ISSN 1514-3465
Depressão e ansiedade em universitários de Educação
Física na cidade de Montes Claros, MG/Brasil
Depression and Anxiety in University Students of the Physical Education in the city of Montes Claros, MG/Brazil
Depresión y ansiedad en estudiantes universitarios de Educación Física de la ciudad de Montes Claros, MG/Brasil
Wellington Danilo Soares
*wdansoa@yahoo.com.br
Tanielly Nunes Farias
**tanyynunes@gmail.com
Álvaro Parrela Piris
***alvaroparrela@yahoo.com.br
Priscilla Duarte Soares Corrêa
+priscillakdsoares@yahoo.com.br
André Fabricio Pereira da Cruz
++andrefabriciocruz@yahoo.com.br
André Luiz Gomes Carneiro
+++algcarneiro@hotmail.com
*Doutor em ciências da saúde pela Unimontes
Docente no curso de Psicologia
das Faculdades Unidas do Norte de Minas (Funorte)
**Acadêmica do curso de Educação Física da Unimontes
***Mestre em Tecnologia da Informação
Aplicadas a Biologia Computacional - Promove
Docente no curso de Psicologia na Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI)
+Mestre em Enfermagem pela UNIRIO
Coordenadora do curso de Enfermagem
da Universidade Estácio de Sá, Campus Teresópolis, RJ
++Mestre em ciências biológicas com ênfase em microbiologia
pelo programa de pós-graduação em microbiologia na UFMG
Docente no curso de Farmácia na FASI
+++Doutor em ciências do desporto pela UTAD/Portugal
Docente no Departamento de Educação Física e do Desporto na Unimontes
(Brasil)
Recepção: 11/05/2021 - Aceitação: 29/11/2022
1ª Revisão: 12/08/2022 - 2ª Revisão: 26/11/2022
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Citação sugerida
: Soares, W.D., Farias, T.N., Piris, A.P., Corrêa, P.D.S., Cruz, A.F.P. da, e Carneiro, A.L.G. (2023). Depressão e ansiedade em universitários de Educação Física na cidade de Montes Claros, MG/Brasil. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(296), 57-69. https://doi.org/10.46642/efd.v27i296.3020
Resumo
Objetivo: O presente estudo objetivou avaliar a prevalência de ansiedade e depressão em universitários de uma instituição pública do ensino superior da cidade de Montes Claros-MG. Materiais e métodos: A amostra foi composta por 39 universitários, na faixa etária de 20 a 35 anos (23,8 ± 3,4 anos), do curso de Educação Física Licenciatura que se encontravam cursando do 4° ao 8º período no ano de 2020. Como instrumentos, foram utilizados o Questionário de dados socioeconômico, Inventário de Beck de Ansiedade (BAI) e Inventário de Depressão Beck (BDI). Foram feitas análises descritiva e comparativa através do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 24.0 para Windows. Resultados: Na maioria (69,2%) dos universitários pesquisados não foi identificada a depressão, seguidos de sintomas de depressão leve (12,8 %) moderada (7,7%) e grave (10,3%). Também a maioria (43,6%) dos pesquisados não apresentaram sintomas de ansiedade, e com sintomas leve (17,9%), moderada (23,1%) e grave (15,4%). Conclusão: Foi possível verificar que o número de acadêmicos com sintomas de ansiedade foi maior que os sintomas de depressão, assim, faz-se necessária a realização de outros estudos sobre a presente temática, tendo em vista que a porcentagem de problemas psicológicos cresce cada vez mais.
Unitermos
: Depressão. Ansiedade. Alunos.
Abstract
Objective: The present study aimed to evaluate the prevalence of anxiety and depression in university students from a public higher education institution in the city of Montes Claros-MG. Materials and methods: The sample was made up of 39 university students, aged 20 to 35 years (23.8 ± 3.4 years), being evaluated university students of the Physical Education Degree course who were attending the 4th to 8th period. The instruments used were the Socioeconomic Data Questionnaire, Beck Anxiety Inventory (BAI), and Beck Depression Inventory (BDI). Descriptive and comparative analyses were performed using the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) version 22.0 for Windows. Results: In the majority (69.2%) of the researched university students, depression was not identified, followed by symptoms of mild (12.8%) moderate (7.7%) and severe (10.3%) depression. Also the majority (43.6%) of those surveyed had no symptoms of anxiety, and with mild (17.9%), moderate (23.1%) and severe (15.4%).Conclusion: It was possible to verify that the number of academics with symptoms of anxiety was greater than the symptoms of depression, thus, it is necessary to carry out other studies on the present theme, given that the percentage of psychological problems grows more and more.
