Lecturas: Educación Física y Deportes | http://www.efdeportes.com

ISSN 1514-3465

 

Jogos reduzidos de futsal: comparação entre 

atividades com e sem limitação de passes

Futsal Small-Sided Games: Comparison Between 

Activities With and Without Pass Restriction

Juegos reducidos de futsal: comparación entre 

actividades con y sin limitaciones de pases

 

Thiago André Rigon

thiago.rigon@usp.br

 

Graduado em Educação Física

Mestrado em Ciências da Atividade Física

Doutoramento (em andamento) em Educação Física e Esporte

Escola de Educação Física e Esporte. Universidade de São Paulo (USP)

(Brasil)

 

Recepção: 01/07/2020 - Aceitação: 11/02/2021

1ª Revisão: 12/11/2020 - 2ª Revisão: 13/01/2021

 

Level A conformance,
            W3C WAI Web Content Accessibility Guidelines 2.0
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

 

Creative Commons

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Rigon, T.A. (2021). Jogos reduzidos de futsal: comparação entre atividades com e sem limitação de passes. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(276), 63-74. https://doi.org/10.46642/efd.v26i276.2388

 

Resumo

    O presente trabalho teve como objetivo investigar a limitação de passes entre os atacantes no comportamento tático ofensivo (ações) em situação de jogo reduzido no futsal. Foram analisadas duas atividades em formato de jogo reduzido que consistiram em 2x1+G (dois atacantes contra um marcador e um goleiro, em meia quadra), nomeadas 2x1a e 2x1b, sem e com a promoção da limitação de passes entre os atacantes, respectivamente. Participaram da pesquisa 59 alunos de nível iniciante, com idades entre 9 e 12 anos, integrantes de cursos extracurriculares de futsal de 4 escolas particulares de São Paulo. Os participantes foram divididos em 7 grupos de prática, entre 7 e 9 alunos cada, que realizaram os jogos reduzidos durante 3 minutos e 30 segundos cronometrados, sendo uma participação em cada formato de jogo. A sessão de coleta de dados foi organizada pelo pesquisador gerente durante uma sessão de treinamento de futsal regular dos alunos nos seus respectivos grupos escolares. Os resultados apontaram que a frequência das ações em cada formato de jogo apresentou diferenças estatisticamente significativas (p<0,05) para os critérios direcionamento para o rebote e a abertura de espaço para o companheiro (jogador sem bola), e passes e duelos 1x1 (jogador com a bola). Isso indica que a manipulação das estruturas dos jogos reduzidos pode atender a diferentes finalidades pedagógicas.

    Unitermos: Esporte. Ensino. Jogos.

 

Abstract

    This study aimed to investigate the promotion of pass restriction between attackers on the offensive tactical behavior (actions) of the players, in a context of small-sides games of futsal. Two different game settings were analyzed consisting in 2x1+G (two attackers against a defender and a goalkeeper, in half court), without (2x1a) and with (2x1b) the pass restriction between attackers. Participated in the research 59 students, between 9 and 12 years old, beginner level, members of extracurricular futsal courses from 4 private schools in São Paulo. The students were divided within 7 groups, between 7 and 9 students each. The players participated for 3 minutes and 30 seconds in each game setting. The researcher managed the activities during a regular futsal training session of the students. The results showed that the frequency of actions in each game format had statistically significant differences (p <0.05), such as the direction for the rebound and the opening of space for the partner (player without ball), and the execution of passes and 1x1 duels (player with the ball). It indicates that the manipulation of the structures of small-sided games can serve different pedagogical purposes.

    Keywords: Sport. Teaching. Games.

