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ISSN 1514-3465

 

Periodização contemporânea no voleibol: 

uma revisão dos Sinos Estruturais de Forteza

Contemporary Periodization in the Volleyball: a Review of the Structural Bells of Forteza

Periodización contemporánea en el voleibol: una revisión de las Campanas Estructurales de Forteza

 

Nelson Kautzner Marques Junior

kautzner123456789junior@gmail.com

 

Mestre em Ciência da Motricidade Humana

pela Universidade Castelo Branco (UCB), Rio de Janeiro

Pós-Graduado Lato Sensu em Fisiologia do Exercício e Avaliação Morfofuncional

pela Universidade Gama Filho (UGF), Rio de Janeiro

Pós-Graduado Lato Sensu em Musculação e Treinamento de Força

Pós-Graduado Lato Sensu em Treinamento Desportivo

pela UGF, Rio de Janeiro, Brasil

Graduado em Educação Física pela UNESA, Rio de Janeiro

(Brasil)

 

Recepção: 01/06/2020 - Aceitação: 29/12/2020

1ª Revisão: 28/07/2020 - 2ª Revisão: 17/11/2020

 

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Citação sugerida: Marques Junior, N.K. (2021). Periodização contemporânea no voleibol: uma revisão dos sinos estruturais de Forteza. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(275), 207-223. https://doi.org/10.46642/efd.v26i275.2309

 

Resumo

    O objetivo da revisão foi de explicar os Sinos Estruturais de Forteza no voleibol. A periodização do treinamento esportivo dos Sinos Estruturais de Forteza foi apresentada em 1998. Em cada mesociclo ocorre um predomínio das cargas especiais e com menor quantidade das cargas gerais e isso forma um desenho de um sino no macrociclo. As direções do treinamento possuem dois componentes, as direções determinantes do rendimento (DDR) que estabelece a carga especial de treino e o segundo componente são as direções condicionantes do rendimento (DCR) que determina a preparação geral. Então é necessário estabelecer em cada mesociclo o percentual da DDR e da DCR, mas sempre a DDR é mais elevada do que a DCR e a soma desses componentes deve ser 100%. É necessário estabelecer os conteúdos do treino do voleibol que são da DDR e da DCR – são os meios e métodos do treino. O tempo de treino da DDR e da DCR é estabelecido por cálculos matemáticos baseado na duração média do jogo de voleibol (é 120 minutos) e depois esse tempo da DDR e da DCR é distribuído conforme o percentual da carga do microciclo. Esse valor da DDR e da DCR é inserido no macrociclo conforme o calendário competitivo. Em conclusão, os sinos estruturais é uma periodização com uma detalhada distribuição da carga de treino com o objetivo do esportista atingir o alto desempenho na disputa.

    Unitermos: Periodização. Esporte. Performance esportiva. Treinamento.

 

Abstract

    The objective of the review was to explain the Structural Bells of Forteza in volleyball. The periodization of the sports training of the Structural Bells of Forteza was presented in 1998. In each mesocycle occurs a predominance of the special loads and with a lower quantity of general loads and this forms a drawing of a bell in the macrocycle. The training directions have two components, the determinant directions of the performance (DDP) that establishes the special training load and the second component is the conditioning directions of the performance (CDP) that determines the general preparation. The trainer needs to establish in each mesocycle the percentages of the DDP and the CDP, but DDP is always higher than the CDP and the sum these components must be 100%. So it is necessary to establish the contents of the volleyball training that are of the DDP and the CDP – are the means and methods of training. The training time of the DDP and CDP is established by mathematical calculations based on the average duration of the volleyball game (it is 120 minutes) and after this time of the DDR and DCR is distributed according to the percentage of the microcycle load. This DDR and DCR value is inserted in the macrocycle according to the competitive calendar. In conclusion, the structural bells are a periodization with a detailed distribution of the training load with the objective of the sportsman achieve high performance in the dispute.

    Keywords: Periodization. Sport. Athletic performance. Training.

 

