ISSN 1514-3465
Métodos de treinamento de força para nadadores
Methods of Strength Training for Swimmers
Métodos de entrenamiento de fuerza para nadadores
Ramon Mendes da Costa Magalhães
ramon.magalhaes@uemg.br
Professor de Ensino Superior
da Universidade do Estado de Minas Gerais, unidade Carangola/MG
e da rede municipal de educação de Duque de Caxias
Doutorando no Programa de Pós graduação
em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares
da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGEDUC-UFRRJ)
Mestre em Educação e graduação em Educação Física
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
(Brasil)
Recepção: 22/06/2020 - Aceitação: 04/08/2021
1ª Revisão: 09/06/2021 - 2ª Revisão: 27/07/2021
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Citação sugerida
: Magalhães, R.M. da C. (2021). Métodos de treinamento de força para nadadores. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(282), 76-96. https://doi.org/10.46642/efd.v26i282.2364
Resumo
O treinamento de força (TF) possibilita aos nadadores ganhos de força e potência muscular. Entretanto, a forma como o TF é utilizado nas fases da periodização se apresenta de maneira diversa na literatura. Assim sendo, o presente estudo pretende identificar as diferentes metodologias de treinamento de força utilizadas pelos treinadores de natação, coligando sua aplicabilidade em cada fase ou período da temporada. Dezesseis técnicos de natação participantes do XXX Campeonato Brasileiro Júnior de Natação responderam um questionário sobre os métodos de TF utilizados no treinamento de seus atletas. O TF é mais utilizado nos períodos básicos e específicos, com ênfase no desenvolvimento das forças máximas e de resistência. Nos períodos competitivo e polimento, a ênfase se dá no desenvolvimento da força explosiva. A maioria dos treinadores relatou utilizar o TF de forma específica (na água) e inespecífico (na terra), utilizando os mais variados equipamentos e métodos, com frequência semanal de 3 a 4 vezes. Os técnicos consideraram o TF importante para o desempenho final dos seus atletas. O presente estudo concluiu que o TF realizado pelos técnicos do estudo, apresentam singularidades e divergências com a literatura especializada.
Unitermos
: Natação. Treinamento de resistência. Exercício físico.
Abstract
Strength training (ST) allows swimmers to gain strength and muscle power. However, the way ST is used in the periodization phases is presented in a very different way in the literature. Therefore, this study aims to identify the different strength training methodologies used by swimming coaches, connecting their applicability in each phase or period of the season. Sixteen swimming coaches participating in the XXX Junior Brazilian Swimming Championship answered a questionnaire about the ST methods used in training their athletes. ST is more used in basic and specific periods, with an emphasis on the development of maximum and resistance forces. In the competitive and perfectioning periods, the emphasis is on developing explosive strength. Most coaches reported using the ST in a specific way (in the water) and unspecific way (on land), using the most varied equipment and methods, with a weekly frequency of 3 to 4 times. The coaches considered the ST to be important for the final performance of their athletes. The present study concluded that the ST carried out by the study technicians have singularities and divergences from the specialized literature.
Keywords
: Swimming. Resistance training. Physical exercise.
Resumen
El entrenamiento de fuerza (EF) permite a los nadadores ganar fuerza y potencia muscular. Sin embargo, la forma en que se utiliza el EF en las fases de periodización se presenta de forma diferente en la literatura. Por lo tanto, este estudio pretende identificar las diferentes metodologías de entrenamiento de fuerza que utilizan los entrenadores de natación, vinculando su aplicabilidad en cada fase o período de la temporada. Dieciséis entrenadores de natación participantes en el XXX Campeonato Brasileño Juvenil de Natación respondieron un cuestionario sobre los métodos de EF utilizados en el entrenamiento de sus atletas. El EF se usa principalmente en períodos básicos y específicos, con énfasis en el desarrollo de la máxima fuerza y resistencia. En períodos competitivos y de perfeccionamiento, el énfasis está en desarrollar fuerza explosiva. La mayoría de los entrenadores informaron usar EF específicamente (en el agua) y no específicamente (en tierra), usando los equipos y métodos más variados, con una frecuencia semanal de 3 a 4 veces. Los entrenadores consideraron el EF importante para el rendimiento final de sus atletas. El presente estudio concluyó que los EF realizados por los técnicos del estudio tienen singularidades y divergencias con la literatura especializada.
