Lecturas: Educación Física y Deportes | http://www.efdeportes.com

ISSN 1514-3465

 

Identificação dos modelos de ensino dos 

esportes coletivos. Exposição de um instrumento

Identification of Teaching Models for Team Sports. Exhibition of an Instrument

Identificación de los modelos de enseñanza de los juegos deportivos. Presentación de un instrumento

 

Murilo Pontes Meneguela*

murilomureld@hotmail.com

Bruno Pedroso**

prof.brunopedroso@gmail.com

José Roberto Herrera Cantorani***

cantorani@yahoo.com.br

Guilherme Moreira Caetano Pinto****

guilherme-coxa@uol.com.br

 

**Graduado em Administração, em Licenciatura em Educação Física

e em Bacharelado em Educação Física pelas Faculdades Integradas de Itararé

Especializado em Futebol e Futsal: ciências do esporte

e metodologia do treinamento pela Universidade Gama Filho

Especializado em Psicologia do Esporte pela Uninter

Atualmente é docente do Colégio Anglo Itararé

Professor da Prefeitura Municipal de Itararé

Professor da Etec de Itararé e professor técnico

da Associação Atlética Banco do Brasil de Itararé

**Graduado em Licenciatura em Educação Física

pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)

Especializado em Treinamento Desportivo

pela Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Especializado em Gestão Industrial: Conhecimento e Inovação

pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)

Mestre em Engenharia de Produção pela UTFPR

Doutorado em Educação Física pela UNICAMP

Pós-doutorado em Qualidade de Vida no Trabalho pela UTFPR

Pós-doutorado em Estudos Bibliométricos e Cientométricos pela UTFPR

Atualmente é professor adjunto do Departamento de Educação Física

e docente permanente do Programa de Pós-Graduação

em Ciências Sociais Aplicadas e do Programa de Pós-Graduação

em Ciências da Saúde da UEPG, e do Mestrado Profissional

em Educação Inclusiva em Rede Nacional (PROFEI)

***Graduado em Educação Física e Mestre em Ciências Sociais Aplicadas

pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)

Doutor em Educação Física pela UNICAMP (2013)

Pós-Doutorado em Ensino de Ciência e Tecnologia

pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)

Está vinculado aos grupos de pesquisa:

Esporte, Lazer e Sociedade - UEPG (pesquisador)

Avaliação da qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho - UEPG (pesquisador)

e Gestão de recursos humanos para o ambiente produtivo - UTFPR (pesquisador)

Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP)

e docente permanente do Programa de Pós-Graduação

em Ensino de Ciência e Tecnologia (PPGECT) da UTFPR

****Professor colaborador da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)

no departamento de Educação Física

Professor da Unicesumar - campus Ponta Grossa

Dourando em Ciências Sociais Aplicadas pela UEPG

Mestre em Engenharia de Produção pela UTFPR

Graduado em Educação Física - Bacharelado e Licenciatura pela UEPG

Especialista em Educação Física Escolar pela WPÓS - Instituição de Ensino

e em Engenharia de Produção pela UTFPR

(Brasil)

 

Recepção: 17/07/2020 - Aceitação: 07/08/2021

1ª Revisão: 22/04/2021 - 2ª Revisão: 19/06/2021

 

Level A conformance,
            W3C WAI Web Content Accessibility Guidelines 2.0
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

 

Creative Commons

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Meneguela, M.P., Pedroso, B., Cantorani, J.R.H., e Pinto, G.M.C. (2022). Identificação dos modelos de ensino dos esportes coletivos. Exposição de um instrumento. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(286), 180-200. https://doi.org/10.46642/efd.v26i286.2458

 

Resumo

    O objetivo deste estudo foi propor um instrumento para identificação dos modelos de ensino utilizados por treinadores/profissionais de Educação Física no processo ensino-aprendizagem de modalidades esportivas coletivas. Foram identificados os seguintes modelos: Método “tradicional”, que faz uso do mecanicismo e repetição do gesto técnico; o Modelo de Desenvolvimento dos Conteúdos dos Jogos, que é norteado pela experiência prévia do aluno nas atividades; Modelo de Ensino dos Jogos para a sua Compreensão, que aplica a forma de jogo progressiva e entendimento tático no aprendizado da técnica; o Modelo de Educação Desportiva, que busca conceder caráter afetivo/social a aprendizagem; o Modelo de Competência nos Jogos de Invasão, que permite a aprendizagem de formas modificadas dos jogos esportivos. Pautado nestes modelos, o instrumento proposto é composto por 20 questões com cinco alternativas de resposta em que cada qual faz alusão a um dos modelos supracitados. Adicionalmente, fora construída uma versão de gabarito do instrumento e uma ferramenta elaborada a partir do software Microsoft Excel para tabulação dos dados e processamento dos resultados das aplicações do instrumento. Conclui-se que fora possível a disponibilização de um instrumento para identificação dos modelos de ensino dos esportes coletivos de linguajar simples e rápido preenchimento, que pode contribuir com os pesquisadores da pedagogia do esporte e Educação Física.

    Unitermos: Métodos de ensino. Instrumento de avaliação. Esportes coletivos.

 

Abstract

    This study aims to propose an instrument for identification of teaching models used by trainers/physical education professional in the teaching of collective sports process. The following models in the literature have been identified: the “traditional” model, used by mechanism and repetition of the technical movement; Development of game content, used the students experience in exercises; the games for sports understanding, model used the progressive form and tactic understanding for learned the technique; Sports education, have as goal to confer affective/social character to learning; and competency in invasion games methods allows learning in modified forms the sports games. Lined in these models, the proposed instrument consists of 20 questions with five possible answers each of which refers to one of the models. In addition, we built an answer sheet version of the instrument and an elaborated tool from the Microsoft Excel software for data tabulation and processing of the results of instrument applications. We concluded it was possible to provide an instrument to identify the teaching models for collective sports, with a simple language and fast filling, which originality turns it into a real contribution for researchers of sport pedagogy area and other branches of Physical Education.

    Keywords: Teaching methods. Measurement instrument. Collective sports.

