Lecturas: Educación Física y Deportes | http://www.efdeportes.com

ISSN 1514-3465

 

Percepção de dor em atletas da Liga Super Basquete do Estado do Rio de Janeiro

Perception of Pain in Athletes of the Super Basketball League of the State of Rio de Janeiro

Percepción del dolor en jugadores de la Liga Súper Baloncesto del Estado de Río de Janeiro

 

Dayan Medeiros de Pina*

dayan.medeiros@outlook.com

Jairo Leite Silva*

jairoleitesilva@hotmail.com

Moisés Augusto de Oliveira Borges**

m.oliveiraborges@hotmail.com

Bruno Lucas Pinheiro Lima+

blpersonal8@gmail.com

Vicente Pinheiro Lima++

professorvicentelima@gmail.com

 

*Graduado em Educação Física

pela Universidade Castelo Branco

**Graduado em Educação Física pela UFRRJ

Especialista em Atividade Física e Fisiologia do Exercício,

ênfase em Psicofisiologia e Recuperação Pós-Exercício

MBA em Gestão de Projetos. Atual Mestrando do Programa

de Pós-graduação em Psicologia na UFRRJ (PPGPSI - UFRRJ),

ênfase em Psicologia do Esporte. Gestor de Projetos Esportivos

e de Saúde do Departamento de Esporte e Lazer (DEL) da Pró-Reitoria

de Extensão (PROEXT) da UFRRJ de 2018-2020

Atual apoio Técnico-Esportivo, no Departamento de Relações Comunitárias

e Interinstitucionais (DRCI) da PROEXT

Membro pesquisador e orientador

no Laboratório de Avaliação e Saúde (LAVs)

Membro pesquisador do Grupo de Estudos

e Pesquisa em Gestão do Esporte (GEPGE)

+Mestre em Ciência do exercício e do esporte, UERJ

Pós-graduando em Treinamento Desportivo, UFRJ

Bacharelado em Educação Física, UCB/RJ

Licenciatura Plena em Educação Física, UCB/RJ

Trabalha com treinamento personalizado

Fez Curso de Inglês nos EUA

ex-atleta de basquete

++Professor Adjunto do Instituto de Educação Física e Desportos

da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Doutorado em Ciência do Exercício e Esporte,

área de concentração: Aspectos Biopsicossociais do Esporte, UERJ

Mestrado em Educação: Gestão de Ensino Superior, UNESA-RJ

Pós-Graduado em Biomecânica UNESA-RJ

Pós-Graduado em Basquete UGF-RJ

Licenciatura Plena em Educação Física, UERJ

Pesquisador do Laboratório do Exercício e do Esporte (LABEES-UERJ)

(Brasil)

 

Recepção: 10/10/2021 - Aceitação: 18/07/2022

1ª Revisão: 30/06/2022 - 2ª Revisão: 15/07/2022

 

Level A conformance,
            W3C WAI Web Content Accessibility Guidelines 2.0
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

 

Creative Commons

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Pina, D.M. de, Silva, J.L., Borges, M.A. de O., Lima, B.L.P., e Lima, V.P. (2022). Percepção de dor em atletas da liga Super Basquete do Estado do Rio de Janeiro. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(293), 97-110. https://doi.org/10.46642/efd.v27i293.2964

 

Resumo

    O basquetebol é caracterizado por esforços intensos e breves, sendo movimentos repetitivos e de alto impacto, o que potencializa o risco de lesões. A dor é uma presença constante ao longo da carreira de um atleta, e, na maioria das vezes, superá-la é condição decisiva para o sucesso e busca da melhor performance. O objetivo deste estudo foi identificar a percepção de dor em atletas masculinos de basquete logo após uma partida oficial válida pela Liga Super Basquete (LSB) do estado do Rio de Janeiro. A amostra foi composta por 130 atletas masculinos da LSB, média de idade de 28,02±6,26 anos. O Mc Gill Pain Questionnaire (MPQ) e a Visual Analogue Scale (EVA) foram utilizados para avaliar a percepção de dor. Do total de participantes, 37% apresentaram níveis de dor moderada à alta. No entanto, a baixa percepção de dor relatada por meio da Avaliação Global da Experiência de Dor (1,18±0,97) e da EVA (2,79±2,18) pode estar relacionada ao entendimento dos atletas de que a dor é uma experiência necessária para o desenvolvimento de suas capacidades físicas e, consequentemente, melhor desempenho esportivo. Além disso, atletas tendem a ter maior tolerância a dor do que a população em geral. Com base nos resultados obtidos, verificou-se que os atletas participantes deste estudo não apresentam um quadro significativo de dor.

