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ISSN 1514-3465

 

Prevalência do absenteísmo-doença em uma instituição de ensino superior

Prevalence of Absenteeism-Disease in a Higher Education Institution

Prevalencia de ausentismo-enfermedad en una institución de educación superior

 

Wellington Danilo Soares*

wdansoa@yahoo.com.br

Ana Paula Soares**

anapaulasoares2017aps@gmail.com

Juliana Leite Bitarães Mota**

julianabitaraes@hotmail.com

Ludmila Cotrim Fagundes+

ludmilacotrimfagundes@gmail.com

Sabrina Gonçalves Silva Pereira++

sabrina.silva@funorte.edu.br

 

*Doutor em Ciências da Saúde

pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)

Docente no curso de Psicologia

das Faculdades Unidas do Norte de Minas (Funorte), Montes Claros, MG

**Acadêmica do curso de Psicologia

na Faculdade de Saúde e Humanidades Ibituruna (FASI), Montes Claros, MG

+Graduada em Medicina pela Unimontes

Oficial Médica de carreira do Exército Brasileiro

++Mestre em Ciências da Saúde

pelo Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde da Unimontes

(Brasil)

 

Recepção: 28/04/2020 - Aceitação: 22/12/2022

1ª Revisão: 27/07/2022 - 2ª Revisão: 19/12/2022

 

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Citação sugerida: Soares, W.D., Soares, A.P., Mota, J.L.B., Fagundes, L.C., e Pereira, S.G.S. (2023). Prevalência do absenteísmo-doença em uma instituição de ensino superior. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(297), 122-134. https://doi.org/10.46642/efd.v27i297.2554

 

Resumo

    Identificar possíveis causas do absenteísmo por adoecimento pode favorecer a gestão de pessoas através de estratégias para minimizar as alterações e prejuízos decorrentes da ausência de profissionais, compreendendo o trabalho como uma das dimensões constituintes da identidade de um indivíduo. O objetivo deste artigo foi analisar os índices de absenteísmo-doença de funcionários em uma instituição privada de ensino superior na cidade de Montes Claros-MG, no período de agosto de 2018 a agosto de 2019. Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem quantitativa e delineamento transversal, composto por uma amostra de 57 colaboradores de ambos os sexos, faixa etária entre 20 e 70 anos, que estiveram ausentes por motivos de saúde dentro do período em questão. Os dados foram obtidos junto ao setor de recursos humanos da instituição, replicados em planilha matricial e posteriormente feitas as tratativas necessárias como categorizações, cálculos de curvas e filtros de análise. Posteriormente, os dados foram convertidos e analisados através de estatística descritiva. Os resultados demonstraram maior prevalência do sexo feminino (68,4%) no absenteísmo-doença, e os colaboradores que ocupam a função técnico-administrativo representaram maior porcentagem de afastamento 50,9%, seguido pelo cargo de professor 42,1%; serviços gerais 5,3% e psicólogos 1,7%. Os aspectos culturais, sociais, psicológicos e biológicos podem indicar relação direta ao absenteísmo-doença e os fatores mais importantes presentes neste estudo são possíveis de serem prevenidos e/ou monitorados com treinamentos e exames periódicos.

    Unitermos: Absenteísmo. Doença. Trabalho. Saúde ocupacional.

 

Abstract

    Identifying possible causes of sickness absenteeism can favor the management of people through strategies to minimize changes and losses resulting from the absence of professionals, understanding work as one of the constituent dimensions of an individual's identity. The objective of this article was to analyze the absenteeism-illness rates of employees in a private higher education institution in the city of Montes Claros-MG, from August 2018 to August 2019. This is a descriptive study, with an approach quantitative and cross-sectional, composed of a sample of 57 employees of both sexes, aged between 20 and 70 years, who were absent for health reasons within the period in question. The data were obtained from the institution's human resources sector, replicated in a matrix spreadsheet and subsequently made the necessary treatments such as categorizations, curve calculations and analysis filters. Subsequently, the data were converted and analyzed using descriptive statistics. The results showed a higher prevalence of females (68.4%) in absenteeism-illness, and the employees who occupy the technical-administrative function represented a higher percentage of absence 50.9%, followed by the position of professor 42.1%; general services 5.3% and psychologists 1.7%. Cultural, social, psychological and biological aspects may indicate a direct relationship to absenteeism-illness and the most important factors present in this study are possible to be prevented and/or monitored with training and periodic examinations.