Keywords
: Depression. Anxiety. Students.
Resumen
Objetivo: El presente estudio tuvo como objetivo evaluar la prevalencia de ansiedad y depresión en universitarios de una institución pública de enseñanza superior del municipio de Montes Claros, MG, Brasil. Materiales y métodos: La muestra estuvo conformada por 39 estudiantes universitarios, con edades entre 20 y 35 años (23,8 ± 3,4 años), de la carrera de Licenciatura en Educación Física, que cursaban del 4° al 8° período en el 2020. Como instrumentos se utilizaron el Cuestionario de Datos Socioeconómicos, el Inventario de Ansiedad de Beck (BAI) y el Inventario de Depresión de Beck (BDI). Los análisis descriptivos y comparativos se realizaron utilizando el Paquete Estadístico para las Ciencias Sociales (SPSS) versión 24.0 para Windows. Resultados: En la mayoría (69,2%) de los universitarios encuestados no se identificó depresión, seguida de síntomas de depresión leve (12,8%), depresión moderada (7,7%) y depresión severa (10,3%). Asimismo, la mayoría (43,6%) de los encuestados no presentaba síntomas de ansiedad, y con síntomas leves (17,9%), moderados (23,1%) y severos (15,4%). Conclusión: Se pudo verificar que el número de académicos con síntomas de ansiedad fue mayor que los síntomas de depresión, por lo que es necesario realizar otros estudios sobre este tema, considerando que el porcentaje de problemas psicológicos crece cada vez más.
Palabras clave
: Depresión. Ansiedad. Estudiantes.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 296, Ene. (2023)
Introdução
O transtorno depressivo é uma das principais causas da inaptidão em todo o mundo. A depressão é destacada como a principal e tende a se tornar a segunda maior carga de doença até 2030. (Leão et al., 2018)
A depressão é um transtorno mental comum em todo o mundo. É categorizada como leve, moderada ou grave e afeta, significativamente, a vida do indivíduo, causando impacto no seu cotidiano e interferindo na capacidade de trabalhar, estudar e no meio familiar. (OMS, 2018)
Para Andrade (2011), a depressão pode surgir nos mais variados casos, como: transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas, ou ainda, situações estressantes ou circunstâncias sociais e econômicas.
A depressão é caracterizada por tristeza ou nervosismo, desinteresse, sentimento de culpa, baixa autoestima, falta de sono ou falta de apetite, fadiga, dificuldades cognitivas e pensamentos recorrentes de morte. (Leão et al., 2018)
Outro transtorno mental comum é a ansiedade, que é uma reação normal do indivíduo ao estresse, sendo descrita de diferentes maneiras como inquietação, dificuldade de se concentrar, falta de sono, fadiga, tremores, dentre outros. Esses sintomas prejudicam a vida pessoal do indivíduo, como, por exemplo, na formação profissional e em estudos. (Fernandes et al., 2017)
Existem diversos tipos de transtornos causados pela ansiedade, dentre eles, destaca-se o Transtorno do Pânico (TP), que se caracteriza pela ocorrência de ataques de pânico inesperadamente (Araújo, e Neto, 2014). Também há o Transtorno de Ansiedade Social (TAS), que acomete as pessoas que possuem sintomas de ansiedade, medo exagerado de serem criticados, humilhados, ou que sejam avaliadas negativamente no meio social (Muller et al., 2015). Além disso, o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TGA), que é um transtorno em que o indivíduo se encontra ansioso por tudo e por qualquer motivo e tem preocupações em excesso sobre diversos acontecimentos do seu dia a dia. (Peluso et al., 2016)
A American Psychiatric Association (2014) reconhece que os transtornos mentais nem sempre se encaixam totalmente nos limites de um só transtorno. Além disso, afirma que alguns dos domínios de sintomas, como os da depressão e ansiedade, envolvem diversas categorias e podem refletir um grupo maior de transtornos. Muitos deles se desenvolvem na infância e, caso não sejam tratados, tendem a persistir, sendo que a maior incidência destes transtornos se dá em indivíduos jovens e do sexo feminino.
A World Health Organization (WHO, 2017) publicou um relatório mundial onde aponta o aumento de 18,4% nos casos de depressão, entre os anos de 2005 até 2015 e confirma, ainda, que a patologia afeta 322 milhões de pessoas. Quase metade dessas pessoas vivem na Região do sudeste da Ásia e Região do Pacífico Ocidental, sendo a maioria do sexo feminino. As taxas de prevalência variam de acordo com idade, com o pico na idade adulta em mais idosos (acima de 7,5% entre as mulheres com idades entre 55-74 anos e acima de 5,5% entre os homens).
