gabriel.zanini@unesp.br

ademirtj@gmail.com

lucena.josead@gmail.com

bianca.fernandes1@unesp.br

vanessa.amaral@unesp.br

*Doutorando no Programa de Pós Graduação

em Ciências da Motricidade (UNESP)

Pós Graduado em MBA em Finanças e Análise de Risco

Pós Graduado em Gestão da Saúde Pública

Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem (FC/UNESP)

Bacharel e Licenciado em Educação Física pela Faculdade de Ciências

da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FC/UNESP), campus de Bauru

Bolsista de Iniciação Científica (CNPQ 2012 a 2014)

com pesquisa na área de Atividade Física e Saúde

Palestrante, Professor Conteudista na plataforma digital EDUCAFIT

Docente no curso de Bacharel nas Faculdades Integradas de Jau (FIJ)

**Pós-doutorando na área da Educação Física (EACH/USP/SP)

Doutor em Ciências do Movimento Humano (Bolsista Capes - UNIMEP)

Mestre em Educação (USAL/AR - revalidado USP/SP)

Especialista em Psicopedagogia Educacional e Clínica (FACITA/SP)

e Educação Física Escolar (UEPG/PR)

Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física (FAEFI/SP)

e em Pedagogia (UNINOVE/SP). Coordenador e docente do curso de Educação Física

das Faculdades Integradas de Jaú (FIJ)

Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa das FIJ

***Bacharel em Educação Física pela Faculdades Integradas de Jaú

Pós Graduado em Futebol e Futsal pela Faculdade Unyleya

+Graduada em Educação Física (Bacharelado/Licenciatura)

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP

Faculdade de Ciências, campus de Bauru

Mestrado pelo Programa de Pós Graduação

em Ciências do Movimento em andamento (UNESP)

Membro do Grupo de Estudos em Exercício Físico e Doenças Crônicas

++Bacharela em Educação Física

pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP,

Faculdade de Ciências, campus de Bauru

Atualmente candidata a mestre pelo Programa de Pós-Graduação

em Ciências do Movimento, pela UNESP - interunidades e bolsista CAPES

(Brasil)

Recepção: 18/10/2020 - Aceitação: 08/09/2021

1ª Revisão: 03/07/2021 - 2ª Revisão: 28/08/2021

Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

Citação sugerida: Zanini, G. de S., Testa Junior, A., Lucena, J.A.C. de, Fernandes, B., e Amaral, V.T. do (2021). Antropometria, capacidade funcional, pressão arterial e nível de atividade física em universitários do interior paulista. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(282), 165-178. https://doi.org/10.46642/efd.v26i282.2641

 

Resumo

    A prática de exercícios físicos tende a ser reduzida na fase adulta, especialmente entre universitários, devido as altas demandas de tarefas no dia a dia. O presente estudo teve como objetivo descrever as características antropométricas, capacidade funcional, pressão arterial, além do nível de aptidão e atividade física em 73 estudantes universitários, de ambos os sexos regularmente matriculados nos cursos de Educação Física (EF), Pedagogia (PDG) e Administração (ADM), em uma faculdade no interior paulista. Utilizou-se testes de capacidade funcional, para mensurar valores de flexibilidade e força, e, para obtenção do nível de atividade física utilizou-se do IPAQ (versão curta). A estatura foi maior no grupo EF (171,02±6,54) comparado ao ADM (161,86±6,54) com nível de significância de p=0,04. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi menor no grupo EF (24,65±2,76) em relação ao grupo ADM (100,8±11,84; p=0,03). O IPAQ indicou diferença significativa entre o grupo EF em relação à PDG e ADM sobre o percentual de indivíduos muito ativos (p=0,022, e p=0,31, respectivamente) e ADM apresentou indivíduos classificados como baixo nível de atividade física em relação ao grupo EF (p=0,04). Conclui-se que o nível de atividade física, bem como as capacidades funcionais apresentaram diferenças significantes entre os estudantes de ensino superior.

    Unitermos: Antropometria. Capacidade funcional. Hemodinâmica. Atividade física.

