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ISSN 1514-3465

 

Efeitos da suplementação aguda de cafeína na frequência cardíaca de 

atletas e desportistas. Uma revisão sistemática em estudos de endurance

Effects of Acute Caffeine Supplementation on Heart Rate in Athletes 

and Sportspeople. A Systematic Review in Endurance Studies

Efectos de la suplementación aguda con cafeína sobre la frecuencia cardíaca 

de atletas y deportistas. Una revisión sistemática en estudios de resistencia

 

Reginaldo José Carlini Junior*

reginaldo.carlini@ufpe.br

Silvia Alves da Silva**

silvia.asilva@ufpe.br

 

*Formação em Nutrição pelo Centro Universitário dos Guararapes (UNIFG)

Especialista em Fisiologia do Exercício e Mestrando do Programa de Pós Graduação

em Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

**Graduada, Mestra e Doutora em Nutrição (UFPE)

Professora do Núcleo de Nutrição do Centro Acadêmico de Vitória (CAV)

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

(Brasil)

 

Recepção: 16/04/2021 - Aceitação: 18/06/2022

1ª Revisão: 25/04/2022 - 2ª Revisão: 14/06/2022

 

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Citação sugerida: Carlini Junior, R.J., e Silva, S.A. da (2022). Efeitos da suplementação aguda de cafeína na frequência cardíaca de atletas e desportistas. Uma revisão sistemática em estudos de endurance. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(291), 182-196. https://doi.org/10.46642/efd.v27i291.2980

 

Resumo

    A cafeína é uma substância utilizada como recurso ergogênico por atletas e desportistas. Por ter atuação no Sistema Nervoso Autônomo, um de seus principais mecanismos de ação é o antagonismo frente aos receptores de adenosina. Esse antagonismo resulta na estimulação do sistema simpático e, consequentemente, na liberação de catecolaminas, que por ter reflexos estimulatórios, eleva os níveis de frequência cardíaca. O objetivo deste estudo de revisão foi verificar os efeitos da suplementação aguda de cafeína na frequência cardíaca de atletas e desportistas nos esportes de resistência física. Foram encontrados 251 artigos a partir de uma busca em cinco bases de dados: portal de periódicos CAPES, Pubmed, Lilacs, Scielo e Google Acadêmico. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, 9 artigos foram selecionados e fizeram parte da análise final. Os resultados demonstraram que alguns fatores, independente da dosagem utilizada, são determinantes para os indivíduos apresentar comportamentos diferentes em relação a frequência cardíaca. Dentre os fatores, destaque para os diferentes protocolos de treino, níveis de metabolização e de condicionamento dos participantes.

    Unitermos: Cafeína. Efeito ergogênico. Resistência física. Frequência cardíaca.

 

Abstract

    Caffeine is a substance used as an ergogenic resource by athletes and sportsmen. As it acts on the Autonomic Nervous System, one of its main mechanisms of action is antagonism against adenosine receptors. This antagonism results in stimulation of the sympathetic system and, consequently, in the release of catecholamines, which, as they have stimulatory reflexes, increase heart rate levels. The aim of this review study was to verify the effects of acute caffeine supplementation on the heart rate of athletes and sportsmen in physical endurance sports. 251 articles were found from a search in five databases: CAPES, Pubmed, Lilacs, Scielo and Google Scholar journals portal. After applying the inclusion and exclusion criteria, 9 articles were selected and were part of the final analysis. The results showed that some factors, regardless of the dosage used, are determinant for individuals to present different behaviors in relation to heart rate. Among the factors, emphasis is given to the different training protocols, levels of metabolism and conditioning of the participants.

    Keywords: Caffeine. Ergogenic effect. Physical endurance. Heart rate.

