ISSN 1514-3465
A escola e o futsal feminino: uma questão de inclusão social
The School and Women's Futsal: a Question of Social Inclusion
La escuela y el futsal femenino: una cuestión de inclusión social
Deyvid Tenner de Souza Rizzo*
deyvidrizzo1@gmail.com
Nádia Cabanhas do Nascimento**
nadiacabanhass@gmail.com
Rogério Zaim-de-Melo***
rogeriozmelo@gmail.com
*Graduação em Educação Física e Pedagogia
com Mestrado em Educação e Doutorado em Educação Física
Professor adjunto do Curso de Educação Física
na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) CPAN
Docente permanente do Programa de Pós-Graduação
em Educação - UFMS/CPAN (Nível Mestrado)
Atualmente faz parte do quadro permanente do Banco de Avaliadores
do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (BASis)
Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Identidade
e Formação de Educadores (GRIFE)
Vice-líder no Grupo de Estudos e Pesquisas
em Cultura Lúdica, Circo, Educação Física e Esportes (CLUCIEFE)
**Especialização em Educação Física pela Faculdade Unigran Capital
Graduação em Educação Física – Licenciatura Plena
pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Campus do Pantanal (CPAN)
***Licenciado em Educação Física pela UNESP
Mestre em Educação Física pela USP
Doutor em Ciências Humanas, Educação pela PUC-Rio
Docente do curso de Educação Física da UFMS - Campus do Pantanal
Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa
em Cultura Lúdica, Circo, Educação Física e Esporte (CLUCIEFE)
Coordena o Grupo de Atividades Circenses Los Pantaneiros
(Brasil)
Recepção: 29/06/2020 - Aceitação: 15/06/2021
1ª Revisão: 02/06/2021 - 2ª Revisão: 09/06/2021
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Citação sugerida
: Rizzo, D.T. de S., Nascimento, N.C. do, e Zaim-de-Melo, R. (2021). A escola e o futsal feminino: uma questão de inclusão social. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(283), 64-79. https://doi.org/10.46642/efd.v26i283.2381
Resumo
O objetivo deste estudo é analisar a perspectiva de 123 alunas do ensino médio com idades entre 15 e 21 anos em relação ao futsal nas aulas de Educação Física ministradas em duas escolas estaduais da cidade de Corumbá-MS, a partir da compreensão sobre as experiências no futsal. A pesquisa é de natureza quali-quantitativa e utilizou um questionário para buscar informações sobre as significações das meninas sobre o futsal no contexto escolar. Os dados apontam que as mesmas ainda sentem receio ou vergonha em praticar esta modalidade esportiva, com isso, apenas 48% das alunas interrogadas confirmaram participar do futsal durante as aulas. A análise dos dados demonstra que grande parte das meninas não tem espaço/oportunidade no desporto, porém, há um aumento relativo no interesse da prática por parte delas. Considera-se a necessidade do desenvolvimento de práticas pedagógicas para manifestar a inclusão e igualdade no futsal elaborando assim, ações didáticas que sustentem a sistematização de um esporte que supere as barreiras culturais e também os preconceitos ainda emergentes no âmbito esportivo e escolar.
Unitermos:
Futsal feminino. Ensino Médio. Educação Física. Esporte.
Abstract
The aim of this study is to analyze the perspective of 123 high school students aged between 15 and 21 years in relation to futsal in Physical Education classes taught in two state schools in the city of Corumbá-MS, based on their understanding of their experiences in futsal. The research is qualitative and quantitative in nature and used a questionnaire to seek information about the meanings of girls about futsal in the school context. The data show that they are still afraid or ashamed to practice this sport with this, only 48% of the students questioned confirmed participating in futsal during classes. Data analysis shows that most girls do not have space/opportunity in sport, however, there is a relative increase in their interest in the practice. It is considered the need to develop pedagogical practices to manifest inclusion and equality in futsal, thus developing didactic actions that support the systematization of a sport that overcomes cultural barriers and also the still emerging prejudices in the sports and school context.