Palabras clave
: Natación. Entrenamiento de resistencia. Ejercicio físico.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 282, Nov. (2021)
Introdução
O treinamento de força (TF) proporciona diferentes adaptações ao tecido muscular, sendo um importante meio de desenvolvimento de força, potência e hipertrofia muscular (Bishop et al., 1999). Essas adaptações são resultado de um melhor recrutamento de unidades motoras, aumento da sensibilidade do impulso nervoso e disparo do mesmo (Maglischo, 1999; Platonov, 2005; Fleck, e Kraemer, 2006; Roschel, Tricoli, e Ugrinowitsch, 2011). Taber et al. (2016) e Roschel, Tricoli, e Ugrinowitsch (2011) salientam que o aumento de força máxima aumenta a potência a um limite superior, sendo importante as atividades esportivas.
O TF especificamente para atletas de natação possibilita ganhos de força e potência muscular, permitindo que eles sejam mais velozes, com menor frequência de braçadas e maior deslocamento a cada braçada. Segundo Costil, Maglischo, e Richardson (1998, citado em Gomes, e Marinho, 1999), o TF para nadadores, à partir dos anos cinquenta, tornou-se essencial para a obtenção de melhores performances, fato este que permitiu a utilização de métodos específicos (mesmo gesto motor) e inespecíficos (geral) para o desenvolvimento desta capacidade física na esfera da natação. Neste sentido, Maglischo (1999) recomenda um trabalho de força inespecífico (geral) durante a primeira fase da temporada para o aumento da massa muscular e da força muscular, e na fase seguinte, trabalhos de simulação de braçadas, para treinar o sistema nervoso que foi desenvolvido anteriormente.
Assim sendo, o sucesso da utilização do TF em nadadores depende de como utilizá-lo em um planejamento de médio e longo prazo (Bompa, 2001). Segundo Bossi et al. (2010, p. 204), “um programa de treinamento periodizado consiste em diversas fases que visam alcançar metas distintas, aprimorando a capacidade atlética de acordo com uma ordem metodológica de desenvolvimento das valências físicas”. Na natação, Maglischo (1999) apresenta um modelo de periodização, no qual o treinamento pode ser dividido em quatro períodos: endurance geral (básico), endurance específica (específico), competição e polimento, nos quais a técnica, o condicionamento aeróbico, anaeróbico, flexibilidade, e força devem ser trabalhados para se alcançar o máximo desempenho no último período. No período básico enfatiza-se a melhora das capacidades físicas gerais e técnica, no específico as capacidades físicas específicas da modalidade, no competitivo as características próprias das competições e no polimento ocorre uma diminuição das cargas de treinamento, objetivando a diminuição de stress psicofísiológico e aperfeiçoamento do desempenho esportivo. O TF normalmente é utilizado em todas as fases, mas, com diferentes ênfases e com objetivos distintos.
As especificidades do TF nas fases da periodização ainda apresentam grande dúvida na comunidade científica; são poucos os estudos apresentam quais os métodos de TF deveriam ser desenvolvidos e aplicados durante a temporada de natação, gerando uma lacuna na literatura. Destacamos que segundo Marques et al. (2020) não há muitos estudos de treinamento de força com nadadores de elite juniores, como o nosso estudo propôs investigar a partir do olhar dos técnicos. O presente estudo pretende identificar as diferentes metodologias de treinamento de força utilizadas pelos treinadores de natação, identificando sua aplicabilidade em cada fase ou período da temporada.
Metodologia
Este estudo pretende contribuir com as pesquisas sobre o tema “treinamento de força para nadadores” na literatura, para tanto buscamos observar através de um questionário, quais os métodos utilizados pelos treinadores e técnicos de natação para se desenvolver a força de seus atletas e proporcionarem uma melhor performance durante uma temporada.
O presente estudo caracteriza-se por ser de caráter exploratório-descritivo. A amostra foi composta por 16 técnicos de natação, com média de idade de 39 anos ± 8,67 e com médias de anos de experiência de 16,88 anos ± 9,48, participantes do XXX Campeonato Brasileiro Júnior de Natação – Troféu Júlio de Lamare (piscina de 50 metros) que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Participaram desse campeonato 51 equipes de todo o país, com cerca de 320 atletas da categoria Junior I e II. A categoria Junior foi escolhida a partir da constatação de Gomes, e Marinho (1999) em sua pesquisa, na qual a evolução dos níveis da força foi maior na categoria Júnior 1 (15-16 anos) tanto para homens (20% de aumento da força) quanto para mulheres (9,7% de aumento de força). Esses resultados percentuais de aumento de força levaram aos autores a supor que essa seja a faixa etária mais sensível ao TF, o que nos levou a estudar essa categoria em específico em nossa pesquisa A amostra foi casual. A coleta dos dados foi realizada nos dois primeiros dias, sendo estabelecido como critério de inclusão na pesquisa, estar inscrito com uma equipe ou atleta no XXX Campeonato Brasileiro Júnior de Natação.