 

Resumen

    La cafeína es una sustancia utilizada como recurso ergogénico por atletas y deportistas. Al actuar sobre el Sistema Nervioso Autónomo, uno de sus principales mecanismos de acción es el antagonismo frente a los receptores de adenosina. Este antagonismo da como resultado la estimulación del sistema simpático y, en consecuencia, la liberación de catecolaminas que, al tener reflejos estimuladores, aumentan los niveles de frecuencia cardíaca. El objetivo de este estudio de revisión fue verificar los efectos de la suplementación aguda con cafeína sobre la frecuencia cardíaca de atletas y deportistas en deportes de resistencia física. Se encontraron 251 artículos a partir de una búsqueda en cinco bases de datos: CAPES, Pubmed, Lilacs, Scielo y el portal de revistas Google Scholar. Después de aplicar los criterios de inclusión y exclusión, fueron seleccionados 9 artículos que formaron parte del análisis final. Los resultados mostraron que algunos factores, independientemente de la dosis utilizada, son determinantes para que los individuos presenten comportamientos diferentes en relación a la frecuencia cardíaca. Entre los factores, destacamos los diferentes protocolos de entrenamiento, niveles de metabolismo y acondicionamiento de los participantes.

    Palabras clave: Cafeína. Efecto ergogénico. Resistencia física. Frecuencia cardiaca.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 291, Ago. (2022)


 

Introdução 

 

    A prática de exercícios físicos, quando realizados de forma contínua, pode proporcionar importantes benefícios para a saúde. Sendo assim, observa-se um quantitativo cada vez maior de pessoas, das mais diversas idades, que a partir da realização de algum tipo de prática esportiva, buscam otimizar a qualidade de vida ou ter alguma realização pessoal. Povea, e Cabrera (2018), ressaltaram que a regularidade na prática da atividade física é um fator de proteção contra o desenvolvimento de doenças crônicas como, por exemplo, insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana e hipertensão.

 

    Existe uma série de exercícios que podem ser realizados a se considerar os níveis de condicionamento e motivação de cada um e, também, as opções de espaço. Os exercícios de endurance, caracterizados por média e longa duração e baixa intensidade como, por exemplo, a corrida e o ciclismo, quando praticados com uma devida orientação, proporcionam importantes benefícios para a saúde. Esses exercícios também são caracterizados por ter o predomínio do metabolismo aeróbio. São observadas respostas positivas na ótica da hemodinâmica como, por exemplo, reduções da Frequência Cardíaca (FC) de repouso e da Pressão Arterial (PA).

 

    Alguns atletas e desportistas, das mais diferentes modalidades, com o objetivo de alcançar melhores desempenhos, vêm recorrendo ao uso de recursos ergogênicos. Nesse contexto, merece destaque a utilização de suplementos esportivos que são utilizados com vistas a melhorar a performance. Um dos principais suplementos utilizados pelos praticantes de endurance é a cafeína. Conforme Valério (2018) e Silvestre, Pereira, e Gianoni (2018), no meio esportivo, a cafeína é uma substância, comumente, utilizada como recurso ergogênico por atletas e desportistas que almejam otimizar o desempenho.

 

    A possibilidade de aumentar o rendimento através de seu uso, direciona praticantes de diferentes modalidades esportivas, incluindo corredores, ciclistas e de esportes coletivos com características intermitentes ao consumo da cafeína. Cormano et al. (2019) destacaram uma otimização na performance, tanto em atividades de endurance, com predomínio na via aeróbia, quanto em atividades de alta intensidade, com predomínio anaeróbio. A fim de otimizar a performance, atletas e desportistas utilizam de forma aguda a cafeína, previamente, à realização de exercícios físicos. (Gonzaga, 2017)

 

    A se considerar os mecanismos de ação a respeito de seus efeitos ergogênicos, merecem destaque as alterações na percepção subjetiva de esforço e dor, e a economia de glicogênio muscular, devido a mobilização de ácidos graxos livres (Valério, 2018). Os efeitos ergogênicos da cafeína nas atividades de endurance são bem definidos na literatura. Gonzaga (2017) e Silvestre, Pereira, e Gianoni (2018), ressaltaram que a cafeína promove, em modalidades de endurance, melhorias no desempenho físico devido aos seus mecanismos de ação. Silva (2017) afirmou que em alguns estudos intermitentes de alta intensidade, os resultados apresentados foram positivos após uso da cafeína enquanto que outros não reportaram melhoras.