 

Abstract

    The practice of physical exercise tends to be reduced in adulthood, especially among university students, due to the high demands of daily tasks. The present study aimed to describe the anthropometric characteristics, functional capacity, blood pressure, in addition to the level of fitness and physical activity in 73 university students of both genders regularly enrolled in Physical Education (PE), Pedagogy (PDG) and Administration courses (ADM), at a college in the interior of São Paulo. Functional capacity tests were used to measure flexibility and strength values, and the IPAQ (short version) was used to obtain the level of physical activity. Height was greater in the PE group (171.02±6.54) compared to the ADM group (161.86±6.54) with a significance level of p=0.04. BMI was lower in the EF group (24.65±2.76) compared to the ADM group (100.8±11.84; p=0.03). The IPAQ indicated a significant difference between the EF group in relation to PDG and ADM on the percentage of very active individuals (p=0.022 and p=0.31, respectively) and ADM showed individuals classified as low level of physical activity compared to the EF group (p=0.04). It is concluded that the level of physical activity, as well as the functional abilities presented significant differences among higher education students.

    Keywords: Anthropometry. Functional capacity. Hemodynamics. Physical activity.

 

Resumen

    La práctica de ejercicio físico tiende a reducirse en la edad adulta, especialmente entre los estudiantes universitarios, debido a la alta exigencia de las tareas diarias. El presente estudio tuvo como objetivo describir las características antropométricas, capacidad funcional, presión arterial, además del nivel de condición física y actividad física en 73 estudiantes universitarios de ambos sexos matriculados habitualmente en Educación Física (EF), Pedagogía (PDG) y Administración (ADM), en una universidad del interior de São Paulo. Se utilizaron pruebas de capacidad funcional para medir los valores de flexibilidad y fuerza, y se utilizó el IPAQ (versión corta) para obtener el nivel de actividad física. La altura fue mayor en el grupo de EF (171,02±6,54) en comparación con el ADM (161,86±6,54) con un nivel de significación de p=0,04. El Índice de Masa Corporal (IMC) fue menor en el grupo de EF (24,65±2,76) en comparación con el grupo de ADM (100,8±11,84; p=0,03). El IPAQ indicó una diferencia significativa entre el grupo EF en relación a PDG y ADM en el porcentaje de individuos muy activos (p=0.022, y p=0.31, respectivamente) y ADM mostró individuos clasificados como de bajo nivel de actividad física en comparación con el grupo EF (p=0,04). Se concluye que el nivel de actividad física, así como las capacidades funcionales, mostraron diferencias significativas entre los estudiantes de educación superior.

    Palabras clave: Antropometría. Capacidad funcional. Hemodinámica. Actividad física.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 282, Nov. (2021)

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Introdução 

 

    O sedentarismo e o desenvolvimento de doenças decorrentes da ausência de atividades físicas, como as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), apresentam alta prevalência nos mais diversos públicos. Ambas são fatores de risco para morbidades, além de aumentar os gastos com saúde. (Barroso et al., 2021)

 

    Inúmeras são as evidências que apontam os benefícios da prática de atividade física (AF) para a saúde, para todas as idades (AuYoung et al., 2016; Ciolac et al., 2014; Stavrinou et al., 2018). Entretanto, mesmo os indivíduos que possuem a vida ativa durante a infância e adolescência, tendem a abandonar a prática regular de exercícios ao atingir a idade adulta, por diversos fatores como cobranças diárias, responsabilidades com o trabalho e os estudos. (Bezerra, e de Sousa Santos, 2019; Matsudo, 2009)

 

Fonte: Pexels.com. Foto: Mikhail Nilov

 

    O abandono da prática regular de exercícios físicos traz consigo fatores de risco para o surgimento de doenças cardiovasculares, sendo a hipertensão arterial sistêmica (HAS) como a principal, seguido de diabetes tipo 2 (DM2), dislipidemias e doenças osteoarticulares (Barroso et al., 2021; Ciolac et al., 2014; Mills et al., 2020). Os levantamentos realizados na última década demonstram que boa parte da população mundial adulta sofre de HAS, além de ser esperado que cerca de 30% (próximo de 1.6 bilhões) dessa população até o ano de 2050 seja alvo dessa doença (Barroso et al., 2021; Mills et al., 2020; Salem et al., 2018). O exercício físico, portanto, surge como uma das melhores ferramentas para a redução desses números.