Instrumentos com tradução e adaptação cultural validados para a realidade brasileira garantem que as informações obtidas sejam fidedignas ao grupo pesquisado, porém optamos por criar um questionário, revisado por 3 doutores de Educação Física, o qual foi elaborado especialmente para esse estudo, sendo composto por 10 questões relacionando os seguintes temas: métodos de treinamento de força na natação, periodização, importância do treinamento de força e os autores utilizados como referência. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora - CEP/UFJF (Parecer nº 336/2010).
O questionário foi entregue aos sujeitos da pesquisa, que receberam então as mesmas orientações verbais. Qualquer dúvida foi esclarecida na hora do preenchimento pelos responsáveis pela aplicação do instrumento, sendo que os sujeitos deste estudo não se comunicaram entre si durante o preenchimento do questionário.
O questionário foi aplicado durante o XXX Campeonato Brasileiro Júnior de Natação – Troféu Júlio de Lamare (piscina de 50 metros); a distribuição dos questionários e as respostas foram efetuadas durante o congresso técnico e as provas.
O preenchimento do questionário foi de caráter voluntário sem limite de tempo para responde-lo. Todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) explicando os objetivos e procedimentos do estudo, autorizando sua participação voluntária e os riscos mínimos da pesquisa. Também foi garantido o anonimato de todos os sujeitos avaliados.
O grupo de pesquisadores constou com 1 acadêmico e um professor/pesquisador para orientar a pesquisa.
Tratamento estatístico
Procuramos estabelecer um olhar para a relação entre os dados obtidos e a fundamentação teórica existente na literatura. Para a descrição das informações, elaboramos a discussão dos resultados a partir dos pontos trabalhados no questionário.
Foram realizadas análises descritivas com média, desvio padrão, distribuição de frequência (freq.) e percentual, para questões que apresentam mais de uma alternativa. Foram utilizados os testes qui-quadrado de Pearson e correção de Yales para associação das variáveis qualitativas. Foi considerado o nível de significância de p<0,05. A análise foi feita com auxílio do programa Microsoft Office Excel 2010 e Statistica 8.0.
A análise foca-se em descrever as respostas dadas ao questionário, agregando as similaridades, apontando diferenças e singularidades. Em complementação à descrição da realidade do grupo de treinadores da pesquisa, procuramos estabelecer relações com a situação deste, frente a revisão bibliográfica realizada.
Resultados
Os resultados das questões estão expressos nas tabelas abaixo, enumeradas de 1 a 10.
Tabela 1. O(a) Sr(a). utiliza periodização no treinamento de seus nadadores?
|
Freq. Absoluta |
Freq. Percentual* |
Sim |
16 |
100% |
Não |
0 |
0% |
Total |
16 |
100% |
*Frequência percentual relativa ao número total de técnicos
Tabela 2. O(a) Sr(a) utiliza TF no treinamento de seus nadadores?
|
Freq. Absoluta |
Freq. Percentual* |
Sim |
16 |
100% |
Não |
0 |
0% |
Total |
16 |
100% |
*Frequência percentual relativa ao número total de técnicos
Tabela 3. Qual fundamentação teórica o(a) Sr(a). utiliza no
planejamento do Treinamento de Força (TF) de sua temporada?
|
Freq.
Absoluta |
Freq. Percentual* |
Freq. Percentual** |
Experiência
própria |
6 |
38% |
16% |
Maglischo |
6 |
38% |
16% |
Navarro |
5 |
31% |
13% |
Bompa |
7 |
44% |
18% |
Fleck |
2 |
13% |
5% |
Platonov |
7 |
44% |
18% |
Verkoshansky |
3 |
19% |
8% |
Matveev |
2 |
13% |
5% |
Total |
38 |
- |
100% |
*Frequência percentual relativa ao número total de técnicos (n=16)
**Frequência percentual relativa à frequência absoluta
Tabela 4. Em qual período da temporada o treinamento de força é mais utilizado e enfatizado?
|
Freq.