 

    Dentre os seus principais mecanismos de ação, também merece destaque a atuação da cafeína no Sistema Nervoso Autônomo (SNA), ao agir como antagonista dos receptores de adenosina. Esse antagonismo, mediante ativação do sistema simpático com posterior liberação de catecolaminas, tem reflexos estimulatórios como, por exemplo, os aumentos PA e da FC, da taxa metabólica e da diurese. Gonzaga (2017) e Cormano et al. (2019), afirmaram que o bloqueio da ação da adenosina provoca sintomas como elevação da PA e taquicardia. Os sintomas descritos são decorrentes da ativação do SNA simpático ao liberar descargas de adrenalina e noradrenalina no plasma com possíveis repercussões no coração e no sistema vascular.

 

    Ortigosa et al. (2018), ressaltaram que a liberação de adrenalina e noradrenalina pelo sistema nervoso simpático resulta no aumento da FC e que a liberação de acetilcolina produz uma diminuição. Fernández et al. (2017) e Nieto-Jimenez et al. (2020), deixaram claro que a Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC) ocorre pelo fato de os sistemas simpático e parassimpático atuarem em demandas e dinâmicas diferentes. Nieto-Jimenez et al. (2020), ressaltaram que a relação entre os sistemas simpático e parassimpático pode ser útil para mensurar a VFC.

 

    Após sua absorção, a cafeína alcança o seu pico de concentração plasmática entre 30 e 120 minutos, e possui uma meia vida aproximada entre 5 e 6 horas (Valério, 2018). Vitale, e Getzin (2019) recomendaram uma dose de 3-6 mg/kg 30-90 minutos antes do exercício de endurance para os efeitos serem observados. No entanto, os autores deixaram claro que doses acima de 9 mg/kg não melhoram ainda mais o desempenho e podem ocasionar efeitos colaterais indesejáveis.

 

    As repercussões hemodinânicas com o uso da cafeína na prática de exercícios físicos são, amplamente, retratadas na literatura. No entanto, as doses da substância, o uso crônico e/ou agudo, as concepções interindividuais e as intensidades de treino, dão margem para questionamentos a qual, ainda, apresentam um nicho de estudo para este suplemento ergogênico.

Soares (2015) sugeriu que alterações na PA e na FC, estão relacionadas ao aumento na atividade nervosa simpática após o consumo da cafeína. Wierzejska (2016) e Xie et al. (2018), ressaltaram o quão é bem documentado o efeito na pressão arterial com o uso agudo da cafeína. No entanto, ainda são controversos os efeitos na pressão arterial com o uso habitual de cafeína, como afirmaram Xie et al. (2018). Também, são inconclusivos os estudos relacionados quanto ao uso da cafeína e alterações na FC. Zuchinali (2016), afirmou que, em estudos com metodologias semelhantes, foram observados redução, aumento ou ausência de alteração da FC, o que demonstra uma falta de associação com a cafeína.

 

    A elaboração desse trabalho se justifica pelo fato de as informações colhidas, através de uma revisão de literatura, demonstrarem, a partir de protocolos e/ou metodologias diferentes, os efeitos da suplementação aguda desse suplemento na modulação da FC nas atividades de endurance. Sendo assim, tais informações poderão subsidiar os profissionais habilitados na prescrição aguda de cafeína junto a atletas e desportistas. Também, se justifica pelas lacunas de conhecimento já que os questionamentos existentes no que se referem as particularidades de cada protocolo e aos aspectos individuais quanto a metabolização da cafeína, dificultam chegar a um consenso mais analítico ou realizar determinadas inferências. Outro fato importante é que nenhum dos artigos selecionados teve por objetivo investigar os efeitos da cafeína sobre a FC na modalidade de endurance; esta foi, apenas, uma das variáveis analisadas. O objetivo deste estudo de revisão foi verificar os efeitos da suplementação aguda de cafeína na frequência cardíaca de atletas e desportistas nos esportes de endurance.