A depressãoacomete crianças e adolescentes com idade inferior a 15 anos. No Brasil, 5,8% da população, que representa 11,5 milhões de pessoas, têm depressão, sendo o quinto país com mais casos desta síndrome no mundo.
Já com relação à ansiedade, 9,3% da população (18,6 milhões de brasileiros) apresentam essa doença, tornando o Brasil o país com a maior taxa deste transtorno no mundo. (WHO, 2017)
Vasconcelos et al. (2015) destacam que há um grande número de estudantes universitários que apresentam algum tipo de transtorno mental durante a sua estadia na formação profissional. Dentre esses universitários, os que apresentam elevados índices são, justamente, a depressão e a ansiedade. Isso pode desencadear, nesse grupo, baixo desempenho acadêmico, além da maior incidência de problemas físicos e emocionais a médio e longo prazo, marginalização do mercado de trabalho, pior qualidade do sono e relacionamentos disfuncionais somado a todo o sofrimento psicológico entrelaçado a essas questões. (Ramón-Arbués et al., 2020)
Os universitários estão vulneráveis a sofrer algum tipo de problema psicológico como ansiedade e depressão (Toti et al., 2018). Além disso, destaca-se a pandemia, causada pelo coronavírus (COVID-19), iniciada no final de 2019 e que trouxe consigo muitos receios e apreensões, colaborando para a elevação desses transtornos.
Diante desse cenário, o presente estudo teve como objetivo avaliar a prevalência da ansiedade e depressão em universitários de uma instituição pública do ensino superior da cidade de Montes Claros-MG no mês de agosto de 2020.
Esse estudo se torna relevante, pela possibilidade de verificar o real quadro de depressão e ansiedade no meio universitários, em especial na Educação. A partir do conhecimento da prevalência da ansiedade e depressão será possível identificar se existe ou não a necessidade de uma intervenção no qual possa melhorar a qualidade de vida destes alunos.
Materiais e métodos
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM, sob o parecer nº 3.779.140/2019. Trata-se de uma pesquisa de natureza quantitativa, descritiva, comparativa e transversal.
O grupo amostral foi composto por 39 universitários, com idade igual ou superior a 18 anos, ambos os sexos, selecionados de forma aleatória, matriculados e frequentes no curso de Educação Física Licenciatura de uma universidade pública estadual da cidade de Montes Claros, MG. Foram incluídos todos os que aceitaram participar de forma voluntária da pesquisa, sendo excluídos aqueles que não responderam integralmente o questionário.
Para caracterização da amostra, foi utilizado um questionário de dados socioeconômico, o qual é um instrumento utilizado para coleta de informações sobre alguns aspectos da vida do indivíduo.
Para mensurar os níveis de ansiedade, foi utilizado o Inventário de Beck de Ansiedade (BAI). O inventário BAI é composto por 21 itens, que abrangem os sintomas frequentes de ansiedade, sendo esses itens pontuados de 0 a 3 e quanto mais alta a pontuação, mais grave os sintomas (Cunha, 2001), sendo os investigados classificados em níveis de ansiedade: ausência, leve, moderada ou severa, dependendo do score atingido.
Na avaliação da depressão, foi utilizado o Inventário de Depressão Beck (BDI). O inventário BDI é composto por 21 itens que mensuram sintomas relacionados à depressão. Cada item é pontuado de 0 a 3, no qual a presença de depressão é considerada a partir da pontuação 18. O questionário foi validado e traduzido para versão portuguesa (Cunha, 2001), sendo os pesquisados classificados em níveis de ansiedade: ausência, leve, moderada ou severa, dependendo da pontuação atingida.
Inicialmente, solicitou-se a realização da pesquisa junto à coordenação do curso de Educação Física, sendo, dessa forma, oficializada através da assinatura do Termo de Concordância da Instituição - TCI. Em seguida, foi feito um contato com os universitários que se enquadraram nos critérios de inclusão e exclusão. Aqueles que aceitaram participar de forma voluntária da pesquisa, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE. Após os termos estarem regularizados, foram aplicados os questionários, no mês de agosto de 2020.
Devido à pandemia da COVID-19, todos os contatos foram através de mídias digitais e aplicação dos questionários via e-mail, utilizando o recurso do Google Forms, para segurança dos pesquisados e pesquisadores.
