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ISSN 1514-3465

 

Desempenho da lateralidade e da orientação espacial 

de crianças e jovens brasileiros. Uma revisão sistemática

Performance of Laterality and Spatial Orientation of Brazilian Children and Youth. A Systematic Review

Desempeño de la lateralidad y de la orientación espacial de niños, niñas y jóvenes brasileños. Una revisión sistemática

 

Matheus Ramos da Cruz*

matheusramoss013@gmail.com

José Henrique dos Santos**

henriquejoe@hotmail.com

Gustavo Casimiro Lopes***

gustavo.casimiro@gmail.com

Jomilto Luiz Praxedes dos Santos****

jomiltopraxedes@yahoo.com.br

José Antonio Vianna*****

javianna@hotmail.com

 

*Mestre em Ensino pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Licenciado e Bacharel em Educação Física pela UERJ

Pós-graduando em Educação Física Escolar pela Universidade Federal Fluminense

Professor de Educação Física dos primeiro e segundo segmentos

do ensino fundamental do Colégio Batista Esperança

Membro do Grupo de Pesquisa em Percepções

do Cotidiano Escolar (GPPCE- UERJ) e pesquisador

do Laboratório de Biomecânica e Comportamento Motor da UERJ (LaBiCoM).

**Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física

pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Mestre em Ciências da Motricidade Humana pela Universidade Castelo Branco

Doutorado em Ciências da Educação - Motricidade Humana

pela Faculdade de Motricidade Humana - Universidade Técnica de Lisboa

Atualmente é professor Associado III da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Líder do Grupo de Pesquisa em Pedagogia de Educação Física e Esporte

Coordenador do Programa de Pós-graduação em Educação, Contextos

Contemporâneos e Demandas Populares da UFRRJ (PPGEDUC)

Coordenador das atividades de Estágio Supervisionado

do Curso de Educação Física da UFRRJ

e Coordenador do PIBID Educação Física UFRRJ/CAPES.

***Graduado em Educação Física pela UERJ

Mestre em Biologia - Ciências Nucleares e Mestre em Ciências, ambos pela UERJ

Realizou estágio de pós-doutorado no Instituto de Bioquímica Médica

da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Tem experiência na área de Educação Física e Nutrição,

com estágio em Fisiologia e Bioquímica do Exercício

Professor Associado da UERJ em conjunto com

o Instituto de Educação Física e Esportes, cursando graduação nos seguintes temas

Atualmente é membro do Programa de Incentivo à Produção Científica,

Técnica e Artística (PROCIÊNCIA) da UERJ

****Doutor em Ciências pela UNESP/FEG

Mestre em Ciências pela UNESP/FEG

Pós-Graduado em Biomecânica UFRJ

Graduado em Licenciatura plena em Educação Física pela UERJ

Atualmente é Professor Adjunto da UERJ

Regente das disciplinas Desenvolvimento Motor, Educação Física Escolar Infantil,

Tópicos Especiais e Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) I e II,

e Coordenador e Pesquisador do Laboratório de Ciência

do Movimento e Comportamento Humano.

*****Licenciado em Educação Física pela UERJ

Mestre em Educação Física pela Universidade Gama Filho

Doutorado em Educação Física e Cultura pela UGF

Professor Adjunto na UERJ, ministra a disciplina

Didática aplicada à Educação Física no IEFD

Coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Estudos em Lutas - LLUTAS

Coordenador do Curso de Especialização em Lutas (Lato Sensu) na UERJ

Professor no Mestrado em Ensino na Educação Básica - PPGEB - CAp UERJ

(Brasil)

 

Recepção: 25/10/2020 - Aceitação: 28/12/2021

1ª Revisão: 09/12/2021 - 2ª Revisão: 22/12/2021

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Cruz, M.R. da, Santos, J.H. dos, Lopes, G.C., Santos, J.L.P. dos, e Vianna, J.A. (2022). Desempenho da lateralidade e da orientação espacial de crianças e jovens brasileiros. Uma revisão sistemática. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(286), 218-237. https://doi.org/10.46642/efd.v26i286.2650

 

Resumo

    A insuficiência de espaços públicos adequados a prática de exercícios físicos e lazer pode influenciar negativamente o desenvolvimento motor de crianças e jovens em idade escolar. Há evidências na literatura que crianças com o desempenho motor deficitário, principalmente no que se refere à lateralidade e a orientação espacial direita-esquerda pode contribuir negativamente para a manifestação de dificuldades de aprendizagem da leitura, da escrita e da realização de cálculos matemáticos. Diante disso, o presente estudo objetivou verificar as produções existentes na literatura brasileira sobre a lateralidade e a orientação espacial direita-esquerda e o desempenho destes aspectos motores de crianças e jovens brasileiros de 6 a 14 anos. Foi realizada uma revisão sistemática de artigos completos e publicados entre 2010 e 2020 nas bases de dados Scielo, Lilacs e Periódicos Capes. Para buscar as produções foram utilizados os descritores-chave em português: “lateralidade”, “orientação espacial”, “desempenho motor”, “desempenho psicomotor” “aprendizagem”, “desempenho escolar”, “idade escolar” e “crianças”. Ao todo foram encontradas 130 produções. Após a leitura e a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, 10 estudos foram incluídos para a presente pesquisa. Ao analisar as produções selecionadas, foi possível verificar uma maior predominância de estudos que utilizaram a lateralidade e orientação espacial para identificar o perfil motor de crianças com dificuldades de aprendizagem e transtornos comportamentais ou de neurodesenvolvimento, além da presença de estudos que relacionam o desempenho destes aspectos motores ao desempenho escolar. Além disso, foi possível observar um baixo desempenho da lateralidade e da orientação espacial em crianças e jovens brasileiros.

