O judô nas escolas: do método tradicional à prática 

transformadora como conteúdo da Educação Física

Judo in schools: the traditional method to transforming 

practice of the Physical Education content

Judo en las escuelas: del método tradicional a la práctica 

transformadora como contenido de la Educación Física

 

José Edson Rodrigues Ferreira

docentefal@hotmail.com

 

Graduação Licenciatura Plena em Educação Física

Universidade Federal de Alagoas - UFAL 
Pós graduação Educação Física Escolar - Universidade Gama Filho
Pós graduação em Desporto Escolar - Universidade Nacional de Brasília
Pós graduação em Fundamentos Sócio-culturais

da Educação Física, Esporte e Lazer - Universidade Gama Filho
Mestrado em Pedagogia do Esporte - Universidade Católica Nuestra Señora de la Asunción
Faixa Preta 6° Dan de Judô

(Brasil)

 

Recepção: 08/03/2018 - Aceitação: 24/05/2019

1ª Revisão: 06/04/2019 - 2ª Revisão: 21/05/2019

 

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

 

Resumo

    A prática do judô nas escolas deveria se dar como uma prática prazerosa, transformadora, pautada nos saberes pedagógicos. A inserção de crianças em competições esportivas causa-nos uma inquietação, mas se tivermos a prática do judô como uma ferramenta para contribuir na formação dos educandos a competição deverá ser um estágio a ser exercido num período ou faixa etária posterior. Caracterizada como uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa, onde recorremos a publicações sobre pedagogia, formação de professores e cidadania. O método utilizado foi revisão de literatura de algumas publicações pertinentes ao tema, comparando-as com a realidade de crianças de 7 a 10 anos que participam de competições. Objetivou apontar a importância da inclusão do judô nas aulas de educação física escolar para um melhor desenvolvimento social e, relatar sobre os benefícios que o judô, como conteúdo da educação física, proporciona às crianças. Hipótese: o ensino do judô se dá nas escolas com fins competitivos e que a perspectiva da formação da criança não é privilegiada. Resultados: evidencia-se que a prática esportiva do judô tem o seu valor educativo mas cabe ao professor repensar as questões de cidadania, ludicidade, afetividade, liberdade de expressão e o prazer. Considerações finais: a prática do judô embasada numa pedagogia transformadora deixa de ser apenas uma prática incluída nos estabelecimentos de ensino para tornar-se um conteúdo e um meio para atingir objetivos e mudanças de enfoques na formação do aluno.

    Unitermos: Judô. Prática pedagógica. Cidadania.

 

Abstract

    The practice of judo in schools should give as a pleasurable practice, transforming, based on pedagogical knowledge. The inclusion of children in sports competitions we are a concern, but if we have the practice of judo as a tool to contribute to the formation of the students competition should be a stage to be exercised within a period or age group. Characterized as a descriptive research with qualitative approach, where we use publications on pedagogy, teacher education and citizenship. The method used was literature review of some relevant publications by theme, comparing them with the reality of children from 7 to 10 years who participate in competitions. Aimed to point out the importance of the inclusion of judo in school physical education classes for a better social development and report on the benefits of judo, such as physical education, provides content to children. Hypothesis: the teaching of judo in schools with competitive purposes and that the prospect of the formation of the child is not privileged. Results: evidence that the sport of Judo has your educational value but it is up to the teacher rethink the issues of citizenship, playfulness, affection, freedom of expression and the pleasure. Final thoughts: the practice of Judo based on a transformative pedagogy ceases to be just a practice included in educational establishments to become a content and a means to achieve goals and changes in approaches to the formation of the student.

    Keywords: Judo. Pedagogical practice. Citizenship.

 

Resumen

    La práctica del judo en las escuelas debe ser una práctica placentera, transformadora, basada en el conocimiento pedagógico. La inclusión de los niños en las competiciones deportivas es motivo de preocupación, pero si tenemos a la práctica del judo como una herramienta para contribuir a la formación de competencias de los estudiantes, deberá ser una etapa para ser ejercitada dentro de un período o fase etaria posterior. Estudio caracterizado por ser una investigación descriptiva con enfoque cualitativo, donde utilizamos publicaciones sobre pedagogía, educación y ciudadanía. El método utilizado fue la revisión de la literatura de algunas publicaciones relevantes por tema, comparándolas con la realidad de los niños de 7 a 10 años que participan en competiciones. Pretende señalar la importancia de la inclusión del judo en la escuela de clases de educación física para un mejor desarrollo social y el informe sobre los beneficios del judo proporciona contenido a los niños. Hipótesis: la enseñanza del judo en las escuelas se realiza con fines competitivos y no se privilegia la perspectiva de la formación del niño. Resultados: es evidente de que el deporte del Judo tiene su valor educativo, pero corresponde al profesor repensar las cuestiones de ciudadanía, juego, afecto, libertad de expresión y el placer. Reflexiones finales: la práctica del Judo, basada en una pedagogía transformadora deja de ser sólo una práctica en centros de enseñanza para convertirse en un contenido y un medio para lograr metas y cambios en los enfoques de la formación del estudiante.