Os dados coletados foram tratados com auxílio do software Statistical Package for Social Science- SPSS, versão 24.0 para Windows. Assim, foi realizada uma estatística descritiva com valores em porcentagem real e absoluta.
Resultados
Participaram estudo 39 alunos na faixa etária de 20 a 35 anos (23,8 ± 3,4 anos), com predomínio do sexo feminino (64,1%), do 4º ao 8º período, sendo a maioria participante do 8º período (43,6%) e do turno noturno (59%).
Tabela 1. Resultados encontrados das variáveis
pesquisadas com valores em frequência real e absoluta (n = 39)
Variável |
Opções |
N
- % |
Adesão
medicamentos |
Adesão Não
adesão |
17 -
43,6 22 -
56,4 |
Ansiedade |
Ausência Leve Moderada Grave |
17 -
43,6 7 -
17,9 9 -
23,1 6 -
15,4 |
Depressão |
Ausência Leve Moderada Grave |
27 -
69,2 5 -
12,8 3 -
7,7 4 -
10,3 |
Fonte: Dados da pesquisa
O percentual da não adesão a medicamentos é superior a adesão (56,4), evidenciando que o percentual de pessoas que não têm um devido controle com o uso de medicamentos é maior.
Na maioria (69,2%) dos universitários pesquisados não foi identificada a depressão, da mesma a maioria (43,6%) dos pesquisados não apresentaram sintomas de ansiedade.
Os resultados da ansiedade, comparados com os da depressão, são maiores. Esses resultados foram variados em ansiedade leve, moderada e grave, e 43,6 dos universitários não apresentaram algum tipo da ansiedade.
Discussão
Os resultados apontaram um predomínio do sexo feminino (64,1%,). Todos os acadêmicos estavam dentro dos critérios de inclusão que foram atribuídos e foi escolhido utilizar essa divisão uma vez que estudos mostram uma maior prevalência de problemas psicológicos em mulheres (Neves. e Dalgalarrondo, 2007; OMS, 2017). Tal prevalência no público feminino pode ser explicada na medida em que, segundo Fauzi et al. (2021),vários fatores de risco, os quais incluem a pressão para ter sucesso e a incerteza de futuro após a graduação afetarem mais estudantes do sexo feminino.
Além diferenças hormonais e bioquímicas subjacentes entre homens e mulheres que podem influenciar a saúde mental. Ainda de acordo com Fauzi et al. (2021), fadiga e má qualidade do sono são fatores de risco para depressão, os quais se associam ao Burnout no ambiente acadêmico, devido ser um ambiente que muitas vezes leva ao estresse pelo excessivo número de trabalhos e provas.
Ainda, de acordo com Çelik et al. (2019), estudantes com baixo desempenho acadêmico, situação econômica ruim, tabagismo ou uso de álcool, doenças crônicas ou problemas mentais são mais propensos a sofrerem depressão.
Na avaliação dos níveis de depressão pode-se verificar que a maioria apresentou ausência de depressão (69,2%), apesar que uma parte (18%) apresentou depressão, somando moderada a grave. Ainda que este número seja mais baixo do que o normalmente citado na literatura internacional, pode ser considerado preocupante. A American Psychiatric Association (2014), Botega et al. (1995) e Nayak et al. (2021) afirmam que a existência destes sintomas aponta que estes indivíduos deveriam receber assistência tanto dos centros estudantis quanto assistência médica, bem como terem seus sintomas avaliados de uma forma mais profunda, a fim de confirmar o diagnóstico e implementar estratégias de tratamento subsequentes.
Os resultados encontrados na pesquisa quanto aos índices de depressão, moderadas e graves, foram similares os resultados encontrados por Simić-Vukomanović et al. (2016). As comparações entre esses sintomas de depressão devem ser realizadas com cuidado, pelo fato de que muitos instrumentos e metodologias são colocados neste tipo de estudo e com diferentes procedimentos de coleta de dados. Essa diferenciação nos métodos e número amostral podem demonstrar diferenças entre pesquisas.
Quanto à ansiedade, 22 dos 39 (56,4%) alunos também demonstraram algum sintoma de ansiedade, seja leve, moderado ou grave, esses resultados encontrados na pesquisa comprovam, de acordo Brandtner, e Bardagi (2009), que o ambiente universitário promovem um quadro de instabilidade e sofrimento psicológico aos alunos.