    Unitermos: Basquetebol. Dor muscular. Avaliação da dor.

 

Abstract

    Basketball is characterized by intense and brief efforts, being repetitive and high impact movements, which increases the risk of injuries. Pain is a constant presence throughout an athlete's career, and, in most cases, overcoming it is a decisive condition for success and the search for better performance. The aim of this study was to identify the perception of pain in male basketball athletes right after an official match validated by the Super Basketball League (LSB) of the state of Rio de Janeiro. The sample consisted of 130 male LSB athletes, with an average age of 28.02±6.26 years. The McGill Pain Questionnaire (MPQ) and Visual Analogue Scale (EVA) were used to assess pain perception. Of the total number of participants, 37% had moderate to high pain levels. However, the low perception of pain reported through the Global Assessment of Pain Experience (1.18±0.97) and VAS (2.79±2.18) may be related to the athletes' understanding that pain it is a necessary experience for the development of your physical capacities and, consequently, better sports performance. In addition, athletes tend to have greater pain tolerance than the general population. Based on the results obtained, it was found that the athletes participating in this study do not present a significant picture of pain.

    Keywords: Basketball. Muscle pain. Pain assessment.

 

Resumen

    El baloncesto se caracteriza por esfuerzos intensos y breves, siendo movimientos repetitivos y de alto impacto, lo que aumenta el riesgo de lesiones. El dolor es una presencia constante a lo largo de la carrera de un deportista y, en la mayoría de los casos, su superación es una condición decisiva para el éxito y la búsqueda del mejor rendimiento. El objetivo de este estudio fue identificar la percepción del dolor en atletas masculinos de baloncesto después de un partido oficial válido por la Superliga de Baloncesto del estado de Río de Janeiro. La muestra estuvo compuesta por 130 atletas masculinos que participan en la Superliga, con una edad media de 28,02±6,26 años. Para evaluar la percepción del dolor se utilizaron el Cuestionario de Dolor de McGill y la Escala Analógica Visual (EAV). Del número total de participantes, el 37% tenía niveles de dolor de moderados a altos. Sin embargo, la baja percepción del dolor reportada a través de la Evaluación Global de la Experiencia del Dolor (1,18±0,97) y la EAV (2,79±2,18) puede estar relacionada con la comprensión de los atletas de que el dolor es una experiencia necesaria para el desarrollo de sus capacidades físicas y, en consecuencia, un mejor rendimiento deportivo. Además, los atletas tienden a tener una mayor tolerancia al dolor que la población general. Con base en los resultados obtenidos, se constató que los atletas que participan en este estudio no presentan un cuadro significativo de dolor.

    Palabras clave: Baloncesto. Dolor muscular. Evaluación del dolor.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 293, Oct. (2022)


 

Introdução 

 

    Superar limites físicos e psicológicos são desafios constantes na carreira de um atleta de alto rendimento na busca por resultados favoráveis. No esporte, os aspectos físicos e mentais são tão fundamentais quanto níveis técnicos e táticos, sendo o sucesso alcançado correspondente ao resultado da combinação destes fatores (Silva, Rabelo, e Rubio, 2010). Nesse sentido, devido a exigência de alta performance e resultados positivos, autores se propuseram a investigar alguns dos fatores limitantes para o desempenho (Izquierdo, e Redondo, 2020; Hernández-Garcia et al., 2020), sendo a dor considerada um sintoma que pode levar à queda do rendimento físico ou afastamento dos atletas por tempo indeterminado. (Cangussu et al., 2007; Souza et al., 2019; Borges et al., 2021)