 

    O exercício físico e a prática de esportes podem trazer inúmeros benefícios, além de melhoras nas respostas cardiovasculares, respiratórias, hormonais e nos níveis de força (AuYoung et al., 2016; Ciolac et al., 2014). Além disso, a prática regular de atividade física está associada a inúmeros benefícios psicológicos, como diminuição da ansiedade, depressão, hostilidade, melhoria no humor, autoconhecimento, bem-estar psicológico e diminuição da reatividade ao estresse (Andrade et al., 2018; Gomes et al., 2019). De todos os tipos de tratamento e técnicas comportamentais usadas para a regulação do humor, o exercício se mostrou o mais efetivo. (Mikkelsen et al., 2017; Thayer et al., 1994; Zanini et al., 2021)

 

    Deste modo, devido às mudanças que podem ocorrer em seus estilos de vida, os universitários apresentam uma série de comportamentos que tendem a trazer riscos para a saúde, dentre eles o baixo nível de atividade física, redução da quantidade de sono, má alimentação e aumento dos índices de estresse, dado a cobrança na qual são submetidos (Calderon Jr et al., 2021; Chaves et al., 2016; Penaforte et al., 2016). Entretanto, a prática regular de exercícios poderia ser determinante para a proteção de comportamentos depressivos e de baixa autoestima, pois estudos sugerem que pessoas fisicamente ativas e com maior aptidão física tem demonstrado um melhor estado de humor do que as sedentárias menos aptas (Brandt et al., 2012; Thayer et al., 1994; Werneck, e Navarro, 2011), e, possivelmente influenciar em melhores resultados acadêmicos. (Vieira et al., 2018)

 

    O ingresso no ensino superior é marcado por transformações de hábitos e vínculos sociais, sendo este período determinante para incorporação de hábitos saudáveis, dentre elas a prática regular de AF. Portanto, o presente estudo tem como objetivo descrever as características antropométricas, capacidade funcional, variáveis hemodinâmicas, além do nível de aptidão e atividade física em 73 estudantes universitários, de ambos os sexos regularmente matriculados nos cursos de Educação Física (EF), Pedagogia (PDG) e Administração (ADM), em uma faculdade no interior paulista

 

Metodologia 

 

Amostra 

 

    O estudo foi realizado na Faculdade Orígenes Lessa (FACOL), situada no município de Lençóis Paulista, interior do estado de São Paulo. Foram avaliadas 73 pessoas de ambos os sexos com idade média de 35 ± 19 anos (homens: n = 32, 34 ± 15; mulheres: n = 41, 24 ± 18) durante a “semana de atividades”, período no qual a instituição realiza eventos voltados para integralizar os conhecimentos das mais diversas áreas. Todos os participantes encontravam-se regularmente matriculados na instituição, nos cursos de Educação Física (EF), Pedagogia (PDG) e Administração (ADM) (Tabela 1).

 

    O estudo por sua vez possui um desenho Transversal, sendo de caráter laboratorial, coletando as variáveis necessárias para cumprir os objetivos da pesquisa, tendo como base o momento específico da coleta de dados como alvo de estudo.

 

Instrumentos e variáveis avaliadas 

 

    Antropometria 

 

    Para a análise da composição corporal foi realizada a mensuração do peso corporal e da estatura para o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC = peso/estatura²); houve classificação das participantes em eutróficos, sobrepesados e obesos de acordo com os valores de referência propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (Nishida et al., 2004). Para a aferição da circunferência abdominal (CA), os indivíduos foram medidos em posição ortostática, com os braços afastados, pés juntos, a camisa levantada até a altura do diafragma e abdome relaxado no final do movimento expiratório. Foi utilizada uma fita métrica flexível e inextensível, posicionada tendo como referência o ponto médio entre a crista ilíaca e a última costela, assim como recomendado pela OMS. (Nishida et al., 2004)

 

    Capacidades funcionais 

 

    A escolha dos testes funcionais foi baseada em três principais pilares, sendo: i) facilidade de aplicação em grandes públicos, ii) possibilidade de reprodutibilidade em futuros estudos, iii) garantia de homogeneidade dos resultados, uma vez que o evento onde as coletas ocorreram consistia de indivíduos com idades distintas, e que poderiam ter quaisquer tipos de acometimentos locomotores.