    Keywords: Absenteeism. Disease. Job. Occupational health.

 

Resumen

    Identificar las posibles causas del ausentismo por enfermedad puede favorecer la gestión de personas a través de estrategias para minimizar los cambios y pérdidas resultantes de la ausencia de los profesionales, entendiendo el trabajo como una de las dimensiones constitutivas de la identidad del individuo. El objetivo de este artículo fue analizar las tasas de ausentismo-enfermedad de los empleados de una institución de educación superior privada en la ciudad de Montes Claros-MG, de agosto de 2018 a agosto de 2019. Se trata de un estudio descriptivo, con enfoque cuantitativo y transversal, compuesta por una muestra de 57 trabajadores de ambos sexos, con edades comprendidas entre 20 y 70 años, que se ausentaron por motivos de salud dentro del período en cuestión. Los datos se obtuvieron del sector de recursos humanos de la institución, se replicaron en una planilla matricial y posteriormente se realizaron los tratamientos necesarios como categorizaciones, cálculos de curvas y filtros de análisis. Posteriormente, los datos fueron convertidos y analizados mediante estadística descriptiva. Los resultados mostraron una mayor prevalencia del sexo femenino (68,4%) en el ausentismo-enfermedad, y los empleados que ocupan la función técnico-administrativa representaron un mayor porcentaje de ausentismo 50,9%, seguido del cargo de profesor 42,1%; servicios generales 5,3% y psicólogos 1,7%. Los aspectos culturales, sociales, psicológicos y biológicos pueden indicar una relación directa con el ausentismo-enfermedad y los factores más importantes presentes en este estudio son posibles de prevenir y/o monitorear con entrenamiento y exámenes periódicos.

    Palabras clave: Ausentismo. Enfermedad. Trabajo. Salud ocupacional.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 297, Feb. (2023)


 

Introdução 

 

    O trabalho pode ser considerado objeto de múltipla atribuição de sentidos e conceitos, sendo o sentido do trabalho em três dimensões: individual, organizacional e social e os conceitos uma dimensão ineliminável da vida humana, isto é, uma dimensão ontológica fundamental, pois, por meio dele, o homem cria, livre e conscientemente, a realidade, bem como o permite dar um salto da mera existência orgânica à sociabilidade. (Fávero, e Centenaro, 2019)

 

    O ser humano para encontrar significado na própria vida passa por diversos aspectos, que segundo proposto por Ferreira, Watanabe, e Sabatine (2021) são fatores como a realidade econômica, o próprio sustento e sobrevivência, capacidade de socialização e manutenção da saúde psíquica, que podem auxiliar na construção da subjetividade e identidade humana. O trabalho é ainda um dos principais fatores de motivação, satisfação pessoal e ampliação do conhecimento. (Oliveira et al., 2019)

 

    Para Pereira, e Martins (2019), a modernidade modificou a vida humana e influenciou no conceito de trabalho e na preocupação com os fenômenos que frequentemente têm sido observados nas organizações. A exemplo, o absenteísmo-doença (AD), definido como toda ausência provocada por adoecimento ou procedimento médico, comprovado por documentos que podem servir como indicadores das condições de saúde dos trabalhadores, dentre outros fatores que podem mensurar os níveis de satisfação e motivação. (Salado, 2019)

 

    A saúde do trabalhador é considerada multicausal e se há alguma alteração o ideal é investigar o percurso diagnóstico: busca subjetiva por qualidade de vida, condições de trabalho ofertadas para o desenvolvimento das atividades laborais, jornada de trabalho, condutas da gestão de pessoas e dos relacionamentos interpessoais, características subjetivas, sentido que o trabalho tem para os indivíduos adoecidos, dentre outros aspectos (Nakamura, e Gonçalves, 2022). Todavia, para Magalhães, Zanin, e Flório (2018) a ausência do trabalhador impacta a produtividade e a economia da empresa, gera sobrecarga aos que permanecem e precisam sanar a demanda do serviço. No universo educacional tais dados se mostram importantes à medida que a ocorrência do absenteísmo-doença de modo indiscriminado revela as condições de saúde e de trabalho dos profissionais envolvidos. (Santi, Barbieri, e Cheade, 2018)