 

    Por definição da International Association for the Study of Pain, dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, sendo comumente associada a lesão. Entretanto, pode haver percepção de dor sem ser constatada a lesão por meios clínicos (Borges et al., 2021), o que caracteriza a percepção de dor como subjetiva (Silva, Rabelo, e Rubio, 2010). Além disso, alguns estudos sugerem que a percepção de dor depende da intensidade e volume do esforço, do tipo de exercício e ação executada (Clarkson, e Hubal, 2002; Pinho et al., 2014; Leeder et al., 2012), podendo a sensação de desconforto e dor muscular se estender por até 72 horas (Tricoli, 2001) após a prática de exercício físico (dor muscular tardia).

 

Imagem 1. A percepção de dor é subjetiva, uma vez que pode ser 

considerada como uma experiência pessoal resultante de um estímulo nocivo

Imagem 1. A percepção de dor é subjetiva, uma vez que pode ser considerada como uma experiência pessoal resultante de um estímulo nocivo

Fonte: Unsplash.com - Foto: Sam Burriss

 

    Enquanto modalidade esportiva, o Basquete é uma prática que exige intensa movimentação e coordenação de seus praticantes, caracterizado por movimentos repetitivos e de impactos (saltos, aterrissagens, mudanças de direção e giros), potencializando o risco de lesões (Sacco et al., 2004; Santos, Piucco, e Reis, 2007; Bustamante-Sánchez, Salinera, e Del Coso, 2020a). No alto rendimento, extrapola muitas das vezes a saúde e, ao longo do tempo, resultam em desconforto corporal (dor) podendo limitar a prática esportiva. (Detanico et al., 2008)

 

    Para atletas de alto rendimento, a dor é uma presença constante ao longo de toda a carreira e, na maioria das vezes, superá-la é condição decisiva para o sucesso e busca da melhor performance (Rubio, e Godoy Moreira, 2008). Assim, com base no exposto, o objetivo da presente investigação foi identificar a percepção de dor em atletas masculinos de basquete logo após uma partida oficial válida pela Liga Super Basquete do estado do Rio de Janeiro.

 

Métodos 

 

    Este estudo trata-se de uma pesquisa descritiva Survey por aplicação de questionário (Thomas, Nelson, e Silverman, 2012). Participaram deste estudo, 130 atletas masculinos da Liga Super Basquete (LSB). Foram incluídos nesse estudo atletas que participaram de, ao menos, duas competições de basquete ao longo da carreira esportiva e pelo menos uma competição nos 6 meses anteriores a este estudo. Além disso, os atletas deveriam ter participado dos últimos 5 jogos oficiais por suas equipes e permanecido em quadra por, pelo menos, três minutos. Foram excluídos os atletas com lesão constatada clinicamente ou com dor oriunda de outra atividade que não fosse o basquete.

 

    Na coleta de dados foi aplicado o McGill Pain Questionnaire (MPQ) e a Visual Analogue Scale (Escala Visual Analógica - EVA). O MPQ é um dos instrumentos multidimensionais mais utilizados na avaliação da percepção de dor (Vicente-Herrero et al., 2018; Souza et al., 2019) e na prática clínica (Melzack, 1987; Bruce et al., 2004)

 

    No MPQ, os descritores estão divididos em quatro grupos: sensoriais (categorias 1-10), afetivas (categorias 11-15), avaliativas (categorias 16) e miscelânea (categorias 17-20). Neste questionário, o índice numérico de descritores é o mesmo do número de palavras escolhidas pelos participantes para a caracterização de sua dor, no máximo, uma palavra por cada subgrupo com o valor máximo de 20. O índice de dor é calculado pela somatória dos valores de intensidade de cada descritor (0-5). Os escores quantitativos que podem ser derivados do MPQ são: o número de palavras escolhidas, o índice total da estimação de dor, o índice total sensorial, o índice total afetivo e o índice total avaliativo. (Aparecido, Pinto, e Hiroshi, 2010)

 

    O questionário foi aplicado dez minutos após o término das partidas e apenas para os jogadores que permaneceram em quadra por um período mínimo de três minutos. Os atletas levaram, aproximadamente, dez minutos para responderem ao questionário.