Absoluta |
Freq.
Percentual* |
Freq.
Percentual** |
Básico |
9 |
56% |
41% |
Específico |
7 |
44% |
32% |
Competitivo |
5 |
31% |
23% |
Polimento |
1 |
6% |
5% |
Total |
22 |
- |
100% |
*Frequência percentual relativa ao número total de técnicos (n=16)
**Frequência percentual relativa à frequência absoluta
Tabela 5. Como o(a) Sr(a). trabalha o TF?
|
Freq. Absoluta |
Freq. Percentual* |
|
Dentro d'água |
1 |
6,3% |
|
Fora d'água |
0 |
0,0% |
|
Dentro
e fora d'água |
15 |
93,8% |
|
Total |
16 |
100,0% |
*Frequência percentual relativa ao número total de técnicos (n=16)
Tabela 6. Qual o tipo de força o(a) Sr(a). trabalha com os seus atletas?
|
Freq. Absoluta |
Freq. Percentual* |
Freq. Percentual** |
Força
máxima |
10 |
63% |
27,78% |
Força
explosiva (velocidade) |
12 |
75% |
33,33% |
Força
de resistência |
12 |
75% |
33,33% |
Força
hipertrófica |
2 |
13% |
5,56% |
Total |
36 |
- |
100,00% |
*Frequência percentual relativa ao número total de técnicos (n=16)
**Frequência percentual relativa à frequência absoluta
Tabela 7. Qual a frequência semanal que o(a) Sr(a). trabalha o TF?
|
Freq. Absoluta |
Freq. Percentual* |
Freq. Percentual** |
2 vezes |
1 |
6% |
6% |
3
vezes |
9 |
56% |
53% |
4
vezes |
7 |
44% |
41% |
Mais
de 4 vezes |
0 |
0% |
0% |
Total |
17 |
- |
100% |
*Frequência percentual relativa ao número total de técnicos (n=16)
**Frequência percentual relativa à frequência absoluta
Tabela 8. Dentro de cada período da temporada, qual(s) tipo de força que o(a) Sr(a) mais enfatiza?
Básico |
Freq. Absoluta |
Freq. Percentual** |
Força máxima |
6 |
40% |
Força de resistência |
8 |
53% |
Força explosiva |
0 |
0% |
Força
hipertrófica |
1 |
7% |
Total |
15 |
100% |
Específico |
Freq.
Absoluta |
Freq. Percentual** |
Força
máxima |
6 |
43% |
Força
de resistência |
5 |
36% |
Força
explosiva |
2 |
14% |
Força
hipertrófica |
1 |
7% |
Total |
14 |
100% |
Competitivo |
Freq.
Absoluta |
Freq.
Percentual** |
Força
máxima |
4 |
29% |
Força
de resistência |
1 |
7% |
Força
explosiva |
9 |
64% |
Força
hipertrófica |
0 |
0% |
Total |
14 |
100% |
Polimento |
Freq.
Absoluta |
Freq.
Percentual** |
Força
máxima |
2 |
29% |
Força
de resistência |
1 |
14% |
Força
explosiva |
4 |
57% |
Força
hipertrófica |
0 |
0% |
Total |
7 |
100% |
**Frequência percentual relativa à frequência absoluta
Tabela 9. Para o resultado final de seu atleta, qual a importância do TF dentro de sua temporada?
|
Freq.
Absoluta |
Freq.
Percentual* |
Muito
importante |
12 |
75% |
Importante |
3 |
19% |
Pouco
importante |
1 |
6% |
Sem
importância |
0 |
0% |
Total |
16 |
100% |
*Frequência percentual relativa ao número total de técnicos
Tabela 10. Quais equipamentos, tipos de trabalho o(a) Sr(a). utiliza para esse treinamento?
|
Freq.
Absoluta |
Freq.
Percentual* |
Freq.