 

Resumen

    El objetivo de este estudio fue proponer un instrumento para identificar los modelos de enseñanza utilizados por los entrenadores/profesionales de Educación Física en el proceso de enseñanza-aprendizaje de los deportes colectivos. Se identificaron los siguientes modelos: método “tradicional”, que hace uso de la mecánica y la repetición del gesto técnico; el Modelo de Desarrollo de Contenidos del Juego, que se guía por la experiencia previa del alumno en las actividades; Modelo de Enseñanza de Juegos para la Comprensión, que aplica la forma de juego progresiva y la comprensión táctica en el aprendizaje de la técnica; el Modelo de Educación Deportiva, que busca dar un carácter afectivo/social al aprendizaje; el Modelo de Competencias en Juegos de Invasión, que permite el aprendizaje de formas modificadas de juegos deportivos. En base a estos modelos, el instrumento propuesto está compuesto por 20 preguntas con cinco alternativas de respuesta en las que cada una alude a uno de los modelos antes mencionados. Además, se construyó una versión de plantilla del instrumento y una herramienta desarrollada a partir del software Microsoft Excel para tabular datos y procesar los resultados de las aplicaciones del instrumento. Se concluye que fue posible brindar un instrumento para identificar los modelos de enseñanza de los deportes colectivos en un lenguaje sencillo y de rápida terminación, que puede contribuir a los investigadores en la pedagogía del deporte y la Educación Física.

    Palabras clave: Métodos de enseñanza. Instrumento de evaluación. Deportes colectivos.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 286, Mar. (2022)


 

Introdução 

 

    O esporte contemporâneo, de acordo com Noce, Simim, e Mello (2009), e Alves et al. (2012), caracteriza-se como um fenômeno plural e multifacetado que, de certa maneira, atinge todas as camadas sociais e é estudado por diversas áreas acadêmicas. Quanto às suas inter-relações com o campo da saúde e seu processo de ressignificação, como preponderantes à sua legitimidade pedagógica,o estudo do esporte perpassa por avanços na compreensão de suas características.

 

    Neste sentido, cabe destacar que para Devide (1996) o conceito de saúde, cujo qual a área da Educação Física tem íntima ligação, é caracterizado como multifatorial. Portanto, como define Ferreira (2001), apenas os conhecimentos de cunho biológico não garantem uma autonomia na prática do esporte, visto que este é também de um fenômeno social, político, econômico e cultural. Sendo assim, é necessário que o debate se amplie e envolva fatores sociais, tais como o acesso ao lazer e a falta de espaços públicos para a prática do esporte, que podem estar ligados a inatividade física, associada ao desenvolvimento de diversas doenças com relação ou não às suas possíveis comorbidades, prejudicando a qualidade de vida e aumentando o risco de morte. (Devide, 2002; Malta, 2014; Polissini. e Ribeiro, 2014, Who, 2018).

 

Imagem 1. A prática esportiva no processo de formação é influenciada pelos 

valores que os atores (crianças e jovens) trazem consigo para o contexto esportivo

Imagem 1. A prática esportiva no processo de formação é influenciada pelos valores que os atores (crianças e jovens) trazem consigo para o contexto esportivo

Fonte: Pexels.com. Foto: Gustavo Linhares

 

    Com isso, Tubino (2001) afirma que o esporte tem na pluralidade uma das suas principais características. Tal preceito significa que sua prática pode acontecer em diversos ambientes, tais como escolas, clubes, praças, ruas e centros esportivos. Já a sua disponibilidade pode ser direcionada acrianças, jovens, adultos e/ou idosos. Por fim, seus objetivos podem ser a prática profissional, ocupação do tempo livre e atividade educacional.

 

    Alicerçado na pluralidade acima destacada, Tubino (2001) evidencia as dimensões sociais do esporte. O Esporte Educação deve evitar a seletividade, a segregação, e a competitividade exacerbada, oportunizando aos discentes a vivência de diferentes modalidades que fazem parte da cultura do movimento, ensinando-os a se movimentarem melhor, a desenvolver uma compreensão geral acerca do corpo humano, e a refletir de forma crítica ante a problemas sociais relacionados ou não ao esporte (Tubino, 2001; Kunz, 2004; Darido, e Rangel, 2008). Já o Esporte Participação direciona-se à busca pela garantia da diversão e do bem-estar dos praticantes. Por fim, o Esporte Rendimento está direcionado a prática esportiva profissional. (Tubino, 2001)

 

    Face a tais fatores, o esporte é um meio para a aquisição de valores sociais que podem ser desenvolvidos através do exame crítico de fatores ambientais, políticos e econômicos. Neste contexto é possível que o praticante, além de executar os movimentos, possa ser convidado a refletir sobre fatores que transcendem o gesto técnico, tais como a cooperação, o respeito a individualidade e a construção coletiva (Ferreira, 2001; Tubino, 2001). Portanto, a luz das dimensões sociais e da pluralidade observa-se um nítido movimento de ruptura com o paradigma que liga o esporte exclusivamente ao contexto da aptidão física e do rendimento, visto que sua prática pode estar direcionada a diferentes públicos e objetivos.

 

    Até então, uma significativa parcela dos processos de ensino-aprendizagem eram atrelados apenas ao rendimento físico oriundo do adestramento do indivíduo, sendo realizados de forma repetitiva e exaustiva (Kunz, 2004). Ademais, havia uma grande busca e valorização do resultado esportivo. Tais fatores, por expor o indivíduo a sobrecarga física e emocional, impulsionam a ocorrência da especialização esportiva precoce, nociva ao indivíduo por acarretar problemas físicos e psicológicos que resultam no possível abandono da prática, em uma formação esportiva ineficiente e na unilateralização do desenvolvimento do indivíduo. (Kunz, 2004; Nunomura, Carrara, e Tsukamoto, 2010; Milistetd et al., 2014)

 

    No entanto, a partir da ressignificação esportiva a corrente da “prática pela prática” foi superada, entendendo-se ser necessária a compreensão do esporte em todas as suas dimensões e possibilidades (Rufino, e Darido, 2012;2013). As contribuições científicas de natureza multi/interdisciplinar indicaram a necessidade de ampliar o olhar a outros modelos no campo da Educação Física (Correia, 2012), discutindo elementos como o estímulo à criação, diversificação e inovação. (Galatti et al., 2017; Oliveira, e Lanes, 2020)

 

    Neste contexto surgem diversos modelos pedagógicos para o ensino-aprendizagem, tais como o Modelo de Desenvolvimento dos Conteúdos dos Jogos, o Modelo de Ensino dos Jogos para a sua Compreensão, o Modelo de Educação Desportiva e o Modelo de Competência nos Jogos de Invasão. Em geral, estes modelos são estudados pela área da pedagogia do esporte, que considera que é na infância, em clubes, escolas formais e instituições esportivas, que ocorre o primeiro contato formal do indivíduo com o esporte. Também é neste momento que surgem problemas de ordem metodológica em relação ao seu ensino, que podem reduzir o aproveitamento da riqueza motora e cultural do indivíduo para com o meio. (Noce, Simim. e Mello, 2009)

 

