Avaliação das escolhas alimentares de adolescentes na merenda escolar
Evaluation of food choices of teenagers in school lunch
Evaluación de las opciones alimentarias de adolescentes en la merienda escolar
Kelly Mayumi Isizuka*
Letícia Carvalho Nogueira Sandoval*
Naiana Silva Pereira Batista*
Renata Furlan Viebig**
Juliana Masami Morimoto***
kellyisizuka@gmail.com
*Graduanda do curso de Nutrição
da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo
** Nutricionista, Mestre em Saúde Pública pela FSP/USP
Doutora em Medicina Preventiva pela FMUSP
Docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie
e do Centro Universitário São Camilo
*** Nutricionista, Mestre em Saúde Pública pela FSP/USP
Doutora em Ciências pela FSP/USP
Docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie
(Brasil)
Recepção: 22/11/2017 - Aceitação: 16/12/2017
1ª Revisão: 14/12/2017 - 2ª Revisão: 14/12/2017
Resumo
Introdução: Os adolescentes apresentam desequilíbrios nutricionais decorrentes de diversas mudanças, como o aumento da massa corporal, crescimento e maturação sexual, as quais afetam seu comportamento alimentar, podendo levar à obesidade e doenças crônicas. Objetivo: Avaliar características do consumo de alimentos realizado por adolescentes durante o intervalo das aulas em uma escola estadual da cidade de Suzano, SP, Brasil. Metodologia: A observação foi feita na escola, por estudantes de Nutrição, que anotaram se os lanches foram levados de casa, comprados na cantina ou se os alunos optaram pela merenda escolar gratuita. Foi observado se os alunos estavam realizando a refeição sozinhos ou em grupo. As variáveis foram analisadas por meio de sua distribuição percentual. O projeto foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Resultados: Foram observados os lanches de 30 alunos adolescentes e apenas 26,7% preferiram consumir a merenda gratuita preparada na escola. A maioria dos alunos optou pelos alimentos oferecidos na cantina (n=21). Além disso, 76,6% estavam em companhia de outro indivíduo durante a refeição (n=23), o que possivelmente pode ter influenciado suas escolhas. Apenas um aluno optou por consumir um alimento mais rico em fibras e com menor densidade energética no lanche (barra de cereal). A preferência de metade dos alunos foi por salgados assados, comprados na cantina da escola (n=16). Conclusão: Os alimentos ingeridos no lanche escolar eram ricos em gordura, açúcar e sódio. Observou-se que cantina escolar observada apresentava grande oferta de produtos de alta densidade calórica e pobres em nutrientes.
Unitermos: Adolescentes. Alimentação escolar. Frutas. Guloseimas. Merenda escolar.
Abstract
Introduction: Teenagers have nutritional imbalances due to several changes, such as increased body mass, growth and sexual maturation, which affect your eating behavior, which can lead to obesity and chronic diseases. Objetivo: To evaluate the characteristics of food intake conducted by adolescents during the break between classes in a public school in the city of Suzano, SP, Brazil. Methodology: The nutrition students made the remarks at school who noted that the snacks were taken home, bought in the cafeteria or if students opted for free school meals. It was observed if the students were performing the meal alone or in group. The variables were analyzed by their percentage distribution. The project was approved by the Ethics Committee of Universidade Presbiteriana Mackenzie. Results: The snacks of 30 adolescents students were observed and only 26.7% preferred to consume the free lunch prepared at school. Most of the students opted for the food offered in the cafeteria (n = 21). Furthermore, 76.6% were in company with another individual during the meal (n = 23), which may possibly have influenced their choices. Only one student chose to consume more food rich in fiber and lower energy density in snack (cereal bar). The preference of half of the students was a savory baked goods, purchased in the school canteen (n = 16). Conclusion: The foods eaten in the school lunch were high in fat, sugar and sodium. It was observed that school meals had observed wide range of products of high caloric density and low in nutrients.
Keywords: Adolescents. School feeding. Fruits. Junk foods. School lunch.