 

    A análise dos dados foi realizada através da frequência e valores percentuais das respostas. O teste Alfa de Cronbach foi aplicado com base em itens padronizados para verificar a confiabilidade entre as perguntas e repostas e, com base em itens padronizados, obteve-se a pontuação de 0,921, considerando como quase perfeito/excelente (Vieira, 2016). Foi aplicada estatística descritiva, média e desvio padrão, juntamente com a EVA nos descritores do questionário, que foram analisados individualmente, a partir de um índice de estimativa para cada uma das dimensões (total dos escores individuais).

 

    Os procedimentos deste estudo estão de acordo com os padrões éticos da Declaração de Helsinque de 1975 (revisada em 2013) e segue as normas éticas previstas quanto à assinatura dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo informado aos participantes que apareceriam em anonimato. O presente estudo foi aprovado pelo processo 23083.009176/2019-78, protocolo nº 1.317/19.

 

Resultados 

 

    Na Tabela 1 são apresentados os resultados, do MPQ e EVA, aplicado aos 120 atletas de basquete, com média de idade de 28,02±6,26 anos e que disputaram a LSB categoria amadora.

 

Tabela 1. Escores médios dos descritores de dor do MPQ e EVA

Dimensões

Descritores de Dor

Média

Dp

Sensorial

Palpitante

0,44

0,76

Tiro

0,35

0,75

Punhalada

0,45

0,79

Aguda

0,60

0,92

Cólica

0,19

0,55

Mordida

0,32

0,69

Calor/queimação

0,79

0,95

Dolorida

1,11

1,04

Em peso

0,49

0,83

Sensível

0,47

0,73

Rompendo

0,28

0,73

Afetivo

Cansativo / exaustiva

0,92

0,94

Enjoada

0,28

0,62

Amedrontada

0,17

0,49

Castigante

0,30

0,71

EVA

2,79

2,18

AGED

1,18

0,97

IEDS

5,50

5,86

IEDA

1,67

2,10

IEDT

7,17

7,58

Legenda: EVA - Escala Visual Analógica; AGED - Avaliação Global da Experiência de Dor; 

IEDS - Índice de Estimativa de Dor Sensorial; IEDA - Índice de Estimativa de Dor Afetiva;

IEDT - Índice de Estimativa de Dor Total. Fonte: Dados da pesquisa

 

Discussão 

 

    Em razão à exigência física do Basquete, o treinamento intenso, contato físico e impactos, o basquete apresenta uma alta incidência e frequência de lesões osteoarticulares e musculoesqueléticas durante as fases de pré-temporada e durante as competições (Khan et al., 2018; Bustamante-Sánchez, Salinera, e Del Coso, 2020b). Essa alta carga externa (Moreira, 2006; Toro Roman et al., 2020), advinda dos treinamentos intensos e número de partidas (considerando que uma equipe realiza até três jogos por semana) e associados à vários outros fatores de desgastes na estrutura física dos atletas, tais como os choques, quedas, e movimentos advindos da modalidade da corrida, acarretam em alto desgaste e dano muscular, podendo ser percebido por meio da sensação de dor. (Acquesta et al., 2007; Silva, Rabelo, e Rubio, 2010; Taylor et al., 2015)

 

    A percepção de dor é subjetiva, uma vez que pode ser considerada como uma experiência pessoal resultante de um estímulo nocivo (Silva, Rabelo, e Rubio, 2010). Nesse sentido, vários fatores influenciam nessa percepção, como fatores sensoriais, genéticos, emocionais, culturais e sociais, que são grandes intervenientes, podendo provocar variações nas escalas nos limiares de dor. (Budó et al., 2007; Souza et al., 2019)