 

    Teste de Sentar e Alcançar (TSA): A flexibilidade foi mensurada utilizando um banco de Wells, e Dillon devidamente milimetrado. Os indivíduos foram orientados a sentarem-se com as pernas estendidas e com os pés tocando a o equipamento a ser usado para a realização do teste, posteriormente tiveram que inclinar-se a fim de projetar-se até onde fosse possível, deslizando os dedos ao longo da régua. Foram realizadas três tentativas e considerada aquela de maior valor. (Nelson et al., 2007; Ribeiro et al., 2010)

 

    Teste de Força e Preensão Manual (TFP): A função muscular dos participantes foi avaliada pela força de preensão manual. A força manual isométrica foi mensurada em uma única repetição máxima de contração estática na mão dominante, mensurada por um dinamômetro analógico de preensão manual da marca Crown (resolução de 0,1 Kgf ou 1N; capacidade total de 50 Kgf ou 500N). O teste foi realizado com o indivíduo em posição ortostática com os braços estendidos, realizando uma tentativa, sendo instruído a implementar a maior força quanto possível durante a tentativa. Este sistema permite a obtenção do valor máximo da curva de força de apreensão, sendo este um indicativo para a capacidade funcional do indivíduo. (de Souza Zanini et al., 2021; Ikemoto et al., 2008)

 

    Variável hemodinâmica 

 

    Pressão Arterial (PA): Os níveis de pressão arterial sistólica e diastólica foram determinados com estetoscópios e esfigmomanômetros de coluna de mercúrio, com manguitos apropriados para medidas em adultos (de 26 por 12 cm), por um avaliador experiente, seguindo as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. (Barroso et al., 2021)

 

    Nível de Atividade Física 

 

    Questionário Internacional de Atividade Física: Foi utilizado o IPAQ versão curta (Matsudo et al., 2002) para avaliar os níveis de atividade física dos estudantes. Também foi elaborado um escore de atividade física, calculado segundo a multiplicação da frequência semanal (dias) pela duração média (minutos) da prática da caminhada, bem como outras atividades físicas moderadas e vigorosas. Posteriormente os participantes foram caracterizados entre: 1 - Inativo/Baixa atividade física; 2 - Ativo; 3 - Muito Ativo.

 

Análise estatística 

 

    A análise estatística foi realizada com o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para Windows versão 26.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, USA). Os dados foram organizados em estatística descritiva e expressas em média ± desvio padrão, respectivamente. O teste de Shapiro-Wilk foi utilizado para testar a normalidade dos dados. A ANOVA one way foi utilizada para indicar diferença entre os dados paramétricos e o teste de post hoc de Bonferroni foi utilizado para identificar as diferenças apontadas pela ANOVA. O teste de Kruskal-Wallis foi utilizado para indicar diferença entre os dados não-paramétricos e teste post-hoc de Dunn foi utilizado para confirmar a diferença. O Teste t-Student foi utilizado para verificação de possíveis diferenças estatísticas entre os grupos estudados. Foram considerados significativos, os resultados com o valor de p<0,05.

 

Procedimentos éticos 

 

    Seguindo a resolução e normas éticas de pesquisas em humanos, o presente estudo foi previamente registrado em comitê de ética sob protocolo Nº: CAAE: 15794613.0.0000.5398, e todos os alunos foram orientados quanto ao preenchimento de termo de consentimento para participação do estudo.

 

    Os participantes que aceitaram participar dos estudos, foram orientados quanto ao preenchimento da ficha de avaliação do nível de atividade física (IPAQ); posteriormente os participantes seguiam um protocolo de avaliações previamente padronizados, iniciando com aferição de pressão arterial (PA), Peso, Estatura e Circunferência de Abdominal. Ademais, os testes relacionados às capacidades funcionais, eram realizadas seguindo a ordem: Teste de Sentar e Alcançar e Teste de Preensão manual.

 

Resultados 

 

    A Tabela 1 apresenta os valores referentes a estatística descritiva dos achados da amostra, levando em consideração o número de participantes por curso.

 

Idade (anos) 36 ± 18		H = 34 ± 15	M = 24 ± 18
Curso	N	Masculino	Feminino
EF	35	20	15
ADM	20	9	11
PDG	18	1	16

EF: Educação Física. ADM: Administração. PDG: Pedagogia. 

Valores expressos em média ± desvio padrão, respectivamente.

 

    A idade, apesar da média de valores apresentada na Tabela 1, deve ser observada, visto que o maior público se encontrava entre 18 e 25 anos (n=38). Este dado é de importância, uma vez o avançar da idade pode resultar em maiores comprometimentos das capacidades físicas. As médias de idade apontam ainda que, neste estudo, as mulheres apresentaram idades menores quando comparadas com os homens.

