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ISSN 1514-3465

 

Conhecimento de profissionais de Educação Física acerca

dos métodos de ensino utilizados na natação infantil

Physical Education Professionals’ Knowledge about Teaching Methods Used in Infant Swimming

Conocimiento de los profesionales de la Educación Física sobre 

los métodos de enseñanza utilizados en natación infantil

 

Paulo Ricardo de Oliveira*

paulo.ef@outlook.com

Silvia Ribeiro Santos Araújo**

silviaeheitor@gmail.com

Natália Scalabrini Taurinho***

natyesportes@gmail.com

Lucas Felipe Miyasato+

lucasmiyasato@gmail.com

Fabíola Bertú Medeiros++

fabiola.bertu@univasf.edu.br

 

*Formado em Educação Física

pela Universidade Federal de Minas Gerais

Trabalha atualmente com natação e treinamento físico

**Possui graduação em Educação Física

pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Mestrado em Treinamento Esportivo pela UFMG

Doutorado em Ciências do Esporte pela UFMG

Professora da UFMG

***Possui graduação em Educação Física (Licenciatura e Bacharelado)

pela Universidade Federal de Minas Gerais

Possui MBA em Administração e gestão de marketing esportivo

pela Faculdade de São Vicente (FSV)

Mestranda em Ciências do Esporte com ênfase em Biomecânica

no Programa de Pós Graduação de Ciência do Esporte (EEFFTO/UFMG)

+Bacharel e Mestrando em Educação Física

pela Universidade Federal do Vale do São Francisco

++Possui graduação em Educação Física (Licenciatura e Bacharelado)

pela Universidade Federal de Minas Gerais

Possui Doutorado e Mestrado em Ciências do Esporte

no Programa de Pós Graduação de Ciência do Esporte (EEFFTO/UFMG)

Membro da Sociedade Brasileira de Biomecânica

Atualmente é Professora Adjunto A da UNIVASF

no Colegiado de Educação Física e vice coordenadora

do Grupo de Pesquisa Prática Baseada em Evidências da UNIVASF

(Brasil)

 

Recepção: 15/09/2020 - Aceitação: 12/11/2022

1ª Revisão: 31/10/2022 - 2ª Revisão: 07/11/2022

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Oliveira, P.R. de, Araújo, S.R.S., Taurinho, N.S., Miyasato, L.F., e Medeiros, F.B. (2022). Conhecimento de profissionais de Educação Física acerca dos métodos de ensino utilizados na natação infantil. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(295), 36-52. https://doi.org/10.46642/efd.v27i295.2589

 

Resumo

    Introdução: A natação é uma atividade que contribui no crescimento e desenvolvimento da criança. Apesar dessa importante contribuição, é possível identificar uma grande evasão de alunos em decorrência da insatisfação com a pedagogia de ensino aplicada pelos professores. Esse problema com a pedagogia de ensino pode ser resultado da falta de conhecimento dos profissionais sobre como fazer uso do conhecimento disponível para orientar sua prática ou pela falta dele na literatura específica da natação. Desta forma, o objetivo desse trabalho foi avaliar o conhecimento de profissionais de Educação Física que atuam no ensino da natação infantil sobre os métodos de ensino mais utilizados na natação: global, analítico e misto. Métodos: Participaram do estudo 41 profissionais de Educação Física envolvidos na modalidade, que responderam a um questionário que continha questões fechadas e abertas, sobre formação, logística e conhecimento teórico. Para a análise dos dados foi realizada uma estatística descritiva exploratória. Resultados: Os principais resultados apontam que 60,9% dos voluntários cometem erros ao definir os métodos, a maioria define de maneira correta o método analítico (78,1%) e que a maioria dos professores relata utilizar um conjunto de métodos para ministrar suas aulas (63,4%). Os motivos para essa falta de conhecimento específico sobre os métodos de ensino podem estar relacionados à falta de pesquisas na área e às deficiências curriculares. Conclusão: O estudo conclui que o conhecimento dos professores de natação infantil é insuficiente e que por esse motivo orientam a prática a partir sua bagagem profissional e experiências pessoais.

    Unitermos: Pedagogia. Aprendizagem. Natação.

