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ISSN 1514-3465

 

Bullying escolar: estudo realizado em escolas públicas de Vale do Sol, RS, Brasil

School Bullying: Study Conducted in Public Schools in Vale do Sol, RS, Brazil

Acoso escolar: estudio realizado en escuelas públicas de Vale do Sol, RS, Brasil

 

Franciele Katiúscia de Azevedo*

francynhah2012@hotmail.com

Leticia Borfe**

borfe.leticia@gmail.com

Heloisa Elesbão***

elesbaoheloisa@gmail.com

Sandra Mara Mayer****

smmayer@unisc.br

 

*Graduação em andamento no curso de Educação Física Bacharelado

na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)

Graduada em Educação Física Licenciatura na UNISC

Pós-graduada em Gestão Escolar (Administração, supervisão e orientação e inspeção)

na Faculdade Dom Alberto

**Doutoranda em Ciência do Movimento Humano

na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Mestre em Promoção da Saúde pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)

Graduada em Educação Física Licenciatura e Bacharelado na UNISC

***Mestranda em Educação Física na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Especialista em Educação Física Escolar (UFSM)

Graduada em Educação Física Licenciatura e em Educação Física Bacharelado

na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)

****Professora titular do Curso de Educação Física e do Curso de Pedagogia

da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)

Mestre em Desenvolvimento Regional - Área Sociocultural na UNISC

Graduada em Educação Física pelas Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul (FISC)

Especialista em Ginástica Escolar e em Metodologia da Educação Física na UNISC

(Brasil)

 

Recepção: 22/05/2020 - Aceitação: 21/08/2020

1ª Revisão: 23/07/2020 - 2ª Revisão: 31/07/2020

 

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Citação sugerida: Azevedo, F.K. de, Borfe, L., Elesbão, H., & Mayer, S.M. (2020). Bullying escolar: estudo realizado em escolas públicas de Vale do Sol, RS, Brasil. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(268), 27-39. Recuperado de: Recuperado de: https://doi.org/10.46642/efd.v25i268.2274

 

Resumo

    Com o passar dos anos, a violência escolar tem-se agravado cada vez mais, causando sérios problemas aos envolvidos e preocupação aos familiares e sociedade em geral. Este estudo objetiva descrever o comportamento agressivo das crianças e adolescentes de duas escolas públicas do município de Vale do Sol, RS, Brasil. São sujeitos participantes desta pesquisa 182 alunos de ambos os sexos, do 6º ao 9º ano de uma escola estadual e outra municipal do mesmo município. Para a coleta dos dados foi aplicado um questionário individual com anamnese e questões objetivas referentes às agressões, locais em que ocorrem e atitudes tomadas no ambiente escolar. A análise estatística foi realizada no programa SPSS 20.0. Os resultados mostram que 34,6% dos alunos do 6º ao 9º ano já sofreram algum tipo de agressão na escola, em sua maioria na forma verbal, tendo ocorrência principalmente em sala de aula. A maioria dos entrevistados relatou que os professores impediram muitas vezes as agressões, mas ao serem questionados sobre o que fazem ao presenciar uma agressão, eles relatam não reagir ao acontecido, mas acham que deveriam tomar alguma atitude. Este estudo nos permite concluir que o bullying ainda está muito presente no ambiente escolar e se configura em sua maioria de forma verbal, o que pode acarretar sérios problemas de convivência entre estas crianças e adolescentes. Sendo assim, ações que visem à conscientização das consequências do bullying devem ser incorporadas no ambiente escolar, tornando-o um local harmonioso e acolhedor.

    Unitermos: Agressividade. Bullying escolar. Violência. Educação pública.

 

Abstract

    Over the years, school violence has worsened more and more, causing serious problems for those involved and concern for family members and society in general. This study aims to describe the aggressive behavior of children and adolescents from two public schools in the municipality of Vale do Sol, RS, Brazil. 182 students of both sexes, from the 6th to the 9th grade of a state and another municipal school in the same municipality, are participating in this research. For data collection, an individual questionnaire with anamnesis and objective questions related to the aggressions, places where they occur and attitudes taken in the school environment was applied. The statistical analysis was performed using the SPSS 20.0 program. The results show that 34.6% of students from the 6th to the 9th grade have already suffered some type of aggression at school, mostly in verbal form, occurring mainly in the classroom. Most respondents reported that teachers often prevented attacks, but when asked what they do when they witness an attack, they report not reacting to what happened, but they think they should take action. This study allows us to conclude that bullying is still very present in the school environment and is mostly verbal, which can cause serious problems of coexistence between these children and adolescents. Therefore, actions aimed at raising awareness of the consequences of bullying, should be incorporated into the school environment, making it a harmonious and welcoming place.