    Para tanto, a pedagogia do esporte busca evitar equívocos que ocasionem os problemas acima mencionados, estudando as práticas esportivas e entendendo sua natureza complexa (Oliveira, e Lanes, 2020). O esporte atingiu tamanha dimensão sociocultural que não se pode entregá-lo às instituições e simplesmente deixá-lo acontecer. Cabe aos professores buscar, por meio da pedagogia e dos modelos de ensino, a formação humana dos indivíduos, analisando os aspectos pedagógicos, metodológicos, estratégicos, didáticos e os conteúdos a serem aplicados. (Santana, 2008; Reverdito, e Scaglia, 2009)

 

    Aqui, cabe destacar que a teoria do Coletivo de Autores (1992), ao mencionar a cultura corporal do movimento, prevê que o ensino do esporte precisa ser norteado pelos fundamentos metodológicos ancorados na lógica dialética, sendo sistematizado e organizado de forma a abarcar o princípio da relevância, da contemporaneidade, do ajuste às possibilidades sociocognitivas dos alunos e da provisoriedade do conhecimento. Alicerçado nesta teoria, bem como nas dimensões sociais do esporte de Tubino (2001), ressalta-se que o presente estudo se refere ao esporte no âmbito da formação esportiva direcionada aos esportes coletivos, especialmente aquele vivenciado em escolas, clubes ou centros esportivos por crianças ou jovens. Entende-se ainda que a prática esportiva no processo de formação é influenciada pelos valores que os atores (crianças e jovens) trazem consigo para o contexto esportivo, e que o processo de ensino aprendizagem deve considerar os modelos existentes.

 

    É inegável que o emprego de diferentes metodologias almeje promover a máxima participação do indivíduo, evitando longos períodos de inatividade que diminuem a sua motivação para a prática (Resende, e Lima, 2017). Logo, a detecção da utilização do método de ensino é fundamental. Neste sentido, o presente estudo justifica-se por apresentar um instrumento que tem potencial para ser aplicado por profissionais da Educação Física, no intuito de obter informações que podem embasar a tomada de decisão, bem como por pesquisadores da área, a fim de impulsionar pesquisas científicas, como será discutido na apresentação do “Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos”.

 

    Face ao exposto, o presente estudo tem como objetivo propor um instrumento para identificação dos modelos de ensino utilizados por treinadores/profissionais de Educação Física no processo ensino-aprendizagem de modalidades esportivas coletivas.

 

Metodologia 

 

    Trata-se de uma pesquisa exploratória de abordagem quanti-qualitativa, alicerçada em Gil (2008), visto que foi efetuada uma discussão ampliada do objeto de estudo e promove-se, inclusive, um diálogo entre a ressignificação de campos inerentes às relações do esporte, da saúde e da pedagogia do esporte.

 

    O marco teórico referencial do presente estudo foi centrado no capítulo intitulado “Modelos de ensino dos jogos esportivos”, de autoria de Graça, e Mesquita (2006), que integra o livro Pedagogia do Desporto, organizado por Go Tani, Jorge Olímpio Bento, e Ricardo Demétrio de Souza Petersen. O referido capítulo, ao considerar elementos que foram expostos como responsáveis pela ressignificação esportiva e indicar que o processo de ensino-aprendizagem é uma competência cultural na qual é necessário a interação entre os atores envolvidos, descreve os seguintes modelos de ensino: Método “tradicional”, pautado na concepção mecanicista de ensino, descrita por Garganta em 2006; o Modelo de Desenvolvimentos dos Conteúdos dos Jogos; Modelo de Ensino dos Jogos para a sua Compreensão; o Modelo de Educação Desportiva; o Modelo de Competência nos Jogos de Invasão (Graça, e Mesquita, 2006). Logo, a construção do Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos foi embasada em tais modelos.

 

    Com relação à elaboração das questões, foram seguidos dois critérios básicos: a) A questão, obrigatoriamente, deveria possibilitar as respostas contemplassem a teoria preconizada em todos os modelos supramencionados; b) a questão deve representar situações pertinentes ao cotidiano de treinadores/profissionais de Educação Física no exercício de sua prática profissional. Não obstante, optou-se por elaborar questões de múltipla escolha. Na elaboração das respostas, cada alternativa foi construída de forma a representar um dos modelos de ensino elencados no presente trabalho.

 

    O Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos foi construído para ser respondido com base nas seguintes instruções e critérios de inclusão e não-inclusão.

 

Critérios de inclusão 

  • Questionário desenvolvido para ser aplicado em professores/treinadores que atuam no ensino do esporte em escolas, clubes e centros esportivos, em que o público alvo seja pessoas com até 18 anos de idade. Acima desta idade os objetivos para a prática tendem a ser outros (exemplo rendimento ou lazer), o que pode fragilizar os dados levantados.

  • Instrumento confeccionado para ser aplicado em professores/treinadores que atuam no ensino do esporte coletivo de invasão, visto que a teoria apresentada por Graça, e Mesquita (2006) não se destina ao estudo de esportes individuais ou de outra natureza.

Critérios de não-inclusão 

  • O respondente deve assinalar apenas uma alternativa de resposta dentre as disponíveis em cada questão. Portanto, questões com duas respostas assinaladas devem ser desconsideradas. Este critério justifica-se em virtude de que duas respostas a uma mesma questão podem se tornar conflitantes, impedindo a identificação do modelo de ensino via gabarito de respostas.

  • As respostas devem ser baseadas na percepção do respondente em relação à sua condução do treinamento esportivo. Percepções externas a do respondente podem implicar em conflitos de análise, reduzindo a confiabilidade do instrumento.

  • O respondente deve tomar como referência em suas respostas um período pertinente as oito últimas semanas de trabalho. O período estipulado busca evitar distúrbios de análise oriundo de possíveis oscilações ao se considerar períodos muito curtos, bem como minimizar conflitos de análise e imprecisão de informações ao se considerar períodos demasiadamente longos.

  • Devem ser contabilizados na amostra apenas os respondentes que preencherem corretamente (uma alternativa entre A e E) ao menos 80% do total de questões do instrumento (16 ou mais questões). Entende-se que questionários com resolução inferior a 80% diminui a confiabilidade do instrumento, alicerçado em estudos direcionados a validação de instrumentos. (Pedroso, e Pilatti, 2012)

    Após sua consecução, o referido instrumento foi submetido a validação de face e conteúdo. A literatura prevê que a validade de conteúdo de um instrumento de medida é avaliada pelo julgamento por meio dos juízes do quanto os itens selecionados para compor o instrumento estão relacionados a temática em exame. Normalmente o referido teste ocorre via parecer de especialistas ou através do julgamento por membros do público-alvo, conforme descrito por Pilatti, Pedroso, e Gutierrez (2010). Para ser considerado válido, um instrumento deve ter uma taxa de concordância entre os especialistas superior a 90% Alexandre, e Coluci, (2011). No presente estudo, a validade de conteúdo foi realizada através do envio do instrumento para análise de dois pesquisadores doutores com vinculação a programas de pós-graduação stricto sensu da área da Educação Física.

