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ISSN 1514-3465

 

Educação Física na escola: o ensino e aprendizagem em tempos de pandemia

Physical Education at School: Teaching and Learning in Times of Pandemic

Educación Física en la escuela: enseñanza y aprendizaje en tiempos de pandemia

 

Silvia Christina de Oliveira Madrid*

profsilviamadrid@gmail.com

Marcelo José Taques**

marcelotaques@ufgd.edu.br

Ilma Célia Ribeiro Honorato***

ilmahonorato@faculdadeguairaca.com.br

Daiane Grando****

prof.daianegrando@hotmail.com

 

*Doutora em Ciência da Atividade Física e do Esporte (UNILEON/ES)

Pós-doutora em Educação Física (UFSC/SC)

Mestre em Educação (UNIMEP/SP)

Especialista em Metodologia do Ensino Superior

Especialista em Treinamento Desportivo

Especialista em Educação Física Escolar

Graduada em Licenciatura em Educação Física (UEPG/PR)
Pesquisadora Sênior do Programa de Pós-Graduação em Educação, Mestrado e Doutorado em Educação (UEPG/PR)

**Doutor em Educação (UEPG/PR). Mestre em Educação (UEPG/PR)

Especialista em Educação Física escolar (UNIGUAIRACÁ/PR)

Especialista em Educação Especial: Atendimento às necessidades especiais-ESAP (UNIVALE). 

Especialista em Gestão escolar-ESAP (UNIVALE)

Especialista em MBA: gestão do ensino superior

Graduado em Licenciatura em Educação Física (UNIGUAIRACÁ/PR)

Graduado em Licenciatura em Pedagogia (UNINTER)

Professor na Faculdade de Educação

da Universidade Federal da Grande Dourados - FAED (UFGD/MS)

***Doutora em Educação (UEPG/PR). Mestre em Educação (UEPG/PR)

Especialista em Jogos Cooperativos (UNIMONTE/SP)

Especialista em Interdisciplinaridade (FAC. ESPÍRITAS/PR)

Graduada em Educação Física (UNIOESTE/PR)
Professora da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná
Professora do Departamento de Educação Física Licenciatura e Bacharelado (UNIGUAIRACÁ/PR)

**** Doutoranda em Educação (UEPG/PR). Mestre em Educação (UEPG/PR)

Complementação em Educação Física Bacharelado (CLARETIANO CENTRO UNIVERSITÁRIO). 

Graduada em Licenciatura em Educação Física (UNIGUAIRACÁ/PR)

Professora do Departamento de Educação Física Licenciatura

e Bacharelado da UniGuairacá/PR. Pesquisadora do Grupo de Estudos

e Pesquisas em Educação Física Escolar

e Formação de Professores-GEPEFE (UEPG/CNPq)

(Brasil)

 

Recepção: 26/01/2021 - Aceitação: 04/05/2021

1ª Revisão: 22/04/2021 - 2ª Revisão: 25/04/2021

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Madrid, S.C. de O., Taques, M.J., Honorato, I.C.R., e Grando, D. (2021). Educação Física na escola: o ensino e aprendizagem em tempos de pandemia. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(277), 2-19. https://doi.org/10.46642/efd.v26i277.2832

 

Resumo

    O presente estudo teve como objetivo analisar os avanços, desafios e limitações do ensino e aprendizagem da Educação Física no ensino remoto, nas escolas públicas estaduais paranaenses, perante o contexto da pandemia da COVID-19. A pesquisa foi realizada nas escolas do Núcleo Regional de Educação de Guarapuava, participaram 33 professores de Educação Física respondentes do questionário no formato Google forms. Os dados da pesquisa foram organizados em categorias, nas quais apresentamos elementos da prática pedagógica, relatos dos professores sobre o cotidiano escolar e aspectos sobre o trabalho docente no ensino remoto. Consideramos no estudo a capacitação e adaptação dos professores aos recursos tecnológicos, o desgaste físico e psicológico, a interferência do distanciamento social no processo. Os resultados da pesquisa indicam que não ocorreram avanços significativos no ensino e aprendizagem, muitos alunos tem acesso limitado à Internet, a participação e motivação dos alunos é baixa, faltam aulas práticas, as avaliações são superficiais e ineficazes e os professores afirmam que perderam a autonomia. Concluímos que os desafios enfrentados pelos professores de Educação Física no ensino remoto predominam e tem limitado o ensino e aprendizagem nas escolas públicas paranaenses.

    Unitermos: Educação Física. Escola pública. Pandemias. Ensino remoto. Ensino e aprendizagem.

 

Abstract

    The present study aims to analyze the advances, challenges and limitations of Physical Education teaching and learning in remote education in state public schools in Paraná, in the context of the COVID-19 pandemic. The research was conducted in the Schools of the Regional Nucleus of Education of Guarapuava, participated 33 Physical Education teachers who answered the questionnaire in the Google forms format. The research data were organized into categories, in which we present elements of pedagogical practice, reports of teachers about school daily life and aspects about teaching work in remote education. We considered in the study the training and adaptation of teachers to technological resources, physical and psychological exhaustion, the interference of social distancing in the process. The results of the research indicate that there haven’t been significant advances in teaching and learning, many students have limited access to the Internet, the participation and motivation of students is low, practical classes are lacking, evaluations are superficial and ineffective and teachers claim that they have lost autonomy. We conclude that the challenges faced by Physical Education teachers in remote education predominate and have limited teaching and learning in public schools in Paraná.