Resumen
Los adolescentes presentan desequilibrios nutricionales derivados de diversos cambios, como el aumento de la masa corporal, crecimiento y maduración sexual, que afectan su comportamiento alimentario, pudiendo llevar a la obesidad y enfermedades crónicas. Objetivo: Evaluar características del consumo de alimentos realizado por adolescentes durante el intervalo de las clases en una escuela estatal de la ciudad de Suzano, SP, Brasil. Metodología: La observación fue hecha en la escuela, por estudiantes de Nutrición, que anotaron si los alimentos fueron llevados de casa, comprados en la cantina o si los alumnos optaron por la merienda escolar gratuita. Se observó que los alumnos consumían la comida por sí solos o en grupo. Las variables fueron analizadas por medio de su distribución porcentual. El proyecto fue aprobado por la Comisión de Ética en Investigación de la Universidad Presbiteriana Mackenzie. Resultados: Se observaron los bocadillos de 30 alumnos adolescentes y sólo el 26,7% prefirieron consumir la merienda gratuita preparada en la escuela. La mayoría de los alumnos optó por los alimentos ofrecidos en la cantina (n = 21). Además, el 76,6% estaba en compañía de otro individuo durante la comida (n = 23), lo que posiblemente pudo haber influenciado en sus elecciones. Sólo un alumno optó por consumir un alimento más rico en fibra y con menor densidad energética en la merienda (barra de cereal). La preferencia de la mitad de los alumnos fue por salados asados, comprados en la cantina de la escuela (n = 16). Conclusión: Los alimentos ingeridos en la merienda escolar eran ricos en grasa, azúcar y sodio. Se observó que cantina escolar observada presentaba gran oferta de productos de alta densidad calórica y pobres en nutrientes.
Palabras clave: Adolescentes. Alimentación escolar. Frutas. Golosinas. Merienda escolar.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 22, Núm. 235, Dic. (2017)
Introducción
Os adolescentes são os indivíduos que mais apresentam desequilíbrios nutricionais, por terem as suas necessidades energéticas aumentadas nesta fase (Serra Majem, 2003). O período da adolescência compreende a idade entre 10 e 19 anos, durante o qual o adolescente passa por diversas mudanças: intensas transformações físicas, como o aumento da massa corporal, crescimento, definição corporal feminino e masculino, amadurecimento sexual e desenvolvimento psicológico e social. Nessa fase, o estado nutricional é decisivo para a qualidade de vida na maioridade, sendo necessária atenção especial aos nutrientes que desempenham papel fundamental na construção dos tecidos corpóreos, como: proteínas, ferro, cálcio e vitamina A e C (Galisa et al., 2007).
Atualmente, o padrão alimentar dos adolescentes brasileiros é caracterizado, principalmente, pelo consumo exagerado de refrigerantes, açúcares e comidas de preparações rápidas (fast food) e o baixo consumo de frutas e hortaliças (Silva et al., 2012). Isso faz com que o consumo alimentar seja insuficiente ou exagerado, podendo levar à ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), desnutrição, deficiências nutricionais e obesidade (Conceição et al., 2010).
A influência da globalização torna disponíveis muitos alimentos industrializados em supermercados e lanchonetes, devido à sua praticidade, preços acessíveis e grande divulgação do produto por propagandas, o que atrai adolescentes para seu consumo (Bertin et al., 2008; Teixeira et al., 2012). Muitos desses alimentos são considerados como junk foods, como por exemplo, chocolates, sorvetes, açúcares de adição, frituras (batata frita, empanados, pipoca, bacon, hambúrguer), bebidas alcoólicas e refrigerantes. Esses alimentos possuem alto conteúdo energético, elevadas taxas de sódio e/ou açúcar, são ricos em gordura saturada e trans (Salvatti et al., 2011).
O acesso a esses tipos de alimentos pode ocorrer no domicílio, mas também por meio do ambiente escolar, principalmente pela cantina. Portanto, são necessárias medidas para estimular a promoção de hábitos alimentares saudáveis nas escolas, sendo um dos principais locais no qual a prática alimentar se efetua, com a oferta diária de alimentos (Ippolito-Shepherd et al., 2005; Gabriel et al., 2010; Bell; Swinburn, 2004).
Estudos demonstraram que os alimentos das cantinas escolares possuem alto teor energético, de açúcar, gorduras e sal, havendo relação direta com a preferência dos estudantes pelos mesmos. Essa realidade necessita ser modificada, tendo como ação o aumento da oferta de frutas e lanches naturais e a restrição de alimentos e bebidas não saudáveis (OPAS, 1997; Baranowski et al., 2000; Perry et al., 2004; Chapman et al., 2006; Gaglianone et al., 2006).
