ISSN 1514-3465
Entrevista com Leandro Lacerda: Cursos de gestão
desportiva e jornalismo da FACHA frente ao COVID-19
Interview with Leandro Lacerda: FACHA's Sports Management and Journalism Courses in the Face of COVID-19
Entrevista con Leandro Lacerda: Cursos de gestión deportiva y periodismo de FACHA ante al COVID-19
Rômulo Meira Reis*
romulomreis@hotmail.com
Anderson Occhi**
andersonocchi@yahoo.com
Silvio de Cassio Costa Telles***
silviotelles@terra.com.br
*Doutor em Ciências do Exercício e do Esporte
pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Mestre em Ciências do Exercício e do Esporte
Especialista em Administração e Marketing Esportivo
pela Universidade Gama Filho
Graduado em Capoeira, Educação Física e Administração de Empresas
Professor de Educação Física na Secretaria de Educação do Estado o Rio de Janeiro
Atuou como Gestor Esportivo no Departamento de Competições
da Confederação Brasileira de Futebol, atuando
na Coordenação de Estádios e Segurança
Analista do Licenciamento de Clubes - Infraestrutura da CBF
Oficial de Integridade da CBF
Professor da Pós-Graduação Lato Sensu
em Gestão de Conteúdo e Jornalismo Esportivo da FACHA
Professor no Curso Superior Tecnólogo
em Gestão Desportiva e do Lazer da FACHA
Líder do Grupo de Pesquisa em Gestão, Esporte, Cultura e Lazer (GPGEL)
Integrante do Grupo de Pesquisa em Escola, Esporte e Cultura (GPEEsC)
**Graduado em Educação Física
pela Universidade Federal de Juiz de Fora
Especialista em Atividades Motoras pela UFJF
Mestrado em Ciência da Motricidade Humana pela UCB/RJ
Professor de pós graduação em instituições de Ensino
Professor de pós graduação na Master Cursos, ENAF e Veiga de Almeida
além do Centro Universitário Estácio de Sá no curso de Gestão
***Graduado em Educação Física pela UERJ
Mestre e Doutor em Educação Física e Cultura
pela Universidade Gama Filho
Pós-Doutor pela Universidade de Évora (Portugal)
no Instituto de Investigação e Formação Avançada (IIFA)
Atualmente é professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro
e adjunto IV da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Bolsista Prodocência)
em Programas de Pós-Graduação
Técnico de pólo aquático do Fluminense Football Club
Docente na UNESA no curso de Educação Física
Líder do Grupo de pesquisa em Escola, Esporte e Cultura (GPEEsC)
(Brasil)
Recepção: 14/04/2021 - Aceitação: 10/06/2022
1ª Revisão: 9/02/2022 - 2ª Revisão: 19/02/2022
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Citação sugerida
: Reis, R.M., Occhi, A., e Telles, S. de C.C. (2022). Entrevista com Leandro Lacerda: Cursos de gestão desportiva e jornalismo da FACHA frente ao COVID-19. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(292), 216-226. https://doi.org/10.46642/efd.v27i292.2974
Resumo
A pandemia mundial do novo coronavírus atingiu duramente a sociedade brasileira. No campo da educação, especialistas declaram que 2020 será um ano perdido. Contudo, algumas instituições de ensino superior decidiram enfrentar desafios mantendo suas atividades através das aulas digitais. Assim, visando contribuir com desenvolvimento da educação em tempos de COVID-19, Leandro Lacerda, Coordenador do Curso Tecnólogo em Gestão Desportiva, e da Graduação em Jornalismo das Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), nesta entrevista revela as experiências vivenciadas.
Unitermos:
Ensino superior. Aulas digitais. Coronavírus.
Abstract
The worldwide novel coronavirus pandemic harshly affected Brazilian society. In the educational field, specialists declared 2020 will be a useless year. However, some higher education institutions decided to confront the situation, maintaining their activities through remote classes. Thus, with the intention of contributing to educational development in times of COVID-19, an interview was conducted with Leandro Lacerda, director of the undergraduate Journalism and technical Sports Management courses at Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), revealing the experiences undergone in this situation.
Keywords:
Higher education. Remote classes. Coronavirus.