    Keywords: Physical Education. Public education. Pandemics. Remote teaching. Teaching and learning.

 

Resumen

    El presente estudio tuvo como objetivo analizar los avances, desafíos y limitaciones de la enseñanza y el aprendizaje de la Educación Física en la educación remota, en las escuelas públicas estatales de Paraná, en el contexto de la pandemia COVID-19. La investigación se llevó a cabo en las escuelas del Centro Educativo Regional de Guarapuava, y participaron 33 profesores de Educación Física que respondieron el cuestionario en el formato de de Google Formulario. Los datos de la investigación se organizaron en categorías, en las que presentamos elementos de la práctica pedagógica, relatos de los docentes sobre la vida diaria escolar y aspectos de la labor docente en educación remota. Consideramos en el estudio la formación y adaptación de los docentes a los recursos tecnológicos, el estrés físico y psicológico, la interferencia de la distancia social en el proceso. Los resultados de la encuesta indican que no ha habido avances significativos en la enseñanza y el aprendizaje, muchos estudiantes tienen acceso limitado a Internet, la participación y motivación de los estudiantes es baja, faltan clases prácticas, las evaluaciones son superficiales e ineficaces y los docentes dicen haber perdido autonomía. Concluimos que los desafíos a los que enfrentan los docentes de Educación Física en educación remota predominan y tienen una enseñanza y un aprendizaje limitados en las escuelas públicas de Paraná.

    Palabras clave: Educación Física. Escuela pública. Pandemias. Enseñanza remota. Enseñanza y aprendizaje.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 277, Jun. (2021)


 

Introdução 

 

    A pandemia da COVID-19 (OMS, 2019), doença infecciosa descoberta em 2020, tem afetado de forma contundente o planeta, suscitando de forma emergencial a suspensão de todas as atividades da sociedade consideradas não essenciais. Diante desse contexto, as pessoas tiveram que se adaptar às diversas situações e mudar hábitos, a prática do isolamento social, recomendação dos órgãos de saúde pública, se tornou necessária como medida de proteção mais segura aliada às medidas de higienização, cujo objetivo é conter a expansão da doença.

 

    Desse modo, a maior parte da população está isolada em seu domicílio, afetando assim o desenvolvimento de grande parte das atividades da sociedade. O setor educacional foi atingido amplamente, num primeiro momento as instituições de ensino foram fechadas, professores e alunos deixaram de compartilhar conhecimentos e interagir, o isolamento social levou à suspensão temporária das aulas no modo presencial. Os âmbitos da Educação Básica e do Ensino Superior se depararam com um contexto até então inimaginável.

 

    Diante dessa conjuntura, emergiu a necessidade de serem pensadas novas formas de ensinar, o ensino remoto se tornou a opção viável para que as instituições de ensino público e privado pudessem dar continuidade ao ano letivo na Educação Básica e no Ensino Superior. Assim, o processo de ensino e aprendizagem passou a ser mediado pelas tecnologias da informação e comunicação,possibilitando que professores e alunos compartilhem conhecimentos e possam interagir.

 

    No Estado do Paraná, na Rede Pública da Educação Básica o ensino remoto foi implementado, sem muito diálogo com a comunidade escolar, impactando no cotidiano de professores, alunos e suas famílias.

 

    O planejamento para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio tem sido organizado de acordo com os pressupostos curriculares dos documentos oficiais que subsidiam o desenvolvimento da Educação Básica nas escolas públicas estaduais (Paraná, 2008, 2018, 2019), os quais têm sido utilizados para fundamentar o ensino remoto, no atual contexto da pandemia da COVID-19.

 

    As aulas de Educação Física, para os anos finais do Ensino Fundamental, tem sido elaboradas de acordo com os preceitos do Currículo da Rede Estadual Paranaense - CREP - Educação Física (Paraná, 2019), que complementa o Referencial Curricular do Paraná - RCP (Paraná, 2018), como preconizam os documentos da Secretaria da Educação e de Esportes do Estado do Paraná – SEED/PR.

 

    Para o Ensino Médio, as aulas de Educação Física tem sido organizadas seguindo os fundamentos teóricos metodológicos das Diretrizes Curriculares da Educação Básica Educação Física - DCE (Paraná, 2008), pois os encaminhamentos visando a elaboração do CREP para esse nível de escolarização, estão sendo estudados e discutidos por uma equipe da SEED/PR, cuja implementação está prevista para 2021.

 

    A partir de 2018, o RCP (Paraná, 2018) passou a ser o documento norteador da Educação Básica pública paranaense, tendo seus pressupostos na estrutura da Base Nacional Comum Curricular - BNCC (Brasil, 2017), que define o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os estudantes devem desenvolver ao longo da Educação Básica em todas as escolas do país. No entanto, tal documento contextualiza e considera a realidade paranaense, possibilitando discussões sobre os princípios e direitos basilares dos currículos no Estado, bem como propicia reflexões sobre a transição entre as etapas escolares, estabelecendo também a avaliação como momento de aprendizagem. (Paraná, 2018, p. 8)

 

    No atual contexto do setor educacional, consideramos fundamental, à luz das discussões sobre a educação escolar diante da pandemia da COVID-19, apresentar o estudo sobre as percepções dos professores sobre o processo de ensino e aprendizagem da Educação Física no ensino remoto, nas escolas públicas estaduais paranaenses.