 

    Atuando nestas questões conflituosas, o psicólogo pode incentivar junto aos gestores da organização, ações de fortalecimento da credibilidade e confiança, bem como investimentos na promoção de melhorias; gerando simultaneamente adesão, engajamento às propostas e políticas da organização e melhorias nos índices de qualidade de vida por parte dos trabalhadores, conforme apontam. (Santos, e Silva, 2022)

 

    O psicólogo organizacional trabalha por mudanças estratégicas e cooperadas entre membros da organização, de forma que o homem opere sobre o seu ambiente de trabalho e não o contrário, ainda que este trabalhador precise se adequar às necessidades do setor para se adequar à função, sem que ocorram prejuízos. Assim, compreender o absenteísmo-doença com pretensões econômicas, segundo Gil-Galvan (2019), pode preservar a produtividade e faturamento das empresas, facilitar a promoção do trabalho como formador de identidade, humanizar a relação trabalhista, e preservar a saúde do trabalhador.

 

    O presente estudo teve como foco principal analisar os índices de absenteísmo-doença de funcionários em uma instituição privada de ensino superior na cidade de Montes Claros-MG, no período de agosto de 2018 a agosto de 2019.

 

    É possível que os dados obtidos nesta investigação científica proporcionem a possibilidade de avaliar os níveis de absenteísmo-doença e favoreçam a organização, trazendo benefícios econômicos e melhorias em seus recursos humanos, apresentando dados úteis as demais empresas que se preocupam com a qualidade de vida de seus membros.

 

Métodos 

 

    Trata-se de um estudo de caráter descritivo, com abordagem quantitativa, transversal e documental com dados coletados no setor de recursos humanos de uma instituição privada de ensino superior, localizada na cidade de Montes Claros-MG, que conta com os serviços de 273 funcionários. No entanto, no período da pesquisa, somente 57 funcionários que entregaram atestado foram incluídos nesta análise e excluídos os que não entregaram.

 

    Utilizou-se da técnica de coleta e análise de dados secundários através de planilha sistematizada do software Excel contendo informações de documentos apresentados pelos colaboradores à instituição de ensino pesquisada, registrados e tabulados pela mesma, a fim de identificar os indicadores das principais causas do absenteísmo por adoecimento.

 

    Os dados obtidos foram replicados em planilha matricial, sendo feitas as tratativas necessárias como categorizações, cálculos de curvas e filtros de análise. Após isto, converteu-se os dados e feitas análises descritivas com valores de média, desvio padrão, frequência real e absoluta com auxílio de gráficos do Word, bem como a devolutiva aos interessados.

 

Resultados 

 

    Os resultados abrangem uma análise do prontuário de 57 colaboradores com tempo de serviço na instituição entre 2 a 19 anos (8,8 ± 4,6), do sexo feminino e masculino, que estiveram ausentes de suas atividades laborais por motivos de saúde no período proposto nesta pesquisa. Verificou-se que a idade média dos funcionários varia de 20 a 70 anos (39.2 ± 9,4), cuja prevalência maior de absenteísmo-doença corresponde ao sexo feminino 68,4%.

 

Quadro 1. Porcentagem de afastamento por função

Funcionário

Quantidade

Porcentagem de afastamento

Professor

24

42,1

Administrativo

29

50,9

Serviços gerais  

3

5,3

Psicólogo

1

1,7

Total

57

100

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Foi observado que os funcionários que ocupam a função técnico-administrativo apresentaram maior porcentagem de afastamento 50,9%, seguido pelo cargo de professor 42,1%, serviços gerais 5,3% e psicólogos 1,7%, conforme o quadro abaixo.

 

Gráfico 1. Absenteísmo por função e por quantidade de dias de afastamento

Gráfico 1. Absenteísmo por função e por quantidade de dias de afastamento

Fonte: Dados da pesquisa

 

    No Gráfico 1 podem ser verificados os níveis do absenteísmo-doença por função e a média do período de afastamento correspondentes a ela. Percebe-se que trabalhadores da função técnico-administrativo se ausentam mais por questões de saúde, apresentam período em dias de afastamento maior.