Resumen
La pandemia mundial del nuevo coronavirus ha golpeado duramente a la sociedad brasileña. En el campo de la educación, los expertos declaran que 2020 será un año perdido. Sin embargo, algunas instituciones de educación superior decidieron enfrentar desafíos manteniendo sus actividades a través de clases digitales. Así, con el fin de contribuir al desarrollo de la educación en tiempos del COVID-19, Leandro Lacerda, Coordinador del Curso de Técnico en Gestión Deportiva, y Licenciado en Periodismo de las Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), en esta entrevista revela las experiencias vividas.
Palabras clave
: Educación superior. Clases digitales. Coronavirus.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 292, Sep. (2022)
Introdução
Perfil do entrevistado
Leandro Ribeiro de Lacerda, é Coordenador dos Cursos de Graduação em Jornalismo, da Graduação Tecnológica em Gestão Desportiva e do Lazer das Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA). Coordenador da Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão de Conteúdo em Jornalismo da FACHA. Bolsista da Capes, integrante do Programa PROCAD-Defesa, do Ministério da Defesa. Doutor em História pela Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). Membro do Comitê de Pesquisa do CNPq de História Militar. Mestre em Administração pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC/RJ), com ênfase em gestão da inovação e controle de qualidade. Especialista em Educação Superior pela Universidade Candido Mendes (UCM). Formado em Comunicação Social (habilitação em Jornalismo) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Membro da Comissão de Avaliação do MEC para Instituições de Ensino Superior. Conteudista do Ministério da Educação para elaboração de questões do ENADE nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Design. Docente da Universidade Católica de Petrópolis (UCP), no curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda. Docente da Universidade Castelo Branco (UCB) nos cursos de Jornalismo e Publicidade. Responsável pelo projeto de implantação da Rádio IBMEC, em parceria com a rádio CBN. Pesquisador da Fundação José Bonifácio, com trabalho na área de associativismo e educação nos Pré-Vestibulares Alternativos.
Como Jornalista do Sistema Globo de Rádio, atuou na editoria de esportes por 15 anos, cobriu os principais eventos esportivos nacionais e internacionais, com destaque para quatro Copas do Mundo (2002, 2006, 2010, 2014), quatro Jogos Olímpicos (2004, 2008, 2012, 2016), duas Paralimpíadas (2004 e 2016), dois Jogos Panamericanos (2003 e 2007), Jogos Mundiais Indígenas (2015), Jogos Mundiais Militares (2011), finais de Libertadores da América, Campeonato Brasileiro, e mundial de esportes olímpicos. Vencedor em 2011 do prestigiado prêmio Abdias Nascimento na categoria rádio, ao lado do repórter Eduardo Compan, com reportagem que mostrava o preconceito cronometrado. Ele publicou recentemente dos livros sobre os temas discutidos na entrevista. (Lacerda, e Tesserolli, 2020; 2021)
Enfoque da entrevista
O sistema educacional brasileiro com o novo coronavírus, causador da doença COVID-19, sofreu uma drástica desaceleração na perspectiva de aulas presenciais. Em março de 2020, o Brasil adotou radicalmente as medidas de isolamento social e reforços em serviços de saúde. A educação nos níveis básico, médio e superior tiveram suas aulas paralisadas, em especial nas instituições públicas que no primeiro semestre permaneceram fechadas sem certeza de como ou quando será um possível retorno seguro. Algumas privadas adotaram regimes remotos e públicas ensaiaram tentativas de interação virtual com os discentes. No entanto, para o sistema federal de ensino e universidades/faculdades privadas, o Ministério da Educação autorizou a ampliação da utilização da tecnologia da informação e comunicação (TIC) nos cursos em andamento. Assim, especialistas constatam que esse seria um período perdido para educação. Por outro lado, as Instituições de Ensino Superior (IES) privadas apostavam em aulas digitais e surgiam novos desafios no processo de ensino e aprendizagem frente à COVID-19.
No Rio de Janeiro, as Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA) optaram por as aulas digitais mantendo regularmente os cursos de graduação em Jornalismo e Tecnólogo em Gestão Desportiva e do Lazer. Nas próximas páginas apresentaremos a entrevista realizada no dia 22 de maio de 2020, com o coordenador dos referidos cursos explicando a experiência vivenciada.
Entrevista
Como a pandemia atingiu a FACHA e as aulas?
Assim que o Governo do Estado determinou o isolamento social, começamos a fazer as ações, tanto que houve um lapso entre o anúncio do isolamento social na primeira quinzena de março e o início efetivo das aulas. Foram duas semanas de intervalo para que pudéssemos justamente preparar as plataformas. Isso nos afetou de maneira direta como também a outras instituições de ensino, porque foi necessário fazer toda uma adaptação para uma realidade, para nós, ainda nova.