 

    Portanto, o presente estudo tem como objetivo analisar os avanços, desafios e limitações do ensino e aprendizagem da Educação Física no ensino remoto, nas escolas públicas estaduais paranaenses, perante o contexto da pandemia da COVID-19.

 

Métodos 

 

    A pesquisa é de abordagem qualitativa (Ghedin, e Franco, 2008), sendo um estudo de caso descritivo. (Triviños, 1987, e Yin, 2001)

 

    De acordo com Ghedin, e Franco (2008) estudos indicam que vem sendo incorporada a pesquisa qualitativa novas compreensões, destacamos: o professor vem à cena; o cotidiano entra em destaque e a realidade social passa a ser dotada de sentido.

 

    O estudo de caso retrata uma investigação empírica, em que geralmente o fenômeno pesquisado e o contexto em que está inserido não estão claramente definidos. A estratégia metodológica justifica-se, uma vez que o estudo de caso, por meio do levantamento de questões e dados de uma determinada situação contemporânea, possibilita esclarecer um conjunto de decisões e quais as razões pelas quais as mesmas foram implementadas. (Yin, 2001)

 

    A pesquisa foi realizada nas escolas públicas do Estado do Paraná, do Núcleo Regional de Educação - NRE de Guarapuava, do qual fazem parte 69 escolas. A escolha deste município justifica-se por representar a maior cidade da mesorregião do Centro Sul Paranaense. A opção pelo ensino público se deu pelo fato de que a maioria das crianças e jovens em idade escolar está matriculada nas escolas públicas.

 

    O NRE de Guarapuava tem 52 professores de Educação Física, 33 docentes participaram como sujeitos da pesquisa, os mesmos atuam nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. O critério de inclusão dos professores para participarem da pesquisa foi de estarem exercendo a docência no ensino remoto.

 

    Os procedimentos éticos da pesquisa seguiram as premissas no que concerne a ética em relação ao estudo com seres humanos. Primeiramente solicitamos a autorização para a realização da pesquisa junto a SEED/PR, por meio do NRE de Guarapuava. Na sequência submetemos o projeto de pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG/PR), anexando a carta de anuência da SEED/PR, o mesmo foi aprovado pelo referido Comitê sob o Parecer nº 4.193.550. Posteriormente, contatamos os professores de Educação Física, que aceitaram participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

 

    A coleta de dados foi realizada em setembro de 2020 por meio de um questionário semiaberto (Godoy, 1995), no modelo do Google forms, totalizando 9 questões, sendo 6 fechadas e 3 abertas, tal ferramenta permite organizar um formulário no qual os sujeitos respondem a pesquisa de forma on-line. No início do instrumento esclarecemos o respondente sobre os objetivos da pesquisa, o sigilo das informações prestadas e que a participação seria anônima. Solicitamos ao respondente que após a leitura dos esclarecimentos sobre a pesquisa, sinalizasse no final do TCLE se concordava ou não concordava em participar como colaborador no estudo.As perguntas que constam no questionário são as seguintes: Qual sua cidade? Para qual etapa de ensino você tem realizado o ensino remoto? Há quanto tempo atua como professor nas etapas de ensino citadas anteriormente? Você já fez alguma capacitação sobre o ensino a distância, ensino remoto ou a utilização de ferramentas tecnológicas para a educação? (Você pode assinalar mais de uma opção). Você conseguiu se adaptar aos recursos tecnológicos utilizados no ensino remoto? Você percebe algum avanço na área da Educação Física escolar ocasionado pela utilização de novos recursos tecnológicos no processo de ensino e aprendizagem durante a pandemia? Quais desafios você tem enfrentado no processo de ensino aprendizagem da Educação Física por meio do ensino remoto? Quais as principais limitações para que o processo de ensino aprendizagem da Educação Física escolar ocorra por meio do ensino remoto? Como o ensino remoto está impactando em seu trabalho docente? Explique.

 

    Finalizando o instrumento colocamos a opção para o professor respondente indicar seu endereço de e-mail, caso desejasse receber os resultados da pesquisa. O questionário foi enviado em nome do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar e Formação de professores - Gepefe (UEPG-CNPq, 2006).

 

    A organização e a análise dos dados da pesquisa foram realizadas de acordo com os pressupostos teóricos metodológicos da Análise de Conteúdo (Bardin, 1977), sendo utilizada a técnica da categorização.

 

    Os dados da pesquisa foram agrupados em duas (2) categorias de análise e cinco (5) subcategorias, sendo: o ensino e aprendizagem da Educação Física no ensino remoto (avanços, desafios e limitações; a prática pedagógica); o trabalho docente no ensino remoto (capacitação, adaptação aos recursos tecnológicos; desgaste físico e psicológico; distanciamento social).

 

Resultados 

 

    Os encaminhamentos teóricos metodológicos das aulas remotas de Educação Física foram estabelecidos pela SEED-PR (Paraná, 2018), de acordo com os pressupostos curriculares dos documentos oficiais do Estado do Paraná (Paraná, 2008, 2018, 2019), as estratégias de ensino foram realizadas via aplicativo APP Paraná (Aula Paraná), plataforma do Google Classroom e TV aberta (RIC-TV).

