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ISSN 1514-3465

 

Teste abdominal como fator motivacional nas aulas 

de core training: experiência no estágio curricular
Abdominal Testing as a Motivational Factor in core Training Classes: Experience in the Curricular Internship

Test abdominal como factor motivacional en las clases de core training: experiencia en la pasantía curricular

 

Fábio Fernandes Flores*
fabioedfgbi@gmail.com

Elizandra Bezerra Almeida**

elizandra00almeida@gmail.com

Ângelo Miguel Santos Maciel***

angelosantoshand@gmail.com

 

*Mestrando em Ensino, Linguagem e Sociedade (PPGELS/UNEB)

Especialista em: Educação Física Escolar (FUNORTE), Atividade Física, Saúde

e Sociedade (UNEB) e Educação em Saúde (Faculdade Jardins)

Licenciado em Educação Física pela Universidade do Estado de Bahia (UNEB)

Bacharel em Educação Física (UNIASSELVI)

Participo do Núcleo Internacional de Estudos

em Direitos Humanos, Educação, Cultura e Saúde (NEDHECS/CNPq)

**Licenciada em Educação Física (UNEB)

Bacharel em Educação Física (UNIASSELVI)

Especialista em Docência no Ensino Superior (FAVENI)

***Licenciado em Educação Física (UNEB)

Bacharel em Educação Física (Faculdade Mauá)

Membro do grupo de pesquisa AGENTE

(Brasil)

 

Recepção: 18/06/2020 - Aceitação: 12/05/2021

1ª Revisão: 05/02/2021 - 2ª Revisão: 24/03/2021

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Flores, F.F., Almeida, E.B., e Maciel, A.M.S. (2022). Teste abdominal como fator motivacional nas aulas de core training: experiência no estágio curricular. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(290), 187-201. https://doi.org/10.46642/efd.v27i290.2352

 

Resumo

    O objetivo do trabalho foi identificar a influência do uso de testes abdominais como estratégia de motivação para realização de aulas de core training. Este estudo é um relato de experiência de abordagem qualitativa e caráter descritivo, realizado no componente Estágio VIII. O estágio foi constituído por duas etapas: observação e intervenção. Para a coleta de dados foi utilizado o roteiro de observação qualitativa, ficha de avaliação, diário de bordo e roda de conversa. Na intervenção foi realizado o teste de 1 minuto em sete exercícios diferentes e foi ministrada aulas com variação de ênfase muscular a cada semana. Diante da observação, foi notado que a professora era comprometida, estudiosa e motivava a turma, e que o local era um ambiente climatizado, com diversos recursos disponíveis. No decorrer do estágio, foi relatada pelos participantes a importância dos testes como estímulo para a assiduidade nas aulas, o efeito das variações de movimento na aprendizagem de outros exercícios e ausência de dor. Além disso, acredita-se que houve aumento de força no core em razão dos resultados numéricos do teste. O percurso foi marcado pelo desafio da rotatividade dos praticantes, da satisfação em acompanhar a evolução dos participantes e ambiente promotor de autonomia. Portanto, a realização de teste abdominal pode ser uma alternativa nas academias de ginástica para estimular a adesão e assiduidade dos clientes.

    Unitermos: Core training. Aptidão física. Educação Física. Motivação.

 

Abstract

    The work purpose was to identify the influence of the use of abdominal tests as a motivation strategy for conducting core training classes. This study is an experience report of a qualitative and a descriptive approach, accomplished in the Stage VIII component. The internship consisted of two stages: observation and intervention. For data collection the qualitative observation script, evaluation record, logbook and conversation wheel. In the intervention, the 1-minute test was performed in seven different exercises and taught classes with varying muscle emphasis each week. In view of the observation, it was noticed that the teacher was committed, studious and motivated the class, and that the place was an air-conditioned environment with several available resources. During the internship, the participants reported the importance of tests as an incentive for class attendance, the effect of movement variations on the learning of other exercises and the absence of pain. Besides that, it's believed that there was an increase of strength in the core due to the numerical results of the test. The course was marked by the challenge of the turnover of practitioners, the satisfaction of following the evolution of the participants and an environment that promotes autonomy. Therefore, performing an abdominal test can be an alternative in fitness centers to stimulate clients' adhesion and attendance.