Embora a FACHA já tenha disciplinas de Educação a Distância (EAD) há muitos anos no seu currículo, essas disciplinas vinham sendo ofertadas no esquema tradicional
EAD, onde há postagem de conteúdo na plataforma, o aluno acessa na hora que quer, faz as atividades dentro do prazo determinado, a atividade é enviada para o tutor, o tutor corrige e depois dá a nota. Só que no modelo que propomos, não era simplesmente um EAD tradicional. E não é a crítica de um EAD tradicional. Não é nenhum tipo de comparativo, mas o que queríamos era tentar aproximar a aula digital da experiência que ele já tem no ensino presencial, ou seja, aí a necessidade de criar um mecanismo que pudesse suportar isso.
Então, nos afetou porque tivemos a necessidade do desenvolvimento tecnológico de ferramentas que pudessem suportar.
Como a FACHA decidiu atuar para reagir aos impactos da pandemia nas aulas?
Logo que começou todo esse processo do isolamento, criou-se um comitê de crise. Esse comitê de crise foi composto pelo diretor acadêmico, pela diretora de planejamento e controle e todos os coordenadores de curso.No início, as reuniões estavam acontecendo três vezes por semana, sempre às segundas, quartas e sextas. Agora têm acontecido uma vez por semana, onde é discutido exatamente: Quais são as necessidades do corpo docente e discente; O que é preciso em termos de desenvolvimento tecnológico; O que é preciso de apoio pedagógico. Esta frente de trabalho tem três campos macros. Primeiro em relação ao docente propriamente dito, o segundo em relação ao discente e o terceiro em relação à estrutura.
Precisávamos pensar em como manter a rotina de aulas, assim, decidimos fazer as aulas digitais. Propondo que os professores continuassem dando as aulas deles no horário de aula, no dia de aula, interagindo com os alunos e aí pensamos: “Como faríamos isso? Não daria para desenvolver uma solução própria de áudio e vídeo”. Então usamos ferramentas que já existiam no mercado: Webex, Zoom, YouTube e outras ferramentas. Além disso, monitoramos continuamente como os alunos têm reagido a isso, como os professores têm reagido a isso e como poderíamos implementar soluções para melhorar essa nossa dinâmica de aula.
Portanto, a forma que a gente encontrou de agir é uma forma de tentar antecipar o problema, antes do problema aparecer. Avaliamos todos os cenários, os prós e os contras de cada uma das soluções para escolher qual caminho adotar.
Muitos alunos desses cursos trancaram as matrículas?
Essa foi uma reação que nos surpreendeu porque a princípio tivemos um número relativamente baixo de trancamento, menos de 10% da nossa base, nas primeiras semanas, primeiros 15, 20 dias. Depois esse número se estabilizou nas semanas seguintes e agora no final de semestre voltamos com uma aceleração no número de trancamentos. Isso talvez tenha algumas explicações. No início, o aluno que não gosta de EAD mesmo, que tem aversão ao sistema EAD e tudo mais, trancou porque ele não quer aquilo, não queria aquilo, não pretendia estudar daquela maneira e quer fazer o curso presencial. Os trancamentos no início foram muito motivados por isso. Depois houve um período de estabilização e agora percebemos que os trancamentos passam também pela dificuldade que o aluno tem de continuar estudando. Trancamentos que passam muito pela questão financeira porque no início, como ainda era recente a questão do isolamento, muitas empresas não tinham ainda reduzido o salário dos funcionários, muita gente ainda não tinha perdido o emprego e agora, percebe-se que esse impacto financeiro afetou direto o aluno.
Portanto, o estresse, a questão do isolamento em casa, a dificuldade tecnológica, às vezes com Internet, com computador, com estrutura mais a dificuldade financeira fez com que nesse final de semestre o número de trancamentos aumentasse.
Quais foram as estratégias desenvolvidas e aplicadas para os cursos?
Cada curso tem um projeto pedagógico (PPC), mas a instituição como um todo, tem o seu Programa de Desenvolvimento Institucional (PDI) e com base no PDI, procuramos adotar estratégias que não afetassem demais a estrutura que o curso já possui.
