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ISSN 1514-3465

 

Tolerância ao exercício em indivíduos pós-tratamento 

de tuberculose pulmonar: um estudo observacional

Exercise Tolerance in Individuals Post-Treatment 

of Pulmonary Tuberculosis: an Observational Study

Tolerancia al ejercicio en individuos después del tratamiento 

de tuberculosis pulmonar: un estudio observacional

 

Thiago Santos da Silva*

thiagofisioufam@gmail.com

Grasiely Faccin Borges**

grasiely.borges@gmail.com

 

*Doutorando em Ciências pela Escola de Enfermagem da 

Universidade de São Paulo Professor no Instituto de Saúde e 

Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas

**Doutora em Ciências do Desporto e Educação Física

pela Universidade de Coimbra- Portugal

Professora Adjunta da Universidade Federal do Sul da Bahia

Professora do Programa Pós-graduação

em Educação Física (Mestrado Associado UESC/UESB)

(Brasil)

 

Recepção: 22/07/2020 - Aceitação: 28/12/2020

1ª Revisão: 09/11/2020 - 2ª Revisão: 01/12/2020

 

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Citação sugerida: Silva, T.S. da, e Borges, G.F. (2021). Tolerância ao exercício em indivíduos pós-tratamento de tuberculose pulmonar: um estudo observacional. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(274), 96-107. https://doi.org/10.46642/efd.v25i274.2468

 

Resumo

    Introdução: A tuberculose pulmonar (TBP) pode causar injúrias e déficits físico-funcionais, que podem acarretar prejuízo na saúde do indivíduo mesmo após a cura. Objetivo: Avaliar a tolerância ao exercício (TE) de indivíduos pós-tratamento farmacológico de TBP da cidade de Coari (Brasil) por meio do teste de caminhada de 6 minutos (TC6). Métodos: Estudo observacional, transversal, que avaliou nove participantes do sexo masculino. Inicialmente realizou-se a avaliação do perfil socioeconômico, de saúde e de composição corporal dos participantes. Os indivíduos foram submetidos ao TC6, para se obter a distância percorrida (DTC6). Foram utilizados a correlação de Pearson e o teste T pareado unicaudal, com o nível de significância de 5%. Resultados: Os participantes apresentaram média de idade de 42,4 ± 12,89 anos, estatura de 163,44 ± 2,95 cm, peso 68,99±8,71 kg e o índice de massa corpórea (IMC) de 25,32 ± 3,07 kg/m². A DTC6 dos participantes foi de 460,19 ± 62,93 m. Observou-se redução da TE dos participantes através da análise entre a DTC6 e a DPTC6 (460,19 ± 62,93m/585,07 ± 39,18 m; p= 0,0006), sendo que 55,55% (5/9) apresentaram valores abaixo do limite inferior de normalidade. Conclusão: Verificou-se que os participantes pós-TBP estudados apresentaram redução da TE em relação aos valores preditos.

    Unitermos: Aptidão cardiorrespiratória. Tuberculose pulmonar. Tolerância ao exercício. Teste de caminhada.

 

Abstract

    Background: Pulmonary tuberculosis (PTB) can cause injuries and deficits in physical functions, which can damage the health of the individual after healing. Objective: To analyze exercise tolerance (ET) of pharmacological post-treatment of PTB in the city of Coari (Brazil) through a 6-minute walk test (6MWT). Materials and methods: Observational, cross-sectional study, which studied 9 male participants. First, there was an assessment of the socioeconomic profile, health and body composition of the participants. The individuals were submitted to the 6MWT, to obtain a distance covered (6MWD). Pearson's correlation and the one-tailed paired T test were used, with a significance level of 5%. Results: The participants had a mean age of 42.4 ± 12.89 years, height of 163.44 ± 2.95 cm, weight 68.99 ± 8.71 kg and a body mass index (BMI) of 25.32 ± 3.07 kg/m². A 6MWD of the individuals surveyed was 460.19 ± 62.93 m. A reduction in the TE of the participants was observed through an analysis between 6MWD and predicted distance (460.19 ± 62.93m/585,07 ± 39.18 m; p = 0.0006), with 55.55% (5/9) showing values below the lower limit of normality. Conclusion: It was found that post-TBP participants studied reducing ET in relation to the predicted values.