    Keywords: Aggressiveness. School bullying. Violence. Public education.

 

Resumen

    Con los años, la violencia escolar ha empeorado cada vez más, causando serios problemas para los involucrados y preocupación a las familias y la sociedad en general. Este estudio tiene como objetivo describir el comportamiento agresivo de niños y adolescentes de dos escuelas públicas en el municipio de Vale do Sol, RS, Brasil. Participaron de esta investigación 182 estudiantes del sexto al noveno grado de una escuela estadual y también de una escuela municipal en el mismo municipio. Para la recolección de datos, se aplicó un cuestionario individual con anamnesis y preguntas objetivas relacionadas con las agresiones, los lugares donde ocurren y las actitudes tomadas en el entorno escolar. El análisis estadístico se realizó con el programa SPSS 20.0. Los resultados muestran que el 34.6% de los estudiantes del 6° al 9° grado ya han sufrido algún tipo de agresión en la escuela, principalmente en forma verbal, que ocurre principalmente en el aula. La mayoría de los encuestados informaron que los maestros a menudo evitaban los ataques, pero cuando se les pregunta qué hacen cuando son testigos de un ataque, informan que no reaccionan a lo que sucedió, pero creen que deberían tomar medidas. Este estudio nos permite concluir que el acoso todavía está muy presente en el entorno escolar y es principalmente verbal, lo que puede conducir a graves problemas de convivencia entre estos niños y adolescentes. Las acciones dirigidas a crear conciencia sobre las consecuencias del acoso escolar deben incorporarse al ámbito escolar.

    Palabras clave: Agresividad. Acoso escolar. Violencia. Enseñanza pública.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 268, Sep. (2020)


 

Introdução 

 

    Com o passar dos anos, a violência escolar vem se agravando cada vez mais, afetando crianças e adolescentes, causando sérias consequências aos envolvidos e grande preocupação aos pais, familiares e à sociedade em geral. A violência no ambiente escolar caracteriza-se pela diferença entre um indivíduo e outro, com fatores que influenciam na relação familiar, como alguns aspectos referentes à interação, situação socioeconômica e na relação em grandes grupos. Esses indivíduos que suportam ou presenciam esses atos em idade escolar, estão sujeitos a desenvolverem problemas psicossociais, e até sofrerem por não dialogar com alguém confiável e que lhes dê o amparo necessário. (Mendes, 2010; Oliveira, Silva, Braga, Romualdo, Caravita, & Silva, 2018).

 

    O termo bullying, que tem origem do inglês, refere-se a comportamentos violentos, podendo vir a ser uma agressão física e/ou verbal, sendo sua principal característica a repetição e a intencionalidade, muitas vezes sem motivação que justifique o ato. As agressões são provocadas por um ou mais indivíduos, causando sofrimento, humilhação, exclusão, discriminação, entre outros sentimentos. Leva à vitimização do próximo, de maneira física ou psicológica, resultando, muitas vezes, em boatos e afastamento da vítima (Brito & Oliveira, 2013; Malta, Prado, Dias, Mello, Silva, Costa, & Caiaffa, 2014). O bullying é visto ainda como uma violência que ocorre quando uma pessoa impõe sua força ou seu poder sobre o outro de maneira velada e assimétrica (Botelho, 2009), e que cause danos. (Menesini & Salmivalli, 2017; Ventura, Vico, & Ventura, 2016)

 