    Unitermos: Orientação espacial. Lateralidade funcional. Desempenho psicomotor. Estudantes.

 

Abstract
    The insufficiency of adequate public spaces for the practice of physical exercise and leisure can negatively influence the motor development of school-age children and young people. There is evidence in the literature that children with impaired motor performance, especially with regard to laterality and right-left spatial orientation, can negatively contribute to the manifestation of difficulties in learning reading, writing and performing mathematical calculations. Therefore, the present study aimed to verify the existing productions in the Brazilian literature on laterality and right-left spatial orientation and the performance of these motor aspects of Brazilian children and young people aged 6 to 14 years. A systematic review of complete articles published between 2010 and 2020 in the Scielo, Lilacs and Capes Periodicals databases was performed. To search for the productions, the key descriptors in Portuguese were used: "laterality", "spatial orientation", "motor performance", "psychomotor performance" "learning", "school performance", "school age" and "children". In all, 130 productions were found. After reading and applying the inclusion and exclusion criteria, 10 studies were included for this research. By analyzing the selected productions, it was possible to verify a greater predominance of studies that used laterality and spatial orientation to identify the motor profile of children with learning difficulties and behavioral or neurodevelopmental disorders, in addition to the presence of studies that relate the performance of these aspects motors to school performance. Furthermore, it was possible to observe a low performance of laterality and spatial orientation in Brazilian children and youth.

    Keywords: Spatial orientation. Functional laterality. Psychomotor performance. Students.

 

Resumen

    La falta de espacios públicos adecuados para práctica de ejercicios físicos y recreativos puede influir negativamente en el desarrollo motriz de niñas, niños y jóvenes escolares. Existe evidencia en la literatura que en niñas y niños con bajo desempeño motor, especialmente en la lateralidad y orientación espacial derecha-izquierda, puede contribuir negativamente en el aprendizaje de lectura, escritura y realización de cálculos matemáticos. Consecuentemente, el presente estudio tuvo como objetivo verificar producciones existentes en la literatura brasileña sobre lateralidad y orientación espacial derecha-izquierda y el desempeño de estos aspectos motores de niñas, niños y jóvenes brasileños de 6 a 14 años. Se realizó una revisión sistemática de artículos completos publicados entre 2010 y 2020 en bases de datos Scielo, Lilacs y Periódicos Capes. Para la búsqueda de las producciones, se utilizaron descriptores clave en portugués: “lateralidad”, “orientación espacial”, “desempeño motor”, “desempeño psicomotor”, “aprendizaje”, “rendimiento escolar”, “edad escolar” y “niños”. En total, se encontraron 130 producciones. Luego de la lectura y aplicación de criterios de inclusión y exclusión, se consideraron 10 estudios para esta investigación. Al analizar las producciones seleccionadas, fue posible verificar un mayor predominio de estudios que utilizaron la lateralidad y la orientación espacial para identificar el perfil motor de niñas y niños con dificultades de aprendizaje y trastornos del comportamiento o del neurodesarrollo, además de la presencia de estudios que relacionan el desempeño de estos aspectos conductores del rendimiento escolar. Además, fue posible observar un bajo desempeño de lateralidad y orientación espacial en niñas, niños y jóvenes brasileños.

    Palabras clave: Orientación espacial. Lateralidad funcional. Desempeño psicomotor. Estudiantes.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 286, Mar. (2022)


 

Introdução 

 

    O desenvolvimento motor segundo Gallahue, Ozmun, e Goodway (2013) pode ser caracterizado como um processo de alterações que ocorrem de maneira gradativa no comportamento motor do ser humano. Este processo de alterações motoras se mostra como um importante integrante do desenvolvimento humano (Papalia, e Feldman, 2013; Magill, 2000) que deve ser aprimorado durante toda a vida, por meio de exercícios físicos, atividades esportivas e lúdicas. (Tani, 2016; Gallahue, Ozmun, e Goodway, 2013; Haywood, e Getchel, 2016)

 

    Evidências indicam que durante a infância se torna importante que a criança seja estimulada a realizar atividades motoras (Payne, e Isaacs, 2007; Fonseca, 2019; Schmidt, e Wrisberg, 2010; Haywood, e Getchel, 2016). Além dos benefícios que o exercício físico pode trazer à saúde durante a infância, existem evidências que demonstram relações entre o nível de desempenho motor e a aprendizagem (Saraiva, e Rodrigues, 2011; Tavares, e Cardoso, 2016; Santos, e Pacheco, 2017; Fonseca, 2019). Aspectos importantes que compõem o desenvolvimento motor como a lateralidade e a orientação espacial, quando bem desenvolvidas, podem contribuir para o desenvolvimento da leitura e da escrita (Zorzi, 2008; Silva, e Beltrame, 2011; Alvim, e Borges, 2004), visto que estes fatores se integram ao cotidiano educacional de diferentes formas.