    Keywords: Cardiorespiratory fitness. Pulmonary tuberculosis. Exercise tolerance. Walk test.

 

Resumen

    Introducción: La tuberculosis pulmonar (TBP) puede provocar lesiones y déficits físico-funcionales, que pueden causar daños a la salud del individuo incluso después de la curación. Objetivo: Evaluar la tolerancia al ejercicio (TE) de las personas después del tratamiento farmacológico de TBP en la ciudad de Coari (Brasil) utilizando la prueba de caminata de 6 minutos (PC6M). Métodos: Estudio observacional transversal que evaluó a 9 participantes varones. Primero, se realizó una evaluación del perfil socioeconómico, la salud y la composición corporal de los participantes. Los individuos fueron sometidos al PC6M para obtener la distancia cubierta (DCPC6M). Se utilizó la correlación de Pearson y la prueba de T de pares de una cola, con un nivel de significación del 5%. Resultados: Los participantes tenían una edad media de 42,4 ± 12,89 años, una altura de 163,44 ± 2,95 cm, un peso de 68,99 ± 8,71 kg y un índice de masa corporal (IMC) de 25,32 ± 3,07 kg/m². El DCPC6M de los sujetos encuestados fue de 460,19 ± 62,93 m. Se observó una reducción en la TE de los participantes a través del análisis entre DCPC6M y la distancia predicha (460,19 ± 62,93m/585,07 ± 39,18m; p = 0,0006), con 55,55% (5/9) presentando valores por debajo del límite inferior de normalidad. Conclusión: Se encontró que los participantes estudiados post-TBP mostraron una reducción en TE en relación con los valores predichos.

    Palabras clave: Capacidad cardiovascular. Tuberculosis pulmonar. Tolerancia al ejercicio. Prueba de paso.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 274, Mar. (2021)


 

Introdução 

 

    A tuberculose (TB) é uma doença que é tratada como um importante problema de saúde. Frequentemente ela acomete os pulmões (tuberculose pulmonar - TBP), porém, pode ocorrer em outros órgãos do corpo humano. É classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das 5 afecções respiratórias que estão entre as causas mais comuns de morte (World Health Organization, 2019) . No ano de 2019, a incidência mundial de TB foi de aproximadamente 10 milhões de casos novos, com a mortalidade chegando a 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo (Foro Internacionales de las Sociedades Respiratorias, 2017). Associando-se aos dados epidemiológicos negativos, outra preocupação está no fato de que a doença pode causar injúrias e déficits físico-funcionais como a redução da tolerância ao exercício (TE) (Santos et al., 2016; Daniels et al., 2019) e diminuição da função pulmonar (Bemba et al., 2017; Fiogbe et al., 2019; Mancuzo et al., 2020) que podem acarretar em uma menor qualidade de vida ao indivíduo. (Daniels et al., 2019)

 

    É importante destacar que o cuidado com a saúde de um indivíduo que era portador de TBP não deve ser interrompido, mesmo após ele haver finalizado o tratamento medicamentoso normalmente padronizado (Muñoz-Torrico et al., 2016). Algumas evidências indicam que as injúrias pulmonares existentes durante o curso da doença podem acarretar sequelas, as quais permanecem mesmo após a intervenção farmacológica bem sucedida (Bemba et al., 2017; Daniels et al., 2019; Fiogbe et al., 2019; Gupte et al., 2019; Mancuzo et al., 2020). Por isso, há a necessidade de se estudar a saúde de indivíduos pós-tratamento farmacológico de TBP (pós-TBP).