    Palabras claves: Judo. Práctica pedagógica. Ciudadanía.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 253, Jun. (2019)


 

Introdução

 

    Neste trabalho abordaremos sobre a questão da prática pedagógica do Judô nas escolas, predominada por crianças na faixa etária de 7 a 10 anos, onde as mesmas já participam de eventos esportivos com características competitivas. Isto causou-nos uma inquietação, pois, a nossa hipótese é que o ensino da modalidade Judô se dá nas escolas com fins competitivos e que a perspectiva formação da criança não é a privilegiada na ação pedagógica. O nosso ponto de vista é que a prática do Judô no contexto escolar deveria se dá com uma característica formadora e transformadora do indivíduo aprendiz, pautada nos saberes pedagógicos.

 

    Para Zabala (1998), a prática educativa fundamenta-se nos seguintes tipos de aprendizagem: “dos conteúdos factuais (fatos)” (p. 41), “dos conceitos e princípios” (p. 42), “dos conteúdos procedimentais (jogos, técnicas, métodos, destrezas ou habilidades)” (p. 43) e “dos conteúdos atitudinais (valores, atitudes e normas)” (p. 46). Ou seja, tais formas de aprendizagens de conteúdos dão à prática educativa uma característica compreensiva e de formação integral, na qual todas as capacidades e conteúdo são trabalhados, recebendo o aluno uma formação construtivista, opondo-se à proposta tradicional seletiva propedêutica, que enfatiza as capacidades cognitivas e os conteúdos conceituais (Zabala, 1998). Saber, saber fazer e ser é o diferencial da prática educativa que objetiva a formação do indivíduo para a vida social cidadã.

 

    Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (Brasil, 1998) e a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (Brasil, 2018), recomendam os esportes, jogos, lutas e ginásticas; atividades rítmicas e expressivas; conhecimento sobre o corpo e brincadeiras como possíveis conteúdos pelos quais poderão ser trabalhados nas aulas de Educação Física Escolar. Nessa perspectiva, o conteúdo Lutas, no contexto educacional, aqui é enfatizado pela prática esportiva do Judô.

 

    Portanto, o principal objetivo deste artigo é da inclusão do judô nas aulas de educação física escolar para um melhor desenvolvimento social e, relatar sobre os benefícios que a prática esportiva do judô pode proporcionar aos seus praticantes, seja nas aulas de educação física onde o Judô é praticado como um conteúdo ou nas escolinhas esportivas da modalidade.

 

    O presente artigo é uma pesquisa descritiva, de natureza qualitativa na qual recorremos a uma revisão de literatura que abordam sobre pedagogia, pedagogia do Judô, práticas pedagógicas, formação profissional do educador e formação do educando para a cidadania (Breda, Galati, Scaglia, & Paes, 2010; Callan, 2008; Casado & Villamón, 2009; Freire, 2011; Libâneo, 2002; Nalda, 2005; Schön, 2000), e relacionando-as com a realidade de crianças na faixa etária de 7 a 10 anos estarem participando de competições esportivas.

 

Desenvolvimento histórico do judô como uma prática esportiva

 

    No Japão, com o advento da Restauração Meiji em 1868, ou seja, com a abertura política, sociocultural e econômica para uma característica de vida ocidentalizada, os costumes japoneses tradicionais sofreram modificações radicais no processo histórico-cultural (Kano, 1994). As práticas das artes marciais com seus rígidos métodos de ensino, fundamentado na hierarquia, nos princípios éticos e morais como a virtude da honra e lealdade, com base no código dos guerreiros japoneses – o Bushidô -, foram substituídas pelos costumes ocidentais que faziam prevalecer o poder de barganha pelo dinheiro (Oimatsu, 1984). Era o ser humano valorizado pelos seus bens, pelo poder da compra e venda. Portanto, a relação que prevalece não mais é a do respeito para com o outro, mas a do domínio sobre o outro. (Tsuneo, 1994)

 

    Nessa troca de valores culturais, do feudalismo para a modernização, o sentimento nacionalista japonês começa a entrar num processo de esquecimento (Oimatsu, 1984). Numa busca de evitar tal ocorrência, Jigoro Kano, educador japonês, preocupado com tal situação recorre às práticas tradicionais de combate corporal, característica peculiar dos povos asiáticos, dando-lhes uma nova característica e significado: as práticas de combate guerreiras como forma de exercitar o corpo das pessoas numa perspectiva de prática de ginástica, movimento muito propagado no Ocidente (Kano, 1994).