No caso do curso de Gestão Desportiva e no caso de Jornalismo, a primeira preocupação nossa foi: Precisamos manter as atividades práticas em funcionamento, nosso maior gargalo. A atividade teórica você ainda consegue adaptar com menos dificuldade para esse modelo digital. Agora, atividade prática, disciplina prática, você tem um problema muito sério. Uma disciplina, como editoração eletrônica depende que o aluno tenha um computador e o programa em casa, nisso a FACHA resolveu uma parte do problema. Como assim? Nas disciplinas práticas do curso, por exemplo, de Jornalismo, para todos os alunos a FACHA tem um contrato de utilização do software da Adobe. Por conta desse contrato, todos os alunos tiveram autorização para baixar o pacote Adobe com permissão de utilização até o dia seis de julho. Então os softwares foram garantidos nesse sentido. A FACHA também tem um contrato com a Microsoft - não por conta da pandemia. Esse contrato com a Microsoft permite que todo o aluno da FACHA, desde o primeiro dia de aula, possa baixar o pacote Office completo e utilizar durante os anos de curso. A partir daí vem uma segunda parte, fizemos a adaptação para que as aulas preferencialmente fossem ministradas via Teams, aplicativo da Microsoft para reuniões virtuais, por que isso? Para garantir qualidade de áudio e vídeo, e de segurança.
Com os alunos das aulas práticas, mesmo garantindo o acesso ao software, vão ter a necessidade do hardware, que não adianta ter o pacote Adobe no computador se o mesmo não puder rodar um programa. Com isso, fizemos algumas adaptações pedagógicas no programa das disciplinas para que os professores usassem softwares free paralelamente ou dispositivos de celular alternativos.Nas disciplinas teóricas o programa seguiu basicamente como já estava previsto para a disciplina presencial. Tudo foi seguido à risca, os programas, as ementas, tudo isso foi seguido e todas as adaptações necessárias seguem a Portaria do MEC e as instruções do MEC para que essas adaptações também lá na frente pudessem ser validadas sem nenhum tipo de contratempo para alunos, professores e instituição.
Como o corpo docente reagiu?
A reação foi a melhor possível. É claro que a gente teve dificuldade de adaptação. Alguns professores têm mais afinidade com ferramentas tecnológicas, outros têm menos. Percebemos um desnível muito grande nisso. Fizemos alguns cursos de treinamento, mas também não tivemos muito tempo, foram só duas semanas. Na primeira semana discutimos internamente como faríamos e as estratégias. Na segunda abordamos os professores para apresentar esses treinamentos.
Foram poucos os treinamentos por conta da necessidade de urgência, mas os professores reagiram da melhor maneira possível, tanto que, logo nas primeiras duas semanas de aula, nos primeiros 15 dias de aula, nós tínhamos 95% de professores dando aula, já com áudio e vídeo em suas disciplinas, o que mostra que a adesão foi praticamente total. Desse contingente de professores, 75%, 80%, quase todos os professores, nessas duas primeiras semanas de aula já conseguiram também colocar o material no Moodle.
Ou seja, a página estava atualizada com os conteúdos e referências, o que mostra também, que de certa forma, conseguimos contemplar isso da melhor maneira possível.
A reação em geral foi muito positiva. Contudo, não tivemos casos de professores que tenham se negado por algum motivo a dar aula em áudio e vídeo. Alguns relataram sim muitas dificuldades, alguns relataram até incompatibilidade com as ferramentas. Esses professores foram também depois abordados de maneira muito pontual pela nossa equipe de tecnologia para que pudessem melhorar. Alguns preferiram não continuar com as aulas remotas, preferiram pedir licença porque não se sentiam à vontade ou não tinham interesse de dar aula dessa maneira. Entendemos e respeitamos plenamente.
Quais foram as propostas da FACHA para esses cursos nesse período?
Pensando justamente na manutenção da qualidade do curso e em tentar não desvirtuar o que é o curso. Não queríamos que nem o curso de Jornalismo, nem o curso de Gestão fossem migrados de qualquer maneira para o EAD, ou que as disciplinas fossem na base do “olha, tem lá um arquivo, o aluno pega aquele arquivo a hora que ele quer, lê, faz o trabalho, entrega e acabou a disciplina. E a interação?”. Assim, nossa estratégia principal foi: vamos manter as disciplinas rodando o mais próximo possível do presencial. Tanto que se a disciplina é segunda-feira, 18h 20min, segunda-feira 18h 20min o professor está na plataforma interagindo com os alunos, dando a aula dele. Acabou a aula, vamos até o próximo encontro na semana seguinte.