 

    Já a validação de face foi realizada por um profissional da área da linguística, também com vinculação a programa de pós-graduação stricto sensu em sua área de formação. Cabe destacar que em todos os casos, os programas eram reconhecidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior (CAPES), com conceito igual ou superior o requerido para funcionamento. Outras formas de validação e aferição de confiabilidade não foram utilizadas tendo em vista que a escala de respostas não numérica impossibilita a realização destas.

 

    Além da construção da versão de aplicação do instrumento, também foi produzido um gabarito que elucida a qual modelo de ensino dos jogos esportivos se refere cada resposta. Para facilitar a tabulação dos dados, foi desenvolvida uma ferramenta no software Microsoft Excel que identifica e contabiliza cada modelo de acordo com a resposta do investigado, perfazendo com que o pesquisador precise apenas tabular os dados coletados na referida planilha.

 

Resultados e discussão 

 

    O instrumento proposto tem por objetivo diagnosticar a percepção dos treinadores/profissionais de Educação Física sobre o modelo de ensino dos jogos esportivos que estes utilizam em sua prática profissional. Nomeado “Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos”, consiste em 20 questões com cinco alternativas de resposta que representavam cada um dos modelos de ensino para os jogos esportivos.

 

    As questões receberam numeração sequencial em sentido ordinal, sendo que 13 questões estão voltadas para situações problemas que os treinadores vivenciam em sua prática profissional (1, 2, 3, 4, 5, 6, 12, 14, 15, 16, 17, 18, 19), e as demais sete questões estão relacionadas à opinião pessoal do respondente em relação ao esporte, as qualidades desejáveis do atleta e do profissional (7, 8, 9, 10, 11, 13, 20).

 

    As questões do Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos estão dispostas no Quadro 1.

 

Quadro 1. Questões e respostas do Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos

Questão

Respostas

1. Para resolver um problema tático no jogo, você procura:

a) Apresentar aos atletas a resposta para o problema.

b) Resolver a situação por meio da cooperação entre os atletas.

c) Fazer com que os atletas compreendam detalhadamente a situação.

d) Desenvolver todas as atividades que envolvem o problema.

e) Possibilitar que o atleta vivencie a situação na condição de treinador.

2. Quando um atleta apresenta dificuldades ao realizar uma determinada tarefa, você procura:

a) Explicar claramente e demonstrar a tarefa para o atleta desenvolver.

b) Fazer com que o atleta entenda a tarefa antes de realizar.

c) Fazer com que o atleta realize a tarefa isoladamente para depois inseri-lo no contexto do jogo.

d) Fazer com que os outros atletas ajudem-no em suas dificuldades.

e) Pedir para o atleta tentar ensinar a tarefa para você ou para outro colega antes dele próprio executar.

3. Para ensinar um determinado fundamento técnico aos seus atletas, você procura:

a) Apresentar atividades que todos consigam realizar, independentemente de suas limitações, evitando a exclusão.

b) Propor atividades que façam os atletas repetir os movimentos até que o aprendam.

c) Fazer com que o próprio atleta auxilie na decisão das atividades que serão realizadas.

d) Realizar jogos reduzidos para facilitar a compreensão dos fundamentos táticos.

e) Desenvolver exercícios específicos para o fundamento desejado, aumentando ou diminuindo o grau de complexidade conforme as respostas dos atletas.

4. Ao avaliar o desempenho dos seus atletas, você analisa e valoriza:

a) Se, na condição de capitão, ou outra função de liderança, ele coordena as atividades com autonomia.

b) Se ele desenvolve as atividades conforme exige a situação.

c) Se ele trabalha em equipe de forma cooperativa.

d) Se ele realiza os fundamentos técnicos e táticos corretamente.

e) Se ele compreende toda a situação que envolve o jogo.

5. Quando você aplica um jogo formal durante o treino, você analisa:

a) A compreensão do atleta em relação às ações do jogo.

b) A liderança dos atletas enquanto organizadores das atividades, dentro ou fora do jogo.

c) O desenvolvimento das ações técnicas e táticas do atleta.

d) Se o atleta conseguiu colocar dentro do contexto do jogo, todos os fundamentos treinados isoladamente.

e) O trabalho em equipe e a cooperação entre os atletas envolvidos.

6. No processo de ensino-aprendizagem, você organiza seu treino de forma que:

a) A prática na atividade tenha significados para o atleta, dentro e fora do jogo.

b) O atleta desenvolva liderança, auxiliando na organização das atividades como jogador ou como auxiliar.

c) A complexidade da atividade seja definida com base nas respostas que os atletas apresentam.

d) O atleta aprenda as tarefas isoladamente para posteriormente uni-las dentro do contexto do jogo.

e) Os atletas entendam o que estão fazendo, passando a buscar ações objetivas para a resolução de problemas.

7. Você acha mais importante para um atleta de esportes coletivos:

a) O desenvolvimento das ações técnicas e táticas.

b) O trabalho em grupo.

c) A compreensão do jogo.

d) A disposição em ajudar mesmo fora do jogo (cuidando dos materiais, auxiliando na arbitragem, etc.).

e) A capacidade de relacionar os fundamentos técnicos isoladamente com o contexto do jogo.

8. Para você, é fundamental para um treinador desportivo:

a) Conhecer bem os fundamentos técnicos da modalidade ensinada, para ter mais segurança durante o ensino.

b) Ser criativo para dosar a complexidade das tarefas.

c) Fornecer explicações claras e precisas, com demonstrações das ações.

d) Apresentar a seus atletas não somente as ações do jogo, mas também o que ocorre fora deste.

e) Ser um facilitador nas ações e ter um caráter afetivo e social.

9. Para você, a maior contribuição do esporte coletivo para os atletas é:

a) O envolvimento cognitivo.

b) O desenvolvimento de respeito, solidariedade, educação e significados para a vida.

c) A aprendizagem de liderança, autonomia e organização.

d) A possibilidade de aprender e memorizar as técnicas trabalhadas.

e) Proporcionar novos desafios, partindo daquilo que eles já conhecem.