 

    Kano recorre às práticas das lutas não só como um meio da cultura física, mas como uma forma de guiar os jovens, desacreditados no sentimento nacionalista, de uma maneira correta, para a formação do seu caráter (Kano, 1994). Para isso, utiliza as práticas de alguns estilos de jiujutsu para estruturar uma nova modalidade de combate corporal de contato direto, o Judô (Callan, 2008). Dos estilos tradicionais, ele retira as técnicas que lesionavam os praticantes e cria uma metodologia adequada para tal prática visando à condição de exercer uma atividade física não só voltada ao aspecto físico, mas, também ao aspecto cognitivo, afetivo e moral. (Kano, 1994)

 

    Tsuneo (1994) cita que Kano conceituava o Judô em três situações: a) sistema de Educação Física; b) voltado aos aspectos intelectual e moral; e c) como um sistema de arte marcial. Os dois primeiros sistemas foram inspirados nas obras de Herbert Spencer, principalmente na publicação “Educação: intelectual, moral e física”, editada em 1861, abordando as teorias educacionais da época. Kano visualizava a educação do indivíduo de forma integral, onde os componentes de ordem filosófica, cultural, política e psicológica eram reunidos para a promoção do desenvolvimento humano. (Deliberador, 1996)

 

    O ensino de uma modalidade esportiva no ambiente escolar, seja nas aulas de Educação Física Escolar ou nas escolinhas de iniciação esportiva, exige do professor um conhecimento teórico e prático: quanto aos níveis de desenvolvimento biológico, psicológico e social (Farinatti, 1995); sobre as qualidades físicas específicas (Faria Junior, 1986); referente às questões das individualidades, como também conhecer os princípios e condutas pedagógicas como: inclusão, reflexão, adaptação, ludicidade, motivação, diversificação, regras e avaliação (Freire, 2003); o enfoque da participação e do desenvolvimento através de atividades com características lúdicas, de cooperação e competição vivenciadas de forma conciliatória. (Lovisolo, 1996)

 

    Neste contexto, a prática do Judô na escola é exercida seguindo os objetivos que norteiam os esportes educacionais (cooperação, autocontrole, autoestima, inclusão etc.) e voltada à formação do ser humano, na qual evidenciamos a autonomia, a ludicidade, a emancipação e a participação na construção e transformação da realidade. (Barbieri, 2001)

A prática do Esporte Educacional, na concepção de Tubino (1996a),

    [...] tem por finalidade democratizar e gerar cultura através de modalidades motrizes de expressão da personalidade do indivíduo em ação, desenvolvendo este indivíduo numa estrutura de relações sociais recíprocas e com a Natureza, a sua formação corporal e as próprias potencialidades, preparando-o para o lazer e o exercício crítico da cidadania, evitando a seletividade, a segregação social e a hipercompetitividade, com vistas a uma sociedade livremente organizada, cooperativa e solidária. (p. 82).

    Vivenciar uma prática esportiva com as referidas características educacionais leva os seus aprendizes praticantes a perceberem que não existem inimigos, mas, sim, adversários dos quais precisamos para exercemos as nossas atividades esportivas e recreativas. Nesta perspectiva, Lovisolo (1996) faz o seguinte esclarecimento:

    O esporte, assim, torna-se uma atividade onde os homens devem e podem aprender que os fins devem ser atingidos utilizando-se meios legítimos. Nesse sentido, pode ser entendido como formador de cidadania e, também, como regulador da violência que emerge quando os atores pretendem atingir seus objetivos sem respeitar as regras de sociabilidade, convivência e relacionamento entre os homens (pp. 53-74).

    Visando à formação e desenvolvimento integral do indivíduo, através da prática esportiva, exigem-se de nós, educadores, uma maior atenção no que se refere ao nosso fazer pedagógico, quando trabalhamos com crianças (Ferreira, 1996; Monteiro, 1998). Para que isso ocorra, devemos elaborar um bom planejamento das atividades propostas, confirmar ou corrigir os resultados com criticidade e cientificidade.

 

    Retornando a parte histórica, o Judô no Ocidente, introduzido pelos colonos japoneses, influenciou os seus adeptos a partir da década de 1950 devido aos seus aspectos esportivo e competitivo. A partir do fenômeno das competições nacionais e internacionais, as quais destacavam atletas pelos seus níveis técnicos, o Judô recebe dos setores tradicionalistas uma valorização quanto à função educativa, seus princípios pedagógicos e suas formalidades voltadas à etiqueta (Callan, 2008; Roberts, 2009), promovendo, assim, uma distinção entre o tradicional Judô e o Judô esportivo.

