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ISSN 1514-3465

 

Estado nutricional e satisfação com a imagem 

corporal: um estudo com trabalhadores da indústria

Nutritional State and Satisfaction with Body Image: a Study with Industry Workers

Estado nutricional y satisfacción con la imagen corporal: un estudio con trabajadores de la industria

 

Ana Paula Feix da Silva*

anafslvv@gmail.com

Analie Nunes Couto**

analiecouto@hotmail.com

Isabel Pommerehn Vitiello***

isabelv@unisc.br

Hildegard Hedwig Pohl****

hpohl@unisc.br

 

*Graduada em Nutrição

pela Universidade de Santa Cruz do Sul

Pós-graduanda em Nutrição Esportiva

pela Faculdade Dom Alberto

**Graduada em Nutrição

pela Universidade de Santa Cruz do Sul/UNISC

Especialização em Atenção Geriátrica Integrada

pelo Instituto de Geriatria e Gerontologia

da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/PUCRS

Especialização em Nutrição Clínica-Ênfase nas Doenças Crônicas e Obesidade

pela Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC

Mestra em Promoção da Saúde/UNISC

Doutorado em andamento em Gerontologia Biomédica

pela Escola de Medicina da PUCRS

***Graduada em Nutrição

pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

Mestre em Engenharia de Produção

pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Pós Graduação em Gerência em Recursos Humanos

pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)

MBA em Gestão da Aprendizagem e Modelos Híbridos de Educação

pelo Centro União das Américas (UniAmérica)

Atualmente é professora assistente do Curso de Nutrição

e Chefe do Departamento Ciências da Saúde na UNISC

****Graduada em Educação Física

Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul

Mestra em Desenvolvimento Regional pela UNISC

Doutora em Desenvolvimento Regional pela UNISC

Atualmente é professora da UNISC

Docente do Curso de Mestrado e Doutorado em Promoção da Saúde

(Brasil)

 

Recepção: 17/07/2020 - Aceitação: 16/10/2021

1ª Revisão: 12/10/2021 - 2ª Revisão: 17/09/2021

 

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Citação sugerida: Silva, A.P.F. da, Couto, A.N., Vitiello, I.P., e Pohl, H.H. (2021). Estado nutricional e satisfação com a imagem corporal: um estudo com trabalhadores da indústria. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(283), 121-132. https://doi.org/10.46642/efd.v26i283.2456

 

Resumo

    Este estudo buscou avaliar a percepção da imagem corporal e suas associações com dados demográficos e antropométricos de trabalhadores da indústria. Trata-se de um estudo transversal, que utilizou dados de 38 trabalhadores de ambos os sexos, com idades entre 26 e 50 anos. As variáveis antropométricas avaliadas foram: índice de massa corporal, relação cintura-quadril, circunferência da cintura e escala de silhuetas de Stunkard para a satisfação com a imagem corporal. O teste de Qui-quadrado de Pearson foi utilizado para avaliar a associação entre as variáveis. O sexo feminino apresentou maior insatisfação com a imagem corporal quando comparado com o masculino. Foram encontradas associações entre insatisfação com imagem corporal e índice de massa corporal (IMC) em ambos os sexos e relação cintura-quadril (RCQ) no sexo feminino. Os resultados encontrados sugerem uma insatisfação com a imagem corporal em indivíduos com excesso de peso e risco cardiovascular.

    Unitermos: Imagem corporal. Índice de massa corporal. Trabalhadores da indústria.

 

Abstract

    This study sought to evaluate the perception of body image and its associations with demographic and anthropometric data of industry workers. It is a cross-sectional study, which used data from 38 workers of both sexes, aged between 26 and 50 years. The anthropometric variables evaluated were: body mass index, waist-to-hip ratio, waist circumference and Stunkard's silhouette scale for satisfaction with body image. Pearson's chi-square test was used to assess the association between variables. The female sex presented greater dissatisfaction with the body image when compared to the male. Associations were found between dissatisfaction with body image and body mass index (BMI) in both sexes and waist-hip ratio (WHR) in females. The results found suggest dissatisfaction with body image in individuals with excess weight and cardiovascular risk.

    Keywords: Body image. Body mass index. Industry workers.