 

    As aulas foram elaboradas e gravadas por professores contratados pela SEED/PR, que também realizaram as atividades avaliativas. Dessa forma, aos professores das escolas foram atribuídas as funções de mediar as aulas e complementar e/ou alterar os formulários das atividades propostas. Nesse sentido, o professor teve autonomia para gravar as aulas, complementando o conteúdo trabalhado pelo professor contratado, bem como modificar os formulários das atividades. Para os alunos que não tinham nenhum tipo de acesso aos aplicativos disponibilizados, as atividades foram digitadas e impressas, esse material foi retirado de 15 em 15 dias nas escolas pelos alunos e/ou familiares.

 

    Os professores de Educação Física (33), participantes da pesquisa, atuam nas escolas públicas estaduais nas cidades de Guarapuava (31), Pinhão (1) e Reserva do Iguaçu (1). Dos 33 professores respondentes 25 docentes (75,8%) são do Quadro Próprio do Magistério (QPM), ingressaram no ensino público por meio de concurso, e 8 docentes (24,2%) ingressaram por meio do Processo Seletivo Simplificado (PSS), sendo contratados temporariamente.

 

    Da totalidade dos sujeitos (33) participantes da pesquisa, 28 professores exercem à docência nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, 3 professores apenas nos anos finais do Ensino Fundamental e 2 professores somente no Ensino Médio. O tempo de serviço dos professores de Educação Física (33) varia de 1 a 32 anos, a maioria (31) atua nas escolas da cidade de Guarapuava e são concursados, e o tempo de serviço de 45,45% dos docentes é de 20 a 32 anos.

 

    Em relação aos avanços no ensino e aprendizagem na Educação Física no ensino remoto, 27 professores (81,8%) responderam que não constataram avanços, afirmaram que mesmo com a utilização de recursos tecnológicos as dificuldades foram muitas, limitando assim o processo; apenas 6 professores (18,2%) afirmaram que houve algum avanço, pois na medida em que tiveram que buscar alternativas metodológicas para o desenvolvimento das aulas remotas, reconhecem que ocorreram aprendizados apesar das dificuldades.

 

    Os professores destacaram que no primeiro trimestre de 2020, os alunos tiveram muitas dificuldades para entender o funcionamento das plataformas digitais, foram necessários vários tutoriais elaborados pelos docentes, bem como orientações por vídeos e conversas via WhatsApp. Os docentes evidenciaram que embora a maioria dos alunos tenha acesso aos aparelhos celulares e serem crianças e adolescentes da era digital, os mesmos apresentam imensas dificuldades em compreender e executar tarefas simples como, por exemplo, enviar um arquivo ou vídeo.

 

    Os professores afirmaram que o ensino remoto apresenta baixa qualidade e exclui os alunos das classes sociais com menor poder aquisitivo. Em relação à Educação Física, os professores destacaram que a proposta é ainda mais limitante, uma vez que a essência da disciplina está no movimento corporal, na interatividade, na socialização e nas atividades coletivas; os docentes apontaram também que as aulas ficaram restritas às teorias, conceitos, evolução histórica e regras das práticas corporais que fazem parte do componente curricular.

 

    Sobre os desafios que os professores têm enfrentado no ensino remoto, os mesmos destacaram os seguintes: baixa participação e motivação dos alunos; desinteresse dos alunos em relação às aulas; falta das aulas práticas; falta de interação com e entre os alunos; dificuldade de diagnosticar se o processo de ensino e aprendizagem se efetiva; avaliações superficiais e ineficazes; atraso no envio das atividades pela SEED/PR, o que impossibilita a utilização das mesmas; acesso limitado à internet ou a falta de acesso dos alunos e famílias de nível socioeconômico mais baixo.

 

    Os professores afirmaram que os desafios criam barreiras, desencadeando limitações para que a aprendizagem no ensino remoto se efetive, as principais elencadas pelos professores (33) foram: 19 professores (57,6%) apontaram a falta de atividades práticas; 9 professores (27,2%) assinalaram a precariedade do acesso à internet e 5 professores (15,2%) assinalaram a falta de interesse e motivação dos alunos para participarem das aulas remotas.

 

    Os professores relataram que foram sugeridas atividades práticas para os alunos, as mesmas foram gravadas e enviadas, tal encaminhamento ocasionou problemas, sendo os principais: muitos alunos não tiveram acesso a esse material pela falta de recursos tecnológicos; ocorreram dificuldades de interpretação e compreensão das atividades. Tais fatores limitaram a realização de grande parte das atividades pedagógicas propostas pelos professores.

 

    Em relação ao trabalho docente no ensino remoto, os professores apontaram a importância da capacitação sobre o ensino a distância, ensino remoto e/ou a utilização de ferramentas tecnológicas, constatamos que a mesma é fragilizada. Pois, apenas 24,2% dos professores fizeram capacitação para o ensino à distância, no entanto somente 9,2% foram capacitados para o ensino remoto. Em relação ao ensino com utilização das tecnologias, 54,5% dos professores responderam que fizeram capacitações, 42,5% afirmaram que nunca participaram de capacitações e 3% participaram de capacitações curtas com duração de 3 horas no máximo.

 

    Os professores ao serem questionados sobre a adaptação ao ensino remoto, 69,7% afirmaram que estão adaptados parcialmente, 27,3% dizem estarem adaptados e 3% responderam que não estão adaptados ao ensino remoto.