    O gênero é uma das possibilidades a serem utilizadas com o intuito de se compreender o bullying na escola (Silva, Pereira, Mendonça, Nunes, & Oliveira 2013). Pois questões de gênero, em nossa sociedade, estabelecem uma relação de poder e ações entre grupos e instituições, não só entre pessoas. Já Cosma, Whitehead, Neville, Currie, & Inchley (2017), ao explicarem essa decorrência, indicam que as meninas podem ser mais propícias a suportar as repercussões psicológicas, por atribuírem a vitimização à incapacidade social. Além disso, alguns estudos (Abdulsalam & Daihani Francis, 2017; Marcolino, Cavalcanti, Padilha, Miranda, & Clementino, 2018), relatam que de maneira geral, os meninos tendem a ser mais valentões ou vítimas do que as meninas. Por conta disso, apesar de ambos os sexos terem a mesma possibilidade de se tornarem alvos de bullying, é mais provável que os meninos se tornem vítimas dos atos de agressões. Por outro lado, as crianças que têm dificuldades de aprendizagem, socialização, problemas físicos e fisicamente mais fracas tendem a serem mais propensas a se envolverem nos atos de bullying.

 

    A ação do bullying está relacionada com todos os atos de violência, que ocorrem com intenção e com frequência contra as vítimas, que estão sozinhos ou em pequenos grupos, e que possuem dificuldade de se defender. Ressalta-se que são todas as ações de violência que acontecem de forma proposital, onde o autor quer causar dor na vítima, gerando assim, uma instabilidade de poder entre os indivíduos (Borsa, Petrucci, & Koller, 2015; Rolim, 2010; Silva, 2015). Frequentemente, os autores do bullying atuam em grupos, e as vítimas geralmente recebem mais de uma forma de agressão, podendo manifestar-se de várias formas: o bullying verbal, que é por meio de deboches, ofensas e apelidos ofensivos (Silva, 2012). O bullying físico através de chutes, empurrões, socos e beliscões (Beane, 2010). Enquanto que o bullying material é por ações como roubar, estragar ou deformar bens da vítima. (Lopes Neto, 2011)

 

    Para minimizar a violência escolar, é importante investigar a fundo as condutas e a convivência entre as pessoas, verificando as várias maneiras, para compreender o que ocorre no dia a dia no ambiente escolar. Compreendendo qual é a amplitude do transtorno criado, para criar formas de se acabar de uma vez com essa situação (Nashiki, 2013). Com base nas informações citadas anteriormente, o presente artigo tem como objetivo descrever o comportamento agressivo de crianças e adolescentes de duas escolas públicas do município de Vale do Sol, RS, Brasil.

 

Métodos 

 

    O presente estudo transversal de cunho quantitativo buscou descrever as características das escolas participantes do estudo em relação à presença do bullying escolar. Para a coleta dos dados utilizou-se o questionário de Olweus (1993) adaptado por Mayer (2000). O questionário era composto por blocos, o primeiro referia-se a dados de identificação (idade, sexo, turma, etc.); do segundo ao quarto bloco as perguntas eram direcionadas ao fenômeno bullying, suas formas de ocorrência, envolvimento e ações perante o fato. A análise dos dados foi realizada através do programa estatístico SPSS 22.0 (IBM, Armonk, NY, USA), sendo apresentados em frequência e percentual.

 

    Além disso, o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) com o título de “O comportamento agressivo no bullying escolar: um estudo comparativo de duas escolas públicas do município de Vale do Sol-RS” com o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 95184818.0000.5343. Os pais ou responsáveis dos participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e os participantes com idade igual ou superior a 12 anos assinaram o Termo de Assentimento (TA). É importante destacar que o estudo seguiu a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

 

Resultados 

 

    Na Tabela 1, estão descritas as características gerais dos escolares, sendo que 55,5% são do sexo feminino, 28,0% estão no 6º ano e 23,6% possuem 14 anos.

 

Tabela 1. Caracterização dos sujeitos da pesquisa

 

Escola Estadual

(n=104)

Escola Municipal

(n=78)

Total

(n=182)

F

%

F

%

F

%

Qual sua série/ano?

6º ano

28

15,4

23

12,6

51

28,0

7º ano

24

13,2

25

13,7

49

26,9

8º ano

20

11,0

16

8,8

36

19,8

9º ano

32

17,6

14

7,7

46

25,3

Que idade tens?