 

    A lateralidade, de acordo com Rosa Neto et al. (2011) pode ser compreendida como a preferência de utilização de partes simétricas do corpo para a realização de diferentes atividades. Por meio do conhecimento destas relações, a criança pode desenvolver sua orientação frente a objetos e símbolos, aprimorando por meio do domínio destas noções, a orientação espacial (Pacher, e Fischer, 2003). A orientação espacial pode ser definida como a maneira que o indivíduo se localiza e se relaciona com objetos, símbolos e pessoas no ambiente em que vive. (Fonseca, 2009)

 

    A lateralidade e a orientação espacial são importantes fatores que fazem parte do desenvolvimento humano. Neste sentido, a sua consolidação, principalmente em crianças, deve ser promovida. Diante disso a educação física escolar adquire sentido e possibilidade, visto que as atividades motoras podem auxiliar no aperfeiçoamento destes componentes (Gallahue, Ozmun, e Goodway, 2013; Saraiva, e Rodrigues, 2011). Por outro lado, o detrimento de experiências físicas e motoras que trabalhem os componentes motores supracitados, pode implicar na presença de dificuldades de aprendizagem.

 

    Por conta da importância atribuída à orientação espacial e à lateralidade ao desenvolvimento integral de indivíduos em idade escolar, se torna importante verificar na literatura brasileira o que tem sido produzido na última década acerca do desempenho da lateralidade e da orientação espacial direita-esquerda de crianças e jovens com idades entre 6 e 14 anos afim de subsidiar informações que possam integrar programas de intervenção que busquem auxiliar o desenvolvimento dos componentes motores supracitados e a minimizar possíveis dificuldades de aprendizagem escolar.

 

    Diante do exposto, a presente investigação se pauta na seguinte questão: Qual o perfil das produções realizadas na literatura brasileira acerca da lateralidade e da orientação espacial direita-esquerda e o desempenho destes componentes motores em crianças e jovens? A partir da problemática de pesquisa se objetivou no presente estudo, verificar as características dos estudos existentes na literatura brasileira sobre o desempenho da lateralidade e da orientação espacial direita-esquerda assim como o nível de performance destes componentes motores indivíduos de origem brasileira na faixa etária de 6 a 14 anos.

 

Métodos 

 

    O presente estudo foi realizado por meio da busca de produções em bases eletrônicas de dados e os procedimentos de busca foram elaborados e realizados por dois pesquisadores. Esta ação teve como intuito empregar um maior critério na seleção e avaliação da qualidade dos trabalhos a serem incorporados na presente revisão sistemática. Possíveis discordâncias em relação a seleção das produções foram sanadas em consentimento entre os dois pesquisadores.

 

    Para esta investigação, foram utilizados artigos completos e publicados no período compreendido entre 2010 e 2020 nas bases de dados Scielo, Lilacs e Periódicos Capes. Como estratégia de refinamento de busca, foram utilizados os descritores-chave em português a saber: “lateralidade”, “orientação espacial”, “desempenho motor”, “desempenho psicomotor” “aprendizagem”, “desempenho escolar”, “idade escolar” e “crianças”. Os descritores supracitados foram combinados e inseridos nos campos de busca das bases dados utilizadas com os operadores Booleanos “AND” e “OR” em língua portuguesa com o intuito de restringir a busca a estudos realizados com população de origem brasileira. Para a presente pesquisa, foram seguidos os critérios PRISMA para revisões sistemáticas (Page et al., 2021), sendo as buscas divididas em etapas a saber: Identificação, Seleção e Inclusão.

 

    Na etapa de identificação os descritores- chave foram incluídos e combinados nos campos de busca das bases de dados. As produções obtidas nas buscas em cada base de dados foram transportadas para um computador pessoal, sendo armazenadas no software StArt. Este programa desenvolvido pelo Laboratório de Pesquisa em Engenharia de Software (LaPES) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) tem como intuito auxiliar o pesquisador a organizar, selecionar e descrever trabalhos que podem ser utilizados para a realização de estudos de revisão.

 

    Posteriormente, na etapa de seleção, foi realizada a leitura dos resumos/abstracts das produções selecionadas na etapa de identificação, sendo excluídas as pesquisas que não apresentaram congruência com o escopo da presente investigação. Após este processo de filtragem das produções, foi realizada a etapa de inclusão, na qual as produções selecionadas nas etapas anteriores do estudo foram lidas na íntegra, sendo adotados alguns critérios de inclusão e exclusão a saber:

  • Critérios de inclusão: Utilização apenas de artigos científicos de acesso aberto; artigos publicados entre o período de 2010 a 2020; utilização apenas de estudos empíricos; estudos realizados com crianças com idades acima de 6 anos e adolescentes com idades abaixo de 14 anos; estudos com população brasileira.