 

    Existem diversos instrumentos utilizados para avaliar a funcionalidade de uma pessoa com acometimento respiratório como, por exemplo, o teste de caminhada de 6 minutos (TC6) (Morales-Blanhir et al., 2011). Tal recurso é largamente utilizado como forma de (1) avaliação e reavaliação de intervenções terapêuticas, (2) como uma maneira de verificação de condições patológicas corriqueiras à prática clínica e (3) para interpretação de variáveis fisiológicas. O TC6 é uma importante ferramenta proposta para medir a aptidão física do sujeito em diversas situações de comprometimento cardiopulmonar por meio da distância percorrida. (Daniels et al., 2019; Morales-Blanhir et al., 2011)

 

    A distância percorrida no TC6 (DTC6) é uma importante medida funcional utilizada para verificar a tolerância ao exercício (TE). Esta, por sua vez, pode ser definida como a capacidade que um indivíduo tem para realizar exercícios físicos ou a sua resistência ao realizar um teste de esforço (Morales-Blanhir et al., 2011). Outros termos podem ser encontrados para defini-la, por exemplo: aptidão física, capacidade aeróbica, capacidade de exercício, entre outros. (Bemba et al., 2017; Daniels et al., 2019)

 

    Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar a TE de indivíduos pós-TBP do Hospital Regional de Coari-AM por meio do TC6 e compará-los com valores preditos. A hipótese era que os indivíduos pós-TBP apresentariam redução da TE.

 

Métodos 

 

    Estudo observacional, transversal, com uma amostra selecionada de forma não probabilística e intencional, realizado na cidade de Coari, Amazonas, Brasil. Foram avaliados 21 indivíduos, do sexo masculino, que haviam finalizado o tratamento farmacológico para TBP em um Instituto de Medicina Tropical no município. Os indivíduos foram convidados a participar desta pesquisa, sendo que apenas 13 deles aceitaram o convite. Destes, quatro foram excluídos, de modo que a amostra final foi composta por nove participantes.

 

    Os critérios de inclusão para participar do estudo foram: indivíduos adultos, do sexo masculino, que houvessem completado o tratamento farmacológico para TBP e que fossem residentes na área urbana do município de Coari. Após o convite para participar do estudo, foram aplicados os critérios de exclusão: sujeitos que apresentassem patologias pregressas tais como comorbidades neurológicas, musculoesqueléticas, cardíacas e/ou respiratórias, ou quaisquer alterações que afetassem a deambulação.

 

    O período de recrutamento deu-se no espaço temporal de março e abril de 2015 e a coleta de dados foi realizada entre maio e junho do mesmo ano. O estudo foi desenvolvido nas dependências do Laboratório de Fisioterapia Cardiorrespiratória do Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) - Brasil.

 

    Os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) da pesquisa. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFAM, com o parecer nº 721.244.

 

    Inicialmente, os participantes responderam a um questionário semi-estruturado elaborado pelos pesquisadores, com questões abertas e fechadas, para colher informações sobre os aspectos sóciodemográficos, de saúde e sobre os hábitos de vida. Em seguida, obtiveram-se as medidas de composição corporal (peso, massa muscular, densidade mineral óssea, gordura corporal) com uma balança de bioimpedância (AVANUTRI®), estatura com um estadiômetro (AVANUTRI®) e circunferência abdominal e cirtometria torácica com uma fita métrica (SECA®).

 

    Para a mensuração da TE, utilizou-se o TC6. Esse teste foi executado em um corredor plano, com cones de sinalização delimitando um percurso de 30 metros de comprimento e existindo demarcações a cada 3 metros. O TC6 era encerrado quando o paciente completava o tempo proposto (seis minutos), ou caso fosse necessário ser interrompido por eventos como dor torácica, dispneia intolerável, fadiga nas pernas, tontura, diaforese, palidez ou desconforto respiratório autorrelatado. Todos os indivíduos finalizaram o teste sem nenhuma intercorrência. Os procedimentos foram realizados de acordo com as diretrizes da American Thoracic Society (2002) e aplicados por avaliadores previamente treinados, sendo avaliados no mesmo turno do dia e em horários semelhantes. O TC6 é um instrumento válido, confiável e amplamente utilizado na literatura (Brito, e De Souza, 2006). Foi validado para a avaliação de indivíduos com alguns tipos de doenças pulmonares como fibrose pulmonar idiopática (Du Boi et al., 2011) e doença pulmonar crônica obstrutiva (Van Remoote et al., 2012). Diversos estudos têm usado o TC6 na população acometida por tuberculose. (Pontororing et al., 2010; Godoy et al., 2012; Daniels et al., 2019)