Keywords:
Women's futsal. High School. Physical Education. Sport.
Resumen
El objetivo de este estudio es analizar la perspectiva de 123 estudiantes de escuela media de entre 15 y 21 años en relación al futsal en las clases de Educación Física impartidas en dos escuelas públicas de la ciudad de Corumbá-MS, a partir de su comprensión de sus experiencias en futsal. La investigación es de naturaleza cualitativa y cuantitativa y utilizó un cuestionario para recabar información sobre los significados que tienen las estudiantes sobre el futsal en el contexto escolar. Los datos muestran que aún sienten miedo o vergüenza en la práctica de este deporte, con esto, solo el 48% de los estudiantes encuestados confirmaron participar en el futsal durante las clases. El análisis de datos muestra que la mayoría de las estudiantes no tienen espacio/oportunidad en el deporte, sin embargo, hay un aumento relativo en su interés en la práctica. Se considera la necesidad de desarrollar prácticas pedagógicas para manifestar inclusión e igualdad en el fútbol sala, desarrollando así acciones didácticas que apoyen la sistematización de un deporte que supere las barreras culturales y también los prejuicios aún emergentes en el contexto deportivo y escolar.
Palabras clave
: Futsal femenino. Escuela Media. Educación Física. Deporte.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 283, Dic. (2021)
Introdução
“Ideias hegemônicas de feminilidade ainda são preocupação de pesquisadores das ciências do desporto (...) (Álvarez Díaz, e Villegas Robertson, 2019; Garton, e Hijós, 2018), (...) em especial, sobre a inclusão do futsal nas aulas de Educação Física Escolar” (Lima, 2017). Destarte, a prática do futsal feminino entre meninas do Ensino Médio em duas escolas da rede estadual de ensino na cidade de Corumbá-MS1, é o tema que será discutido no presente estudo.
O esporte tem sido uma manifestação da cultura corporal humana desde os primórdios, mas o que o futsal significa nos dias atuais para as meninas que frequentam as aulas de Educação Física? A partir deste questionamento, o presente estudo objetiva analisar as significações que as meninas que frequentam essa etapa de ensino possuem sobre a prática do futsal nas aulas de Educação Física, e, ainda, identificar os impactos positivos e, quiçá, negativos da presença desse esporte na vida das estudantes.
Nesse contexto, são consideradas significações em todos os sentidos, acepções, valores e importância das manifestações das estudantes durante o estudo, seja por uma resposta a um questionário ou representações durante as observações.
“O estudo se justifica, pois, investigar o desenvolvimento esportivo feminino se tornou emergente no cenário esportivo de elite” (Mascarin et al., 2019; Souza et al., 2020) “e escolar” (Kerne, 2014). Portanto, essa investigação foi motivada a partir de observações in loco que permitiram verificar maior incidência de programas de treinamento de futsal para meninos nas escolas e nas quadras públicas e privadas da cidade de Corumbá-MS. Neste cenário, identificou-se que a supremacia do futsal masculino também se repetia nas aulas de Educação Física.
Optou-se por esse tema, uma vez que a prática do futebol se trata de uma conquista recente entre as mulheres brasileiras, contudo, ainda se confere a invisibilidade e valores negativos, como o preconceito e estereótipos. O assunto ganhou ainda mais repercussão na mídia e na sociedade em geral após a atuação da seleção brasileira feminina de futebol na Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2019, que teve como país anfitrião a França.
Essa pesquisa se pauta numa assertiva que Scaglia (2011) compreende o jogo como um sistema complexo, o autor investiga a família dos jogos de bola com os pés, e apresenta as características integrativas e auto afirmativas presentes nesses jogos, evidenciando as semelhanças e as diferenças entre o jogo/esporte/futebol e os demais jogos/brincadeiras de bola com os pés e destaca que o ato de jogar bola não é um capricho, é uma necessidade, nasceu do desejo de muitos povos de brincar com bola.