 

Métodos 

 

    O artigo apresentado foi elaborado, considerando os aspectos que qualificam uma revisão sistemática. Os artigos foram selecionados entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022, a partir de uma busca em cinco bases de dados: Portal de periódicos CAPES, Pubmed, Lilacs, Scielo e Google Acadêmico. Os descritores utilizados constam no Medical Subject Headings (MeSH) e Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e a busca foi realizada mediante utilização do operador booleano and, através dos descritores: caffeine and exercise performance; caffeine and endurance e caffeine and heart rate.

Foram utilizadas as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses (PRISMA). De acordo com Galvão, Pansani, e Harrad (2015), a recomendação PRISMA, composta por um checklist, com 27 itens, e um fluxograma, de quatro etapas, tem como objetivo auxiliar os autores no desenvolvimento de revisões sistemáticas e meta-análises com uma melhor qualidade.

 

    No processo de busca dos artigos, foram incluídos apenas ensaios clínicos randomizados. Os estudos nos quais a cafeína foi utilizada de forma ergogênica por atletas e desportistas de endurance e a FC foi um dos parâmetros analisados. Outro critério de inclusão foi a utilização do suplemento da cafeína em sua forma anidra. Por sua vez, os seguintes estudos foram excluídos: aqueles nos quais os participantes selecionados apresentavam patologias, associação da cafeína com outro suplemento ergogênico, bebidas energéticas com o uso de cafeína, estudos com modelos animais, além de treinos concorrentes.

 

    Todo o processo de seleção dos estudos foi realizado pelos dois autores desta revisão sistemática. Através de sorteio, cada autor ficou responsável pela seleção em uma das cinco bases de dados. Após determinação dos critérios de inclusão e exclusão, duas planilhas no Excel foram elaboradas para o gerenciamento dos estudos selecionados. Todos os títulos foram elencados na primeira planilha e, posteriormente, segmentados por cores a considerar: estudos repetidos e temas não relacionados. Em seguida, na segunda planilha, foram elencados os títulos dos estudos nos quais tiveram seus resumos lidos. Os resumos e, posteriormente, os 19 artigos, lidos na íntegra, foram, mediante sorteio, divididos entre os autores. Após leitura, um autor realizou ao outro uma apresentação dos artigos até se chegar aos 9 selecionados. Antes da apresentação ficou acordado que os aspectos metodológicos e os resultados seriam apresentados com riqueza de detalhes. Dos estudos que compuseram o quadro final de sínteses, foram extraídas as seguintes informações: autoria e ano, amostra e faixa etária, dose e protocolo, intervenção e resultados.

 

    A Figura 1 retrata toda a estratégia de busca dos 9 artigos que compuseram esta revisão. De forma inicial 251 artigos foram elencados; no entanto, 232 foram excluídos após leitura de seus títulos, sem relação com o tema. Dos 19 artigos restantes, 10 foram excluídos após terem sido lidos em sua totalidade. Os artigos selecionados estão apresentados em um quadro nos quais são descritos as seguintes características: autoria e ano, amostra e faixa etária, dose / protocolo, intervenção e resultados.

 

Figura 1. Estratégia de busca

Figura 1. Estratégia de busca

Fonte: Elaboração própria

 

Resultados 

 

    A busca realizada resultou em trabalhos nos quais a FC foi um dos parâmetros verificados, após a utilização de cafeína por atletas e desportistas da modalidade de endurance. Foram selecionados 9 trabalhos, dos quais: 5 foram selecionados mediante buscas no Pubmed, 3 no Portal CAPES de periódicos e 1 no Google Acadêmico. Os principais resultados são apresentados no Quadro 1.