 

    Segundo Monteiro (1998), a partir da década de 1970, a prática esportiva no mundo se apresenta em sua estrutura nas seguintes funções sociais: a) função interpretativa e federativa; b) função educativa e escolar; c) função de espetáculo e de mídia; e d) função lúdica e transgressiva. Referente a função educativa e escolar, a introdução do Judô nas escolas se dá pelo processo de teorização para o surgimento do desporto educacional (Monteiro, 1998). No Brasil, em 1980, a Comissão de Reformulação do Esporte Brasileiro é instituída para dar um novo conceito ao esporte praticado no âmbito educacional. (Tubino, 1996b)

 

    Em 1995 é criado o Ministério Extraordinário do Esporte e o Instituto Nacional de Desenvolvimento do Esporte – INDESP, para dar mais atenção à política do desporto educacional, dentre ela, os princípios fundamentais do esporte educacional brasileiro (princípio da totalidade; princípio da coeducação; princípio da cooperação; princípio da emancipação; e o princípio do regionalismo). O esporte como parte da formação para a cidadania dos nossos jovens. (Tubino, 1993, 1996b)

 

A prática esportiva do judô no processo de formação para a cidadania do aluno

 

    A prática esportiva na vida do cidadão é resultado das transformações sociais realizadas através de todo um processo histórico-cultural no plano dos valores, dos interesses, dos problemas e das necessidades, ou seja, da plena relação entre o capital humano e o capital social – relação esta denominada de desenvolvimento social (Ferreira, 1996; Saviani, 1996). Isso dá à prática esportiva, devido as suas diversidades de realidades vivenciais, uma característica e perspectiva humanística. Mas, é preciso esclarecer que há distinção na prática esportiva: o esporte espetáculo e o esporte educacional.

 

    O esporte educacional está fundamentado em princípios próprios e objetivos específicos, sendo ele um meio a mais de formação do indivíduo para a cidadania e o lazer (Barbieri, 2001; Tubino, 1996b). Para essa formação não devemos ficar presos só à transmissão de um conhecimento instrucional, mas à transferência de valores que deve ser refletida e conscientemente aceita. Assim, estaremos exercendo uma pedagogia em que a ação ensinar-aprender tenha finalidade e sentido libertário e não opressor, através de uma comunhão dos homens. (Saviani, 1996)

 

    A educação com característica libertária se dá por um processo participativo, crítico e socializador. Para isto, são necessárias as regras e normas para uma boa conduta dos indivíduos no processo formativo das atividades esportivas educativas e competitivas (Gebara, 2002; Vargas, 2007). No ensino da Educação Física Escolar a prática esportiva deve estar fundamentada e visando uma construção efetiva, priorizando a intervenção comprometida com as responsabilidades de educação do indivíduo. (Freire, 2011; Freire, 2003; Libâneo, 2010; Medina, 2010; Saviani, 1996)

 

    Cabe ao professor conhecer as concepções metodológicas e exercer a função de mediador no processo educativo, para, a partir daí, discernir o porquê do como, o que, para que e por que ensinar. Portanto, não cabe ao professor apenas ensinar técnicas, mas promover uma integração dos indivíduos aprendizes e orientar a refletir sobre suas ações. (Schön, 2000)

 

    Nesse contexto, na prática esportiva do Judô, percebe-se a mescla e intervenção da cultura oriental e ocidental, resultando um fenômeno sociológico de integração. Este era o ideal de Jigoro Kano, o criador do Judô, e do Barão Pierre de Cubertin, o criador dos Jogos Olímpicos Modernos: o encontro e união dos povos celebrados através dos esportes. Aceitação e respeito pelas diferenças étnicas, culturais, sociais e políticas, em que os princípios, regras e fundamentos dos esportes tornados universalizados permitem essa união. (Del Vecchio, 2004)

Neste transcurso, fica evidenciado que a prática esportiva do Judô tem o seu valor educativo, mas cabe ao professor de Educação Física repensar a cidadania, discutir a formação de novos cidadãos, definidos por Ferreira (1996) como os atores sociais. Em síntese, tudo o que vimos até o presente momento referente à Educação Física na concepção da Pedagogia do Esporte condiz com o conceito que Libâneo (2010) dá para o termo pedagogia:

    [...] é o campo de conhecimento sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. O pedagógico refere-se a finalidades da ação educativa, implicando objetivos sociopolíticos a partir dos quais se estabelecem formas organizativas e metodológicas da ação educativa (p. 30).