Nesse sentido, comunga-se a ideia de que todo esporte, antes de tudo é um jogo, e no caso específico desta pesquisa, percebe-se que as meninas se referem ao jogo de futebol como uma grande família de jogos com os pés, no qual o futsal e qualquer outro ‘jogo possível’ (Paes, 2002) tem sentido na medida do procedimento pedagógico (no planejamento da metodologia e didática de ensino) adotado.
“Percebe-se que a produção científica em torno da manifestação futebolística masculina é significativamente maior em relação ao contexto feminino” (Follmann, Schwegber, e Brachtvogel, 2020; Franzini, 2005). Pesquisas demonstram os desafios que a mulher ainda enfrenta atualmente, seja no esporte lazer, no esporte de rendimento, na inferioridade em salários, na qual muitas vezes a prática é a mesma que a dos homens (Mendonça, 2019; Queiroga et al., 2019; Silva, e Nazário, 2018). Assim, a busca de equidade é uma luta contínua entre as mulheres no âmbito esportivo masculinizado, independente do desporto praticado2.
De acordo com Daolio (1995, apud Haertel, 2013), em grande parte, desde os primeiros anos de vida, os meninos são instigados à prática do futsal, muitas vezes, seu primeiro brinquedo é uma bola de futebol. Sobre um menino, mesmo antes de nascer, já recai toda uma expectativa de segurança e altivez de um macho que vai dar sequência à linhagem, pouco tempo depois, dão-lhe uma bola e estimulam-no aos primeiros chutes. Em torno de uma menina, quando nasce, paira toda uma névoa de delicadeza e cuidados. Basta observar as formas diferenciais de se carregar meninos e meninas, e as maneiras dos pais vestirem uns e outros. As meninas ganham de presente, em vez de bola, bonecas e utensílios de casa em miniatura. Além disso, são estimuladas o tempo todo a agir com delicadeza e bons modos, a não se sujar, não suar.
Talvez, o ideal seria tratar a educação física de forma educativa desde os anos iniciais, e de forma lúdica inserir os esportes em conjunto com as práticas esportivas, e, desta forma, organizar uma unidade curricular de qualidade, na qual os alunos não busquem apenas jogar futebol e sim aumentar seus conhecimentos sobre esta prática esportiva em geral.
Freire (1998, p. 12) trata dos quatro importantes princípios no ensino do futebol: “ensinar futebol a todos; ensinar futebol bem a todos; ensinar mais que futebol a todos; ensinar a gostar do esporte”, desde que não se despreze o fator genético, as diferenças de gêneros, que seja ensinado de forma lúdica de fácil compreensão para os aprendizes, de forma divertida, que se usa da criatividade, de forma dinâmica, superando até mesmos diferentes formas do ensinar, esses quatro princípios são de suma importância para o ensino do futebol para todos.
Altmann (1998) fala sobre a separação de meninas e meninos nas aulas de Educação Física, e acredita que ao juntá-los, se oferece a oportunidade da vivência de atividades de forma cooperativa, separar meninos e meninas nas aulas é tornar as fronteiras das divisões de gênero mais rígidas, e negar a meninas e meninos a possibilidade de cruzá-las; é furtar-lhes de antemão a possibilidade de escolha entre estarem juntos e separados.