 

    A DPTC6 dos participantes foi gerada através da equação proposta por Soares, e Pereira (2011) (DPTC6 = 511 + estatura2 [cm] × 0,0066 – idade2 × 0,030 − IMC2 × 0,068), que é um estudo brasileiro, e os resultados foram comparados aos da DTC6, sendo considerado como limite inferior de normalidade (LIN) a porcentagem de 81% do valor previsto.

 

    Também se aferiu a pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD) com um monitor digital (OMRON®, HEM-742 INT), frequência cardíaca (FC) e saturação periférica de oxigênio (SpO2) com oxímetro de pulso (GERATHERM®, GT 300C203), frequência respiratória (FR) e sensação de esforço percebido com a escala modificada de Borg (Borg, 1982), todos mensurados pré-esforço, pós-esforço e após o 5º minuto de recuperação pós-exercício.

 

    Para análise estatística, utilizou-se o teste Shapiro-Wilk para verificar a normalidade dos dados. Como demonstrou-se haver normalidade dos dados, optou-se em utilizar a correlação de Pearson para verificar possíveis associações entre a TE e variáveis selecionadas, bem como o teste T pareado unicaudal para comparar a DTC6 e DPTC6, com auxílio do software GraphPad Prism 5 para Windows, sendo considerado o nível de significância de 5% (p<0,05).

 

Resultados 

 

    Os indivíduos estudados eram todos de cor parda, com renda per capta de R$ 616,67 ± 747,48, sendo 67% deles casados, 11% solteiros, 11% divorciados e 11% viúvos. Quanto à escolaridade, 22,2% eram analfabetos, 44,5% tinham o ensino fundamental e 33,3% o ensino médio. Dentre eles, 56% não eram tabagistas e 44% eram ex-tabagistas. Com relação às bebidas alcoólicas, 78% não eram etilistas e 22% consumiam de dois a quatro vezes por mês. Os indivíduos não relataram patologias pregressas diagnosticadas, bem como não consumir medicamentos prescritos e de forma regular.

 

    A idade mínima dos participantes foi de 21 anos e a máxima de 68 anos, as demais características dos participantes do estudo podem ser verificadas na Tabela 1.

 

Tabela 1.Caracterização dos indivíduos pós-tuberculose pulmonar (N=9) 

segundo as variáveis antropométricas e de composição corporal. Coari, 2015

Variáveis

Média ± DP

Peso (kg)

Estatura (cm)

IMC (kg/m2)

Circunferência abdominal (cm)

Cirtometria torácica (cm)

Massa muscular (%)

Percentual de gordura (%)

Percentual de água (%)

Densidade óssea (kg)

Taxa metabólica (kcal)

68,99 ± 8,71

163,44 ± 2,95

25,32 ± 3,07

91,00 ± 7,69

91,63 ± 6,44

27,70 ± 6,34

33,45 ± 7,39

52,10 ± 4,15

10,43 ± 0,38

1976,15 ± 827,66

Legenda: DP = desvio-padrão; Kg = quilogramas; cm = centímetro;

 kg/m2 = quilogramas por metro quadrado; % = por cento; 

kcal = quilocalorias.

Fonte: Autores

 

    Na Tabela 2, estão expressos os valores das variáveis clínicas obtidos em repouso, ao término do TC6 e após o 5º minuto de recuperação. Observou-se um aumento significativo dos valores de PAS, FC, FR e BORG em repouso em comparação com as medidas ao final do TC6, havendo retomada a valores próximos aos basais nas mensurações após a recuperação.