 

Resumen

    El presente estudio tuvo como objetivo investigar la limitación de pases entre atacantes en conductas (acciones) tácticas ofensivas en una situación de juego reducido en el futsal. Se analizaron dos actividades en formato de juego reducido que consistió en 2x1+G (dos delanteros contra marcador y un portero, en media cancha), denominados 2x1a y 2x1b, sin y con el desarrollo de la limitación de pases entre los atacantes, respectivamente. Participaron de la investigación 59 estudiantes, de entre 9 y 12 años, miembros de cursos extraescolares de futsal de 4 escuelas privadas de São Paulo. Los participantes se dividieron en 7 grupos de práctica, de entre 7 y 9 estudiantes cada uno, que realizaron los juegos reducidos durante 3 minutos y 30 segundos cronometrados, con una participación en cada formato de juego. La sesión de recolección de datos fue organizada por el investigador a cargo durante una sesión regular de entrenamiento de futsal para estudiantes en sus respectivos grupos escolares. Los resultados mostraron que la frecuencia de acciones en cada formato de juego presentaba diferencias estadísticamente significativas (p<0.05) para los criterios direccionamiento al rebote y la apertura de espacio para el compañero (jugador sin pelota), y pases y enfrentamientos 1x1 (jugador con pelota). Esto indica que la aplicación de las estructuras de los juegos reducidos puede servir para diferentes propósitos pedagógicos.

    Palabras clave: Deporte. Enseñanza. Juegos.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 276, May. (2021)


 

Introdução 

 

    No que diz respeito ao processo de ensino e treinamento das modalidades esportivas coletivas, as propostas tecnicistas vêm sendo substituídas por práticas sistêmicas,reconhecidas por permitirem aos jogadores resolverem problemas do jogo em contexto real de disputa (Travassos et al., 2016). Surgem, então, os jogos reduzidos (JRs), que são considerados importantes instrumentos pedagógicos para a formação de jogadores competentes. (Scaglia et al., 2013; Praça et al., 2016; Ferreira et al., 2019; Rigon, 2019)

 

    Procedente do termo em inglês small-sided games,o JR preserva a dimensão situacional da execução motora, isto é, as informações presentes na relação entre jogadores e contexto (Newell, 1986) que regula mas decisões e ações no jogo (Gibson, 1979; Araújo et al., 2006). Argumenta-se que essas versões prototípicas do jogo formal (JF), baseadas em teorias ecológicas da aprendizagem, superam em eficácia os treinamentos fora de contexto de jogo (analíticos), pois garantem a transferências das aprendizagens do treino para a competição. (Araújo et al., 2006; Rigon et al., 2020)

 

    Embora alguns trabalhos tenham se dedicado a propor e discutir algumas manipulações estruturais na construção de tarefas de treino (ver Silva, 2008; Bayer, 1992; Castelo, 1994; Garganta, 1998), o JR ainda necessita de investigações mais consistentes sobre sua eficácia, especialmente no que diz respeito ao efeito sobre o comportamento dos jogadores (Lizana et al., 2015; Padilha et al., 2017; Ometto et al., 2018). Esse cenário de incerteza sobre a utilização do jogo enquanto ferramenta de treino tem levado professores e treinadores a fazerem uso indiscriminado desse tipo de atividade, não ficando evidente a intencionalidade de sua implementação. Assim, o potencial de ensino-aprendizagem do jogo por meio do JR acaba sendo significativamente limitado.

 

    Por conta do grande número de possibilidades de construção e adaptação das tarefas de treino, ainda persistem significativas lacunas de investigação (Rigon et al., 2020). Por exemplo, a promoção da limitação de troca de passes entre os atacantes é uma modificação estrutural do jogo que ainda não foi estudada com profundidade, o que demonstra o avanço e a originalidade do presente estudo. Visando contribuir com a compreensão sobre a utilização do JR, o presente trabalho teve como objetivo investigar a limitação de passes entre os atacantes sobre o comportamento tático ofensivo (ações) em situação de JR no futsal.