Se aos meninos são oferecidas oportunidades de explorar a bola desde a mais tenra idade, como dito anteriormente, as meninas na sua maioria são “motivadas” apenas na escola, ou tão pouco no ambiente escolar em geral, por isso as aulas de educação física devem oportunizar e estimular a prática do esporte para ambos os sexos, além da motivação o professor precisa fazer com que o seu aluno se sinta capaz de fazer determinada prática, instigando-o por meio das várias formas de se jogar o futebol, usar sua criatividade para desenvolver diversas formas de ensinar, para que haja estímulo do aspecto cognitivo, motor e afetivo-social. O futebol pode ser ensinado de maneira formal e não formal, havendo ou não o incentivo em um contraturno com características de treinamento. (Corrêa et al., 2002; Dobrantz, e Canan, 2013; Paes, 2002; Hitora, e Paiano, 2007)
A adoção do conceito de gênero, historicamente construído, é um passo importante para o distanciamento das explicações sobre desigualdades a partir de fundamentações que se baseiam nas diferenças físicas, biológicas. As relações entre os sexos são construídas socialmente e, portanto, podem ser mudadas, assim como a hierarquia entre homens e mulheres. (Viana, 2012)
A relação de gêneros diz respeito sobre a importância de inserir essa temática no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, para que, desde a infância haja essa compreensão e não separação dos sexos, seja no meio escolar ou na vida educativa dos indivíduos (Graupe, e Grossi, 2014). Nota-se a fragilidade da sistematização do futebol, com base na participação do sexo feminino nos jogos, desde os primórdios do século XX, da quantidade de jogos que as mulheres participam, e sua inferioridade nessa participação em relação à importância dos jogos masculinos, a falta de patrocinadores, a quantidade de clubes disponíveis, etc. A partir da década de 80 surgem vários times de futebol feminino no Brasil, conquistam seus espaços no futebol e em conseguinte nos clubes. (Goellner, 2005)
Atualmente, a atuação feminina nas quadras e campos de futebol ainda busca afirmação, como transmissões de partidas de jogos ao vivo, e mesmo que essa possibilidade exista, há um baixo número de espectadores em relação aos campeonatos masculinos.
Assim, Franzini (2005) nos deixa uma pergunta: qual o lugar da mulher dentro do país do futebol?
“O esporte é considerado um dos fenômenos mais importantes do início do século XXI, objeto de estudo de diferentes áreas do conhecimento, no qual a pedagogia contribuiu significativamente para intervenções sobre o processo de ensino e aprendizagem por meio da disciplina Pedagogia do esporte” (Rizzo et al., 2016, p.02).
O Brasil é conhecido como ‘o país do futebol’, mas os costumes advindos de nossos antepassados perpassam até os dias atuais, e demonstram que, mesmo que as mulheres diariamente conquistem seu espaço no mundo e se mostrem capazes de fazer suas próprias escolhas, uma ‘cultura preconceituosa’ ainda está presente. (Martins, e Bacurau, 2016)
Com isso, o intuito desse estudo é analisar a perspectiva de 123 alunas do ensino médio com idades entre 15 e 19 anos em relação ao futsal nas aulas de Educação Física em duas escolas estaduais da cidade de Corumbá-MS, a partir da compreensão sobre as experiências no futsal.
Metodologia
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul- UFMS (CAAE: 11923119.4.0000.0021, Número do parecer: 3.354.431). Neste estudo, a pesquisa é de cunho quali-quantitativo, pois é a mais indicada em uma investigação dessa natureza. (Limena, e Rodrigues, 2006)
Os dados foram analisados de forma descritiva a partir da aplicação de um questionário que buscou coletar informações sobre as significações das meninas sobre o futsal. As alunas responderam aos questionários respeitando a conduta ética de pesquisas com seres humanos, com o consentimento de ambas as partes e da escola.
A pesquisa qualitativa é um campo interdisciplinar, transdisciplinar e, às vezes, contradisciplinar, que atravessa as humanidades, as ciências sociais e as ciências físicas. A pesquisa qualitativa é muitas coisas ao mesmo tempo. Tem um foco multiparadigmático. Seus praticantes são suscetíveis ao valor da abordagem de múltiplos métodos, sendo um compromisso com a perspectiva naturalista e a compreensão interpretativa da experiência humana. (Denzin, e Lincoln, 2006, p. 21)
Explicando-se por meio da fala de Pinto (2011, p. 76) sobre a pesquisa descritiva:
A pesquisa descritiva tem como objetivo observar, registrar, ordenar, analisar, interpretar os dados ou fatos colhidos da própria realidade, sem manipulá-los, isto é, sem a interferência do pesquisador. Assim, para coletar tais dados, utiliza-se de técnicas específicas, tais como: entrevista, formulário, questionário, teste e observação.