    Keywords: Core training. Physical aptitude. Physical Education. Motivation.

 

Resumen

    El objetivo de este trabajo fue identificar la influencia del uso de pruebas abdominales como estrategia de motivación para la realización de clases de core training. Este estudio es un relato de experiencia con enfoque cualitativo y carácter descriptivo, realizado en el componente Pasantía VIII. La pasantía constó de dos etapas: observación e intervención. Para la recolección de datos se utilizó el guión de observación cualitativa, ficha de evaluación, diario de clases y círculo de conversación. En la intervención se realizó un test de 1 minuto en siete ejercicios diferentes y se dieron clases con variación en el énfasis muscular cada semana. Ante la observación, se constató que la docente se mostró comprometida, estudiosa y motivada en la clase, y que el lugar era un ambiente climatizado, con varios recursos disponibles. Durante la pasantía, los participantes relataron la importancia de las pruebas como estímulo para la asistencia a clase, el efecto de las variaciones de movimiento en el aprendizaje de otros ejercicios y la ausencia de dolor. Además, se cree que hubo un aumento en la resistencia del core debido a los resultados numéricos de la prueba. El curso estuvo marcado por el desafío de la rotación de los practicantes, la satisfacción de acompañar la evolución de los participantes y un ambiente que promovía la autonomía. Por ello, la realización de un test abdominal puede ser una alternativa en los gimnasios para fomentar la adherencia y asistencia de los clientes.

    Palabras clave: Core training. Aptitud física. Educación Física. Motivación.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 290, Jul. (2022)


 

Introdução 

 

    A aula de ginástica é um dos diversos exercícios físicos realizados nas academias de ginástica. Esta prática coletiva pode ter objetivos distintos, conforme o foco da sessão: flexibilidade, força, resistência aeróbia entre outros (Angeli, Menezes, e Mazo, 2017), tendo como motivos para a sua realização: estética, qualidade de vida e possibilidade de relaxar ou desestressar o dia a dia. (Pinto, 2018)

 

    O foco do estudo está na modalidade core training, que tem como premissa a estabilização do corea fim de aumentar a produção da força e garantir maior estabilidade para todos os movimentos que são realizados nas atividades esportivas e nas atividades da vida diária (D’Elia, 2013). O core pode ser descrito como uma caixa constituída pelos músculos abdominais, na parte anterior do corpo; pelos paravertebrais e glúteos, na parte posterior; pelo diafragma, no superior e; pelo assoalho pélvico e músculos da articulação coxo-femoral (quadril), no inferior. (Ferreira et al., 2011)

 

    Segundo Teixeira, e Evangelista (2014), o core bem fortalecido e estabilizado gera a harmonia necessária para evitar lesões, auxilia também no desenvolvimento de atividades relacionadas à performance física, principalmente através do desenvolvimento de valências físicas como a força e a potência muscular.

 

    Deste modo, entende-se a relevância da prática da modalidade. Porém, para que a pessoa possa ter interesse em fazer exercícios e se tornar fisicamente ativa é fundamental que o profissional tenha contato com os praticantes e seja motivador (Pinto, 2018). Além disso, é preponderante o estudo de estratégias que aumentem a possibilidade de adesão e assiduidade dos participantes nas atividades. (Silva, Rodrigues, e Flores, 2021)

 

    Tendo em vista a importância da motivação para que as pessoas tenham uma prática regular dos exercícios para o core, o presente trabalho tem a seguinte questão norteadora: O uso de testes abdominais pode ser um elemento motivador para a assiduidade nas aulas de core training? Deste modo, o objetivo do trabalho foi identificar a influência do uso de testes abdominais como estratégia de motivação para realização de aulas de core training.

 

Métodos 

 

Tipo de estudo 

 

    O presente estudo é um relato de experiência (Mussi, Flores, e Almeida, 2021), com caráter descritivo e viés qualitativo (Lakatos, e Marconi, 2011), advindo da vivência no componente Estágio VIII, do curso de Educação Física da Universidade do Estado da Bahia (UNEB - Campus XII).