    Para o aluno ser crítico, autônomo, reflexivo, ter liberdade de expressão e ser agente da sua própria história dependerá da metodologia a ser utilizada pelo professor (Freire, 2016). Uma metodologia que favoreça o diálogo e a interação, e não a estereotipia de gesto técnico e a automação de movimentos que objetiva só a competição. Se ensinar exige responsabilidade, obrigações e princípios (Freire, 2016) e, consequentemente, a construção da humanidade, a prática esportiva excludente da competição exacerbada não deve ser priorizada.

 

    E, estando o Brasil na nona colocação do rank de medalhas conquistadas nas competições de judô nos Jogos Olímpicos, de 1964 até 2016 (CBJ, 2016; Wikipédia, 2017), e tendo destaque diante das outras modalidades, pois é o esporte que mais medalhas vem conquistando para o nosso país, dá-nos motivos para fazermos reflexões sobre o processo de iniciação das crianças no aprendizado do judô. Por isso, é fundamental não incentivar a prática e o destaque em busca da estética do belo, do corpo forte e ágil, do vence o mais forte, enfim, a sobrepujança ao outro na forma pela qual a mídia informa a população.

 

    Devemos, sim, trabalhar fundamentados numa metodologia que priorize, também, o lúdico, a afetividade, a liberdade de expressão, o prazer etc. Metodologias fundamentadas nos princípios pedagógicos sejam eles na tendência construtivista, crítico-superadora, transformadora crítico-reflexiva ou na perspectiva da cultura corporal onde mais do que habilidades técnicas deve-se dar importância à formação do cidadão. (Escobar, 2005)

 

    Para a criação do judô, Kano almejou uma educação integral do indivíduo, pois, visava ao bem-estar social. Ele visualizava nas ações físicas e mentais um melhor relacionamento no ambiente social, e a prática de modalidade esportiva seria o trunfo para alcançar esse objetivo. E, assim, ele elaborou os princípios que norteiam a prática do Judô – flexibilidade, mínimo de força e máximo de eficácia, amizade e prosperidade mútua (Kano, 1994; Oimatsu, 1984; Maekawa & Hasegawa, 2004; Casado & Villamón, 2009).

 

    Enfim, a prática do Judô proposta por Kano como educação integral visava à forma disciplinar (no sentido de etiqueta), ao fazer social (dentro e fora do local da prática do Judô), à cooperação e à autonomia (Kano, 1994). Assim exercido, o Judô, manteria a tradição secular em que devemos viver de forma igualitária, garantindo a continuidade histórica das relações sociais do bem conviver entre os indivíduos.

 

Discussão

 

    Nas escolas, cada vez mais, percebemos através de conversas, redes sociais, trabalhos acadêmicos e encontros científicos sobre a preocupação dos professores no que concerne as relações de conflitos que vivem rotineiramente via de regra geradas pela ausência ou esquecimento dos valores morais necessários ao comportamento dos alunos. A partir de tal problemática indagamos: onde os jovens devem aprender a comportar-se educado e socialmente; a resolver os seus conflitos sem agredir os seus pares e demais pessoas; a ter um domínio de si mesmo, a se colocar adequadamente nos diálogos, a compreender, respeitar e ajudar ao próximo? Para Cortella e Yves de La Taille (2010), “a escola é o espaço privilegiado das crianças durante anos, elas crescem lá dentro”.

 

    Nessa perspectiva, temos tendências pedagógicas que norteiam a prática da Educação Física e as atividades esportivas no contexto escolar, tais como: construtivista, crítico-superadora e crítico-emancipatória, e mais, dos Parâmetros Curriculares Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular, citados anteriormente e pelas quais embasamos o argumento de que a introdução e aplicação do Judô como modalidade esportiva contribuem para obtenção e resgate de valores anteriormente questionados e explicitados por Brasil (1998), Brasil (2018), Cecchini et al. (2008), Ferreira (1996), Freire (2016), Zabala (1998). Um dos objetivos de Kano era que a educação do indivíduo se desse de forma integral (uma escola de vida, contendo a formação física, técnica, mental, anímica, moral e espiritual).

 

    Fazendo uma relação dessa exposição referente à educação com a prática do Judô no âmbito escolar podemos inferir com os ideais de Jigoro Kano em manter a prática judoística como um dos meios para aquisição da educação integral, na medida em que esta prática pode contribuir na forma disciplinar (no sentido de etiqueta) o fazer social (dentro e fora do local destinado à prática Judô) de modo cordial, cooperativo, autônomo, dentre outros valores transmitidos a partir dos ensinamentos recebidos dos mais velhos. Mantendo, assim, a tradição secular em que devemos viver de forma igualitária e garantir a continuidade histórica das relações do “bom convívio” entre os indivíduos.