Percentual** |
Banco
de nado biocinético |
3 |
19% |
2% |
Pesos
livres |
14 |
88% |
11% |
Barra/flexão/abdominais |
15 |
94% |
12% |
Trabalho
de pliometria |
14 |
88% |
11% |
Calção |
7 |
44% |
6% |
Palmares
e nadadeiras |
14 |
88% |
11% |
Aparelhos
de Musculação |
13 |
81% |
10% |
Elásticos
fora da água |
12 |
75% |
10% |
Tração de elásticos na água |
14 |
88% |
11% |
Medicine
Ball |
15 |
94% |
12% |
Pára-quedas |
3 |
19% |
2% |
Total |
124 |
- |
100% |
*Frequência percentual relativa ao número total de técnicos (n=16)
**Frequência percentual relativa à frequência absoluta
Nas tabelas 11 e 12 apresentamos os testes qui-quadrado de Pearson e correção de Yales para associação das variáveis qualitativas. Esta análise nos permite afirmar que, em seis das 10questões do questionário, houve diferença significativa na distribuição das respostas (p<0,05).
Tabela 11. Teste Qui-Quadrado das questões 1 a 7
Questões |
Valor
observado |
Valor
esperado |
X² |
X²
Yates |
Questão 1 |
||||
Sim |
16 |
8 |
16* |
16,06** |
Não |
0 |
|
|
|
Questão 2 |
||||
Sim |
16 |
8 |
16* |
16,06** |
Não |
0 |
|
|
|
Questão 3 |
||||
Experiência própria |
6 |
4,75 |
6,63 |
11,59 |
Maglischo |
6 |
|
|
|
Navarro |
5 |
|
|
|
Bompa |
7 |
|
|
|
Fleck |
2 |
|
|
|
Platonov |
7 |
|
|
|
Verkoshansky |
3 |
|
|
|
Matveev |
2 |
|
|
|
Questão 4 |
||||
Básico |
9 |
5,5 |
6,36 |
6,54 |
Específico |
7 |
|
|
|
Competitivo |
5 |
|
|
|
Polimento |
1 |
|
|
|
Questão 5 |
||||
Dentro da água |
1 |
5,33 |
26,37* |
26,53** |
Fora da água |
0 |
|
|
|
Dentro e fora da água |
15 |
|
|
|
Questão 6 |
||||
Força máxima |
10 |
9 |
7,55 |
7,66 |
Força explosiva (velocidade) |
12 |
|
|
|
Força de resistência |
12 |
|
|
|
Força hipertrófica |
2 |
|
|
|
Questão 7 |
||||
2 vezes |
1 |
4,25 |
13,82* |
14,06** |
3 vezes |
9 |
|
|
|
4 vezes |
7 |
|
|
|
Mais de 4 vezes |
0 |
|
|
|
*Diferença significativa (p<0,05)
**Diferença significativa com correção de Yates
Tabela 12. Teste Qui-Quadrado das questões 8 a 10
Questões |
Valor observado |
Valor esperado |
X² |
X² Yates |
Questão 8 |
||||
Básico |
||||
Força máxima |
6 |
3,75 |
11,93* |
12,2** |
Força de resistência |
8 |
|
|
|
Força explosiva |
0 |
|
|
|
Força hipertrófica |
1 |
|
|
|
Específico |
||||
Força máxima |
6 |
3,5 |
4,86 |
5,14 |
Força de resistência |
5 |
|
|
|
Força explosiva |
2 |
|
|
|
Força hipertrófica |
1 |
|
|
|
Competitivo |
||||
Força máxima |
4 |
3,5 |
14* |
14,29** |
Força de resistência |
1 |
|
|
|
Força explosiva |
9 |
|
|
|
Força hipertrófica |
0 |
|
|
|
Polimento |
||||
Força máxima |
2 |
1,75 |
5 |
5,57 |
Força de resistência |
1 |
|
|
|
Força explosiva |
4 |
|
|
|
Força hipertrófica |
0 |
|
|
|
Questão 9 |
||||
Muito importante |
12 |
4 |
22,5* |
22,75* |
Importante |
3 |
|
|
|
Pouco importante |
1 |
|
|
|
Sem importância |
0 |
|
|
|
Questão 10 |
||||
Banco de nado biocinético |
3 |
11,27 |
19,17* |
19,42** |
Pesos livres |
14 |
|
|
|
Barra/flexão/abdominais |
15 |
|
|
|
Trabalho de pliometria |
14 |
|
|
|
Calção |
7 |
|
|
|
Palmares e nadadeiras |
14 |
|
|
|
Aparelhos de musculação |
13 |
|
|
|
Elásticos fora da água |
12 |
|
|
|
Tração de elásticos na água |
14 |
|
|
|
Medicine Ball |
15 |
|
|
|
Pára-quedas |
3 |
|
|
|
*Diferença significativa (p<0,05)
**Diferença significativa com correção de Yates
Discussão
Este estudo exploratório procurou descrever as metodologias de TF utilizadas por técnicos de natação durante uma temporada com o objetivo de identificar os principais meios de treinamento para essa variável importante na performance dos nadadores.