 

Quadro 1. Artigos publicados sobre o uso de cafeína em exercícios de endurance

Autoria

e ano

Amostra e

Faixa etária

Dose/ Protocolo

Intervenção

Resultados

Stadheim et al., 2021

23 atletas de elite, do sexo masculino, treinados em resistência.

4,5 mg/kg de cafeína ou placebo.

Teste até a exaustão em esteira com inclinação de 10,5°, velocidade inicial de 10,0 km/h e aumento de velocidade de 0,5 km/h a cada 30 segundos.

A cafeína aumentou a FC máxima.

Morales et al., 2020

14 ciclistas treinados, do sexo masculino. Média e desvio padrão de idade de 34,1 ± 4,4 anos.

6 mg/kg de cafeína e placebo.

Contrarrelógio de 16 km. Os ciclistas participaram de 4 estratégias: (1) Placebo e placebo; (2) Placebo e cafeína; (3) Cafeína e cafeína e (4) Cafeína e placebo.

A FC foi maior com cafeína na condição placebo e cafeína (174,01 ± 9,94 vs. 170,6 ± 9,51 bpm), do que com placebo e placebo; e maior na condição cafeína e cafeína (176,01 ± 9,59 vs. 171,49 ± 9,47 bpm), do que com cafeína e placebo.

Ruíz-Moreno et al., 2020

13 voluntários. Média e desvio padrão de idade de 32 ± 6,5 anos.

3 mg/kg de cafeína ou placebo.

2 testes de esforço máximo, graduado em um cicloergômetro, até a fadiga voluntária.

O pico da FC permaneceu inalterado com a cafeína.

Hanson et al., 2019

10 corredores (6 homens e 4 mulheres) de endurance. Média e desvio padrão de idade de 26 ± 9 anos.

3 mg/kg e 6 mg/kg de cafeína e placebo.

Os atletas compareceram ao laboratório três vezes para um teste de 10 km em esteira com uso de 3 e 6 mg/kg de cafeína e placebo.

Não houve alteração significativa na FC média.

Ramos-Campo et al., 2019

15 corredores de meio-fundo, do sexo masculino. Média e desvio padrão de idade de 23,7 ± 8,2 anos.

6 mg/kg de cafeína ou placebo.

4 testes de contrarrelógio de 800 metros em uma pista de atletismo.

Não foram observadas diferenças significativas entre cafeína e placebo na VFC.

Gonzaga et al., 2019

40 voluntários do sexo masculino. Média e desvio padrão de idade de 23,59 ± 3,45 anos.

300 mg de cafeína ou placebo.

30 minutos de exercício moderado em esteira a 60% do VO2 pico. Os voluntários foram divididos em dois grupos, a se considerar valor mediano do VO2 pico.

Os efeitos da cafeína na VFC durante a recuperação do exercício foram mais intensos em indivíduos com menor VO2 máx.

Guest et al., 2018

101 atletas competitivos do sexo masculino. Média e desvio padrão de idade de 25 ± 4 anos.

2 e 4 mg/kg de cafeína e placebo.

Contrarrelógio de ciclismo 10 km.

A FC não apresentou diferenças significativas conforme o genótipo dos participantes.

Gonzaga et al., 2017

32 jovens do sexo masculino. Média e desvio padrão de idade de 23,59 ± 3,45 anos.

300 mg de cafeína ou placebo.

Dois protocolos de exercícios cafeína (15 indivíduos) e placebo (17 indivíduos). Os voluntários, após 15 minutos de repouso foram submetidos a 30 minutos de exercício em esteira, a 60% no VO2 pico.

A cafeína foi capaz de retardar a recuperação do controle da FC parassimpática.

 

Smirmaul et al., 2017

7 homens recreativamente saudáveis. Média e desvio padrão de idade de 29 ± 6 anos.

4 mg/kg de cafeína ou placebo.