Segundo o estudo realizado em escolas de ensino fundamental das redes municipal, estadual e particular do município de Florianópolis, no período de 2006, as escolas particulares destacaram-se pela maior comercialização de frutas frescas e saladas de frutas, sanduíches, leite ou produtos derivados e sucos naturais de frutas. Nas cantinas de instituições públicas de ensino, a presença desses produtos ocorreu em menor proporção. No entanto, nas cantinas de escolas particulares, também eram vendidos em grande quantidade produtos não saudáveis como bolos, tortas, balas, doces e chocolates, confeitos e sucos artificiais (Gabriel et al., 2010).
Neste contexto, o objetivo do presente estudo foi avaliar características do consumo de alimentos realizado por adolescentes durante o intervalo das aulas em uma escola estadual do município de Suzano, São Paulo.
Metodologia
Foi realizado um estudo transversal, em uma escola estadual do Estado de São Paulo, por meio de observação do lanche realizado pelos alunos. A população total era de 440 alunos no período da manhã, sendo a amostra do presente estudo composta por 30 adolescentes, com idade entre 15 e 18 anos. Foram analisadas a disponibilidade dos alimentos na cantina escolar e a escolha destes alimentos durante o intervalo das aulas, assim como os alimentos levados de casa.
Para coletar os dados, foi elaborado um instrumento que incluía os tipos de alimentos consumidos, se eles foram levados de casa, comprados na cantina ou oferecidos na merenda escolar, e também foi observado se os alunos estavam realizando a refeição sozinhos ou em grupo. Nenhum estudante foi abordado diretamente durante o estudo.
Após a coleta, a tabulação e análise dos dados foram realizadas no programa Microsoft Excel 2010. Para a análise de dados, os alimentos foram classificados de acordo com a preferência dos alunos, também foram considerados o modo da realização das refeições em relação à presença ou não de companhia, e a escolha dos alimentos do grupo dos salgados.
As variáveis qualitativas foram analisadas por meio de frequências em número absoluto e foram apresentadas através de gráficos.
Esta pesquisa faz parte de um projeto temático aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa para Seres Humanos da Universidade Presbiteriana Mackenzie sob o número CIEP no. N011/04/13. A instituição de ensino foi informada sobre a pesquisa por meio da entrega de uma carta de informação à Instituição e um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) informando o objetivo, método e condições em que a observação foi realizada.
Resultados e discussão
Foram avaliados 30 adolescentes, estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio de uma escola estadual da cidade de Suzano, São Paulo. A faixa etária variou entre 15 e 18 anos, sendo 15 adolescentes do sexo masculino e 15 do sexo feminino.
O intervalo entre as aulas era realizado no período matutino, no horário das 9h30 às 09h50, período no qual foram observadas as escolhas alimentares dos estudantes.
No dia da coleta de dados, a merenda escolar fornecida gratuitamente pela escola foi constituída por arroz, carne com batata, chuchu e salada de tomate, e sem a oferta de quaisquer tipos de bebida ou sobremesa. A cantina, por outro lado, disponibilizava para compra doces (chocolate, bala, pirulito, chiclete, sorvete), sanduíches (lanches no pão francês e hambúrgueres), salgados (pão de queijo, coxinha, croissant, esfiha, pão de batata, enroladinho, “hamburgão”), bolacha recheada, salgadinho de pacote e bebidas (sucos artificial, natural e à base de soja, além de água mineral). Não foi observada a disponibilidade de frutas, barras de cereal, cereal matinal e bebidas lácteas na merenda do refeitório da escola e nem na cantina.
Outras pesquisas corroboram com a grande oferta de alimentos com alta densidade energética nas cantinas escolares, caracterizando uma realidade que deve ser modificada, sendo a escola um local com grande influência na formação dos hábitos alimentares de seus estudantes e que deveria contribuir para a promoção de uma alimentação saudável (Perry, 2004; Chapman, 2006).
A escolha dos estudantes em relação ao consumo da merenda escolar, aquisição de alimentos na cantina ou alimentos levados de casa está representada no Gráfico 1.