 

Local 

 

    Em decorrência do interesse e articulação discente, o estágio foi realizado com uma turma praticante de core training em uma academia privada de Guanambi-BA. Devido a sua carga horária ser inviável no cumprimento do que é estabelecido no componente, foi necessária a inclusão de atividades correlatas em outro local.

 

Cronograma 

 

    O referido estágio aconteceu no primeiro semestre de 2017, sendo dividido em duas fases: observação (2 semanas) e intervenção (6 semanas). A primeira fase teve o intuito de analisar o ambiente e seu entorno. Quanto à segunda fase, refere-se ao ato de ministrar as aulas de core training para alunos da academia.

 

    No que concerne ao cronograma do estágio, na semana 1 realizou-se a avaliação, a princípio aconteceu uma roda de conversa (Paiva, Araújo, e Cruz, 2019) com a turma, a fim de nos apresentar, expor nossa pretensão, fazer o convite para participação voluntária, conhecer os objetivos com a aula, suas condições de saúde e física; depois disso, houve a distribuição de fichas da avaliação dos testes abdominais, explicação e a sua execução. Nas 4 semanas posteriores houve a intervenção. Por fim, na semana 6 aconteceu a reavaliação, composta pela reaplicação dos testes mais apresentação dos seus resultados (iniciais e finais) e roda de conversa.

 

Teste abdominal 

 

    É importante informar que o teste abdominal (Fernandes Filho, 2003) tem como intencionalidade a execução do maior número de repetições completas sem alteração da postura ideal durante 1 minuto.

 

    Na avaliação e reavaliação houve a execução de 7 testes usando 7 exercícios abdominais. O critério adotado para esta seleção foi a familiaridade dos participantes com os movimentos, uma vez que foram os mais usados nas aulas durante a fase de observação.

 

    Em relação aos 7 exercícios dos testes, 6 tiveram adaptações por causa da realidade, sendo eles:

  1. supra comum - abdominal básico (Delavier, e Gundill, 2013, p. 40);

  2. infra comum (Domingues Filho, 2015, p. 126, n. 10), mas realizado no solo e com extensão mais flexão completa do quadril;

  3. supra completo – abdominal completo (Delavier, e Gundill, 2013, p. 80), no entanto com joelhos afastados, pés juntos e lateralmente sobre o chão, braços estendidos com mãos próximas no sentido de fazer flexão de tronco para tocar as mãos nos pés;

  4. infra completo (Domingues Filho, 2015, p. 125), porém com extensão mais flexão completa do quadril e elevação da pelve;

  5. abdominal oblíquo - lateral pé a pé (Domingues Filho, 2015, p. 117, L), entretanto de forma alternada;

  6. abdominal mix – infra-abdominal sentado (Delavier, e Gundill, 2013, p. 50), todavia no solo, com extensão do quadril e tronco até se aproximar do chão sem tocar;

  7. prancha superman (Delavier, e Gundill, 2013, p. 61), contudo com os cotovelos estendidos e mãos no solo (alinhamento do ombro), tendo elevação frontal alternada dos braços.

    No sentido de aumentar a compreensão dos movimentos realizados nas avaliações, as Ilustrações de 1 a 7, a seguir, são apresentadas as imagens que demonstram o momento inicial e final de cada um dos testes.

 

Ilustração 1. Abdominal supra comum

Ilustração 1. Abdominal supra comum

 

Ilustração 2. Abdominal infra comum

Ilustração 2. Abdominal infra comum

 

Ilustração 3. Abdominal supra completo

Ilustração 3. Abdominal supra completo

 

Ilustração 4. Abdominal infra completo

Ilustração 4. Abdominal infra completo

 

Ilustração 5. Abdominal oblíquo

Ilustração 5. Abdominal oblíquo

 

Ilustração 6. Abdominal mix

Ilustração 6. Abdominal mix

 

Ilustração 7. Prancha superman

Ilustração 7. Prancha superman

 

    A aplicação dos testes ocorreu em dupla para dinamizar e permitir que os participantes da aula os entendessem, nos quais um executava o movimento enquanto o outro controlava o tempo e anotava o resultado; depois as funções eram invertidas. Cabe informar que os seus detalhes e importância foram explicados para os participantes.