 

    Além disso, a percepção da dor pode ser fracionada em dois componentes: sensorial-discriminativo e afetivo-cognitivo. O primeiro é processado em grande parte pelo tálamo e pelo córtex somatossensorial, remetendo ao estabelecimento de intensidade, localização, duração, padrão temporal e tipo do estímulo nocivo. Por vez, o componente afetivo-cognitivo envolve diversas regiões do encéfalo (embora processado pelo córtex anterior cingulado e pela Insula), determinando como a dor interage com o humor, a atenção e a memória, bem como nosso nível de tolerância e capacidade de lidar com o estímulo recebido. (Millan, 1999, Brooks, e Tracey, 2005)

 

    Em decorrência da multidimensionalidade da dor, avaliar a percepção dolorosa é uma proposta complexa. Dessa forma, o MPQ como instrumento multidimensional de avaliação sistemática da percepção dolorosa, é a possibilidade de retratar a complexidade da sensação de dor por aspectos sensoriais, afetivos e avaliação global da experiência de dor (Melzack, 1987; Pimenta, e Teixeira, 1997; Bruce et al., 2004), sendo utilizado para avaliação da prevalência e percepção de dor em diferentes práticas esportivas. (Souza et al., 2019)

 

    De acordo com Silva, Rabelo, e Rubio (2010), existem dois tipos de dor que os atletas experimentam: a dor oriunda do treinamento/partidas e jogos oficiais - resultante de um período de alta exigência física e demanda competitiva; e a dor oriunda de lesão - considerada como insuportável em razão as perdas que o atleta sofre, seja por afastamento dos treinamentos e competições, assim como mudanças de rotina e perda de mobilidade articular e de força contrátil.

 

    A partir da análise dos resultados obtidos por meio do MPQ e EVA, verificou-se que, dos 130 atletas participantes, 37% apresentaram níveis de dor moderada à alta e 63% apresentavam dor leve ou nenhuma dor no momento do preenchimento do questionário. Desse modo, haja vista os resultados da média dos descritores Sensoriais, Afetivos e da EVA, considera-se que os níveis de percepção de dores da amostra estudada são baixos e suportáveis, não interferindo no desempenho de suas atividades. (Medeiros, 2016)

 

    No entanto, a baixa percepção de dor relatada por meio da AGED (1,18 ± 0,97) e da EVA (2,79 ± 2,18) pode estar relacionada à aspectos culturais. Com foco nos resultados, atletas costumam entender a percepção de dor como uma experiência necessária para o desenvolvimento de suas capacidades físicas e, consequentemente, melhor desempenho esportivo (Moura et al., 2013). Além disso, atletas tendem a ter maior tolerância a dor do que a população em geral e, o entendimento de que precisam ser mais resistentes à dor para melhor performance, somado ao fator da competitividade da disputa de um campeonato, pode afetar a capacidade dos atletas de distinguir o tipo de dor experimentada e levá-los a ignorar a presença de dor e possíveis lesões. (Wiese-Biornstal, 2010; Bustamante-Sánchez, Salinero, e Del Coso, 2018)

 

    Nesse sentido, em pesquisa realizada com 296 atletas universitários brasileiros no ano de 2014, 62,5% deles relataram sentir alguma dor e 72% relataram a presença de alguma lesão durante a preparação para a competição (Moreira et al., 2016). Já no estudo de Garbenytė-Apolinskienė et al. (2019), realizado com 358 atletas de elite da Liga Feminina de Basquete da Lituânia, durante as temporadas de 2013-2016, foram relatados 155 problemas de saúde e a taxa de dor foi de 0,2 por atleta. Mais uma vez, destaca-se a não correspondência obrigatória entre dano muscular, lesão e percepção de dor (Silva, e Ribeiro-Filho, 2011), como também que os relatos de dor não tendem a acompanhar os relatos de lesão sofrida, reforçando as afirmativas anteriores de que o atleta tem dificuldades em identificar, distinguir, avaliar e relatar o tipo de dor sentida.