 

Tabela 2.Distribuição e comparações das variáveis cardiovasculares e sinais vitais dos indivíduos pós-tuberculose pulmonar (N=9) segundo os momentos pré-esforço, pós-esforço e após a recuperação de 5 minutos. Coari, 2015

 

Pré-esforço

Pós-esforço

Recuperação 5'

PAS (mmHg)

125,00 ± 11,38*

139,33 ± 10,82*

127,00 ± 9,18

PAD (mmHg)

73,00 ± 8,83

80,78 ± 11,94

76,11 ± 7,93

FC (bpm)

69,22 ± 9,74*

82,44 ± 14,23*

74,33 ± 10,67

FR (rpm)

18,22 ± 1,92*

21,78 ± 2,82*

18,11 ± 2,03

SpO2 (%)

98,00 ± 0,5

97,00 ± 2,65

97,78 ± 0,67

BORG

0,56 ± 0,98**

5,11 ± 1,54**

2,17 ± 1,5

*=Pré-esforço versus Pós-esforço (p<0,05); **=Pré-esforço versus Pós-esforço (p<0,001). Legenda: mmHg: milímetros de mercúrio; bpm: batimentos por minuto; respirações por minuto; SpO2: saturação periférica de oxigênio; BORG: índice de esforço percebido pela escala de Borg. Fonte: Autores 

 

    Com relação à TE, a DTC6 dos participantes foi 460,19 ± 62,93m, com 55,55% (5/9) desses resultados estando abaixo do LIN. Observou-se redução da TE através da análise comparativa entre a DTC6 e a DPTC6 de acordo com a equação de predição de Soares, e Pereira (2011) (Distância percorrida: 460,19 ± 62,93m; Distância predita: 585,07 ± 39,18 m; teste T pareado p= 0,0006; Percentual da distância predita: 77,87%). Houveram correlações fracas a médias entre DTC6 e idade (r=-0,448; p=0,113), IMC (r=0,461; p=0,106) peso (r=0,352; p=0,176) e estatura (r=-0,338; p=0,187), entretanto, as correlações não foram significativas para essas variáveis.

 

Discussão 

 

    Os participantes deste estudo demonstraram redução da TE, verificada pela DTC6 que apresentou valores inferiores aos valores preditos. Esses dados são condizentes com os de Daniels et al. (2019), pacientes com pós-TBP utilizando o TC6 em 45 pacientes (25 do sexo masculino), com idade média de 39,9±10,2 anos, e verificaram que a maioria dos participantes apresentaram diminuição da qualidade de vida relacionada à saúde, bem como a capacidade de exercício e função pulmonar anormais, com DTC6 de 294,5 ± 122,7 metros, valor este bem abaixo da referência normal de valores. Outro estudo considerou valores médios para um grupo controle de um intervenção de 340 metros. (De Grass, Manie, e Amosun, 2014)

 

    Outro dado interessante foi o demonstrado por Fiogbe et al. (2019), que realizaram um estudo para avaliar a função pulmonar e TE de 189 participantes pós-TBP (68,0% sendo do sexo masculino), média de idade de 37 anos, onde os resultados apontaram que 45% dos participantes pós-TBP apresentavam comprometimento da função pulmonar e 29,1% (n=55) estavam abaixo do LIN nos valores preditos do TC6, com redução significativa da TE. No presente estudo, a maior parte dos indivíduos estavam abaixo do LIN, 55,55% (5/9), demonstrando porcentagem superior ao encontrado no estudo de Fiogbe et al. (2019).

 

    No que diz respeito ao esforço subjetivo, o valor de 5,11 ± 1,54 pontos na escala modificada de Borg após o TC6 demonstrou-se mais elevado do que em brasileiros saudáveis, no mesmo momento, onde a pontuação mensurada pela escala aumentou no máximo para 4 pontos após a realização do TC6. (Soares, e Pereira, 2011)

 

    Santos et al. (2016), verificaram que pacientes com TBP apresentaram diminuição da TE, sendo a idade um fator relacionado a essa diminuição. No presente estudo, também foi verificado possível redução da TE, mas apesar de serem observadas correlações fracas e médias, não foram estatisticamente significativas com a idade, com o peso, estatura e IMC. Provavelmente influenciado pelo pequeno número amostral, que foi um fator limitante para análise dos dados do presente estudo.