11

6

3,3

4

2,2

10

5,5

12

17

9,3

12

6,6

29

15,9

13

19

10,4

22

12,1

41

22,5

14

29

15,9

14

7,7

43

23,6

15

23

12,6

13

7,1

36

19,8

16

6

3,3

9

4,9

15

8,2

17

4

2,2

4

2,2

8

4,4

Sexo

Masculino

42

23,1

39

21,4

81

44,5

Feminino

62

34,1

39

21,4

101

55,5

Dados expressos em frequência relativa e absoluta. Fonte: As autoras

 

    A Tabela 2 mostra a quantidade de alunos agredidos, sendo que 34,6% dos alunos do 6º ao 9º de ambas as escolas relataram já ter sofrido algum tipo de agressão. A forma mais relatada de agressão foi a verbal (24,2%), tendo a sala de aula (16,5%) como local onde elas mais ocorreram. Identificou-se que 28,0% dos entrevistados relataram que os professores impediram “muitas vezes” as agressões e, 39,0% relatam não reagir ao acontecido, mas acham que deveriam tomar alguma atitude.

 

Tabela 2. Quantidade de alunos agredidos, maneira, local e atitudes sobre as agressões

 

Escola Estadual

Escola

Municipal

Total

F

%

F

%

F

%

Você já foi agredido alguma vez na escola?  

Sim

25

13,7

38

20,9

63

34,6

Não

79

43,4

40

22,0

119

65,4

Quantas vezes aconteceu de ficares só, porque os outros meninos ou meninas não quiseram brincar contigo?  

Nunca fiquei só

84

46,2

71

39,0

155

85,2

Uma ou duas vezes esse trimestre

13

7,1

6

3,3

19

10,4

Uma vez essa semana

4

2,2

1

0,5

5

2,7

Duas ou mais vezes esta semana

3

1,6

-

-

3

1,6

Como te agrediram?

Ninguém se meteu comigo

Me bateram, me deram socos e pontapés ou chutes

Me roubaram coisas

Me causaram medo

Me disseram nomes feios. Disseram coisas de mim ou do meu corpo

Falaram de mim, contaram segredos meus

Não falaram comigo

 

49

 

4

20

1

 

19

 

7

4

 

26,9

 

2,2

11,0

0,5

 

10,4

 

3,8

2,2

 

28

 

6

13

1

 

25

 

5

-

 

15,4

 

3,3

7,1

0,5

 

13,7

 

2,7

-

 

77

 

10

33

2

 

44

 

12

4

 

42,3

 

5,5

18,1

1,1

 

24,2

 

6,6

2,2

Onde te agrediram (lugar)?

Ninguém em agrediu

No recreio

Na cozinha/bar

Nos corredores e nas escadas

Nas salas de aula

 

71

11

-

4

18

 

39,0

6,0

-

2,2

9,9

 

42

16

1

7

12

 

23,1

8,8

0,5

3,8

6,6

 

113

27

1

11

30

 

62,1

14,8

0,5

6,0

16,5

Vezes que o professor impediu a agressão?

Não sei

Uma

Duas

Muitas vezes

 

 

68

7

4

25

 

 

37,4

3,8

2,2

13,7

 

 

45

6

1

26

 

 

24,7

3,3

0,5

14,3

 

 

113

13

5

51

 

 

62,1

7,1

2,7

28,0

Sua atitude quando agridem um colega?

Nada, não é comigo

Nada, mas acho que deveria ajudar

Tento ajudar como posso

 

 

23

42

39

 

 

12,6

23,1

21,4

 

 

30

29

19

 

 

16,5

15,9

10,4

 

 

53

71

58

 

 

29,1

39,0

31,9

Dados expressos em frequência relativa e absoluta. Fonte: As autoras

 

Discussão 

 

    Este estudo teve como objetivo descrever o comportamento agressivo de crianças e adolescentes de um município no sul do Brasil. Foi observada uma frequência de 34,6% dos alunos do 6º ao 9º que relataram já ter sofrido algum tipo de agressão. Estudos de diferentes regiões do país relatam menor percentual sobre os índices de frequência de agressões na escola. (Araújo & Reis, 2012; Santos, Cabral-Xavier, Paiva, & Leite-Cavalcanti, 2014; Mayer, Borniatti, Elesbão, & Borfe, 2018)

 