 

    A abordagem da dor desafia todos os profissionais que trabalham no meio esportivo. Embora que existam diferentes escalas, instrumentos e questionários para avaliar a percepção de dor, estes o fazem de maneiras diferentes, principalmente em função da multidimensionalidade da dor e o fato de se tratar de uma medida psicofísica (Vicente-Herrero et al., 2018). Essa dificuldade na avaliação restringe a comparação de resultados entre estudos que investigaram a percepção de dor, sendo um fator limitante para este estudo. O tamanho amostral reduzido e a ausência de outras informações acerca do perfil dos atletas são outras limitações deste estudo.

 

Conclusões 

 

    Com base na média dos descritores do MPQ e da EVA, pode-se concluir que os atletas participantes destes estudo não apresentam um quadro elevado de dor. Contrariando o esperado, tendo em vista o estresse que o próprio esporte impõe. Os resultados demonstram que não há uma diferença significativa nos níveis de dor apresentados pelos atletas. Sugere-se que novos estudos sejam realizados com a temática semelhante.

 

Referências 

 

Acquesta, F.M., Peneireiro, G.M., Bianco, R., Amadio, A.C., e Serrão, J.C. (2007). Características dinâmicas de movimentos selecionados do basquetebol. Revista Portuguesa de Ciência do Desporto, 7(2),174-182. http://dx.doi.org/10.5628/rpcd.07.02.174

 

Aparecido, J.S., Pinto, R.R.P., e Hiroshi, E.M. (2010). Mensurando o quinto sinal vital: a dor. FUNPEC-Editora.

 

Borges, M.A. de O., Guerra, L.R., Pereira, J.F., Rosa, T. de S., Camões, J.C., e Ruffoni, R. (2021). Prevalencia, características y factores asociados a lesiones deportivas en atletas brasileños del jiu-jitsu. Cuadernos de Psicología del Deporte, 21(2), 148-162. https://doi.org/10.6018/cpd.443501

 

Brooks, J., e Tracey, I. (2005). From nociception to pain perception: imaging the spinal and supraspinal pathways. Journal of Anatomy, 207, 19-33. https://doi.org/10.1111/j.1469-7580.2005.00428.x

 

Bruce, J., Poobalan, A., Smith, W.C., e Chambers, A. (2004). Quantitative assessment of chronic postsurgical pain using the McGill Pain Questionnaire. The Clinical Journal of Pain, 20(2), 70-75. http://dx.doi.org/10.1097/00002508-200403000-00002

 

Budó, M.L.D., Nicolini, D., Resta, D.G., Büttenbender, E., Pippi, M.C., e Ressel, L.B. (2007). A cultura permeando os sentimentos e as reações frente á dor. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 41(1), 36-43. http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342007000100005

 

Bustamante-Sánchez, A., Salinero, J., e Del Coso, J. (2020a). Lower extremity injuries and key performance indicators in professional basketball players. Arch Med Deporte, 37(3), 162-168. http://dx.doi.org/10.18176/archmeddeporte.00013

 

Bustamante-Sánchez, A., Salinero, J., e Del Coso, J. (2020b). Upper body injuries and Key Performance Indicators in professional basketball players. Arch Med Deporte, 37(6), 387-392. https://doi.org/10.18176/archmeddeporte.00013

 

Bustamante-Sánchez, A., Salinero, J.J., e Del Coso, J. (2018). Ocurrencia de lesiones y factores de rendimento associados em jugadores ACB. Arch Med Deporte, 35(6), 380-385. https://www.researchgate.net/publication/331976398

 

Cangussu, D.F.R., Rodrigues, D.C.M., Reis, D., e Venturini, C. (2007). Estudo da associação entre dor e desempenho funcional do membro superior de jogadores de vôlei. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 25(4). http://dx.doi.org/10.18511/rbcm.v15i4.772