 

    Os professores alegaram que no atual contexto o desgaste físico e psicológico tem sido enorme, pois são muitas horas de trabalho no computador, as cobranças da SEED/PR são excessivas, e suas dificuldades e dos alunos não são consideradas. Constatamos que para 66,6% dos professores de Educação Física (22) o excesso de atividades tem impactado de forma negativa no seu trabalho, 18,2% dos professores (6) afirmaram que não tem autonomia docente, e 15,2% dos professores (5) se sentem prejudicados em relação aos aspectos físicos e emocionais. Os professores fizeram referência à organização das aulas, alegaram que esse trabalho tem sido centralizado e realizado pela SEED/PR, de acordo com os docentes tal formato os torna meros coadjuvantes do processo de ensino e aprendizagem, pois apenas preenchem formulários e corrigem atividades.

 

    O distanciamento social é outro aspecto destacado pelos professores, o qual tem interferido no processo de ensino aprendizagem, visto que as aulas de Educação Física são permeadas pela interação entre e com os alunos, pois estar perto, se movimentar, se expressar corporalmente, jogar, etc., fazem parte da essência da disciplina.

 

    Podemos dizer que, de acordo com as respostas dos professores, são vários os aspectos que interferem e impactam no trabalho docente realizado no ensino remoto, os quais têm interferido no processo de ensino e aprendizagem da Educação Física escolar de forma contundente.

 

Discussão 

 

    A Educação Física, enquanto área de conhecimento tem o movimento humano como base do saber científico, o aspecto procedimental caracteriza de forma predominante essa disciplina na escola, pois os alunos aprendem vivenciando corporalmente os saberes da cultura corporal.

 

    A vivência prática destes saberes suscita um tipo de conhecimento particular e insubstituível, propicia ao sujeito o acesso a uma dimensão de conhecimentos e de experiências aos quais ele não teria de outro modo e, para que tal vivência seja expressiva é preciso problematizar, desnaturalizar e evidenciar a multiplicidade de sentidos e significados que os grupos sociais conferem às diferentes manifestações da cultura corporal de movimento. (Brasil, 2017, p. 209-210)

 

    No atual cenário da educação, com a suspensão presencial das aulas, em vários contextos temos uma ruptura entre os modelos de ensino comumente utilizados e as diversas inovações pedagógicas e metodológicas, apontadas como efetivas para o processo de ensino e aprendizagem em tempos de pandemia. Dentre as possibilidades, observamos uma utilização em larga escala das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) no espaço escolar, no intuito de superar as dificuldades que se apresentam no âmbito acadêmico e profissional. (Brasil, 2020)

 

    Com a evolução das novas tecnologias, a educação vem sofrendo transformações e novos recursos têm sido utilizados no cenário escolar, discussões em relação às metodologias ativas e a necessidade de mudanças nas metodologias de ensino vêm sendo apontadas e amplamente discutidas (Palmeira, Da Silva, e Ribeiro, 2020). Muitos professores já utilizam recursos audiovisuais, ferramentas de compartilhamento de conteúdos, sites, atividades interativas, mas ainda de uma forma limitada, principalmente quando se trata do ensino público, pois os recursos das instituições e comunidades escolares são em sua maioria escassos e precários.

 

    Nessa lógica, destacam-se os desafios impostos aos professores que têm atuado nessa dinâmica, uma vez que esse modelo de trabalho docente se tornou impactante para muitos que até então, não tinham se apropriado desses recursos em seu cotidiano pedagógico. Aderir ao ensino remoto na Educação Básica tem sido um processo complexo, pois não houve capacitação docente devido a implementação que se deu de forma emergencial, acelerada e improvisada.

 

    De acordo com Filho, Antunes, e Couto (2020) o ensino remoto é uma prática improvisada, sem planejamento prévio, são demandas imediatas implementadas pelas secretarias de educação, que atribuem à escola toda responsabilidade de oferecer algum tipo de apoio pedagógico aos alunos durante a permanência do isolamento social.

 

    Daros (2020) diz que uma atividade ou aula remota pode ser considerada uma solução temporária para dar continuidade às atividades pedagógicas, tendo como principal ferramenta à internet. As atividades e aulas remotas não são consideradas uma modalidade de ensino, mas uma solução rápida e acessível para muitas instituições. Normalmente as mesmas são utilizadas em um curto período de tempo, diferentemente da EaD, que tem sua estrutura e metodologia pensadas para garantir o ensino e Educação à distância. (Daros, 2020)

 

    Para Daros (2020), as atividades ou aulas remotas surgiram com a finalidade de minimizar os impactos na aprendizagem dos estudantes, advindas do sistema de ensino originalmente presencial, as quais estão sendo aplicadas neste momento de crise provocada pela pandemia vivenciada. As aulas e atividades remotas são aplicadas pontualmente, basicamente acompanham o ensino presencial aplicado em plataformas digitais.

 

    Moreira, e Schlemmer (2020) destacam que a suspensão das atividades presenciais gerou uma obrigatoriedade de migração para a realidade online, transferindo metodologias e práticas pedagógicas características do ensino presencial, para aquilo que tem sido apelidado, segundo os autores, de ensino remoto de emergência.

