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ISSN 1514-3465

 

Estudo dos níveis de flexibilidade e potência muscular 

entre praticantes de capoeira, muaythai e musculação

Study of Levels of Flexibility and Muscle Power among Capoeira, Muaythai and Musculation Practitioners

Estudio de los niveles de flexibilidad y potencia muscular entre practicantes de capoeira, muaythai y musculación

 

Luciano Uchôa Nunes Filho*

uchoaluciano97@gmail.com

Gabriel Peixoto Maciel**

gabrielpeixoto3@outlook.com

Ayrton Vieira Bezerra**

ayrtonvieirab@hotmail.com

João Victor Benevides Santos**

jv_personal@hotmail.com

 

*Licenciado e Bacharel em Educação Física

Centro Universitário Estácio do Ceará

*Bacharel em Educação Física

Centro Universitário Estácio do Ceará

(Brasil)

 

Recepção: 17/03/2021 - Aceitação: 21/11/2021

1ª Revisão: 28/09/2021 - 2ª Revisão: 18/11/2021

 

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Citação sugerida: Nunes Filho, L.U., Maciel, G.P., Bezerra, A.V., e Santos, J.V.B. (2022). Estudo dos níveis de flexibilidade e potência muscular entre praticantes de capoeira, muaythai e musculação. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(285), 69-79. https://doi.org/10.46642/efd.v26i285.2917

 

Resumo

    Introdução: Capacidades físicas como a flexibilidade e potência muscular estão presentes em diversos esportes e têm grande relevância no que diz respeito a qualidade de vida e execução das atividades da vida diária. Objetivo: O estudo objetivou avaliar a flexibilidade e potência muscular entre capoeiristas, praticantes de musculação e praticantes de muaythai. Métodos: Foram incluídos 10 capoeiristas, 10 praticantes de musculação e 10 de muaythai do sexo masculino. Para aferir a potência foi aplicado o “Teste de impulsão vertical”. A flexibilidade foi medida através da goniometria. O tratamento estatístico foi feito no software GraphPrism 2.0. Resultados: O grupo capoeira apresentou 175,5º ± 13,4º de amplitude na flexão de ombro, 64,5º ± 13,6º na extensão de ombro, 86,5º ± 30,4º na flexão de quadril, 19,5º ± 5,9º na extensão de quadril, 48,4 cm ± 4,9 de potência. O grupo musculação apresentou 182º ± 12,7º na flexão de ombro, 54,5º ± 12,1º na extensão de ombro, 72,5º ± 13,5º na flexão de quadril, 21,5º ± 9,7º na extensão de quadril, 52,5 cm ± 5,2 de potência. O grupo muaythai apresentou 175º ± 10º na flexão de ombro, 48,5º ± 15,9º na extensão de ombro, 80º ± 9,7º na flexão de quadril, 23º ± 5,8º na extensão de quadril, 44,9 cm ± 6,9 de potência. Conclusão: A pesquisa leva a concluir que o grupo capoeira apresentou maior flexibilidade na extensão de ombro e flexão de quadril em relação aos outros grupos e a potência de membros inferiores foi maior no grupo musculação.

    Unitermos: Flexibilidade. Potência. Capoeira. Musculação. Muaythai.

 

Abstract

    Background: Physical abilities such as flexibility and muscle power are present in several sports and are of great relevance, but they do not concern quality of life and the performance of activities of daily living. Objective: The study aims to evaluate the flexibility and muscle power of capoeira, bodybuilders and muaythai practitioners. Methods: 10 capoeira practitioners, 10 bodybuilding practitioners and 10 muaythai practitioners were included. To measure the power, the "Vertical Impulse Test" will be applied. The statistics treatment in software “Graph Prism 2.0”. Results: The capoeira group presented 175,5º ± 13,4º in shoulder flexion, 64,5º ± 13,6º in shoulder extension, 86,5º ± 30,4º in the hip, 19,5º ± 5,9º in the hip extension, 48,4 ± 4,9 in power. The bodybuilding group has 182º ± 12,7º in shoulder flexion, 54,5º ± 12,1º in shoulder extension, 72, 5º ± 13,5º in hip flexion, 21,5º ± 9,7º in hip extension and 52,5 ± 5,2 in power. The muaythai group was 175º ± 10º shoulder flexion, 48,5º ± 15,9º shoulder extension, 80º ± 9,7º in hip flexion, 23º ± 5,8º in hip extension and 44,9 ± 6,9 in power. Conclusion: A survey led us to realize that the capoeira group showed greater flexibility in the extension of the shoulder and hip in relation to the other groups studied, although it was not found the significant involvement of participants from other groups. Research also revealed that lower limb power was greater in the bodybuilding group.