Os participantes realizaram testes em hipóxia a uma potência constante por 6 minutos e, depois até a exaustão em um cicloergômetro.

A cafeína aumentou a FC máxima em relação ao grupo placebo.

Fonte: Elaboração própria

 

Discussões 

 

    O trabalho de Stadheim et al. (2021), investigou se a utilização de 4,5 mg/kg de cafeína ou placebo em 23 atletas do sexo masculino, treinados em atividades resistência, aumentaria o consumo máximo de oxigênio VO2 máx. Foram realizados 4 testes durante duas semanas, nos quais os indivíduos, em dois momentos, utilizaram a cafeína e, nos outros dois, o placebo. Os testes, realizados até a exaustão, foram realizados em uma esteira com inclinação de 10,5° e com velocidade inicial de 10 km/h. No entanto, a cada 30 segundos, a velocidade era aumentada em 0,5 km/h. Os testes foram iniciados após 75 minutos da ingestão de cafeína.

 

    Os resultados apontaram aumentos no tempo até a exaustão com o uso da cafeína,e na FC no último minuto do teste de 191 ± 8 para 193 ± 9 bpm. Jodra et al. (2020) apontou evidências de que uma associação entre os efeitos ergogênicos da cafeína com os níveis de treinamento e desempenho dos atletas são escassas e conflitantes.

 

    O estudo de Morales et al. (2020), avaliou se a suplementação de cafeína por quatro dias induziria tolerância aos efeitos ergogênicos promovidos pela ingestão aguda, sobre parâmetros fisiológicos, metabólicos e de desempenho de ciclistas em um teste de contrarrelógio de 16 km. 14 ciclistas treinados, com idade de 34,1 ± 4,4 anos, fizeram uso de 6 mg/kg de cafeína e/ou placebo por 5 dias com vistas a otimizar o desempenho. Foram realizados quatro ensaios experimentais: Placebo e Placebo (PP), Placebo e Cafeína (PC), Cafeína e Cafeína (CC), e Cafeína e Placebo (CP). É importante destacar que, no último dia de testes, a cafeína ou placebo, foram utilizados 60 minutos antes do início das atividades. Na primeira estratégia, os voluntários fizeram uso de placebo por 5 dias. Na estratégia PC, por um período de quatro dias, o placebo foi utilizado e, no quinto, uma dose aguda de cafeína foi administrada. Na estratégia CC, os voluntários receberam suplementação de cafeína durante os cinco dias. Na estratégia CP, por 4 dias os voluntários receberam suplementação de cafeína; e no quinto, foram suplementados com placebo. É importante destacar que, as quatro primeiras doses foram administradas em casa; e a quinta, no laboratório, antes da realização dos testes.

 

    A FC foi maior na condição PC, quando comparada com PP (174,01 ± 9,94 vs. 170,6 ± 9,51 bpm) e maior na condição CC, quando comparada com CP (176,01 ± 9,59 vs. 171,49 ± 9,47 bpm). Observa-se que, nas condições em que os ciclistas usaram cafeína de forma aguda, antes do contrarrelógio, houve um aumento na FC. Paula, e Farah (2019), afirmaram que possíveis efeitos cardiovasculares com o uso agudo da cafeína estão relacionados, por exemplo, com sua ação antagônica aos receptores de adenosina e ativação do sistema nervoso simpático.

 

    Ruíz-Moreno et al. (2020), verificaram os efeitos da cafeína na saturação de oxigênio muscular durante o exercício de intensidade crescente. 13 indivíduos, com idade de 32 ± 6,5 anos, utilizaram, em dois testes, 3 mg/kg de cafeína ou placebo até exaustão em um cicloergômetro. Os testes tiveram um período de washout de 48 horas. A FC não apresentou diferenças em ambos os testes (173 ± 11 vs. 173 ± 11 bpm).