 

    Por que citamos o Judô? Desde 1964, com a estreia do judô nos Jogos Olímpicos até a edição de 2016, a modalidade tem sido representada significativamente nos jogos, pois, 49 países têm participado das edições, 572 medalhas foram entregues e, deste total 22 medalhas foram conquistadas por brasileiros (CBJ, 2016). O Brasil é o 9o país no rank de medalhas conquistadas no judô (CBJ, 2016; Wikipedia, 2017). Isso gera em nós educadores uma preocupação, pois há uma maior procura de alunos nas escolinhas de iniciação esportiva da modalidade e, isto é comprovado aqui em nosso estado de Alagoas, onde deparamos com mais de 40 estabelecimentos privados de ensino que oferecem a modalidade Judô para crianças a partir da idade de 5 anos. Eventos com a denominação de Festivais são realizados com uma participação média de 300 a 400 crianças na faixa etária de 5 a 10 anos. (Ferreira, 2010)

 

    Os dados em tela geram uma preocupação, pois, conforme as recomendações de alguns estudiosos, dentre eles Freire (2011), Saviani (1996) e Libâneo (2010), a mesma deve acontecer objetivando a construção efetiva, priorizando a intervenção comprometida com as responsabilidades de formação e transformação do indivíduo. E, aqui questionamos a prática pedagógica do Judô nas escolas está sendo efetivada na perspectiva da formação cidadã ou se dá para uma efetivação voltada à competição, ao rendimento?

 

    Da sua criação até o momento atual, o ensino do Judô objetiva os ideais do seu criador. Na concepção de Nalda (2005), os judocas perseverantes em suas práticas aprendem a:

    Conhecer suas possibilidades e limitações, assim como as dos outros; fazer o melhor uso de sua energia e de todas as faculdades e recursos; conviver em paz com todos, desde a solidariedade, o respeito e o entretenimento; ser pessoas autênticas, com ideias e critérios próprios, dispostas a ser úteis a sociedade em que vivem. (pp. 13-14).

    Os valores humanos, éticos, espirituais etc. são formas de conduta que objetivam o próprio bem-estar e o do próximo. Ter um comportamento que não cause danos a ninguém e buscar um maior bem-comum. Esses valores são atemporais e universais, úteis para todo tempo e para todas as pessoas. Valores como honradez, constância, sinceridade, otimismo, generosidade etc. são importantes, mas se faz necessário esclarecer que cada indivíduo cria e identifica-se com uma escala própria de valores. E, tudo isso se efetivará se nós educadores exercermos a nossa prática pedagógica fundamentada numa educação com princípios voltados à vida cidadã.

 

    Fundamentado em Cecchini, González e Méndez (2008) quando citam que a prática esportiva contribui para o progresso pessoal, além de evidenciar uma maior motivação intrínseca a partir de orientações de tarefas dá-noso ânimo para acreditar que o ensino do judô nas escolas pode contribuir na formação dos alunos.

 

    Para isso acontecer a transmissão desses valores deveria ser efetivada associando-se o conteúdo teórico à parte prática através dos exemplos pessoais dos mais velhos. Quando, como, onde e com quem aplicar cada valor é primordial para o aprendizado de cada indivíduo, e essa tarefa cabe aos educadores. O homem reage perante uma situação vivencial, intervindo, assim, pessoalmente, para aceitar, rejeitar ou transformar esta ação. Este procedimento dependerá da educação promovida para os indivíduos em sociedade. Como educadores deveremos ter uma compreensão de que a prática esportiva esteja, também, voltada ao aspecto da formação do aluno e, não só voltada ao aspecto competitivo.

 

    As práticas esportivas têm dado uma grande parcela de contribuição para as sociedades modernas fazendo identificar nos indivíduos o sentimento de coletividade e equilíbrio grupal (Dunning, 2003). Eis, portanto, mais um forte argumento para que a prática do judô no contexto escolar tenha característica de ações que conduzem os praticantes ao desenvolvimento social e, que as atividades trabalhadas nas aulas sejam no contexto de trazer benefícios à formação dos alunos. Assim, a prática do judô nas escolas, mais especificamente nas aulas de educação física, seria um meio através das atividades contidas no judô para alcançar os objetivos propostos no planejamento da educação física.