 

Abstract

    Introduction: Swimming is an activity that contributes to children´s growth and development. Despite this important contribution, it is possible to identify a large dropout of students due to dissatisfaction with teaching pedagogy applied by teachers. This problem with teaching pedagogy may be the result of professionals’ lack of knowledge on how to make use of available knowledge to guide their practice or the lack of it in the specific swimming literature. Thus, the aim of this study was to evaluate the knowledge of physical education professionals who work in teaching children’s swimming about the most used teaching methods in swimming: global, analytical and mixed. Methods: 41 Physical Education professionals involved in the modality participated in the study, who answered a questionnaire containing closed and open questions about training, logistics and theoretical knowledge. The study was conducted through a questionnaire, with voluntary participation of Physical Education professionals. For data analysis, exploratory descriptive statistics were performed. Results: The mains results show that 60,9% of the professionals make mistakes when defining the teaching methods, most define the analytical method correctly (78.1%), and most teachers report using a set of methods to teach their classes (63.4%). The reasons for this lack of specific knowledge about teaching methods may be related to the lack of research in the area and curricular shortcomings. Conclusion: As a conclusion, the knowledge of swimming professionals is insufficient and that, for this reason, they guide their practice based on their professional background and personal experiences.

    Keywords: Pedagogy. Learning. Swimming.

 

Resumen

    Introducción: La natación es una actividad que contribuye al crecimiento y desarrollo de niñas y niños. A pesar de este importante aporte, se puede identificar gran deserción de los estudiantes como consecuencia de insatisfacción con la pedagogía aplicada por los docentes. Este problema puede ser el resultado de la falta de conocimiento de los profesionales sobre cómo hacer uso del conocimiento disponible para guiar su práctica o la falta de este en la literatura específica de natación. Así, el objetivo de este trabajo fue evaluar el conocimiento de los profesionales de la Educación Física que intervienen en la enseñanza de la natación infantil sobre los métodos de enseñanza más utilizados en la natación: global, analítico y mixto. Métodos: Participaron del estudio 41 profesionales de Educación Física involucrados en el deporte, quienes respondieron un cuestionario con preguntas cerradas y abiertas sobre entrenamiento, logística y conocimientos teóricos. Para el análisis de datos, se realizó estadística descriptiva exploratoria. Resultados: Los principales resultados indican que 60,9% de los voluntarios cometen errores definiendo los métodos, la mayoría define correctamente el método analítico (78,1%) y la mayoría de los docentes refieren utilizar un conjunto de métodos para impartir sus clases (63,4%). Las razones de la falta de conocimiento específico sobre métodos de enseñanza pueden estar relacionadas con la falta de investigación en el área y las deficiencias curriculares. Conclusión: El estudio concluye que el conocimiento de los profesores de natación infantil es insuficiente y, por ello, orientan la práctica desde su trayectoria profesional y experiencias personales.

    Palabras clave: Pedagogía. Aprendizaje. Natación.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 295, Dic. (2022)


 

Introdução 

 

    O nadar pode ser conceituado como um conjunto de habilidades motoras utilizadas no deslocamento aquático (Fernandes, e Lobo da Costa, 2006; Ristow et al., 2019; Ristow et al., 2022). A combinação dessas habilidades motoras (respiração, flutuação e propulsão) possibilita ao aluno vivenciar experiências no meio líquido de forma livre, segura e prazerosa, dando a oportunidade de entender a água como um espaço para emoções, aprendizados e relacionamentos (Fernandes, e Lobo da Costa, 2006). Para Velasco (1994), a natação é uma das atividades esportivas que mais contribui para o crescimento e desenvolvimento integral de crianças (Terán Diaz, 2021), proporcionando prazer e bem-estar dentro de experiências boas e não frustrantes, além de também trazer benefícios educacionais quando utilizados no ambiente escolar (Albarracín, e Moreno-Murcia, 2018).No Brasil, entretanto, a natação vem sendo comumente utilizada como desporto de iniciação na infância e tem conquistado um espaço expressivo dentre as várias escolinhas de esportes no mercado comercial. (Leite et al., 2002; Caetano, e Gonzalez, 2013; Ristow et al., 2022)

 

    Apesar dos benefícios que pode proporcionar e do destaque no mercado comercial, existem evidências na literatura que mostram um significativo abandono da prática da natação. Moisés (2006) fez um levantamento dos principais fatores que levam à procura da modalidade e os principais motivos para o abandono. Como motivos para a adesão estão: desenvolvimento da criança, condição de vida saudável, segurança (evitar afogamentos) e prevenção de doenças respiratórias (Caetano, e Gonzalez, 2013; Ristow et al., 2019). Já as causas mais frequentes de evasão estão relacionadas ao clima frio, ao alto custo e à insatisfação com a organização e metodologia das aulas. Dentre as causas apontadas por Moisés (2006) para a não continuidade na natação, o presente estudo problematizará a insatisfação com a organização e metodologia das aulas.