 

Resumen

    Este estudio buscó evaluar la percepción de la imagen corporal y sus relaciones con datos demográficos y antropométricos de trabajadores y trabajadoras de la industria. Se trata de un estudio transversal, que utilizó datos de 38 trabajadores de ambos sexos, con edades comprendidas entre los 26 y los 50 años. Las variables antropométricas evaluadas fueron: índice de masa corporal, relación cintura-cadera, circunferencia de cintura y escala de silueta de Stunkard para la satisfacción con la imagen corporal. Se utilizó la prueba de chi-cuadrado de Pearson para evaluar la asociación entre variables. Las mujeres mostraron una mayor insatisfacción con su imagen corporal en comparación con los hombres. Se encontraron asociaciones entre la insatisfacción con la imagen corporal y el índice de masa corporal (IMC) en ambos sexos y la relación cintura-cadera (ICC) en las mujeres. Los resultados encontrados sugieren una insatisfacción con la imagen corporal en individuos con exceso de peso y riesgo cardiovascular.

    Palabras clave: Imagen corporal. Índice de masa corporal. Trabajadores de la industria.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 283, Dic. (2021)


 

Introdução 

 

    A transição epidemiológica e nutricional observada no cenário atual do mundo, incluindo o Brasil, tem demonstrado um aumento significativo de sobrepeso e obesidade. Em dez anos, o sobrepeso cresceu 26,3%, evoluindo de 42,6% (2006) para 53,8% em 2016 (Brasil, 2017). O excesso de peso e obesidade estão associadas a consequências adversas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes e outros distúrbios. (Martin, Mani, e Mani, 2015)

 

    Ao mesmo tempo em que o acúmulo excessivo de peso pode trazer agravantes à saúde, também são evidentes as repercussões psicossociais, na sua maior parte negativas, relacionadas à imagem corporal (Araújo, Pena, e Freitas, 2015). A preocupação com o peso gera sofrimento e angústia ao indivíduo podendo, por vezes, refletir em sua vida social e profissional (Araújo et al., 2018). A percepção do indivíduo sob si mesmo e sua imagem corporal tornam-se fundamentais para a manutenção da qualidade de vida, uma vez que, a construção da imagem corporal é multidimensional, existem várias maneiras de avaliar seus componentes. (Amaral et al., 2015)

 

Imagem 1. Trabalhadores da indústria fizeram parte da pesquisa realizada na UNISC

Imagem 1. Trabalhadores da indústria fizeram parte da pesquisa realizada na UNISC

Fonte: Freepik.es

 

    Contudo, a antropometria é o método de análise da composição corporal mais utilizado para a avaliação do estado nutricional, por ser de fácil aplicabilidade, não invasivo e apresentar baixo custo (Damasceno et al., 2016). É importante ressaltar a relevância de que o Índice de Massa Corporal (IMC) seja usado em conjunto com outros métodos de determinação de gordura corporal. A combinação do IMC com medidas da distribuição de gordura pode ajudar a resolver alguns problemas do seu uso isolado na avaliação da obesidade e de doenças cardiometabólicas. Os indicadores antropométricos Relação Cintura-Quadril (RCQ) e Circunferência da Cintura (CC) estão associados na avaliação da obesidade central, sendo amplamente utilizados em estudos epidemiológicos, na identificação do risco cardíaco. (Pohl et al., 2018)

 

    Portanto, esta pesquisa propõe-se avaliar a satisfação com a imagem corporal e suas associações com dados demográficos e antropométricos de trabalhadores da indústria.

 

Metodologia 

 

    Trata-se de uma pesquisa com delineamento transversal, de caráter analítico. A pesquisa utilizou dados de 38 trabalhadores da indústria que fizeram parte do projeto de pesquisa “Novas Abordagens em Biodinâmica para Diagnóstico e Prevenção de Obesidade e Comorbidades em Trabalhadores e Escolares”, realizada na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). As coletas de dados foram realizadas em 2015.

 

    Foram utilizadas do banco de dados da pesquisa, as variáveis demográficas: sexo, idade e estado civil. Para a avaliação do estado nutricional aplicou-se as variáveis antropométricas IMC, RCQ e CC.

 

    Para a classificação do IMC seguiu-se as orientações da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2006), e divididos em eutróficos e em excesso de peso. A CC foi classificada segundo os pontos de corte propostos por Lean, Han, e Morrison (1995), e classificados em sem risco e com risco, sendo considerado em risco aumentado para mulheres (CC > 80 cm) e para homens (CC > 94 cm).