Resumen

    El propósito de la revisión fue explicar las Campanas Estructurales de Forteza en el voleibol. La periodización del entrenamiento deportivo de las Campanas Estructurales de Forteza se presentó en 1998. En cada mesociclo hay un predominio de cargas especiales y con una cantidad menor de cargas generales y esto forma un dibujo de una campana en el macrociclo. Las direcciones del entrenamiento tienen dos componentes, las direcciones determinantes del rendimiento (DDR) que establece la carga especial de entrenamiento y el segundo componente son las direcciones condicionantes del rendimiento (DCR) que determinan la preparación general. El entrenador necesita establecer el porcentaje de la DDR y de la DCR en cada mesociclo, la DDR siempre es mayor que DCR y la suma de estos componentes debe ser de 100%. Es necesario establecer los contenidos del entrenamiento del voleibol que son DDR y DCR – son los medios y métodos de entrenamiento. El tiempo de entrenamiento de la DDR y DCR se establece mediante cálculos matemáticos basados en la duración media del juego de voleibol que es de 120 minutos. Por cálculos se establece el tiempo de entrenamiento de la DDR y de la DCR y después ese tiempo se distribuye de acuerdo con el porcentaje de carga del microciclo. Este valor de DDR y DCR se inserta en el macrociclo según el calendario competitivo. En conclusión, las campanas estructurales son una periodización con una distribución detallada de la carga de entrenamiento para que el atleta alcanzar un alto rendimiento en la disputa.

    Palabras clave: Periodización. Deporte. Rendimiento deportivo. Entrenamiento.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 275, Abr. (2021)


 

Introdução 

 

    Periodização é a estruturação do treinamento conforme determinado ciclo para proporcionar adaptações fisiológicas e evolução técnica e tática necessárias ao atleta que resultem o pico da forma esportiva na competição (Matveev, 1977, 1997). Para outro pesquisador, periodização é o planejamento detalhado do treinamento de acordo com o objetivo dos períodos (Dantas, 1995). A extensa revisão de Kataoka et al. (2021) definiu a periodização como a organização racional de toda estrutura do treino com a divisão do momento do treino conforme o período (preparatório, competitivo e de transição) tendo o intuito de preparar os atletas o melhor possível para a competição. Portanto, o objetivo da periodização é estruturar o melhor possível os ciclos de treino para o atleta conseguir alto desempenho nas competições e proporcionar maior êxito na disputa alvo. (Gomes, 2009; Verkhoshanski, 1996)

 

    A periodização esportiva iniciou na Grécia antiga como preparação para as competições esportivas, mas tendo foco os Jogos Olímpicos (Issurin, 2014; Montero, 2020). Posteriormente esse conteúdo passou a ser aperfeiçoado a partir da Revolução Russa de 1917 porque os russos realizaram sucessivas pesquisas sobre a periodização que culminaram com a criação de diversas concepções para estruturar o treinamento (Marques Junior, 2019, 2020; Padilla, 2017). Mas foi após a 2ª Guerra Mundial (foi de 1939 a 1945) que o estudo da periodização esportiva se intensificou nos países da escola socialista do treinamento esportivo com a meta de mostrar a superioridade do seu regime político (Bompa, 2002; Dias et al., 2016; Marques Junior, 2017). As vitórias no campo esportivo com o uso da periodização tentavam mostrar ao mundo que o socialismo era melhor do que o capitalismo. (Tubino, 1987, 2001)

 

    Os países da escola socialista do treinamento esportivo que elaboraram alguma concepção de periodização foram a União Soviética, a Alemanha Oriental, a Romênia e Cuba (Forteza, 2004; Marques Junior, 2020b; Silva, 2000). Em Cuba foi elaborada a concepção dos Sinos Estruturais de Armando Forteza (Forteza, 2000, 200b). Essa periodização é chamada de Sinos Estruturais porque a distribuição da preparação geral e da preparação especial dos mesociclos são organizadas ao longo do ano com um formato de um sino. (Forteza, e Farto, 2007)

Os sinos estruturais é uma periodização contemporânea utilizada por esportes individuais e coletivos, onde a prescrição da carga de treino é individualizada para cada atleta e é realizada conforme a especificidade da modalidade treinada (Marques Junior, 2020c). Então, o objetivo da revisão foi de explicar os sinos estruturais de Forteza no voleibol.

 

Método 

 

    A revisão de literatura sobre um tipo de periodização contemporânea, os sinos estruturais de Forteza, teve 8 artigos (Castañeda, 2004; Costa, 2013; Dias et al., 2016; Forteza, 2000, 2000b, 2003, 2004b; Sierra, Santana, e Quian, 2018) coletados no Google Acadêmico (https://scholar.google.com.br/schhp?hl=pt-BR&as_sdt=0,5) e na Lecturas: Educación Física y Deportes (https://www.efdeportes.com/index_old.html) com as palavras chaves periodização do treinamento e Forteza, training periodization and Forteza, Armando Forteza. Os artigos foram coletados em apenas duas bases de dados porque a maioria dos trabalhos do pesquisador cubano se encontra nesses dois endereços na Internet. Também foram utilizados 5 livros sobre essa concepção de periodização. (Forteza, 2001, 2001b, 2002, 2003, 2004; Forteza e Farto, 2007)

 

Resultados

 

Conteúdo dos Sinos Estruturais

 

    A periodização do treinamento esportivo dos Sinos Estruturais de Forteza foi apresentada em 1998 e seu conteúdo sobre a relação entre carga geral e carga especial foi melhorado da antiga periodização pendular (foi criada em 1971) dos russos Arosiev, e Kalinin (Forteza, 2001; Costa, 2013). Em cada mesociclo ocorre um predomínio das cargas especiais em relação as cargas gerais e isso forma um desenho de um sino no macrociclo. Essa carga de treino com formato de um sino é fornecido no exemplo da figura 1 de Forteza (2002) e é apresentado um macrociclo com cinco mesociclos, sendo exposto os valores da preparação geral e especial. A seta mostra a formação do sino.