 

A aula de core training 

 

    No tocante a organização das aulas, a cada semana eram trabalhadas duas regiões musculares: 1) supra umbilical e região lombar; 2) infra umbilical e lateral do abdômen; 3) supra umbilical e região lombar; e 4) infra umbilical e lateral do abdômen.

É importante apontar que o tempo da aula de core training era 60 minutos, tendo uma média de 16 clientes com características distintas: homens, mulheres, adolescentes e adultos; a predominância era de mulheres adultas.

 

    As aulas aconteceram nas segundas e quintas, com a seguinte estrutura: 5 minutos paraexplanação sobre a aula, 15 minutos de preparação (alongamento dinâmico, mobilidade articular e estabilização do core), 30 minutos para a parte específica (60 segundos de exercícios com 30 segundos de descanso passivo) e 10 minutos na parte final (relaxamento, avaliação da aula por meio da roda de conversa e/ou diálogos informais). Para tanto, foram utilizados os recursos da própria academia: pen drive, som, colchonetes, caneleiras, medicine balle halteres.

 

    Em relação ao seu planejamento, optou-se por usar uma estrutura similar ao da Profissional Regente (PR), bem como sua planilha de exercícios para favorecer a adesão. Mas, gradualmente, houveram modificações dos exercícios, nas posturas, quantidade de repetições e uso de acessórios.

 

    Durante a intervenção, houve o foco na explicação do motivo de sua realização, o como fazer, incentivos sonoros verbais e não verbais para o cumprimento da atividade e alteração do posicionamento corporal “quando necessário”.

 

Coleta de dados 

 

    No decorrer do estudo foram usadas 4 formas de coleta de dados: roteiro de observação qualitativa (Lakatos, e Marconi, 2011) - compreensão do contexto da instituição e intervenção profissional da regente (na fase de observação); ficha de avaliação individual - preenchimento da quantidade de repetições dos testes, sendo realizado a estatística descritiva por meio de distribuição de frequência absoluta das variáveis presentes na Tabela 1; diário de bordo (Boszko, e Güllich, 2016) - registro das falas e observações que relacionaram com a influência do teste e a motivação para a prática da aula de core training; e roda de conversa –no início como avaliação diagnóstica e no final como escuta da opinião dos participantes quanto às aulas e a estrutura da proposta.

 

Participação docente 

 

    A participação do professor de Estágio ocorreu de duas formas: dentro da sala na Universidade, onde ocorreram reuniões periódicas sobre o andamento e fazia apontamentos para a nossa compreensão ampliada do entorno da aula de core training; e também no campo de estágio, pois fez duas visitas para observar a intervenção, cumprindo o que é estabelecido no Regimento de Estágio do departamento.

 

Cuidado ético 

 

    Cabe destacar que durante todo o processo houve o cuidado ético entre as partes envolvidas (Instituição de Ensino Superior, empresa, professor de Estágio, PR, clientes da academia), por isso o uso das falas das pessoas foi previamente autorizado, mas resguardando o anonimato.

 

Resultados e discussão 

 

    As informações deste tópico estão em conformidade com as etapas do estágio. Desta forma, a descrição teve como baseo que fora identificado na observação, como ocorreu a intervenção e, por fim, os aspectos potenciais, frágeis e conquistas no que tange à formação profissional.

 

    Na observação qualitativa foi notadoque a academia de ginástica tem um espaço amplo, ventilado, piso plano, boa acústica e diversos materiais: cones, caneleiras, bolas suíças, medicine ball, colchonetes, barras, anilhas, bastões, arcos e outros. E ainda foi percebido que a PR ministrava a aula com muita empolgação, atenção com a execução dos exercícios, usando uma variedade deles e sempre explicava os detalhes dos movimentos; a estrutura da aula dela era composta por aquecimento dinâmico, estabilização do core, fortalecimento do core e, por fim, o relaxamento.