Os dados foram analisados de forma descritiva a partir da aplicação de um questionário que buscou coletar informações sobre as significações das meninas sobre o futsal. As alunas responderam aos questionários respeitando a conduta ética de pesquisas com seres humanos, com o consentimento de ambas as partes e da escola.
A pesquisa foi desenvolvida em duas escolas estaduais localizadas na parte baixa3 da cidade de Corumbá-MS. As candidatas investigadas foram adolescentes do sexo feminino do 1º ao 3º ano do ensino médio, todas consentiram em participar, colaborando para essa pesquisa, resultando numa amostra de 123 participantes.
Resultados
Nesse contexto, o maior índice das candidatas que contribuíram para a pesquisa está na faixa de 15 e 16 anos de idade (ver Gráfico 1).
No quadro a seguir, com diferentes perspectivas, as perguntas tentaram mensurar o grau da opinião das alunas acerca de experiências com o futsal numa escala de ‘1’ a ‘5’, no qual “1” significa Nunca; “2” Raramente; “3” Às vezes; “4” Muitas Vezes; e “5” significa Sempre.
Cerca de 48% das participantes confirmam que jogam futsal com meninos, seja no bairro ou na escola. Contudo, 34,1% das alunas responderam que não se sentem incentivadas pelo professor de Educação Física para participar de experiências como futsal, e que os meninos são incentivados de forma diferenciada em relação às meninas. Ressaltam que inúmeras vezes são criticadas pelos colegas pela falta de habilidade, falta de prática, de visão de jogo, dentre outras “desabilidades” apontadas pelos meninos.
Importante destacar que 74,8% das alunas declararam que o docente não separa os alunos por gênero nas aulas para a prática do futsal, porém 3,3% das alunas declaram que sim, há essa separação por gêneros.
De maneira positiva, 62,6% das alunas afirmaram que não se sentem rejeitadas nas aulas de Educação Física na prática do futsal. Das meninas que afirmaram que de alguma forma já foram rejeitadas em um jogo de futsal durante as aulas de Educação Física, evidenciou-se também, que 30% confirmaram não gostar desse esporte, 25,8% acusaram a falta de habilidades específicas, 18,3% disseram que não sabem dizer um motivo específico para a rejeição.
Discussão
Pesquisadores debatem sobre a participação feminina em diversas práticas esportivas, uma vez que elas estão inseridas em atividades de lazer e em momentos de não trabalho (Silveira, e Stigger, 2013), assim como a apropriação de vários espaços para o esporte feminino. (Abajo et al., 2020)
Numa investigação realizada por Viana, e Altmann (2015), foi constatada que a proposta pedagógica desenvolvida para o ensino do futebol era limitada, que pouco qualificava os jogadores e, sobretudo, as jogadoras para a prática do futebol.
Como destaca Jardim (2013) em seu artigo etnográfico, o futebol como um derivado do futsal, é um espaço ainda masculinizado, desde o primeiro brinquedo que os meninos ganham para brincar, e posteriormente, sendo levados para alguma escolinha para treinar o futebol, de modo que essa mesma oportunidade não é ofertada para as meninas, tão pouco com a mesma frequência.
Em contramão, os resultados do estudo de Kerne (2014) indicaram que 89% das meninas que compuseram a amostra já tiveram algum tipo de experiência com o futebol nas aulas de Educação Física, e 72% indicaram que costumavam jogar futebol em sua escola, mesmo que este espaço fosse destinado predominantemente para os meninos.