 

    Esses resultados acima mencionados reforçam o alerta para condições de saúde que podem ser visualizadas em indivíduos que eram portadores de TBP, ou seja, o comprometimento funcional e pulmonar mesmo após a cura da doença, podendo ser devido ao aparecimento de sequelas pulmonares e doença pulmonar obstrutiva crônica oriunda da TBP (Mancuzo et al., 2020; Sarkar et al., 2017). Sabe-se que indivíduos pós-TBP podem apresentar sintomas respiratórios, redução da capacidade aeróbia, comprometimento pulmonar duradouro e redução da qualidade de vida após o tratamento medicamentoso (Bemba et al., 2017; Daniels et al., 2019; Fiogbe et al., 2019). No entanto, as políticas de atenção continuada à saúde para esse grupo de pessoas ainda não estão bem definidas, ou são inexistentes.

 

    Nos resultados da composição corporal do presente estudo, observou-se que o IMC estava classificado como sobrepeso e o percentual de gordura encontrava-se elevado. As mudanças na composição corporal, com déficits de massa magra e aumento da gordura corporal são observadas durante a doença (Praygod et al., 2011). Um estudo demonstrou que após tratamento de TBP por seis meses, os participantes tiveram um aumento de 10% do peso corporal, devido a um ganho de 44% do gordura corporal (Schwenk et al., 2004).

 

    Um estudo realizado em Malawi, na África Oriental, com 405 pessoas, indicou que mesmo em pessoas pós tratamento de TBP, foram observadas média de saturação de hemoglobina de 98%, hipoxemia em repouso em 1,5%, e no TC6 3,8%, além de 17,5% estarem com baixo peso (IMC<18,5Kg/m2) (Meghji et al., 2020). No presente estudo, a saturação de oxigênio reduziu em 1% após o TC6 e no período de recuperação em relação à linha de base, mas não foi estatisticamente significativo.

 

    Apesar de se acreditar que a TE alterada dos indivíduos aqui pesquisados possa ter alguma atribuição aos comprometimentos oriundos da TBP, ressalta-se que os resultados desta pesquisa devem ser interpretados com cautela, visto que não houve a realização testes de função pulmonar (espirometria) e/ou exames radiológicos para verificar os possíveis graus de acometimento pulmonar, bem como a não utilização de ferramentas para verificar o nível de atividade física habitual dos participantes, ou mesmo a comparação com indivíduos saudáveis com características semelhantes, fatos estes que nos limitam a dispor de resultados mais precisos. Pesquisas envolvendo esse tema devem ser realizadas para melhor elucidação desses achados.

 

Conclusão 

 

    Verificou-se que os participantes pós-TBP estudados apresentaram redução da TE em relação aos valores preditos. Esses resultados podem estar relacionados ao um aumento do risco de que esses indivíduos, pós-TBP, são propensos a desenvolver comprometimentos físico-funcionais mesmo após o fim da terapia farmacológica bem sucedida.

 

    Tais achados podem indicar a necessidade de acompanhamento continuado e investimentos governamentais para o manejo de pacientes após a cura da TBP, com o objetivo de assegurar uma saúde integral e qualidade de vida à essa população.

 

    Pesquisas futuras são necessárias, principalmente com o intuito de elaborar protocolos de reabilitação pulmonar bem delineados e/ou diretrizes de tratamento para indivíduos pós-TBP.

 

Agradecimentos 

 

    Os autores deste estudo agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (FAPEAM) e à Universidade Federal do Amazonas (UFAM) que através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) proporcionaram o desenvolvimento desta pesquisa.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 274, Mar. (2021)