 

    Castanhede, e Oliveira (2020) apontam que a dificuldade dos alunos no acesso à internet se constitui num problema gravíssimo, pois para que a modalidade de ensino remoto possa ser concretizada, há a obrigatoriedade de tal acesso. Os autores destacam ainda, que há a percepção da falta de aderência produtiva por parte dos alunos, aspecto fundamental para que o método possa ter resultados satisfatórios.

 

    Entendemos o ensino remoto na Educação Básica como um modelo emergente, que não garante a aprendizagem em relação aos diferentes componentes curriculares, os quais apresentam suas especificidades. Em relação à Educação Física escolar, os conhecimentos são desenvolvidos prioritariamente por meio do corpo em movimento, desse modo mesmo com a utilização dos recursos tecnológicos sofre consequências dessa adaptação. Estimular os estudantes, motivando-os para que mantenham o interesse nas aulas mediadas pela tecnologia, tem sido um grande obstáculo em todo o processo de ensino e aprendizagem.

 

    A pandemia e a utilização do ensino remoto demonstram de forma cruel as dificuldades que a escola enfrenta por muitos anos, dando visibilidade às desigualdades educacionais de acesso à educação pública de qualidade, comprovando as dificuldades de professores, alunos e pais na atual conjuntura (Filho, Antunes, e Couto, 2020). A comunidade mais prejudicada nesse processo é a de nível socioeconômico mais baixo, que não pode deixar de trabalhar, que tem a escola como principal local de segurança para deixar seus filhos, bem como não consegue fazer o acompanhamento e supervisão dos mesmos na realização das tarefas e vídeo aulas.

 

    O ensino em ambiente virtual exige que os alunos tenham autonomia frente ao processo de ensino aprendizagem, o que é complexo, visto que crianças e jovens estão acostumados a um sistema de ensino tradicional e além disso, não tem condições igualitárias de vida e consequentemente de cultura para se adaptarem ao processo. Em relação às crianças os obstáculos são maiores, pois elas brincam, interagem, aprendem de distintas formas a partir de diferentes estímulos, o que fica difícil de ser efetivado por meio do ensino remoto.

 

    Arruda (2020) evidencia que o mundo não estava preparado para os efeitos sociais, educacionais, culturais e econômicos gerados pela atual pandemia, e no caso da educação desconstrói a forma como o ensino e aprendizagem são vistos socialmente. O referido autor destaca ainda que a escola é um espaço de risco para a transmissão do vírus da COVID-19, visto que crianças e jovens entram em contato diário com adultos de diferentes grupos familiares. Esses agravantes fazem com que a educação seja uma das esferas mais afetadas e uma das últimas a deixar de sofrer esses impactos.

 

    Nas escolas públicas no Estado do Paraná o trabalho docente tem sido organizado de acordo com os pressupostos curriculares apontados no RCP (Paraná, 2018), documento que estabelece os princípios orientadores da Educação Básica a serem considerados na elaboração do currículo pelas redes de ensino, visam à garantia dos direitos e objetivos de aprendizagem dos estudantes e são delineados a partir da trajetória do Paraná. O RCP (Paraná, 2018) apresenta as etapas Educação Infantil e Ensino Fundamental com as discussões adequadas correspondentes e seus organizadores curriculares, os quais condizem com a estrutura dos conhecimentos que fundamentam o trabalho pedagógico.

 

    O documento está organizado por ano de escolaridade por meio de unidades temáticas, objetos de conhecimentos e objetivos de aprendizagem, e é de caráter obrigatório na elaboração das propostas pedagógicas das redes públicas e privadas, “[...] tendo em vista os contextos sociais, econômicos e culturais que diferenciam as regiões do estado”. (Paraná, 2018, p. 9)

 

    Em relação à Educação Física, o RCP (Paraná, 2018) evidencia sua importância no contexto escolar, bem como no contexto social, apresenta os direitos e objetivos de aprendizagem referendados na BNCC (Brasil, 2017). Os objetos de conhecimento devem ser tematizados na Educação Física escolar, com o objetivo maior de fazer com que os alunos tenham acesso às mais diversas práticas corporais.

 

    O RCP (Paraná, 2018, p. 8) indica ainda a premissa de respeitar as especificidades das diferentes modalidades de ensino da Educação Básica, assim como aponta que as orientações e adaptações curriculares cabíveis devem ser realizadas, no sentido de serem respeitadas as bases culturais e o modo de vida dos sujeitos.

 

    Em 2019, uma versão preliminar do CREP passou por consulta pública, em 2020 o CREP (Paraná, 2019) passou a ser o documento curricular orientador da construção da Proposta Pedagógica Curricular (PPC) e principalmente na elaboração dos Planos de Trabalho Docente e Planos de Aula da Rede Estadual. O CREP (Paraná, 2019) complementa o já aprovado RCP (Paraná, 2018), apresenta conteúdos essenciais para cada componente curricular, em cada ano do Ensino Fundamental, indica ainda sugestões de distribuição dos conteúdos ao longo do ano letivo, que estão organizados em trimestres.