 

Metodologia 

 

Perfil do estudo e caracterização da amostra 

 

    O estudo tem caráter transversal e delineamento quase-experimental (Tomas, e Nelson, 2002). A amostra da pesquisa foi composta por 59 indivíduos, do sexo masculino, escolhidos por conveniência, com idades entre 9 e 12 anos (11 ± 0,78), matriculados em cursos extracurriculares de futsal em 4 escolas particulares de São Paulo (capital). Os alunos compuseram 7 grupos de prática (G), sendo: G1 - 9 alunos, G2 - 7 alunos, G3 - 8 alunos, G4 - 9 alunos, G5 - 8 alunos, G6 - 9 alunos e G7 - 9 alunos. Os grupos foram divididos pelo pesquisador-gerente de maneira aleatória dentro de cada instituição, de forma a atender apenas o critério de equilíbrio numérico de alunos dentro dos grupos em cada sessão de treino. Cada grupo de alunos participou de dois jogos reduzidos (JRs) de futsal realizados na mesma sessão de treino, de acordo com uma sequência previamente estabelecida. Para evitar discrepâncias de nível técnico e caracterizar o nível de iniciação no jogo, não participaram alunos federados na modalidade, estendendo-se para as modalidades futebol de campo e futebol society.

 

Caracterização das instituições 

 

    As instituições que aceitaram a realização do estudo fazem parte do grupo de escolas particulares da zona sul e oeste de São Paulo, com famílias de nível socioeconômico considerados alto e mais alto (IBGE, 2014). Todas elas apresentam programas esportivos extracurriculares em sua grade, incluindo o futsal, com treinamentos entre 1 hora e 1 hora 30 minutos por sessão, uma a duas vezes por semana,após o horário regular das aulas curriculares.

 

Materiais e locais de prática 

 

    Para a consecução das atividades os seguintes materiais foram disponibilizados pelas escolas: de duas a quatro bolas de futsal (Penalty Max 200, seguindo as especificações de tamanho, peso e circunferência estabelecidas pela Federação Paulista de Futebol de Salão), 3 a 4 jogos de coletes de cores distintas e cones demarcatórios. O apito, o cronômetro, o quadro magnético de futsal e as câmeras digitais para a filmagem das atividades foram disponibilizados pelo pesquisador. As atividades se desenvolveram em espaços oficiais de prática da modalidade (quadras poliesportivas cobertas e descobertas com demarcações referentes ao futsal e balizas em ambos os lados), sendo que todas as instituições possuíam infraestrutura de apoio (bancos, bebedouros, enfermaria) para atender alunos, professores e responsáveis pelo estudo.

 

Procedimento ético 

 

    O estudo passou pela aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos, atendendo às normas do tratado de Helsinki de 1996. O parecer consubstanciado do CEP (comitê de ética e pesquisa) foi registrado como “aprovado” podendo ser identificado pelo protocolo CAAE – 88952218.0.0000.5390 (Plataforma Brasil).

 

    Após um contato inicial com os responsáveis das quatro instituições escolares, foi dada a autorização para a realização do estudo, e os indivíduos e responsáveis assinaram, respectivamente, os termos de assentimento e consentimento, conforme indicado no protocolo estabelecido pelo gerente da pesquisa realizada ao nível de mestrado em Ciências da Atividade Física pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo – EACH-USP.

 

Instrumento de avaliação 

 

    Diante da insatisfação com as possibilidades para se avaliar o comportamento tático individual em situações de jogos reduzidos, partiu-se para a construção de uma nova ferramenta de análise, com a finalidade de tornar em observáveis e mensuráveis os principais conceitos ofensivos do modelo de jogo adotado para o estudo (Novaes et al., 2014). Foram selecionados para análise os seguintes elementos táticos ofensivos:1) jogador sem a posse da bola (participação direta): a criação de linha de passe e a desmarcação; 2) jogador sem a posse da bola (participação indireta): a ação exclusiva de apoio ofensivo/defensivo; e 3) jogador com a posse da bola: a criação de linha de chute, o controle e o direcionamento da bola.