 

    O estudo de Hanson et al. (2019), examinou o desempenho de atletas de resistência após ingestão de cafeína no calor. 10 corredores treinados, 6 homens e 4 mulheres,com idade de 26 ± 9 anos, compareceram ao laboratório em três oportunidades para uma corrida de 10 km em uma câmara ambiental, a 30,6˚C. Nas três visitas, fizeram uso de 6 mg/kg, 3 mg/kg e placebo, e cada corredor escolheu o seu ritmo. A FC aumentou nas três condições, conforme os corredores evoluíam nas distâncias. No entanto, se apresentou maior quando da ingestão de 6 mg/kg. De acordo com Cormano et al. (2019), o aumento na FC, após ingestão aguda de cafeína, pode estar associado a um aumento dos níveis plasmáticos de cafeína. Por sua vez, Guest et al. (2021), e Vallverdú et al. (2017), afirmaram que a ingestão de cafeína aumenta a FC durante a realização de atividades físicas no calor.

 

    Ramos-Campo et al. (2019), realizaram um estudo com 15 corredores do sexo masculino, com idade de 23,7 ± 8,2 anos. Os corredores foram submetidos a protocolos de uso com 6 mg/kg de cafeína ou placebo e, após 45 minutos, realizaram um teste de contrarrelógio de 800 metros, em uma pista de atletismo, no horário noturno. Os testes foram realizados durante quatro dias. Nas sessões 1 e 3, os voluntários fizeram uso, de forma aleatória, de cafeína ou placebo e nas sessões 2 e 4,não utilizaram nenhum recurso. Os voluntários não apresentaram diferenças significativas na FC, a se comparar as sessões de treino realizadas.

 

    40 voluntários do sexo masculino,com idade de 23,59 ± 3,45 anos, com capacidades cardiorrespiratórias diferentes, participaram do estudo de Gonzaga et al. (2019), que teve como objetivo avaliar os efeitos agudos da ingestão de cafeína na recuperação do controle autonômico da FC. Os participantes foram segmentados em dois grupos, de acordo com os picos de consumo de oxigênio (VO2 pico), previamente analisados: VO2 pico > 42,46 mL/kg/min, e VO2 pico < 42,46 mL/kg/min. Foram realizados 30 minutos de exercícios moderados em esteira, com velocidade de 5 km/h e 1% de inclinação, a 60% da FC alcançada no VO2 pico. 

 

    No período de testes, após segmentação, os voluntários fizeram uso de 300 mg de cafeína ou placebo. Os integrantes do grupo com uma melhor capacidade cardiorrespiratória apresentaram uma VFC menor, quando comparados com o outro grupo. Os autores afirmaram que os efeitos da cafeína também influenciaram na FC. Aqueles indivíduos com uma menor capacidade cardiorrespiratória tiveram a recuperação parassimpática retardada com a cafeína.Turnbull et al. (2017), ressaltaram que, em dosagens adequadas, efeitos fisiológicos cardiovasculares são esperados, possivelmente, numa perspectiva reversível e transitória.

 

    O metabolismo da cafeína de acordo com Guest et al. (2018), é afetado mediante variações no gene CYP1A2. Esse estudo analisou se os efeitos ergogênicos da cafeína são modificados com tais variações em um contrarrelógio de ciclismo de 10 km. 101 atletas competitivos do sexo masculino, com idade de 25 ± 4 anos, participaram do estudo. Foram adotados três protocolos: 2 e 4 mg/kg de cafeína e placebo. Cada voluntário participou dos três protocolos que foram realizados com uma semana de intervalo e foram agrupados para todas as análises, em genótipos AA, AC e CC. Nos participantes com genótipo AA, a FC, independente se placebo ou cafeína, não apresentou diferenças significativas.