 

    As aulas de Educação Física para o Ensino Médio têm sido fundamentadas de acordo com os pressupostos teóricos metodológicos das DCE (Paraná, 2008), o documento aponta que a disciplina deve estar fundamentada nas ponderações sobre as necessidades atuais de ensino diante dos alunos, visando a superação das contradições e a valorização da educação, devendo ser consideradas as diferenças dos contextos, bem como as diversas experiências da comunidade escolar. (Paraná, 2008, p. 50)

 

    A Educação Física, cujo objeto de estudo e ensino é a cultura corporal, deve ser trabalhada na perspectiva de diálogo com outras disciplinas, propiciando assim o entendimento em sua complexidade, tendo como objetivo formar a atitude crítica do aluno, requerendo domínio do conhecimento, a fim de possibilitar sua construção a partir da escola (Paraná, 2008, p. 50-51). “Compreender a Educação Física sob um contexto mais amplo significa entender que ela é composta por interações que se estabelecem nas relações sociais, políticas, econômicas e culturais dos povos”. (Paraná, 2008, p. 53)

 

    A prática pedagógica da Educação Física escolar é totalmente balizada pelas vivências e experiências dos alunos em relação aos conhecimentos da cultura corporal historicamente construídos, que nesse cenário de incertezas, a ausência das mesmas vem sendo alvo de muitas discussões e debates pela comunidade acadêmica da área.

 

    Diante do período de isolamento social vivenciado, muito tem sido discutido sobre o fazer pedagógico na Educação Física escolar, sua prática corporal está comprometida devido aos protocolos emergenciais e a suspensão das aulas presenciais.

 

    As práticas pedagógicas realizadas no ensino remoto tem sido um desafio para professores e alunos no campo escolar, buscam-se alternativas e estratégias para atender o aspecto qualitativo do processo de ensino aprendizagem e a avaliação, todavia, destacam-se mais as limitações em relação a ausência das práticas corporais, do que os avanços frente ao contexto educacional enfrentado.

 

    Segundo Heinsfeld, e Pischetola (2017), a cultura digital se relaciona com a comunicação de uma forma global, nesse sentido se faz necessária uma reestruturação da sociedade. No entanto, verificamos que uma grande parcela desta mesma sociedade não tem acesso às novas tecnologias, principalmente em se tratando do ensino público.

 

    A cultura digital traz em seu escopo, muitas características peculiares de um desenvolvimento global no que se refere aos avanços da conectividade. Segundo estudos desenvolvidos, no Brasil 20 milhões de domicílios (28%) não possuem conexão à Internet, realidade que afeta especialmente famílias com renda de até um salário mínimo (45%), sendo esse um empecilho que ainda atinge um percentual elevado da população sob os referenciais de desigualdade social e digital, principalmente no modelo remoto atual de educação. (Silva, 2020)

 

    Esse panorama se torna complexo, pois, a dificuldade de acesso aos aportes digitais por grande parte dos alunos, está diretamente relacionada à qualidade do processo de ensino aprendizagem, pois não conseguem se apropriar da totalidade de ações e propostas direcionadas nesse modelo de ensino remoto.

 

    As atividades pedagógicas não presenciais podem acontecer por meios digitais, de programas de televisão ou rádio, pela adoção de material didático impresso com orientações pedagógicas distribuído aos alunos e seus pais ou responsáveis, e pela orientação de leituras, projetos, pesquisas, atividades e exercícios indicados nos materiais didáticos. (Brasil, 2020, p. 8)

 

    A partir dessas especificidades, constatamos que as atividades podem ser direcionadas também por meio de um viés físico, com materiais impressos, entre outros, todavia, a complexidade ainda continua nesse modelo, pois, nem todos os alunos conseguem ter acesso a essas possibilidades, devido ao caráter emergencial e de isolamento social endossado.

 

    Nesse ínterim de reflexões, destacam-se a cautela e a reflexão crítica necessária sobre as práticas pedagógicas direcionadas no ensino remoto, principalmente, em relação à aquisição de ferramentas e recursos para esse panorama de isolamento social, pois, além da precarização do trabalho docente, o ensino fragmentado vem sendo objeto de debates nesse escopo, já que a sociedade em geral, ainda vem lutando para a superação de desigualdades que estão arraigadas em nossa dinâmica histórico cultural.

 

    Desse modo, percebemos que além da complexidade na organização do trabalho pedagógico remoto, a falta de interesse e motivação dos alunos para realizarem as atividades inerentes à Educação Física, implicam em dificuldades que os professores tem enfrentado no processo de ensino aprendizagem. (Tenório, e Da Silva, 2013)

 

    Essas questões são fundamentais para o entendimento da importância do encaminhamento metodológico diferenciado no ensino remoto que se faz necessário, no sentido de estimular os alunos para realizarem as atividades nas aulas de Educação Física. De acordo com Martineli, Magalhães, Mileski, e Almeida (2016), o professor apresenta um papel primordial tanto no que tange a motivação nas aulas quanto a desmotivação, sendo a metodologia o ponto central para o bom desenvolvimento das mesmas.

 

    Obviamente, a partir de outra ótica, de acordo com Zagury (2006) apontar o professor como o único responsável pela tímida participação dos alunos, é ignorar a multiplicidade de problemas enfrentados pela educação na atualidade, dentre eles podemos ressaltar as questões sociais dos alunos, a infraestrutura frágil para a realização das aulas e o entendimento de que o ser humano é diferente em vários aspectos e que respondem aos estímulos também de formas diferenciadas.

 

    Essas questões são pertinentes, visto que os professores apresentam compromisso para legitimar a área de conhecimento Educação Física no âmbito escolar, no entanto, os docentes não devem ser considerados como os únicos responsáveis pelo desinteresse e a não participação dos alunos nas aulas.