Gráfico 1. Distribuição dos estudantes, segundo as opções de alimentos consumidos
no intervalo de uma escola estadual de Suzano, de acordo com o gênero
Embora seja planejada e oferecida gratuitamente pela escola, apenas 26,6% (n=8) dos alunos optaram por consumir a merenda escolar, provavelmente pela constituição de alimentos característicos de uma refeição de almoço e não de um lanche da manhã, a qual seria mais adequada de acordo com o horário do intervalo (9h30 às 9h50). Outra hipótese para este resultado seria a constituição da merenda escolar por produtos congelados ou enlatados, considerados menos agradáveis ao paladar se comparados a alimentos frescos.
Dentre os 21 adolescentes (70%) que optaram pela aquisição dos alimentos disponíveis na cantina escolar, notou-se um número considerável (n=8) de adolescentes que adquiriram refrigerantes, considerados bebidas com alto teor de açúcar. O consumo dos alimentos que constituem o grupo dos salgados foi caracterizado como escolha por um total de 16 adolescentes, sendo possível verificar a preferência por salgados assados em detrimento aos fritos, sendo este considerado um aspecto positivo, já que o modo de preparo pode elevar ainda mais o teor de gordura dos alimentos, como as frituras.
Apenas um adolescente, do sexo feminino, optou por levar o lanche de casa (barra de cereal), sendo considerado saudável, por conter menores quantidades de açúcar, sódio e gordura, além de maior quantidade de fibras e menor densidade energética, quando comparado aos lanches dos demais alunos.
Houve um estudo semelhante em Barueri, São Paulo, para verificar a influência da escola sob a alimentação dos alunos, no qual também se observou a prevalência de aquisição de alimentos da cantina escolar (81,5%), principalmente de doces (72,1%), salgados (54,2%), salgadinhos (28,4%) e refrigerantes (22,1%) (Ochsenhofer et al., 2006). Estes resultados e os achados do presente estudo corroboram para a importância da disponibilidade de alimentos mais saudáveis na cantina escolar.
Segundo Quaioti (2006), a preferência dos escolares em consumir alimentos oferecidos na cantina está fundamentada na disponibilidade de alimentos considerados mais agradáveis ao paladar, por conterem altos teores de açúcar, sódio e gordura. No entanto, o consumo destes pode contribuir para o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade, e posteriormente, para o surgimento das DCNTs.
A adolescência é comumente caracterizada pelo alto consumo de alimentos considerados junk foods, guloseimas (doces e balas), refrigerantes e lanches não saudáveis. Porém, esse padrão alimentar é preocupante, podendo desencadear futuramente diversos problemas de saúde, sendo necessária uma intervenção no presente momento para assegurar a promoção da alimentação saudável nas escolas (World Health Organization, 1995; Veiga, 2004).
O Gráfico 2 representa o modo de realização das refeições, caracterizado pela presença ou não da companhia de outros adolescentes.
Gráfico 2. Distribuição dos estudantes, segundo o modo de realização das refeições
no intervalo de uma escola estadual de Suzano, de acordo com o gênero
O comportamento alimentar é determinado por diversos fatores, sendo influenciado, principalmente nas fases da infância e adolescência, pela mídia, família e amigos (Priore, 1998; Gambardella, 1999). A predominante realização das refeições em companhia de outros estudantes (76,6%) pode ter exercido papel fundamental sob as escolhas alimentares.
Conclusão
A maioria dos alunos optou pelos alimentos oferecidos na cantina ou levados de casa em detrimento aos oferecidos pela merenda escolar. O não consumo da merenda escolar pode ocasionar o desperdício de recursos público, além de contribuir para o hábito de uma alimentação inadequada.
Uma alimentação equilibrada e adequada na fase da adolescência é fundamental para o seu crescimento e desenvolvimento saudáveis. No presente estudo, grande parte dos alunos apresentou uma dieta composta por alimentos ricos em gordura, açúcar e sódio, sendo eles principalmente os salgados de cantina, os doces e os refrigerantes.
Sendo a cantina a principal fonte de acesso aos alimentos no ambiente escolar, e de preferência pelos adolescentes, deveria tornar-se um espaço de reforço e de estímulo para a prática de hábitos alimentares saudáveis. No entanto, a cantina escolar observada ofertava uma grande quantidade de produtos de alta densidade calórica e baixa quantidade de nutrientes, fator que garantiu a prevalência de um alto consumo de produtos não saudáveis.
Referências
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