 

    Na primeira semana de intervenção foi realizado a roda de conversa para conhecer as condições de saúde e física dos participantes, na circunstância mencionaram alto nível de estresse, dores musculares, ansiedade e baixa autoestima. Quanto aos objetivos com a aula, destacaram o interesse em ter abdômen “tanquinho”, barriga lisinha, melhorar a circulação e reduzir gordura localizada.

 

    Depois desta anamnese coletiva ocorreu o teste. Na ocasião tinha 19 clientes; em consequência da concordância verbal em participar do estágio, todos tornaram-se participantes. Após a conclusão da avaliação, foi identificadoque os exercícios com complexidade motora foram realizados com menor número de repetições e o inverso com os de menor grau de dificuldade. Tais dados (Tabela 1) foram importantes para o planejamento da intervenção, cujo propósito consistia no trabalho de aumento da força do core.

 

    Cabe apontar que outras pessoas, clientes da academia, participaram das aulas, todavia não fizeram parte da análise do trabalho, devido à ausência na anamnese coletiva,realização dos testes e roda de conversa no final do estágio.

 

    No decorrer do estágio, em diferentes contextos, houve a escuta de informações importantes. No que se refere ao cronograma de exercícios: “com o passar do tempo a maioria dos exercícios se tornaram mais fáceis, devido às variações utilizadas durante as aulas” (participante A). Esta falaestá em consonância com Fleck, e Kraemer (2017), pois afirmam que no exercício são necessárias variações de estímulos planejados no treinamento.

 

    Nas aulas foram usados posicionamentos distintos para a execução dos exercícios, pois alguns participantes não conseguiram fazer o proposto no tempo designado, bem como outros não conseguiram realizar os exercícios complexos. Em tal cenário, aplicou-se o princípio do treinamento esportivo chamado individualidade biológica, uma vez que houve a modificação do exercício conforme as características da pessoa. (Nahas, 2017)

 

    Outro dado relevante foi a redução de dor na coluna, demonstrado na fala “acredito que a frequência nas aulas e as variações dos exercícios possibilitou o fortalecimento da minha lombar, não sinto mais tantas dores na coluna em comparação a quando não fazia as aulas” (participante C). Tal comentário aponta que a aula cumpriu seu objetivo, uma vez que o core training focaliza o condicionamento muscular da região lombo-pélvica promovendo melhora nas estabilizações posturais, potencializando o equilíbrio corporal, e nas transferências de forças produzidas pelo corpo nas ações motoras. (Ferreira et al., 2011)

 

    No dia da reavaliação, houve uma redução de participantes, pois somente 10 estavam presentes. Contudo, havia outros clientes que aceitaram participar do momento, mesmo sabendo que se tratava de uma reavaliação. Nesta ocasião, foi organizadouma da roda de conversa para ouvir a avaliação dos participantes sobre a nossa intervenção.

 

    Em tal momento, consideraram pertinentes os questionamentos sobre o histórico de saúde antes do início da intervenção e realização dos testes abdominais, tais ações são recomendadas por Nahas (2017), uma vez que a avaliação da condição geral de saúde (essencial no início) e realizações de testes periódicos (forma de acompanhamento da progressão) são procedimentos gerais num programa de exercícios. E ainda destacaram a importância das aulas para a saúde, sociabilidade, bem-estar, diminuição das dores (sobretudo na lombar); estes e outros benefícios são elencados em Domingues Filho (2015).

 

    No tocante aos dados numéricos da reavaliação, é importante mencionar a consonância com a avaliação, pois nos dois testes houve predominância de quantidades superiores de repetições nos movimentos simples em comparação aos complexos (Tabela 1). Este aumento pode ter relação com o aumento da força do core, devido à quantidade de repetições, alcançadas por causa do exercício isotônico e isométrico; deste modo, entende-se que as aulas atingiram o objetivo, pois a aula de core training é direcionada para o aprimoramento da força e estabilidade dos músculos da região central do corpo (Teixeira, e Evangelista, 2014).