 

    Outro dado de importância observado é o número de alunos participantes por curso, pois neste estudo não foi possível sistematizar o número de participantes da amostra para que houvesse uma normatização, entretanto por se tratar de um estudo transversal, o resultado tem como prever com uma amostragem homogênea.

 

    Na Tabela 2 é possível observar os resultados das variáveis durante o estudo, apresentados em média ± desvio padrão, bem como com os valores relativos para significância das diferenças (p<0,05).

 

    O IMC foi a variável que mais apresentou diferenças entre os grupos estudados, em que o menor valor pôde ser observado no grupo EF em relação à ADM (p<0,05) e EF em relação à PDG (p<0,05). Esses valores indicam melhor condição de eutrofia para o grupo EF, enquanto os demais apresentaram resultados de sobrepeso.

 

    A CA não demonstrou diferenças significativas entre os cursos, contudo, os valores de média devem ser levados em consideração, uma vez que o menor valor é encontrado no curso de EF (80,18 ± 7,17), e o maior no curso de ADM (89,33 ± 16,33). Esses valores, por sua vez, indicam uma classificação de normalização para o grupo EF e sugere que o grupo ADM possui um risco aumentado para o surgimento de doenças cardiovasculares. Entretanto, dentro destes achados, foi observada ainda diferença significante na CA (p<0,05) entre o público masculino e feminino do curso de ADM, em que a média do grupo masculino foi classificada como risco alto e o feminino como risco médio.

 

    O TFP demonstrou força superior significativa entre o grupo EF masculino e feminino (58,26 ± 5,88; 23,62 ± 5,54; p<0,05, respectivamente), mas não foram encontrados resultados com significância estatística para esta variável.

 

    Para TSA não foi observado diferenças significantes entre os grupos, embora os valores médios para o grupo educação física foram ligeiramente superiores (30,89 ± 8,04) quando comparada com o grupo ADM e PDG (27,26 ± 10,65 e 26,13 ± 7,42, respectivamente). Esses resultados apontam que o grupo EF seria classificado como dentro da média de idade (normativo de 28 a 32 cm de deslocamento), enquanto os grupos ADM e PDG, estariam classificados com resultados abaixo da média segundo classificação por idade (23 a 27 cm de deslocamento). (Pollock et al., 1998)

 

    Não foram observadas diferenças significativas entre os sexos e os cursos para os resultados de PAS e PAD. Sugere-se que tanto para o curso quanto para sexo os valores de PAS e PAD dos participantes demonstravam bons valores hemodinâmicos.

 

	Cursos
	EF			ADM			PDG
Variável	Todos	Masc	Fem	Todos	Masc	Fem	Todos	Masc	Fem
Estatura (cm)	171 ± 6,54**	178 ± 7,5	162,72 ± 4,79	161,84 ± 21,60	176,5 ± 4,78	166,01 ± 3,26	164,86 ± 6,54	158,28 ± 48,52	163,64 ± 7
Peso (kg)	72,84 ± 11,79	78,67 ± 7,5	62,2 ± 9,19	79,94 ± 16,43	80,3 ± 21,36	77,83 ± 15,46 *	72,1 ± 14,4	71,61 ± 22,81	70,71 ± 17,95
IMC (kg/m²)	24,65 ± 2,76 **	24,69 ± 2,32	23,33 ± 2,56	26,75 ± 4,97	25,99 ± 6,83	28,23 ± 5,47	26,28 ± 4,5	26,66 ± 4,12	26,22 ± 5,77
CA (cm)	80,18 ± 7,17	82,4 ± 6,95	76,5 ± 6,17	89,33 ± 16,33	100,8 ± 11,84*	83,6 ± 16,24	84,6 ± 11,94	91,2 ± 6,18	83,57 ± 11,94
TSA (cm)	30,89 ± 8,04	33,98 ± 8,20	29,1 ± 7,65	27,26 ± 10,65	31,5 ± 6,64	18,8 ± 12,79	26,13 ± 7,42	19,5 ± 6,57	27,07 ± 9,09
TFP (kgf/kg)	33,98 ± 16,32	58,26 ± 5,88*	23,62 ± 5,54	33,57 ± 13,63	46,67 ± 4,16	23,75 ± 7,67	30,14 ± 6,44	35,5 ± 5,25	24,75 ± 3,37
PAS (mmHg)	115,41 ± 7,36	116,02 ± 6,67	114,44 ± 9,39	118 ± 9,51	115,4 ± 6,4	115,4 ± 11,24	114,5 ± 7,1	113,2 ± 5,8	112,8 ± 7,2
PAD (mmHg)	75,41 ± 5,79	75,3 ± 6,31	75,5 ± 4,93	78 ± 4,58	78,2 ± 3,2	78,2 ± 5,28	79,47 ± 2,02	80,12 ± 1,24	78,57 ± 2,48