    Entre as formas de agressão, a verbal foi a mais citada sendo que estes resultados condizem com achados de estudos realizados no Brasil, sendo eles no Rio Grande do Sul (Mayer et al. 2018; Elesbão, Borfe, & Mayer, 2016; Carvalho, 2012), no Paraná (Teixeira, Salineta, Estabilea, Mezzaroba, & Soares, 2015), no Rio Grande do Norte (Rocha, 2011), Pernambuco (Andrade, Gomes, Granville-Garcia, & Menezes, 2019) e no Espírito Santo (Reisen, Viana, Santos-Neto, 2019). No ambiente escolar, estas agressões de cunho verbal e emocional, podem, por vezes, passar despercebidas. Contudo, mostram-se ferramentas prejudiciais à socialização e esse tipo de bullying pode aumentar o risco de a vítima desenvolver complexos de autoimagem. (Andrade, Gomes, Granville-Garcia, & Menezes, 2019)

 

    A sala de aula foi identificada como local em que mais ocorrem as agressões, sendo o recreio o segundo local mais citado entre os participantes desta pesquisa. Os estudos de Araújo & Reis (2012) e Guedes, Elesbão, Borfe, & Mayer (2020), também identificaram a sala de aula como local de maior ocorrência das agressões, enquanto que nos estudos de Crema (2014), Elesbão, Borfe, & Mayer (2016) e Kegler, Borfe, Elesbão, & Mayer (2020), o recreio aparece como o principal local. A este respeito, Botelho & Souza (2007, p. 67) esclarecem:

    Outro momento no interior da escola em que há manifestações de bullying é o horário do recreio. Sabe-se que este é um período em que ocorrem os seguintes problemas: não há supervisão dos professores; há um acúmulo de várias turmas e, consequentemente, alunos de diferentes idades dividem o mesmo espaço; quando há inspetor de supervisão, normalmente estão em número reduzido para o contingente de alunos; em muitas escolas, não há atividades orientadas durante o recreio; e há jogos com bola na quadra (futebol é o mais comum) sem nenhum tipo de supervisão. Com isso, ocorrem diversas manifestações de agressão, sendo o bullying uma delas.

    Em ambas as escolas a resposta mais expressiva foi “muitas vezes” que os professores impediram algum tipo de ato agressivo entre os estudantes. Contudo, estudo de Santos (2010), realizado em uma escola do Distrito Federal, DF descreve que cerca de 12,0% dos professores não tiveram nenhuma atitude com relação às agressões.

 

    O estudo de Silva, Oliveira, Bazon, & Cecílio (2017), realizado em Uberaba, MG, identificou que os professores, na maioria das vezes em que conversam com os alunos acerca da prática do bullying, tendem a conversar com a turma em geral de modo a fazer com que os alunos tenham a tomada de consciência acerca dos efeitos negativos do envolvimento com o bullying, além de possibilitar que os mesmos possam esclarecer suas dúvidas acerca do fenômeno.

 

    Quanto à atitude quando estão agredindo um colega, a maioria dos alunos responderam que não reagem às atitudes, mas acham que deveriam tomar alguma atitude em relação ao comportamento agressivo dos colegas. Diferentemente, estudo de Silva (2012), realizado em uma escola profissional de comércio externo na cidade de Porto - Portugal, aponta que a maioria dos alunos responderam que tentam ajudar de alguma forma.

 

    Contudo, é preocupante perceber que neste estudo, a maioria dos alunos não reagem às atitudes violentas sendo necessário discutir sobre o fenômeno bullying no ambiente escolar. Nesta direção, estudo realizado em escolas da Espanha analisou o discurso espontâneo de adolescentes sobre o bullying que acontece no ambiente escolar. Os achados mostram que os adolescentes vêem as intimidações que ocorrem, principalmente dentro das salas de aula, como uma piada. E que, se alguém for intimidado, isso pode ter mais relação com a vítima do que com o agressor. (Postigo, Schoeps, Ordóñez, & Montoya-Castilla, 2019)

 

    Para combatermos o bullying, conforme Vieira, Torales, Maldonado, & Vargas (2016), é necessária a realização de uma união entre toda comunidade escolar. Além do mais, é preciso desenvolver a promoção de atividades preventivas e reparadoras, de modo a estimular o espírito de convivência grupal entre todos, em que sejam respeitadas as individualidades, pautando-se no respeito e harmonia entre todos. Neste aspecto, Brandão Neto, Amorim, Aquino, Almeida Filho, Gomes, & Monteiro (2020) propuseram o desenvolvimento de uma estratégia participativa no intuito de prevenir o bullying escolar entre os adolescentes, oportunizando a participação ativa destes sujeitos possibilitando maior engajamento em competências geradoras de comportamento pró-sociais, relações empáticas e assertivas, eficazes no enfrentamento do bullying e transformação do ambiente escolar em um local mais seguro.