 

    Esta insatisfação parece estar relacionada à sistematização do ensino em sequências pedagógicas, caracterizadas como rotinas de conteúdos selecionados e organizados em atividades que tem por fim o aprendizado técnico da natação (Fernandes, e Lobo da Costa, 2006; Caetano, e Gonzalez, 2013; Zaar, 2015; Ceconello, e Magri, 2019). Dessa forma, a proposta do professor seria focada somente nos resultados, ignorando diferentes aspectos que deveriam ser considerados, como por exemplo, a faixa etária do aluno, o que pode tornar a aula monótona para quem pratica e desinteressante para quem ensina (Fernandes, e Lobo da Costa, 2006; Zaar, 2015; Ceconello, e Magri, 2019; Rojas, 2019; Ristow et al., 2022). Neste contexto, espera-se que o professor tenha um conjunto de conhecimentos e habilidades para ensinar levando em consideração o conceito do nadar (Godoy, e Campos, 2022). Assim, ele deveria ter conhecimento técnico fundamentado, saber aplicar a teoria e, principalmente, ter condições de didaticamente, passar esse conhecimento a todos aqueles que desejam aprender, ou seja, espera-se a competência técnica do ensinar (Leite et al.,2002; Bibbó, e Silva, 2016; Godoy, e Campos, 2022). Isso porque a aplicação desse conteúdo de maneira inadequada, além de trazer a monotonia para o aluno, pode não desenvolver de maneira suficiente as habilidades motoras aquáticas básicas. (Quishpe-Veloz, e Torres-Palchisaca, 2021)

 

    Considerando a importância do papel do professor nas aulas de natação, a pedagogia específica para essa modalidade deveria elaborar um conjunto de pressupostos teóricos que orientasse os professores para uma adequada metodologia de ensino (Fernandes, e Lobo da Costa, 2006; Caetano, e Gonzalez, 2013; Godoy, e Campos, 2022). Neira (2003) afirma que não é possível ensinar sem ter uma ideia de como a aprendizagem é produzida. Assim, por mais que a falta de bases teóricas consistentes tenha levado professores a adotar métodos próprios, sempre há um método ou uma concepção pedagógica por trás do processo de ensino. (Fernandes, e Lobo da Costa, 2006; Bibbó, e Silva, 2016; Terán Diaz, 2021)

 

    Fernandes, e Lobo Da Costa (2006) afirmam que ainda existe certa dificuldade em se aplicar o conhecimento que existe a respeito dos métodos de ensino. Esta dificuldade talvez resida no desconhecimento por parte dos professores sobre como fazer uso do conjunto das diversas áreas de conhecimento para lhes orientar na prática ou até mesmo por deficiências no currículo do curso de formação do profissional de Educação Física (Cajamarca, e Arcos, 2021; Bocanegra et al., 2021). Sendo assim avaliar o conhecimento desses profissionais se faz necessário na busca das causas que atrapalham a aplicação do conhecimento e que tem como consequência a evasão de alunos da prática da natação. Essa busca auxiliaria em mostrar a necessidade de estudos que apresentem métodos específicos para a natação e na necessidade de maior atenção sobre a temática nos currículos de formação de futuros profissionais da área. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o conhecimento de profissionais de Educação Física que atuam no ensino da natação infantil sobre os métodos de ensino mais utilizados na natação: global, analítico e misto. Com a hipótese que os profissionais que atuam na natação infantil possuem conhecimento teórico limitado sobre os métodos de ensino e os aplicam de forma aleatória, em função da falta de bases teóricas consistentes.

 

Revisão de literatura 

 

    Na natação, grande parte dos métodos de ensino utilizados são baseados em concepções pedagógicas trazidas por Catteau, e Garoff (1990). Esses autores definem três concepções que baseiam o ensino da natação, a global, a analítica e a moderna.