 

Procedimento de coleta de dados 

 

    O experimento foi realizado dentro das sessões regulares de treinamento de cada um dos grupos.Cada sessão de coleta de dados foi constituída pelos seguintes momentos: preparação do material, recepção dos alunos; apresentação do pesquisador, apresentação e explicação do funcionamento das atividades, aquecimento prévio, participação dos alunos nos dois formatos de jogos reduzidos (filmagem), encerramento da sessão e liberação dos alunos.Foi concedido um tempo de descanso de cinco minutos entre as atividades para a recuperação dos jogadores e explicação da atividade subsequente. Os JRs foram aplicados uma única vez e tiveram duração de três minutos e trinta segundos (3' 30'') cronometrados cada, aproximadamente quatro minutos (4') corridos, garantindo um tempo idêntico de prática de cada atividade (jogo) para os jogadores e grupos.O tempo de jogo selecionado para aplicação dos jogos foi escolhido com base no protocolo de análise da ferramenta FUT-SAT (Costa et al., 2011) que utiliza de quatro minutos (4') para a aplicação do JR e análise do desempenho dos praticantes.

 

    As explicações sobre o funcionamento das atividades foram normatizadas para cada grupo, evitando a interferência de comunicação, da seguinte maneira: inicialmente, foi realizada a explicação das regras da atividade e, em seguida, feita a abertura de espaço para os participantes tirarem dúvidas sobre os regulamentos apresentados. Não foram oferecidos instruções e reforços positivos sobre a atuação dos jogadores.

 

    A sequência de aplicação das atividades foi idêntica para os grupos participantes do estudo, sendo: (I) 2x1+G (goleiro) ou 2x1a, formato de ataque x defesa, em meio-campo; (II) 2x1+G (goleiro) ou 2x1b, formato de ataque x defesa, com limitação de passes entre os atacantes, em meio-campo. Segue a descrição das atividades:

  • (I) 2x1+G (goleiro) ou 2x1a (livre), formato de ataque x defesa, em meio campo: o jogo acontece em meio campo, 2x1+G (dois atacantes contra um marcador e um goleiro). Ele consiste no ataque de dois jogadores (que iniciam a jogada no centro da quadra) contra um marcador (que aguarda o início do ataque em região intermediária, permitindo que os atacantes iniciem o ataque sem interferência direta). Os atacantes têm como objetivo fazer o gol, enquanto os marcadores e goleiro têm como objetivo recuperar a bola ou, tirá-la do campo de jogo, caracterizando o final do lance. Quando isso ocorre, um novo marcador (definido entre os dois atacantes da formação anterior, sendo sempre aquele que participou por último do lance anterior) assume a função de defesa,e um novo ataque, com jogadores diferentes e dispostos em fila no centro da quadra, se inicia. As regras do jogo formal são mantidas, com a exceção da condição numérica de jogadores e de não existir a conversão natural da defesa em ataque (transição).

  • (II) 2x1+G (goleiro) ou 2x1b, formato de ataque x defesa, com limitação de passes entre os atacantes, em meio campo: o jogo acontece em formato idêntico ao anterior (I), porém os jogadores da equipe com a posse da bola podem trocar no máximo três passes entre si. Ou seja, caso a dupla tenha realizado o terceiro passe no mesmo lance de ataque, o jogador com a posse da bola no momento não poderá mais acessar o seu companheiro (“passar a bola”), que passa a ficar inutilizado no jogo. Caso ele receba a bola mesmo assim, o lance é encerrado, caracterizando um erro de passe do ataque.

    Para a gravação dos jogos foi utilizada uma câmara digital fixada em um tripé colocado nas arquibancadas e bases laterais das quadras, de forma a cobrir todo o terreno de jogo. As filmagens foram armazenadas em formato digital e disponibilizadas para a avaliação em um link da Internet (One Drive).

 

Análise de dados e estatística 

 

    Os dados referentes às ações, em termos de frequência (tipologia), foram coletados por grupo (G1 a G7) e discriminados em planilhas separadas. Ao final deste processo de coleta e plotagem de dados por grupo, os valores foram agrupados em uma planilha tomando como referência, nesse fase, cada jogo reduzido (JR).