 

Clarkson, P.M., e Hubal, M.J. (2002). Exercise-induce Muscle Damage in Humans. American Journal of Physical Medicine & Rehabilitation, 81(11), 52-69. https://doi.org/10.1097/00002060-200211001-00007

 

Detanico, D., Reis, D.C., Chagas, L., e Santos, S.G. (2008). Alterações posturais, desconforto corporal (dor) e lesões em atletas das seleções brasileiras de hóquei sobre a grama. Revista da Educação Física (UEM), 19(3), 423-430. http://dx.doi.org/10.4025/reveducfis.v19i3.5997

 

Garbenytė-Apolinskienė, T., Salatkaitė, S., Šiupšinskas, L., e Gudas, R. (2019). Prevalence of Musculoskeletal Injuries, Pain, and Illnesses in Elite Female Basketball Players. Medicina (Kaunas, Lithuania), 55(6), 276. https://doi.org/10.3390/medicina55060276

 

Hernández-García, R., Aparicio-Sarmiento, A., Palao, J., e Sainz de Baranda, P. (2020). Influencia de las lesiones previas en los patrones fundamentales del movimiento en jugadoras profesionales de fútbol. RICYDE. Revista Internacional de Ciencias del Deporte, 16(60), 214-235. https://doi.org/10.5232/ricyde2020.06007

 

Izquierdo, J., e Redondo, J. (2020). Acute effects of basketball competition on physical performance factors in under-18 female players. RICYDE. Revista Internacional de Ciencias del Deporte, 16(61), 285-297. https://doi.org/10.5232/ricyde2020.06104

 

Khan, M., Madden, K., Burrus, MT, Rogowski, JP, Stotts, J., Samani, MJ, Sikka, R., e Bedi, A. (2018). Epidemiology and Impact on Performance of Lower Extremity Stress Injuries in Professional Basketball Players. Sports health, 10(2), 169-174. https://doi.org/10.1177/1941738117738988

 

Leeder, J., Gissane, C., Van Someren, K., Gregson, W., e Howatson, G. (2012). Cold water immersion and recovery from strenuous exercise: a meta-analysis. British Journal of Sports Medicine, 46(4), 233-240. https://doi.org/10.1136/bjsports-2011-090061

 

Medeiros, C. (2016). Lesão e dor no atleta de alto rendimento: o desafio do trabalho da psicologia do esporte. Revista de Psicologia, 25(2), 355-370. https://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/view/26235

 

Melzack, R. (1987). The short-form McGill pain questionnaire. Pain, 30(2), 191-197. https://doi.org/10.1016/0304-3959(87)91074-8

 

Millan, M.J. (1999). The induction of pain: an integrative review. Progress in Neurobiology, 57(1), 1-164. https://doi.org/10.1016/s0301-0082(98)00048-3

 

Moreira, M., Santos, M.F., Barros, G.S., Nascimento, T.S., Araújo, A.D., e Neto, M.G. (2016). Percepção de dor e alterações musculoesqueléticas em atletas de basquete na preparação para os jogos universitários de 2014. Revista Pesquisa em Fisioterapia, 6(3), 217-222. https://doi.org/10.17267/2238-2704rpf.v6i3.979

 

Moreira, P. (2006). Prevalência de lesões das equipes de base e adultas que representaram a Seleção Brasileira de Basquete em 2003. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 14(2), 71-78. https://doi.org/10.18511/rbcm.v14i2.689

 

Moura, P.V., Silva, E.A.P., Silva, P.P.C., Freitas, C.M.S., e Caminha, I.O. (2013). O significado da dor física na prática do esporte de rendimento. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 35(4), 1005-1019. http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/1559

 

Pimenta, C.A.M., e Teixeira, M.J. (1997). Questionário de Dor McGill: proposta de adaptação para língua portuguesa. Revista Brasileira de Anestesiologia, 47(2), 177-86. https://doi.org/10.1590/S0080-62341996000300009