Como podemos notar os 16 treinadores periodizam o treinamento de seus nadadores, o que é esperado em relação a esse grupo de treinadores, pelo nível da competição em que estão envolvidos e pelo avanço na ciência do treinamento desportivo. Na segunda questão, como na anterior, todos os treinadores responderam que utilizam o TF na preparação de seus nadadores, o que também era esperado, devido a sua importância no treinamento de alto rendimento nos esportes contemporâneos. Segundo Andries Junior, e Marinho (2004) o TF já há algum tempo vem se constituindo uma prática imprescindível entre os nadadores que competem no alto nível.
A partir dos dados apresentados na Tabela 3, autores consagrados no treinamento de natação, como Platonov, Maglischo, e Navarro foram mais citados, assim como autores que trabalham diferentes metodologias de TF para esportes em gerais. Bossi (2010), nos apresenta de uma maneira geral em relação a periodização de treinadores de natação que Navarro, Maglischo, Matveev, e Pável são os principais autores que fundamentam suas periodizações, corroborando com nossos achados. Além disso, a própria experiência dos treinadores parece ter um papel importante na utilização do TF no treinamento de nadadores. Entretanto não houve diferença significativa para a distribuição de resposta para essa questão.
A Tabela 4 demonstrou que o TF é utilizado em todos os períodos da temporada e que ocorre predominantemente no período de preparação geral, seguido por uma diminuição nos outros períodos, apesar de não haver diferença significativa entre as respostas. Neste sentido, Navarro (2004, citado por Marques et al., 2009) explica que durante o período de acumulação (geral) é onde ocorrem exercícios que são a base para novos programas de formação especializadas, demonstrando a sua maior utilização nos períodos iniciais. Corroborando com essa mesma ideia, Maglischo (1999) recomenda um TF de maneira inespecífica (geral) durante a primeira fase da temporada, para o aumento da massa muscular, e na fase seguinte, trabalhos de simulação de braçadas, para treinar o sistema nervoso que foi desenvolvido anteriormente.
Na Tabela 5, podemos constatar em relação a amostra entrevistada que: na natação atual o TF é realizado respeitando o princípio da especificidade e também acreditando na transferência dos efeitos do treinamento inespecífico (geral) para obtenção de força na natação. Em relação a esses resultados existem algumas controvérsias como mencionado anteriormente. Esses resultados demonstram que apesar de haver divergências sobre qual meio aplicar (específico ou geral), os dois podem trazer benefícios para os nadadores. Pires, Figueira Júnior, e Miranda (2014) concluem que os programas de TF avaliados em sua revisão, associam diferentes métodos de treinamento de força, específicos (dentro da água) como inespecíficos (fora da água) para aumentar a produção de força máxima principalmente em eventos de curta duração, o que se torna muito positivo aos nadadores.
Ao se analisar os dados da Tabela 6, podemos notar que o TF abrange todos os tipos de força, mas com maior proporção para a força explosiva e de resistência, seguidas pela força máxima e com menor ênfase pela força hipertrófica (hipertrofia muscular), embora não haver diferenças significativas nas distribuições das respostas. Barbosa (2006), em relação às manifestações de força e as variáveis do treinamento desportivo, acredita que a combinação sistematizada desses fatores geram adaptações que interfiram positivamente no rendimento de provas de velocidade, resistência de velocidade e até mesmo provas de fundo. Sobre o treinamento de força máxima, Amaro et al. (2018) encontrou em sua revisão sistemática, que o treinamento da força máxima foi o método mais eficaz para melhora da performance na natação.