10. Você considera uma qualidade do treinador saber principalmente:

a) Estimular a capacidade de organização dos atletas, bem como a responsabilidade e a autonomia destes.

b) Criar adaptações no jogo de forma a possibilitar a participação de todos os atletas.

c) Aproveitar momentos oportunos para explicar ou contribuir com o aprendizado.

d) Articular e diferenciar atividades de competição e atividades de inclusão.

e) Apresentar as respostas para determinados problemas do jogo.

11. Para você, as principais lições que o esporte pode proporcionar para o atleta na sua vida adulta são:

a) O gosto pela vida fisicamente ativa.

b) A aprendizagem através da insistência.

c) A aprendizagem de forma gradativa, sem pular etapas.

d) A consciência tática e a soluções dos problemas de forma objetiva.

e) Os conhecimentos e a habilidade para a tomada de decisão.

12. Em seus treinos, para corrigir os erros que seus atletas tiveram anteriormente, você organiza seu trabalho da forma a:

a) Ensiná-lo a saber o que fazer e como fazer.

b) Dar significados às ações e tirar lições do ocorrido.

c) Proporcionar um feedback da situação com os atletas e demais envolvidos.

d) Fazê-los repetir os movimentos até corrigi-los.

e) Deixar com que os atletas encontrem uma solução para a situação.

13. Na sua opinião, o que leva o atleta a querer a aprender cada vez mais é:

a) A liberdade de tomar decisões e poder participar da organização das tarefas.

b) O simples ato de jogar em grupo, estar com os amigos e atuar em conjunto.

c) A consciência e o entendimento das ações táticas.

d) A evolução dos fundamentos técnicos e a relação destes com o jogo.

e) O aprendizado de forma gradativa, passo a passo para facilitar as ações.

14. Ao estruturar seu treinamento você procura:

a) Procurar elaborar situações-problemas com respostas direcionadas para facilitar a tomada de decisão.

b) Manipular o jogo em função das necessidades dos praticantes, conforme suas particularidades.

c) Utilizar os jogos para conceder um caráter afetivo e social associado à aprendizagem.

d) Criar momentos que permitem a reflexão na tomada de decisão ou uma análise crítica das respostas dos atletas.

e) Utilizar pequenos jogos táticos para compreensão das capacidades técnicas.

15. Ao trabalhar a tática em seus treinamentos, você procura:

a) Criar ou adaptar para proporcionar aos atletas momentos exijam a tomada de decisão com base em suas experiências.

b) Apresentar antecipadamente as respostas que podem solucionar os problemas propostos.

c) Fazer adaptações para priorizar uma determinada técnica requerida no trabalho tático.

d) Formar equipes heterogêneas, procurando manter um equilíbrio entre as equipes.

e) Desenvolver atividades que possibilite aos atletas com maior dificuldade ter o mesmo grau de sucesso que os atletas mais habilidosos.

16. Ao trabalhar com um grupo mais experiente, você procura:

a) Fragmentar os conteúdos para o aperfeiçoamento da técnica.

b) Apresentar as atividades planejadas com base nas experiências já vivenciadas pelos atletas.

c) Criar momentos para os atletas enxergarem as situações de outras formas, se colocando no lugar de outros atletas, possibilitando a compreensão e o respeito das decisões de seus colegas.

d) Colocar os atletas em uma situação problemática e fazê-los resolver por meio de uma ação objetiva e compreensão consciente da situação do jogo.

e) Dividir as tarefas extra-jogo, como cuidar e organizar dos materiais e auxiliar na arbitragem.

17. Ao trabalhar com atletas iniciantes, você procura:

a) Fazer com que os alunos visualizem e vivenciem as situações dentro e fora do jogo, ajudando na organização das atividades.

b) Tratar todos igualmente, contribuindo com a inclusão social e não somente aos mais habilidosos.

c) Explicar aos alunos, passo a passo, o que deve ser realizado, respeitando as evoluções e a individualidade de cada um.

d) Trabalhar com o jogo de forma progressiva e estimular a capacidade de entendimento tático ao mesmo tempo que da técnica.

e) Realizar atividades simples e isoladas, objetivando a repetição dos movimentos.

18. Para trabalhar uma situação ofensiva em seu treino, você procura:

a) Buscar primeiro entender e resolver os problemas táticos.

b) Desenvolver as ações com base no grau de exigência da situação.

c) Evidenciar em primeiro lugar a importância do trabalho em equipe.

d) Deixar a situação a critério dos atletas, para que estes decidam qual o melhor caminho a ser seguido.

e) Realizar a atividade sem a presença de adversários para facilitar a execução dos movimentos.

19. Para resolver um problema no setor defensivo, você considera importante que os atletas:

a) Utilizem suas experiências vivenciadas no esporte para desenvolver a melhor ação para o momento.

b) Estejam conscientes da situação-problema para resolvê-la de forma direta e objetiva.

c) Repitam os movimentos exigidos para a solução do problema até se adaptarem à situação.

d) Tomem iniciativas criativas com autonomia para resolver o problema.

e) Entendam que o trabalho coletivo será fundamental para a resolução do problema.

20. Na sua opinião, o sucesso de uma equipe depende principalmente:

a) Do trabalho cooperativo, da união e do respeito entre os membros da equipe.

b) Da compreensão de todas as ações que envolvem um jogo.

c) Da perfeição das execuções técnicas de cada atleta.

d) Da capacidade dos atletas em tomar iniciativa, da liderança, confiança e conhecimentos de tudo o que ocorre dentro e fora do jogo.

e) Das experiências que os atletas possuem e da capacidade de adquirir novos conhecimentos.

 

    As alternativas de resposta em todas as questões são representadas pelas letras A, B, C, D e E, de forma que cada letra represente um dos modelos de ensino elencados no presente trabalho, sendo que em cada questão as alternativas de respostas correspondentes a cada modelo são alternadas, sem um padrão, o que perfaz com que não seja possível o respondente identificar a qual modelo corresponde cada alternativa em cada uma das questões.