 

    A tabela adiante faz referência aos exercícios dos testes: Abdominal supra comum (Ab 1), Abdominal infra comum (Ab 2), abdominal supra completo (Ab 3), Abdominal infra completo (Ab 4), Abdominal oblíquo (Ab 5), Abdominal mix (Ab 6) e Abdominal superman (Ab 7). O número na linha do código de cada participante (P1 – P 10) refere-se ao teste feito na avaliação e o que está embaixo dele trata-se do que foi executado na reavaliação. Em relação as letras, M corresponde a Média e DV significa Desvio Padrão.

 

Tabela 1. Resultados dos testes antes e depois da intervenção

 

Ab 1

Ab 2

Ab 3

Ab 4

Ab 5

Ab 6

Ab 7

M

DP

P1

43

26

25

22

50

23

10

28

14

 

60

30

33

28

62

30

24

38

16

P2

32

26

16

26

44

19

15

25

10

 

70

33

23

27

60

50

31

42

18

P3

38

29

23

26

39

37

20

30

8

 

50

35

28

31

62

22

21

36

15

P4

30

28

28

25

16

15

25

24

6

 

47

27

32

33

48

27

32

35

9

P5

75

46

26

41

67

72

20

50

22

 

80

51

33

44

74

80

28

56

22

P6

39

33

25

30

38

54

33

36

9

 

57

36

32

34

58

58

37

45

12

P7

73

44

34

39

65

70

40

52

17

 

93

56

42

49

80

85

40

64

22

P8

35

29

26

29

47

29

29

32

7

 

44

38

31

35

51

50

35

41

8

P9

41

33

23

31

50

31

30

34

9

 

58

38

34

60

60

46

41

48

11

P10

39

31

22

29

45

30

30

32

7

 

60

34

26

32

62

35

57

44

15

Fonte: Dados próprios do estudo

 

    Em relação ao eixo do trabalho, destaca-se o uso do teste como recurso motivador, pois isto foi alcançado e externado pelos participantes, tendo como exemplo a seguinte frase “Me senti mais motivado em participar da aula para no final ver o meu desempenho...” (participante B). Palavras e expressões neste sentido relacionam-se com maior engajamento, o que implica em progressão, tendo em vista que “fazer o indivíduo se sentir bem e promover a motivação para participar de exercícios físicos deve ser uma prioridade dos profissionais”. (Klain et al., 2016, p. 20)

 

    O fato de terem experimentado uma nova proposta de trabalho influenciou positivamente no interesse e satisfação com as aulas, tal cenário tem consonância com o apontamento de Souza et al. (2020b), onde aulas estruturadas e diversificadas são importantes para manter a participação dos alunos.

 

    Este interesse foi demonstrado quando três participantes (A, F e H), após a finalização dos testes da avaliação, nos procuraram para saber mais informações e expressar a alegria pelo desafio, afirmando, com convicção, que não faltariam. No mesmo sentido, o participante D, de forma empolgada, relatou que “este método que vocês nos apresentaram é interessante e distancia-se das aulas que tivemos anteriormente, será uma experiência positiva e significativa para participar...”.

 

    Deste modo, entende-se que os profissionais que trabalham na academia de ginástica, sobretudo da área de Educação Física, devem saber além dos componentes curriculares da graduação, concentrando também seus estudos nos motivos de adesão e desistência ao exercício físico (Liz, e Andrade, 2016). Para tanto, é necessário executar ações que sirvam como motivação, uma vez que isso implica em adesão e continuidade nos exercícios.

 

    No que concerne aos aspectos potenciais, destaca-se o bom relacionamento estabelecido entre graduandos e participantes, porque tal cenário possibilitou maior afinco no desenvolvimento do estágio, de modo a aumentar a motivação e bem-estar nas aulas. De forma similar, Flores et al. (2019) apontam sobre a importância da acolhida que os participantes do estágio tiveram com as graduandas, pois foi um dos fatores para a continuidade do estágio.