  • Critérios de exclusão: Estudos de revisão; estudos realizados com população estrangeira; pesquisas realizadas com crianças com faixas etárias abaixo de 6 anos e adolescentes com idades acima de 14 anos.

    Para compor a síntese e o relatório final das informações, os estudos deveriam apresentar em sua estrutura pelo menos quatro critérios de inclusão e nenhum critério de exclusão que foram organizados em um checklist disposto no software StArt.

 

Resultados e discussão 

 

    Ao realizar a busca nas bases de dados, foram obtidas um total de 130 produções. Foi possível observar um maior número de produções na Base de dados Lilacs, obtendo 72 trabalhos (55,4%). Na base de dados Periódicos Capes, foram encontrados 42 artigos (32,3%) enquanto que o Scielo obteve 16 produções (12,3%). Na etapa de seleção da presente revisão, 88 artigos foram excluídos por não apresentar conformidade com o tema da pesquisa realizada e 13 produções foram excluídas por estarem duplicadas. Na etapa seguinte, ao realizar a leitura dos artigos na íntegra elencados na etapa anterior do estudo, 35 trabalhos foram excluídos por não se adequarem ao escopo da revisão. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, um total de 10 trabalhos foram incluídos para integrar o relatório de síntese da temática de discussão proposta pelo presente estudo.

 

    A figura abaixo apresenta o processo de avaliação e seleção das produções que integraram o estudo (Figura 1).

 

Figura 1. Fluxograma de avaliação e seleção dos artigos

Figura 1. Fluxograma de avaliação e seleção dos artigos

Fonte: Elaboração própria

 

    A partir dos dados obtidos pelos estudos selecionados na etapa de extração da presente investigação, foi possível observar a existência de trabalhos que apresentaram escopo, metodologias de avaliação, intervenção e objetivos semelhantes. Diante disso, as publicações que apresentavam escopos semelhantes foram categorizadas a fim de explicitar as perspectivas e os resultados de maneira ordenada. As categorias emergidas das análises dos artigos foram: 1) Análise do perfil psicomotor de crianças com dificuldades e transtornos de aprendizagem (Ferreira et al., 2015; Fernandes, Dantas, e Mourão-Carvalhal, 2014; Silva, Oliveira, e Ciasca, 2017), 2) Desempenho motor relacionado a aprendizagem escolar de crianças (Rosa Neto et al., 2013; Vianna, 2015); 3) Perfil psicomotor de crianças com transtornos de aprendizagem (Costa et al., 2013; Rodrigues et al., 2018; Carvalho, Ciasca, e Rodrigues, 2015) e 4) Avaliação motora de crianças em idade escolar (Lucena et al., 2010; Vianna, Cruz, e Nenartavis, 2017). Ao verificar as produções selecionadas para a presente revisão, foi observada uma predominância de publicações acerca do tema abordado neste estudo no período compreendido entre 2013 a 2018. O quadro abaixo apresenta os artigos selecionados e os principais resultados de cada trabalho.

 

Quadro 1. Estudos selecionados para a revisão bibliográfica

Autor(es) e ano

Titulo

Intervenção

Principais resultados

Ferreira et al. (2015)

Avaliação motora em escolares com dificuldade de aprendizagem

52 crianças com queixas de dificuldade de aprendizagem escolar (DA) foram submetidas a realização de testes da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) e ou Manual de Desempenho Escolar (MDE).

A média do Quociente motor dos alunos avaliados foi classificada como “normal baixo”. Os maiores déficits foram encontrados nas avaliações referentes a orientação espacial e organização temporal, sendo classificadas como “inferiores”.

Fernandes, Dantas, e Mourão- Carvalhal (2014)

Desempenho psicomotor de escolares com dificuldades de aprendizagem em cálculos

37 crianças com idades entre 7 e 9 anos com DA em cálculos realizaram, realizaram a Bateria Psicomotora (BPM) e a avaliação de Matrizes Progressivas Coloridas de Raven, com o intuito de verificar se há correlações entre DA em cálculos e o desempenho psicomotor.

Os resultados demonstraram correlação positiva ao comparar as noções de noções de espaço e tempo, estrutura rítmica e imitação de gestos com a aprendizagem de cálculos matemáticos. Os indivíduos avaliados apresentaram maiores déficits nos aspectos referentes a estruturação espaço/temporal.

Silva, Oliveira, e Ciasca (2017)

Desempenho percepto-motor, psicomotor e intelectual de escolares com queixa de dificuldade de aprendizagem

26 crianças com faixas etárias entre 7 e 9 anos com e sem queixa de DA realizaram o Teste Gestáltico Visomotor de Bender, a EDM, o teste de Desenho da Figura Humana (DFH), e a Avaliação de Dificuldades de Aprendizagem na Escrita (ADAPE).