 

    No intuito de reduzir eventuais equívocos e facilitar o processo de tabulação dos dados e processamento dos resultados das aplicações do Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos, construiu-se uma ferramenta a partir do software Microsoft Excel, pautada no gabarito do instrumento. Tal ferramenta apresenta as seguintes características/funções:

  • Cada linha representa um respondente e cada coluna representa uma questão do instrumento;

  • Destaca com preenchimento em cor verde quando a questão foi respondida corretamente (valores iguais a A, B, C, D ou E), com preenchimento em cor branca quando a resposta da questão não foi transcrita e com preenchimento em cor vermelha quando a questão foi respondida de forma incorreta (com qualquer valor diferente de A, B, C, D ou E);

  • Identifica o número de questões sem resposta, o número de questões respondidas incorretamente e indica se há a necessidade de exclusão do respondente caso a soma das questões sem resposta e respondidas incorretamente seja superior a 20% do total de questões do instrumento;

  • Identifica o número de respostas correspondente a cada um dos cinco modelos de ensino, expondo o somatório de respostas correspondente a cada modelo de ensino para cada respondente da pesquisa;

  • Cabe ao pesquisador apenas a tabulação dos dados, de forma que o restante é realizado de forma automatizada pela ferramenta;

  • Ao pesquisador é permitido copiar e colar dados nas células correspondente à tabulação das respostas tal qual copiar as células que contém os resultados individuais de cada respondente, não sendo possível modificar os resultados.

    O download das versões de aplicação e gabarito do instrumento e da ferramenta para tabulação dos dados e processamento dos resultados do instrumento pode ser realizado no url http://www.brunopedroso.com.br/modelos.html.

 

    No teste de validade de conteúdo o Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos foi aprovado pelos dois juízes que o avaliaram. Logo, o percentual de concordância totalizou 100%, acima do que prevê a literatura (90%) (Pilatti, Pedroso, e Gutierrez, 2010; Alexandre, e Coluci, 2011). Face a tais resultados é possível indicar que o referido instrumento apresenta coeficiente satisfatório no teste de validade de conteúdo.

 

    No teste de validade de face o referido instrumento obteve parecer atestando que foi bem elaborado no tocante a língua portuguesa. Adicionalmente, as questões e respostas foram consideradas de fácil compreensão, com linguagem direta e sem margem para interpretações dúbias. Diante disto, há um indicativo de que o instrumento apresenta boa coesão linguística, pressuposto da validade de face.

 

    Dentre os modelos descritos por Graça, e Mesquita (2006) que compõe o presente instrumento, cabe destacar que o modelo “tradicional” é baseado na concepção mecanicista. Este modelo faz uso da demonstração constante das atividades por parte do professor articulado à explicação da tarefa, sendo necessário que o profissional delimite constantemente as progressões a fim de que a tarefa seja concluída (Garganta, 1998). Em síntese, o método tradicional faz uso da fragmentação das tarefas esportivas, proporcionando a constante repetição para aperfeiçoamento do gesto motor.

 

    Os demais modelos advêm da possibilidade de utilização do jogo integrado para a condução da prática pedagógica, pelo potencial deste em promover a melhoria dos processos cognitivos do aluno-atleta (Galatti et al., 2017; Oliveira, e Lanes, 2020). Os jogos esportivos são definidos como ações motoras competitivas, com regras e instituições, que podem ser praticados com/contra um adversário sendo que o vencedor será definido pela pontuação (Canan, 2020). Estes podem ser de três tipos: de exercício, caracterizados pela repetição de exercícios que já se conhece através de conduta lúdica; de símbolos, onde cria-se um espaço para resolver problemas e conflitos; e de regras, que apresenta uma forma estruturada com regras produzidas pelo próprio grupo. (Freire, 1997)

 

    Neste contexto, o modelo de desenvolvimento do conteúdo dos jogos destina ao professor o papel fundamental na aprendizagem do aluno, e prevê a fragmentação do conteúdo, os ajustes na técnica, e a utilização de progressões crescentes no nível de dificuldade da tarefa aplicadas com base nas respostas dos praticantes. Deve-se ainda valorizar as experiências de vida do aluno e fornecer, em relação à tarefa executada, um constante feedback pedagógico. (Mesquita, 1997 apud Graça, e Mesquita, 2006)

 

    Por sua vez, o modelo de ensino dos jogos esportivos para sua compreensão parte da premissa de que a forma de jogo progressiva e a capacidade de entendimento tático motivam o aprendizado das habilidades técnicas. Destaca-se a perspectiva cognitiva e construtivista, na qual o praticante é exposto a uma situação problema e precisa solucioná-la dentro do jogo. (Graça, e Mesquita, 2006)

 

    O modelo de educação desportiva busca o desenvolvimento pessoal, motivacional e social do indivíduo, indica que o professor deve ser um facilitador do desenvolvimento da criança, e prevê que é preciso conceder caráter afetivo e social às aprendizagens, com o propósito de estabelecer um ambiente que propicie uma experiência esportiva autêntica, promovendo o gosto por uma vida ativa. (Cobin, 2002 apud Graça, e Mesquita, 2006; Siedentop, 1996 apud Graça, e Mesquita, 2006; Araújo, 2017)

 

    Sob influência do modelo supracitado tem-se o método do Modelo de competências nos jogos de invasão, desenvolvido por Eliane Munsch, e Benny Mertens (Munsch et al., 2002 apud Graça, e Mesquita, 2006), que consiste em uma aprendizagem das formas modificadas dos jogos esportivos e da organização da prática esportiva. Divide-se em dois grupos, sendo eles a competência como jogador, que se articula nas tarefas de aprendizagem de formas básicas de jogo, formas parciais de jogo e tarefas baseadas no jogo; e competência em função de apoio e coordenação, que tem como função desenvolver a capacidade de organização a prática de forma responsável e autônoma, desenvolvendo uma competência de autorregulação de sua aprendizagem oportunos. (Mesquita, 1997 apud Graça, e Mesquita, 2006)

 

    Frente o exposto, acreditamos que o Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos tem potencial para facilitar o planejamento do treinador/profissional de Educação Física no processo de ensino-aprendizagem, bem como para que o próprio profissional avalie seu método de ensino. Acerca do planejamento entende-se que este é fundamental no processo de ensino aprendizagem, sendo está uma das principais ações de um professor de Educação Física. (Feu et al., 2019)

 

    Há de se frisar que o referido instrumento, na compreensão dos autores do presente estudo, impacta diretamente na prática pedagógica destes profissionais. Desta forma, fazemos nossas as contribuições de Bracht (1997), ainda que direcionadas ao contexto escolar, transcendem seus limites ao indicar que a teoria pedagógica em Educação física deve responder a duas questões: O por que? que está relacionada ao sentido; e o Como? que está relacionada ao instrumento. A partir destas questões de cunho geral, o autor aponta quatro itens necessários para a prática pedagógica da Educação Física, sendo eles:

    a) poder fundamentar esta prática no currículo escolar, isto é, precisa dizer a quais necessidades vem atender e da indispensabilidade de sua função, caracterizando assim o seu objeto - ou seja, precisa se defrontar com a pergunta do porquê Educação Física na Escola, legitimá-la (implica discutir os fundamentos filosófico-antropológicos, o significado humano e social da ludo motricidade humana); b) desenvolver e apoiar-se numa concepção de currículo, definindo, entre outras coisas, a função da Escola no contexto societal, o saber ou o conteúdo de que vai tratar, bem como dos critérios para a seleção e sistematização destes conteúdo; c) em consonância com os objetivos e as características dos conteúdos, propor e fundamentar uma metodologia do ensino; d) explicitar uma proposta para o problema da avaliação do ensino. (Bracht, 1997, p. 47)

    Observa-se que Bracht (1997) sugere que se pense em quais necessidades busca-se atender considerando fundamentos filosóficos e antropológicos. Adicionalmente, o autor defende que é necessária a reflexão sobre qual conteúdo deve ser trabalhado e quais os critérios para seleção e sistematização deste conteúdo. Após estas definições, alicerçado nestes objetivos e características, é necessário que o profissional proponha uma metodologia para o ensino e, também, para a avaliação do processo de ensino-aprendizagem.