O aluno pode acompanhar essa aula ao vivo. O aluno que não pôde acompanhar ao vivo, a critério do professor, pode acompanhar depois a aula gravada, mas mesmo que ele não tenha acesso à aula gravada, o professor posta no Moodle o conteúdo que foi abordado na aula.
Então a nossa estratégia, ela foi muito além de manter uma rotina do mais próximo possível do presencial. É uma estratégia de aproximação do aluno; ou seja, nós também tentamos manter uma postura proativa para que antes que os problemas acontecessem, tentássemos nos antecipar com soluções.
Verificamos alguns entraves no início, principalmente por conta dos alunos que tinham mais dificuldades de acesso em razão de problemas com estrutura mesmo, de acesso a computador, à Internet. Além disso, há dificuldade cognitiva, aqueles que não se adaptaram com EAD, tentamos oferecer o suporte possível. Nem todos os casos, infelizmente, puderam ser contemplados, é fato. Tivemos casos de alunos que não têm computador, não tem celular, não têm Internet, não têm nada nesse sentido em casa e a gente até tentou pensar, viabilizar alguma solução, mas não tivemos nesse tipo de caso como solucionar. Não que a gente não se importe com isso, muito pelo contrário, infelizmente não conseguimos contemplar todos os casos.
Por quais ferramentas tecnológicas a FACHA optou? Por quê?
Para repositório de conteúdo usamos o Moodle, porque o Moodle é uma plataforma que já é utilizada no ensino EAD e fazia todo o sentido manter essa estrutura.
Para vídeo conferências, vídeo chamadas, as aulas ao vivo, deixamos o campo totalmente em aberto para que cada professor escolhesse a sua. Uns optaram pelo Webex, outros pelo Zoom, Meets, Teams e até o YouTube. Só que começamos a perceber que essa infinidade de opções trazia um problema para o aluno. O aluno ficava perdido, porque um professor usava um programa, o outro, outro e outro e não se sabia que aplicativo baixar e como baixar. Alguns possuem um tipo de celular que não tem capacidade de memória tão grande assim ou o computador que não roda qualquer tipo de aplicativo. Em face a esse problema restringimos por volta de duas ou três semanas de aula, a partir do feedback dos alunos, passamos a optar prioritariamente pelo Teams, que graças a assinatura com a Microsoft, alunos e professores tem total acesso.
Paralelamente a isso, os alunos também têm a secretaria virtual. Mas a secretaria virtual no início de semestre, na época presencial, ela era usada para que o professor pudesse postar os conteúdos de aula. Só que a secretaria virtual depois mudou um pouco a função dela durante a pandemia, está sendo usada para lançamento das notas.
Então as notas continuam sendo lançadas na secretaria virtual até porque, para o MEC, é o nosso local indicado para controle de frequência, Moodle para conteúdo e Teams para ferramenta de áudio e vídeo.
Quais as inovações implementadas para as aulas digitais?
Acho que a principal inovação é o fato de termos conseguido dar uma cara nova ao EAD que temos. Novamente, não tem nenhuma crítica ao EAD ou à empresa que fornece o EAD para a FACHA, nada disso. Os alunos se ressentem muitas vezes aos modelos EAD tradicionais por conta da falta de interatividade. Como é um conteúdo estático que ele vai lá, consulta, acabou, faz o trabalho. A partir dessa necessidade surgida com a pandemia, percebemos que é possível você ir muito além desses modelos tradicionais como, por exemplo, as aulas que são ministradas remotamente.
Então, o professor estaria no dia e horário da aula, ele daria aula pelo computador com áudio e vídeo. O aluno pode participar da aula, fazer perguntas, interagir, mandar perguntas, compartilhar coisas durante a aula e ao final ainda tem a possibilidade para aquele aluno que faltou ou com alguma dificuldade, dúvida, vergonha ou coisa assim, dele acompanhar a explicação do professor quantas vezes quiser. Aí você de repente pode até dizer o seguinte: “Ah, isso aí não é nada de inovação já existe um monte de vídeo aula aí no YouTube, existe um monte de tutorial no YouTube”. Qual é a inovação disso? Existem sim vários sites, vários canais no YouTube que tem esse material. Mas uma coisa é você acompanhar um vídeo, gravação, aula de uma pessoa estranha, uma pessoa que você não conhece. Outra coisa é você acompanhar a aula de uma pessoa que você conhece, do seu professor. Até o modo, as vezes, da pessoa falar, o aluno está mais acostumado, o ritmo como o professor explica muitas vezes em sala de aula o aluno fica envergonhado, porque ele acha que vai ser motivo de chacota ou ele acha que ele vai ser preterido pelos colegas devido ao fato dele fazer uma pergunta que não tem muita relação. Agora ele pode acompanhar a aula e se ele quiser fazer a pergunta, ele também pode fazer a pergunta ao professor por vídeo ao vivo, pelo chat durante a aula de modo privado ou depois da aula, o Moodle permite essa interação deixando o aluno mais à vontade.