Crianças com DA apresentaram pior rendimento motor em todas as provas avaliadas em comparação as crianças sem DA. Os piores resultados foram obtidos no desempenho nas áreas de esquema corporal, organização espacial e organização temporal.

Carvalho, Ciasca, e Rodrigues (2015)

Há relação entre desenvolvimento psicomotor e dificuldade de aprendizagem? Estudo comparativo de crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), dificuldade escolar (DE) e transtorno de aprendizagem (TA)

25 crianças com idades entre 7 e 11 anos, diagnosticadas com TDAH, TA e DE, foram submetidas a realização da EDM para avaliar a motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e organização temporal.

Todos os indivíduos avaliados pela EDM apresentaram idade motora inferior a idade cronológica. As áreas referentes a organização espacial, seguida de equilíbrio, organização temporal e esquema corporal foram as que apresentaram maior comprometimento.

Rosa Neto et al. (2013)

A lateralidade cruzada e o desempenho da leitura e escrita em escolares

166 alunos com idades entre 8 e 9 anos realizaram a EDM para avaliar o desempenho da lateralidade e o MDE para avaliar o desempenho da leitura e escrita.

Foi verificado que o desempenho da leitura e da escrita foi superior em crianças que apresentaram dominância lateral completa em comparação as crianças que apresentaram dominância lateral cruzada. Na escrita, crianças com dominância lateral destro-completa, apresentaram melhor rendimento.

Vianna (2015)

Lateralidade e fracasso escolar

89 crianças com idades entre 8 e 13 anos com desempenho escolar regular (DR) e em situação de fracasso escolar (FE) foram submetidas a realização do Harris Test of Lateral Dominance com o intuito de verificar a lateralidade destes indivíduos.

Os resultados apontaram que 53,2% do grupo FE e 57,2% do grupo DR apresentaram lateralidade indefinida.

Costa et al. (2013)

Perfil psicomotor de crianças com

TDAH de uma escola no município de Presidente Prudente

5 crianças com idades entre 6 e 9 anos, diagnosticados com TDAH foram submetidos a realização da EDM.

Foi observado que os participantes apresentaram IM inferior a IC nas provas referentes a Motricidade Fina, Motricidade Global, Equilíbrio, Esquema

Corporal/Rapidez, Organização Espacial e Temporal.

Rodrigues et al. (2018)

Perfil psicomotor de escolares com deficiência intelectual: por que avaliar?

15 alunos com deficiência intelectual realizaram o Teste de proficiência motora Bruininks-Oseretsky (BOT-2), versão breve e a Avaliação Psicomotora.

Como resultados do estudo, foi constatado que na maioria dos participantes apresentou desempenho “muito abaixo do esperado” para o BOT-2. Além disso, o desempenho motor obtido na Avaliação Psicomotora da maioria dos alunos foi abaixo da idade cronológica nas tarefas de coordenação e equilíbrio, esquema corporal, lateralidade, orientação espacial, orientação temporal.

Lucena et al. (2010)

Lateralidade manual, ocular e dos membros inferiores e sua relação com déficit de organização espacial em escolares

400 crianças de escolas públicas e privadas com faixas etárias entre 6 e 10 realizaram o Harris Test of Lateral Dominance e o Piaget Head Test.

Os resultados evidenciaram 23 tipos de lateralidade mão-olho-pé, observando-se maior percentual (48,75%) de destralidade completa (dominância manual, ocular e dos membros inferiores direita). Houve associação significativa (p<0,05) entre sinistralidade completa e déficit de organização espacial. 

Vianna, Cruz, e Nenartavis (2017)

Orientação espacial de alunos nos anos iniciais do ensino fundamental

55 crianças com idades entre 7 a 12 anos, sendo 34 alunos matriculados em uma escola municipal situada no interior de uma favela (EM); e 21 alunos matriculados em uma escola particular localizada num bairro de classe média (EP), foram submetidos a realização do Piaget Head-Test.

Nos dois grupos avaliados, foi possível verificar que a idade motora foi inferior a idade cronológica. Os alunos do grupo EP apresentaram melhor rendimento da orientação espacial direita-esquerda em comparação ao grupo EM.

Fonte: Elaboração própria

 

    Ao analisar as produções selecionadas para esta investigação, foi possível verificar uma grande variedade de tipos de estudo, sendo evidenciados estudos de corte transversal (Ferreira et al., 2015; Silva, Oliveira, e Ciasca, 2017; Lucena et al., 2010), pesquisas quantitativas (Fernandes, Dantas, e Mourão- Carvalhal, 2014; Costa et al., 2013), estudos descritivos (Carvalho, Ciasca, e Rodrigues, 2015; Rosa Neto et al., 2013; Rodrigues et al., 2018) e estudos comparativos. (Vianna, 2015; Vianna, Cruz, e Nenartavis, 2017)

 