EF: Educação Física. ADM: Administração. PDG: Pedagogia. IMC: Índice de massa corporal. CA: Circunferência Abdominal. TSA: Teste de sentar e alcançar. TFP: Teste de força e preensão manual. PAS: Pressão arterial sistólica. PAD: Pressão arterial diastólica. Fem: Alunos do sexo feminino. Masc: Alunos do sexo masculino. Valores expressos em média ± desvio padrão. *Diferença significativa entre os sexos (p< 0,05). **Diferença significativa entre os cursos (p< 0,05).

 

    A Tabela 3 apresenta os resultados do nível de atividade física obtidos a partir da aplicação do IPAQ. Os dados demonstram a quantidade de indivíduos pertencentes a cada uma das classificações através de um score.

 

Curso	Classificação IPAQ	Todos	Masc	Fem
EF	Inativo/Baixa Atividade	6	2	4
	Moderadamente Ativo	12	8	4
	Muito Ativo	17*	10	7
ADM	Inativo/Baixa Atividade	12*	6	6
	Moderadamente Ativo	6	2	4
	Muito Ativo	2	1	1
PDG	Inativo/Baixa Atividade	7	0	7*
	Moderadamente Ativo	9	1	8*
	Muito Ativo	2	1	1

EF: Educação Física. ADM: Administração. PDG: Pedagogia. Fem: Alunos do sexo feminino. Masc: Alunos do sexo masculino. Valores expressos em média ± desvio padrão. *Diferença significativa entre os sexos (p< 0,05).

 

    Os resultados indicam que o grupo EF foi o que demonstrou maior quantidade de pessoas alocadas na característica de muito ativo (48,8%), enquanto o grupo PDG apresentaram proporcionalmente os maiores resultados para o grupo moderadamente ativo (50%), deste modo, o grupo ADM foi o que apresentou proporcionalmente o maior número de indivíduo inativo ou com baixo nível de atividade (60%). Assim pode-se assumir que percentualmente o grupo com maior número de ativos é o grupo EF.

 

    Os resultados ainda sugerem diferença significativa entre os grupos EF em relação à ADM e PDG sobre o percentual de indivíduos muito ativos (p<0,05). Do mesmo modo, o grupo ADM apresentou diferença significante entre o percentual de indivíduos classificados como baixa atividade em relação ao grupo EF (p<0,05). Foi observado ainda que o grupo PDG apresentou diferença significativa entre o grupo feminino e masculino para os indivíduos moderadamente ativos.

 

Discussão 

 

    No presente estudo, apesar de não haver diferenças estatísticas nos valores de peso entre os grupos, o IMC teve seu menor valor em EF quando comparado à ADM e PDG. Este resultado sugere melhor condição de eutrofia para o grupo EF (24,65 ± 2,76) (valor maior ou igual a 18,5 e menor que 25,0) (World Health Organization, 2018) pois os demais grupos apresentaram índices de sobrepeso em suas amostras. Além do peso e IMC, a média de CA foi menor em EF (80,18 ± 7,17) e maior em ADM (89,33 ± 16,33). Ainda, no curso de ADM, o público masculino foi classificado como risco alto, enquanto o feminino como risco médio para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, já que, tanto o IMC, como a CA, são importantes marcadores de risco cardiovascular (World Health Organization, 2018). Pode-se dizer que houve classificação adequada para EF (valores que não ultrapassassem 102 cm nos homens e 88 cm nas mulheres) (World Health Organization, 2018) enquanto os demais grupos, principalmente ADM teve risco aumentado.