 

Figura 1. Estrutura do sino formado pela carga de treino da preparação geral e da preparação especial (adaptado de Forteza, 2002)

Figura 1. Estrutura do sino formado pela carga de treino da preparação geral e da preparação especial (adaptado de Forteza, 2002)

 

    A estruturação dos sinos quantifica os valores da carga de preparação geral e especial que o atleta vai trabalhar na temporada (Forteza, 2000). As direções do treinamento possuem dois componentes que determinam os valores em percentual da carga de treino da preparação geral e especial (Forteza, 2000b). Um deles são as direções determinantes do rendimento (DDR) que estabelece a carga especial de treino e os exercícios de preparação especial (Forteza, 2004b). A DDR é constituída pelos conteúdos do treinamento fundamentais para o alto rendimento de uma modalidade, ou seja, as capacidades motoras condicionantes e as questões técnicas e táticas imprescindíveis para o esporte treinado. Por exemplo, a força rápida de resistência é extremamente importante para o jogador de voleibol aguentar efetuar diversos saltos no decorrer da partida (Arruda, e Hespanhol, 2008). Essa capacidade motora condicionante é efetuada em alta velocidade e por longa duração na partida de voleibol, merecendo ser trabalhada no treino de força (Barbanti, 2001; Verkhoshanski, 2001). A força rápida de resistência é praticada na musculação em alta velocidade na ação muscular concêntrica e lenta na fase excêntrica com 15 a 30 repetições, tendo um percentual do peso máximo de 30 a 90%, possuindo de 1 a 5 séries e pausa de 30 segundos a 5 minutos, (Marques Junior, 2001; Marques Junior, e Silva Filho, 2013)

 

    Portanto, esses valores da força rápida de resistência, quando é prescrito na musculação é elaborado um determinado percentual da carga, um número de séries e de repetições, tendo um tempo de descanso depois de cada exercício e/ou após as séries. Para explicar melhor, no agachamento foi prescrito para um jogador de voleibol um percentual do peso máximo de 70%, com 3 séries e 15 repetições, ocorrendo no final do exercício pausa de 30 segundo a 1 minuto.

 

    O segundo componente das direções do treinamento são as direções condicionantes do rendimento (DCR) que se preocupa principalmente com a preparação física que serve de base para a DDR através da preparação geral (Dias et al., 2016). A DCR determina a carga geral de treino das sessões e a ênfase são as capacidades motoras condicionantes da preparação geral que causam um incremento nas capacidades motoras da preparação especial. Por exemplo, para alguns pesquisadores o trabalho de força máxima na musculação é considerado preparação geral para o jogador de voleibol (Agostinho, 1998; Tubino e Moreira, 2003) porque a força máxima desencadeia adaptações fisiológicas necessárias ao voleibolista que costuma causar um incremento na sua força rápida que é uma capacidade motora da preparação especial (Barbanti, 2010), podendo ser observado com o aumento do salto vertical (Oliveira e Batista Freire, 2001). A força máxima é a maior força gerada pelas unidades motoras contra uma resistência. (Barbanti, 2001)

 

    A força máxima na musculação costuma ser treinada com velocidade lenta por 1 a 5 repetições, tendo uma carga de 90 a 100%, possuindo 1 a 5 séries e pausa de 30 segundos a 5 minutos (Marques Junior, e Silva Filho, 2013). A força máxima é realizada lentamente na musculação porque altas cargas não permitem que o peso seja conduzido em alta velocidade (Hall, 1993) e também, uma pequena velocidade na execução do exercício ocasiona uma grande tensão concêntrica, vindo desenvolver ao máximo a força, denominada de força máxima dinâmica. (Barbanti, 2002)

 

    Portanto, a DDR e a DCR estabelecem o plano de carga geral e especial de cada mesociclo. (Sierra, Santana e Quian, 2018)

 

    O percentual da DDR que é a carga da preparação especial e o percentual da DCR que corresponde a carga da preparação geral devem ser estabelecidos em cada mesociclo (Forteza, 2000). Nesses mesociclos o percentual da DDR sempre é mais elevado do que o percentual da DCR porque a carga da preparação especial predomina nos mesociclos e a soma do percentual da DDR com a DCR deve ser 100% (DDR + DCR = 100%). A Figura 2 apresenta o percentual da DDR e da DCR de cada mesociclo.