 

    Foi realizada a soma das ações ofensivas observadas dos jogadores com e sem a posse da bola dos grupos (G1 a G7) para cada JR (2x1a e 2x1b), seguida da definição da porcentagem (%) da frequência das ações, por nível, em relação ao total.

As diferenças das frequências das ações ofensivas em cada JR foram analisadas pelo teste Qui-Quadrado, sendo p<0,05. As diferenças individuais, por categoria, foram comparadas pela análise dos resíduos padronizados, sendo p<0,05 ou ±1,96 DP (desvio padrão).

 

Resultados 

 

    Foram analisadas 1889 ações dos jogadores das equipes com a posse da bola (ênfase ofensiva), sendo 961 ações dos jogadores com a posse da bola e 928 ações dos jogadores sem a posse da bola, em situação de jogo reduzido (JR). Foram destacados os valores de resíduos padronizados acima ou muito próximos de 1,96 DP (indicando o aumento da frequência da ação pelo JR praticado), ou abaixo ou muito próximos de -1,96 DP (indicando a diminuição da frequência da ação pelo JR realizado), que indicaram que determinada ação de fato foi induzida positiva ou negativamente pelo tipo de jogo (2x1a ou 2x1b).

 

Tabela 1. Resíduos padronizados: comparação das ações nos 

jogos reduzidos 2x1a e 2x1b – jogadores sem a posse da bola

Critérios

Resíduo

Raiz valor esperado

Tipo de jogo

2x1a

2x1b

2x1a

2x1b

Jogador está fora do centro de jogo e não consegue/ não precisa participar

-0,47143

0,489033

5,241269

5,052632

Jogador fica parado, marcado e sem linha de passe

Não há

Não há

0

0

Jogador se movimenta, porém ainda está marcado e sem linha de passe

Não há

Não há

0

0

Jogador se movimenta desmarcando-se, porém sem linha de passe

0,032862

-0,03409

6,066354

5,848021

Jogador se movimenta com linha de passe, porém marcado

0,946185

-0,98151

1,018154

5,848021

Jogador se movimente desmarcando-se e com linha de passe

0,744266

-0,77205

19,04792

18,36237

Jogador fica parado, desmarcado e com linha de passe

0,685733

-0,71133

3,138162

3,025217

Jogador se direciona para rebote

-1,95473

2,027706

6,358371

6,129529

Jogador fica parado, porém deveria se mover para abrir/fechar espaço para melhor atuação do companheiro/equipe

Não há

Não há

0

0

Jogador se movimenta abrindo espaço para companheiro com a posse da bola

-1,60984

1,669946

1,609843

1,551904

Jogador se movimento abrindo espaço para companheiro sem a posse da bola

Não há

Não há

0

0

Jogador se movimenta de forma a equilibrar a equipe

Não há

Não há

0

0

Fonte: Dados da pesquisa

 

Tabela 2. Resíduos padronizados: comparação das ações nos 

jogos reduzidos 2x1a e 2x1b – jogadores com a posse da bola

Critérios

Resíduo

Raiz valor esperado

Tipo de jogo

2x1a

2x1b

2x1a

2x1b

Jogador não consegue controlar a bola

0,284394

-0,29680

4,332199

4,15115

Jogador inicialmente controla, porém em seguida “rifa” a bola

1,224632

-1,27804

3,308772

3,179494

Jogador inicialmente controla, porém em seguida direciona para companheiro marcado e sem linha de passe

0,937545

-0,97844

1,021109

0,978436

Jogador inicialmente controla, porém em seguida direciona para companheiro marcado, mas com linha de passe

0,662945

-0,69186

0,722033

0,691858

Jogador inicialmente controla, porém em seguida direciona para companheiro sem linha de passe, mas desmarcado

-0,18685

0,195004

4,566539

4,375697

Jogador inicialmente controla, porém em seguida direciona a bola para gol bloqueado