    Keywords: Flexibility. Power. Capoeira. Bodybuilding. Muaythai.

 

Resumen

    Introducción: Las capacidades físicas como flexibilidad y fuerza muscular están presentes en varios deportes y tienen gran relevancia en la calidad de vida y al desempeño de las actividades de la vida diaria. Objetivo: El estudio tuvo como objetivo evaluar flexibilidad y potencia muscular entre practicantes de capoeira, musculación y muaythai. Métodos: Se incluyeron 10 practicantes de cada una de las disciplinas, todos hombres. Para medir la potencia se aplicó el “Test de impulso vertical”. La flexibilidad se midió mediante goniometría. El tratamiento estadístico se realizó mediante el software GraphPrism 2.0. Resultados: El grupo de capoeira presentó 175,5º ± 13,4º de amplitud en flexión de hombro, 64,5º ± 13,6º en extensión de hombro, 86,5º ± 30,4º en flexión de cadera, 19,5º ± 5, 9º en extensión de cadera, 48,4 cm ± 4,9 de potencia. El grupo de musculación presentó 182º ± 12,7º en flexión de hombros, 54,5º ± 12,1º en extensión de hombros, 72,5º ± 13,5º en flexión de cadera, 21,5º ± 9,7º en extensión de cadera, 52,5 cm ± 5,2 de potencia. El grupo de muaythai presentó 175º ± 10º en flexión de hombros, 48,5º ± 15,9º en extensión de hombros, 80º ± 9,7º en flexión de cadera, 23º ± 5,8º en extensión de cadera, 44,9 cm ± 6,9 de potencia. Conclusión: El grupo de capoeira presentó mayor flexibilidad en la extensión de hombros y flexión de cadera en relación a los demás grupos y la potencia de los miembros inferiores fue mayor en el grupo de musculación.

    Palabras clave: Flexibilidad. Potencia. Capoeira. Musculación. Muaythai.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 285, Feb. (2022)


 

Introdução 

 

    Capacidades físicas como a flexibilidade e a potência muscular estão presentes em diversos esportes e têm grande relevância no que diz respeito a qualidade de vida e execução das atividades da vida diária, desta maneira, torna-se necessário a mensuração e comparação dos níveis de desempenho dos praticantes com relação às capacidades físicas mais exigidas em diferentes modalidades.

 

    Na atualidade, mesmo com diversos estudos existentes, ainda se especula sobre o desenvolvimento e manutenção da flexibilidade e potência muscular através do treinamento resistido. Surge como problemática de investigação a comparação dos níveis de flexibilidade e potência entre praticantes de musculação e praticantes de modalidades que necessitam de elevada amplitude de movimento e produção de força como a capoeira e o muaythai. Justifica-se a realização deste trabalho devido à importância e relevância do tema, bem como o interesse profissional e pessoal de contribuir com os demais estudos já existentes a respeito deste assunto.

 

    Alter (2001) afirma que a flexibilidade traz diversos benefícios como a diminuição do estresse, relaxamento muscular, melhora da aptidão corporal, postura e simetria, alívio de cãibras além de reduzir o risco de lesões. Para Cruz (2003), a impulsão vertical pode ser um dos principais requisito para a maioria dos atletas dos desportos atuais por ter grande ligação com a capacidade de produção de força e velocidade.