 

Figura 2. Valores da DDR e da DCR de cada mesociclo

Período

Preparatório

Competitivo

Mesociclo

1

2

3

4

5

6

Microciclo

(quantidade)

3

4

3

4

3

3

% da DDR

(preparação especial)

60

80

70

80

80

90

% da DDC

(preparação geral)

40

20

30

20

20

10

Fonte: Elaborado pelo autor

 

    Utilizando os valores da DDR e da DCR da Figura 2 é possível elaborar os sinos estruturais na Figura 3, podendo ser observado através da seta verde clara.

 

Figura 3. Sinos estruturais de Forteza

Figura 3. Sinos estruturais de Forteza

Fonte: Elaborado pelo autor

 

    Um mesociclo é formado por uma determinada quantidade de microciclos e eles possuem uma duração de algumas semanas (Forteza, 2001b). Conforme a quantidade de microciclos que um mesociclo é estruturado a sua intensidade é influenciada por esse componente (Forteza, 2003). Outros quesitos que influenciam na intensidade do mesociclo são o % da carga da DDR e da DCR (Forteza, 2004). Logo, estabelecer a intensidade de cada mesociclo dos sinos estruturais é uma tarefa importante, podendo ser efetuado pela seguinte fórmula (Forteza. e Farto, 2007): Índice de Intensidade do Mesociclo = (% daDDR % da DCR): quantidade de microciclo = ?.

 

    Utilizando os valores da figura 2 foi calculado o índice de intensidade de cada mesociclo que foi exposto na Figura 4 - Índice de Intensidade do Mesociclo 1 = (60 40): 3 = 6,6.

 

Figura 4. Esquema clássico de um sino estrutural com todos os componentes da carga de treino (adaptado de Forteza, 2004b)

Figura 4. Esquema clássico de um sino estrutural com todos os componentes da carga de treino (adaptado de Forteza, 2004b)

 

    Depois de estabelecer o percentual da carga de treino da preparação geral e da preparação especial na Figura 2, é necessário determinar as direções do treinamento que devem ser exercitadas e que pertencem a DDR e a DCR. (Forteza, 2000b)

 

    Consultando algumas referências foi possível determinar os componentes da DDR e da DCR do voleibol na quadra (Arruda, e Hespanhol, 2008; Tubino, e Moreira, 2003). A Tabela 1 mostra esses resultados.

 

Tabela 1. Componentes da DDR e da DCR do voleibol na quadra

DDR (preparação especial)

DCR (preparação geral)

1) técnica e tática

1) resistência aeróbia

2) velocidade de resistência

2) velocidade

3) agilidade

3) força de resistência muscular localizada

4) força rápida de resistência

4) flexibilidade estática

5) força reativa

 

6) flexibilidade dinâmica

 

Fonte: Elaboração própria

 

    Consultando a Tabela 1 foi estabelecido para o mesociclo 1 a 6 da Figura 4 que na DDR o jogador de voleibol vai exercitar a técnica e a tática, a força rápida de resistência, a força reativa e a velocidade de resistência (Arruda, e Hespanhol, 2008; Tubino, e Moreira, 2003). A DCR desse mesociclo vai ser trabalhada pela resistência aeróbia e a flexibilidade estática. Imediatamente é estabelecido o meio e o método que merece ser exercitado em cada variável que vai ser treinada no mesociclo 1 a 6 (Forteza, 2001b; Sierra et al., 2018). A Tabela 2 fornece esses resultados.

 

Tabela 2. Meio e método da DDR e da DCR do mesociclo 1 a 6

Variável

Meio

Método

1) técnica e tática (DDR)

Voleibol

Treino técnico, situação de jogo e jogo

2) força rápida de resistência (DDR)

Musculação

Alternado por segmento

3) força reativa (DDR)

Pliometria de 20 a 75 cm

Intervalado (salto e pausa)

4) velocidade de resistência (DDR)

Corrida

Treino intervalado

5) resistência aeróbia (DCR)

Corrida

Contínuo

6) flexibilidade estática (DCR)

Alongamento

Alternado por segmento

Fonte: Elaboração própria

 

    O tempo de cada atividade do mesociclo vai ser calculado similar a periodização tradicional de Matveev que é através de uma regra de três (Castañeda, 2004; Padilla, 2017). Uma partida de voleibol na quadra de alto rendimento tem uma média de 2 horas, sendo igual a 120 minutos (Marques Junior, 2014). O mesociclo 1 vai ter 1 mês de duração, o cálculo da DDR desse mesociclo foi efetuado com a regra de três que é exposta a seguir:

 

 

    O mesmo cálculo é feito na DCR do mesociclo 1, sendo estabelecido 48 minutos que corresponde 40% do tempo de treino destinado a preparação geral (ver Figura 2). Um cálculo mais breve pode ser efetuar, basta subtrair 120 minutos que é a duração média do jogo de voleibol por 72 minutos que é 60% da DDR (tempo destinado a preparação especial) para encontrar o valor da DCR, sendo 48 minutos de treino. Também o pode certificar se o cálculo está correto, basta somar o valor em minutos da DDR (72 minutos) pela DCR (48 minutos) e terá 120 minutos.

 

    Segundo Forteza (2001), é necessário distribuir o tempo de treino da DDR (60% é 72 minutos) e da DCR (40% é 48 minutos) nos três microciclos que formaram o mesociclo 1 – ver anteriormente a Figura 2 e 3. Porém, é preciso conhecer os períodos, os mesociclos e depois os microciclos dos sinos estruturais para fazer essa tarefa de distribuir a carga em minutos da DDR e da DCR.

 

    Os períodos, os microciclos e os mesociclos da periodização do treinamento dos sinos estruturais são parecidos com a periodização de Matveev (1991).

 

    Na concepção dos sinos estruturais o período preparatório é dividido em etapa de preparação geral e etapa de preparação especial (Forteza, 2004). Quando o atleta estiver na etapa de preparação geral a ênfase são nas cargas gerais e na etapa de preparação especial predomina as cargas especiais (Sierra et al., 2018). O período competitivo é o momento que ocorre a competição alvo com mais trabalho de preparação especial e o período de transição visa o descanso ativo com ênfase na preparação geral.

 

    Os mesociclos dos sinos estruturais são compostos por alguns microciclos que constituem em algumas semanas de treino (Forteza, 2001b). Os mesociclos dessa periodização são formados por alguns tipos de microciclos que são apresentados na Tabela 3. (Forteza, 2004)

 

Tabela 3. Mesociclos dos sinos estruturais

Mesociclo

Característica

Formado (microciclos)

Incorporação

Geralmente inicia o macrociclo, possui volume médio a alto e intensidade baixa. A ênfase é na preparação geral.

corrente + corrente + corrente + restabelecimento

corrente + corrente + restabelecimento

Básico de Desenvolvimento

Aumento considerável da carga de treino, ênfase na preparação especial.

corrente + choque + choque + choque + restabelecimento

choque + choque + corrente + choque + restabelecimento

Estabilizador

Costuma ser prescrito após o mesociclo básico para estabilizar ou reduzir a carga de treino. Isso possibilita adaptações do mesociclo anterior e recuperação do estresse do treino. Nesse mesociclo a preparação geral e especial não predomina.

corrente + corrente + choque + choque + choque + restabelecimento

corrente + corrente + pré-competitivo + competitivo + restabelecimento

Controle

Costuma ser prescrito durante a passagem do período preparatório para o competitivo. Nesse mesociclo ocorre testes para verificar os acertos e erros da equipe. Ênfase na preparação especial.

corrente + competitivo + pré-competitivo + pré-competitivo + competitivo + restabelecimento

Pré-competitivo

Ocorre similar as exigências da disputa e costuma ser prescrito próximo da competição. Prioriza a preparação especial.

pré-competitivo + pré-competitivo + competitivo + restabelecimento

Competitivo

Acontece a competição alvo da temporada, ênfase na preparação especial.

pré-competitivo + competitivo + competitivo + restabelecimento

Restabelecimento

Elaborado após um mesociclo com elevada carga de treino ou durante ou depois a competição para recuperar o atleta do desgaste físico. Predomina a preparação geral por esse motivo ele é formado pelo microciclo corrente e de restabelecimento.

restabelecimento + corrente + restabelecimento + restabelecimento

restabelecimento + corrente + corrente + restabelecimento + restabelecimento

Fonte: Extraído de Forteza (2004)

 

    Os microciclos dessa periodização possuem duração de 2 a 20 dias, sendo mais usual o microciclo de 7 dias (Forteza, 2001b). Segundo Forteza (2004), os microciclos são divididos nos de preparação geral que iniciam o macrociclo e nos de preparação especial que se encontram no meio do macrociclo, próximo da disputa e durante a competição. A tabela 4 apresenta cada microciclo dos sinos estruturais. (Forteza, 2004)

 

Tabela 4. Microciclos dos sinos estruturais

Microciclo

Característica

Preparação

Corrente

Crescimento uniforme das cargas, tendo maior volume e menor intensidade.