-0,13213

0,137889

3,229031

3,094085

Jogador inicialmente controla, porém duela (1x1) contra marcador longe do seu raio de ação

-0,92080

0,96096

4,843546

4,641127

Jogador controla a bola e direciona para companheiro desmarcado e com linha de passe

1,809431

-1,88835

14,38641

13,78518

Jogador controla a bola e direciona para gol com linha de chute

-0,99644

1,039902

10,90246

10,44683

Jogador controla a bola e duela (1x1) contra marcador próximo do seu raio de ação

-1,62135

1,692062

7,641281

7,321941

Jogador controla a bola e anda para espaço livre quando não há marcadores se opondo

-0,67771

0,707263

5,546042

5,314265

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Os dados indicam que o tipo de JR influenciou significativamente o padrão de comportamento ofensivo (ações) dos jogadores sem a posse da bola (Valor Qui-Quadrado: 17,76136) e com a posse da bola (Valor Qui-Quadrado: 23,30285).

 

    As frequências das ações dos jogadores de ataque sem e com a posse da bola que foram influenciadas pela promoção da limitação de passes em situação de JR são: (a) jogadores sem a posse da bola:“jogador se direciona para o rebote” e “jogador se movimenta abrindo espaço para companheiro com a posse da bola” (b) jogadores com a posse da bola: “jogador controla a bola e a direciona para companheiro desmarcado e com linha de passe” e “jogador controla a bola e duela contra marcador (1x1) próximo ao seu raio de ação”.

 

Discussão 

 

    O presente trabalho teve como objetivo investigar a limitação de passes entre os atacantes no comportamento tático ofensivo (ações) em situação de jogo reduzido no futsal. Tomando como referência a forma de interação entre os jogadores de ataque a partir da troca de posse da bola (passes) entre os atacantes, optou-se por manter o formato livre (2x1a) e restringir o número de passes a três por ataque entre os jogadores (2x1b), com a finalidade de verificar o efeito desta alteração nas ações dos atacantes sem e com a posse da bola. A pesquisa confirma a hipótese de que a alteração regulamentar proposta induz diferentes comportamentos dos jogadores nos dois formatos de jogo reduzido (JR).

 

    Apesar do crescente número de estudo com o futsal (Travassos et al. 2017; Ometto et al. 2018; Ferreira et al., 2019; Novaes et al., 2014; Rigon et al., 2020), inclusive sobre o impacto da utilização de jogos reduzidos (JRs) no comportamento tático de jogadores (Méndez et al., 2019), o efeito da restrição de passes entre os atacantes com e sem a posse da bola ainda não havia sido investigado, o que demonstra a originalidade do estudo.

 

    Na comparação das ações dos jogadores sem bola, ocorreram significativamente mais ações de movimentação de direcionamento para o rebote e tendência de aumento da ação de movimentação com intenção de abrir espaço para companheiro com a posse da bola no formato 2x1b. Esses aumentos podem ser entendidos como respostas à limitação do número de passes em 2x1b, que obrigou os atacantes a procurarem a finalização do ataque de forma mais rápida e objetiva em comparação com o formato 2x1a. Isto indica que esta alteração na regra do jogo também pode ter estimulado os atacantes a conseguiram antecipar com maior precisão o término do ataque, facilitando a leitura do direcionamento para o rebote. Impossibilitados de receberem a bola e trocar passes livremente, nesse mesmo formato (2x1b), os jogadores sem a posse da bola tiveram que agir com a finalidade de abrir espaço para o seu companheiro com a bola, para que ele mesmo tivesse êxito na sequência ou término do lance.

 

    Já na comparação das ações dos jogadores com bola, foram encontradas tendências de aumento da ação de direcionamento do controle da bola para companheiro desmarcado e com linha de passe no formato 2x1a, e tendência de aumento da ação de controle de bola e duelo contra marcador (1x1) próximo ao seu raio de ação no formato 2x1b. Esses resultados podem ser explicados pela regra imposta no formato 2x1b, que pode ter desestimulado a ação de passe (pois são limitados a três) e estimulado a ação de drible (para resolver os problemas de progressão com a bola e aproximação do gol par finalizar).