    

    A concepção global é caracterizada pela intervenção ausente ou muito discreta do professor e por esse motivo é questionável a classificação como corrente pedagógica. Este absentismo é motivado pelas seguintes características do professor: ausência efetiva, incompetência técnica, incapacidade de resolver problemas, recusa de intervenção e crença no princípio de que o aluno aprende por si só. Consideram-se aspectos positivos desta corrente: a atitude ativa do aluno, modalidades de nado adaptadas às necessidades e às circunstâncias e aquisição por tentativa e erro. Já os aspectos negativos são: ausência de método, lentidão da aprendizagem, não simplificação do gesto motor, anarquia e ausência do professor. (Catteau, e Garoff, 1990)

 

    A concepção analítica representa uma tentativa de racionalização da aprendizagem. Destaca-se por ter sido um empreendimento pedagógico que obteve um sucesso excepcional, chegando a representar o ponto de vista oficial para o ensino da natação. De maneira geral defende o fracionamento dos movimentos, realizando-os de maneira progressiva, através de educativos e em um número considerável de repetições para garantir o aprendizado. Os aspectos positivos são: tentativa de sistematização metodológica, o esforço para dividir as dificuldades e abordá-las sucessivamente, a introdução do exercício como meio de aprendizagem e a progressão na dificuldade. Os aspectos negativos são: análise subjetiva e incompleta do problema, atitude passiva do aluno, decomposição arbitrária dos movimentos, redução da natação a movimentos e mecanização. (Catteau, e Garoff, 1990)

 

    A concepção moderna representa a concepção pedagógica mais recente e mais racional. Para os autores, esta concepção vai além do que uma simples junção das concepções global e analítica, aproveitando suas características positivas e eliminando as negativas. De forma geral, visa à satisfação das necessidades ilimitadas dos alunos e o domínio do comportamento aquático, não apenas através do ensino dos quatro nados, mas através da estruturação da matéria a ser ensinada em equilíbrio, respiração e propulsão sejam estes da forma que o indivíduo bem entende. Como aspectos positivos pode-se citar o abandono do uso da técnica descritiva, a consideração do meio e do indivíduo no processo de ensino e a recusa à mecanização. Como aspecto negativo principal os autores citam a dificuldade de organização para torná-la eficaz. (Catteau, e Garoff, 1990)

 

    Apesar de servirem como base, essas concepções não podem ser consideradas métodos de ensino. Isso porquê os métodos auxiliam o professor no planejamento seguro das etapas do processo de ensino-aprendizagem-treinamento (EAT), possibilitando resultados mais positivos tanto para ele quanto para seu aluno (Bibbó, e Silva, 2016; Godoy, e Campos, 2022; Paez, e Hurtado Almonacid, 2021). Segundo Libâneo (2005) o método de ensino é um conjunto de ações que orientam as escolhas do profissional de educação física incentivando o processo de EAT dos alunos. Apesar da diversidade de métodos empregados no ensino da natação quando analisados a fundo, quase todos apresentam características que de alguma forma os enquadram dentro do método tradicional que podem ser encontrados como:método global, método analítico e o método misto. (Catteau, e Garoff, 1990; Greco, e Benda, 1998; Saad, 2002; Bibbó, e Silva, 2016; Godoy, e Campos, 2022; Ristow et al., 2022)

 

    No método global a aprendizagem ocorreria através da realização do nado como um todo (Garganta, 1995), no método analítico os movimentos são divididos em partes e o aluno realiza muitas repetições dessas partes até atingir um aprimoramento técnico do movimento (Garganta, 1995). E por fim, o método misto consiste na combinação dos pontos fortes dos métodos anteriores, em que o professor ensinaria partes do movimento para depois realizar o todo (simples-complexo; parte-todo-parte; ou todo-parte-todo) (Quina, 2009; Barbosa, 2015). A utilização desses métodos de ensino mais tradicionais pode estar relacionada ao fato que durante muito tempo a natação foi ensinada por treinadores e ex-atletas (Lima, 1999; Caetano, e Gonzalez, 2013). Predominando assim, um estilo de ensino que focava apenas na aprendizagem técnica e mecânica dos movimentos da natação.

 

Materiais e métodos 

 

Amostra 

 

    Participaram do presente estudo 41 profissionais da Educação Física (provisionados, bacharéis e/ou licenciados) que ministram ou ministraram aulas de natação infantil em ambientes diversos (clubes, academias, escolas, outros). Foram excluídos do estudo estagiários e voluntários que não completaram o questionário até o fim.

 

    Todos os voluntários foram informados a respeito dos objetivos do estudo e por meio da primeira pergunta do questionário deram o consentimento de participação. Caso eles não estivessem de acordo com a participação voluntária, o questionário era automaticamente encerrado, preservando assim a vontade do entrevistado. Foi garantida a preservação da identidade e o anonimato na divulgação dos dados aos profissionais de Educação Física participantes do presente estudo. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética local.