Ênfase na preparação geral e um pouco de preparação especial

Choque

Trabalho com cargas elevadas, principalmente da intensidade.

Ênfase na preparação especial, mas pode ocorrer um pouco de preparação geral.

Pré-competitivo

Prescrito conforme as exigências da disputa, a intensidade é muito elevada.

Prioriza a preparação especial.

Competitivo

Ocorre a disputa alvo da temporada.

Ênfase na preparação especial.

Restabelecimento

Visa a recuperação do atleta após um treino intenso ou depois da disputa.

Ênfase na preparação geral, mas ocorre um pouco de preparação especial.

Fonte: Extraído de Forteza (2004)

 

    O próximo passo é estruturar o macrociclo conforme o calendário competitivo e com os dados da DDR e da DCR da Figura 2 e da Tabela 1 e 2, com os períodos explicados no texto, com os mesociclos da Tabela 3 e com os microciclos da Tabela 4. O artigo utilizou como exemplo uma equipe de voleibol fictícia sub 20 que vai disputar o campeonato estadual da temporada, sendo exposto o macrociclo do ano de 2020 na Figura 5.

 

Figura 5. Macrociclo do Sinos Estruturais para uma equipe de voleibol fictícia sub 20

Período e Etapa

Preparatório e Preparação Geral

Preparatório e

Preparação Geral

 

Competitivo

 

Mesociclo

Incorporação

Básico de Desenvolvimento

Estabilizador

Controle

Pré-Competitivo

Competitivo

Microciclo

corrente + corrente + restabelecimento

choque + choque + corrente + restabelecimento

corrente + choque + restabelecimento

corrente + corrente + pré-competitivo + restabelecimento

pré-competitivo + pré-competitivo + restabelecimento

competitivo + competitivo + restabelecimento

Duração

Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

Abril

Maio a Julho

Treino

voleibol (técnico, situacional e jogo) e corrida contínua aeróbia

voleibol, musculação e pliometria

voleibol, musculação, pliometria e treino intervalado

voleibol (treino e amistoso), testes, musculação, pliometria e treino intervalado

voleibol (treino e amistoso) e musculação

voleibol (treino e amistoso), musculação e corrida contínua aeróbia

Objetivo

Melhorar os aspectos técnicos e táticos e o condicionamento aeróbio.

Continuar evoluir na técnica e tática e melhorar a força.

Manutenção da técnica e tática, do aspecto aeróbio e da força.

Efetuar avaliações cineantropométricas e da análise do jogo. Manutenção da técnica e tática e da preparação física.

Preparação para a competição.

Competir o estadual sub 20 e ficar entre os 5 melhores.

% da DDR (preparação especial)

60

80

70

80

80

90

% da DDC (preparação geral)

40

20

30

20

20

10

Fonte: Elaborado pelo autor

 

    Resíduo do treino são adaptações fisiológicas e/ou coordenativas e/ou técnica e tática que o esportista consegue manter por níveis elevados mesmo sem treiná-las (Zatsiorsky, 1999). Esse conteúdo é importante o treinador conhecer quando for elaborar a periodização, nessa revisão os sinos estruturais de Forteza.

 

    O mesociclo incorporação da Figura 5 elaborado para a equipe de voleibol sub 20 foi estruturado para ser realizado no mês de janeiro através do treino com bola (técnico, situacional e jogo) e o trabalho de corrida contínua com ênfase no metabolismo aeróbio porque o treino técnico e tático evolui no período de 9 dias a 1 mês e a sessão aeróbia consegue um incremento no tempo de 15 dias a 2 meses (Marques Junior, 2020d). Porém, no mesociclo básico de desenvolvimento do mês de fevereiro o treino aeróbio de corrida contínua foi interrompido porque esse tipo de sessão possui um resíduo do treino de 30 ± 5 dias (Issurin, 2008). Então o preparador físico preferiu dar mais atenção no mês de fevereiro ao treino de força porque é a capacidade motora determinante na performance do voleibol (Verkhoshanski, 2001) e ela evolui no período de 2 a 6 meses (Marques Junior, 2020d). Por esse motivo nos meses de fevereiro a abril os jogadores estiveram treinando musculação e/ou pliometria e ainda eles continuaram realizar treino de força na competição.