 

Gráfico 2. Comparativo entre funções e patologia

Gráfico 2. Comparativo entre funções e patologia

Fonte: Dados da pesquisa

 

    O Gráfico 2 demonstra as patologias mais frequentes em cada função. Observa-se nível mais elevado de doenças osteomusculares, sendo a função mais atingida a do setor de psicologia.

 

Gráfico 3. Comparativo das patologias por gênero

Gráfico 3. Comparativo das patologias por gênero

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Os resultados dos componentes do Gráfico 3 se referem às patologias mais frequentes entre os sexos feminino e masculino. É possível perceber que as mulheres apresentam maior incidência em duas das quatro categorias de patologias (patologias psicológicas e osteomusculares), igualando-se ao sexo masculino em uma delas (outras doenças). O sexo masculino se sobrepõe em doenças gastrointestinais, respiratórias, odontológicas e oftalmológicas.

 

Discussão 

 

    O absenteísmo-doença é um fenômeno ocupacional que se refere à ausência não programada de funcionários nas atividades laborais devido às implicações médicas atestadas em documento. Compreende-se que essa ausência afeta a dinâmica, a produtividade e a lucratividade das empresas, provocando alterações no quadro econômico e social do país, influenciando o processo de globalização e das novas concepções de mercado, bem como da inserção da mulher no mercado de trabalho. (Oenning, Carvalho, e Lima, 2014)

 

    Como consequência, observa-se o afastamento dos membros organizacionais - objeto deste estudo - simultaneamente produtor e retroalimentado por aumentos nos níveis de exaustão, desgaste físico e mental, insatisfação, adoecimento e elevação dos custos decorrentes do AD. Ao observar o exposto por Boas, e Morin (2016), esses fatores estão diretos ou indiretamente ligados aos níveis de qualidade de vida dentro e fora do trabalho.

 

    É perceptível que a saúde ou o adoecimento estão correlacionados a variáveis biopsicossociais. Assim, fatores como desregulação do sono-vigília, baixas horas de descanso, sedentarismo e má posição sentado, uso excessivo de fármacos, desnutrição, estresse e relações laborais interpessoais prejudiciais ou abusivas, são alguns dos fatores que estão sob a égide da doença laboral, os quais podem gerar Síndrome de Burnout. (Atz, 2021)

 

    O aspecto que mais se destaca neste estudo relaciona-se às questões de gênero, já que homens e mulheres aparecem em proporções semelhantes no absenteísmo-doença desta instituição, mas a quantidade de mulheres trabalhadoras é maior que a quantidade de homens, sendo um total de 68,4% conforme apresentado nos dados. Segundo Oenning et al. (2014), com a presença marcante das mulheres no mercado de trabalho, o ideal é incentivar e promover pesquisas que analisem os índices de absenteísmo feminino.

 

    Tais dados observados neste estudo demonstram que, por mas que, historicamente, as mulheres tenham apresentado uma inserção tardia no mercado de trabalho, somado aos tratos sociais desiguais de poder entre homens e mulheres, que são o resultado de uma construção social do papel do homem e da mulher, a partir da percepção social das diferenças de gênero, as mulheres conseguiram obter maior espaço no mundo trabalhista. Tais conquistas perpassam por lutas sociais diárias associadas à forte entrada das mulheres nas universidades, o que produziu impacto nas carreiras profissionais de prestígio, na qual antes predominavam os homens. (Feitosa, e Albuquerque, 2019)

 

    Ainda sobre o AD entre os gêneros, observa-se uma explicação parcial aos dados encontrados, já que - embora inúmeros estudos apontem que mulheres apresentam mais eventos de afastamento - os homens habitualmente ficam afastados por períodos relativamente maiores, devido a casos mais graves e que requerem maior tratamento. (Figueiredo, 2019)

 

    No que se refere às doenças psíquicas, esta apresentou apenas 1,8% dos funcionários afastados no período estipulado nesta pesquisa. Elas representaram um baixo percentual em relação às outras e estão relacionadas a episódios depressivos, transtornos ansiosos e/ou ansiedade generalizada; patologias importantes que merecem atenção. Segundo os dados verificáveis nos Gráficos 2 e 3, há uma incidência mais significativa na frequência de afastamento do sexo feminino, que pode relacionar-se às diferenças presentes nas rotinas de homens e mulheres, pois na realidade atual as mulheres podem se comprometer a uma rotina de trabalho externo além dos trabalhos domésticos e à criação de filhos de forma mais intensa que os homens.