 

Procedimentos e instrumento 

 

    A pesquisa foi divulgada em redes sociais online e em diferentes academias de natação. Após essa divulgação, o questionário foi disponibilizado via link nessas redes ou via correio eletrônico para aqueles que passaram seu contato para o pesquisador. O local (cidade, estado) que o voluntário reside não foi controlado. Ao clicar no link disponível, os profissionais eram direcionados ao questionário, e para continuar o preenchimento, era necessário dar o consentimento em participar, aceitando as condições propostas para a pesquisa.

 

    Os questionários foram distribuídos no período de 03/10/2018 à 30/10/2018 e as respostas foram aceitas até 03/11/2018. Ao final do período para a coleta das respostas, estas foram tabuladas em uma planilha para posterior análise.

 

    Como instrumento de coleta de dados para a pesquisa, utilizou-se um questionário semiestruturado, dirigido aos profissionais, contendo 14 questões, sendo quatro abertas e dez fechadas, elaboradas especificamente para este estudo (Quadro 1). Para elaboração do questionário foi utilizada uma plataforma online (Google Forms, Google®). As perguntas foram formuladas a fim de avaliar: a formação acadêmica e complementar, a experiência profissional, qual método de ensino utilizado nas aulas de natação e o conhecimento específico a respeito dos métodos de ensino mais utilizados na natação.Os conhecimentos específicos que formularam as perguntas tiveram como fonte a obra de Catteau, e Garoff (1990).

 

Quadro 1. Perguntas do questionário acerca do conhecimento 

dos profissionais de Educação Física sobre os métodos de ensino

Questão

1

Anuência para participação no estudo.

2

Qual a sua formação?

3

Em qual meio você trabalha/trabalhou como professor de natação?

4

Qual método de ensino você utiliza para ministrar suas aulas.

4.1

Dê uma explicação sobre o método que você utiliza.

5

Quais características da sua aula fazem com que ele se encaixe no método escolhido?

6

Relacione os métodos com as características que os definem.

7

Você considera que os conhecimentos sobre os métodos de ensino adquiridos na sua formação são:

8

Você possui formação complementar que lhe possibilitou um maior conhecimento a respeito dos métodos de ensino?

8.1

Qual formação é essa?

9

Você considera que a logística (espaço, quantidade e qualidade de materiais, tempo, quantidade e heterogenia dos alunos,...) que lhe é oferecida para dar suas aulas é adequada?

9.1

Por que? Apresente pelo menos uma justificativa.

10

A escolha do método empregado por você se relaciona com o que?

10.1

Justifique sua resposta anterior.

 

Análise estatística 

 

    O presente estudo se caracteriza por ser transversal, descritivo e exploratório.Para a análise estatística foi realizada uma análise descritiva exploratória. Isso foi permitido por meio da análise de distribuição de frequências. O programa Excel (Microsoft®) foi utilizado para tal análise.

 

Resultados 

 

Caracterização dos profissionais 

 

    A Figura 1 caracteriza a formação dos profissionais participantes do estudo, em números absolutos e percentuais. Pode-se perceber que a maior parte dos profissionais possui o título de bacharel em Educação Física (86%).

 

Figura 1. Dados sobre a formação básica dos participantes

Figura 1. Dados sobre a formação básica dos participantes

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Desses indivíduos, 14 (42,4%) atua ou atuou em academias; 13 (39,4%) em clube(s); três (9,09%) em clubes e academias; um (3%) em clube, academia e escola e um (3%) em escola (s). Além da graduação, 68,3% dos participantes relataram possuir formação adicional.

 

Conhecimento dos métodos 

 

    Na pergunta destinada a opinião dos voluntários sobre os conhecimentos dos métodos adquiridos na formação acadêmica, 29 (74,4%) consideram que são insuficientes. Destes, 71,8% consideram necessária formação complementar e 2,6% justificam a insuficiência pelo fato de serem escassos os estudos que envolvem a temática. Dos voluntários que consideraram o conhecimento sobre os métodos adquiridos na formação suficientes (10 voluntários; 25,7%), seis (15,4%) acreditam que não é necessária formação complementar e quatro (10,3%) avaliam como sendo desatualizados e pouco aplicáveis.