 

Pinho Junior, E.A., Brito, C.J., Costa Santos, W.O., Nardelli Valido, C., Lacerda Mendes, E., e Franchini, E. (2014). Influence of cryotherapy on muscle damage markers in jiu-jitsu fighters after competition: a cross-over study. Revista Andaluza de Medicina del Deporte, 7(1), 7-12. https://ws208.juntadeandalucia.es/ojs/index.php/ramd/article/view/352

 

Rubio, K., e Godoy Moreira, F. (2008). A dor em corredores com fascite plantar: o uso da acupuntura. Revista Dor, 9(3), 1290-1296. https://www.passeidireto.com/arquivo/86569956/a-dor-do-alto-rendimento/6

 

Sacco, ICN, Takahasi, HY, Vasconcelos, AA, Suda, EY, Bacarin, TA, Pereira, CS, Batisttella, LR, Kavamoto, C., Lopes, JAF, e Vasconcelos, JCP (2004). Influência de implementos para o tornozelo nas respostas biomecânicas do salto e aterrissagem no basquete. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 10(6), 447-52. https://doi.org/10.1590/S1517-86922004000600001

 

Santos, S.G., Piucco, T., e Reis, D.C. (2007). Fatores que interferem nas lesões de atletas amadores de voleibol. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, 9(2), 189-95.

 

Silva, E.M., Rabelo, I., e Rubio, K. (2010). A dor entre atletas de alto Rendimento. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, 3(4), 79-97. http://dx.doi.org/10.31501/rbpe.v3i1.9287

 

Silva, J.A., e Ribeiro-Filho, N.P. (2011). A dor como um problema psicofísico. Revista Dor, 12(2), 138-151. https://doi.org/10.1590/S1806-00132011000200011

 

Souza, K.M., Borges, M.A.O., Lima, B.L.P., e Lima, V.P. (2019). Percepção de dor em pilotos de motocross amadores. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, 13(85), 861-865. http://www.rbpfex.com.br/index.php/rbpfex/article/view/1801

 

Taylor, J.B., Ford, K.R., Nguyen, A.D., Terry, L.N., e Hegedus, E.J. (2015). Prevention of Lower Extremity Injuries in Basketball: A Systematic Review and Meta-Analysis. Sports health, 7(5), 392-398. https://doi.org/10.1177/1941738115593441

 

Thomas, J.R., Nelson, J.K., e Silverman, S.J. (2012). Métodos de pesquisa em atividade física (6ª ed.). Artmed Editora.

 

Toro Román, V., Guerrero Ramos, D., Muñoz Marín, D., Siquier Coll, J., Bartolomé Sánchez, I., e Robles Gil, M. (2020). Análise da incidência de lesões e rotinas utilizadas durante o aquecimento em jogadoras de basquete feminino. Restos, 38, 159-165. https://doi.org/10.47197/retos.v38i38.74310

 

Tricoli, V. (2001). Mecanismos envolvidos na etiologia da dor muscular tardia. Revista Brasileira de Ciências e Movimento, 9(2), 39-44. https://doi.org/10.18511/rbcm.v9i2.386

 

Vicente-Herrero, M.T., Delgado-Bueno, S., Bandrés-Moyá, F., Ramírez Iñiguez de la Torre, M.V., e Capdevilla-García, L. (2018). Pain assessment. Comparative review of scales and questionnaires. Revista de la Sociedad Española del Dolor, 25(4), 228-236. https://dx.doi.org/10.20986/resed.2018.3632/2017

 

Vieira, S. (2016). Introdução a bioestatística (5α Ed.). Elsevier.

 

Wiese-Bjornstal, D.M. (2010). Psychology and socioculture affect injury risk, response, and recovery in high-intensity athletes: a consensus statement. Scandinavian Journal of Medicine &Science in Sports. 20(2),103-111. https://doi.org/10.1111/j.1600-0838.2010.01195.x


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 293, Oct. (2022)