    Outro ponto interessante a se observar nas pesquisas está numa maior ênfase da utilização de avaliações que visaram identificar o desempenho motor geral de crianças e jovens com e sem indicativos de dificuldades de aprendizagem ou transtornos de comportamento (Ferreira et al., 2015; Fernandes, Dantas, e Mourão-Carvalhal, 2014; Silva, Oliveira, e Ciasca, 2017; Carvalho, Ciasca, e Rodrigues, 2015; Costa et al., 2014; Rodrigues et al., 2018). A orientação espacial e a lateralidade nos estudos supracitados foram avaliadas como parte integrante do desempenho motor geral dos indivíduos, sendo apresentadas como variáveis motoras dos testes realizados. A orientação espacial e a lateralidade foram avaliadas de maneira específica como fonte objetiva de investigação em quatro trabalhos (Rosa Neto et al., 2013; Vianna, 2015; Lucena et al., 2010; Vianna, Cruz, e Nenartavis, 2017) que também foram realizados com crianças e jovens com e sem dificuldades de aprendizagem escolar.

 

    Ainda sobre as avaliações motoras realizadas nos estudos, foi percebido uma predominância de utilização da Escala de Desenvolvimento Motor (Rosa Neto, 2002), que foi utilizada em quatro trabalhos (Ferreira et al., 2015; Carvalho, Ciasca, e Rodrigues, 2015; Rosa Neto et al., 2013; Costa et al., 2014). Isto pode ser atribuído ao fato desta bateria de testes motores ser validada e amplamente utilizada em estudos com crianças e jovens de origem brasileira. Outras avaliações psicomotoras também foram realizadas nos estudos selecionados, tais como a Bateria Psicomotora (Fernandes, Dantas, e Mourão-Carvalhal, 2014; Rodrigues et al., 2018), o Harris Test of Lateral Dominance (Vianna, 2015; Lucena et al., 2010), o Teste de proficiência motora Bruininks-Oseretsky (Rodrigues et al., 2018) e o Piaget-Head Test. (Vianna, Cruz, e Nenartavis, 2017)

 

    Outra dimensão das avaliações observadas se refere à avaliação de desempenho escolar e cognitivo. Entre elas foi possível observar a presença do Manual de Desempenho Escolar (Ferreira et al., 2015; Rosa Neto et al., 2013), da Avaliação de Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (Fernandes, Dantas, e Mourão-Carvalhal, 2014), o Teste Gestáltico Visomotor de Bender, o Teste de Desenho da Figura Humana (DFH) e a Avaliação de Dificuldades de Aprendizagem na Escrita. (Silva, Oliveira, e Ciasca, 2017)

 

Análise do perfil psicomotor de crianças com dificuldades de aprendizagem 

 

    Nos estudos que compuseram esta categoria percebe-se em comum o fato de que crianças com indicativos ou comprometimentos estabelecidos na aprendizagem escolar, apresentaram déficits motores. No que se refere ao desempenho da orientação espacial, foi possível observar nas investigações a existência de comprometimentos neste componente motor. Em alguns trabalhos foi evidenciado que estes comprometimentos influenciaram negativamente o desempenho de componentes importantes da aprendizagem escolar como a leitura, a escrita (Rosa Neto et al., 2013; Ferreira et al., 2015; Silva, Oliveira, e Ciasca, 2017) e a realização de cálculos matemáticos (Fernandes, Dantas, e Mourão-Carvalhal, 2014). Estas dificuldades foram observadas em crianças com desenvolvimento típico e crianças com dificuldades de aprendizagem. Estes dados demonstram conformidade com outros estudos da literatura que apontam que dificuldades na leitura, na escrita e na realização de cálculos matemáticos estariam relacionados com comprometimentos na lateralidade, no esquema corporal e na orientação espaço-temporal. (Alvim, e Borges, 2004; Tavares, e Cardoso, 2016; Reynolds et al., 2019; Escolano-Pérez, Herrero-Nivela, e Losada, 2020; Cruz, e Vianna, 2021)

 

    Ao analisar os dados dos estudos desta categoria no que se refere a lateralidade, evidencia-se que há uma maior homogeneização dos resultados. Nos estudos que avaliaram e classificaram este componente motor, a maioria dos indivíduos avaliados demonstraram ter a lateralidade definida com dominância lateral direita. No trabalho de Silva, Oliveira, e Ciasca (2017) cerca de 53,8% dos sujeitos de estudo foram classificados como destros completos, 42,3% tinham lateralidade cruzada e 3,8% lateralidade indefinida. Já na pesquisa realizada por Ferreira et al., (2015) 42% dos alunos sem queixa de dificuldade de aprendizagem apresentaram lateralidade direita, enquanto que 58% apresentaram lateralidade cruzada. 33% dos alunos com queixa de dificuldade de aprendizagem apresentaram preferência lateral direita, 8% preferência lateral esquerda, 33% lateralidade cruzada e 25% apresentaram lateralidade indefinida.