 

    Neste sentido, a teoria de Bracht (1997) auxilia professores e treinadores no planejamento de suas intervenções ao passo que momentos de aprendizagem do esporte em clubes e centros esportivos, o profissional de Educação Física acaba por vezes tendo que delimitar as necessidades que buscará atender, estabelecer critérios para seleção dos conteúdos e, com base nos princípios estabelecidos, propor uma metodologia de trabalho para atingir e avaliar os objetivos estipulados. Em outras palavras, conteúdo e objetivos devem dialogar diretamente, bem como método e avaliação.

 

    Considerando a avaliação, que é um desafio para a área da Educação Física, é prudente mencionar que esta deve ser formadora, com o intuito de embasar a tomada de decisão relacionada as ações futuras (Oliveira, 2009). Desta forma, não é possível pensar em uma avaliação pontual, mas que vislumbre toda a ação pedagógica permitindo que o professor reconheça os diferentes caminhos que podem levar o indivíduo a aprendizagem. Além disso, entende-se que as práticas avaliativas devem estar relacionadas com objetivos pedagógicos, permitindo que o professor possa ressignificar de maneira contínua suas ações. (Oliveira, 2009)

 

    Tais reflexões permitem que se compreenda o processo de avaliação de forma ampliada. No entanto, em que pese a importância do processo avaliativo evidenciada por Bracht (1997), e Oliveira (2009), destaca-se que embora existam estudos sobre as metodologias de ensino do esporte, não há muitos instrumentos disponíveis na literatura que tenham por objetivo identificar o método utilizado por treinadores/profissionais de Educação Física em sua prática profissional. Como visto, esta possibilidade justifica-se por oferecer um importante diagnóstico do profissional de Educação Física de sua ação profissional, possibilitando uma ressignificação com base na filosofia de trabalho que se pretende adotar.

 

    A proposição do Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos vai de encontro com o evidenciado por Oliveira (2009), inicialmente por convidar o respondente a pensar em sua prática ao longo dos dois últimos meses, não se caracterizando como uma avaliação pontual, que é criticada por Oliveira (2009).

 

    Para além do supracitado, o referido instrumento permite que o profissional reflita sobre suas concepções em determinadas situações inerentes ao cotidiano, sendo capaz de perceber como tem sido sua tomada de decisão. Além disto, o profissional é instigado a responder questões que buscam identificar como ele tenta resolver seus problemas ofensivos e defensivos, quais pontos ele considera crucial para o sucesso de uma equipe, como ele trabalha com a correção dos atletas e avalia o desempenho de seus atletas, identificando seu comportamento do profissional.

 

    Assim, o instrumento proposto facilita a identificação por parte do professor/treinador do método que ele está aplicando com base em critérios teóricos apresentados pela literatura. Logo, ao comparar o método aplicado com os resultados obtidos na avaliação, o profissional conseguirá discernir se o método por ele utilizado aproximou o processo de ensino-aprendizagem de seus objetivos, ou se é necessário a seleção de outros métodos, tendo em vista que a aplicação de outros modelos no processo de ensino-aprendizagem, ao promover a participação, evita períodos de inatividade que reduzem a motivação do indivíduo para a prática. (Resende, e Lima, 2017)

 

    Adicionalmente, os pesquisadores da área podem, através deste instrumento, levantar informações do campo a fim de identificar qual tem sido o comportamento dos profissionais de Educação Física no processo de formação esportiva. Tais informações podem subsidiar discussões entre profissionais e pesquisadores da área e impulsionar pesquisas acerca da temática, o que permite a comparação dos resultados em relação a aprendizagem, aquisição de valores, formação esportiva e humana dos indivíduos obtidas pelos diferentes métodos de ensino.

 

Conclusões 

 

    A literatura não dispõe de um elevado número de instrumentos que avaliem os modelos de ensino adotados por treinadores de jogos esportivos coletivos. Neste sentido, o Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos proposto por este estudo possibilita a averiguação de um acompanhamento acerca da intervenção profissional de treinadores de modalidades esportivas, bem como da identificação de eventuais falhas no decorrer deste processo, que podem acarretar, entre outros prejuízos, a evasão dos atletas da prática esportiva.

 

    Para além do instrumento apresentado disponibilizou-se uma ferramenta para tabulação dos dados e processamento dos resultados a partir do Microsoft Excel, um software com grande usabilidade e difusão no Brasil,que tende a facilitar a análise dos dados retornados pelo questionário proposto por parte de pesquisadores ou profissionais da área.

 

    Por oportunizar uma avaliação da intervenção profissional, permitir a identificação de informações do campo, e fornecer informações para subsidiar a tomada de decisão no planejamento do profissional, entende-se que o questionário proposto pode se constituir em uma contribuição efetiva para pesquisadores da área da pedagogia do esporte e outras ramificações da Educação Física, bem como profissionais da área.

 

    O presente estudo apresenta como limitação: 1) não ter realizado a validação externa do instrumento proposto, com aplicação em larga escala; 2) não apresentar um módulo do instrumento para ser aplicado nos atletas, de forma a permitir o cruzamento dos dados a partir da percepção dos atletas com a autopercepção dos treinadores. Logo, a validação externa do referido instrumento e a construção de uma versão do instrumento direcionada aos atletas são sugestões para estudos futuros.