 

    A RCQ foi realizada conforme a metodologia de Norton, e Olds (2000), sendo, a partir destes, classificada de acordo com Heyward, e Stolarczyk (2000), que dispõe mulheres e homens conforme a idade (de 20 a 69 anos), e divididos em baixo risco e com risco, considerando com risco aqueles com risco moderado, alto ou muito alto.

 

    Para a avaliação da percepção corporal foi utilizada a escala de 9 silhuetas para cada sexo, proposta por Stunkard et al. (1983) que representam variações de figuras humanas em ordem crescente no tamanho corporal, com os valores médios de IMC entre 19,6 e 39,78 kg/m². Nessa escala, o indivíduo escolhe o número da silhueta que considera semelhante à sua aparência corporal real e aquela que considera semelhante com a sua aparência corporal ideal. As categorias estabelecidas a partir desta proposição são classificadas como: baixo peso (1), peso recomendado (Imagem 2 a 5 da escala), sobrepeso (Imagem 6 e 7 da escala) e obesidade (Imagem 8 a 9 da escala), para imagem atual e ideal.

 

    A avaliação da satisfação corporal foi obtida através da subtração do valor da imagem corporal real com o da imagem corporal ideal, permitindo classificar pontuação igual à zero os que estão satisfeitos com a sua aparência, e se difere de zero, estão insatisfeitos. Em caso de a diferença ser positiva considerou-se uma insatisfação pelo excesso de peso e, quando negativa, pelo peso estar abaixo do ideal. (Couto et al., 2018)

 

    A análise estatística foi realizada no programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 22.0. Realizou-se estatística descritiva para caracterizar a amostra e apresentada em média e desvio padrão. Os dados foram testados quanto à normalidade utilizando o teste de Shapiro-Wilk. Após foi aplicado, para as variáveis paramétricas, o teste t de Student para amostras independentes entre os grupos, e para as variáveis com distribuição não-paramétricas foi utilizado o teste de Mann-Whitney. A satisfação foi apresentada em frequência e percentual e associada pelo teste de associação de qui-quadrado de Pearson, com dados demográficos e antropométricos segundo sexo, sendo considerado para níveis de significância p<0,05.

 

    O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Santa Cruz do Sul, sob o parecer número 3.078.158.

 

Resultados 

 

    Foram analisados os dados de 38 trabalhadores industriários, sendo 68,4% mulheres (n=26), com idade média de 36,46 ± 7,03 anos, e 31,6% (n=12) homens com idade média de 38,92 ± 3,23 anos. Quanto ao estado civil, 78,9% (n=30) eram casados. Na Tabela 1 estão apresentadas as características antropométricas dos trabalhadores segundo sexo. Foram encontradas diferenças significativas entre os sexos para as médias da estatura e do RCQ.

 

Tabela 1. Características demográficas e antropométricas dos trabalhadores 

da indústria, segundo sexo. Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil, 2015

 

Geral

n (38)

Feminino

n (26)

Masculino

n (12)

p

Idade (anos)

37,24 ± 6,15

36,46 ± 7,03

38,92 ± 3,23

0,149

Peso (kg)*

70,95 ± 16,59

67,77 ± 16,99

77,83 ± 13,94

0,053

Estatura (m)

1,62 ± 0,10

1,57 ± 0,07

1,72 ± 0,07

< 0,001

IMC (kg/m2) *

26,85 ± 5,25

27,17 ± 5,98

26,17 ± 3,28

0,792

CC (cm)

82,79 ± 11,77

81,18 ± 12,99

86,26 ± 7,94

0,222

RCQ

0,81 ± 0,07

0,78 ± 0,58

0,87 ± 0,32

£ 0,001

IMC: Índice de Massa Corporal. CC: Circunferência da Cintura. RCQ: Relação Cintura Quadril. 

Resultados em média (± desvio padrão). Teste t para amostras independentes. 

*Teste de Mann-Whitney, considerando p <0,05 (5%) significativo. Fonte: Dados da pesquisa

 

    Na Tabela 2 estão descritas as associações da satisfação e insatisfação da imagem corporal com dados antropométricos e demográficos. Em relação à percepção da imagem corporal, foram encontradas associações com o IMC (p + 0,006) e RCQ (p + 0,012) no sexo feminino, e para IMC (p + 0,037) no sexo masculino.