 

    No que diz respeito à circulação da bola entre os atacantes, no formato 2x1a, os jogadores com a posse da bola tiveram uma maior incidência de controle inicial e direcionamentos da bola para atacantes livres e com linha de passe. Pela facilitação da criação de linhas de passe, pelas possibilidades irrestritas de circulação da bola e por conta uma pequena pressão temporal imposta ao portador da bola, o formato 2x1a se mostrou útil para a construção de ataques com uma maior troca de bola entre os seus atacantes, através de uma elaboração coletiva aumentada. Isso indica que a objetividade requerida para jogar no 2x1b incitou algumas ações dos jogadores que levaram menos à troca de bola entre os atacantes (passes), e mais à aproximação do gol (rebotes e dribles) e ao término rápido do ataque (finalizações). Por outro lado, no jogo 2x1a, a possibilidade irrestrita de troca de bola entre os atacantes e a facilitação da criação coletiva dos lances intensificaram as ações relacionadas ao passe e ao oferecimento (criação de linha de passe + desmarcação).

 

Conclusões 

 

    Os estudo apontou que a liberação ou restrição de passes entre atacantes podem ser utilizadas com diferentes finalidades pedagógicas no JR. Isso indica que o conhecimento do efeito da manipulação estrutural no comportamento tático (ações) dos jogadores se coloca como condição básica para a criação de cenários de prática de ensino e treinamento do esporte do futsal. A prática das atividades experimentais (jogos reduzidos) na mesma sessão de treinamento e sequência foi uma limitação do estudo, pelo fato da aprendizagem de determinadas ações de um jogo eventualmente poderem influenciar diretamente as ações no jogo subsequente. Existem também questões relacionadas a fadiga, que não foram consideradas.

 

    Mesmo que sejam possíveis generalizações a respeito da utilização do JR, ainda há a necessidade da construção de outros estudos que possam apontar com maior precisão o impacto dessas atividades em grupos com diferentes faixas etárias, níveis de prática e condições socioeconômicas. Outros formatos de JR também devem ser explorados, ampliando as considerações sobre a implementação de atividades desta natureza, a fim de que se obtenham respostas mais contundentes e consistentes.

 

Referências 

 

Araújo, D., Davids, K., e Hristovski, R. (2006). The Ecological Dynamics of Decision Making in Sport. Psychology of Sport and Exercise, 7(6), 653-676. https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2006.07.002

 

Bayer, C. (1992). La enseñanza de los Juegos Desportivos Colectivos (2ª edição). Editora Hispano Europea.

 

Castelo, J. (1994). Futebol: modelo técnico-táctico do jogo. FMH Edições.

 

Costa, I.T., Garganta, J., Greco, P.J., Mesquita, I., e Maia, J. (2011). Sistema de Avaliação Táctica no Futebol (FUT-SAT): Desenvolvimento e Validação Preliminar. Motricidade, 7(1), 69-84. http://cev.org.br/biblioteca/sistema-avaliacao-tactica-futebol-fut-sat-desenvolvimento-validacao-preliminar/

 

Ferreira, EC, Belozo, FL, Grandim, G., Lizana, C., Machado, JC, Misuta, M., Galatti, LR, e Scaglia, AJ (2019). A influência de diferentes formatos de jogos nos aspectos técnicos e táticos de jogadores de futebol. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 33(4), 551-560. https://doi.org/10.11606/issn.1981-4690.v33i4p551-560

 

Garganta, J. (1998). O Ensino dos jogos desportivos colectivos. Perspectivas e tendências. Revista Movimento, 4(8), 19-27. https://doi.org/10.22456/1982-8918.2373

 

Gibson, J.J. (1979). The ecological approach to visual perception. Houghton Mifflin.

 

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2014). Institucional. Brasil.