 

    Estas informações corroboram com outros estudos que também demonstram uma maior predominância da lateralidade definida com preferência lateral direita em indivíduos com e sem dificuldades de aprendizagem. (Rosa Neto et al., 2007; Silva, e Dounis, 2014; Melo, e Carneiro, 2015; Rinaldi et al., 2020)

 

Desempenho motor relacionado a aprendizagem escolar de crianças 

 

    Nesta categoria, os artigos selecionados (Rosa Neto et al., 2013; Vianna, 2015) verificaram possíveis associações entre o desempenho motor da lateralidade com o desempenho acadêmico de alunos com idades entre 6 a 13 anos. O estudo realizado por Rosa Neto et al. (2013) comparou o desempenho da leitura e da escrita de crianças com lateralidade cruzada e lateralidade destro completa por meio da EDM e do MDE. Como resultados do estudo, foi constatado que crianças com lateralidade destro completa apresentaram melhor rendimento nas provas de leitura e escrita em comparação aos alunos com lateralidade cruzada. Os dados obtidos por esta pesquisa apresentam diferenças em comparação a investigação realizada por Vianna (2015) que objetivou comparar o desempenho da lateralidade de alunos com baixo rendimento escolar (BRE) e alunos com rendimento escolar regular (RER) de 8 a 13 anos de idade. Diferentemente do trabalho realizado por Rosa Neto et al. (2013), nesta pesquisa foi utilizado o Harris Test of Lateral Dominance para avaliar a lateralidade. Os resultados do estudo apontaram que 53,2% dos sujeitos do grupo BRE e 57,2% do grupo RER apresentaram lateralidade indefinida.

 

    Os dados obtidos por estas pesquisas apontam para a necessidade de se realizarem mais estudos focados especificamente na avaliação do desempenho da lateralidade para compreender melhor de que formas esta variável motora se associa com o desempenho escolar de crianças. Deve-se levar em conta também que os instrumentos de avaliação dos estudos citados foram diferentes. Apesar da EDM se apresentar como uma avaliação amplamente realizada no Brasil, a mesma conta com três provas para avaliar a lateralidade enquanto o Teste de Harris apresenta 10. Logicamente, se deve priorizar a qualidade das avaliações e não a quantidade, entretanto se torna importante realizar avaliações específicas a descrição e verificação do perfil de aspectos motores específicos.

 

Perfil psicomotor de crianças com transtornos de aprendizagem 

 

    Os estudos que integraram esta categoria tiveram como objetivo identificar o perfil psicomotor de crianças diagnosticadas com TDAH, TA, Dificuldade de aprendizagem escolar e Deficiência intelectual. (Costa et al., 2014; Carvalho, Ciasca, e Rodrigues, 2015; Rodrigues et al., 2018)

 

    Os estudos selecionados para esta categoria apresentaram congruências acerca dos resultados obtidos no desempenho motor dos indivíduos avaliados. O estudo de Costa et al. (2014) e Carvalho, Ciasca e Rodrigues (2015) utilizaram a EDM para avaliar os aspectos motores da motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e organização temporal. No primeiro estudo citado, participaram cinco crianças com idades entre seis a nove anos com TDAH. Ao realizar as avaliações da EDM, foi possível observar que os indivíduos apresentaram idade motora geral abaixo da idade cronológica. No que se refere a orientação espacial, contata-se que 36% dos sujeitos apresentaram desempenho classificado como “muito inferior” e 24 % apresentaram desempenho “inferior”. No entanto, ao analisar o coeficiente motor geral do grupo, foi observado que os indivíduos apresentaram classificações que variaram de “normal baixo” a “médio”. Estas variações, segundo os autores, são normais visto que o desenvolvimento da criança não ocorre de maneira linear.

 

    Na pesquisa realizada por Carvalho, Ciasca, e Rodrigues (2015), foram encontrados resultados distintos. Nesta investigação participaram crianças com TDAH, TA e Dificuldade de aprendizagem. Assim como o estudo de Costa et al. (2014), todos os grupos avaliados apresentaram idade motora inferior a idade cronológica. No entanto ao analisar as variáveis motoras, o grupo de alunos com TDAH teve o pior desempenho em comparação aos demais, inclusive na orientação espacial direita-esquerda. O coeficiente motor dos indivíduos avaliados variou entre “normal baixo” e “inferior”. Os dados apresentados por esta categoria de análise demonstram semelhanças com o estudo realizado por Faria, Abreu, e Nepomuceno (2016), que buscou identificar e comparar o perfil psicomotor de crianças de 8 e 9 anos diagnosticadas com deficiência intelectual com crianças neurotípicas. Os sujeitos do estudo foram submetidos a realização das provas de motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, orientação espacial e organização temporal da Escala EDM. Após a realização das avaliações, foi constatado que 100% dos alunos do sexo masculino apresentaram idade motora igual a 3 anos nas provas de esquema corporal, orientação espacial e organização temporal, evidenciando um atraso no nível de desempenho destes componentes motores. Ao analisar o resultado dos participantes do sexo feminino, foi evidenciado 33% das alunas apresentou idade motora igual a 2 anos, enquanto que 67% apresentou uma idade motora igual a 3 anos no desempenho dos componentes supracitados (esquema corporal, orientação espacial e organização temporal). Estes resultados corroboram com evidências na literatura ao reforçar que indivíduos acometidos por transtornos de neurodesenvolvimento e dificuldades de aprendizagem podem apresentar déficits motores. (Oliveira, e Capellini, 2013; Cruz, e Praxedes, 2018; Sweeney et al., 2018; Farran et al., 2019; Farran et al., 2020; Belaire et al., 2020)