 

Tabela 2. Associação entre satisfação e insatisfação da imagem corporal com dados 

antropométricos e demográficos. Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil, 2015

 

Masculino 12 (31,6%)

 

Feminino 26 (68,4%)

 

 

 

Satisfeito

n (%)

Gostaria de aumentar

n (%)

Gostaria de diminuir

n (%)

p

 

Satisfeito

n (%)

Gostaria de aumentar

n (%)

Gostaria de diminuir

n (%)

p

Estado civil

Solteiro

1 (100,0)

0 (0,0)

0 (0,0)

0,466

3 (42,9)

1 (14,2)

3 (42,9)

0,792

Casado

4 (36,4)

2 (18,2)

5 (45,4)

6 (31,6)

2 (10,5)

11 (57,9)

Idade

25-35 anos

1 (50,0)

0 (0,0)

1 (50,0)

0,787

6 (46,2)

1 (7,6)

6 (46,2)

0,445

36-50 anos

4 (40,0)

2 (20,0)

4 (40,0)

3 (23,1)

2 (15,4)

8 (61,5)

IMC

Eutrófico

2 (50,00)

2 (50,00)

0 (0,0)

0,037

7 (53,8)

3 (23,1)

3 (23,1)

0,006

Excesso de peso

3 (37,5)

0 (0,0)

5 (62,5)

2 (15,4)

0

11 (84,6)

CC

Sem risco

5 (45,4)

2 (18,2)

4 (36,4)

0,466

6 (42,9)

3 (21,4)

5 (35,7)

0,081

Com Risco

0 (0,0)

0 (0,0)

1 (100,0)

3 (25,0)

0 (0,0)

9 (75,0)

RCQ

Baixo risco

1 (20,0)

2 (40,0)

2 (40,0)

0,152

4 (100,0)

0 (0,0)

0 (0,0)

0,012

Com Risco

4 (57,1)

0 (0,0)

3 (42,9)

5 (22,7)

3 (13,6)

14 (63,6)

IMC: Índice de Massa Corporal. CC: Circunferência da Cintura. RCQ: Relação Cintura Quadril. 

*Teste de Qui-quadrado de Pearson, considerando p <0,05 (5%) significativo. Fonte: Dados da pesquisa

 

    O sexo masculino apresentou maior insatisfação com a imagem corporal entre os casados, em que 45,5 % gostariam de diminuir o peso corporal. Entre os indivíduos com idades entre 36 e 50 anos, 60,0% apresentaram insatisfação, destes 40% gostariam de reduzir o peso e 20% gostariam de aumentar. Também apresentaram insatisfação com a imagem corporal 62,5% dos homens com excesso de peso.

 

    No sexo feminino, foi observada maior insatisfação com a imagem corporal com a escolha de uma silhueta ideal menor que a atual, expressando a vontade de reduzir o peso corporal atual. Esta insatisfação foi observada com maior percentual entre as mulheres casadas (57,9 %) e com idades entre 36 e 50 anos (61,5%). Do mesmo modo, 84,6% das mulheres com excesso de peso, 75% das mulheres que apresentaram risco para CC e 63,6% que apresentaram risco para RCQ, demostraram insatisfação com a silhueta atual e querer reduzir o peso.

 

    Quanto à satisfação com a imagem corporal, 45,4% dos trabalhadores do sexo masculino com baixo risco para CC demostraram estarem satisfeitos com a sua imagem corporal, assim como 57,1% trabalhadores classificados com risco para RCQ referiram satisfação com a imagem corporal. No sexo feminino, 42,9 % trabalhadoras com baixo risco para CC e 53,8 % das eutróficas apresentaram satisfação com a imagem corporal.

 

Discussão 

 

    Os resultados demostraram associação da insatisfação com imagem corporal para o IMC em ambos os sexos e RCQ no sexo feminino. Houve maior insatisfação com a imagem corporal no sexo feminino.

 

    As mulheres demonstram-se mais insatisfeitas que os homens no que se refere à percepção da autoimagem corporal, segundo Korn et al. (2013). Resultados semelhantes foram encontrados em estudos de Souto et al. (2016) que compararam a imagem corporal de 300 mulheres, entre 20 e 83 anos, divididas em adultas, meia-idade e idosas praticantes e não praticantes de hidroginástica. Observou-se uma diferença significativa entre imagem corporal atual e desejada em todos os grupos (p=0,001), ou seja, insatisfação com a imagem corporal.