 

    No atual contexto educacional das escolas públicas paranaenses, o ensino remoto tem sido utilizado na organização e desenvolvimento do trabalho pedagógico, assim entendemos que há necessidade de formação para os professores, a fim de que obtenham capacitação para utilizar os recursos tecnológicos com competência, de forma que consigam realizar o trabalho com seus alunos.

 

    Para Marçal (2000) isso requer um maior investimento na formação continuada dos profissionais, não somente no que tange ao conhecimento como também em competências. Outro ponto importante destacado pelo autor, retrata a falta de valorização do professor, em que capacitações rápidas ensinam apenas o uso de determinadas tecnologias, o que não agrega o conhecimento necessário e muito menos competência em relação a efetividade do ensino e aprendizagem.

 

    A adaptação ao ensino remoto não é um processo simples, pois a forma emergencial, acelerada e improvisada com que o mesmo foi implementado dificultou o processo de diálogo com os docentes, a capacitação para atuação, o que consequentemente impactou no processo de ensino e aprendizagem.

 

    Destacamos que antes mesmo da implementação emergencial do ensino remoto, já ocorria uma tensão em relação à utilização de recursos tecnológicos na educação brasileira, não apenas devido a necessidade de muitos docentes se adaptarem a esses recursos, mas principalmente pelos interesses mercadológicos, empresariais que permeiam a educação pública, os quais objetivam por meio do ensino semipresencial ou a distância reduzir custos no setor educacional.

 

    Nesse sentido, Silva, Silva Neto, e Santos (2020), evidenciam que mesmo havendo necessidade da utilização de recursos tecnológicos para o ensino remoto, tal fato gera polêmica uma vez que tal utilização em larga escala é defendida pelo ramo mercadológico.

 

    A implementação do ensino remoto “emerge de forma ríspida e impactante. O professor necessitou, ‘para ontem’, dominar, investir, apoiar e utilizar-se das ferramentas tecnológicas no modelo de aula remota”, sendo este um processo complexo para muitos professores. (Antunes Neto, 2020, p. 33)

 

    Nessa conjuntura, consideramos um aspecto pertinente e significativo à luz das discussões sobre a educação escolar em tempos de pandemia, discorrer sobre como o ensino remoto tem impactado no trabalho dos professores da Educação Física.

 

Conclusões 

 

    A pesquisa realizada nas escolas públicas estaduais paranaenses sobre os avanços, desafios e limitações do ensino e aprendizagem da Educação Física no ensino remoto, possibilitou constatarmos como os professores têm realizado o trabalho docente e de que forma eles têm enfrentado os obstáculos na escola no contexto da pandemia da COVID-19.

 

    Concluímos que a minoria dos professores reconheceu que ocorreram avanços, enquanto a maioria afirmou que os desafios foram muitos, os quais implicaram em dificuldades que limitaram o ensino e aprendizagem nas aulas de Educação Física.

 

    Os professores têm enfrentado muitos obstáculos em relação ao ensino e aprendizagem da Educação Física no ensino remoto. Verificamos que as limitações de acesso dos alunos às TICs, principalmente à internet para a realização do ensino remoto, bem como a falta de interesse e motivação dos alunos, foram aspectos considerados pelos professores como determinantes nos entraves do ensino e aprendizagem nas aulas remotas de Educação Física, sendo também um dos desafios enfrentados pelos docentes cotidianamente.

 

    Averiguamos que a maioria dos professores teve apenas capacitações incipientes, não tiveram tempo de organizar e repensar suas metodologias para essa nova demanda, esse é um processo que para ser de qualidade precisa de estudo, discussão e capacitação. Já os alunos, tiveram sua rotina de aprendizagem alterada de forma atropelada e prejudicada pelas desigualdades sociais, as quais assolam grande parte da população e fazem com que muitos não tenham acesso à internet, computadores e um ambiente adequado de estudo.

 

    Constatamos que os professores buscaram como alternativa metodológica orientar atividades práticas para os alunos realizarem após as aulas, os docentes afirmaram que a receptividade dos escolares foi baixa e, que não houve entendimento dos alunos e/ou dos pais sobre o que era para ser realizado. Embora a iniciativa dos professores tenha sido louvável e mereça ser destacada, o encaminhamento metodológico sugerido não obteve êxito.

 

    Destacamos a importância das interações sociais estabelecidas nas aulas de Educação Física, pois a maioria dos conhecimentos são vivenciados corporalmente e compartilhados pelos escolares com seus pares, sendo os mesmos mediados, tematizados e ampliados pelo professor de Educação Física. Portanto, as aulas práticas são fundamentais para que o ensino e aprendizagem na Educação Física se efetive plenamente, a vivencia corporal dos conhecimentos e a interatividade nas aulas são essenciais para que os alunos aprendam.

 

    Embora tenhamos apontado neste estudo um recorte da realidade das escolas públicas estaduais paranaenses, os resultados indicam elementos importantes sobre o ensino remoto na Educação Física escolar, desencadeiam reflexões sobre os desafios e limitações vivenciados pelos professores, alunos e suas famílias no contexto de pandemia que tem sido vivenciado.

 

    A abordagem crítica e contextualizada desses elementos fez-se necessária, podendo assim desencadear e dar subsídios para que outros estudos sejam desenvolvidos, principalmente em relação às contradições que permeiam o âmbito da escola no atual contexto de pandemia que tem sido enfrentado.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 277, Jun. (2021)