 

    Esta justificativa assemelha-se aos resultados da pesquisa em uma Universidade Federal por Magalhães et al. (2018) que igualmente ao nosso estudo foi verificado que dentre os funcionários que apresentaram atestados no período, o sexo feminino foi responsável pelo maior número médio de atestados e de dias de ausência ao trabalho. Ao longo do período, notou-se um aumento das licenças de longa duração, principalmente decorrentes de patologias da esfera da saúde mental.

 

    Ainda dentro das questões de gênero, outro aspecto observado é em relação às doenças osteomusculares, que na instituição pesquisada apresentam alto índice. Essa patologia pode aparecer devido a fatores ergonômicos e ausência de treinamentos adequados em ambos os sexos, e a fatores hormonais e diferenças da estrutura física presentes entre homens e mulheres. O que chama atenção nesta pesquisa é o percentual das doenças do sistema osteomuscular que sozinhas registram 14%, aparecendo em sua maioria entre as mulheres, e nas funções de auxiliares de serviços gerais e psicologia; patologias como dores articulares, dores lombares, neuropatias dos membros superiores, lesões do ombro, sinovites e tenossinovites, instabilidade do joelho, fratura das extremidades da tíbia, traumatismos do punho e da mão, fratura do maléolo, contusão de artelho, lumbago com ciática, cervicalgia, dorsalgia, transtornos articulares, traumatismos dos tendões e músculos do tornozelo e do pé.

 

    No entanto, em pesquisa semelhante, mesmo que com doenças de outros subgrupos e não necessariamente enfatizando índice maior em alguns dos sexos, as doenças osteomusculares são comuns nas empresas brasileiras de caráter público ou privado, mas sugerem que medidas preventivas como a educação em saúde possibilitam a prevenção em nível primário. (Salado, 2019)

 

    Tendo em vista esse quadro, é importante observar as influências que os ciclos e oscilações hormonais podem exercer na rotina organizacional, sendo mais frequentes os males e patologias específicos das mulheres, além de especificidades relacionadas à gestação. Apesar desse resultado ser algo considerável a esta pesquisa, não permite afirmar que ginecopatias implicam necessariamente que o absenteísmo-doença seja maior no sexo feminino, uma vez que se torna possível controlar através de monitoramento médico adequado. Esse conceito apresentado por Nogueira, e Laurenti (1975) é relativamente antigo, considerando-se a evolução sociocultural nas questões de gênero e o desenvolvimento técnico da medicina contemporânea, que juntos ofertam meios de minimizar as alterações próprias do organismo da mulher, facilitando sua participação ativa no mercado de trabalho.

 

    Dentre os atestados observa-se maior prevalência em doenças de origens diversas que de forma isolada aparecem em baixíssima proporção, e juntas correspondem a 45,6%; em geral são doenças crônicas, cardiovasculares, dermatológicas, do trato urinário, virais; aparecendo de forma significante doenças relacionadas a gestações de alto risco, hemorragias, doenças do aparelho reprodutor masculino e feminino como cistos e prolapso anal. A função que mais apresenta essas patologias é dos professores, o que desperta atenção, pois no Brasil, esses profissionais apontam de forma significativa o sentido no trabalho como motivo para comprometimento e motivação profissional segundo Boas, e Morin (2016), e o percentual de acometimento é o mesmo para homens e mulheres, conforme apresentado nos Gráficos 2 e 3.

 

    Outras doenças que apareceram em proporções semelhantes entre si são as gastrointestinais, respiratórias, odontológicas e oftalmológicas, num total de 38,6%, mais presentes em profissionais auxiliares de serviços gerais quanto à função, e em homens quanto ao gênero. Destaca-se nesse item a forte presença de doenças como gastroenterites conjuntivites, rinite, sinusite, bronquite, faringite e laringite. Observa-se que essas doenças juntas ocuparam nesta pesquisa a segunda colocação de afastamento por adoecimento, mas se comparado com a pesquisa de Magalhães et al. (2018), apresentaram semelhança estatística apenas no que se refere às patologias do trato respiratório. Já as doenças dos olhos, gastrointestinais e odontológicas, não proporcionaram dados que permitissem comparações dos índices.

