, intubação e até o processo de luto da família. Assim há uma preocupação com a equipe que presta a assistência a estes pacientes por estarem propícios ao adoecimento psíquico e físico. (Luz et al., 2020)
O presente estudo encontra limitações inerentes ao momento da pandemia da COVID-19 impossibilitando um número amostral maior.
Conclusão
Os resultados encontrados nos permitem concluir que os profissionais da área da Enfermagem se encontram em grande vulnerabilidade por lidarem de forma direta com os pacientes na pandemia da COVID-19, por estarem expostos ao vírus e, consequentemente, julgarem-se possíveis transmissores. As questões envolvidas no ambiente laboral, neste contexto, são consideradas como agravantes para a saúde psíquica e emocional do profissional.
Ficaram evidentes aspectos de grande relevância do processo de labor da Enfermagem frente à referida pandemia e de sinais de ansiedade, depressão e uso de medicamentos, indicando um sofrimento psíquico desses profissionais.
Portanto, torna-se necessário que haja uma política de prioridade quanto à saúde mental desses profissionais, para que possam se desenvolver no meio profissional e pessoal com qualidade, sem que haja a recorrência na utilização de fármacos. Nesse contexto, é visível que profissionais da saúde, colocando-se em evidência os trabalhadores de Enfermagem, sofrem diretamente os impactos causados pela pandemia da COVID-19.
A pesquisa ora desenvolvida, apesar de ter sido realizada com uma quantidade limitada de profissionais de Enfermagem, veio mostrar resultados satisfatórios, pois pôde reafirmar a inclinação de profissionais à adesão de medicamentos e a ansiedade, perante o enfrentamento dessa pandemia.
Por fim, recomendamos a produção de mais pesquisas sobre a temática proposta com vistas a embasar ou não os resultados aqui encontrados.
Referências
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 293, Oct. (2022)