 

    Conforme Oliveira, Silva, Sampaio, & Silva (2017), para que sejam propostos planejamentos e ações de intervenção frente ao fenômeno bullying, ou seja, para que sejam efetivas ações antibullying, se faz necessária uma caracterização desse fenômeno, com o intuito de se compreender sua dinâmica dentro de cada realidade estudada.

 

    Sendo assim, ressalta-se a importância de estudos como este, que propõem melhor entendimento acerca do fenômeno bullying, pois tornam-se referências nas ações para um trabalho preventivo e, por vezes, remediador. Estas ações devem ser desenvolvidas no ambiente escolar de modo a atender as regulamentações previstas nas políticas públicas vigentes, dentre as quais, podemos destacar, as Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipave), presentes nas escolas da rede estadual do Rio Grande do Sul (Rio Grande do Sul, 2018), e a nível nacional a Lei que Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). (Brasil, 2015)

 

    Ademais, Borsa, Petrucci, & Kolle destacam a importância de envolver os pais dos alunos nas pesquisas e programas de prevenção sobre bullying, pois eles têm contato direto com seus filhos fora do ambiente escolar, oportunizando auxiliar com mais eficácia o desenvolvimento da empatia e compreensão dos fatores que motivam seus filhos a praticarem atos violentos.

Como limitação deste estudo ressalta-se que o design transversal não permite inferência sobre as relações causais, e não buscamos realizar generalizações acerca da presença do bullying escolar, mas sim contribuir com a especificidade local, com o intuito de descrever a realidade encontrada nas escolas participantes, e entender melhor este fenômeno.

 

Conclusões 

 

    Os resultados deste estudo permitiram identificar um índice de ocorrência do bullying inferior a outros estudos deste país. Contudo, um percentual elevado de agressões ainda ocorre no ambiente escolar e se configura em sua maioria na forma verbal. A sala de aula se destaca como o local onde as agressões mais ocorrem, sendo que este deveria ser um local de aprendizado e aquisição de conhecimento entre os alunos. Além da sala de aula, o recreio também apareceu como um espaço em que a ocorrência do bullying é frequente.

 

    Fica claro que quando avisados, os professores procuram impedir que as agressões aconteçam. Contudo a maioria dos alunos relata não reagem às atitudes violentas embora acham que deveriam. Sendo assim, fica evidente que ações mais efetivas que visem à conscientização dos problemas que o bullying pode causar às vitimas e estratégias de prevenção acerca deste fenômeno devem ser incorporadas no ambiente escolar, tornando-o um local harmonioso e acolhedor, com seus ideais respeitados.

 

Agradecimentos 

 

    À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) pelo apoio e às crianças, adolescentes e escolas participantes do estudo, pois sem eles a realização da pesquisa se tornaria inviável.

 

Referências 

 

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Andrade, M. H. B. de., Gomes, M. C., Granville-Garcia, A. F., & Menezes, V. A. (2019). Bullying among adolescents and school measures to tackle it. Cadernos saúde coletiva, 27(3), 325-330. Recuperado de: https://doi.org/10.1590/1414-462x201900030147

 

Araújo, R. S., & Reis, F. P. G. (2012). Avaliação diagnóstica sobre a ocorrência de bullying em duas escolas estaduais de Lavras, MG: perspectivas para o planejamento em Educação Física escolar. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital, 17(167),1-1. Recuperado de: https://www.efdeportes.com/efd167/a-ocorrencia-de-bullying-em-escolas.htm

 

Beane, A. L. (2010). Proteja seu filho do bullying. Rio de Janeiro: Best Seller.

 

Borsa, J. C., Petrucci, G, W., Koller, S. H. (2015). A participação dos pais nas pesquisas sobre o bullying escolar. Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, 19(1), 41-48. Recuperado de: http://dx.doi.org/10.1590/ 2175-3539/2015/0191792

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 268, Sep. (2020)