Já sobre a força de resistência, Bompa (2002) afirma que o desenvolvimento da resistência muscular cíclica é um dos fatores primordiais em relação à melhoria do desempenho. Já com relação à força explosiva, Barbosa (2006) explica que ela é observada em componentes competitivos, como saídas e viradas, que exigem máxima aceleração. A respeito disso, Breed, e Young (2003), colocam que um começo eficaz é uma parte essencial da natação competitiva, especialmentenas provas de velocidade. Sendo assim, uma importante consideração a se fazer, é a necessidade de se realizar o treinamento de força e potência da parte inferior do corpo para otimizar o desempenho de início da natação, como salientado por García-Ramos et al. (2015). Loturco et al. (2016) ressalta também que os resultados de seus estudos, leva ao encorajamento de implementação de estratégias de treinamento de força capazes de aumentar a força de pernas em nadadores velocistas para saídas e viradas. Na natação esses dois momentos podem determinar quem sairá vencedor da prova, demonstrando assim a importância de seu treinamento.
A respeito da hipertrofia muscular, Schneider, e Meyer (2005) expõem que o TF para nadadores não era bem aceito por atletas e técnicos, pois acreditava-se que estes exercícios provocariam aumento da massa muscular, hipertrofia e redução da flexibilidade, diminuindo a agilidade do nadador. Entretanto Navarro (1994, citado por Marques et al., 2009), relata que a hipertrofia muscular muitas vezes é necessária à natação. Sendo então importante para a melhoria do desempenho esportivo na natação.
As frequências de treinamento semanal mais mencionadas no estudo (Tabela 7), foram 3 e 4 vezes por semana. Essas estão de acordo com alguns estudos presentes na literatura (Strass, 1988; Song, Park, e Jung, 2009). Entretanto outros estudos revelam que há efeitos positivos com 2 sessões semanais de TF (Aspenes et al., 2009; Garrido et al., 2010; Girold et al., 2007). Podemos então constatar que a utilização de 2 a 4 sessões semanais de TF, quando periodizadas, assim como relatados pelos treinadores e pela literatura, podem promover melhoras de performance dos atletas de natação. Sendo assim, Amaro et al. (2018) recomenda baseado em sua revisão sistemática que o treinamento de força e condicionamento deve ser realizado com baixo volume baseado na força máxima durante 2 a 4 vezes por semana entre 6 a 12 semanas de treinamento. Em outro estudo Amaro et al. (2017) encontrou melhorias na força após 6 semanas de treinamento de força e condicionamento em terra, mas com efeitos positivos no meio aquático somente após 4 semanas de adaptação, sugerindo a necessidade de um tempo maior para a transferência da força para a técnica de natação.
Em relação a nadadores juniores de elite, Marques et al. (2020) encontrou melhorias significativas na força e no desempenho em nado acima de 50 metros, realizando treinamento de força em terra em membros inferiores e superiores, duas vezes por semana, com baixa ou moderada carga durante um mesociclo de 20 semanas.
Na Tabela 8, os dados demonstram que no período básico, o tipo de força mais enfatizado é a força de resistência (53%) seguida da força máxima (40%) e hipertrofia muscular (7%). A força explosiva não foi mencionada nesse período. Marques et al. (2009) relatam sobre a importância de um trabalho de força máxima e de resistência para criar condições para o treinamento específico e melhorias no sistema neuromuscular e nos mecanismos hipertróficos.
No período específico, a força máxima e a de resistência continuam a ser as mais enfatizadas, com representatividade de 43% e 36% do TF, respectivamente. A força explosiva vem logo em seguida com 14% e a hipertrófica com 7%. Essas respostas diferem de alguns estudos, nos quais apresentam um trabalho maior de força específica à modalidade após o desenvolvimento da força máxima e de resistência, como o trabalho de força rápida (Barbosa, e Andries Junior, 2006) ou de resistência para fundistas (Marinho, 2008). O estudo de Pollock et al. (2019) revelou que os treinadores britânicos de atletas de elite utilizaram treinamento de força e condicionamento em sessões mistas para o desenvolvimento de potência, força máxima, hipertrofia e condicionamento metabólico, o que também se apresentou na pesquisa com os treinadores desse estudo. Os autores sugerem que em nadadores de classe requerem de um estímulo de treinamento de força e condicionamento mais variado. (Pollock et al., 2019)
Durante o período competitivo e de polimento, a força mais citada pelos treinadores foi a força explosiva, seguida da força máxima e de resistência. Essas respostas se devem a necessidade do nadador produzir o máximo de potência e velocidade de nado durante esses períodos, além da necessidade de máxima aceleração durante saídas e viradas (Barbosa, 2006), o que é essencial na natação competitiva, especialmente em provas de velocidade (Breed, e Young, 2003). Como podemos perceber o TF é trabalhado durante toda a temporada por esses treinadores, mas com diferentes ênfases, respeitando as necessidades e especificidades dos nadadores.