 

    A VFC, com placebo, 2 e 4 mg/kg de cafeína foi, respectivamente, de 167 ± 1, 169 ± 1 e 168 ± 1 bpm. A FC daqueles com genótipo AC, no protocolo de 4 mg/kg, apresentou um aumento, quando comparado ao placebo, e a dose de 2 mg/kg, respectivamente,de 171 ± 2 vs 167 ± 2 bpm e 167 ± 2 bpm. Por sua vez, os indivíduos com genótipo CC, que utilizaram a dose de 4 mg/kg, apresentaram uma redução na FC, em comparação a quem utilizou, respectivamente, placebo e 2 mg/kg, de 157 ± 5 vs. 160 ± 5 bpm, e 157 ± 5 vs. 160 ± 5 bpm. Grgic et al. (2020) e Pickering, e Kiely (2018), afirmaram que os indivíduos com genótipo AA e os portadores de alelo C são, respectivamente, metabolizadores rápidos e lentos de cafeína.

 

    O controle autonômico e os parâmetros cardiorrespiratórios foram avaliados no estudo de Gonzaga et al. (2017) em 32 jovens do sexo masculino, com idade de 23,59 ± 3,45 anos, após ingestão aguda de 300 mg de cafeína e posterior realização de exercício aeróbio de intensidade moderada. A FC foi avaliada numa perspectiva pós-exercício. O protocolo estabelecido segmentou os voluntários em dois grupos: cafeína e placebo. O primeiro, com 15 jovens, fez uso, de forma aguda, de 300 mg de cafeína. Por sua vez, o segundo grupo utilizou 300 mg de amido. Logo em seguida, os voluntários se exercitaram na esteira, com VO2 máx. estimado à 60% durante 30 minutos.

 

    A FC foi monitorada durante 60 minutos, após os testes, a se considerar: 1º, 3º, 5º, 7º e 10º minutos e, a partir daí a cada 10 minutos até a conclusão da fase de recuperação. Os achados do estudo apontaram para um retardo na recuperação da FC do grupo de intervenção, logo após o exercício. Esse retardo, de acordo com Gonzaga et al. (2017), pode ser atribuído ao aumento da estimulação simpática potencializada pela cafeína. Jodra et al. (2020) deixaram claro que a ingestão de cafeína no Sistema Nervoso Central (SNC) resulta no aumento da atividade simpática e na redução da atividade parassimpática.

 

    Smirmaul et al. (2017), investigaram, durante 2 testes em cicloergômetro, até a exaustão, o desempenho, fadiga neuromuscular e percepção de esforço de 7 voluntários do sexo masculino, com idade de 29 ± 6 anos, após uso de 4 mg/kg de cafeína e placebo. Foram realizados dois testes em condições de hipóxia normobárica, com 48 horas de intervalo. A FC, no protocolo de cafeína, se apresentou maior quando comparada com o placebo com o resultado de185 ± 6 bpm vs. 179 ± 7 bpm.

 

Conclusões 

 

    Foi observado que não há um consenso entre os estudos; e tal fato pode ser apontado devido às particularidades de cada trabalho. Os diferentes protocolos de treinos e níveis de metabolização de cafeína, podem ser apontados como um fator de divergências entre os resultados. O nível de condicionamento dos participantes pode apresentar comportamentos diferentes em relação a FC, independente da dosagem de cafeína utilizada. Não é possível, através deste trabalho de revisão, fazer inferências ou apontar assertivas quanto às dosagens e protocolos utilizados. Também, por não se chegar a um consenso, é importante ter uma certa cautela quanto a possibilidade de utilizar as mesmas metodologias em outros estudos ou com indivíduos com características diferentes das amostras. O fato de as doses de cafeína administradas serem baixas a moderadas, e alguns estudos terem sido realizados com pessoas com um condicionamento diferenciado, também merece atenção. As mesmas doses e protocolos, caso administrados com o universo de não atletas ou desportistas, podem apresentar níveis de FC diferentes daqueles apresentados. Diante das afirmativas, recomenda-se a realização de outros estudos com vistas a reunir um maior quantitativo de dados e buscar, assim, um consenso, quanto a utilização aguda da cafeína nas atividades de endurance, em particular, corrida e ciclismo, e suas repercussões na FC.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 291, Ago. (2022)