 

    Neste sentido, um estudo realizado no Centro Universitário La Salle de Canoas/RS avaliou o perfil antropométrico de universitários pertencentes aos cursos da saúde e demonstrou que grande parte da amostra obteve bons valores antropométricos, bem como IMC considerado eutrófico (Gasparetto, e da Costa, 2012), exatamente como nos dados obtidos pelo grupo EF. Esses resultados sugerem que, por serem alunos dos cursos da área de saúde, há maior conhecimento a respeito de hábitos de vida saudáveis, e consequentemente, melhor perfil antropométrico e graus mais adequados de IMC. (Gasparetto, e da Costa, 2012)

 

    Os estudantes do curso EF também apresentaram força superior significativa em TFP, tanto para o público masculino, como feminino (58,26 ± 5,88, 23,62 ± 5,54, respectivamente), indicando maior força total do corpo nessa população. Por fim, em TSA, apesar de não ter sido observado diferenças significativas entre os grupos, os valores médios de EF foram ligeiramente superiores (30,89 ± 8,04) quando comparados à ADM e PDG (27,26 ± 10,65 e 26,13 ± 7,42, respectivamente). Estes resultados classificam o grupo EF como dentro da média de idade (normativo de 28 a 32 cm de deslocamento), enquanto ADM e PDG estariam classificados como resultados abaixo dessa média (23 a 27 cm de deslocamento).

 

    Valores ideais de TFP e TSA em EF indicam melhor capacidade funcional nesses indivíduos quando comparados à ADM e PDG. A capacidade funcional é a habilidade no desempenho das atividades da vida diária e está relacionada à independência funcional (Ricci et al., 2005; Tomás et al., 2018). Esta variável pode diagnosticar precocemente problemas de saúde e de condições de vida (Ricci et al., 2005; Tomás et al., 2018), sendo um importante marcador para assegurar um envelhecimento mais ativo e saudável, pois, apesar de a amostra do presente estudo estar concentrada em jovens e adultos, os estilos de vida atuais podem influenciar diretamente na qualidade de vida futura.

 

    Um estudo com jovens universitários do curso de EF identificou que apenas 16,6% dos indivíduos apresentam baixos níveis de capacidade funcional (Corseuil, e Petroski, 2010). Apesar de não ser um valor alto, ainda é uma porcentagem preocupante por se tratar de jovens introduzidos em um curso de EF (Corseuil, e Petroski, 2010). Entretanto, mesmo sendo um valor ideal comparado aos outros cursos da universidade, a literatura também apresenta que os hábitos sedentários estão cada vez mais prevalentes entre adultos jovens, além de que a participação em atividades físicas declina com o aumento da idade, principalmente da adolescência para a fase adulta. (da Silva et al., 2018; Hallal et al., 2014)

 

    Em relação ao nível de atividade física, o grupo EF teve a maior quantidade de pessoas consideradas como muito ativas (48,8%), enquanto o grupo PDG teve a maior parte da sua amostra considerada como moderadamente ativa (50%) e ADM como inativa ou com baixo nível de atividade física (60%). Esses resultados sugerem que, no presente estudo, os indivíduos de EF são considerados mais ativos, o que consequentemente interfere diretamente nos outros dados supracitados, os quais demonstram que EF tem melhores valores de IMC e CA, bem como, melhor capacidade funcional em relação à ADM e PDG, muito provavelmente pelo fato de serem mais ativos e saudáveis, o que vai ao encontro de um estudo realizado na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) com 280 estudantes das áreas de saúde e biológicas, como EF, Farmácia e Bioquímica, Odontologia e Ciências Biológicas, no qual demonstrou que os alunos de EF possuem níveis de atividade física mais elevados (da Silva et al., 2007). Além de que, também foi constatado que as mulheres apresentam um comportamento menos ativo comparadas aos homens, e os estudantes do período noturno também tem baixos níveis de atividade física comparados aos de outros períodos. (Bianchini de Quadros et al., 2009; da Silva et al., 2007)

 

    Uma revisão de literatura demonstrou que os discentes do curso de EF são mais ativos fisicamente e/ou se mantém mais ativos durante a graduação quando comparados aos discentes de outros cursos (de Souza Oliveira et al., 2014). Isso pode ser explicado devido as exigências do curso como, aulas práticas, perfil dos alunos e/ou nível de conhecimento sobre os benefícios da prática de atividade física para a saúde (de Souza Oliveira et al., 2014). O baixo nível de atividade física entre os universitários pode estar relacionado a fatores como, sexo, idade, características econômicas e hábitos de vida (de Souza Oliveira et al., 2017; da Silva et al., 2007; Sousa et al., 2015). Os valores elevados de sedentarismo são mais frequentes em estudantes com mais tempo de graduação, quando comparados aos recém-chegados, indicando uma tendência de redução da atividade física com o passar dos anos (de Souza Oliveira et al., 2017; da Silva et al., 2007; Sousa et al., 2015). Em contrapartida, a maturidade e a adaptação ao novo estilo de vida também podem contribuir positivamente para mudanças desses comportamentos (Lima et al., 2017). Os fatores mais citados para o aumento do sedentarismo são a falta de tempo, falta de interesse, falta de oportunidade, falta de dinheiro, falta de local adequado e problemas de saúde. (Esteves et al., 2017; Mielke et al., 2010)