As respostas apresentadas na Tabela 9 demonstram que a maioria dos treinadores considera o TF muito importante ou importante, reforçando a ideia de que o TF é uma variável que merece muita atenção e estudo dentro do âmbito da natação. Alguns estudos vêm concluindo e salientando que a força é um meio de se melhorar a performance (Barbosa et al., 2007; Aspenes et al., 2009), potência mecânica (Tucher, Gomes, e Dantas, 2009) e há algum tempo se constitui uma prática imprescindível e essencial entre os nadadores de alto nível (Marinho, 2002; Andries Junior, e Marinho, 2004). Segundo Lopes et al. (2020) 8 semanas de treinamento de força em terra combinado com o treinamento de natação, além de melhorar a força em terra, melhorou o desempenho de natação e promoveu alguns ajustes positivos na técnica de natação. Assim sendo, os autores sugerem que os treinadores devem estar cientes das possíveis influências do treinamento de força nas habilidades motoras dos nadadores, aumentando a capacidade de produzir força na água. Além disso, o estudo de Batalha et al. (2018) revelou que o treinamento de força em terra ajuda no fortalecimento, equilíbrio e resistência dos rotadores externos do ombro, sendo importantes para prevenir lesões e estabilizar a articulação do ombro em nadadores. Sugerem então que treinadores utilizem o treinamento em terra obter esses benefícios. Já Crowley, Harrison, e Lyons (2017) relataram que a literatura atual revela que para uma transferência ideal, trabalhos específicos, de baixo volume e programas de treinamento de força e velocidade são os mais adequados. Outros autores como Pérez-Olea et al. (2018) relatam que é importante incluir um programa apropriado de treinamento de força em terra firme em combinação com natação e treinamento técnico para o aprimoramento do desempenho da natação de jovens atletas.
A Tabela 10 nos revela que há uma utilização de vários meios e equipamentos de TF, tanto específicos como inespecíficos, a maioria deles mencionados nos estudos apresentados nessa pesquisa. Pires, Figueira Júnior, e Miranda (2014) relataram que os equipamentos com pesos foi o instrumento mais utilizado para investigar os efeitos do treinamento de força, sendo esses mais comuns e acessíveis nas considerações dos autores.
Conclusões
O presente estudo procurou identificar como os treinadores da elite da natação brasileira, categoria junior I, tratam o TF durante a preparação de seus atletas no decorrer de uma temporada. Buscamos informações na literatura especializada sobre os métodos mais utilizados para compararmos com os dos treinadores e apontarmos singularidades e particularidades. A partir disso podemos constatar que: a periodização do treinamento é imprescindível para o treinamento de atletas de elite, sendo ela amplamente disseminada no âmbito dos treinadores da amostra, utilizando-se como referência para a periodização do TF autores consagrados pela literatura, sendo o TF, importante para a melhora da performance e potência mecânica dos atletas.
O TF é mais utilizado e enfatizado nos períodos inicias da temporada, havendo um decréscimo nos períodos finais, bem como, utilizam de forma conjunta o TF especifico e inespecífico para a modalidade, acreditando na transferência dos benefícios do treinamento.
Dentro do TF, as forças mais desenvolvidas são a força explosiva e de resistência, necessárias a provas de velocidade e de fundo na natação, respectivamente. A força máxima também é muito utilizada, já que serve de base para o desenvolvimento das forças citadas anteriormente.
Ao se falar de um microciclo em si, a frequência semanal mais encontrada na pesquisa foi de 3 e 4 vezes/semana. E dentro de cada mesociclo podemos perceber que, nos mesociclos básico e específico a força máxima e de resistências são as mais enfatizadas, apresentando resultados divergentes com a literatura nos mesociclos específicos (Barbosa, e Andries Junior, 2006; Marinho, 2008), que salienta a necessidade do treinamento da força específica à modalidade. Os mesociclos, competitivo e de polimento, apresentam como força mais enfatizada a força explosiva, amplamente necessária em saídas e viradas e para um nado mais veloz.
Finalizamos, concluindo que o TF realizado pelos técnicos do estudo, apresentam singularidades e divergências com a literatura especializada. Sugerimos que novas pesquisas sobre essa temática sejam elaboradas, para o crescimento da natação.
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