Em relação à idade dos avaliados com ansiedade, a maioria tinha idade inferior a 30 anos diferente da pesquisa realizada por Fernandes, e Souza (2009), com 252 universitários, que encontrou maiores números de estudantes com ansiedade, o que pode ser justificado por jovens adultos serem mais propensos a ter ansiedade.
Verifica-se que apesar de os estudantes passarem por esses períodos de maior sofrimento psíquico, muitas vezes, eles não têm acesso ou não procuram um apoio psicológico especializado e psiquiátrico para acompanhar e tratar os transtornos mentais (Piva, 2022). Na pesquisa realizada, obteve-se uma relação entre a adesão e não adesão de medicamentos de: 22 universitários (56,4) que não têm essa adesão medicamentosa e 17 (43,6) têm a adesão. Segundo Arruda et al. (2015), a adesão ao tratamento medicamentoso pode ser entendida como o uso, de no mínimo 80%, do total dos medicamentos, sendo relacionado com diferentes fatores como horário, dose e duração do tratamento. O uso errado dos medicamentos, a subutilização, o uso irracional ou não utilização total dos medicamentos são condições de não adesão ao tratamento medicamentoso.
Foi verificado ainda que a maioria dos participantes da pesquisa não possuem adesão medicamentosa. Corroborando com nossos achados, estudo realizado por Souza, e Kopittke (2016), demonstraram que a minoria dos investigados possuíam adesão medicamentosa, principalmente por medo de efeitos ao contrário, medo de depender do medicamento e, também, a falta de comunicação com o médico que prescreveu o medicamento.
Com relação aos resultados baixos no que tange a depressão e a adesão de medicamentos em uma pesquisa feita por Ibanez et al. (2014), para os pacientes, eles experimentavam a insatisfação com os efeitos dos medicamentos porque consideravam limitados e desgastantes. O resultado dos medicamentos foi considerado limitado quando não era suficiente para acabar ou diminuir os sintomas da depressão. Independente dos pontos negativos que os participantes da pesquisa falaram ter nesse mesmo estudo, houve baixa taxa de não adesão entre esses participantes do estudo.
Já com relação aos níveis de ansiedade e depressão por períodos e uso de medicamentos, nos achados de Fond et al. (2020), demonstraram que estudantes, em especial do primeiro ano de faculdade, os quais enfrentam maiores desafios relacionados ao estudo consomem mais antidepressivos e ansiolíticos. Diferente da pesquisa feita por Nalçakan et al. (2022), no qual concluíram que estudantes do primeiro ano em comparação aos alunos de anos superiores possuem maior estigma e preconceito ao uso de antidepressivos e à depressão, tais relações não foram constatadas no nosso estudo.
Outro fator contribuinte para disseminação da ansiedade na sociedade refere-se à pandemia da COVID-19, na qual muitas pessoas tiveram que se adaptar nas diversas esferas da vida: hábitos pessoais e convívio familiar, trabalho, faculdade, economia e lazer. Assim, diante da rápida reinvenção para adequar-se ao novo, o índice de ansiedade aumentou. Exemplo disso, foram os professores e alunos nos cursos de educação física em faculdades e universidades que precisaram substituir o ensino presencial pelo ensino remoto de forma rápida e segura. Dessa forma, muitos foram os desafios e incertezas para com as novas ferramentas tecnológicas e ensino, sendo necessário a criação de novas ações que pudessem promover ensino e aprendizagem, possibilitando, mesmo que a distância, transmissão de conhecimento, e todo este ambiente corroborou para um aumento dos quadros de ansiedade atualmente (Godoi et al., 2020).
Segundo Morris et al. (2021), a proporção de estudantes universitários que tomam medicamentos psiquiátricos de todas as categorias aumentou na última década. É fato que alunos estão cada vez mais propensos a usar mais de um tipo de medicação psiquiátrica e serem tratados por profissionais de saúde com maior frequência. Tais dados se mostram preocupantes, do ponto de vista correlacionado à saúde mental dos acadêmicos.
O estudo apresenta a limitação inerente de uma pesquisa com desenho transversal, pela impossibilidade de se estabelecer uma relação causa-efeito. Também pela pandemia da COVID-19, que influenciou de forma preponderante de não conseguir um número maior da amostra.
Conclusão
Os resultados nos permitem concluir que a prevalência de sintomas de ansiedade foi superior aos sintomas de depressão nos estudantes de Educação Física.
Por fim, recomenda-se a produção de novas pesquisas que possam embasar ou não os resultados aqui encontrados, inclusive pesquisas com desenho experimentais que possam estabelecer uma relação de causa e efeito.
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