 

Lizana, C.J.R., Reverdito, R.S., Brenzikofer, R., Macedo, D.V., Misuta, M.S., e Scaglia, A.J. (2015). Technical and tactical soccer players' performance in conceptual small-sided games. Motriz: Journal of Physical Education, 21(3), 312-320. https://doi.org/10.1590/S1980-65742015000300013

 

Méndez, C., Gonçalves, B., Santos, J., Ribeiro, J. N., e Travassos, B. (2019). Attacking Profiles of the Best Ranked Teams From Elite Futsal Leagues. Frontiers Psychology, 10(3), 1370. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.01370

 

Newell, K.M. (1986). Constraints on the Development of Coordination. In M. Wade e H.T.A. Whiting (Eds.), Motor Development in Children: Aspects of Coordination and Control (pp. 341-360). Martinus Nijhoff.

 

Novaes, R.B., Rigon, T.A., e Dantas, L.E.P.B.T. (2014). Modelo do jogo de futsal e subsídios para o ensino. Revista Movimento, 20(3), 1039-1060. https://doi.org/10.22456/1982-8918.39355

 

Ometto, L.B., Vasconcellos F., e Cunha, F.A. (2018). How manipulating task constraints in small-sided and conditioned games shapes emergence of individual and collective tactical behaviours in football: A systematic review. International Journal of Sports Science & Coaching,13(6), 1–15. https://doi.org/10.1177%2F1747954118769183

 

Padilha, M., Guilherme, J., Serra-Olivares, J., Roca, A., e Teoldo, I. (2017). The influence of floaters on players’ tactical behavior in small-sided and conditioned soccer games. International Journal of Performance Analysis in Sport, 17(5), 1-16. https://doi.org/10.1080/24748668.2017.1390723

 

Praça, G.M., Fagundes, L.H., Braga, W.O., Folgado, H., Morales, J.C., e Chagas, M.H. (2016). Influência da alteração do adversário nas respostas táticas e físicas em pequenos jogos no futebol. Revista Brasileira de Ciências do Movimento, 24(4), 44-54. https://www.researchgate.net/publication/311734908

 

Rigon, T.A. (2019). O comportamento de variáveis de desempenho tático em jogos reduzido de futsal [Dissertação de Mestrado. EACH, USP]. https://doi.org/10.11606/D.100.2019.tde-15052019-111356

 

Rigon, T.A., Novaes, R.B., e Tsukamoto, M.H.C. (2020). A elaboração de uma matriz de referência para o ensino de jogos esportivos coletivos. Corpoconsciência, 24(2), 172-186. https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/corpoconsciencia/article/view/10713

 

Scaglia, A.J., Reverdito, R.S., e Galatti, L.R. (2013). Ambiente de jogo e ambiente de aprendizagem no processo de ensino dos jogos esportivos coletivos: desafios no ensino e aprendizagem dos jogos esportivos coletivos. Jogos desportivos: formação e investigação. UDESC.

 

Silva, J.P.M.B. (2008). Caracterização técnico-tática de jogos reduzidos em futebol: avaliação do impacto produzido pela alteração das variáveis espaço e número de jogadores [Dissertação. Mestrado em Ciências do Desporto. Faculdade de Desporto, Universidade do Porto]. https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/96864

 

Thomas, J.R. e Nelson, J.K. (2002). Métodos de pesquisa em atividade física (3ª ed.). Artmed Editora.

 

Travassos, B., Bourbousson, J., Esteves, P.T., Marcelino, R., Pacheco, M., e Davids, K. (2016). Adaptive behaviours of attacking futsal teams to opposition defensive formations. Human Movement Science, 47(4), 98-105. https://doi.org/10.1016/j.humov.2016.02.004

 

Travassos, B., Araújo, D., e Davids, K. (2017). Is futsal a donor sport for football? Exploiting complementarity for early diversification in talent development. Science and Medicine in Football, 2(1), 66-70. https://doi.org/10.1080/24733938.2017.1390322


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 276, May. (2021)