 

    A Tabela 1 apresenta o resultado percentual e absoluto de erros e acertos no conhecimento teórico das definições das concepções pedagógicas e os erros e acertos de cada método separadamente.

 

Tabela 1. Dados sobre erros e acertos dos voluntários acerca do conhecimento dos métodos de ensino

 

Erros

Acertos

Absoluto (n)

Percentual (%)

Absoluto (n)

Percentual (%)

Geral

25

60,9%

16

39,1%

Método Global

23

56%

18

44%

Método Analítico

9

21,9%

32

78,1%

Método Misto

22

53,6%

19

46,4%

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Analisando as respostas de conhecimento específico dos indivíduos separadamente, o método analítico é relacionado acertadamente com sua definição por 32 voluntários (78%), obtendo o melhor resultado. Além disso, dentre os três métodos que embasam o presente trabalho (analítico, global e misto), o analítico é o mais utilizado pelos professores (9,8% dos voluntários).

 

Utilização dos métodos 

 

    A Figura 2 apresenta a relação dos métodos utilizados pelos professores participantes da pesquisa.

 

Figura 2. Dados sobre os métodos utilizados pelos avaliados

Figura 2. Dados sobre os métodos utilizados pelos avaliados

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Quando questionados sobre o porquê da escolha do método empregado, 26 voluntários (63,4%) relataram que tem relação com sua bagagem profissional:

    A bagagem compreende todos os aspectos anteriores, locais por onde trabalhei, metodologias que tive contato, tipos de organização, minhas vivências enquanto aluna e professora. (V3)

 

    Na verdade, na prática e com mais experiência, é possível selecionar o que melhor atende sua prática diária de cada metodologia. (V4)

 

    Pela bagagem que tive em minha formação e minhas experiências, concluíram que nem sempre um método vai ser eficiente com todas as turmas e indivíduos, devemos ser flexíveis para respeitar a individualidade de cada aluno. (V7)

 

    Consegui liberdade de traçar meu planejamento (eu montei) e planejar as aulas de acordo com a demanda que eu tinha. O nível dos alunos e o desenvolvimento deles durante a aula era um feedback constante e necessário para ajustar os objetivos e exercícios para alcançar o desenvolvimento estipulado. (V10)

    Além disso, oito (19,5%) disseram que a academia determina a utilização do método, porém nem todos esses profissionais justificaram sua escolha. Cinco (12,2%) escolheram por ser o mais adequado para logística oferecida:

 

    Porque ao mesmo tempo que eu tenho liberdade para dar aula, tenho que seguir alguns métodos. Então o melhor para aquela situação. (V18)

 

    Infelizmente não é possível aplicar todo conhecimento no meu local de trabalho, pela falta de infraestrutura e interesse dos alunos e profissionais envolvidos. (V20)

    E por fim, dois (4,9%) relacionaram a escolha à sua formação acadêmica.

 

    A minha formação acadêmica me levou a escolher os métodos que utilizo. A formação acadêmica justifica a utilização. (V11)

 

    O processo de ensino-aprendizagem da natação permite que seja separado através das partes. (V35)

    Já em relação à adequação da logística oferecida aos profissionais para ministrar suas aulas (espaço, quantidade e qualidade de materiais, tempo, quantidade e heterogenia dos alunos, etc.), 21 professores (51,2%) disseram que ela é adequada, 12 (29,3%) disseram talvez e oito (19,5%) disseram que não.

 

Discussão 

 

    O objetivo deste estudo foi avaliar o conhecimento de profissionais de Educação Física sobre os métodos de ensino utilizados na natação. A hipótese proposta foi que os profissionais que atuam na natação infantil possuem conhecimento teórico limitado sobre essa temática e aplicam de forma aleatória o método de ensino. Os resultados corroboraram a hipótese levantada. A maioria dos profissionais que participaram da pesquisa não souberam relacionar as definições apresentadas aos métodos de ensino (global, analítico e misto) e tiveram dificuldade em explicar os métodos que utilizam na prática. Esse achado indica que o conhecimento acerca dos métodos de ensino de profissionais que trabalham com natação infantil é limitado e pode explicar a afirmativa de Fernandes e Lobo Da Costa (2006) de que há uma dificuldade em se aplicar o conhecimento a respeito dos métodos de ensino utilizados para o processo de EAT da natação pelos profissionais de Educação Física.