A intenção deste trabalho não é que o judô seja uma disciplina a ser inclusa na grade curricular, mas, um conteúdo onde as ações são planejadas e adequadas à proposta de conteúdos da educação física escolar. Pois, a prática do judô, em geral, segue uma forte tendência tradicional para a automatização dos movimentos. Assim, no ambiente escolar, cabe ao professor não permitir que essa dimensão pedagógica ocorra. Deve, portanto, estar sempre atento ao fazer pedagógico onde o favorecimento da motricidade global, livre e dinâmica estejam sempre presentes no aprendizado e favoreça o aluno ao crescimento consciente. (Mesquita, 2014)

 

Conclusões

 

    A prática do Judô não é um simples meio ou recurso de lutas pelo qual jovens exercitarão seus corpos, mas, sim, uma forma de canalizar as energias agressivas contidas no caráter humano melhorando, assim, as relações sociais dos indivíduos, pois, as mesmas se darão calcadas nos valores éticos, morais e sociais aprendidos no decorrer das práticas vivenciadas no Judô. Para o nosso entendimento, o Judô com esses valores pode ser aplicado em qualquer momento na vida de seu praticante, podendo, assim, tornar-se uma doutrina fundamental para os princípios morais e éticos necessários aos seres humanos: um ato de cidadania. E a escola é a instituição que tem legitimidade social para transformar o indivíduo para o seu meio social. A escola lida coma mudança e formação moral e ética e, também, dá o sentido da vida aos cidadãos.

 

    Assim, o Judô deixa de ser apenas uma prática incluída nos estabelecimentos de ensino para tornar-se um conteúdo; um meio para atingir objetivos e mudanças de enfoques; um conteúdo possível a lograr os processos do exercício da cidadania. As técnicas apresentadas não serão um fim em si mesmo, mas um pretexto para causar a plena realização do potencial da criança em desenvolvimento. Uma prática exercida seguindo os princípios e condutas pedagógicas propostas pela educação, tais como: ludicidade, inclusão, motivação, normas e regras, adaptação, reflexão, centrados em valores e atitudes.

 

    Este trabalho, portanto, fica como uma motivação para novos estudos, pois não era nossa intenção dá-lo como concluído, mas sim, como um início de um novo combate (shiai) no que se refere aos estudos acadêmicos sobre a prática pedagógica do Judô no contexto escolar.

 

Referências

 

Barbieri, C.A.S. (2001). Esporte educacional: uma possibilidade para a restauração do homem no homem. Canoas: ULBRA.

 

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental (1998). Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF.

 

Brasil (2018). Base Nacional Comum Curricular.Recuperado em 15 de dezembro de 2018, de http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf

 

Breda, M., Galati, L., Scaglia, A.J. & Paes, R.R. (2010). Pedagogia do esporte aplicada às lutas. São Paulo: Phorte Editora.

 

Callan, M. (2008). The Internationalization of Judo and the attention for Etiquette: Focusing on the UK. International Budo Symposium Conference Proceedings. Recuperado em 10 de janeiro de 2017, de http://budo2008.nifs-uk.ac.jp/

 

Casado, J. E., y Villamón, M. (2009). La utopía educativa de Jigoro Kano: al Judo Kodokan. Recorde: Revista de História do Esporte. 2 (1) 1-40.Recuperado em 20 de junho de 2017, de https://revistas.ufrj.br/index.php/Recorde/article/view/761-702

 

Cecchini, J. A., González, C., y Méndez, J. M. (2008). Participación en el deporte, orientación de metas y funcionamiento moral. Revista Latinoamericana de Psicología, 40 (3) 497-509 recuperado em 2 de maio de 2017, de http://publicaciones.konradlorenz.edu.co/index.php/rlpsi/article/view/449/317

 

Confederação Brasileira de Judô (2016). O judô brasileiro nos Jogos Rio 2016. Rio de Janeiro: CBJ / RONA.

 

Cortella, M. S. & de La Taille, Y. (2010). Nos labirintos da moral (7a ed.). Campinas, SP: Papirus 7 Mares.

 

Deliberador, A. P. (1996). Judô: metodologia da participação. Londrina: Lido, p.19

 

Del Vecchio, F. B. (2004). Jigoro Kano e Barão de Coubertin: nuances de um préolimpismo no Oriente. Lecturas en Educación Física y Deportes, Año 10, núm. 68, Buenos Aires. Recuperado em 10 de janeiro de 2008, de https://www.efdeportes.com/efd68/kano.htm

 

Dunning, E. (2003). El fenómeno deportivo: estudios sociológicos en torno al deporte, la violencia y la civilización. Barcelona: Paidotribo, pp. 11-16

 

Escobar, M.O. (2005). Jogo e esporte na cultura corporal. In: M. O. Escobar et al. Manifestações dos jogos. Brasília: UNB, p. 11

 

Faria Junior, A. G. (1986). Fundamentos pedagógicos. Educação Física. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico.

 

Farinatti, P. T. V. (1995). Criança e atividade física. Rio de Janeiro: Sprint.