 

    Os universitários deste estudo, independentemente dos cursos, tiveram bons valores de pressão arterial, sem maiores riscos de desenvolvimento de hipertensão e doenças cardiovasculares associadas. Apesar disso, um mau comportamento e estilo de vida na fase adulta, poderá resultar em consequências mais drásticas no envelhecimento (Ciolac et al., 2014). O sedentarismo, a má alimentação, o elevado nível de estresse e ansiedade, e o consumo de álcool e outras drogas têm sido os principais comportamentos que distanciam o indivíduo de um estilo de vida ativo e saudável e com melhor qualidade de vida (Lima et al., 2017). Mesmo que em muitos casos as consequências apareçam só depois de um tempo, a literatura já demonstra valores aumentados de pressão arterial em jovens e adultos universitários. (Sousa et al., 2015)

 

    Neste sentido, Oliveira et al. (2017) desenvolveram um estudo buscando compreender os fenômenos que levariam os estudantes a serem suficientemente ou insuficientemente ativos ao longo dos anos de graduação. Os resultados mostraram que há uma tendência de se reduzir o nível de atividade física nos primeiros anos do ensino superior. Contudo, os achados apontam a associação positiva entre os conhecimentos sobre a importância do exercício físico com o nível de atividade física, deste modo evidenciando a importância da criação de estratégias para o combate ao sedentarismo em universitários. (de Souza Oliveira et al., 2017)

 

    O estudo em questão demonstra a falta de intervenções e a necessidade urgente de indicar ações para a melhora da saúde de estudantes universitários em suas instituições, e não somente nos cursos de saúde, mas também, em um contexto geral, pois muitos deles não sabem como e nem por onde começar a ter um estilo de vida mais saudável e ativo. Os próprios cursos de EF das faculdades e universidades podem criar ações com o objetivo de conscientizar os estudantes como um todo, bem como, criar estratégias para melhorar a qualidade de vida em seus locais de estudos, através de mediações, como palestras, grupos de atividade física e parcerias com os cursos de nutrição e psicologia, pensando também na melhor alimentação e saúde psicológica. Além disso, mais pesquisas como esta devem ser realizadas para que os universitários tenham ciência de seus comportamentos e estilos de vida, assim como, para que haja políticas públicas que invistam em projetos que melhorem a saúde e qualidade de vida de jovens e adultos universitários de todo o país.

 

Conclusão 

 

    Sabe-se que durante certos períodos da vida o processo de manutenção da qualidade de vida, torna-se um difícil processo frente às demandas do dia a dia, o presente estudo por sua vez possibilitou uma visão crítica acerca deste conceito ante o âmbito do ensino superior. Os resultados obtidos nesta pesquisa permitiram inferir, que em geral os níveis de atividade física não se demonstraram satisfatórios, bem como as capacidades físicas inferidas no contexto.

 

    Entretanto os dados sugerem que a escolha da área de estudo pode estar ligada com hábitos de vida, uma vez que o grupo de estudantes de EF apresentaram níveis de atividade física superiores aos demais, indicando um estilo de vida mais ativo. Deste modo apesar dos achados, verificou-se que existe uma grande diferença entre os níveis de atividade física e capacidade funcional, nos estudantes avaliados, sugerindo que o perfil e estilo de vida pode influenciar na escolha da área de atuação.

 

    De todo modo, os achados demonstram a necessidade de novos estudos prospectivos referentes a possíveis associações entre as variáveis de capacidade funcional, adoção de modelos de testes mais apropriados para a faixa etária, e, nível de atividade física em estudantes de ensino superior. Além disso, sugere-se que as universidades e faculdades devem incluir em sua agenda, momentos de discussão sobre uma melhor qualidade de vida, ou mesmo promover eventos de cunho físico e esportivo, que busquem incentivar a prática de atividades físicas.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 282, Nov. (2021)