 

    Achour Junior (2007) afirma que na literatura nacional e internacional a flexibilidade é considerada como uma capacidade motora. Alter (2001, p. 24) descreve a flexibilidade como sendo a “amplitude de movimento disponível em uma articulação ou grupos articulares”. Por sua vez, Araújo (2004) conceitua que de maneira ligada ao aspecto dinâmico e não somente ao estático, a flexibilidade é a amplitude máxima passiva fisiológica de um dado movimento articular.

 

    A flexibilidade tem grande importância em diversas atividades físicas e esportivas, pois uma boa flexibilidade possibilita maior facilidade de movimentação, principalmente nas atividades diárias. Sartori, Sartori e Bagnara (2012) apontam que pessoas com boa flexibilidade realizam atividades esportivas com maior eficiência, bem como executam as atividades do cotidiano com maior facilidade.

 

    Nesta perspectiva, acredita-se que a flexibilidade e a potência muscular possuam grande importância para a prática da capoeira, pois seja no treino ou no jogo, a flexibilidade está sempre presente e é constantemente requerida ao praticante devido ao grande dinamismo que a capoeira demanda entre seus golpes, esquivas e saltos. Movimentos estes inspirados na observação da natureza, segundo Nunes Filho, Moura, e Alencar (2019). Adorno (1999) afirma que durante o jogo da capoeira o corpo é utilizado no limite dos recursos da elasticidade e flexibilidade combinando objetividade e precisão no ataque com defesas velozes.

 

    Santos, e Barros (1999) relatam que os professores de capoeira, a fim de melhorar a performance dos alunos, enfatizam o treino da flexibilidade em seus programas de treinamento. Para Santos (2011) a flexibilidade pode ser melhorada com a prática da capoeira, além de proporcionar a diminuição do percentual de gordura e melhorar o condicionamento físico geral.

 

    Do mesmo modo ocorre no muaythai; segundo Macedo (2007), o autor afirma que a preparação física dos praticantes deve ser realizada com exercícios e sobrecargas adequadas à realidade da luta que utilizem principalmente as valências físicas resistência de força rápida, resistência de força estática, resistência de média duração, resistência muscular localizada de tronco e membros superiores, velocidade de reação, agilidade e flexibilidade de membros inferiores.

 

    Já na musculação, a manutenção da flexibilidade nem sempre é encarada com grande seriedade pelos alunos. Scremin, e Conceição (2016) mencionam que alguns praticantes de musculação não percebem a importância da prática do alongamento, seja antes ou depois da sessão de treinamento, e que outros, em sua maioria homens, realizam a prática da musculação, mas não se alongam.

 

    Cyrino et al. (2004) afirmam que o aumento do volume muscular causado pelo treinamento resistido, pode causar uma limitação da amplitude articular de diversas articulações, dando uma impressão de perda de flexibilidade no segmento. Os autores supracitados afirmam ainda que a articulação com maior grau de comprometimento parece ser a do ombro e que isso deve-se ao fato de existir grande ênfase no treinamento dos músculos inseridos nesta região.

 

    Neste contexto o estudo objetivou avaliar a flexibilidade e potência muscular entre capoeiristas, praticantes de musculação e praticantes de muaythai.

 

Métodos 

 

    Trata-se de um estudo de campo, de natureza quantitativa, descritiva e transversal desenvolvido em três academias na cidade de Fortaleza-CE. No período compreendido entre fevereiro e março de 2020, tendo como população 10 praticantes de capoeira, 10 praticantes de musculação, e 10 praticantes de muaythai do sexo masculino e considerados adultos jovens. Esta categoria de idade foi estipulada por Mota (2009) com sendo a idade compreendida entre 18 e 40 anos.

 

    Devido ao período de quarentena em combate ao COVID-19 a amostra do estudo resumiu-se a 30 indivíduos do sexo masculino, adultos, que alegaram praticar capoeira, musculação ou muaythai regularmente a no mínimo seis meses pelo menos três vezes por semana, presentes no local e período determinado para a pesquisa que aceitaram participar do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E.).