 

Ferreira, N. T. (1996).O esporte na formação do cidadão. In: Memórias: Conferência Brasileira de Esporte Educacional. Rio de Janeiro: Gama Filho/INDESP.

 

Ferreira, J.E.R. (2010). A prática do Judô nas escolas da Rede Privada da Cidade de Maceió. Projeto da Dissertação de Mestrado apresentado ao Programa Stricto Sensu da Rede Euro-americana de Motricidade Humana - REMH. Parecer de Aprovação do Comitê de Ética da REMH sob no 009/2010. Rio de Janeiro, p. 29

 

Freire, J. B. (2003). Pedagogia do futebol. Campinas: Autores Associados, p. 9

 

Freire, P. (2011). A Pedagogia do oprimido (50a ed.). São Paulo: Paz e Terra.

 

Freire, P. (2016). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. Coleção Leitura. (53a ed.). Rio de Janeiro: Paz e Terra, pp. 52-55-65.

 

Gebara, A. (2002). História do esporte: novas abordagens. In: Esporte: história e sociedade. Campinas: Autores Associados, p. 19.

 

Kano, J. (1994). Kodokan judo. Tokyo: Kodansha International.

 

Libâneo, J. C. (2010). Pedagogia e pedagogos, para quê? (12a ed.). São Paulo: Cortez, p. 30.

 

Lista de medalhas brasileiras nos Jogos Olímpicos. Recuperado em 12 de novembro de 2017, de http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_medalhas_brasileiras_nos_Jogos_Ol%C3%ADmpicos

 

Lovisolo, H. (1996). O princípio da cooperação. In: Memórias: Conferência Brasileira de Esporte Educacional. Rio de Janeiro: Gama Filho/INDESP, p. 53-74.

 

Maekawa, M. & Hasegawa, Y. (1966). Studies on Jigoro Kano: significance of his ideals of physical education and judo. The Bulletin for the Scientific Study of Kodokan Judo, 2 1-12. Recuperado em 11 de maio de 2004, de http://www.bstkd.com/Bulletin.htm

 

Medina, J.P.S. (2010). A educação física cuida do corpo... e “mente” (25a ed.). Campinas: Papirus.

 

Mesquita, C. W. (2014). Judô...da reflexão à competição: o caminho suave. Rio de Janeiro: Interciência/Galenus.

 

Monteiro, L. B. (1998). O treinador de judô no Brasil. Rio de Janeiro: Sprint, pp. 15-38-49-67.

 

Nalda, J. S. (2005). Judo infantil: educación integral. Barcelona: Editorial Alas, pp.13-14.

 

Oimatsu, S. (1984). The way of seiryoku zenyo-jita kyoei and its instructions. The Bulletin for the Scientific Study of Kodokan Judo,6 3-8. Recuperado em 16 de maio de 2004, de http://www.bstkd.com/Bulletin.htm

 

Roberts, J. (2009). The gentle way to docility: an analysis of the Implications and Historical Roots of the 1931 Inclusion of Judo in the Japanese Middle School Curriculum. Department of East Asian studies university of Toronto. Recuperado em 21 de agosto de 2017, de https://tspace.library.utoronto.ca/bitstream/1807/18846/1/Roberts_Jonathan_200911_MA_Thesis.pdf

 

Saviani, D. (1996). Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Autores Associados.

 

Schön, D. A. (2000). Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed.

 

Tsuneo, S. (1994). On the concept of judo as presented by Jigoro Kano in his 1889 Lecture. Bulletin for the Association for the Scientific Studies on Kodokan Judo, Report VII. Tokyo: Copyright Kodokan. Recuperado em 20 de maio de 2004, de http://www.bstkd.com/Bulletin.htm

 

Tubino, M. J. G. (1993). Uma visão paradigmática das perspectivas do esporte para o início do século XXI. In: W. W. Moreira. (org.). Educação física & esporte: perspectivas para o século XXI. Campinas: Papirus, p. 131

 

Tubino, M. J. G. (1996a). O esporte no Brasil. São Paulo: IBRASA, p. 82.

 

Tubino, M. J. G. (1996b). O esporte educacional como uma dimensão social do fenômeno esportivo no Brasil. In: Memórias: Conferência Brasileira de Esporte Educacional. Ministério Extraordinário dos Esportes/INDESP/UGF. Rio de Janeiro, p. 9.

 

Vargas, A. L. de S. (2007). Ética: ensaios sobre educação física, saúde social e esporte. Rio de Janeiro: LECSU-Laboratório de Estudos da Cultura Social Urbana.

 

Zabala, A. (1998). A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed.


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 253, Jun. (2019)