Eu acho que a grande inovação que podemos e vamos implementar certamente na FACHA é a questão de repensar esse modelo de aula digital, repensar essa oferta de conteúdo de maneira remota, porque certamente, pelas pesquisas que fizemos, foi muito bem recebido pelos alunos.
Como foram as primeiras provas dos alunos? Tem alguma média?
Foi uma coisa engraçada. Quando falamos de prova digital nesse sentido, algumas pessoas disseram “Mas eu vou dar prova? Como vai ser isso?”.
O Moodle permite. Tem algumas ferramentas que permitem redigir uma prova e aplicar integralmente através da plataforma. Um grande problema para você fazer isso é que você não tem como saber, não tem como controlar, pelo menos a princípio, se o aluno vai passar uma resposta para o outro pelo WhatsApp ou se um vai logar com a senha do outro e vai fazer prova. Enfim, esse tipo de subterfúgio não tem como avaliar. Mas, funciona bem.
Os professores que aplicaram prova conseguiram pelo Moodle, corrigir e entregar os resultados. Muitos professores optaram pela realização de trabalhos e o nosso Moodle tem a capacidade para arquivos de até 200 MB. Então até 200 MB, o aluno pode postar a devolutiva do trabalho e o professor pode corrigir. Se o professor quiser passar um feedback pelo Moodle é possível, por e-mail através da plataforma também.
A média tem sido positiva, tenho acompanhado por alto os números, apesar achar essa questão de nota em si muito relativa. Porém, eu diria que a média de avaliação está próxima de oito. A nota média padrão da FACHA é entre 7,5 e 8 e então não fugiu muito disso.
Conclusões
Resuma como está sendo esse período para os cursos
Esse período é um período de redescoberta, de reinvenção e de renovação. Tudo com “R”, porque se os cursos não se redescobrirem, não se renovarem, se não se reinventarem, vão morrer. Não estou falando só de FACHA, não falo só de Jornalismo e Gestão Desportiva. Me refiro no geral. Percebemos que essa pandemia é um fenômeno mundial em várias outras situações. Percebemos o quanto podemos otimizar serviços, práticas, transformar e tornar práticas mais eficientes e os cursos vão precisar aprender isso.
Então aquela coisa do curso que parou lá na década de '70, '80 ou '90, que é aquele mesmo modelo tradicional em que nada evolui, que os alunos são dispostos em fileiras, estudam e fazem uma prova no final. Você vai parar para pensar: “Mas, o que é que o aluno está fazendo lá?” O mundo hoje evoluiu. Precisamos incorporar essas práticas na educação, a gente precisa trazer muitos cursos para o século XXI, porque se a gente não fizer isso, se não adotarmos isso, os cursos vão morrer. E quando falo em trazer o curso para o século XXI, não é só colocar quadro interativo, colocar show pirotécnico. Não! É rever inclusive disciplinas práticas e teóricas, mostrar a importância da disciplina prática com a teoria, mostrar a importância da teoria para a disciplina prática. Tudo isso faz parte de um conjunto só. Se os cursos não aproveitarem essa onda tecnológica, não aproveitarem essa oferta de serviços na nuvem, não aproveitarem essa possibilidade de migrar, estarão fadados ao insucesso. Isso é fato.
Referências
Lacerda, L.R., e Tesserolli, A.C.R.F. (2021). A Produção Jornalística em Home Office (1ª ed.). FACHA Editora.
Lacerda, L.R., e Tesserolli, A.C.R.F. (Org.) (2020). Ensaios sobre Gestão de Crise em Comunicação na COVID-19 (1ª ed.). FACHA Editora.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 292, Sep. (2022)