 

    A coleta de dados foi realizada através de uma pesquisa de campo no período anterior ao decreto de isolamento social. O instrumento de pesquisa escolhido para medir a flexibilidade foi a “Avaliação goniométrica” de Marques (2003). Foi utilizado um goniômetro (Arktus, Brasil) flexível, fabricado em material acrílico transparente; foram avaliadas as articulações do ombro e quadril do lado direito do corpo dos participantes. Adotou-se o método de avaliação ativa. Os movimentos aferidos foram a flexão e extensão do ombro e flexão e extensão do quadril com joelho estendido. Os indivíduos foram avaliados duas vezes em ordem rotacional e uma terceira vez quando encontrado valores divergentes. Para aferir a potência muscular dos membros inferiores foi selecionado o “Teste de impulsão vertical”, (Sargent Jump Test) descrito por Harman et al. (1991), que consiste em posicionar o indivíduo de pé com braço direito totalmente estendido acima da cabeça e com pó de giz, de cor laranja, na ponta do dedo médio, tendo uma parede de cor neutra ao seu lado direito, assinalar sua estatura total e então orientá-lo a realizar um salto vertical com livre movimentação de membros superiores marcando a parede com o pó de giz no momento mais alto do salto, depois medir a diferença entre as duas marcações usando uma fita antropométrica. O salto pôde ser realizado até três vezes com um intervalo de 45 segundos entre as tentativas, sendo considerada válida a melhor marca.Foram realizadas três sessões de cinco saltos submáximos cada, para aquecimento muscular antes da primeira tentativa. Para traçar o perfil sociodemográfico dos avaliados, foi utilizado um questionário, de autoria própria, com três perguntas objetivas.

 

    Aos participantes foi apresentado o T.C.L.E., de acordo com a resolução vigente, informando sobre o objetivo do estudo, a preservação dos aspectos éticos, a garantia da confidencialidade das informações e anonimato, evitando riscos morais. Os pesquisados ficaram cientes também, de que a qualquer momento poderiam interromper a pesquisa. Aqueles que aceitaram participar da pesquisa assinaram o referido T.C.L.E.

 

    Os dados obtidos na avaliação foram tabulados e então realizada a análise estatística descritiva com aplicação do teste de correlação de Pearson, One-Way ANOVA e teste de Tukey e a representação gráfica no GraphPrism 2.0. O nível de significância adotado foi p≤0,05. Depois foi feita a discussão dos resultados com base na análise e interpretação dos dados.

 

Resultados 

 

Tabela 1. Média de cada grupo – teste de flexibilidade e potência – amostra: 30 indivíduos

FO

Graus

EO

Graus

FQ

Graus

EQ

Graus

P

Centímetros

ID

Anos

TP

Anos

GC

175,5° ±

13,4°

64,5° ±

13,6°

86,5° ±

30,4°

19,5° ±

5,9°

48,4 ±

4,9 cm

26,9 ±

11,01

14,8 ±

9,2

GM

182° ±

12,7°

54,5° ±

12,1°

72,5° ±

13,5°

21,5° ±

9,7°

52,5 ±

5,2 cm

25,2 ±

4,0

3,15 ±

2,8

GMt

175° ±

10°

48,5° ±

15,9°

80° ±

9,7°

23° ±

5,8°

44,9 ±

6,9 cm

27,8 ±

4,6

8,6 ±

6,8

Legenda: GC: grupo capoeira; GM: grupo musculação; GMt: grupo muaythai; FO: flexão de ombro; EO: extensão de ombro; FQ: flexão de quadril; EQ: extensão de quadril; P: potência; ID: idade; TP: tempo de prática; cm: centímetros. Fonte: pesquisa direta

 

    A Tabela 1 expõe os dados relativos às médias obtidas por cada grupo nos testes de flexibilidade e de potência, bem como as respectivas médias de idade e de tempo de prática. Nota-se que o GC e o GMt obtiveram de modo respectivo 48,4 ± 4,9 e 44,9 ± 6,9 centímetros quanto a potência de membros inferiores no teste de Impulsão vertical e o GM teve obteve 52,5 ± 5,2, sugerindo assim, maior potência de membro inferiores em indivíduos praticantes de musculação. É válido ressaltar que o valor de p mostrou-se maior que 0,05.