 

    Continuando os cálculos, o mesociclo 1 da Figura 2 passou a ser chamado de mesociclo incorporação, tendo uma DDR de 72 minutos que é o tempo destinado a preparação especial e uma DCR de 48 minutos de preparação geral. Lembrando, a DDR e a DCR foi calculada anteriormente e esses dados precisam ser distribuídos nos três microciclos (corrente, corrente e restabelecimento) que foram apresentados na Figura 5. (Forteza, 2001b)

 

    Porém, os microciclos de Forteza (2004) não possuem percentual (%) da carga, o treinador estabelece os valores da carga em % aleatoriamente para cada microciclo. Mas algumas referências informaram que uma carga de 10 a 40% é baixa, uma carga de 50 a 70% é média e uma carga de 75 a 100% é alta (Marques Junior, 2014; Zakharov, 1992). Baseado nas características dos microciclos da Tabela 4 (Forteza, 2004) e no % da carga das duas referências (Marques Junior, 2014; Zakharov, 1992) foi estabelecido o seguinte % da carga: microciclo corrente com 50 a 70%, microciclo choque com 75 a 100%, microciclo pré-competitivo e microciclo competitivo com 50 a 100% e microciclo restabelecimento com 10 a 40%.

 

    A equipe de voleibol sub 20 treina sete vezes na semana (2ª feira a Domingo), o microciclo corrente do mesociclo incorporação é do dia 1º a 14 de janeiro com carga de 70%, 65% e 70%. Esses valores da carga foram baseados nos resultados do parágrafo anterior que esteve fundamentado em duas referências (Marques Junior, 2014; Zakharov, 1992). O próximo passo é realizar uma regra de três igual ao que foi praticado anteriormente (Padilla, 2017). Os resultados são os seguintes:

  • 72 minutos = 100% da DDR

  • 48 minutos = 100% da DCR

  • microciclo corrente com carga de 70%, 65% e 70%

    Os minutos da DDR e da DCR do microciclo corrente do dia 1º a 14 de janeiro (Jan) são expostos na Tabela 5.

 

Tabela 5. Valores das variáveis do microciclo corrente

Dia e Semana de Jan de 2020

Carga

Técnica e tática (DDR)

Resistência aeróbia (DCR)

Total da Sessão

1º / 4ª feira (f)

70%

50,4 minutos

33,6 minutos

84 minutos

2 / 5ª f

65%

46,8 minutos

31,2 minutos

78 minutos

3 / 6ª f

70%

50,4 minutos

33,6 minutos

84 minutos

4 / Sábado

0%

descanso

descanso

-

5 / Domingo

0%

descanso

descanso

-

6 / 2ª f

70%

50,4 minutos

33,6 minutos

84 minutos

7 / 3ª f

65%

46,8 minutos

31,2 minutos

78 minutos

8 / 4ª f

70%

50,4 minutos

33,6 minutos

84 minutos

9 / 5ª f

70%

50,4 minutos

33,6 minutos

84 minutos

10 / 6ª f

65%

46,8 minutos

31,2 minutos

78 minutos

11 / Sábado

70%

50,4 minutos

33,6 minutos

84 minutos

12 / Domingo

0%

descanso

descanso

-

13 / 2ª f

70%

50,4 minutos

33,6 minutos

84 minutos

14 / 3ª f

65%

46,8 minutos

31,2 minutos

78 minutos

Total de Trabalho

-

540 minutos

360 minutos

900 minutos

Fonte: Elaboração própria

 

    Esse mesmo procedimento deve ser realizado nos demais microciclos (corrente e restabelecimento) do mesociclo incorporação e nos outros microciclos da Figura 5.

 

    O cálculo da intensidade de cada variável da tabela 1 e 2 o autor cubano indicou uma regra de três (Forteza, 2001). Por exemplo, a variável resistência aeróbia pertence a DCR (preparação geral), sendo exercitada com o meio corrida com o método contínuo. Através de um teste máximo foi verificado que 4 quilômetros (km, é igual a 4000 metros) o jogador percorre a distância em um tempo total de 20 minutos (min), correspondendo uma velocidade que é a intensidade de 200 metros por minuto (m/min, Velocidade = 4000 m: 20 min = 200 m/min). Logo, 100% é igual a 200 m/min, sabendo que o microciclo corrente da Tabela 5 se encontra inserido no mesociclo incorporação do período preparatório da etapa de preparação geral (ver Figura 5), foi estabelecido uma carga de 70% baseado em alguns autores (Marques Junior, 2014; Zakharov, 1992). Portanto, realizando a regra de três, 70% da velocidade para o jogador de voleibol percorrer os 4000 m é igual a 140 m/min [Velocidade = (200 m/min. 70): 100 = 140 m/min].