 

Referências 

 

Alexandre, N.M.C., e Coluci, M.Z.O. (2011). Validade de conteúdo nos processos de construção e adaptação de instrumentos de medida. Ciência e saúde coletiva, 16(7), 3061-3068. https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006

 

Alves, J.B.G., Montenegro, F.M.U., Oliveira, F.A., e Alves, R.V. (2012). Prática de esportes durante a adolescência e atividade física de lazer na vida adulta. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 11(5), 91-94. https://doi.org/10.1590/S1517-86922005000500009

 

Araújo, R. (2017). A Aprendizagem dos alunos e as dinâmicas operantes no seio das equipas no modelo de Educação Desportiva: Evidências da investigação e direções futuras. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 17(S1A), 39-49. https://doi.org/10.5628/rpcd.17.S1A.39

 

Bracht, V. (1997). Educação física e aprendizagem social. Editora Magister Ltda.

 

Canan, F. (2020). Repensando um modelo de classificação dos jogos esportivos – uma proposta inicial. Educación Física y Ciencia, 22(1), 1-1. https://doi.org/10.24215/23142561e113

 

Coletivo de Autores (1992). Metodologia do Ensino de Educação Física. Cortez Editora.

 

Correia, W.R. (2012). Educação Física Escolar: entre inquietudes e impertinências. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 26(1), 171-178. https://doi.org/10.1590/S1807-55092012000100016 

 

Devide, F.P. (1996). Educação Física e Saúde: Em busca de uma orientação para sua práxis. Movimento, 3(5), 45-55. https://doi.org/10.22456/1982-8918.2232

 

Devide, F.P. (2002). Educação Física, Qualidade de Vida e Saúde: campos de intersecção e reflexões sobre a intervenção. Movimento, 8(2), 77-84. https://doi.org/10.22456/1982-8918.2644

 

Darido, S.R., e Rangel, I.C.A. (2008). Educação física na escola – Implicações para a prática pedagógica. Editora Guanabara Koogan.

 

Ferreira, M.S. (2001). Aptidão física e saúde na Educação Física Escolar: Ampliando o enfoque. Revista Brasileira de Ciência do Esporte, 22(2), 41-54. http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/411

 

Feu, S., García-Rubio, J., Gamero, M. de G., e Ibáñez, S.J. (2019). Task planning for sports learning by physical education teachers in the pre-service pase. Plos one, 14(3), 1-18. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0212833

 

Freire, J.B. (1997). Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. Editora Scipione.

 

Galatti, L.R., Bettega, O.B., Paes, R.R., Reverdito, R.S., Seoane, A.M., e Scaglia, A.J. (2017). O ensino dos jogos esportivos coletivos: avanços metodológicos dos aspectos estratégicos-táticos-técnicos. Pensar a Prática, 20(3). 639-654. https://doi.org/10.5216/rpp.v20i3.39593

 

Garganta, J. (1998). O ensino dos jogos desportivos coletivos: perspectivas e tendências. Movimento, 4(8), 19-27. https://doi.org/10.22456/1982-8918.2373

 

Graça, A., e Mesquita, I. (2006). Modelos de ensino dos jogos desportivos. In: G. Tani, J.O Bento, e R.D.S., Petersen, Pedagogia do desporto (pp. 269-283). Editora Guanabara Koogan.

 

Gil, A.C. (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social. Editora Atlas.

 

Kunz, E. (2004). Transformação Didático Pedagógica do Esporte. Editora Unijuí.

 

Malta, D.C. (2014). Doenças Crônicas não transmissíveis, um grande desafio na sociedade contemporânea. Ciência e Saúde Coletiva, 19(1), 4-4. https://doi.org/10.1590/1413-81232014191.0084 

 

Milistetd, M., Nascimento, J.V. do, Silveira, J., e Fusverki, D. (2014). Análise da organização competitiva de crianças e jovens: adaptações estruturais e funcionais. Revista Brasileira de Ciência do Esporte, 36(3), 671-678. https://doi.org/10.1590/2179-325520143630012

 

Noce, F., Simim, M.A.M., e Mello, M.T. (2009). A percepção de qualidade de vida de pessoas portadoras de deficiência física pode ser influenciada pela prática de atividade física. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 15(3), 174-178. https://doi.org/10.1590/S1517-86922009000300002

 

Nunomura, M., Carrara, P., e Tsukamoto, M.H. (2010). Ginástica artística e especialização precoce: cedo demais para especializar, tarde demais para ser campeão. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 24(3), 121-132. https://doi.org/10.1590/S1807-55092010000300001

 

Oliveira, R.C. (2009). Avaliação em Educação Física: concepções e práticas de um professor. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 8(2), 63-74. http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/remef/article/view/1722

 

Oliveira, R.V., e Lanes, B.M. (2020). Leitura de jogo e tomada de decisão: elementos táticos do jogo nos esportes coletivos. Caderno de Educação Física e Esporte, 18(1), 69-75. https://doi.org/10.36453/2318-5104.2020.v18.n1.p69

 

Pedroso, B., e Pilatti, L.A. (2012). Guia de avaliação de qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho. Editora UEPG.

 

Pilatti, L.A., Pedroso, B., e Gutierrez, G.L. (2010). Propriedades psicométricas de instrumentos de avaliação: um debate necessário. Revista Brasileira de Ensino de Tecnologia e Ciência, 3(1), 81-91. https://doi.org/10.3895/S1982-873X2010000100005

 

Polissini, M.L.C., e Ribeiro, L.C. (2014). Exercício físico como um fator de proteção para a saúde de servidores públicos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 20(5), 340-344. https://doi.org/10.1590/1517-86922014200502114

 

Resende, R., Sá, P., e Lima, R. (2017). Ensino dos Jogos Desportivos Coletivos: Professores experientes vs estagiários. Journal of Sport Pedagogy and Research, 3(2), 11-19. https://www.researchgate.net/publication/323737640

 

Reverdito R.S., e Scaglia, A.J. (2009). Pedagogia do esporte: Jogos Coletivos de Invasão. Phorte Editora.

 

Rufino, L.G.B., e Darido, S.C. (2012). Pedagogia do esporte e das lutas: Em busca de aproximações. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 26(2), 283-300. https://doi.org/10.1590/S1807-55092012000200011

 

Rufino, L.G.B., e Darido, S.C. (2013). Educação física escolar, tema transversal, saúde e livro didático: possíveis relações durante a prática pedagógica. Revista Brasileira de Ciência do Movimento, 21(3), 21-34. http://dx.doi.org/10.18511/0103-1716/rbcm.v21n3p21-34

 

Santana, W.C. (2008). Futsal: apontamentos pedagógicos na iniciação e na especialização. Editora Autores Associados.

 

Tubino, M.J.G. (2001). Dimensões sociais do esporte (2ª ed.). Cortez Editora.

 

WHO (2018). Physical activity. Key Facts. World Health Organization. https://www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/physical-activity


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 286, Mar. (2022)