 

    A Tabela 1 evidencia ainda, que o GC apresentou maior rendimento nos testes de EO e de FQ. No teste de FO o grupo com melhor desempenho foi o GM. Já no teste de EQ o GMt obteve melhores marcas. Com relação à idade, os três grupos apresentaram médias semelhantes, o que não ocorre quando observamos o tempo de prática, pois os capoeiristas que participaram da pesquisa afirmaram praticar tal modalidade por mais tempo que os demais entrevistados em suas respectivas modalidades.

 

Gráfico 1. Grupo muaythai – extensão e flexão de quadril goniometria – correlação de Pearson

Gráfico 1. Grupo muaythai – extensão e flexão de quadril goniometria – correlação de Pearson

Fonte: Pesquisa direta

 

        O Gráfico 1 revela que a FQ e EQ do GMt possuem correlação forte (r: 0,7792) e significância estatística devido ao valor de p ser menor que 0,05. Salienta-se que o presente estudo analisou todas as outras possíveis correlações entre os dados, porém, todas apresentaram valor de p maior que 0,05.

 

Discussão 

 

    Ao compararmos as médias de EO entre os três grupos percebemos que o GC mostrou ter maior amplitude (64,5 ± 13,6) em relação ao GMt (48,5 ± 15,9) e ao GM (54,5° ± 12,1°) porém, o dado não foi significativo devido a variância encontrada no teste ANOVA. Campos (2018) relata que para a prática da capoeira é necessário que haja uma flexibilidade ótima, capaz de permitir ao indivíduo, utilizar movimentos específicos, dentro de um padrão ideal para sua prática esportiva e destaca que a flexibilidade é elemento necessário para a manutenção da plasticidade dos movimentos da capoeira.

 

    Camelo et al. (2013) demonstraram em seu estudo de flexibilidade uma grande diferença entre os dois grupos avaliados, sendo que 71,42% do GC alcançaram valores excelentes ou acima da média, enquanto 86,74% do GCO (grupo controle) apresentaram resultado ruim ou abaixo da média. Os autores ainda encontraram grande relação entre ser capoeirista e ser flexível.

 

    No teste de FQ o GC apresentou maior amplitude (86,5 ± 30,4) porém, devido a variância no teste ANOVA os dados não são significativos. Esse fato pode ser explicado pela necessidade de se treinar a flexibilidade na capoeira. Segundo Mazini Filho et al. (2013) o treinamento da capoeira causa impactos positivos na flexibilidade e na agilidade, seja em praticantes veteranos ou em um grupo de iniciantes. Já no teste de EQ o GC foi o que obteve menores valores, o que vai de encontro com os achados de Vidal (2021) visto que em sua pesquisa constatou desempenho significativamente maior no GC sobre o seu grupo controle.

Salvador, Citolin, e Liberali (2010) constataram em sua investigação goniométrica que indivíduos praticantes de musculação apresentaram média de 46,2° ± 10,1° na EO, sendo que o mínimo e máximo indicados para essa articulação são respectivamente 30° e 60°.

 

    O GM foi o que apresentou melhor pontuação no teste de potência de membros inferiores quando comparado com os demais grupos. Tais resultados nos levam a crer que a prática da musculação proporciona maiores ganhos de potência que modalidades como a capoeira ou o muaythai.

 

    Gomes (2011) concluiu em seu estudo que o treinamento de força proporciona resultados positivos no teste de impulsão vertical, pois os avaliados apresentaram melhor desempenho no teste realizado após o período de treinamento, com ganhos entre 16,22% e 20% se comparados com os dados do pré-teste.

 

    Lombarde, Vieira, e Detanico (2011) constataram, através de um teste de salto vertical, um aumento significativo de potência após um programa de treinamento de musculação em atletas de voleibol, aumentando de 25,29 ± 5,19 cm para 28,09 ± 5,37 cm.