 

Avaliação motora de crianças em idade escolar 

 

    Nesta categoria, os artigos selecionados objetivaram traçar o perfil motor de crianças com desenvolvimento típico sobre perspectivas distintas. No trabalho realizado por Lucena et al. (2010), 400 crianças de uma escola pública e outra particular foram submetidas a realização do Harris Test of Lateral Dominance para verificar se existiam possíveis relações entre a lateralidade manual, ocular, dos membros inferiores e o déficit de organização espacial. Os resultados do estudo apontam que 48,75% dos indivíduos apresentaram lateralidade destro completa. Foi constatado também a existência de uma associação significativa entre o desempenho da lateralidade e déficit na orientação espacial direita-esquerda. Esta associação positiva pode ser atribuída a relação intrínseca de desenvolvimento existente entre estes dois aspectos motores.

 

    O estudo realizado por Vianna, Cruz, e Nenartavis (2017) apresenta algumas informações complementares relacionadas a orientação espacial direita-esquerda. Nesta pesquisa 55 alunos do ensino municipal (EM) e particular (EP) do Rio de Janeiro foram submetidos a realização do Piaget Head Test. Como resultados do estudo, foi verificado que nos dois grupos avaliados houve uma discrepância entre a idade cronológica e a idade motora dos indivíduos. No entanto, ao comparar os resultados da orientação espacial do grupo EM com o grupo EP, foi possível observar um melhor rendimento dos alunos do EP.

 

    Nestes dois estudos citados, percebe-se que há uma defasagem do desempenho da lateralidade e da orientação espacial. Um ponto comum destes trabalhos é o fato de ter sido realizado com crianças sem diagnóstico de comprometimentos intelectuais ou comportamentais. Segundo Lucena et al. (2010), Vianna, Cruz, e Nenartavis (2017), estes resultados podem sugerir que há uma insuficiência de prática corporais no cotidiano destes indivíduos que possam estimular o desenvolvimento dos componentes da lateralidade e da orientação espacial direita-esquerda.

 

    Estas possíveis associações, apesar de não terem sido controladas nos trabalhos, demonstram algumas congruências com evidências na literatura que afirmam que na atualidade existem fatores políticos e socioeconômicos que tem influenciado a prática de atividades físicas cotidianas de crianças e jovens, tais como a escassez de espaços públicos adequados, a violência, a mobilidade urbana e a influência de hábitos de vida sedentários. (Luz, Kuhnen, 2013; Haudenhuyse, 2018; Höglhammer et al., 2018; Mores et al., 2019; West, 2019; Dornelles et al., 2019)

 

Conclusões 

 

    Na investigação foi possível identificar que seis estudos (60%) buscaram verificar o perfil motor de crianças com dificuldades de aprendizagem e transtornos comportamentais ou neurodesenvolvimentais, demonstrando uma maior predominância neste tópico específico de investigação. Além disso, seis estudos (60%) buscaram associar o desempenho motor dos sujeitos de estudo com o rendimento de fatores relacionados a aprendizagem escolar. É plausível que este fato ocorra por conta das faixas etárias dos indivíduos participantes de cada pesquisa, visto que foram compostas por crianças e jovens de 6 a 14 anos de idade, fases que compõem importantes períodos do desenvolvimento humano e formativo do homem.

 

    Outro ponto interessante a observar está no fato de que a lateralidade e a orientação espacial foram objeto de estudo primário em 4 dos 10 estudos selecionados (40%). As pesquisas selecionadas em sua maioria visaram verificar o desempenho motor geral dos indivíduos, mostrando que há uma maior atenção em se utilizar avaliações motoras que verifiquem o perfil motor de crianças de maneira geral.

 

    Algo que chama atenção nos resultados obtidos em cada pesquisa selecionada para a presente revisão foi o fato evidenciar que todos os sujeitos de estudo, com neurodesenvolvimento típico e atípico, nas diferentes avaliações motoras utilizadas em cada estudo, apresentaram um baixo rendimento em provas que visaram examinar o desempenho da lateralidade e da orientação espacial direita-esquerda. Estes resultados sugerem que a falta de vivências motoras ricas, assim como as recentes modificações nos hábitos de vida, tem influenciado a exercitação física e a prática de atividade perceptivo-motoras de crianças brasileiras.

 

    Sugere-se que mais estudos sejam realizados a fim de mapear o que vem sendo produzido acerca do desempenho da lateralidade e da orientação espacial direita-esquerda de crianças em idade escolar no Brasil, assim como a verificação do perfil motor desta população para que seja possível incentivar políticas públicas que integrem a prática regular de exercícios físicos e perceptivo-motores no cotidiano escolar destes indivíduos.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 286, Mar. (2022)