 

    A escolha do método de ensino a ser utilizado durante o processo de EAT na natação tem sido destacada na literatura como parte fundamental no sucesso ou no insucesso na aquisição das habilidades motoras aquáticas (Ceconello, e Magri, 2019; Pera, 2021; Quishpe-Veloz, e Torres-Palchisaca, 2021; Godoy Sánchez, e Campos, 2022; Ristow et al., 2022). Já que esses métodos são considerados por esses autores como o caminho a ser utilizado para se atingir ao objetivo final. Portando quando não se tem conhecimento sobre a forma como os conteúdos aquáticos serão passados para os alunos, muitos professores acabam assumindo o papel de autor principal das aulas, ignorando a bagagem de seus alunos e tornando o processo mecânico e pouco atrativo para os mesmos. (Terán Diaz, 2021; Pera, 2021)

 

    Os altos percentuais de erros verificados na relação entre o método e sua definição confirmam a fala dos profissionais acerca dos conhecimentos adquiridos na formação. O conhecimento pedagógico do conteúdo da natação, desde os métodos de ensino até as fases da aprendizagem dos nados culturalmente determinados, pode ser considerado como um conhecimento processual. O “como fazer” permitiria ao professor adaptar suas ações dentro do conhecimento conceitual, facilitando assim o entendimento e desenvolvimento dos alunos durante o processo de EAT (Ramos, Graça, e Nascimento, 2008). O conhecimento desses métodos e até mesmo de outros que também podem ser encontrados na literatura específica, tornam as ações didáticas do profissional mais objetivas e mais próxima das necessidades do aluno, além de também se adequar melhor às diferentes realidades e contextos sociais que se encontram os alunos. (Marcon, Graça, e Nascimento, 2010)

 

    A falta de conhecimento sobre os métodos de ensino da natação pelos professores avaliados pode ser um reflexo da pouca atenção dada para esse tema nos currículos dos cursos de formação dos futuros profissionais de Educação Física (Albarracín, e Moreno-Murcia, 2018; Terán Diaz, 2021; Posso-Pacheco et al., 2020). A partir de um levantamento de ementas de disciplinas de natação de algumas Universidades Federais do Brasil (Uberlândia, Minas Gerais, Goiás, São João Del Rei, Rondônia, Ouro Preto, Vale do São Francisco e Bahia) foi possível perceber que os métodos de ensino na Natação se encontram entre os temas, mas dividindo espaço com outros conteúdos que possuem mais materiais e são normalmente mais discutidos. Este achado corrobora Fernandes, e Lobo da Costa (2006) que pressupõem que a dificuldade dos professores em aplicar os métodos de ensino podia residir na deficiência curricular dos professores (Terán Diaz, 2021; Posso-Pacheco et al., 2020). Ademais, essa deficiência pode justificar o fato da maioria dos voluntários julgarem os conhecimentos acerca dos métodos adquiridos na formação insuficientes.Dos que consideraram o conhecimento suficiente (10 voluntários), seis não relacionaram de forma correta os métodos às definições. Estes indivíduos parecem acreditar que conhecem suficientemente os métodos de ensino, mesmo cometendo erros em sua definição.Sendo assim, o conhecimento adquirido na graduação aparenta ser insuficiente e pode esclarecer o fato de muitos professores buscarem por formação complementar.

 

    A formação adicional, na opinião da maioria dos voluntários (68,3%), garantiu um maior conhecimento acerca dos métodos de ensino. Este resultado é similar ao verificado por Leite et al. (2002), que concluíram que os profissionais buscam por formação complementar em diversos meios. No entanto, mesmo possuindo essa formação, a maioria dos voluntários cometeu erros nas definições dos métodos. Portanto, parece que mesmo com formação complementar os profissionais não conseguem embasamento teórico sobre as concepções e métodos de ensino. Apesar de avaliar a formação complementar, não é possível afirmar se os professores questionados realmente obtiveram um maior conhecimento sobre os métodos de ensino da natação mediante esses cursos. Visto que, no questionário utilizado pelo presente estudo, não foi associada a formação complementar, nem sendo específica em natação e nem com o conhecimento sobre os métodos de ensino da natação.