 

    O tempo estimado para o voleibolista percorrer os 4000 m é de 28,57 minutos (4000 m: 140 m/min = 28,57 min) (Powers, e Howley, 2000). Portanto, na Tabela 5 o trabalho de resistência aeróbia possui um volume de 33,6 minutos (5,03 min de aquecimento e 28,57 min de treino) que corresponde a 70% ou 31,2 minutos (2,63 min de aquecimento e 28,57 min de treino) que é 65%, com velocidade de 140 m/min para percorrer os 4000 m.

 

    O mesmo procedimento é aplicado na variável força rápida de resistência que pertence a DDR (preparação especial), onde é exercitada pelo meio musculação com método alternado por segmento (ver Tabela 1 e 2). Esse trabalho ocorre no mesociclo básico de desenvolvimento do período preparatório da etapa especial, sendo o primeiro microciclo choque com carga de 80% (ver Figura 5). Sabendo que no teste de 1 repetição máxima (1RM) o jogador de voleibol praticou o supino com 150 quilogramas (kg), foi prescrito uma carga de 80%, fazendo a regra de três temos os resultado de 120 kg [Peso do Supino = (150. 80): 100 = 120 kg].

 

    O terceiro mesociclo da Figura 5 foi o estabilizador, ocorrendo no período preparatório na etapa de preparação especial. O microciclo corrente desse momento teve uma carga de 65% (Marques Junior, 2014; Zakharov, 1992). A variável velocidade de resistência pertence a DDR (preparação especial), onde o meio é a corrida e o método é o treino intervalado, sendo verificado no teste que 100% é 10 segundos na distância de 100 m, sendo a duração média do rali do voleibol (Padilla, Marques Junior, e Lozada, 2018). O tempo do estímulo que é a intensidade com carga de 65% é de 15,38 segundos (seg) [Estímulo = (10. 100): 65 = 15,38 seg]. (Marques Junior, 2004)

 

    Para o treinador mensurar a intensidade da variável força reativa que pertence a DDR (preparação especial, ver Tabela 1 e 2) é similar aos ensinamentos anteriores. No mesociclo básico de desenvolvimento começou a ser realizado a pliometria pelo método intervalado, durante o período preparatório na etapa de preparação especial. O segundo microciclo desse mesociclo foi o choque, com carga de 90%. O teste o jogador saltou seis barreiras em alturas variando em cada série de 20, 30, 40, 50, 60, 70 e 75 centímetros (cm) (Marques Junior, 2005). Porém, na altura de 70 e 75 cm os jogadores tiveram dificuldade de passar pelo obstáculo, sendo estabelecido como 100% a altura da barreira de 60 cm. Realizando a regra de três, foi estabelecido que 90% corresponde a altura da barreira de 54 cm [Altura da Barreira = (60. 90): 100 = 54 cm].

 

    Estabelecer a intensidade da variável da flexibilidade estática que pertence a DCR (preparação geral, ver Tabela 1 e 2) com o meio através do alongamento e com o método alternado por segmento necessita de uma escala de esforço percebido na flexibilidade (escala de esforço PERFLEX) de Dantas et al. (2008). Por exemplo, no alongamento do quadríceps o esportista segura no dorso do pé direito com a mão esquerda e puxa o calcanhar em direção ao glúteo com o joelho flexionado e estando em pé em uma perna, nesse momento é o membro inferior esquerdo (Anderson, 1983). O membro superior que não está atuando no alongamento, posiciona a mão na parede para facilitar no equilíbrio do atleta em ficar em pé em uma das pernas. O alongamento do quadríceps por 30 segundos o atleta foi monitorado com a escala de esforço PERFLEX, no momento desse trabalho o jogador de voleibol informou através da leitura da escala que ocorria uma sensação de desconforto com nível 75 que corresponde o efeito flexionamento. Então, sabendo que o voleibolista estava no microciclo de restabelecimento, com carga de 40%. O nível 75 da escala é 100%, logo o jogador precisa efetuar o alongamento no nível 30 que possui sensação de normalidade com efeito de mobilidade [Nível do Esforço PERFLEX = (75. 40): 100 = 30].

 

    O leitor aprendeu todos os conteúdos para estruturar os sinos de Forteza em uma equipe de voleibol, mas esses ensinamentos podem ser utilizados em outros esportes.

 

Conclusões 

 

    Os sinos estruturais de Forteza é uma periodização contemporânea que foi criada em 1998 a partir de dois tipos de periodizações, a periodização pendular de Arosiev, e Kalinin e a periodização tradicional de Matveev. Porém, nessa concepção existe uma grande preocupação em distribuir a carga da preparação especial e da preparação geral através de cálculos matemáticos que estão de acordo com o tipo de mesociclo e microciclo. Em conclusão, os sinos estruturais é uma periodização com uma detalhada distribuição da carga de treino com o objetivo do esportista atingir o alto desempenho na disputa.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 275, Abr. (2021)