 

    Contudo, é importante ressaltar que a literatura tem demonstrado que a insatisfação com a imagem corporal está presente em ambos os sexos. Enquanto os homens desejam ter uma silhueta maior, provavelmente relacionada ao ganho de massa corporal magra, as mulheres desejam uma silhueta menor, relacionada à magreza (Rio, 2016). Resultados semelhantes foram encontrados em um estudo conduzido em universitários, onde houve um maior percentual de mulheres insatisfeitas por excesso de peso, enquanto os homens expuseram maior insatisfação por magreza. (Alves et al., 2017)

 

    Nesse sentido, em um estudo realizado em duas escolas do estado de São Paulo observou que 85,8% de sua amostra apresentava insatisfação corporal, desejando obter uma silhueta menor do que a atual (Lira et al., 2017). Apoiando esse estudo, Miranda et al. (2012) verificou a prevalência de insatisfação corporal em universitários de diferentes áreas de conhecimento, bem como a relação com sexo e com estado nutricional, utilizando de escala de silhuetas para adultos, resultou que na maioria dos indivíduos de ambos os sexos foram classificados como insatisfeitos (76,6%) com sua imagem corporal.

 

    Em relação ao estado civil verificou-se que a maior proporção dos trabalhadores casados de ambos os sexos, se sentem insatisfeitos com a sua aparência corporal e gostariam de diminuir o seu peso atual. O casamento pode influenciar o ganho de peso, principalmente em mulheres. As razões podem ser redução no gasto energético e aumento na ingesta calórica por alterações nos hábitos sociais (Diretrizes Brasileiras de Obesidade - ABESO, 2016). Pode-se considerar também que indivíduos casados ou que vivem com companheiro/a realizem menos atividade física geral, seja por disporem de pouco tempo livre, seja por gastarem mais tempo cuidando da família e da casa. (Soares, e Barreto, 2014)

 

    A insatisfação da imagem corporal com o excesso de peso tem se tornado cada vez mais comum, de modo que, não estar dentro dos padrões de beleza pode constituir-se em frustação, levando à perda da autoestima, insegurança, culpa e vergonha (Silva et al., 2018). Os resultados obtidos no presente estudo referentes ao estado nutricional utilizando o IMC demonstraram que a prevalência maior de indivíduos com excesso de peso, reflete o quadro atual do país.

 

    Silva, Drumond, e Quintão (2015), analisaram o perfil antropométrico, hábito alimentar, condições de trabalho e presença de patologias em colaboradores de unidades de alimentação e nutrição do município de Eugenópolis-MG, e encontraram 82 % de funcionários com excesso de peso. Conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), 56,9% dos brasileiros têm excesso de peso.

 

    As análises realizadas demonstraram que os indivíduos nas categorias de sobrepeso e obesidade apresentaram maior insatisfação com a imagem corporal quando comparados à categoria normal, segundo o IMC. Sabe-se que além de acarretar prejuízos à saúde física do indivíduo, o IMC elevado pode aumentar a prevalência de doenças cardiovasculares. (Mansur et al., 2012)

 

    A contribuição desse estudo se dá no sentido de fornecer informações para o conhecimento dos profissionais da saúde a respeito das condições de saúde de adultos trabalhadores, e também de possíveis políticas e programas com vistas a possibilitar mais qualidade de vida e saúde ao trabalhador. No entanto, a pesquisa apresenta algumas limitações por ser um estudo transversal com um pequeno número amostral, o que pode ter reduzido à força estatística na determinação de algumas associações. O fato da amostra não apresentar o mesmo número de indivíduos em ambos os sexos, pode ter limitado a detecção de associações significativas, particularmente no sexo masculino. Nossa pesquisa é uma tentativa inicial de verificar a percepção de trabalhadores da indústria quanto a sua imagem corporal.

 

Conclusão 

 

    Em conclusão, foram encontradas associações da satisfação com a imagem corporal e o IMC para ambos os sexos e uma associação entre a IC (Imagem corporal) e o RCQ no sexo feminino. Os resultados encontrados sugerem uma insatisfação com a imagem corporal em indivíduos com excesso de peso e risco cardiovascular, em indivíduos casados, com maior idade, sendo maior a frequência entre o sexo feminino.

 

    Faz-se necessário maior atenção, no que se refere a cuidados nutricionais, a este grupo de trabalhadores, com foco na promoção e proteção da saúde, uma vez que a maioria dos indivíduos se encontra fora da faixa de peso ideal considerado saudável, acarretando riscos de desenvolvimento de doenças e consequentemente acarretando prejuízos a saúde.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 283, Dic. (2021)