 

    Cabe apontar que os profissionais de exercício e saúde devem levar em consideração as implicações que os comportamentos interpessoais têm na qualidade da motivação, divertimento e intenção em continuar a prática de exercício, atuando mais proximamente na promoção da saúde. (Rodrigues et al., 2020)

 

    Além deste aspecto, teve ainda os incentivos sonoros verbais e não verbais durante a aula, pois, quando havia demonstração de animação com motivação para a prática do exercício, mostravam-se atentos e elevavam o empenho. O conhecimento dos motivos dos alunos para participar de uma determinada prática corporal representa um dos elementos que possui influência no envolvimento na tarefa. (Minelli et al., 2010)

 

    Os aspectos frágeis do estágio foram a procura por locais de estágios e a rotatividade. É importante informar que os graduandos foram os responsáveis por procurar seus locais de estágios e fazer primeiro contato com a gestão e professora; realidade antagônica à do estudo de Souza et al. (2020a), visto que a articulação do estágio ocorreu entre os profissionais da Instituição de Ensino Superior com o campo de estágio.

 

    A rotatividade serve de alerta para quem tiver interesse em intervir com aulas de core training, porque tinha participantes que frequentavam as aulas apenas uma vez na semana, o que prejudicava o planejamento e ainda contribuía para a dificuldade no cumprimento dos objetivos (da aula e do participante), pois tal panorama não cumpre o princípio esportivo denominado Continuidade, uma vez que para melhorar a condição funcional do organismo deve ter regularidade nos exercícios. (Nahas, 2017)

 

    No tocante às conquistas, deve-se ressaltar o reconhecimento pessoal da intervenção e o amadurecimento acadêmico profissional com o decorrer das aulas. Foi gratificante acompanhar a evolução dos participantes no decorrer do estágio, isso nos deixou mais empenhados no processo. Para tanto, foi usadoa formação extracurricular, em razão da formação curricular não ter componente que tratasse de forma específica o assunto.

 

    A maturidade teve uma relação direta com a PR, isto em consequência da sua estratégia, incentivo e atenção. O fato de estarmos à frente da turma e ela acompanhando de longe possibilitou segurança e autonomia, pois, caso houvesse necessidade, a PR poderia auxiliar. O ambiente apresentado configura-se como promotor da autonomia, este estilo é a melhor estratégia a ser adotada para concretizar uma prática docente que promova efetivamente a aprendizagem. (Minelli et al., 2010)

 

Conclusões 

 

    O uso de testes abdominais como estratégia de motivação para realização de aulas de core training contribuiu no aumento do interesse e assiduidade, conforme as falas descritas no corpo do texto. De forma complementar, a anamnese coletiva teve avaliação positiva dos participantes e acredita-se que houve aumento de força no core em razão dos resultados numéricos do teste. No entanto, a rotatividade foi um aspecto negativo.

 

    Portanto, a realização de teste abdominal pode ser uma alternativa nas academias de ginástica para estimular a adesão e assiduidade dos clientes nas aulas decore training. Tal ação está em consonância com a importância da avaliação física, pelo fato de acompanhar o progresso.

De maneira propositiva, seriam interessantes estudos longitudinais sobre aulas de core training com o uso periódico de testes abdominais, no sentido de averiguar esta relação com a motivação, adesão e assiduidade.

 

Referências 

 

Angeli, K.C., Menezes, E.C., e Mazo G.Z. (2017). Influência da musculação e ginástica na aptidão física de idosos. Conscientia e Saúde, 16(2), 209-2016. https://doi.org/10.5585/conssaude.v16n2.7113

 

Boszko, C., e Güllich, R.I. da C. (2016). O diário de bordo como instrumento formativo no processo de formação inicial de professores de ciências e biologia. Revista Bio-grafía, 9 (17), 55-62. http://dx.doi.org/10.17227/20271034.vol.9num.17bio-grafia55.62

 

D’Elia, L. (2013). Guia completo de treinamento funcional. Phorte Editora.

 

Delavier, F., e Gundill, M. (2013). Treinamento do core: abordagem anatômica. Tradução Fernanda Silva Rando. Editora Manole.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 290, Jul. (2022)