Nessa conjuntura, na mesma direção da pesquisa de Kerne (2014), o presente estudo aponta que as meninas, mesmo que lentamente, tem conquistado maiores espaços nas quadras de aula na Educação Física escolar.
A socialização do menino no universo futebolístico é tanto uma forma de reproduzir uma determinada masculinidade, como também de constituí-la. O futebol reflete o traço de masculinidade presente na própria sociedade brasileira. (Jardim, 2013, p. 32)
Investigadores discutem sobre os destaques femininos do futebol brasileiro, e ressalvam que a omissão da mídia em relação a esse cenário não está relacionada à falta de habilidade das jogadoras, mas sim, a falta de igualdade de gênero. (Silva, e Nazário, 2018)
Em 2007, apesar da Seleção Brasileira de Futebol Feminino ter conquistado o título de campeã dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, a mídia esportiva destinou tímidos espaços para comentar a vitória das atletas. Além disso, o vice-campeonato na Copa do Mundo de 2007, o vice-campeonato nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, o título máximo de campeãs sul-americanas em 2014, com vaga garantida para a Copa do Mundo de Futebol Feminino no Canadá em 2015, sugerem que a pouca visibilidade feminina nos meios de comunicação não é decorrente da falta de habilidade das mulheres; o fato é que a desigualdade das relações de gênero atribui menos evidência à desenvoltura das atletas. (Silva, e Nazário, 2018, p. 02)
Follmann et al. (2020) falam sobre a inquietação atual que existe sobre os debates acerca da desigualdade de gênero, masculinização dos esportes, e que ainda permanece o desafio de sistematizar discussões sobre a participação de mulheres nos esportes em geral no cotidiano escolar e em outros espaços de educação não formal.
Observou-se que mesmo com diversas pesquisas citadas nesse estudo que envolvem a temática do futsal, a desigualdade de gênero ainda é frequente na sociedade, no qual destaca-se o público feminino que luta por espaço no esporte, seja nas aulas de Educação Física, no bairro onde vive ou até mesmo no treinamento especializado.
Conclusões
Analisar a perspectiva de alunas do Ensino Médio em relação ao futsal na Educação Física escolar nos levou a observar a importância desse esporte para o público feminino na escola em geral, considerando a importância cultural que este esporte tem na sociedade brasileira. Deste modo, também foi possível identificar que há uma prevalência da falta de interesse das alunas nesta modalidade, professores que não estimulam suas alunas, e preconceito enraizado com as praticantes de futsal.
Apesar desses apontamentos, diante das situações apresentadas percebeu-se que as alunas indicam sua própria inclusão com mais frequência nas ações que envolvem a prática de futsal na Educação Física escolar.
Estudos futuros poderão contribuir para essa temática desenvolvendo práticas pedagógicas para sistematização do tema futsal na Educação Física escolar em um sentido mais amplo, ou seja, colaborando para a elaboração de ações didáticas que sustentem a sistematização de um esporte que supere as barreiras culturais e supere preconceitos ainda emergentes no âmbito esportivo e escolar.
Notas
Localizada no limite oeste do país, na fronteira com a Bolívia, Corumbá pertence ao estado do Mato Grosso do Sul e é considerada a maior cidade pantaneira.
Nas famosas ligas profissionais de basquete estadunidense existe uma enorme diferença no teto salarial entre as categorias femininas e masculinas. O teto salarial da NBA é aproximadamente 98% maior que o da WNBA. (Pongas, 2008)
Desde 1914 a cidade de Corumbá-MS se dividia em parte baixa e parte alta. A parte baixa, localizada à beira do rio Paraguai, sentido Porto Geral, abrigava o alto comércio, importadoras e exportadoras. A parte alta sobre uma elevação calcária, com casas de bazar, bijuterias, relojoarias, bebidas, modas, drogarias, farmácias, livrarias e papelarias, enfim, o comércio retalhista e a varejo. (Corumbá-MS, 2008)
Referencias
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