 

    O GM apresentou o menor desempenho no teste de FQ entre os três grupos (72,5 ± 13,5). Em contrapartida, Moura, Tonon, e Nascimento (2018) asseveram em seu estudo que uma sessão de treinamento de força para membros inferiores influencia positivamente os níveis de flexibilidade desta região. Porém o ganho de flexibilidade citado pelo autor pode ser menor do que o ganho de flexibilidade decorrente do treinamento de capoeira ou de muaythai, visto que os praticantes dessas modalidades necessitam de grande amplitude de movimento.

 

    No estudo de Salvador, Citolin, e Liberali (2010) os praticantes de musculação avaliados com goniômetro, apresentaram médias 117,5° ± 10,5° na FQ com joelho flexionado.

 

    Ao investigar os efeitos do treinamento resistido sobre a flexibilidade Cyrino et al. (2004) concluíram que sua intervenção não provocou redução dos valores de flexibilidade observados antes do período de intervenção e que o treinamento resistido pode contribuir para a manutenção e até mesmo o aumento da flexibilidade.

 

    Rodrigues, Pinto, e Pedroso (2020) afirmam que atletas que realizam treinos de flexibilidade e de força tiveram maiores ganhos de flexibilidade se comparado aos atletas que treinavam apenas força,sugerindo que aliar os dois tipos de treino seja a melhor opção para otimizar o desempenho esportivo.

 

    O menor desempenho dos praticantes de muaythai em relação ao GC no teste de FQ pode ser explicado por Sousa, Teixeira e Sabino (2017) quando mencionam que durante os treinos de muaythai é comum que haja maior uso da musculatura anterior do que da posterior, podendo levar a lesões decorrentes de fraqueza muscular. Essas lesões podem causar dor e desconforto ao se executar o movimento do músculo antagônico ao lesionado, o que por sua vez, pode diminuir a amplitude do movimento.

 

    O GC e o GMt expressaram médias muito semelhantes no teste de FO sendo 175,5° e 175° respectivamente. Na FQ ambos os grupos permaneceram com leve proximidade nos resultados, com apenas 6,5° de diferença. Ao comparar a flexibilidade de praticantes de jiu-jitsu e muaythai, Casa Junior, Silva, e Casa (2018) afirmam que a flexibilidade da maioria dos praticantes de muaythai foi superior à do outro grupo. Já Sousa, Teixeira, e Sabino (2017) constataram que os praticantes de muaythai obtiveram pontuação média de 2,6 no teste de elevação da perna estendida e no teste mobilidade de ombro a pontuação média foi 2,4 sugerindo boa mobilidade nos membros inferiores e superiores.

 

    Sousa, Teixeira, e Sabino (2017) discorrem que o muaythai, assim como outros esportes de luta, exige grande amplitude de movimento, principalmente durante a execução de chutes desferidos acima do nível do ombro. Silva, e Martins (2011) afirmam que o muaythai utiliza inúmeros golpes com os membros inferiores, tendo assim a flexibilidade como valência física indispensável para execução correta desses movimentos, agindo diretamente no resultado da performance. Os autores ainda constataram em seu estudo que os atletas mostraram melhora na flexibilidade no pós-teste.

 

Conclusão 

 

    Ao fim desta pesquisa pôde-se constatar correlação estatística significativa entre a flexão e extensão de quadril do grupo muaythai. Observou-se ainda que o grupo capoeira apresentou maior flexibilidade na extensão de ombro e flexão de quadril em relação aos outros grupos estudados devido a especificidade da modalidade, apesar disso não foi encontrado encurtamento significativo dos participantes dos demais grupos. A pesquisa revelou também que a potência de membros inferiores foi maior no grupo musculação.

 

    Considera-se que o presente estudo não reúne toda a literatura e dados acerca do tema em questão e não pretendemos findar o assunto, visto que se faz necessária a realização de novas pesquisas a respeito da flexibilidade e potência, em especial, com um número maior de participantes.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 285, Feb. (2022)