 

    Durante um estudo feito em uma empresa automotiva, privada, no estado do Paraná, evidenciaram uma redução do absenteísmo após a introdução da ergonomia. Entende-se que a ergonomia, normalizada em 1990 no Brasil pela Portaria nº 3.751, estuda o trabalho humano e visa um ambiente de trabalho mais confortável, seguro e eficiente de produção, através de intervenções nesse local de trabalho que propiciem melhores condições da atividade laboral e prevenção de doenças ocupacionais dos trabalhadores. (Matos, 2014)

 

    Ao entender tal abordagem, é possível observar que nesta empresa estudada entre o período de 2012 a 2013, verificou-se uma diminuição de atestados médicos com a inclusão da ergonomia e outras mudanças no processo de produção. Anteriormente às modificações ergonômicas, foram apresentados 494 atestados no ano de 2011 e 267 em 2012. Já entre 2012 e 2013 foram 155 atestados médicos entregues pelos trabalhadores da empresa, sugerindo uma expressiva contribuição dessas alterações no ambiente de trabalho tanto para redução do absenteísmo, principalmente atrelado aos problemas musculoesqueléticos, como para produtividade da própria empresa, já que deriva do capital humano. (Matos, 2014)

 

    A forma de intervir, tanto no absenteísmo quanto na melhor qualidade de vida dos funcionários, foi por meio da introdução de tapetes ergonômicos na sala de treinamento e em toda a linha de montagem, a fim amortecer o impacto dos pés no chão, reduzindo a dor nos membros inferiores. Além disso, dispuseram de fisioterapeuta do trabalho, rotação de função com execução de ginástica laboral, ao iniciar os turnos e durante o período de trabalho, para melhor adequação muscular, de forma compensatória ou corretiva. Outrossim, ofereciam, também, a reabilitação, quando o motivo do afastamento fosse por causas cirúrgicas, e, dessa forma, poderiam até mesmo gerar uma mudança temporária ou definitiva de função que fosse adequada para tal enfermidade e possibilitar um retorno ao trabalho mais precoce, com vantagens para o empregado, empregador e sociedade. Portanto, tais medidas contribuíram para um meio mais produtivo e com prevenção de riscos ocupacionais, conforme vislumbrado pela empresa e funcionário. (Matos, 2014)

 

    Em relação ao afastamento, percebe-se a maior incidência em períodos de curta duração, sendo a maioria de 1 dia, variando até 7 dias (80,7%). Atestados de 8 a 14 dias equivalem a 12,3% e os de longa duração, acima de 15 dias, atingem 7%, conforme exposto no Gráfico 1. Se comparados aos índices de outras pesquisas realizadas no Brasil e em outros países, pode-se considerar a quantidade de dias de afastamento dentro da normalidade referente ao absenteísmo na literatura. Ainda assim, o fato de se afastar do trabalho por absenteísmo causa consequências nos níveis individuais, coletivos e sociais. (Magalhães et al., 2018)

 

Conclusão 

 

    Observa-se de modo geral que os fatores mais importantes presentes neste estudo se referem, de forma significativa, às questões de gênero, ergonomia e patologias que podem ser prevenidas e/ou monitoradas com treinamentos e exames periódicos. Quanto a questões de gênero, as exigências construídas historicamente quanto às responsabilidades dos papéis femininos e masculinos na vida privada e familiar, devem ser consideradas para compreensão dos resultados.

 

    Além disso, pode-se considerar também o comportamento feminino de buscar auxílio médico sempre que necessário e o masculino de procurar cuidados médicos apenas em situações críticas. O que se conclui de modo geral, é que os aspectos culturais, sociais, psicológicos e biológicos estão diretamente associados ao absenteísmo.

 

    Cabe às organizações estarem constantemente atentas aos níveis de satisfação de seus colaboradores e à sua relação com o absenteísmo-doença. Agir da forma necessária para reverter quanto possível os números negativos e aumentar os níveis de motivação melhora os resultados da gestão e proporciona bom índices de qualidade de vida dos trabalhadores e no ambiente organizacional.

 

    O estudo apresenta limitação inerente as pesquisas com desenho transversal pela impossibilidade da relação de causa e efeito.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 297, Feb. (2023)