 

    Porém, é necessário que os profissionais que ministram essas aulas de natação tenham um conhecimento para além dos métodos de ensino para que o processo de EAT seja eficiente. O conhecimento prévio pelos profissionais das características individuais e das reais expectativas do aluno ao buscar a prática desse esporte, possibilita agregar desafios às experiências em cada aula, criando assim, um ambiente de motivação para a aprendizagem (Tani, Basso, e Correa, 2012) que vai muito além do simples conhecimento teórico e técnico da natação. (Ceconello, e Magri, 2019)

 

    Já com relação à escolha prática do método, a maioria dos voluntários diz que utiliza um conjunto de métodos para ministrar suas aulas, sendo que outros optam por métodos no qual o professor é a figura central do processo de EAT, corroborando Godoy Sánchez, e Campos (2022) e Ristow et al. (2022). Somando este resultado ao achado de que o conhecimento dos profissionais acerca dos métodos de ensino é limitado, a hipótese de que os voluntários aplicam os métodos aleatoriamente parece ser comprovada. As explicações de alguns voluntários, nas respostas abertas sobre os métodos utilizados, reforçam a aparência de ter limitações em seus conceitos. As ideias expressas pelo Voluntário 14 (V14), por exemplo, se relacionam a sequências pedagógicas (Caetano, e Gonzalez, 2013) e não aos métodos de ensino:

    Com o iniciante, começo com a adaptação ao meio líquido, flutuação (ventral e dorsal), deslizes (ventral e dorsal), movimentos de braços e pernas, respiração e depois coordenação de movimentos e da respiração. Explico do simples ao complexo e também de forma geral, observo e dou feedback aos alunos e também peço a autoavaliação deles. (V14)

    Outra tendência identificada nas respostas abertas dos indivíduos que dizem utilizar um conjunto de métodos é citar e definir o método analítico acertadamente, como no exemplo do Voluntário 30 (V30).

    Utilizando o analítico e global respeitando as faixas etárias. (...) O método envolve estímulos e repetições de fundamentos aplicados e vivência para "automatizar" em seguida outros estímulos. (V30)

    Aparentemente, mesmo quando os professores dizem utilizar um conjunto de métodos, há um predomínio do método analítico, assim como também identificado por Godoy Sánchez, e Campos (2022) e Ristow et al. (2022). Este resultado vai de encontro à tese de alguns autores de que existe um predomínio no ensino de natureza analítico-progressiva na natação (Fernandes, e Lobo da Costa, 2006; Baggini, 2008; Caetano, e Gonzalez, 2013, Godoy Sánchez, e Campos, 2022; Ristow et al., 2022). Esta característica analítica do ensino se deve ao fato de, segundo Xavier Filho, e Manoel (2002) e Caetano, e Gonzalez (2013), existir uma forte orientação desportiva, restringindo-se ao melhoramento da técnica dos quatro estilos formais (crawl, costas peito e borboleta). Essa forte orientação desportiva da natação pode explicar o fato das pesquisas que envolvem o esporte atualmente envolverem com mais frequência aspectos relacionados ao treinamento. A partir de uma busca em periódicos fica evidente que são raros os estudos que discutem a pedagogia da natação, enquanto temas relacionados à biomecânica e fisiologia são expressivos. Os resultados deste levantamento corroboram Fernandes, e Lobo da Costa (2006) e Clarys (1996), que da mesma maneira identificaram a preferência de autores pelos temas.

 

Conclusão 

 

    É possível concluir que o conhecimento teórico dos professores de natação a respeito dos métodos de ensino de natação é deficiente e que apesar de não avaliar diretamente os motivos, esta limitação parece estar ligada a carência do conteúdo teórico na formação acadêmica e a escassez de pesquisas que tratam do assunto, o que faz com que a maioria desses profissionais utilizem um conjunto de métodos baseados em experiências pessoais e profissionais anteriores. Nesse sentido, se faz necessário conhecer os motivos dessas faltas e ampliar o conhecimento para embasar a prática, revertendo à realidade atual, em que a prática fundamenta o conhecimento.

 

    Este estudo é um primeiro passo no sentido de conhecer os motivos pelos quais existe tamanha evasão de alunos na natação. Sabemos que o conhecimento teórico possui limitações, mas não sabemos como estas limitações influenciam no ensino. Apesar da literatura apontar a insatisfação com os processos de ensino como causa para o abandono da prática da natação, estudos que investigam diretamente esta relação se fazem necessários. Assim, estudos longitudinais que acompanhem por maiores períodos de tempo a ação dos professores, avaliada a cada sessão, e avaliando o nível de satisfação dos alunos durante esse processo e a aprendizagem dos mesmos ao longo do tempo, podem auxiliar na definição da relação anteriormente proposta.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 295, Dic. (2022)